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AS FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO?
A NOVA ABORDAGEM À LUZ DA ASTRONOMIA
UNASPRESS
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1. Revista do SeminArio Adventtsta Latino-Amepicano de Teologia.Sede Brasil-Sul
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Editores
Amin A. Rodor e Alberto R. Timm
Editores associados
Vanderlei Domeles e Renato Groger
Capa
Geyvison Souto
Parousia
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Seminário Adventista Latino-Americano
“““St;,
Preços
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...R$16,00
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do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (bau;
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seus autores
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Casa Publicadora Brasileira
Tiragem
4.000 exemplares
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Ano6'N- 1 . REvisTAOoSEMiNÀRtoAovENnsTALatino-AmericanodeTeologia.SedeBrasil-Sul
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O Novo Israel
Editorial 5
Artigos
Fratemalmente,
Amin A. Rodor
10 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
a mais antiga escola de interpretação das Tem-se afirmado que o futurismo está
quatro conhecidas no presente. Pode ser “batendo à nossa porta”’’, à porta do histo-
descrita como o método histórico contínuo ricismo, insistindo para ser recebido. Seu
de interpretação profética porque compre objetivo é modificar, desafiar e,se possível,
ende a profecia bíblica como contínua e substituir o método historicista de inter
consecutiva no que concerne às seqüências pretação profética que tem moldado tão
preditas de impérios e eventos nos livros proftmdamente o cristianismo em geral e o
de Daniel e Apocalipse. As profecias são protestantismo nos últimos séculos.
vistas a desenrolar-se em cumprimento
histórico desde o tempo do escritor bíblico Escola futurista
até o eschaton, o fim do mundo e a nova
criação, sem uma interrupção ou uma la A quarta grande escola de interpretação
cuna na visão profética. profética conhecida como futurismo* se
tomou uma parte importante do dispen-
O historicismo toma a descrição bíblica sacionalismo moderno. O futurismo tem
de predição profética, não importa que ela
profundas raízes na Contra-Reforma por
seja de curto ou de longo alcance, ao pé meio do emdito jesuíta espanhol Francisco
da letra. Segue a descrição bíblica da re- Ribera (1537-1591).’’
velação divina aos seres humanos(a saber,
profetas) em que Deus realmente predisse Ribera punha o cumprimento profético
o que iria acontecer no próximo ou distante no futuro.
(até mesmo muito distante) futuro. A es Em 1590,Ribera publicou um comentário sobre
cola historicista de interpretação não pode o Apocalipse como uma contra-interpretaçào à opi
existir sem a aceitação da afirmação bíblica nião [historicista] prevalecente entre os protestantes
de que Deus tem absoluto conhecimento que identificavam o papado com o anticristo. Ribera
prévio ou presciência da história e que Ele aplicou todo o Apocalipse menos os primeiros capítu
tem feito conhecido por antecipação o que los ao fim do tempo em vez de à história da igreja. O
ocorrería no futuro. anticristo seria um simples indivíduo maligno que se
ria recebido pelosjudeus e reconstruiría Jerusalém...
O historicismo aceita a ênfase bíblica de
e dominaria o mundo por três anos e meio.-“
profecia condicional com relação ao antigo
povo da aliança,ou Israel.As profecias acer Ribera foi subseqüentemente apoiado
ca de Israel devem ser cumpridas enquanto pelo Cardeal Roberto Belarmino (1542-
e apenas se Israel permanece obediente à 1621),2' que se opôs ao princípio dia-ano
aliança que lhe foi concedida por Deus. e relacionou o “chifre pequeno” do livro
Se Israel deixasse de guardar a aliança, de Daniel, geralmente identificado com o
então Deus não seria capaz de cumprir au papado, com o rei selêucida Antíoco IV,
tomaticamente as promessas que lhe fez no do segundo século a.C., que perseguiu os
passado. Deus permanecería leal às Suas judeus(veja 1 Macabeus).
promessas,mas elas seriam cumpridas com Entre os primeiros protestantes futu
aqueles que lhe fossem fiéis. Esse fiel povo ristas estavam importantes figuras como
remanescente de Deus não está restrito aos
S. R. Maitland, James H. Todd e William
descendentes étnicos de Abraão.
Burgh. Eles declararam explicitamente
O historicismo tem sido o método de nas décadas de 1820 e 1830 que seguiam
interpretação respeitado por sua antigui a Ribera.22 A partir de então, o futurismo
dade pela maioria dos crentes na Bíblia foi rapidamente adotado no sistema do
desde o início do cristianismo até o início dispensacionalismo que se desenvolveu da
do século 20. O historicismo, porém,tem década de 1830 em diante.
encontrado significativos competidores
nos outros três métodos de interpretação
As CRENÇAS FUTURISTAS DOS DIAS ATUAIS
(principalmente o futurismo) no cristianis
mo evangélico contemporâneo a partir da O futurismo dos dias de hoje vê o esta
segunda metade do século 20. belecimento do Estado de Israel como um
Israel na profecia bíblica /11
sua opinião sobre Israel deve prestar plena que a Bíblia usa o termo “Israel” ela quer
atenção à relação da igreja com Israel. Afir dizer os judeus literais, étnicos, e quando
ma-se que a Igreja é o misterioso corpo de quer que a igreja é mencionada ela é sempre
Cristo^^ e o tempo da suposta dispensação uma entidade espiritual. A igreja nunca é
da Era da Igreja se estende do Pentecostes identificada com Israel, e Israel nunca é
54
ao rapto ou arrebatamento. identificado com a igreja.
55
Toda a teoria do rapto pré-tribulação,
que significa “que a igreja será arrebatada Análise bíblica da distinção
da Terra antes do início da tribulação”,^^ Israel/igreja
“origina-se na distinção entre Israel e a
igreja”^’. Forma uma das características Como esta importante coluna da her
básicas da escatologia dispensacionalista- menêutica dispensacionalista-futurísta se
fiiturista.^® Uma enumeração completa das comporta à luz da mensagem bíblica total?
diferenças entre Israel e a igreja foi provida Se for constatado que o Antigo e o Novo
em uma lista de vinte e quatro contrastes Testamentojamais sustentam tal distinção,
fornecida pelo pioneiro escritor dispensa- o próprio fundamento do dispensaciona-
cionalista Lewis Sperry Chafer,^^ fundador lismo e suas opiniões futuristas de Israel
serão destruídos.
do Seminário Teológico de Dallas. Elas são
resumidas por J. Dwight Pentecost.^® Significaria, em segundo lugar, que a
O ponto essencial desta diferenciação projeção de eventos a serem cumpridos
é que Israel é a entidade para a qual todas por meio do “Israel natural”, no futuro
as promessas do Antigo Testamento fo próximo na Palestina, ou no futuro dis
tante durante o milênio na Terra, não tem
ram feitas. Portanto, as promessas devem
fundamento bíblico.
ser literalmente cumpridas com o Israel
literal, natural, étnico - não com a igreja, Uma terceira inferência é que se a
que outros cristãos definem, baseados na separação radical de Israel e a igreja
evidência do Novo Testamento, como não se sustenta, então todo o conceito
“Israel espiritual”. de uma Era da Igreja com sua lacuna ou
Este cumprimento começou a ocorrer parêntese careceria do apoio que para ele
é reivindicado.
em 1948, quando o estado de Israel foi
fundado na Palestina. Estender-se-á até o Em quarto lugar, toda a idéia do “rapto
reino milenial, isto é,o milênio.“A igreja”, secreto” seria rebaixada,^ uma vez que a
afirma-se, “não está agora cumprindo-as mesma está ligada à distinção entre Israel
em nenhum sentido literal.”^' Assim,Israel e a igreja.
verá todas elas cumpridas de um modo li
Evidentemente, os riscos são altos.
teral principalmente durante o milênio que
Examinemos cuidadosamente as principais
será experimentado na Terra.^-
evidências bíblicas.
Afirma-se que a igreja é uma entidade
de um tipo essencialmente “espiritual” e Israel no Antigo Testamento
as promessas feitas ao antigo Israel não se
aplicam à igreja. Charles Ryrie sintetiza Nossa atenção deve voltar-se para o An
a seguir: tigo Testamento.É nele que encontramos o
o uso das palavras Israel e igreja mostra claramente nome “Israel” pela primeira vez.
que no Novo Testamento o Israel nacional continua
A designação “Israel” tem várias cono
com suas próprias promessas e a igreja nunca é
tações.^^ Este fato em si, como veremos,
equiparada com um assim chamado “novo Israel”,
mas é cuidadosa e continuamente distinguida como é um elemento importante que vai contra
uma separada obra de Deus nesta era.^^ a afirmação do futurismo e do dispensa-
cionalismo de que o uso da designação
Os intérpretes dispensacionalistas-fu- é especialmente uniforme ao longo do
turistas continuam insistindo que sempre Antigo Testamento.
14 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
de sangue, partilharia a mesma fé. Desse por bem o castigo da sua íníqüidade,então,
modo, Israel é uma entidade espiritual em me lembrarei da minha aliança com Jacó,
harmonia com o desígnio de Deus para e também da minha aliança com Isaque, e
Abraão(Gn 12:1-3; 17:4,5)e,assim,Israel também da minha aliança com Abraão,e da
saiu do Egito tanto como descendentes étni terra me lembrarei”(Lv 26:40-42).
cos quanto como uma “multidão mista” ou
Esta inequívoca declaração indica que
um “misto de gente”. O verdadeiro Israel
a promessa da terra não era incondicional:
do passado deveria ser uma comunidade de Estava condicionada à obediência de Israel
fé onde a linhagem étnica jamais fosse o ao Senhor. Somente um Israel obediente e
critério exclusivo para pertencer a Israel.
fiel reteria a posse da terra.
esse remanescente israelita fiel (Is 46:3-4; Igreja: herdeira das promessas do
45:20;56:6-8;66:19).“A descrição total do Antigo Testamento
remanescente escatológico do Antigo Tes
tamento revela que as bênçãos da aliança O problema da herança das promessas
de Israel como um todo serão cumpridas, do Antigo Testamento pela igreja é de
não em um Israel nacional incrédulo, mas grande importância. Vem S. Poythress
somente naquele Israel que é fiel a Jeová e suscita várias interrogações decisivas:“De
confia em seu Messias.”85 quais promessas do Antigo Testamento
Cristo é herdeiro? Ele é um israelita?
Em resumo,o Antigo Testamento indica Ele é a descendência de Abraão? Ele é o
que a afirmação dispensacional-fliturista herdeiro de Davi?”’° Ele responde citando
que sustenta que somente o “Israel natu- 2 Coríntios 1:20: “Porque quantas são
ral”^^ experimentará as promessas feitas as promessas de Deus, tantas têm nele
por Deus não pode harmonizar-se com a [Cristo] o sim.” A frase, “quantas são as
evidência bíblica*^. A evidência vétero-
promessas de Deus”, significa todas as
testamental revela claramente desde o
promessas de Deus. Elas encontram seu
princípio que somente um povo fiel herdará “sim” em Cristo.
as promessas concernentes à terra feitas na
aliança abraâmica.
2 Coríntios 1
na comunidade dos fiéis. Os gentios, que foram quebrados “pela sua incredulidade”
outrora estavam “sem Cristo,... e estranhos (v. 20). O que importa é o assunto de fé,
às alianças da promessa”,não são mais “es não afiliação étnica. Não-israelitas, isto é,
trangeiros e peregrinos, mas concidadãos gentios, foram enxertados e são parte da
dos santos, e sois da família de Deus”(Ef oliveira “somente pela fé” (v. 20, RSV).
2:12, 19). A descrença mantém tanto judeus quanto
gentios separados da oliveira cultivada.
Em Efésios 3:5-6 Paulo reafirma que os
Mas os ramos de israelitas incrédulos, que
crentes gentios e israelitas são juntos her
foram quebrados, podem ser outra vez
deiros das promessas de Deus,“os gentios enxertados em sua oliveira cultivada, “se
são co-herdeiros, membros do mesmo corpo
não permanecerem na incredulidade” (v.
e co-participantes da promessa em Cristo
23). A idéia é que os israelitas físicos po
Jesus por meio do evangelho”(v. 6). dem ser readotados como crentes na nova
Esta descrição coerente de Paulo em comunidade da fé.
Romanos,Coríntios, Gálatas, Colossenses
A comunidade da fé, simbolizada pela
e Efésios não apóia a distinção entre um
oliveira cultivada, da qual os ramos de
“Israel natural” e a igreja, a qual é cons judeus incrédulos foram removidos e os
tituída de judeus e gentios convertidos, e ramos de crentes gentios foram enxertados
ambos, por meio de Cristo,sãojuntamente consiste somente de crentes,crentesjudeus
co-herdeiros das promessas divinas do
e crentes gentios. Dentro deste contexto, a
Antigo Testamento.’'' frase “todo o Israel será salvo”’’se refere a
todos os crentesjudeus e gentios que serão
100
Parábola da oliveira salvos (v. 26).
A famosa seção de Romanos 9-11, que Precisamente como os gentios são en
chega ao ponto culminante com a descrição xertados durante todo o período de tempo
da oliveira(Rm 11:13-24),contém a famo desde o Novo Testamento até a segunda
sa sentença “todo o Israel será salvo”(Rm vinda, assim os crentes judeus são en
11:26). Isto também enfatiza a integração xertados durante a mesma era. A mesma
de israelitas e gentios. qualificação para ser enxertado é, a saber,
fé em Jesus Cristo, que é exigida dejudeus
Os dispensacionalistas modernos têm
e gentios. Não há nenhuma distinção para
interpretado a frase “todo o Israel será
judeus e gentios no caminho da salvação.
salvo” como se referindo a uma conversão Também não há nenhum “caminho espe
em massa de todos os judeus pouco antes cial” de salvação para os judeus serem
da volta de Cristo.’* Este é o significado da salvos sem Cristo.
passagem? Tal sentido supõe que “Israel”
aqui é o Israel étnico, literal. Paulojá declarou em Romanos 9:6 que
“nem todos os de Israel são, de fato, israe
É imperativo considerarmos mais cuida litas” e no verso 7 ele insiste que “nem por
dosamente a parábola da oliveira encontrada serem descendentes de Abraão são todos
em Romanos 11:17-24. O quadro é de duas seus filhos”. No verso 27 ele enfatiza que
oliveiras, uma cultivada,a outra agreste. Os “somente um remanescente deles [filhos
ramos dosjudeus descrentes são cortados do
de Israel] será salvo”(NRSV). Portanto, a
tronco da oliveira cultivada de Israel. Então
indagação é se há uma contradição da parte
os ramos dos crentes gentios da oliveira
do apóstolo Paulo entre estas declarações
brava são enxertados,resultando uma árvore
e a declaração de Romanos 11:26 “todo
de crentes judeus e gentios. o Israel será salvo”. Existe contradição
Deus não rejeitou o seu povo Israel, somente se alguém propõe que “todo o
diz Paulo(Rm 11:1). “No tempo de hoje, Israel” de Romanos 11:26 se refere ao
sobrevive um remanescente segundo a Israel literal no sentido de judeus étnicos.
eleição da graça” (v. 5). Ele insiste que Se alguém segue o contexto de Romanos
os ramos naturais de israelitas étnicos 9-11, então a descrição de “todo o Israel”
20 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
Pedro não está anunciando uma “inter Isto toma-se mais explícito em Gênesis
18. Deus,em conversa com Abraão,diz que
pretação literal consistente” ou “literalismo
Ele escolheu a Abraão “para que ordene a
consistente”, mas uma interpretação sob o
seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de
controle do Espírito Santo, que é o doador
de todas as Escrituras. Assim, os interesses que guardem o caminho do Senhor e prati
quem a justiça e o juízo; para que o Senhor
“particulares” ou “privados” de alguém na
interpretação permanecem sob o controle da faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu
IIS respeito” (v. 19). Aqui está uma afirmação
Bíblia, que é o seu próprio intérprete.
clara do Senhor de que a aliança permanecerá
“É o princípio do ‘literalismo consis efetiva somente sob condição de obediência
tente’ o método legítimo de interpretar as de Abraão e seus descendentes.
profecias bíblicas?”"^ Como intérpretes Em Gênesis 22:16-18 as bênçãos pro
cristãos não podemos interpretar o Antigo metidas a Abraão serão suas porque “obe
Testamento como se o Novo Testamento
deceste à minha voz”(v. 18). As operações
não existisse. Como intérpretes responsá
veis da Bíblia em sua inteireza devemos da aliança são dependentes da obediência
a Deus. Em Gênesis 26:3-5 Deus se refere
descobrir como a Bíblia revela o cumpri
117 explicitamente à promessa “a tua descen
mento da profecia. dência darei todas estas terras” e a outras
promessas da aliança. Elas serão viabili
Condicionalidade zadas “porque Abraão obedeceu à minha
da aliança abraâmica palavra e guardou os meus mandados,
os meus preceitos, os meus estatutos e as
Vejamos se a aliança abraâmica é
minhas leis”(v. 5).
descrita no livro de Gênesis como incon
dicional com respeito à parceria humana Esta série de textos é coerente. Eles
na obrigação do contrato. Apóia o livro de revelam que a aliança abraâmica não era
Gênesis a noção difundida de que a aliança incondicional."^ A condicionalidade da
abraâmica é incondicional? Garante ele que aliança abraâmica repousa sobre a fide
as promessas da aliança devem ser dadas lidade do parceiro humano. Incidental-
literalmente à semente física de Abraão? O mente,Ellen G.White fala das “condições
livro de Gênesis provê uma clara resposta do concerto feito com Abraão.”"’ Isto
a estas interrogações essenciais. significa que não há nenhuma evidência de
que um cumprimento literal ou literalista
Há várias passagens em Gênesis que in
das promessas da aliança é ordenado inde
dicam que a aliança com Abraão não estava
incondicionalmente ligada aos descenden pendentemente da relação de fé daqueles
a quem a aliança foi feita.
tes físicos de Abraão. A aliança depende da
fidelidade de Abraão e seus descendentes. A insistência do dispensacionalismo
Em Gênesis 17:9 Deus dá o seu encargo: no “literalismo consistente” força um
“Guardarás a minha aliança, tu e a tua des- significado sobre o texto contra o qual o
22 / PaROUSIA - \° SEMESTRE DE 2007
os seus filhos se assentarão para sempre o Israel étnico e literal, com osjudeus? Ou
no teu trono”(v. 12). a Bíblia apóia a conclusão de que o “novo
Israel” de crentes judeus e gentios herdam
O tema da condicionalidade da aliança
davídica é mantido em Salmo 89:30-32: as promessas de terra?
“Se os seus filhos desprezarem a minha lei
e não andarem nos meusjuízos,se violarem O TESTEMUNHO DE CrISTO
os meus preceitos e não guardarem os meus No Sermão da montanha Cristo apre
mandamentos, então, punirei com vara as senta a beatitude: “Bem-aventurados os
suas transgressões...” A condicionalidade
mansos, porque herdarão a terra” (Mt
da aliança davídica é mantida no Antigo 5:5). Hans LaRondelle declara que duas
Testamento com o condicional “se”.'^^ O
conclusões precisam ser tiradas: 0)nesta
aspecto condicional da aliança davídica é
bem-aventurança Jesus Cristo designa toda
aqui estabelecido como indiscutível.
a Terra aos seus seguidores espirituais. Em
Deus seria capaz de cumprir a aliança outra bem-aventurança o reino dos céus é
feita com Davi somente para aqueles que estendido aos pobres de espírito: “Bem-
mantém um relacionamento espiritual com aventurados os humildes de espírito, por
Ele.'-^ Considerando a condição de fideli que deles é o reino dos céus”(v. 3). Jesus
dade ao testemunho de Deus, a conclusão prescreve a herança do Céu e da Terra aos
dos dispensacionalistas de que “Cristo deve mansos e aos humildes de espírito.(2) A
reinar sobre o trono de Davi na Terra e sobre promessa original feita ao fiel Abraão é
o povo de Davi para sempre” dificilmente é expandida para a igreja a fim de incluir a
fiel ao próprio testemunho bíblico. Terra renovada.127
A evidência bíblica leva o estudante Este ponto de vista neotestamental ba
cuidadoso da Bíblia a concluir que o seia-se, é claro, no Antigo Testamento. O
“literalismo consistente” do dispensacio- salmistajá havia declarado no Salmo 37:11,
nalismo não pode ser reconciliado com o 29 que os “mansos”e os “justos” herdariam
testemunho interno da Bíblia. O “literalis a “terra”. O termo para “terra” aqui(como
mo consistente” é um sistema externo que nas promessas originais feitas a Abraão)é
é sobreposto à Bíblia e não permite que expresso pelo termo hebraico 'erets. Este
a Bíblia fale em suas próprias palavras. termo hebraico tanto pode ter o significado
Portanto, o dispensacionalismo parece ser de “terra” [território] quanto de “terra”'^®
um sistema que impõe significados à Bíblia no sentido mais comum.
que estão em desarmonia com o simples e Quando Cristo fala da herança da “ter-
claro testemunho das Escrituras.
ra Ele salienta o significado mais amplo
inerente ao termo veterotestamental. Cristo
Promessas de terra quer que seus seguidores tenham mais do
NO Novo Testamento que uma “terra limitada. Eles herdarão
toda a Terra! Cristo ressalta as promessas
Como devem ser cumpridas as promes da “terra” para incluir toda a Terra. Paulo
sas quanto à terra que eram feitas reitera- igualmente viu esta plenitude de intenção
damente no Antigo Testamento? Já vimos na própria aliança abraâmica. “Não foi
que as alianças abraâmica e davídica são por intermédio da lei que a Abraão ou a
condicionais até onde elas se referem ao sua descendência coube a promessa de ser
parceiro humano. Também sabemos que é herdeiro do mundo (grego kosmos), e sim
um fato no Antigo Testamento - mantido mediante a justiça da fé”(Rm 4:13).
no Novo Testamento - que o Israel do
passado não permaneceu fiel. Ademais, Esta opinião não é estranha ao Antigo
Israel como entidade nacional rejeitou Testamento em si. A visão final de que
a Cristo. Em vista destes fatos podemos o povo de Deus será o herdeiro de um
concluir que as promessas de terra feitas novo céu e de uma nova Terra recriados
na Bíblia ainda precisam se cumprir com (Is 65:17-19) está presente na escatologia
24/ PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
Referências
WSS
' Artigo traduzido do original em inglês por ocorrerem. A questão é se esta possibilidade carrega
Francisco Alves de Pontes. qualquer probabilidade: é esta a maneira mais satis
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Para uma defesa do método crítico-histórico, ton. DE: Glazier, 1981]. 11-12 - grifos seus).
u
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2’ Assim Thomas S. McCall, "Problems m Re-
ght fala da "regra do polegar” ou princípio básico da
profecia preditiva do seguinte modo:"A profecia é biiilding the Tribulation Temple”, Bihlioiheca Sacra
anterior ao que ela prediz, mas contemporânea com, 0‘an. 1972),79.
-* John F. Walvoord, Israel in Prophecy (Grand
ou posterior a. o que ela pressupõe.”
" Ibidem. Rapids, MI: Zondervan, 1962), 125; cf. Charles L.
'● Isto é bem declarado por Klaus Koch, The Feinberg, "The Rebuilding ofthe Temple". Prophecy
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Prophets. The Bahi/onians and Persian Periods
(Filadélfia: Fortress, 1986). 2:73-80, e Wright, 8: IL: InterVarsity. 1971).
20 John F. Walvoord. The Rapture Ouestion
"O profeta tinha assim mensagens para seu próprio
povo em seus próprios dias. Não estaria dentro da (Ed. Rev.; Grand Rapids, Ml: Zondervan, 1979).
Samuele Bacchiocchi provê uma avaliação e crí
função primária do seu oficio dirigir um outro povo
em outro tempo que o seu próprio." tica do dispensacionalismo-futurista {The Advent
'' John J. Collins escreve sobre "a autenticidade Hope for Human Hopelessness [Berrien Springs.
das profecias de Daniel” a seguir: "O problema não MI; Biblical Perspectives. 1986]. 213-262). Seus
é se um profeta divinamente inspirado poderia ler argumentos contra a teoria do "rapto" incluem: (1)
predito os eventos que ocorreram ... anos antes de A terminologia para a segunda vinda de Cristo em
26 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
tais passagens como 1 Tessalonicenses 3:13; 2 Tes- anteriores que retratam uma “história do assunto
salonicenses 2:8; 1 Coríntios 1:7; 1 Timóteo 6:14 e das eras e dispensações” (A Bibliographic Histoiy
Mateus 24:27,37 e 39 provêem evidência para uma of Dispensationalism [Grand Rapids, Ml: Baker
só segunda vinda em um estágio e não em dois. Book House, 1965], 5). Ehlert procura mostrar que
(2) Paulo em 1 Tessalonicenses 4:15-17 descreve 0 dispensacionalismo é realmente antigo. Todavia,o
o Senhor como descendo “dos céus” ao ser “dada “dispensacionalismo moderno” parece ser singular.
a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e Simplesmente encontrar escritores pré-Darby que
ressoada a trombeta de Deus”,que são paralelas em têm dispensações não os toma dispensacionalistas.
Mateus 24:31 e 1 Coríntios 15:52,e demonstrou que Veja a crítica incisiva de Vern S. Poythress, Un-
não há nenhum “rapto secreto”.(3)Em Mateus 24:31 derstanding Dispensationalism (Grand Rapids, Ml:
o arrebatamento é colocado depois da tribulação e Zondervan, 1987), 9-11.
não antes e a proteção é concedida na tribulação John N.Darby, The Collected Writings ofJohn
(Apocalipse 3:10). (4) O livro de Apocalipse não Nelson Darby, ed. W. Kelly. 34 vols.(reimpresso;
apresenta nenhuma evidência para um rapto pré-tri- Sunbury, PA; Believers Bookshelf, 1971).
40
bulação, mas um retomo do Senhor pós-tribulação W. G. Tumer, John Nelson Darby (Londres:
(246-251). Hammond, 1944), 13-15; G. B. Bass, Backgrounds
30
Veja J. Dwight Pentecost, Things to Come:A to Dispensationalism(Grand Rapids, Ml: Eerdmans,
Study in Biblical Eschatology (Grand Rapids, Ml: 1960),48-99.
41
Zondervan, 1969), 156-217. H. Pickering, ChiefMen Among the Brethren
31
Veja especialmente as definições providas nas (2a ed.; Londres: Pickering e Inglis, 1931); W. Blair
dissertações de Samuel Nunez,“The Vision of Da Neatby, TheHistoiy ofthe Plymoiith Brethren(2“ ed.;
niel 8: Interpretations ffom 1700-1900”(diss. Ph.D, Londres: Hodder and Stoughton, 1902).
42
Andrews University, 1987), 10-11; Gerhard Pfandl, Lewis Sperry Chafer, Dispensationalism
“The Latter Days and the Time of the End in the (Dallas: Dallas Seminary Press, 1936); idem, Sj’^-
Book of Daniel” (diss. Ph.D, Andrews University, tematic Theology. 8 vols. (Dallas Seminary Press,
1990),5-6,publicadas como The Time ofthe End on 1947); idem. Major Bible Themes, rev. por John F.
the Book ofDaniel “Adventist Theological Society Walvoord (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1974).
43
Dissertation Series”(Berrien Springs, MI:Adventist Publicado primeiro em Grand Rapids, MI:
Theological Society Publications, 1992). Zondervan, 1970.
32 44
Para a finalidade deste estudo não será neces- Assim reivindicado por Hal Lindsey em seu
sário distinguir entre “futuristas” e “dispensacio livro subseqüente, The I980's: Countdown to Arma-
nalistas” (veja Pfandl, 7-8), porque os últimos são geddon (Toronto/New York, 1981), 4, II.
45
futuristas em perspectiva. Para sóbrias reações e críticas do futurismo de
33
Cmtchfield,244[veja nota 45 abaixo],declara: Lindsey, veja George C. Miladin, Is This Really the
“A maior parte dos eventos do fim do tempo ainda End? A ReformedAnalysis of‘The Late Great Planet
está adiante de nós como era futuro para aqueles do Earth ’(Cherry Hill, NJ: Mack Publ. Co., 1972); T.
período bíblico.” O próprio Darby tinha declarado: Boersma, Is the Bible a Jigsaw Puzzle... An Evalii-
“A maior parte das profecias, e em certo sentido, ation ofHal Lindsey s Writings (St. Catherines, Ca
podemos dizer, todas as profecias, terão o seu nadá, 1978);Comelius Vanderwaal,HalLindsey and
cumprimento na expiração da dispensação em que Biblical Prophecy (St. Catherines, Canadá, 1978);
estamos”(Writings. 2: Prophetic n"/, 279). Samuele Bacchiocchi, Hal Lindsey s Prophetic Ji
34
C. C. Ryrie,Dispensationalism Today(Chica gsaw Puzzle. Five Predictions that Failed (Berrien
go: Moody Press, 1965), 156-76. Springs, MI: Biblical Perspectives, 1985).
46
”Veja Charles L. Feinberg,Israel At the Center As sete dispensações em sua forma clássica
ofHistory and Revelation (Portland, OR: Multno- são aquelas de “inocência”(Gn 1:26-3:24), “cons
mah Press, 1980); Walvoord, Israel and Prophecy ciência”(Gn 4:1 -7:24),“governo humano”(Gn 8:1-
reimpresso em The Nations, Israel and the Church 11:26),“promessa”(Gn 11:27; Êx 18),“lei”(Êx 19;
in Prophecy, 15-133, e muitos outros. At 1:26),“graça”(At 2:1; Ap 19:21), e “reino”(Ap
Walvoord, The Nations, Israel and the Church 20:1-6)segundo Larry C.Cmtchfield,“The Doctrine
in Prophecy, 103-20, com ênfase na seção “The ofAges and Dispensations as Found in the Published
Nations in Prophecy”. Works of John Nelson Darby (1800-1882)” (Diss.
Pentecost, 340-58, com literatura anterior; Ph.D Drew University, 1985), 58-68.
47
Paul Lee Tan, The Interpretation of Prophecy C. I. Scofield, Rightly Divinding the Word
(Vinona Lake, IN: BMH Books, 1974), 349; Hal ofTruth (Fincastle, VA: Scripture Truth Book Co.,
or Consequences n.d.), 12-16.
Lindsey, The Rapture: Truth 48
(New York, 1983). Veja Crutchfield, 48-56, de quem eu dependo
38
Esta designação é usada por Amold D. Ehlert, fortemente nesta seção.
49
ê um estudo bibliográfico de escritores Cmtchfield, 68-71.
que prove
Israel na profecia bíblica / 27
50
Ryrie, Dispensationalism Today, 44-45; se Phenomenon ofConditíonality within Unconditíonal
melhantemente John F. Walvoord, “Dispensational Covenants”, Israels Apostasy and Restoration. Es-
Premillennialism”, Christianity Today 15 (setem says in Honor ofRoland K. Harrison, ed. Avraham
bro,1958), 13; Lewis Sperry Chafer, “Dispensatio Gileadi (Grand Rapids, MI: Baker Book House,
nalism,” Bibliotheca Sacra 93(1936): 448. 1988), 123-139; Ronald Youngblood,“The Abraha-
51
Ryrie, Dispensationalism Today’, 159. mic Covenant: Conditional or Unconditíonal?” The
Crutchfield, 49. Living and Active Word ofGod:Studies in Honor of
53
Veja Ryrie, Dispensationalism Today, 133-140. SamuelJ.Schultz,eds. Morris Inch e Ronald Young
Ibid., 136. blood(Winona Lake,IN: Eisenbrauns, 1983),31-46;
” Para uma sólida análise e crítica das origens Oswald T. Allis, God Spake by Moses (Nutley, NJ:
e mudanças na teoria do arrebatamento, veja Dave Presbyterian and Reformed, 1958), 72.
76
MacPherson, The Great Rapture Hoax (Fletcher, Aqueles que desejam afumar que Abraão não
N.C.: New Puritan Library, 1983). Para uma retifi teve sua fé considerada como justiça por Deus, mas
cada opinião do rapto pós-metade-da-semana, veja que Abraão considerou a promessa da semente como
agora Marvin Rosenthal, The Pré-Wrath Rapture of justiça(veja M.Oeming,“Ist Genesis 15,6 ein Beleg
the Church (Nashville, TN: Nelson, 1990). fiir die Anrechnung des Glaubens?”Zeitschriftjur die
56
Ryrie, Dispensationalism Today’, 159. alttestamentliche Wissenschaft 95[1983]: 182-197,
57
Crutchfield, 71. que foi enfrentado por Bo Johnson “Who Reckoned
58
Ryrie, Dispensationalism Today, 156-161. Righteousness to Whom?”SvenskExegetiskÃrsbok
59
Chafer, Systematic Theology, 4:47-53. 51 [1986]: 108-115)têm dificuldade com a sintaxe
J. Dwight Pentecost, Things To Come. A Study hebraica e o Novo Testamento (veja Rm 4:3, onde
in Biblical Eschatology(Grand Rapids, MI:Zonder- Abraão é o sujeito da segunda cláusula).
77
van, 1969), 201-202. Zobel,“yisra’el”, 401.
61
Ryrie, Dispensationalism Today, 158. Ibid.
79
Ibid., 546. F. I. Anderson e D. N. Freedman, Amos. A
<●3 Ibid., 140. New Translation with Introduction and Commentary
64
Para uma crítica do “rapto secreto”, veja “Anchor Bible”, vol. 24a (New York: Doubleday,
Ladd, The Blessed Hope, 89-104; Oswald T. Allis, 1989), 130-32.
Prophecy and the Church (Filadélfia: Presbiterian »»Ibid., 403.
81
and Reformed Publ. Co., 1977), 181-91. Ibid., 403.
65
Veja Gerhard von Rad, “Israel”, Theological Gerhard F. Hasel,“Remnant”, The Internatio
Dictionary of the New Testament, 3:356-59; R. nalStandard Bible Encyclopedia,ed. G.W.Bromiley
Mayer, “Israel, Jew, Hebrew, Jacob, Judah”, New (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1988), 4:132.
International Dictionaty of New Testament Theo Ibid., 4:133; idem, The Remnant. The History
logy, 2:304-16. and Theology ofthe Remnant Ideafrom Genesis to
66
Hans K. LaRondelle, The Israel of God in Isaiah (3a ed.; Berrien Springs, MI: Andrews Uni-
Prophecy (Berrien Springs, MI: Andrews University versity Press, 1980), 170-215.
Press, 1983), 82. Hasel,“Remnant”, The InternationalStandard
H. J. Zobel, “yisra’el”, Theological Dictionary Bible Encyclopedia,4:133.
of the Old Testament, eds. J. Botterweck e H. Ring- LaRondelle, 90-91.
86
gren (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1990), 6:401. RyÚQ,Dispensationalism Today,
Ibid. Para um estudo completo de Israel e suas impli
A. R. Hulst, “’am/goj volk”, Theologisches cações, veja a excelente obra de Hans K.LaRondelle
Handwôrterbuchzum Alten Testament, eds. E. Jenni citada anteriormente, The Israel ofGodin ProphecyK
e C. Westermann (Zurique: Theologischer Verlag/ Principies of Prophetic Interpretation (Bemen
Munich: Kaiser, 1976), 2:312-14. Springs, MI: Andrews University Press, 1983).
™ N. A. Dahl, Das Volk Gottes (Oslo, 1941), 19. ** Ryrie, Dispensationalism Today, 138.
71 s" LaRondelle, 98-99.
Hulst, 315.
R. E. Clements, “gôy”, Theological Dictionary Poythress, UnderstandingDispensationalists,
ofthe Old Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 69.
91
1975), 2:427. Veja G. Friedrich, “Epangelia”, Theological
73
E. A. Speiser, “‘People’and ‘Nation’ of Israel”, Dictionaiy ofthe New Testament (Grand Rapids,
Journal of Biblical Literature 79 (1960): 160-170. Ml: Eerdmans, 1965), 2:584.
74
LaRondelle, 83-85. Ibid.
75 Ibid.
Veja sobre a condicionalidade da aliança
94
abraâmica com relação ao parceiro humano, Gerhard Ibid., p. 127.
F. Hasel, Covenant in (Mountain View, CA: "'LaRondelle, 110-111.
96
Pacific Press, 1982), 52-62; Bruce K. Waltke, “The Joachim Rhode, Der Briefdes Paiilus an die
28 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
Go/atór(Berlim: Evangelische Verlagsanstalt, 1989), 13:5, II; 32:13; 33:1; Números 11:12; 14:16, 23;
278(ênfase minha). 32:11; e Deuteronômio 1:8, 35; 4:31; 6:10, 18, 23.
Samuele Bacchiocchi, The Advent Hopefor Há treze promessas adicionais de terra no Antigo
Human Hopelessmss(Berrien Springs, MI: Biblical Testamento fora do Pentateuco.
Perspectives, 1986), 228-29. The New Scofield Bible, 20, 1318.
114
Chafer, Systematic Theology, 3:105-107; Pentecost, Things to Come,98.
MS
Pentecost, 298: John F. Walvoord, The Mülennial Veja Gerhard F. Hasel, Understanding the
Kingdom (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1959), Living Word of God (Mountain View, CA: Pacific
171-73,e outras. Press, 198), 66-82.
99 M6
Que este termo inclui tanto judeus quanto Bacchiocchi, The Advent Hope,221.
gentios é defendido,entre muitos outros,também por Gerhard F. Hasel,“Fulfillments ofProphecy”,
João Calvino e K. Barth, The Epistle to the Romans The Seventy Weeks, Leviticus, and the Nature ofPro
(Oxford: Oxford University Press, 1963), 416, que phecy,ed. Frank B. Holbrook “Daniel and Revelation
considera “todo o Israel” como a Igreja. Committee Series, Vol. 3” (Washington: Biblical
100
Hasel, “Remnant”, The International Stan Research Institute, 1986), 288-322.
M8
dard Bible Encyclopedia,4:134. Hasel, Covenant in Blood, 38-41.
101
M9
Tem sido até mesmo afirmado que Paulo Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, 138.
120
defende um “caminho especial” de salvação para Veja nota 113 acima.
121
judeus que são salvos sem fé em Jesus Cristo. Todo o Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, 476.
122
argumento de Paulo e sua insistência sobre fé em Je Para outros exemplos, veja LaRondelle,
sus Cristo contraria tal opinião. Deus tem apenas um 23-34.
123
caminho de salvação para toda a espécie humana. Pentecost, Things to Come, 112. Veja também
Veja também William Sanford La Sor, Isra Ryrie, Dispensationalism Today, 80.
124
el. A Biblical View (Grand Rapids, MI: Eerdmans, Seguimos aqui as sugestões de R. A. Carlson,
1976), 83-108.
103 David and the Chosen King (Uppsala: Almquist e
Poythress, 129,
104 Wiksell, 1964), 111-14.
125
Uma análise mais extensa é provida por Frank Cross crê que essa condicionalidade é
LaRondelle em seu livro, The Israel ofGod in Pro- uma forma primitiva do oráculo de Natã(Canaanite
phecy,em que nos temos beneficiado extensamente Myth and Hebrew Epic [Cambridge, MA: Harvard
nesta seção bem como na seguinte. University Press, 1973], 232). John Bright declara
John F. Walvoord, “IsraePs Restoration”, que “a continuidade da dinastia [de Davi]tomou-se
Bibliotheca Sacra 102(1945),405-16;idem,“Israel sujeita a condições!” {Covenant and Promise. The
in Prophecy”,em The Nations,Israeland the Church Prophetic Understanding ofthe Future in Pre-Exilic
inProphecy, 15-138.
106 Israel[Filadélfia: Westminster Press, 1976], 64.
126
Walvoord,“Israel in Prophecy”, The Nations, Veja Waltke, 131,132; David Noel Freedman,
Israel
107
and the Church in Prophecy, 78. “Divine Commitment and Human Obligation: The
Pentecost, Things to Come,60.
108 Covenant Theme”, Interpretation 18 (1964): 426;
109
B.ynt, Dispensationalism Today, 158 Avraham Gileadi,“The Davidic Covenant:A Theolo-
Ibid.
110 gical Basis for Corporate Protection”,Israels Apos-
Herman Hoyt,“Dispensational Premillennia-
tasy and Restoration. Essays in Honor ofRoland K.
lism”, The Meaning ofthe Millennium, ed. Robert
Harrison, ed. Avraham Gileadi(Grand Rapids, MI:
G. Clouse(Downers Grove, IL: InterVarsity, 1977), Baker Book House, 1988), 161, 162.
66. 127
111 LaRondelle, 138.
128
Poythress, Understanding Dispensationalists, H.H.Schmid,“'aeraes Erde, Land”, Theologis-
87-110. Veja também Bacchiocchi, The Advent Hope, ches Wôrterbuchzum Alten Testament, 1:228-36; M.
220-25, e, particularmente, Daniel P. Fuller, Gospel Ottosson,“’erets”, Theological Dictionaiy ofthe Old
andLaw: Contrast or Continuam? The Hermeneutics
Testament, eds. J. Botterweck e H. Ringgren(Grand
ofDispensationalism and Covenant Theology(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1974), 1:393-405.
Rapids, MI: Eerdmans, 1980). 129
Na seqüência eu sigo largamente as idéias
"-Veja também Gênesis 13:14-15; 13:17; 15:7-
apresentadas por Poythress, 120-21.
130
21; 17:8; 26:3-4; 28:4, 13; 35:12; 48:4; 50:24; Êxo. Poythress, 123.
As FESTIVIDADES ISRAELITAS
E A IGREJA CRISTÃ
Ángel Manuel Rodríguez,Th.D.
Diretor do Biblical Research Institute da Associação Geral da lASD,Silver Spring, Maryland,EUA
Resumo: Este artigo faz uma análise das celebração e regozijo do seu povo em sua
principais festividades israelitas, insti presença. Aqui nos limitaremos às princi
tuídas por determinação divina após o pais festividades israelitas. Exploraremos
Êxodo. Na primeira parte do trabalho, o seu significado típico e comemorativo
e concluiremos com a discussão do seu
0 autor explora o sentido tipológico e
comemorativo de cada uma dessas sole- significado para os cristãos.
nidades no antigo Israel, bem como o seu
significado para a igreja cristã. Em segui As FESTAS E O SEU SIGNIFICADO TÍPICO
da, 0 texto discute se as mesmas festas E COMEMORATIVO
devem ou não continuar a ser observadas
pelos cristãos na atualidade A FESTA DA PÁSCOA
Abstract: This article deals with the main
A páscoa foi instituída logo após a saída
Israel festivais established by God after do Egito(Êx 12). É apresentada na narra
the Exodus. In the first part of the article, tiva do Êxodo em conexão com a décima
the author explores the typological and praga. Essa praga constituiu o julgamento
commemorative sense ofeach one oftho- final de Deus sobre o Egito e podería ter
se festivities in the life of ancient Israel, afetado os israelitas que ali habitavam. Ao
as well as their meaning to the Christian ser a páscoa instituída, tinha a finalidade de
church. Afterwards, the text discuss whe- proteger os hebreus dos dolorosos efeitos
ther the same feasts must be observed by da décima praga. Naquela noite todos os
modern Christians. primogênitos do Egito morreríam.
Introdução' Durante o dia 14 do mês de abibe cada
família deveria imolar um cordeiro sem
O sistema israelita não estava interes defeito (12:5, 21). Seus ossos não deve-
sado apenas na santidade do espaço (o riam ser quebrados. A carne da vítima era
tabemáculo e seus rituais), mas também comida durante a noite pelos membros da
na santidade do tempo. Os seres humanos família como um tipo de oferta pacífica. Era
são criaturas do tempo e do espaço e era assada e comida com pães asmos e ervas
intenção de Deus se encontrar com eles amargas(v. 8)e o seu sangue era colocado
em ambas as esferas de sua existência, no na verga da porta e nas ombreiras de cada
tempo e no espaço. É esta preocupação casa(v. 22). Esse ritual sangüíneo indicava
com o tempo que é comunicada por meio que naquela casa uma vida fora dada em
das diferentes festividades mencionadas no lugar da vida do primogênito da família. O
Antigo Testamento e, particularmente, por Senhor “veria o sangue”(v. 13)e passaria
meio do sábado. Deus se encontrava com pela casa, preservando a vida do primogê
o seu povo na esfera do tempo que não nito daquela família.
estava limitada exclusivamente ao sábado Enquanto no Egito morriam todos os
do sétimo dia. Outros períodos de tempo primogênitos, entre os hebreus morria
foram escolhidos por ele para adoração, uma vítima sacrifical. Por intermédio do
30 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
seu sangue os primogênitos de Israel eram israelitas deixavam seus lares e viajavam
redimidos. A idéia de propiciação ou ex- para o santuário(Dt 16:10). O significado
piação não é claramente afirmada, mas os tipológico dessa festa se encontra no Novo
hebreus poderiam ter interpretado o ritual Testamento: o fermento é considerado um
como tendo alguma virtude expiatória no símbolo do pecado,que não deve ser acha
sentido de preservar intacto seu relacio do no cristão, o qual, por meio de Cristo se
namento com o Senhor ao escapar do seu tornou ‘'nova massa”(ICo 5:7-8).
juízo. Conquanto originalmente Deus
ordenasse aos israelitas que oferecessem
Cerimônia do molho movido
o sacrifício em suas próprias cidades, ao
entrarem em Canaà eles deveriam passar a Ao entrarem os israelitas em Canaã
oferecê-lo no santuário central(Dt 16:5-6). deveríam levar para o Senhor as primícias
Ali o sangue era aspergido sobre o altar do da colheita de cevada(Lv ^310-11) Isto
mesmo modo que o sangue da maioria dos deveria ser feito em 16 de abibe, durante
sacrifícios(2Cr 35.11). 0 segundo dia da festa dos pães asmos
A festa comemorava a saída do Egito Nao era propriamente falando uma fes
e, ao celebrá-la, cada geração passava,em ta. mas uma cerimônia dentro de uma
certo sentido, pela experiência do Êxodo resta. Um molho da messe era movido
perante o Senhor em reconhecimento ao
(Êx 12:26; cf Dt 6:21-25). Esse evento
como ex- íalo de que toda a colheita pertencia a
era põ^rcebido pelos israelitas
0 modelo de poder redentivo ele como uma expressão de gratidão.- A
pressando
de Deus. Consequentemente, qualquer apresentação das primícias é um símbolo
ato redentivo de Deus no futuro seria in da ressurreição de Cristo no domingo da
páscoa (16 de abibe). Ele é descrito como
terpretado tipologicamente em função do
evento do Êxodo comemorado na páscoa “as primícias” da ressurreição escatoló-
(ex.:ls 48:20-21). gica daqueles que lhe pertencem (ICo
15:23). De fato, "o cordeiro imolado, o
O Novo Testamento revela o significado pão asmo. o molho dos primeiros Irutos,
tipológico dessa festa identificando Jesus representavam o Salvador”.-^
como 0 cordeiro pascal (João 1:36) que
morreu durante a celebração da festa da
ossos não foram A FESTA DAS SEMANAS (PENTECOSTES)
páscoa (19:14) e cujos
quebrados(19:36). E por meio do Seu san Essa festa é também chamada pente-
gue que a redenção foi realizada, libertando costes porque era celebrada 50 dias após
0 ser humano das forças malignas deste a cerimônia das primícias em 16 de abibe
mundo(Hb 9:12; 2:14-15). De fato, Paulo (Lv 23:15-21). Era parte do calendário
considera Jesus como a personificação da agrícola e consistia em levar ao Senhor as
própria festa da pascoa(ICo 5. /). primícias da colheita do trigo em 6 de sivã.
A festa era uma peregrinação celebrada
no santuário central (Dt 16:10). O dia 6
A FESTA DOS PÃES ASMOS
de sivã era um sábado cerimonial durante
intimamente relacio-
Essa festa estava o qual o povo se regozijava diante do Se
Era celebrada de 15 a
nada com a páscoa^ israelita^; nhor por suas bênçãos. “Como expressão
21 de abibe. Durante sete dias os sraelitas de gratidão pelo cereal preparado como
deviam comer pães asmos e nenhum fer- alimento, dois pães assados com fermen
7 H.via ser encontrado em seus lares, to eram apresentados diante de Deus. O
mento devia sei cj* nv a fpefo
(Êx 12:17-20, 34; pentecoste ocupava apenas um dia, que
.,.-0 r> fí=*mDO em que eies ueixa-
era dedicado ao culto religioso.”'*
apontava p pg\to, não tendo tempo
ram apressados O primeiro A festa estava também associada à expe
para preparar P sábados riência de Israel no Sinai quando foi esta
e 0 ultimo d-a ^as três festas belecida a aliança. Segundo Êxodo 19:1,os
cerimoniais. ^ a^ite cuja celebração os israelitas chegaram ao Sinai no terceiro mês
de peregrinação ou
As FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ / 31
após a saída do Egito. O pentecostes era Alguns desses salmos associam esta experi
celebrado durante o terceiro mês do ano.A ência com um chamado para louvar a Deus
celebração da festa era provavelmente um como rei,juiz do mundo (47:5-7; 98:6-9),
memorial ou uma reafirmação da aliança e como Criador e preservador do seu povo
entre Deus e Israel(cf 2Cr 15:10-13). Foi (100:1-5).^
por causa da aliança que a nação israelita A festa das trombetas não é mencionada
veio à existência(Ex 19:5-6).
explicitamente no Novo Testamento,o que
O Novo Testamento estabelece uma ní toma difícil identificar o seu significado
tida conexão entre o pentecostes e a igreja tipológico. Contudo,o livro de Apocalipse
cristã. Foi durante a festa do pentecostes faz referência às sete trombetas que são
que os discípulos receberam o batismo tocadas antes da consumação da salvação
do Espírito Santo e a igreja como tal veio e que chegam ao fim com uma visão do
à existência como o novo povo de Deus lugar santíssimo do templo celestial. “Pre
(At 2:1-4). Então foi estabelecida a nova cisamente como a festa das trombetas...
aliança(3:25). Mas também apontava para convocava o antigo Israel a fim de prepa
algo que ocorreu no santuário celestial. rar-se para a vinda do dia de juízo, Yom
“O derramamento pentecostal foi uma Kippur, assim as trombetas do Apocalipse
comunicação do Céu de que a confir enfatizam especialmente a aproximação
mação do Redentor havia sido feita. De do Yom Kippur antitípico... As trombetas
conformidade com sua promessa, Jesus parecem retroceder na história da salva
enviara do Céu o Espírito Santo sobre seus ção como sinais ao longo da era cristã de
seguidores, em sinal de que Ele, como que Deus se “lembrará” (isto é, agirá em
Sacerdote e Rei, recebera todo o poder favor de) seu povo e como avisos para o
no Céu e na Terra, tomando-se o Ungido preparo para o antitípico dia da expiação.^
”5
sobre seu povo. Elas descrevem a Deus como juiz da raça
humana e como enviando juízos sobre
A FESTA DAS TROMBETAS
pecadores impenitentes antes de ocorrer o
julgamento final.
Esta é a primeira das festas de outono
(Lv 23:23-25). Era celebrada durante o sé O DIA DA EXPIAÇÃO
timo mês(tishri)como um dia de descanso
solene, um sábado cerimonial. Embora o dia da expiação era celebrado no dia
alguns creiam que essa é uma festa de ano 10 de tishri, mas ao contrário de outras fes
novo,o texto não realça este fato. E chama tas,este era um dia dejejum para o povo de
da festa das trombetas porque a celebração Israel(Lv 23:29); não era uma festividade.
era iniciada por um toque de trombetas. De Era um sábado cerimonial durante o qual
fato, “trombetas” talvez não seja a melhor nenhum trabalho deveria ser feito (v. 28).
tradução do termo hebraico t'rü‘ah. Este Durante esse dia o sumo sacerdote realiza
termo parece designar o forte som do chifi^e va o serviço anual em favor dos israelitas.
de carneiro {shophar) em vez do som de Nesse dia o santuário era purificado de to
uma trombeta {htsotsrah, “trombeta”; cf dos os pecados, transgressões e impurezas
Nm 10:10; 29:1). do povo de Deus (Lv 16:16, 21, 30). Era
um dia de juízo em Israel.
A festa é descrita como um memorial
(Lv 23:24), mas não somos infoiroados no O dia da expiação não estava relaciona
tocante ao que ela comemora. É possível do com nenhum evento específico da histó
que o propósito da festa tenha sido lembrar ria de Israel. Antes, apontava para o futuro
ao povo que Deus era o Criador e Juiz do ato divino de julgamento e purificação.
mundo no preparo para as cerimônias do Miquéias usa a terminologia e ideologia
dia da expiação. Isto é sugerido por algu do dia da expiação para descrever a futura
mas passagens dos Salmos onde se faz obra de Deus em favor do seu remanescente
menção ao som de buzinas e de fazer “ruído escatológico. Descreve a Deus como aquele
jubiloso” diante do Senhor(cf SI 95-100). que perdoa as “transgressões”(7:18; pesct
32/ PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
rebelião”; Lv 16:16, 21), “iniqüida- intimidade entre Deus e seu povo (ex.:
des”(7:19;^awôn = “ofensa”; Lv 16:21), e 11:1-4; 2:14-15).
“pecados”(toto 7 = “pecado”;(Lv 16:21, A festa dos tabemáculos era também
30),removendo-os da sua presença e mos
interpretada escatologicamente como
trando sua fidelidade e misericórdia para
com o remanescente(Mq 7:20). apontando para um tempo futuro quando
a colheita de salvação de Deus se encer
As visões apocalípticas de Daniel apon rará e as nações do mundo irão adorá-Lo.
tam para um tempo em que o santuário seria Zacarias descreve para nós um tempo em
purificado pouco antes do estabelecimento que toda a cidade de Jemsalém estará pu
do reino de Deus na Terra(8:13,14). Isto su rificada e as nações da Terra virão perante
gere que o dia da expiação é essencialmente Deus para celebrar a festa dos tabemáculos
típico em vez de comemorativo. Aponta (14:16-21). O livro de Apocalipse desvenda
para o passado somente até o ponto em que o cumprimento tipológico dessa festa na
lida com todos os pecados do povo de Israel grande multidão que João viu “em pé diante
cometidos durante os anos anteriores. Mas o do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
fato de ocorrer ano após ano toma-o um tipo vestiduras brancas,com palmas nas mãos”
da ílitura e final purificação do povo de Deus (7:9). Eles estavam louvando e dando gra
em preparação para o reino messiânico. É ças a Deus por sua salvação. A colheita da
10
para esta dimensão tipológica que Miquéias salvação havia terminado (14:15-16).
e Daniel estão apontando.
Por intermédio das diferentes festi
vidades Deus estava revelando ao seu
A FESTA DOS TABERNÁCULOS
povo importantes aspectos do seu plano
Essa festa era celebrada durante 15 a 21 de salvação. As festividades da primavera
de Tisri. Era a última festa do ano agrícola falam sobre redenção efetuada; as festivi
depois de terminar a colheita (Êx 23:16; dades de outono acerca da consumação da
34:22). Era uma festa de peregrinação redenção. Seu significado tipológico não
quando Israel ia adorar a Deus no santuá somente aponta para a cruz, mas também
rio central(Dt 16:15). Era uma festa muito para o que está ocorrendo agora no reino
alegre durante a qual o povo expressava celestial e na Terra e nos permite anteci
sua gratidão a Deus(Lv 23:40; Jz21:19- par o que está prestes a ocorrer, isto é, a
21; Dt 16:14). A festa se iniciava com um ceifa escatológica.
sábado cerimonial e concluía com outro
em 22 de tishri (Lv 23:36). “Esta festa As FESTIVIDADES DO AnTIGO
reconhecia a generosidade de Deus nos
Testamento e a igreja cristã
produtos do pomar, do olival e da vinha.
Era a reunião festiva encerradora do ano. Devem os cristãos observar as fes
A terra havia concedido o seu produto, as tividades israelitas? Esta tem sido uma
colheitas estavam guardadas nos celei
questão muito debatida entre os cristãos,
ros; os frutos, o azeite e o vinho estavam mas a atual opinião prevalecente é que elas
armazenados, as primícias reservadas, e
tinham apenas um significado tipológico
agora o povo vinha com seus tributos de que foi cumprido em Cristo e sua obra de
ações de graças a Deus,que os havia assim mediação e juízo. Entre os adventistas há
abençoado ricamente.”* alguns que chegaram à conclusão de que
Durante a festa os israelitas moravam é necessário observar as festas e eles têm
em cabanas feitas de ramos de palmeiras promovido esta prática entre os membros
e ramos de árvores frondosas (23:40). A da igreja. Ao tratar desta questão,é necessá
festa era um memorial do tempo em que rio examinar as passagens bíblicas em que
é discutido o assunto das festas israelitas a
Deus fez Israel habitar em tendas durante
fim de determinar sua natureza e propósito.
sua peregrinação no deserto depois da saída
Vários eruditos adventistas têm examinado
do Egito (23:42).'^ Esse período é descrito
este assunto e a conclusão comum a que
por Oséias como um período de grande
As FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ / 33
.k
As FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ /35
teocracia instituída por Deus no Sinai. para os símbolos e sombras. A única festa
Elas comemoravam importantes eventos que ainda não se cumpriu ou está sendo
salvíficos da história de Israel e, ao mesmo cumprida é a festa dos tabemáculos, mas
tempo, apontavam tipologicamente para já somos parte da ceifa universal que Cris
a futura obra de salvação que Deus iria to virá recolher na segunda vinda.A Bíblia
realizar em favor do seu povo por meio do indica que a celebração das festividades
Messias. Com a chegada do Messias,a re tinha limitações geográficas e temporais
alidade para a qual elas apontavam já está e que suas funções religiosas encontraram
aqui e não mais há necessidade de olhar seu cumprimento em Cristo.
Referências
' Artigo traduzido do original em inglês por no deserto, o povo devia agora deixar suas casas, e
Francisco Alves de Pontes. habitar em cabanas, ou em caramanchéis,formados
- “Um molho deste cereal era movido pelo sa dos ramos verdes ‘das formosas árvores, ramos de
cerdote diante do altar de Deus,em reconhecimento palmas, ramos de árvores espessas, e salgueiros de
de que todas as coisas eram dele. Antes que esta ribeiros’. Levítico 23:40,42 e 43”(White,Patriarcas
cerimônia se realizasse não se devia fazer a colheita” e Profetas, 540).
(Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [Tatuí, SP: “A festa dos tabemáculos não era apenas come
Casa Publicadora Brasileira, 1997], 539). morativa, mas também típica. Não somente apontava
^ White, O Desejado de Todas as Nações(Tatuí, para a peregrinação no deserto, mas, como festa da
SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000), 77. ceifa, celebrava a colheita dos fhitos da terra, e in
^ Idem, Patriarcas e Profetas, 540. dicava, no futuro, o grande dia da colheita final, era
^ Idem, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa que o Senhor da seara enviará os seus ceifeiros para
Publicadora Brasileira, 1986), 39. ajuntar ojoio em feixes para o fogo,e colher o trigo
Segundo Ellen G. White, a festa foi celebrada para o seu celeiro. Naquele tempo os ímpios todos
durante o tempo de Esdras e Neemias:“Esse era um serão destmídos. Eles se tomarão ‘como se nunca
dia festivo, um dia de regozijo, uma santa convo tivessem sido’. Obadias 16. E toda voz,no Universo
cação, um dia no qual o Senhor tinha ordenado ao inteiro, unir-se-á em jubiloso louvor a Deus”(White,
povo que se mostrasse alegre e jubiloso; e em vista Patriarcas e Profetas, 541).
disto foram chamados a restringir suas mágoas, e '' Declara o profeta em Oséias 2:11:“Farei cessar
a se rejubilarem por causa da grande misericórdia todo o seu gozo, as suas festas de lua nova, os seus
do Senhor para com eles. ‘Este dia é consagrado ao sábados e todas as suas solenidades.” Aqui o sábado
Senhor vosso Deus’, disse Neemias, ‘pelo que não está incluído juntamente com as festas. Isto tem
vos lamenteis, nem choreis... Ide,comei as gorduras, sido interpretado por alguns para indicar que se os
e bebei as doçuras,e enviai porções aos que não têm israelitas não pudessem observar as festas durante o
nada preparado para si; porque este dia é consagra exílio, não seriam eles capazes de guardar o sábado.
os
do ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, Isto é equívoco porque, primeiro, sabemos que
porque a alegria do Senhor é a vossa força’(Ne israelitas guardaram o sábado durante o exílio, mas
8:9 e 10). A primeira parte do dia fora devotada a não as festas, porque as festas exigiam os serviços do
exercícios religiosos, e o povo despendeu o resto do templo. Segundo, esta passagem está simplesmente
tempo em grata reconsideração das bênçãos de Deus, indicando que Deus iria dar um fim a todo o corrom
e em desfrutar a abundância que Ele provera. Porções pido sistema israelita de adoração. Não está tratando
foram também enviadas aos pobres que nada tinham do assunto sobre se eles seriam ou não capazes de
para preparar. Houve grande regozijo, por causa das guardar as festividades e o sábado durante o exilio. E
palavras da lei que haviam sido lidas e entendidas” emI Oséias 9:5 que é suscitada a questão de observar
(Profetas e Reis [Tatuí, SP: Casa Publicadora Bra as festividades em um pais estrangeiro é a resposta
sileira, 1992], 662). dada é negativa. É importante notar que em 9:5 o
’ Richard M. Davidson,“Sanctuary Topology”, sábado não está incluido.
Symposium on Revelation - Book 1, editado por White, O Desejado,447. Há várias passagens
Frank B. Holbrook (Silver Spring. MD: Biblical onde os israelitas são ordenados a observar festivi
Research Institute, 1992). 123. dades como “estatuto perpétuo por vossas gerações,
White, Patriarcas e Profetas, 540. em todas as vossas moradas”(Lv 23:14, 21), dando
“Como a páscoa, a festa dos tabemáculos era a alguns a impressão de que isto está se referindo a
comemorativa. Em memória de sua vida peregrina qualquer lugar no mundo. Mas certamente não é este
1
O caso. Os israelitas estavam indo para Canaã e era que “evidência textual favorece a omissão” destas
este o lugar onde eles residiríam e onde se esperava palavras(Francis D.Nichols,Seventh-day Adveníist
que eles celebrassem as festividades. Esta era a Bible Commentaiy,vol.6[Washington,DC: Review
terra que o Senhor lhes deu como “terra das vossas and Herald, 1956], 367).
18
habitações”(Nm 15:2; cf. Ez 6:6). Alguns têm encontrado na seguinte decla
Victor P. Hamilton, The Book of Gênesis ração de Ellen G. White apoio para a observância
Chapíers 1-17 (Grand Rapids, MI: Eerdmans, hoje da festa dos tabernáculos: “Bom seria que o
1990), 127. povo de Deus na atualidade tivesse uma festa dos
14
Argumentam alguns que sendo que a celebra tabernáculos - umajubilosa comemoração das bên
ção das festividades era “estatuto perpétuo por vossas çãos de Deus a eles. Assim como os filhos de Israel
gerações” (Lv 23:14), elas deveríam permanecer celebravam o livramento que Deus operara a seus
para sempre. O termo “para sempre” não significa pais, e sua miraculosa preservação por parte dele
necessariamente que tudo a que ele se refere nunca durante suas jornadas depois de saírem do Egito,
terá fim (cf. Êx 27:21; Lv 7:36; 10:9; 17:7; Nm devemos nós com gratidão recordar-nos dos vários
10:8; 15:15; 18:23). Por exemplo,o fogo que arderá meios que Ele ideou para nos tirar do mundo,e das
para sempre se refere ao fogo que queimará até que trevas do erro, para a luz preciosa de sua graça e
consuma seu objeto e então se extinguirá. As festas verdade”(White,Patriarcas e Profetas,540,541).
deveríam durar até ao tempo em que encontrassem Mas ela não está promovendo a celebração das
seu cumprimento na obra de Jesus. festividades do Antigo Testamento. Está simples
IS í
16
White,Patriarcas e Profetas, 539. mente sugerindo,aconselhando,recomendando que
Idem, O Desejado, 652. tenhamos uma festa dos tabernáculos no sentido de
17
Todavia, Ellen G. White comenta sobre Atos: nos reunirmos para comemorar as muitas bênçãos
“Em Filipos Paulo demorou-se para celebrar a que temos recebido do Senhor. Isto será como um
páscoa. Só Lucas ficou com ele, partindo os demais culto de testemunhos, quando se concede tempo
membros da comitiva para Trôade, a fim de ali o aos membros da igreja para agradecer publicamente
esperarem. Os filipenses eram, dentre os conversos a Deus por sua bondade para com eles. Concluir
do apóstolo, os mais amorosos e sinceros, e durante do que ela diz aqui que devemos observar a festa
os oito dias da festa ele desfrutou pacífica e feliz dos tabernáculos é mal-interpretá-la. A festa dos
comunhão com eles” {Atos dos Apóstolos, 390, tabernáculos era uma festividade de colheita, mas
391). Vários comentários estão em ordem.(1) É na igreja cristã a verdadeira colheita é a colheita de
interessante observar que os companheiros de Paulo almas que ocorrerá no momento da segunda vinda.
não ficaram com ele, mas continuaram em seu luto. Então,comojá foi salientado, a festa será celebrada
Isto podería sugerir que eles não observaram a festa. diante do trono de Deus(Ap 7). A celebração terá
(2) Ellen G. White não diz que os filipenses obser lugar depois e não antes da colheita.
19
varam a festa com Paulo, mas que eles desfrutaram F. F. Bruce, The Acts of the Apostles: The
aqueles dias de comunhão com ele.(3)É importante Greek Te.xt with Introduction and Commentary
observar que o texto não provê nenhuma informa (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1951),455. O jejum
ção concernente à maneira como Paulo observou a mencionado em Atos 13:2-3 não tem nada a ver com
festa fora de Jerusalém. Pouco sabemos no tocante o Dia da Expiação.
20
à celebração da principal festividade judaica pelos Para evidência, ver Troy Martin, “Pagan and
judeus durante a dispersão.(4) O fato de que nem Judeo-Christian Time-Keeping Schemes in GI 4.10
Paulo nem qualquer dos apóstolos regulamentou and Cl 2:16”, New Testament Studies 42 (1996):
a observância cristã dessas festas indica que elas 105-119.
21
não eram uma exigência cristã. Doutro modo, a Ibid., 108. Ele menciona 1 Coríntios 16:2,
instrução teria sido dada. Sendo que a Bíblia silencia onde Paulo se refere ao “primeiro dia da semana”
no que concerne a este assunto, qualquer tentativa e não ao dia do sol. Seria incorreto concluir que
para regulamentar sua observância pelos modernos pelo fato de os cristãos terem aceito o calendário
cristãos seria uma imposição humana destituída judaico eles também aceitavam ou celebravam as
de qualquer apoio bíblico. Talvez seja útil dizer festividades judaicas. Acrescenta Martin: “Em se
uma palavra concernente a Atos 18:21. Diz a King guida à destruição do templo em 70 d.C., o sistema
James Version: “Devo por todos os meios guardar temporaljudaico permanece intacto mesmo quando
esta festa para que entre em Jerusalém.” Traduções os judeus não podem mais oferecer os sacrifícios
mais recentes omitem esta sentença. O motivo é prescritos”(110-111).
Estêvão,Israel
E A Igreja
Wilson Paroschi, Ph.D.
Professor de Novo Testamento no Sait, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP
conversão de Saulo, ou o apóstolo Paulo, pelo uma abertura posterior), ou levar a um fim.
aparecimento pessoal de Cristo a ele na estrada de A prática usual tem sido aplicar este verbo
Damasco, quando ele recebeu sua missão quanto
em um dos primeiros dois significados.
aos gentios, depois que o Sinédrio judaico havia
Shea, porém,afirma que esta interpretação
rejeitado formalmente a Cristo pela perseguição
de seus discípulos.^
só faria sentido se o segundo objeto do
infinitivo (“selar”) fosse “profecia”, o que
Entretanto,durante os cento e cinqüenta não é o caso. Os dois objetos são “visão”
anos posteriores, a simples declaração (hazôn),e “profeta”(nabí), que sugerem a
de que o apedrejamento de Estêvão e, terceira interpretação (“levar a um fim”).
consequentemente, a conversão de Paulo
assinalaram o final das setenta semanas Em sua opinião, esta terceira interpre
em 34 d.C.,foi aceita como fato. Hales, na tação - levar a um fim - é preferida aqui
verdade,não estabeleceu nem uma simples por três razões. Primeira: ocorrendo sem o
conexão exegética entre Estêvão e Daniel artigo,“profeta” podería ter nesta passagem
9:24-27, e aqueles que vieram depois dele um significado coletivo ou corporativo,e a
se limitaram apenas a reproduzir o mesmo idéia de levar a um fim faria perfeito sentido
argumento,aparentemente despreocupados se ela se referisse a profetas como pessoas
em demonstrar por que a morte de Estêvão em vez de a suas palavras. Segunda: o
verbo hatam também ocorre três frases
é suficiente como evidência para o final
desse período profético. A única razão antes neste mesmo verso com a clara idéia
dada era a mesma de sempre, ou seja, que de levar a um fim (“dar fim aos pecados”).
após a sua morte, o evangelho foi levado Terceira,esta interpretação se ajusta melhor
aos gentios.'® ao contexto imediato porque o texto diz
que setenta semanas foram determinadas
Quando, porém,se fala sobre o cum-
sobre o povo de Daniel e sua santa cidade.
primento da profecia, a mera escolha de
Portanto,conclui Shea,“‘visão’e ‘profeta’
um evento específico necessariamente
devem chegar a um fim no tempo em que
não torna a data correta," a despeito se encerra este período profético”, e
de quão importante seja o evento. Sem
qualquer indicação em Daniel 9:24-27 desde que os eventos finais desta profecia parecem
e Atos 6-7 de que Estêvão encerra a se estender meia semana profética ou três anos e
70“ semana, a conclusão de Harold W. meio além da morte do Messias,devemos procurar
uma resposta no Novo Testamento.
Hoehner de que esta interpretação “é pura
especulação” seria correta. Por causa
disto, na década de 1980 William H.Shea Para ele, Estêvão cumpre os requisitos
15
tentou desenvolver este tema a fim de ex para essa resposta.
plicar de uma maneira mais convincente
O propósito deste artigo, porém, não é
as seguintes indagações:
somente mostrar como Shea liga Estêvão
O que foi tão significativo no que concerne ao à profecia, mas também dar um passo
apedrejamento de Estêvão? Por que foi o seu adiante, desenvolvendo alguns dos pontos
martírio mais importante do que o sofrido por desta conexão e explorando o papel de
outros naquele tempo? sempenhado por Estêvão no contexto da
Então, pela primeira vez, as conexões igreja primitiva, o que certamente torna
o seu significado profético ainda mais
exegéticas entre Estêvão e a profecia das
14 forte. Todavia, por causa das limitações
setenta semanas começaram a aparecer.
de espaço, este documento focaliza ape
O ponto de partida de Shea é a expressão nas o próprio Estêvão, seu ministério e
“para selar a visão e o profeta”, uma das o seu significado para o final das setenta
seis frases infinitivas que sintetizam o que semanas. Isto significa que nem os outros
16
ocorrería ao final das setenta semanas(Dn eventos e respectivas datas da profecia
9:24). Segundo ele,o verbo “selar”{hatam) nem a validade escatológica de 34 d.C. em
pode ser compreendido aqui tanto como va si como o ano da morte de Estêvão serão
17
lidar ou autenticar, quanto como fechar(até aqui discutidos.
Estêvào, Israel e a Igreja / 41
- isto é, a eleição dos sete, o julgamento “Este homem não cessa de falar contra
e morte de Estêvão e a perseguição que o lugar santo e contra a lei; porque o
veio depois disso - indicam que as dife temos ouvido dizer que esse Jesus, o
renças teológicas desempenhavam um Nazareno, destruirá este lugar e mudará
papel importante naquela dissensão e que os costumes que Moisés nos deu”(6:13-
a queixa dos helenistas, como diz James 14). Contudo, baseado na referência a
D. G. Dunn,era apenas o sintoma de um “testemunhas falsas” (6:13), P. Double
28
problema mais profundo. afirma que Lucas pretende indicar que
as acusações contra Estêvão não eram
Sua teologia verdadeiras.^-Mas as acusações, de fato,
não podiam ser totalmente falsas. É pos
A solução dos apóstolos para a queixa sível que Estêvão tivesse dito algo que ^ 1
dos helenistas foi escolher sete homens da havia sido torcido por seus opositores,
própria comunidade helenista para assumir “precisamente como as acusações feitas
a responsabilidade de servir os pobres que contra Jesus(Mc 14:58) parecem de fato
havia entre eles.^’Como sugere Hengel, a ter algum fundamento”
escolha pode ter caído sobre aqueles que
já eram os líderes dos cristãos helenistas.^® Segundo aquelas testemunhas, as pa
lavras proferidas por Estêvão sugeriam
Neste caso,sua eleição simplesmente signi
que o próprio Jesus destruiria o templo
ficava o reconhecimento de sua liderança,
e alteraria a tradição mosaica. De fato,
especialmente de Estêvão,o primeiro nome Jesus tinha dito: “Eu destruirei este san
da lista (cf. 6:5).
tuário edificado por mãos humanas e, em
Esta idéia é confirmada pela atividade três dias, construirei outro, não por mãos
que eles desempenharam imediatamente humanas.” O quarto evangelho dá a apli
após sua eleição, o que não se ajusta à cação imediata destas palavras como se
compreensão tradicional de que eles eram referindo à ressurreição corporal de Jesus
apenas diáconos. De fato, eles nunca são (Jo 2:19-21). Estêvão, porém, parece tê-las
identificados como “diáconos” {diako- aplicado,ou parte delas, ao próprio templo
noí) no livro de Atos,^' e o mesmo verbo a fim de ressaltar que ele havia perdido
usado em 6:2 para descrever o que eles o seu significado cultuai. Suas palavras
supostamente deviam fazer (diakonéo) é não habita o Altíssimo em casas feitas
também usado para a pregação da palavra por mãos humanas"(At 7:48) poderiam
pelos doze em 6:4. Também é digno de ser interpretadas não somente como um
nota que quando Lucas deseja distinguir protesto contra a relação idólatra que Isra
Filipe de seu homônimo, o apóstolo, ele el mantinha com o templo,mas também
não o chama de “Filipe, o diácono”, mas como uma declaração do final definitivo
“Filipe, o evangelista”(21:8). Isto ajuda a de todo o sistema cerimonial, porque nun
explicar por que os sete aparecem como ca foi pretendido que o templo se tornasse
pregadores e operadores de maravilhas e uma instituição permanente,^^ exceto em
sinais imediatamente após sua eleição(6:8- sua função doxológica (veja Is 2:1-4). É
10; 8:4-8, 26-40). E sua pregação deve ter notável que a única referência bíblica de
sido poderosa, porque é relatado que não que havia muitas conversões - mesmo
somente “se multiplicava o número dos entre os sacerdotes - apareça no contexto
discípulos” (6:7), mas também que sua da pregação de Estêvão (cf. 6:7).
atividade suscitava uma forte oposição dos
As palavras de Estêvão, porém, podem
judeus (6:9).
ainda ter o que Marshall chama de “im
Mas o que exatamente pregava Es plicação tácita”, ou seja, que Deus habita
têvão? Provavelmente as acusações feitas em um templo não-feito por mãos.^*^ À
contra ele provêem algum indício. Foi luz do livro de Hebreus, tal implicação
acusado de “proferir blasfêmias contra não é uma surpresa. Em Hebreus existe
Moisés e contra Deus” (6:11). Alguns a mesma ênfase de que o templo de Jeru
foram secretamente induzidos a dizer: salém já havia perdido seu significado e
Estêvão, Israel e a Igreja /43
função como um lugar de expiação (Hb palavra.” (8:4; cf. 8:5-8; 11:19-21). Os
8:7, 13; 10:1-2) e, por este motivo, tinha helenistas, portanto.
sido substituído por outro templo, um tomaram-se os verdadeiros fundadores da missão
templo superior, não “feito por mãos” aos gentios,em que a circuncisão e a observância
(9:24; cf. 8:1-2).^’ da lei ritual não eram mais exigidas.^'
Os apóstolos e outros cristãos judeus
Além disso,não é mera coincidência que
de fala aramaica de Jerusalém, como Ju
deus devotos, provavelmente ainda não Paulo,o apóstolo aos gentios,seja introduzi
estavam prontos para seguir a compreen do por Lucas no momento exato da morte de
são dos helenistas quanto a este assunto Estêvão(cf. 7:58). Concorda-se geralmente
específico. Ainda estavam de certa forma que Paulo freqüentava a sinagoga helenista
mencionada em Atos 6:9 e, assim, era um
ligados a alguns dos serviços do templo
e mesmo a alguns aspectos cerimoniais dos opositores de Estêvão."^"Paulo descreve-
se a si mesmo antes da sua conversão como
da lei (cf. At 3:1; 21:17-26; G1 2:11 -14)
Martin Hengel declara que “eles perma “fariseu”(Fp 3:5)e “extremamente zeloso”
da lei mosaica e da tradição dos antepassa
neciam mais profundamente arraigados
em sua tradição religiosa da Palestina, dos (G1 1:14). Como tal, ele dificilmente
que desde o tempo dos Macabeus inevita podería suportar um ataque contra a lei e o
culto do templo,duas das três colunas sobre
velmente consideravam qualquer ataque
”38 as quais,segundo Pirqe Aboth 1:2,o mundo
à Torah e ao templo como sacrilégio.
No entanto, Estêvão, bem como os outros repousa(sendo a última as boas obras).Para
cristãos helenistas, podem ter compreen ele, Estêvão e os outros cristãos helenistas
dido rapidamente que a missão de Cristo tinham se demonstrado apóstatas.Por causa
envolvia a ab-rogação de toda a ordem disto, ele os perseguiu(Fp 3:6). Um pouco
do templo e sua substituição por um mais tarde,porém,ele estava sendo acusado
novo edifício não-feito por mãos. O fato de pregar a mesma teologia que havia ten
de que eles tivessem nascido no exterior, tado destruir(cf Atos 21:21). Este fato tem
vivido mais perto dos gentios e falassern levado Hengel a declarar que os helenistas
outra língua podería tê-los feito mais fle de Jerusalém foram “a ponte real entre Jesus
e Paulo”.'*^
xíveis em sua tradição religiosa do que os 44
hebreus e ao mesmo tempo mais acessíveis Mas além das similaridades teológicas,
ao evangelho e à sua dimensão mundial.^’0 um evento aparentemente sem significado
evangelho significava o fim de todas as leis ajuda a esclarecer a íntima ligação entre
cerimoniais, inclusive os ritos sacrificiais. Paulo e os helenistas. Ao retomar de sua
Esses símbolos externos e visíveis do par- terceira viagem missionária, Paulo chegou
ticularismo judaico não eram compatíveis em Jemsalém e se hospedou com uma pes
com a universalidade da mensagem cristã soa chamada “Mnasom, natural de(Jipye,
de uma salvação já realizada. velho discípulo”(At 21:1 ó)."*^ Sendo Velho
discípulo”, sua conversão provavelmente
Sua influência remontava aos primeiros anos da igreja de
Jemsalém.^ Por ser de Chipre, ele era cer
Finalmente, deve ser notado que tamente um helenista e, portanto, pode ter
somente os cristãos helenistas foram tomado parte nos episódios de Atos 6—8.
dispersos de Jerusalém na perseguição Considerando que vários dos oito compa
contra a igreja após a morte de Estêvão. Os nheiros de Paulo nesta parte da viagem eram
apóstolos foram capazes de permanecer incircuncisos(cf. 20:4),Jon Paulien salienta
ali (cf. At 8:1, 14) como foram os outros que dificilmente um cristão hebreu estaria
cristãos hebreus (cf 11:1, 18, 22).^® Essa preparado para hospedá-los “com alegria”
perseguição, porém, teve uma influência (21:17). Mas como helenista, isto não seria
positiva sobre a atividade missionária um problema para Muasom."*® Seja qual for o
da igreja. “Entrementes, os que foram caso,o fato de que em Cesaréia eles tinham
dispersos iam por toda parte pregando a ficado em casa de Filipe, “que era um dos
44 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
..'k
Estêvão, Israel e a Igreja / 45
relações prévias entre o suzerano e o vassalo; esse discurso podería parecer um estranho, talvez
(3)as estipulações ou obrigações impostas ao até mesmo tedioso,sermão em que ele discorre de
um modo monótono sobre a história de Israel.
vassalo;(4)provisão para depósito no templo
e leitura pública periódica;(5)as testemunhas
da aliança; e(6)as bênçãos e maldições que Mas à luz do uso da fórmula da aliança
viriam ao vassalo como resultado de sua e especialmente o modelo rib no Antigo
obediência ou desobediência.^^ Testamento, o discurso assume um pro
fundo significado. O que Estêvão fez em
Embora Mendenhall declare que “so Atos 7:2-50 foi desenvolver a seção do
mente duas” alianças bíblicas pertencem prólogo da aliança original do mesmo
a este modelo. Êxodo 20-23 e Josué 24,^° modo que os profetas do Antigo Testa
Shea tem demonstrado com sucesso que mento faziam quando apresentavam o rib
Deuteronômio, 1 Samuel 12 e Miquéias divino contra Israel.^^
6 também podem ser organizados de
acordo com essa mesma estrutura.^' E Seu VEREDITO
para ele, o valor dessa identificação está
no fato de que ela mostra que “quando A missão profética cumprida por Estê
os profetas vinham como reformadores vão em seu julgamento também esclarece
para chamar Israel de volta à relação da sua atitude no que concerne às acusações
aliança do Sinai, eles o faziam aplicando lançadas contra ele. Alguns eruditos têm se
referido ao seu discurso em termos de uma
a fórmula da aliança a situações vigentes
em seu tempo. Fazendo isto, afirma defesa ou apologia,^mas ele realmente não
Shea, os profetas às vezes usavam a pa fez nenhum esforço para se defender, em
contraste com o caso de Pedro algum tem
lavra hebraica rfó, cuja melhor tradução
é provavelmente “demanda judicial da po antes (cf. At 4:8-12). Neste sentido, G.
aliança”, para expressar a idéia de Deus A. Kennedy está certo quando afirma que
o discurso de Estêvão está retoricamente
apresentando diante de um tribunal uma
incompleto,^’ porque em vez de refút^ a
ação contra o seu povo por causa de sua
falsidade das acusações,ele de fato consiste
violação da aliança.^^ Em Miquéias 6:1-2,
de uma mensagem de acusação e condena
por exemplo,que se assemelha ao preâm
bulo e aos parágrafos das testemunhas ção. Simon Légasse descreve a atitude de
Estêvão em termos de “uma inversão de
da aliança original, a palavra rib ocorre
três vezes: papéis”, isto é, de acusado ele tomou-se
acusador,^® porque depois de sua longa ex
Ouvi, agora, o que diz o SENHOR; Levanta-te, posição da história de Israel, ele anunciou
defende a tua causa [rib] perante os montes, e o seu veredito:
ouçam os outeiros a tua voz. Ouvi, montes, a
controvérsia [rib] do SENHOR, e vós, duráveis Homens de dura cerviz e incircuncisos de cora
fundamentos da terra, porque o SENHOR tem ção e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito
controvérsia [rib] com o seu povo e com Israel Santo; assim como fizeram vossos pais, também
entrará em juízo. vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não
perseguiram? Eles mataram os que anteriormente
Em seguida (v. 3-5), no prólogo cor anunciaram a vinda do Justo,do qual vós agora vos
tomastes traidores e assassinos,vós que recebestes
respondente, o profeta lembra ao povo
a lei por ministério de anjos e não a guardastes
os poderosos atos de Deus em seu favor
(At 7:51-53).
no passado. As estipulações e violações
são enumeradas nos versos seguintes (v. Essas palavras consistem na culmina
6-12), que culminam com as maldições ção do discurso^’*^ e devem ser compreen
64
(V. 13-16). didas como uma declaração explícita de
Segundo Shea, este antecedente do condenação. Matando o Messias, aquelas
Antigo Testamento é necessário para uma pessoas não somente estavam se identi
melhor avaliação do discurso de Estêvão ficando como filhos de seus “pais”, mas
em Atos 7. Sem esta base em mente, es também completando a grande soma
creve ele, de rebelião e iniqüidade iniciada por
46 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
Estêvão recebeu foi uma espécie de visão onde Deus se levanta a fim dejulgar(cf. Jó
proléptica “da glória da parousiá". Para 19:25; Is 3:13; Dn 12:!).«’Portanto, o que
ele, Jesus estava em pé em preparação Estêvão viu em visão, podería ser Jesus le-
para o seu segundo advento.*^ Marshall vantando-se para pronunciar o seu juízo.
pensa que Jesus estava em pé para receber
O segundo ponto que deve ser notado
o moribundo Estêvão em sua presença. Em
é que a aliança que Deus tinha com Israel
sua opinião, a implicação da visão é a de
não era em si mesma sinônimo de salvação,
que “como Jesus ressurgiu dos mortos,
mas uma provisão pela qual a salvação de
assim serão os seus seguidores”.*^ Uma
Deus podería ser levada ao mundo inteiro
idéia ligeiramente diferente é dada por
(cf. Gn 12:1-3).^° Em outras palavras, a
Bruce, que acredita que Jesus estava em
aliança devería ser compreendida prínci-
pé à direita de Deus como testemunha de
palmente em termos de missão. De sorte
Estêvão, o qual havia confessado Jesus
que declarar que osjudeus não são mais o
diante dos homens, e agora ele via Jesus
confessando-o diante de Deus.*^ povo da aliança não significa que Deus os
tenha rejeitado,como às vezes tem sido su
Mas conquanto a interpretação de Kelly gerido’’(cf. Rm 11:1-10), mas apenas que
dificilmente possa ser aceita por causa de Deus escolheu outro povo para executar o
sua clara fórmula dispensacionalista,*’ a seu plano missionário. Deve ser lembrado
idéia de que Jesus estava em pé parajulgar que a aliança de Deus com Israel foi esta
Israel não pode ser totalmente rejeitada. belecida em uma base corporativa, isto é,
Deve-se notar, primeiro, que todo o con envolvia toda a nação como uma entidade
texto do discurso de Estêvão estabelece teocrática.’-Portanto, falar sobre o final da
realmente o fato de que não era Estêvão aliança com Israel não significa o ímal do
quem estava sendo julgado pelos líderes interesse de Deus nosjudeus como indiví
de Israel, mas Israel estava sendo julgado duos.Por causa disto,o evangelho ainda foi
por Deus por meio do ministério profético pregado a eles até mesmo depois da morte
de Estêvão. Estêvão se dirigiu ao sinédrio de Estêvão (cf At 28:17-28).’^ Mas o pn-
não como um réu, mas como um profeta vilégio de ser “raça eleita, sacerdócio real,
que trazia o rib final de Deus contra aquelas nação santa,povo de propriedade exclusiva
pessoas. Por causa disto, ele terminou o de Deus,a fim de proclamardes as virtudes
seu discurso com uma enérgica declaração daquele que vos chamou das trevas para a
de condenação. Eles tinham falhado em sua maravilhosa luz”(IPe 2:9)não era mais
cumprir a aliança; portanto não eram mais exclusivamente deles.’^0 povo da aliança
o povo da aliança. agora não era mais definido pela lii^ag^
de sangue, mas pela fé em Jesus Cnsto(
E importante notar que algum tempo 3:26-29; cf Rm 11:25-32).’^ Deste modo,
antes, Pedro tinha dito à mesma audiência o ministério de Estêvão,seu discurso e sua
que Jesus fora exaltado por Deus “a Prín visão, parece ser uma explanação apro
cipe e Salvador, a fim de conceder a Israel priada e cumprimento da profecia de que
o arrependimento e a remissão de pecados” “setenta semanas estão determinadas sobre
(At 5:31). Comentando esta passagem, o teu povo e sobre a tua santa cidade (Dn
Krodel declara que por intermédio da pre 9:24). Conclui Shea:
gação apostólica Deus estava oferecendo
Estêvão foi o último profeta verdadeiro a quem
“uma segunda oportunidade a Jerusalém
Deus chamou para aquele ofício de falar articu-
e seus líderes”. Se a oportunidade fosse
ladamente ao povo de sua eleição. Quando seus
aceita, então o arrependimento e o perdão líderes o apedrejaram, eles silenciaram a voz do
seriam recebidos como dom de Deus, me último em uma longa série de seus profetas. Sua
diado pelo mesmo Jesus que eles haviam morte trouxe um fim à função do ofício profético
matado.**Agora, porém, Jesus não parecia em seu favor como um povo. A visão que ele viu
estar mais esperando por seu arrependimen pouco antes de morrer foi a última visão que um
to. Era um tempo de juízo. Além disso, é profeta que ministrava especialmente para eles
digno de nota que há alguns textos na Bíblia deveria ver.*’^
48 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
.11
Estêvão, Israel e a Igreja / 49
Referências
'Este artigo foi originariamente apresentado no I Pacific Press, 1955),257;J. Barton Payne, Thelmmi-
Congresso Internacional da Bíblia,realizado na cida nent Appearíng ofChríst(Grand Rapíds: Eerdmans,
de de Jerusalém (Israel), de 8 a 14 dejunho de 1998, 1962), 149; Charles Boutflower,In and Aroundthe
e publicado no Journal ofthe Adventist Theological Book ofDaniel(Grand Rapids: Zondervan, 1963),
Society,9(1998): 343-361,sob o título “The Profetic 210; Robert M. Gumey, God in Control(Worthing:
Significance of Stephen”. Traduzido do original em H. E.Walter, 1980), 115-119.
inglês por Francisco Alves de Pontes. "Talvez por causa disto Young, 220, declare
- J. Burton Payne, Encyclopedia of Biblical acerca das setenta semanas:“Nenhum evento impor
Prophecy (Grand Rapids: Baker, 1997), 383-389, tante é destacado como assinalando a terminação.” E
ressalta que há basicamente quatro diferentes tipos de Pusey, 193,diz que o final da profecia“provavelmen
interpretação de Dn 9:24-27: a liberal, a tradicional, te” assinala o tempo em que“o evangelho abarcou o
a dispensacionalista e a simbólica. A tradicional, mundo”. Ele então acrescenta:“Não temos os dados
também conhecida como interpretação histórico- cronológicos para estabelecê-lo.”
12
messiânica,é caracterizada por aplicar a esta profecia Harold W. Hoehner, Chronological Aspects
o princípio dia-ano e por sustentar que “toda esta of the Life of Christ (Grand Rapids: Zondervan,
passagem é de natureza messiânica, e o Messias é o 1977), 126.
William H. Shea,“Daniel and the Judgment,”
principal personagem... o grande terminus adquem"
um manuscrito sobre a doutrina do santuário e do
da parte central da profecia, isto é, as 69 semanas
(Edward J. Young, The Prophecy ofDaniel[Grand juízo, Andrews University,Julho de 1980, 366.
Rapids: Eerdmans, 1949], 209). ‘‘‘ A tese de Shea foi finalmente publicada em
^ Para um estudo exaustivo de interpretação “The Prophecy of Daniel 9:24-27”, em Seventy
profética desde os primeiros pais da igreja até os Weeks, Leviticus, Nature of Prophecy, Daniel &
Revelation Committee Series, vol. 3, ed. Frank B.
tempos modernos, veja LeRoy Edwin Froom, The
Prophetic Faith ofOur Fathers,4 vols.(Washington: Holbrook (Washington: Instituto de Pesquisas Bí
Review & Herald, 1948). blicas, 1986), 75-118.
15
●* Veja E. B. Pusey, Daniel the Prophet (New Shea,“The Prophecy of Daniel 9:24-27”, 80;
York: Funk & Wagnalls, 1855), 193. cf “Daniel and Judgment”, 73-75.
Para a mais recente e exaustiva análise da
^[William Hales], The Inspector, orSelect Litera-
ty Intelligence (London: J. White, 1799), 207 (ênfase cronologia das setenta semanas, veja Brempong
Owusu-Antwi, The Chronology ofDaniel 9:24-27,
suprida). Hales identifica-se como o autor desse volu
me em seu Dissertations on the Principal Prophecies Adventist Theological Society Dissertation Series,
(Londres: C. J. G. & F. Rivington, 1808), ix. vol. 2(Berrien Springs: ATS Publications, 1995).
* William Hales, A New Analysis of Chronology A datação da morte de Estêvão é inteiramente
(London: pelo autor, 1809-1812), 564. dependente da datação da conversão de Paulo, e a
’ Sob a influência de James Ussher, cuja obra datação da conversão de Paulo tem sido o objeto de
Annales Veteris Testamenti (Londres: Ex Officina muita discussão entre os eruditos, que têm postulado
J. Flesher, 1650-1654) tinha sido o padrão para a qualquer data de 32 a 36 d.C., incluindo, é claro, 34
cronologia bíblica por quase dois séculos, havia mui d.C., que representa exatamente uma intermediária
e um meio termo entre as outras sugeridas. Para uma
tos eruditos que colocavam a crucifixão no final da
última semana em 33 d.C., talvez porque a morte de recente e completa discussão sobre a cronologia de
Jesus parecia muito mais relevante do que qualquer Paulo, veja Rainer Riesner, Paul s’ Early Period
outra coisa no final da profecia. (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), 3-227.
18
Martin H. Scharlemann, Stephen: A Singular
●'William Hales, A Ne^> Analysis of Chronology
and Geography, HistoryandProphecy, 4 vols., 2“ed. Saint, Analecta Biblica, no. 34 (Roma: Instituto
(Londres: C. J. G. & F. Rivington, 1830), 1:94-95. Bíblico Pontifício, 1968), 1. Veja também Marcei
Mbid., 1:100. Simon, St. Stephen and the Hellenists (Londres:
10
Veja, por exemplo, Carl A. Auberlen, The Pro Longmans, Green and Co., 1958), 1-4.
phecies of Daniel and The Revelations of St. John Veja Günter Wagner,ed.,An Exegetical Biblio-
(Edimburgo:T&T Clark, 1856), 140; J.N. Andrews, graphy ofthe New Testament: Luke and Acts(Macon:
The Sanctuaiy and Twenty-Three Hundred Years, Mercer University, 1985), 397-416.
20
2“ed. (Battle Creek: Steam Press, 1872), 27; Uriah O termo “helenistas” aparece também em
Smith, Daniel and the Revelation (Battle Creek: Atos 9:29 e 11:20 (para o problema textual desta
Review and Herald, 1903), 204-205; Philip Mauro, passagem, veja Bruce M. Metzger, A Textual Com-
The Seventy Weeks and the Great Tribulation (Bos mentaty on the Greek New Testament, 2“ ed. [Stutt-
ton: Scripture Truth Depot, 1923), 112; George M. gart: Sociedade Bíbilca Unida, 1994], 340-342), e,
Price, The Greatest ofthe Prophets (Mountain View: segundo o contexto, em cada uma dessas passagens
50 / PaROUSIA - SEMESTRE DE 2007
30
ela deve se referir a um grupo diferente. Se em 6:1 Hengel, Benveen Jesus and PauU 13.
31
os helenistas são cristãos judeus de fala grega, em No Novo Testamento,os sete não são mencio
9:29 eles são apenasjudeus de fala grega,e em 11:20, nados fora do livro de Atos. Nenhum deles, inclusive
gentios de fala grega de qualquer raça que moravam Estêvão e Filipe, são nomeados pelos pais apostóli
em Antioquia. Para uma análise completa do termo cos. Mesmo quando os últimos comentam sobre o
“helenista”, veja Martin Hengel,Between Jesus and ofício de diáconos, eles citam as epístolas pastorais
Paul(Filadélfia: Fortress, 1983), 1-11. em vez de remontar esta instituição ao tempo dos
21
Para a tese apresentada por Abram Spiro, sete. A primeira referência específica a eles como
“Stephen’s Samaritan Background”, em Johannes diáconos na literatura posterior da igreja parece ser
Munck, The Acts ofthe Apostles, The Anchor Bible do comentário de Irineu de que Estêvão foi tanto o
(New York: Doubleday, 1967), 285-300, de que primeiro diácono quanto o primeiro mártir {Against
Estêvão era samaritano, veja F. F. Bruce, The Book Heresies III, 12, 10; IV, 15, 1).
ofActs,The New International Commentary on the P. Double, “The Son of Man Saying in
New Testament, ed. rev.(Grand Rapids: Eerdmans, Stephen’s Wimessing:Acts 6:8-8:2“,NTS31(1985):
1988), 120. 71-72.
22
33
Simon, que interpreta a palavra “helenista” Harrop, 183. Veja também Marshall, 128;
como helenismo”,declara que os helenistas de Atos Scharlemann, 13.
34
são pessoas que “sob a influência e contaminação Assim Gerhard A. Krodel, Acts, Augsburg
o pensamento grego, se desviaram dos caminhos Commentary on the New Testament (Mineápolis:
da estnta ortodoxia farisaica e, portanto, poderiam Augsburg, 1986), 150-151.
ser rotulados de ‘paganizantes . Ele declara tam- 35
Manson,34.
bem que essa idéia não está totalmente clara no 36
Marshall, 146.
37
contexto simplesmente porque Lucas “não podia, De fato, as semelhanças entre o discurso
ou nao queria, ver que algo mais estava implícito de Estêvão e Hebreus não estão limitadas a este
na palavra”(12-14),
ponto, Manson enumera muitas outras incluindo:
/ '^o^chim Jeremias, a atitude para com os rituais e a lei judaica; o senso
in the Time of Jesus (Filadélfia: Fortress Press,
1975), 62, até do chamado divino para o povo de Deus, o qual é
mesmo sugere que os helenistas chamado para “sair”; as sempre mutáveis cenas da
devem ter vivido juntos em seu próprio distrito ou vida de Israel, e o sempre renovado desabrigo dos
quarteirão em Jerusalém, onde tinham suas sinago-
fiéis; a palavra de Deus como “viva”; a alusão a
gas e hospedarias.
24 Josué em conexão com a promessa do “repouso” de
I. Howard Marshall, The Acts ofthe Apostles, Deus; a idéia dos “anjos” como sendo ordenadores
Ine Tyndale New Testament Commentaries(Grand da lei de Deus; e a direção dos olhos para o Céu e
Rapids: Wm.B. Eerdmans, 1982), 125 128
-*Ibid., 125. para Jesus (36). C. Spicq adiciona alguns outros:
predileção pelos mesmos personagens do Antigo
Cf Jürgen Becker,Paul:Apostle to the Gentiles
Testamento como heróis e santos; condenação da
(Lousville: Westminster/John Knox, 1993),63,454; geração de israelitas no deserto; uso tipológico do
Clayton K. Harrop, “Stephen and Paul”, em’ With
Antigo Testamento; construção do tabemáculo em
8teadfastPurpose, ed. Naymond H. Keatley(Waco: toda a linha de um modelo celestial; e a citação da
Baylor U, 1990), 182; Hengel, 1-29,48-64; Martin
Escritura como “Deus disse” ou “Moisés disse”
SCM,1986),
{L’Épitre aux Hébreux, 2 vols. [Paris: J. Gabalda,
ofPauis Gospel,2“
1952], 1:202-203). William L. Lane declara: O
(Tubingen: J.C.B. Mohr, 1984), 45-50; William
escritor de Hebreus foi um profundo teólogo que
anson, The Epistle to the Hebrews(Londres: Ho-
parece ter recebido sua formação teológica e espi
ader and Stoughton, 1951), 27, 28.
ritual dentro da ala helenística da Igreja”(Hebrews
^ The Antiquities of the Jews 1-8, Word Biblical Commentary [Dallas: Word,
jj ■ '
■ ■ ^®^e as controvérsias durante o tempo de 1991], cxlvii).
38
erodes, veja The Antiquities ofthe Jews 15.8.1-5.
Hengel, Earliest Chnstianity>, 73.
39
A/ Dunn, Unity and Diversity in Cf Dunn, 272.
40
199^16?'^'''”^'''’ 41
Marshall, 151.
Hengel, Between Jesus and Paul, 13. Veja
A conclusão de que os “sete” eram também
também Hengel, Earliest Christianity, 76-80.
42
úelenistas baseia-se na seguinte evidência: o pro- Veja Dennis Gaertner, Acts, 2“ed. (Joplin:
ema estava relacionado às viúvas helenistas(6:1); College Press, 1995), 123.
to os os sete tinham nomes gregos(6:5); a oposição Hengel, Between Jesus and Paul, 29.
44
a Estêvão veio de uma sinagoga helenista (6:9); a J. Christian Beker declara categoricamente
perseguição que se seguiu à morte de Estêvão não que Paulo herdou sua teologia acerca de Jesus dos
afetou os apóstolos (8:14). cristãos helenistas a quem ele havia perseguido {Paul
Estêvão,Israel e a Igreja /51
the Apostle [Filadélfia: Fortress, 1984], 341). Veja arca da aliança está certamente ligada aos costumes de
também Manson,42-44. aliança dos tempos pré-mosaicos” (p. 64).
45
Para o problema textual envolvido nesta “Shea, “The Prophecy of Daniel 9:24-27”, 81.
63
passagem, veja Emst Haenchen, The Acts of the A palavra rib aparece também na ação judi
Apostles: A Commentary (Filadélfia: Westminster, cial da aliança de Oséias (4:1). Malaquias (3:5) e
1971), 607. Ezequiel (5:8) usam uma palavra diferente, mispat,
Bruce, 402. que significa “julgamento”. Para discussão adicional
Munck, 209, sugere que Mnasom pode ter sobre a ação judicial da aliança, veja Herbert B.
estado entre os cipriotas que deixaram Jerusalém Huffmon, “The Covenant Lawsuit in the Prophets”,
após o apedrejamento de Estêvão e pregaram o JBL 78 (1959): 285-295; Julien Harvey, “Le ‘Rib-
evangelho diretamente aos gregos de Antioquia Patem,’ Réquisitoire Prophétique Sur la Rupture
(Atos 11:19-20). de FAlliance”, Bíblica 43 (1962): 172-196; James
Jon Paulien,“Mnason”, ABD {\992),4:882. Limburg, “The Root byr and the Prophetic Lawsuit
J. C. 0’Neill, The Theology ofActs in Its His- Speeches”,y5188 (1969): 291-304; KirstenNielsen,
torical (Londres: SPCK, 1961), 72. Yahweh as Prosecutor andJudge, JSOT Supplement
Bruce, 152. Luke T. Johnson também afirma Series 9 (Sheffield: JSOT, 1978).
64
que porque Estêvão é descrito como “cheio do Shea, “Daniel and the Judgment”, 370-37L
65
Espírito e de sabedoria”(6:3) e porque ele operava Ibid., 371. A solução que muitos eruditos têm
“prodígios e grandes sinais entre o povo”(6:8), ele encontrado para a aparentemente desnecessária ex
era um profeta,“e como os profetas antes dele, ele tensão do discurso é especular que Lucas expandiu
gerou uma reação dividida”(The Acts ofthe Apostles, o discurso original pela combinação de diferentes
Pagina Sacra Series, vol.5[Collegeville: Liturgical, tradições (veja Krodel, 137-140).
66
1992], 112). Assim J. Cantinat, L 'Église de la Pentecôte
Shea,“The Prophecy de Daniel 9:24-27”, 81. (Paris: MAME, 1969), 105; Cecil J. Cadoux, The
”Shea,“Daniel and the Judgment”, 367. Early Church and the World (Edimburgo: T. & T.
”Marshall, 131, declara:“Se a extensão é algu Clark 1955), 109; Delbert Wiens, Stephen s’ Sermon
ma coisa que tem mérito, o discurso de Estêvão é (Ashfield: BIBAL Press, 1995), 11. Embora Wens
uma das mais importantes seções de Atos.” use a palavra “apologia”, porque para ele “esse
●‘'“'Marion L. Soards, The Speeches inActs (Lou- discurso é uma defesa racional de sua causa por um
isville: Westminster/John Knox, 1994), 58. advogado”, ele declara que a expressão “proclama
55
Veja Simon, 39-77; Scharlemann, 22-89; ção profética” seria ainda melhor.
67
Simon Légasse, Stephanos (Paris; Éditions du Cerf, G. A. Kennedy, New TestamentInterpretation
1992), 17-94. (Chapei Hill: U North Carolina P, 1984), 121-122.
68
**Shea, “The Prophecy of Daniel 9:24-27”, 81. Légasse, 23. ,
57
George E. Mendenhall, “Covenants Forms in 0’Não há dúvida de que o aoristo egenesthe
Israelite Tradition”, BA 17 (1954): 50-76. (v. 52) deve ser classificado como culminativo. O
^“^Até aquele tempo, não havia nenhum acordo advérbio nün reforça esta idéia.
70
entre os eruditos concernente à origem do conceito Floyd V. Filson, Pioneers of the Primitive
de aliança no Antigo Testamento. Alguns atribuíam Church (New York: Abingdon, 1940), 75.
isto à obra de Moisés (assim W. O. E. Oesterley e Bruce, 152.
Theodore H. Robinson, Hebrew Religion, Its Origin ^-Marshal, 147. . . .
73
Gerd Lündemann, Early Christianity Accor-
andDevelopment [Londres: SPCK, 1937], 156-159),
enquanto outros achavam que ele tinha sido desen dingto the Traditions inActs (Mineápolis: Fortress,
volvido pelos profetas durante o oitavo e sétimo 1989), 88. ,
^■'Shea, “Daniel and Judgment , 372.
séculos (assim Julius Wellhausen, Pwlegomena to
the History of Israel [Edimburgo: A. & C. Black, Krodel, 151-152.
76
1885], 417). Veja Wiens, 223.
59 77 ‘cristãos” em Atos
Mendenhall enfatiza que a forma de aliança Para o significado do termo
hitita não era tão rígida. Pode ter havido variação 11:26, veja Robert Maddox, The Purpose ofLiike-
na ordem dos elementos bem como no fraseado. Acts (Edimburgo: T&T Clark, 1982), 31.
Haenchen, 292.
Ocasionalmente, um ou outro dos elementos podería 79
estar faltando (58). Veja Scharlemann, 15.
60 80
Ibid., 62. Arthur J. Ferch afirma que o papel do Filho do
61
Veja Shea, “Daniel and the Judgment”, 369-371. homem em Dn 7:9-14 não é de juiz que toma o seu
Em sua formulação, Shea não inclui o quarto item da assento ao lado de Deus. Segundo ele, o que esta
estrutura da aliança hitita, embora Mendenhall pro passagem retrata é uma cena de investidura, em que
vavelmente se referindo a textos como Deuteronômio 0 Filho do homem recebe “o dominio, a glória e o
31:24-29, declare que “a tradição do depósito da lei na reino” (The Son of Man in Daniel Seven, Andrews
52 / PaROUSIA - 1® SEMESTRE DE 2007
University Seminary Doctoral Dissertation Series, {Resurrection, Irn/nortality. and Eternal Life in Jn-
vol. 6[Berrien Springs: Andrews University Press, tertestamentalJudaisrn. HarvardTheological Studies
1979], 148, 172-174, 183). Não há dúvida, porém, 26 [Cambridge: Harvard UP. 1972], 27, cf. 12).
de que no judaísmo posterior, bem como no Novo Gordon E. Christo provê uma interessante análise da
Testamento, o Filho do homem vem para realizar conotação judicial da palavra quin (“levantar-se”),
uma função judicial (veja 1 Enoque 62:2-3; 69:26- que ocorre em Jó 19:25,e então conclui: “Quer para
29; Mt 25:31-46). acusar ou defender-se contra acusação, quer como
81
Herschel H. Hobbs, An Exposition of the testemunha(pró ou contra), ou quer como juiz para
Gospel ofLuke(Grand Rapids: Baker, 1966), 322. pronunciar o veredito,o indivíduo tinha de levantar-
Veja também 1. Howard Marshall, The Gospel of se a fim de falar” (“The Eschatological Judgment
Luke, The New International Greek Testament in Job 19:21-29, An Exegetical Study”, Andrews
Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 1978), University Seminary Ph.D Dissertation [Berrien
850; C. F. Evans, Saint Luke, TPI New Testament Springs: Andrews U, 1992], 129-134).
Commentaries(Londres: CSM, 1990), 837; Norval ^"Willem VanGemeren define a aliança de Deus
Geldenhuis, Commentary on the Gospel ofLuke, com Israel como uma “soberana administração de
The New International Commentary on the New graça e promessa”, pela qual Deus elegeu Israel para
Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1993), 587; si mesmo e conferiu-lhe uma série de privilégios,tais
Darrell L. Bock, Luke, Baker Exegetical Commen como a multiplicação de sua semente, a doação da
tary on the New Testament(Grand Rapids: Baker terra, e sua própria presença em bênção e proteção,
1996), 2:1800).
a fim de habilitá-lo para ser o canal de suas bênçãos
C. H. Dodd, According to the Scriptures para as nações (The Progress ofRedernption [Car-
(Londres: Nisbet, 1952), 35. Veja também Gustaf lisle: Patemoster, 1995], 107, 129).
Dalman, The Words of Jesus (Edimbureo: T&T 91
Veja, por exemplo, Jack T. Sanders, TheJews
Clark, 1909), 311.
83 in Luke-Acts (Filadélfia: Fortress, 1987), 80-83,
William Kelly,An Exposition oftheActs ofthe 297-299,317.
92
Apostles, 3“ed.(Londres: G. Morrish, 1952), 102- VanGemeren, 158-159.
103. John N.Darby declara:“Ele não se assenta,por
’^Para uma análise crítica sobre o ponto de vista
assim dizer, até Israel ter formalmente rejeitado o de Sanders, veja James D. G. Dunn, The Partings of
testemunho, quando o brado de Estêvão chegou aos r the Ways(Londres:SCM Press/Philadelphia: Trinity
seus ouvidos. Ele tomou o seu lugar, assentando-se P. International, 1991), 149-151.
até que seus inimigos sejam postos debaixo de seus
r 94
Veja Gumey, 116-119.
pés, depois da recusa deles de ouvir o testemunho 95
Veja Dunn, 248-251.
do Espírito Santo. Estêvão sendo recebido por Cristo 96
Shea,“Daniel and the Judgment,” 372-373.
97
no Céu,Israel como Israel deve esperar lá fora”{The Em uma interessante passagem, Martinho
Collected Writings,28“ed. William Kelly[Oak Park- Lutero descreve a conversão de Paulo como a
Bible Truth, n.d.], 283).
“vingança” de Estêvão, porque Paulo deixou de ser
H. P. Owen,“Stephen’s Vision in Acts vii 55-
o que era e se tomou o que o próprio Estêvão era
6”, AT5 1 (1954): 224-226.
(Lecture on Psalm One Hundred Eighteen, Luther’s
Marshall,The Acts ofthe Apostles, 149.
Works, Ed. Amer [Saint Louis: Concordia, 1955-
*‘’Bmce, 156.
1976], 11:412).
*^Para uma recente discussão do dispensaciona- 98
G- B. Caird, The Apostolic Age (Londres:
lismo, veja Keith A. Mathison, Dispensationalisrn:
Gerald Duckworth, 1955), 86.
99
Rightly Dividing the People ofGod?(Phillipsburg: Norman J. Bull, The Rise ofthe Church (Lon
P&R, 1995). Veja também Hans K. LaRondelle, dres: Heinemann, 1967), 49-50.
100
The Israel of God in Prophecy (Berrien Springs: Filson descreve o movimento liderado por
Andrews UP, 1983).
Estêvão como “quase uma revolução” na igreja cristã
««Krodel, 128.
89
primitiva (52).
George W. E. Nickeisburg identifica Daniel lOI
Sou grato ao Dr. Richard M. Davidson por
12:1-3 como uma “descrição de uma cena de ju sua bondade em ler este documento, e por algumas
ízo.” E para ele, um dos elementos constitutivos sugestões proveitosas, embora a responsabilidade
desta cena é exatamente a posição em pé de Miguel pelas conclusões a que chegamos seja do autor.
1
E O NOVO Israel
Amin a. Rodor,Th.D.
Professor de Teologia Sistemática e diretor do Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP
passará esta geração, sem que todas estas de, desconsiderando-se tanto o significado
44
coisas aconteçam, Esta geração'\ na como a idade dos textos bíblicos utilizados.
interpretação de Lindsay referia-se à futura Tal método de interpretação termina dando
“geração que veria os sinais — o principal valor supersticioso a números e símbolos
deles o renascimento de Israer’’\ E arra- bíblicos,além de relacionar arbitrariamente
zoa;“Uma vez que uma geração na Bíblia textos sem qualquer correlação.
é um período em tomo de quarenta anos’”'*,
a questão se resolve com uma simples ope Deixados para trás
ração aritmética. Em 1970 Lindsay predisse
que “dentro de 40 anos, a partir de 1948, É comum dizer-se que a cada quinze
todas estas coisas poderíam acontecer”'^. anos, as pessoas, em geral, se esquecem
do que aconteceu nos últimos quinze
Dito de outra maneira, no esquema anos. Tal compreensão popular parece
profético de Lindsay, “dentro de 40 anos” ser verdade com a reedição mais recente
da última geração, a qual teve início em do dispensacionalismo. Tendo esquecido
1948, isto é, em 1988 (1948 + 40), todas completamente o fiasco de Lindsay, novos
as profecias apontando para o retomo de proponentes da teoria dispensacionalista,
Cristo deveríam se cumprir. Em seu livro lançaram-se às novas especulações escato-
The 1980s: Countdown to Armageddon, lógicas, na série dos livros Left Behind, de
traduzido para o português com o título Os autoria de Tim LaHaye e Jerry. B.Jenkins.
Anos 80: Contagem Regressiva para o Ju Como resultado do sucesso do primeiro
ízo Final, Lindsay afirma: “Muitos ficarão livro,Left Behind, considerado um dos dez
chocados com o que acontecerá no futuro best-sellers do século 20, os autores deci
muito próximo. A década de 1980 poderá diram expandir o projeto numa seqüência
ser a última década da história como nós a de 12 livros e mais um filme. Surpreen
conhecemos”'^. Com base em seus cálculos dentemente, estes livros foram também
e em textos bíblicos lidos de forma tmncada elevados à categoria de best-sellers nas
e conveniente aos seus propósitos, Lindsay listas do New York Times, The Wall Street
“profetizou” não apenas o retorno visível Journal Q USA Today, e considerados ..
de Jesus para o ano de 1988, mas uma série a mais bem sucedida série de ficção cnsta
de outros eventos’’que deveríam acontecer de todos os tempos”’’.
a partir de 1981, ano do retorno invisível
Os livros da série Left Behind, bem
de Cristo: o arrebatamento da igreja, a
como o filme, pressupõem um cenário
tribulação e o início da restauração de Is
escatológico particular, no qual um grupo
rael. Assim, Lindsay atribuía considerável
de eventos tomará lugar. Tal cenáno, com
importância aos sete anos entre 1981 e
1988, nos quais, como resultado de uma alguma variação, é amplamente aceito e
crido por evangélicos fundamentalistas.
equivocada interpretação de Ezequiel 38 e
39,ocorrería a invasão de Israel pela Rússia 1. Em algum ponto,no futuro próximo,
e seus aliados.'* acontecerá o arrebatamento secreto, no
A década de 80 passou e o calendário qual Jesus virá de maneira invisível para
reunir todos os verdadeiros crentes. Osfiéis
profético de Lindsay não se cumpriu. De-
mortos ressuscitarão e,juntamente com os
ploravelmente, parece ser verdade que a
outros, serão arrebatados para o Céu.
única lição da história é que as pessoas não
aprendem as lições da história. O período 2. Durante sete anos, haverá na terra
subseqüente verificou uma tentativa de se um período de tribulação, iniciado por um
reconstmir as fracassadas teorias de Lind ataque da Rússia contra Israel.
say. Mudaram-se os nomes, os cálculos e
3. Durante a tribulação, uma série de
as datas, mas o engano básico pennanece
inalterado: leitura especulativa das Escri julgamentos espetaculares tomam lugar.
turas, que ignora o contexto histórico das Estes são descritos, segundo seus propo
profecias,sua dimensão de condicionalida- nentes, no livro do Apocalipse.
56 / PaROUSIA - r SEMESTRE DE 2007
ensinando que haverão dois distintos ad são apenas representantes? A questão fun
ventos de Jesus-um secreto,como descrito damental, como sugerido anteriormente,
por estes interpretes em suas produções, e tem que ver com o método hermenêutico
outro visível, que será testemunhado por ffeqüentemente utilizado.^'* As Escrituras
todos. Finalmente, na seqüência de even sofrem uma descaracterização radical, e a
tos observada em Left Behind, o estudante seriedade de sua mensagem é subvertida
das Escrituras pode perceber um eco da e mesmo exposta ao ridículo, quando o
linguagem bíblica, mas as aplicações da texto sagrado é lido sem clara compreensão
hermenêutica literalista do dispensaciona- de corretos e consistentes princípios de
lismo são completamente estranhas à Bíblia interpretação. Evidentemente, isto não se
e distorcem o claro significado contextual aplica apenas aos dispensacionalistas, mas
delas.-' Dito de forma simples, embora o a qualquer interpretação que, de maneira
pacote, o exterior, ou a linguagem, possa anacrônica, atribui um status ao povo ju
parecer bíblica, o conteúdo nada tem a deu dentro da era cristã que eles não mais
ver com a mensagem das Escrituras. Nas possuem como entidade étnica. Tais inter
palavras de C. N. Norman Kraus: pretações,como enfatizado anteriormente,
incoerentemente agem como se Cristo não
A interpretação dispensacionalista é construí
tivesse vindo"^ e como se o Novo Testamen
da sob um conceito inadequado quanto à natureza 26
da linguagem e do seu uso. Buscando manter a
to não houvesse sido escrito.
qualidade sobrenatural da narrativa bíblica, ele
[o dispensacionalismo] assume que a linguagem CONDICIONALIDADE PROFÉTICA
bíblica é como a linguagem dos livros de textos
da ciência; isto é, seus termos têm um significado Quando estudantes da Bíblia descon
fixo, do começo ao fim.-- sideram o princípio de condicionalidade
profética, eles abrem uma enorme porta
Voltando a atenção para o papel que os para toda sorte de distorções. A profecia
judeus ocupam nestes esquemas,distingue- condicional é um princípio de interpreta
se claramente que Israel é o elemento-cha- ção bíblica, que se aplica às declarações
ve. que domina a teologia de Left Behind. de natureza predictivas que envolvem a
A cadeia de eventos que leva ao final re escolha humana. Tal princípio é ilusfrado
tomo de Cristo, depende da existência da de forma representativa em Deuteronomio
terra santa, que estará sob um catastrófico 28:“E será que se ouvires a voz do Senhor
assalto do anticristo. Não é de admirar que teu Deus...”(v. 1), e a narrativa passa des
o bom-again loby americano é obcecado crever os resultados da obediência. Por
com a defesa de Israel, erguendo-se contra outro lado, “... se não deres ouvido a voz
qualquer plano de paz no oriente, contanto do Senhor...” (v. 15), as conseqüências
que este sionismo cristão floresça, estabe seriam modificadas, tomando rumo dia-
lecendo Israel como “o povo escolhido de metralmente oposto. O mesmo princípio e
Deus”, num jogo de poder para forçar o encontrado claramente no livro de Jonas,
cumprimento das profecias quanto a Israel, resumido em 3:10: “E Deus viu as obras
como eles as entendem. Nesta compreensão deles, como se converteram do seu mau
literalista e futurista da Bíblia,o destino do caminho,e Deus se arrependeu do mal que
povo judeu é retornar à terra dos seus pais, tinha dito lhes faria,e não o fez.” Os exem
e reclamar a herança prometida a Abraão e plos se multiplicam e são bem conhecidos.
23
aos seus descendentes para sempre. Dito de outra maneira,como resumido por
Ellen G. White, tal princípio reconhece
Princípios equivocados que “as promessas e ameaças de Deus são
DE INTERPRETAÇÃO igualmente condicionais”-^
Onde localizar o erro de tomar o esta Aqueles que atribuem significado bí
belecimento do moderno estado de Israel o blico à restauração do moderno estado de
ponto de partida para engenhosos esquemas Israel,e esperam um futuro glorioso para os
proféticos, dos quais Lindsay e LaHaye judeus dentro do plano divino,ignoram pre-
58 / PaROUSIA - 1® SEMESTRE DE 2007
cisamente este aspecto crucial.A história do tual e missionária,Israel falhou durante esta
povo de Israel é, provavelmente, a melhor segunda oportunidade. Nos dias de Jesus,
ilustração do princípio de condicionalidade a apostasia dos judeus havia chegado ao
profética. Colocado na encruzilhada do seu clímax. O Israel étnico,em arrogância
mundo antigo, e “adornado com cada pro e complexo de superioridade, passara a
vidência para que se tomasse a maior nação reclamar as promessas do concerto com
da terra”,-* Israel tinha uma extraordinária base em seu relacionamento de sangue
vocação como depositário dos oráculos di com Abraão.
vinos(Am 3:7; Rin 3:1,2), e representante
Note-se que, segundo Jesus, o fracasso
dos desígnios eternos(Dt 7:6). Mas o fato
de Deus estar do lado de Israel, não colocou básico dosjudeus, antes mesmo de rejeitá-
lo como o Messias enviado, foi a rejeição
Israel automaticamente do lado de Deus,e
a história do povo escolhido constitui um da revelação dada por meio de Moisés,em
quem eles diziam confiar. “Não penseis
capítulo escuro de incredulidade, idolatria
que sou eu quem vos acusa diante do
e deslealdade concertual. Ezequiel 20:1-17
oferece um vivido sumário de sua consis- Pai. Quem vos acusa é Moisés; em quem
tente obstinação. vós confiais, porque se vós crésseis em
Moisés, crerieis em mim”(Jo 5:45, 46).
O Antigo Testamento registra a de Os judeus não passaram no teste básico:
plorável história de como a vinha que aderência e compromisso com a verdade
fora trazida cuidadosamente do Egito (SI conhecida. Jesus deixa claro que o pro
80:8)e cercada de todos os cuidados para blema dos judeus era incredulidade de
produzir frutos abundantes(Is 5:1-5), pro caráter crônico e sistemático. A rejeição
duziu apenas uvas bravas e imprestáveis dele (Jo 1:11), foi uma conseqüência
(Jr 2:31), frustrando assim os planos de natural de um estado de obstinação e
Yahweh. Posteriormente, mesmo quando cegueira irrecuperáveis. Com palavras
a nação judaica passou pelas amargas de profundo lamento, Jesus pronuncia
conseqüências de sua obstinação, durante sobre o povo escolhido julgamento ir
o cativeiro babilônico, o Senhor miseri revogável: “Jerusalém, Jerusalém que
cordiosamente prometeu restaurar o seu matas os profetas, e apedrejas os que
povo. Os capítulos 40-66 de Isaías cons te são enviados! Quantas vezes quis eu
tituem a comovente narrativa da intenção ajuntar os teus filhos... e tu não quiseste..
divina. De fato, as promessas feitas a Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta”
Abraão e expandidas no período posterior, (Mt 23:37-38).
deveríam “ter encontrado cumprimento,
em grande medida, durante os séculos O Novo Testamento não conhece ne
seguintes ao retorno dos israelitas das nhum plano subsidiário em favor da nação
terras do seu cativeiro... Ao final dos anos judaica. Gálatas 3:28 insiste que “não há
de humilhante exílio. Deus graciosamente maisjudeu nem grego... porque todos vós
deu a seu povo, Israel, por intermédio de sois um em Cristo Jesus”. Os que são de
Cristo,tomam-se os verdadeiros filhos de
Zacarias esta certeza: “Voltarei para Sião,
e habitarei no meio de Jerusalém; e Jeru Abraão e herdeiros conforme a promessa
salém chamar-se-á a cidade da verdade e (Gl. 3:29). As palavras de Efésios 2:11-22
o monte do Senhor dos exércitos, monte esclarecem que aos olhos de Deus não há
da santidade.”^’ mais judeus e gentios, mas por meio de
Cristo ambos se tornaram um na igreja
Contudo, “essas promessas estavam cristã, a qual é fundada sobre ambos, os
condicionadas à obediência. Os pecados apóstolos do Novo Testamento e os pro
que haviam caracterizado os israelitas fetas do Antigo Testamento. Finalmente,
anteriormente ao cativeiro não deviam ser Romanos 9 a 11,capítulos freqüentemente
repetidos”^®. Mas isto é precisamente o que utilizados para defender a noção de uma
aconteceu. Em lugar de humilde submissão teocracia judaica restaurada na Palestina,
para o cumprimento de sua vocação espiri¬ insistem, ao contrário, que os legítimos
Israel e o novo Israel /59
“Cristo, o último intérprete das pro aspecto territorial das promessas feitas ao
fecias de Israel”'*®, é a verdadeira norma antigo Israel. A terra palestina não apare
para a elucidação das Escrituras Hebrai ce dentro do horizonte paulino e, assim,
cas; em Cristo nos confrontamos com o personalizando a promessa “em Cristo”,
fim da teocracia dos Judeus. Já o livro o apóstolo a universaliza.'*- Em suma, o
de Deuteronômio profetizara o resultado cumprimento cristocêntrico das promessas
final da desobediência da nação escolhida: do Antigo Testamento, estabelece a igreja
“Se te esqueceres do Senhor teu Deus e cristã como a verdadeira herdeira de tais
andares após outros deuses, servindo-os e promessas.”*^ Curiosamente, em nenhum
adorando-os, protesto hoje contra vós que lugar o Novo Testamento promete a terra
certamente perecereis. Como as nações que da Palestina ao novo Israel, a igreja. Os
o Senhor destruiu de diante de vós, assim santos, reunidos na “universal assembléia
perecereis, pois não quisestes obedecer a e igreja dos primogênitos,” se achegam à
voz do Senhor vosso Deus”(Dt 8:19-20). “cidade do Deus vivo, à Jerusalém celes
O último ato de rebelião de Israel, mani¬ tial”(Hb 12:22,23).
festo na rejeição do Messias, realiza as
palavras desta profecia, na pessoa do Seria, portanto, não apenas anacrônico,
mas também um contra-senso e uma des
próprio Cristo: “Jerusalém, Jerusalém!
consideração absurda de Cristo, se os cris
Que matas os profetas e apedrejas os
que te são enviados! Quantas vezes tãos dessem a última palavra da revelação
quis eu ajuntar os teus filhos...e tu não ao Antigo Testamento, negando, assim, o
quiseste! Agora a vossa casa vosficará conceito de revelação progressiva e descar
desertar(Mt 23:37). A transferência de tando a única chave explanatória pela qual
Israel para a igreja,é irremediavelmente o Antigo Testamento pode ser elucidado.
efetuada,como atestada na solene decla Tal anacronismo deixaria de fora os novos
ração: “Portanto, vos digo que o remo elementos que foram introduzidos na his
de Deus vos será tirado e será entregue tória da salvação pela encarnação de Jesus
Cristo. LaRondelle corretamente indica
a um povo que produza os respectivos
frutos” (Mt 21:43). A partir de então, que para os cristãos, no Novo Testamento,
Israel tomou-se uma nação sem qualquer Cristo é o intérprete definitivo do Antigo
significado profético. Testamento,e Ele atribuiu às Escrituras He
braicas uma interpretação não centralizada
Devemos notar que Cristo, e não o an nos judeus, mas nele mesmo.
44
i
Israel e o novo Israel /63
COS que,se considerados seriamente,cons responde com veemência, “de modo nu-
tituem obstáculos intransponíveis para toda nhum”.O plano divino se cumprirá,contudo,
compreensão interpretativa que queira ou não no tempo previsto pelo dispensacionalis-
busque atribuir ao Israel moderno qualquer mo,após o arrebatamento da igreja,ou tendo
vantagem baseada em mera raça ou herança o Israel físico,instalado na Palestina,como o
natural. Primeiro: as promessas do Antigo beneficiário das promessas de Deus. Então,
Testamento são condicionais. Uma vez que a questão da “salvação de todo Israel”(Rm
o relacionamento conceituai com Deus era 11:26), se toma uma questão de “tempo-
um pré-requisito para que a nação escolhida quando?” e da “maneira-como?” A questão
se tomasse o verdadeiro Israel e recebesse a concernente ao tempo em que “todo Israel
realização das promessas,a nação israelita será salvo”,tem que ver com uma dimensão
do Antigo Testamento desqualificou-se a si escatológica,naparomia,o retomo do Senhor
mesma como beneficiária das promessas Jesus Cristo. Com relação à“maneira-como”,
divinas. Segundo: uma vez que a escolha o cumprimento do plano divino se dará com
de Israel, como demonstrado, foi baseada outro beneficiário, a saber, a igreja, o novo
exclusivamente na liberdade divina, fica e verdadeiro Israel, que compreende todos
assegurado que Deus é também livre para aqueles que aceitam Jesus Cristo,querjudeu
rejeitar aqueles que, embora tivessem ou gentio. Assim,o fiacasso do Israel literal
potencial para o futuro, frustraram tal pos não fiiistra os eternos desígnios de Yahweh.
sibilidade, a partir do que Israel tomou-se Por meio de Cristo, todas as provisões fo
uma nação sem qualquer futuro profético. ram feitas para o seu mais amplo, pleno e
Concluir o contrário, baseado em elitismo glorioso cumprimento, quando o povo do
ou em saudosismo do exlusivo status ocu Messias será introduzido, no seu retomo,na
verdadeira Canaã, que é de cima e na nova
pado por Israel na história redentiva, não é
Jemsalém, a cidade que tem fundamentos.
apenas tentar voltar o relógio da profecia,
mas incorrer na idéia absurda de que o Deste ponto de vista, a “salvação de Israel”,
homem, afinal, tem a última palavra. nos últimos dias, no tempo da parousia, é
um acontecimento estritamente miraculoso,
Significaria isto, como formulado na por meio da iniciativa estritamente divina,
pergunta de Paulo, que “rejeitou Deus o seu totalmente independente de Israel e/ou do
povo?”(Rm 11:1). Como o próprio apóstolo resto da humanidade.
Referências
'O dispensacionalismo, como sistema de inter Fortress, 1996), x; Craig A. Blaising, “The fiiture
pretação bíblica, infiltrou-se em praticamente todos os Israel as a Theological Question”, Journal of
os ramos do protestantismo moderno, chegando a the Evangelical Theological Society, 44:3 (2001),
exercer “considerável influência dentro dos círculos 443-450.
conservadores”(Millard J. Erickson, Contemporaty ’Timothy P. Weber, “How Evangelicals Beca-
Opstions in Eschatology[Grand Rapids, MI: Baker, me IsraePs Best Friend”, Chrístianity Today (5 de
1985], 162). No entanto,contrariando a noção manti Outubro, 1998), 39-49. Para Weber, “os íntimos
da por dispensacionalistas em geral, nenhum dos pais laços entre evangélicos e Israel são importantes: isto
a igreja, reformadores, puritanos, ou representantes tem moldado a opinião popular na América, e, em
das principais denominações cristãs, antes do final certa extensão, a política americana internacional”
do século 19, pode ser encontrado dando apoio a tais (ibid., p. 39). Weber oferece também o exemplo do
ensinos. Em geral,os dispensacionalistas citam como primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu,
representativas destas tradições cristãs, passagens falando na The Foices Unitedfor Israel Conference
isoladas que não representam o pensamento central em Washington, DC,em abril de 1998. Mais de três
delas. Veja Wolfhart Pannenberg,Systematic Theolo- mil na audiência eram evangélicos dispensaciona-
gy(Grand Rapids, Ml: Eerdmans, 1993), 3:471. listas. De acordo com Weber, Netanyahu declarou:
“ Veja, por exemplo, R. Kendall Soulen, The “Nós não temos maiores amigos e aliados do que
God ofIsrael and Chistian Theology>(Minneapolis: as pessoas assentadas nesta sala” (ibidem). Veja o
64 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
artigo de Vanderlei Domeles, “O novo ‘Israel’: a Esta teoria de dois adventos de Cristo recua
construção da ideologia do messianismo americano às idéias de Darby. Rompendo com todo o ensino
e a legitimação do poder imperial”, neste número histórico da igreja cristã, Darby afirmou que o se
de Parousia. gundo advento de Cristo não ocorreria em um, mas
* Toda a carta aos Hebreus é uma exposição em dois estágios. Primeiro, um retomo invisível, para
desta dramática mudança que ocorreu na vida re o “arrebatamento secreto” dos verdadeiros crentes,
ligiosa e nacional de Israel. Os cristãos primitivos quando terminaria o grande “parentesis” ou a “era da
claramente entenderam que Jesus, o Messias, veio igreja,” que se iniciou quando os judeus rejeitaram
para estabelecer uma ordem de coisas radicalmente a Cristo. Para legitimizar a noção do arrebatamento
nova, na qual o relacionamento com Deus nada e de dois adventos, Darby dividiu as Escrituras em
mais tinha a ver com o nacionalismo judaico. Para dois grupos de passagens, um gmpo relacionado
os dispensacionalistas, contudo. Deus tem dois pro Israel, e outro gmpo de passagens se aplicando à
gramas separados, um para o Israel natural e outro igreja. Em tempos recentes, na tentativa de fugir do
para a igreja.“Dois Povos de Deus” distintos um do problema de um terceiro advento,dispensacionalistas
outro.Para C.Ryrie,a distinção entre Israel e a igreja argumentam que o arrebatamento e o advento final
é considerada a “primeira essência” do dispensacio- de Jesus são simplesmente duas fases de um único
nalismo. Charles C.Ryrie,Dispensationalism Today advento. Mas isto não passa de mera racionalização.
(Chicago,111: Moody Press, 1973),50. Louis DeCaro Se Jesus veio para morrer por nossos pecados e
corretamente observa que “Sem esta dicotomia voltou ao Céu, devendo vir novamente em segredo
básica em sua hermenêutica, o dispensacionalismo para o arrebatamento dos seus seguidores, voltar ao
não podería permanecer como um sistema distinto Céu,para,anos mais tarde, retomar outra vez à Terra,
de interpretação bíblica. Todo o sistema revolve ao
agora de maneira visível, para exterminar o anticristo
redor da alegada divisão que existe entre Israel e a - então temos três vindas, e não duas.
13
igreja”(Louis DeCaro, Israel Today: Fulfilment of Ibidem. Em seu comentário sobre o filme de
Prophecy?[Philadelphia: Presbyterían and Reformed Lindsay,“The Late Great Planet Earth”, Gary Wil-
Publishing Co., 1974], 26).
bum observa que a pressuposição fundamental do
® O dispensacionalismo, como um sistema reli filme é “que o mundo deve terminar dentro de uma
gioso,teve sua origem nos anos 1830,na Inglaterra, geração a partir do nascimento do Estado de Israel.
quando John Nelson Darby (1800-1882) desenvol Qualquer opinião acerca dos negócios do mundo que
veu a idéia de várias dispensações, nas quais Deus não se ajuste dentro desta profecia, está descartada”
testou o homem ao longo da história humana. A
(Gary Wilbum,“The Dopomsday Chie”, Christianity
este sistema uniu-se a noção do “arrebatamento”, Today, 22[28 de Janeiro, 1978]:22).
originado com Margaret MacDonald,na Escócia. O 14
Lindsay, ibid., 54.
dispensacionalismo e a noção do “arrebatamento” 15
Ibid.
tomaram-se intimamente conectados num sistema 16
Ibid.
inovador e errôneo,desconhecido na história do cris 17
Lindsay, The I980s Countdown to Armage-
tianismo. As doutrinas do dispensacionalismo foram
ddon(New York, NY: Thomas Nelson 1980), 1.
18
sistematizadas por Cyrus I. Scofield (1843-1921), Veja a referência 12.
na sua Scofield Reference Sacred Scripture(Oxford 19
Veja Steve Wohlberg, The Left Behind De-
University Press, 1909). Tal obra produziu uma
ception (Chicago, 111; The Remnant Publications,
compreensão das Escrituras totalmente oposta ao 2001), V.
método histórico de interpretação bíblica. De acordo 20
Wohlberg, vii. Publicações evangélicas nunca
com Charles C. Ryrie, como observado acima, a haviam visto tal fenômeno desde The Late Great
“essência do dispensacionalismo... é a distinção entre
Planet Earth, de Lindsay, na década de 1970.
Israel e a igreja” (Dispensationalism Today, 44). É 21
O literalismo artificial do dispensacionalismo
precisamente esta descontinuidade criada entre Israel é reconhecido mesmo por John MacArhtur, um dis-
e a igreja que toma possível ao dispensacionalismo pensacionalista moderado: “Existe uma tendência
manter sua estrutura de idéias.
entre os dispensacionalitas de exagerarem a com-
* Leon J. Wood, The Bible and Future Events
partimentalização ao ponto de fazerem distinções
(Grand Rapids, MI: Baker, 1973), 18.
não-bíblicas. Um desejo quase obsessivo de cate
^ Samuele Bacchiocchi, HalLindsay s Prophetic
gorizar tudo em detalhes que tem levado intérpretes
Jigsaw Puzzle(Bernen Springs, WI: Biblical Pers dispensacionalistas a traçar uma linha não apenas
pectives, 1985), 23. entre a igreja e Israel, mas entre a salvação e o disci-
* Hal Lindsay,A Study Manual to the Late Great pulado, entre a igreja e o reino, a pregação de Cristo
Planet Eart(Grand Rapids: MI, Baker, 1971), 18 ea
mensagem apostólica, a fé e o arrependimento,
Ibid., 53 a era da lei e a era da graça.” John MacArthur Jr.,
Ibidem.
The Gospel Aceording to Jesus(Grand Rapids, MI:
" Ibid., 54 Zondervan, 1988), 25.
l
Israel e o novo Israel /65
31
-- C. Norman Kraus, Dispensationalism in Anders Nygreen, Commentary on Romans
America: Its Rise and Development(Richmond, V (Philadelphia, PS: Fortress, 1980),362.
32
A: John Knox, 1958). 132. Alister E. McGrath, Christian Theology: An
55 Veja,Amin A. Rodor,**A Natureza do Concerto Introdiiction (Melden: Blackwell, 1998),461-462
33
Abraâmico: uma análise da interpretação dispensa- Siipersessionismo é designação comum usada
cionalista”,Parousia(Ano 3, n" 1,segundo semestre na literatura erudita recente para identificar esta po
de 2004),5-26. Veja também Alberto R.Timm,“Uma sição. Comentando sobre o termo, Clark M. Willia-
análise crítica da escatologia dispensacionalista de mson escreve:“Supersessionism,é derivado de duas
Hal Lindsay” (dissertação de mestrado. Seminário palavras do latim,super e sedere,como quando uma
Adventista Latino-Americano de Teologia, Instituto pessoa se assenta na cadeira de outra, substituindo-
Adventista de Ensino, 1988). o”. Clark M. Willamson, A Guest in the House of
2A
O sistema hermenêutico do dispensacionalismo Israel: Pos-Holocaust Church Theology (Loncon:
tem sido objeto de sérias criticas, por sua artificialida Westminster/John Knox, 1993), 268.
34
de, inconsistências, literalismo e desconsideração dos H. Wayne House, no capítulo “The Church s
princípios Sola Scriptnra e Tota Scriptnra, além de Appropriation of IsraePs Blessings”, em Israel, the
outros. Veja, por exemplo, Norman Gulley, Christ is Land and the People:An EvangelicalAffirmation of
Cow//7g(Hagerstown, MA:Review and Herald, 1998), Gods Promises, ed. H. Wayne House(Grand Rapi-
a
71 -91. Na página 80,Gulley oferece uma lista de obras ds. Ml: Kregel, 1998), 77. Peter Ochs sugere que
significativas que têm,direta ou indiretamente,criticado ênfase recente na “replacement theology” se deve a
a hermenêutica dispensacionalista. Veja,especialmente, eventos tais como o holocausto e o estabelecimento
Hans K. LaRondelle, The Israel ofGod in Pmphecy\- do moderno estado de Israel (Peter Ochs,“Judaism
Principies ofPmpheticInierpietation(Berrien Springs, and Christian Theology”, em The Modern Theolo-
MI: Andrews University Press, 1983). gians, ed. David F. Ford [Malden, MA: Blackwell,
55 Assim,onde as sementes de Abraão(osjudeus) 1997],607). É de se perguntar,contudo,se tal ênfase
falharam, a Semente de Abraão par excellance. não se trata de uma tentativa de se contrabalançar
Cristo, foi vitorioso (Gl. 12:3). Em Cristo a história a divulgação do dispensacionalismo com sua in-
de Abraão foi recapitulada. De fato, Ele é o novo sistência no oposco. Veja, ainda, Scott Christopher
Israel. Assim, embora a natureza cósmica das pro Bader-Sayer,“Aristorie or Abraham? Church,Israel
messas e missão dadas a Abraão tenham alcançado and the Politics of Election” (Ph.D. Dissertanon.,
cumprimento apenas parcial no Antigo Testamento, Duke University, 1997).
fiel à realidade tipo/antítipo,o elemento inteiramente Walter C. Kaiser Jr., “An Assessment ot Ke-
original no Novo Testamento é o cumprimento or placement Theology’: The Relationship between
meio de Cristo do que foi dito acerca do antigo Israel. Israel of the Abrahamic-Davidic Covenant and the
Ele é a cabeça do novo corpo, a igreja (Cl 1:18; Ef Christian Church”, Mishkanll (1994):9.
3:6),ondejudeus e gentios integram o novo “Israel de 56Ronald E. Diprose,Israel in the Development
Deus”(Gl 6:16). Como Gulley observa,“a dimensão ofthe Christian Thougth (Roma: Instituto Bíblico
celestial é a surpreendente herança não revelada no Evangélico Italiano, 1999), 2.
37
Para uma considerável lista de tais autores, veja
Antigo Testamento. Igualmente surpreendente é o
fato de que tal herança não é apenas futura, mas Norman Gulley, Christ is Corning, 80.
38
já presente em Cristo” (Christ is Corning, 78). Em Veja esta ênfase em Paul Herman Riderbos,
Cristo já nos assentamos nos lugares celestiais(Ef Outline ofhis Theology (Grand Rapids, MI: Eerd-
2:6), e, assim, muito além da limitada interpretação mans, 1975), 333-34. , -
5’ Hans K. LaRondelle, The Israel of God in
literalista do dispensacionalismo,o foco na Palestina
e na velha capital dosjudeus se transpõe para um ní Prophecy: Principies of Prophetic Interpretation
vel infinitamente mais amplo e superior. Deus afirma (Berrien Springs, MI: Andrews University Press,
que o seu novo Israel “tem chegado ao monte Sião, 1983), 101. Bruce K. Waltke, professor de Antigo
e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial... e Testamento na Regent University, afirma a respeito
a Jesus Cristo, o mediador da nova aliança...”(Hb dos esforços de LaRondelle em criticar a herme
12:22-24). nêutica dispensacionalista: “Em minha opinião, os
26 trabalhos de LaRondelle e Hoekema,permanecem os
Veja a discussão deste tópico mais à frente, na
seção “O Novo Israel”. melhores sobre o tópico”(Dispensationalism Israel
27
Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Santo and the Church:the Searchfor Definition, Eds. Craig
André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1966), 1:67. A. Blaising e Darrel L. Bock [Grand Rapids, ML:
28
Ellen G. White, Christ Object Lessons(Wa Zondervan, 1992],353). Referindo-se diretamente a
shington DC: Review and Herald, 1962), 288. esta obra de LaRondelle, ele a avalia como “a super
29
Ellen G. White, Profetas e Reis(Santo André, book”(ibidem).
40
SP: Casa Publicadora Brasileira, 1968), 703, 704. Hans K. LaRondelle, “Israel na profecia”,
Ibid., 704. em O futuro, eds. Alberto Timm, Amin A. Rodor
66 / PaROUSIA - 1“ SEMESTRE DE 2007
45
e Vanderlei Domeles (Engenheiro Coelho, SP.: O autor não está desapercebido das mudanças
UNASPRESS,2004), 232. interpretativas que têm ocorrido dentro do dispensa-
Gerhard F. Hasel,“Israel in bible prophecy”, cionalismo,com uma geração progressista de novos
Journal of the Adventist Theological Society 3/1 autores. O próprio dispensacionalista pode ser ana
(1992): 136. lisado em quatro “dispensações”: pré-scofieldiana,
W. D. Davies, The Gospel ofthe Land: Ear- scofieldiana, essencialista e progressista. As novas
ly Christianity and Jewish Territorial Doctrine tendências no dispensacionalismo são evidentes no
(Bekerley,CA:UniversityofCalifórnia, 1974), 178, volume editado por Craig A. Blaising e Darrell L.
179. Veja ainda Anthony Thiselton, New Horizons Dispensationalim, Israel and the Church: The
in Hermeneutics (Grand Rapids, MI: Zondervan, Search for Definition, mencionado acima. Embora
1992), 27. tais mudanças devam ser congratuladas, elas não
43
Veja o artigo de Gerhard F. Hasel nesta edição representam a maioria dos dispensacionalistas e,
de Parousia.
44 portanto, a ala progressista não significa que as três
LaRondelle,“Israel na profecia”, 232 eras anteriores, não estejam mais vivas e ativas.
]
o NOVO ‘Israel’: a construção da
IDEOLOGIA DO MESSIANISMO AMERICANO
Vanderlei Dorneles, Th.M.
Professor de Metodologia no Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP, e diretor da Unaspress
Os americanos são um povo livre, que sabe que a seus governos, estão crendo num mito de
liberdade é um direito de cada pessoa e o futuro que a América é isolacionista e pacífica.
de toda nação. A liberdade que temos não é um Ele declara ainda:
presente da América para o mundo,é um presente
de Deus para a humanidade.^ Com nossa forma de governo democrática, atin
gimos um pináculo na história da civilização.
No discurso de posse para o segun Talvez só Roma, na Antigüidade, cultivasse uma
do mandato, em 20 de janeiro de 2005, concepção semelhante de seu papel civilizador.
Bush reiterou: O resultado dessa crença é o nosso impulso para
transformar países que não se alinham conosco.
Nós proclamamos que todo homem e toda mulher Aqueles que nos ameaçam o fazem porque não
nesta terra têm direitos,e dignidade,e valor incom são democráticos. A cura está na mudança de suas
parável, porque eles trazem a imagem do Criador formas de governo.[...] O mundo precisa ser trans
do céu a da Terra. [...] Com nossos esforços, nós formado para se tomar mais seguro: essa tradição
acendemos uma chama também, uma chama na de pensamento é muito forte entre nós^
mente dos homens. E ela aquece aqueles que
sentem seu poder, queima aqueles que combatem O messianismo americano se eviden
seu
progresso, e um dia esse fogo indomável da cia em cerimônias públicas, em discursos
liberdade vai atingir os recantos mais obscuros
do nosso mundo.® oficiais, especialmente em contextos de
guerra. É usado para legitimar ações vio
lentas, para motivar soldados e para lem
As palavras de Clinton e Albright, bem
brar o papel da América como guardiã da
como as de Bush,dão eco a valores e mitos de
liberdade humana. O messianismo parece
natoeza religiosa,os quais constituem o pró assumir contornos de uma ideologia, no
prio âmago da cultura americana.Evidenciam
um claro messianismo,o qual os americanos sentido de que cimenta o tecido social e dá
se sentem chamados e legitimados a exercer sentido e coesão; de uma identidade, que
dá um modo de ser ao americano; de um
em relação ao restante do mundo,como um
novo Israel. Esse messianismo coloca as sistema da cultura, que articula e gera uma
guerras americanas como parte de um vasto infinidade de textos®; e de uma utopia, que
mantém um ideal e um sonho de restaura
conflito entre o bem e o mal,entre liberdade
e absolutismo, entre democracia e barbárie. ção da condição humana'^.
O messianismo americano é um sistema de De onde são tirados os termos especí
valores e mitos que remontam às origens ficos que constroem o messianismo ame
dessa cultura e aos pais fundadores.Ao longo esses
ricano? Em que contextos históricos
da história americana,esse messianismo sedi me-
valores e mitos foram propostos? Que
mentou-se como uma ideologia,cujo objetivo mórias históricas são remontadas nas falas
é legitimar e sacralizar o poder imperial. e discursos dos recentes governantes? Em
O americano Robert Kagan,um dos ide que textos da cultura americana e em que
ólogos da extrema direita americana,defen momentos essa mentalidade foi gestada?
de que,desde os pais peregrinos, a América E que implicações o messianismo impõe à
sempre foi um poder expansionista e que religião cristã dos pais fundadores?
esse impulso está no DNA americano.
Neste artigo, as respostas para estas
A ambição de desempenhar um poder grandioso no questões são buscadas a partir da ótica
palco mundial tem raízes profundas na personali dos conceitos de memória,texto e cultura,
dade americana. Desde a independência,e mesmo propostos pelo pensador russo luri Lotman,
antes, os americanos sempre tiveram a convicção maior representante da chamada semiótica'®
de que sua nação tinha um destino grandioso, e da cultura. Inicialmente,farei uma breve re
... os Estados Unidos já despontavam para seus visão bibliográfica dos conceitos teóricos
líderes como um “Hércules no berço”, “embrião que embasam a compreensão da memória e
de um grande império”'’. da cultura como esferas simbólicas. A essa
revisão, essencial para a compreensão do
Para Kagan, quando os americanos se tema, se seguirá uma inicial reconstrução
surpreendem com as ações belicistas de da memória do messianismo americano.
o NOVO ‘Israel’/69
como uma ideologia e um sistema da cultu na memória sob uma hierarquia, que obe
ra. Darei atenção também à dimensão civil dece a paradigmas definidos pela própria
assumida pela religião nesse contexto. O cultura. Este é o princípio que determina
artigo sugere uma reflexão sobre como esse os textos a serem “lembrados” e aqueles a
fenômeno reforça a expectativa profética serem “esquecidos”. Mas, uma vez que a
adventista acerca do papel da América na cultura é viva e dinâmica, nada se esquece
crise final prevista em Apocalipse 13. para sempre e nada se lembra para sempre.
Segundo Lotman,“cada cultura define seu
Memória e textos da cultura paradigma do que se deve recordar(isto é,
conservar) e do que se deve esquecer”’^
Lotman propõe uma visão sistêmica
Assim, no interior da memória, o que
da cultura, na qual os textos não são pe
ças isoladas, mas partes de um todo. Sua “esquecer” e o que “lembrar” pode ser
escola cultural tem um conceito bastante definido em função de uma ideologia ou
de um sistema dominante da sociedade.
amplo de “texto”(do latim textu^ tecido).
Se cada cultura define o que se deve “pre
Literatura, peças musicais, obras de arte,
servar” e “esquecer”, no nível da memória
produções cinematográficas, documentos
e discursos históricos são considerados coletiva, então a “história intelectual da
humanidade pode ser considerada uma luta
“textos da cultura”. Tudo que é tecido^
sintetizado, produzido pela mente e que pela memória”''*. Essa luta é travada pnn-
trata da condição humana constitui-se num cipalmente por mecanismos como igreja,
texto da cultura. estado, educação, sociedade civil e (hoje)
a mídia, entre outros.
O que distingue a semiótica russa é sua
ênfase sobre o caráter orgânico-estrutural Os paradigmas articulados por forças
da cultura. Por causa da interligação entre dominantes da memória coletiva sedimen
os diversos elementos culturais,“as partes tam sistemas culturais, que vão gerar novos
não entram no todo como detalhes mecâni textos constantemente'^ São sistemas da
cos, mas como órgãos de um organismo”". cultura as grandes narrativas que produ
Nesse sentido, os filmes, livros, textos zem uma multiplicidade de textos e que
jornalísticos e discursos oficiais mantêm conservam na memória seus valores mais
ligações entre si. Os discursos dos presi predominantes. O iluminismo europeu do
século 18 foi um dos sistemas mais pode-
dentes americanos,os filmes de Hollywood
e a literatura americana mantêm elementos rosos da cultura da Idade Modema'^
comuns porque estão interligados como O messianismo americano deve ser
partes de um sistema cultural. visto como um sistema da cultura, uma
A noção da cultura como um sistema vez que se constitui a partir da sucessão de
facilita a compreensão dos processos cul uma diversidade de textos como discursos,
turais ao propor que os textos da cultura livros, filmes,etc. Esse sistema se compõe
estão em constante interferência e entre- de textos que projetam os Estados Unidos
cruzamento, de forma que textos atuais como nação eleita, possuidora de um “des
são sempre influenciados e modelizados tino manifesto”.
pelos antigos. A memória é o ambiente
onde os textos antigos são conservados e O MESSIANISMO AMERICANO
de onde se articula sua influência. Ela tem
Os valores que impulsionam e ali
uma natureza textual, isto é, compõe-se de
mentam 0 projeto de poder americano
sentenças, nanativas,expressões, imagens.
Memória é um reservatório que conserva, remontam à fundação da América, seu
transmite e gera textos. Para Lotman, “a descobrimento e mesmo ao impulso mes
cultura é uma inteligência coletiva e uma siânico e missionário que marcou a Europa
memória coletiva”'I É a acumulação de nos séculos 15 e 16. Como um sistema da
textos que constrói a memória de uma cultura, o messianismo foi consti*uído ao
dada civilização. Os textos estão dispostos longo dos séculos, juntando fatos históri-
70 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
Tinham em altíssima conta que constituíam çado o estado de graça. E as seitas evangélicas,
0“novo Israel”'*^ na nova terra. Apoiavam- que emigraram para a América ou lá se forma
ram. desenvolveram um protestantismo peculiar,
se nas afirmativas bíblicas, traduzidas por
fundamentalista. que se diferenciava e ao mesmo
Tyndale, e repetiam com freqüência esses
tempo se identificava com a forma do judaísmo,
ditos: assim como os hebreus no Egito,eles ao buscar inspiração na Bíblia, para atribuir ao
foram perseguidos na Inglaterra; como os povo americano o destino manifesto de expandir
hebreus atravessaram o deserto do Sinai, suas fronteiras e a missão de guiar a humanidade,
eles atravessaram o longo e tenebroso como se fosse o povo eleito por Deus-”.
Atlântico; como os hebreus, os puritanos
receberam a indicação e a herança divina Essa leitura do Êxodo por parte dos
da nova terra. E tal como Deus dera força fundadores puritanos lançou raízes pro
fundas na memória americana. As mesmas
a Josué para expulsar os antigos habitantes
da terra de Canaã, os puritanos criam ter crenças ecoaram mais de cem anos depois
em discursos oficiais, nos séculos e 19.
recebido direito e força divinos para exter
minar os índios de sua Canaã"^. Presidentes americanos como George Wa
shington e Thomas Jefferson acreditavam
Aqui0relato do Êxodo assume a função que os Estados Unidos tinham um papel
de um texto da cultura, que é resignificado mundial, como os “antigos ‘f
pelos puritanos, ao narrarem suas expe ‘raça escolhida’,representando uma ordem
riências. A narrativa bíblica se reproduz social mais elevada, levando o
em novos textos, na fala dos peregrinos. E aonde quer que fosseni”«. A ^renÇ^e“ma
vai continuar a produzir outros textos na eleição divina esteve na base da g
composição do sistema da cultura norte- americanas ao longo dos seculos^,^
americana que sustenta o messianismo, na a guerra contra a França em em 1812 pelo
sedimentação de uma memória coletiva. obter territórios espanhóis,
1846-47,contra
Os ideais de renovação e o messianismo Canadá e pela Flórida,em
o México.
alimentavam o espírito de expansão, mas, da república
sobretudo o chamado “destino manifes- No contexto do nascimento
to”'*^ a idéia de que Deus tinha dado aquela americana, no século 18,a crença de que os
terra aos peregrinos, que deviam possuí-la Estados Unidos são a nação eleita de Deus,
foi tema das
como o povo de Israel possuiu pela força o novo Israel,era tão forte que .
a antiga terra de Canaã. principais propostas ° g Thomas
Assim, desde os primórdios, uma vo
cação messiânica “marcou a formação e
pelo Congresso
impregnou a cultura” americana.“O povo desenho do selo dos
de 1776, para lançar o um dese-
americano, do mesmo modo que os israe
Estados Unidos. Frankhn proP°® j.
litas, passou a considerar-se o mediador, o nho de Moisés erguendo seu
vínculo entre Deus e os homens .Esse pac
dindo o Mar Vermelho ..Rgbelião
to bíblico entre Deus e os israelitas inspirou
coberto pelas águas,com jgffgrson
o pacto firmado entre si pelos peregrinos à aos tiranos e obediênca a Deus ●
bordo do Mayflower. Crentes de que eram propôs uma criança de Israel ^
fiéis a Deus,em contraste com os europeus, com o mote “guiado por uma"uvem dura -
entregues ao vício e à decadência, eles se
te o dia e por uma coluna de fogo ^
sentiam comissionados a exercer um papel Em 1799, Abiel Abbot, pastor da Prime ra
restaurador frente aos outros povos. “O Igreja em Haverhill, Massachussetts,decla
sentimento de grandeza e superioridade rava que “o povo dos Estados Unidos tem
conformou desde os primórdios parte da mais proximidade e paralelo com o antigo
identidade dos Estados Unidos”'*^. Israel do que qualquer outra nação sobre
A predestinação constitui a substância real do
o globo”5«. O escritor americano Herman
Melville, autor do clássico Moby Dick,em
protestantismo [calvinista], daqueles que criam
estar em comunhão direta com Deus e ter alcan- 1850, escreveu: Nós, americanos, somos
J
o NOVO ‘Israel’/ 75
o povo peculiar e escolhido - o Israel dos ligião veio sedimentando uma memória para
novos tempos; nós carregamos a arca das a América.Essa vocação messiânica assumi
liberdades do mundo”^'. da pelos americanos apoiou-se inicialmente
na promessa do Apocalipse de um “novo
Na comparação com o Israel bíblico,
mundo”, depois estendeu-se até o pacto
os pais fundadores e, por conseqüência, a
com Abraão e ao Êxodo. A formação de
nação, assumem um ideal e uma missão uma memória coletiva e de uma identidade
perante o mundo. A eleição de Israel como
que projetam os Estados Unidos,como uma
povo peculiar deve ser vista à luz do pacto
nação escolhida com um papel messiânico,
firmado por Deus com Abraão.
ocorre a partir de uma seleção das fontes bí
Disse o Senhor a Abrão: sai da tua terra, da tua blicas. Um sistema dominante opera por trás
parentela e da casa de teu pai e vai para a terra do cenário histórico e determina o que do
que te mostrarei; cie tifarei uma grande nação, texto bíblico deve ser lembrado e resgatado
e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu e o que deve ser esquecido. O messiamsmo
uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e americano é construído praticamente sem
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem,em ti serão USO dos evangelhos, sem menção à nova
benditas todas as nações da terra (Gn 12:1-3,
aliança e sem referências a Jesus Cristo,
ênfase nossa).
embora os puritanos fundadores fossem
protestantes crentes na justificação pela fé.
Após 400 anos no Egito, Moisés tirou
Nesse processo de construção da memória,
Israel de lá, sob a direção divina para
a religião foi adaptada ao espaço público,
atravessar o deserto do Sinai em direção a
tanto quanto possível sem prejuízo do princí
Canaã, uma terra que “mana leite e mel”
(Nm 13:27), um paraíso, um Éden restaura pio de separação entre igreja e estado.Nesse
do,dado por herança aos israelitas, recém- espaço,a religião não é mais o cristianismo,
nem Deus é o Deus da Bíblia, pelo menos
libertados. Em Deuteronômio 11:22-25,se
não de toda a Bíblia. O que aparece é uma
assegura que se o povo de Israel for fiel a
nova religião, ou um novo uso dela, a re
Deus e ao pacto, guardando sua lei,
ligião civil”.
o Senhor desapossará todas estas nações, e pos
suireis nações maiores e mais poderosas do que De que se constitui essa religião? Sob
vós. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, que implicações o cristianismo é moldado
desde o deserto, desde o Líbano, desde o rio, o rio ao espaço público de uma nova ordem? Que
Eufrates, até o mar ocidental,será vosso. Ninguém tipo de religião o messianismo americano
vos poderá resistir; o Senhor, vosso Deus, porá tem como seu fimdamento? A seção seguin
sobre toda a terra que pisardes o vosso terror e o te propõe respostas a essas questões.
vosso temor(ênfase nossa).
Esse mesmo conceito ecoa nas palavras política, mas sem a representação de credo.
de Benjamin Franklin, um dos redatores da Bellah define:
Declaração de Independência dos Estados Embora o assunto dc crença, adoração e comu
Unidos,embora ele não tenha chamado isso
nhão seja considerado estritamente privado, há,
de religião civil: ao mesmo tempo, certos elementos de orientação
Eu nunca duvidei da existência de Deus; de que religiosa que a grande maioria dos americanos
ele fez o mundo e o governa por sua Providência; compartilha. E estes elementos têm cumprido um
de que o mais aceitável serviço para Deus é fazer papel crucial no desenvolvimento das instituições
o bem aos homens;de que nossas almas são imor americanas e ainda provê uma dimensão religiosa
tais; e de que o crime deve ser punido e a virtude, para a estrutura da vida americana como um todo,
recompensada aqui ou no porvir.” incluindo a esfera política. Esta dimensão religiosa
pública é expressa na forma de crenças, símbolos
Comparando as palavras de Rosseau e e rituais que eu chamo de religião civil america
na. A cerimônia de posse de um presidente é um
Franklin, conclui-se que “a religião civil
importante evento dessa religião^\
que os fundadores [americanos] estabele
ceram era em essência um reflexo de seus
próprios ideais iluministas”^"*. Analisando as palavras de Kennedy,
Bellah afirma que ojuramento é feito diante
Para entender a religião civil na América, do povo e de Deus. Além da Constituição,
os conceitos propostos por Robert Bellah, as obrigações dos presidentes se estendem
em seu célebre artigo “Civil Religion in não só ao povo, mas a Deus.
America”^^ são essenciais. Ele concebe
Na teoria política americana,a soberania permane
a religião civil “não como uma forma de
ce, naturalmente,com o povo, mas implicitamente
auto-adoração nacional”,como apontaram e,frequentemente,explicitamente a
soberania final
alguns de seus críticos, mas como “uma é atribuída a Deus^*^.
subordinação da nação a princípios éticos
transcendentes, acima da possibilidade In God we
Este é o significado do mote
de julgamento”. O artigo cita o discurso
trust”(em Deus nós confiamos), bem ^mo
inaugural do ex-presidente americano da inclusão da fi*ase “Under God”(sob Deus,
John Kennedy, em 20 de janeiro de 1961. ou sob as ordens de Deus) na bandeira.
Kennedy se refere a Deus três vezes^^. Na
primeira ele diz: “Eu jurei diante de vocês Essa motivação ecoa na Declaração^de
e do Deus Todo-Poderoso o mesmo jura Independência, na qual há quatro referen
mento que nossos antepassados fizeram há cias a Deus.A segunda é a de que “todos os
quase dois séculos.” Depois,“os direitos do homens são formados por seu Criador com
homem não vêm da generosidade do esta certos direitos inalienáveis”. Com isso.
do, mas da mão de Deus”. Por fim,“aqui da nova
Thomas Jefferson coloca a legitimação
na terra a obra de Deus deve ser a nossa nação na concepção da mais alta lei, que e a-
própria obra”. Kennedy não se refere a uma seada tanto no direito natural clássico quanto na
religião particular. Não se refere a Jesus religião bíblica*".
Cristo, ou a Moisés, ou à igreja cristã, ele
também não se refere à sua Igreja Católica. George Washington também repete a
Ele fez referência ao conceito de Deus,que mesma noção em seu discurso inaugural,
quase todas as pessoas aceitam e encaram em 30 de abril de 1789, como o primeiro
de forma diversa. Bellah questiona: presidente americano:
Se considerarmos o princípio de separação entre Seria muito impróprio omitir neste primeiro ato
igreja e estado,como um presidente justifica o uso oficial minha fervente súplica ao Todo-Poderoso
da palavra Deus em seu discurso? Certamente, Ser que mantém o universo,que preside o conselho
essa separação não vai contra o uso da dimensão das nações.*'
religiosa na política.”
Para Bellah, as falas e os atos dos pais
E nesse espaço que surge o conceito de fundadores, especialmente os presidentes,
religião civil,quando a religião participa da dão a forma e o tom da religião civil.
o NOVO ‘Israel’/ 77
Essa religião civil, embora derive do cristianismo, posições contrárias à Palavra de Deus nos
não é o próprio cristianismo. Por algum motivo, últimos tempos^®.
nem Washington nem Adams nem Jefferson, nem
Kennedy mencionam Cristo. Nem qualquer outro
depois deles, embora todos mencionem Deus. Considerações finais
O Deus da religião civil não é só “unitariano”, Como demonstrado neste artigo, a vo
ele tem também uma face severa, muito mais
cação para o exercício do poder frente às
relacionada com a ordem, lei e direitos do que
demais nações não é um desenvolvimento
com salvação e amor. [...] Ele está ativamente recente na história da América, embora
envolvido com a história, em concerto especial
com a América. Aqui a analogia tem muito menos
a interpretação adventista, no século 19,
a ver com o direito natural do que com o antigo
tenha sido uma novidade no campo do
IsraeP^ estudo do Apocalipse. O levantamento
da memória americana, confirmando que
Para Pardue, os americanos fizeram o impulso e a ideologia do messianismo
dessa religião uma espécie de “totem”, remonta à fundação dos Estados Unidos,
no sentido de que “os valores e virtudes sugere que desde o início a nação ja pos
da nação que chamamos de América são suía um destino profético. Sugere também
colocados diante de nós como religio que o pendor da América para o controle
sos”. Ele critica ainda que essa religião das demais nações e para a restrição da
transformou a liberdade numa tirania, liberdade não é resultado de uma convicção
santificou a escravidão, o individualismo, momentânea,mas uma vocação presente no
consumismo, militarismo, guerra nuclear, DNA americano.
por meio do nacionalismo^\ Tudo feito em A memória histórica americana foi mo
nome de Deus^’’*. delada, ao longo dos séculos, de forma a
tomar o messianismo uma vocação atrativa
Por que a religião civil se conecta a
Israel e não à igreja cristã professada pelos e convincente, plantando a idéia de uma
nação eleita com uma missão divina. E um
pais peregrinos? Por que ela trata só com
direitos e deveres e não com salvação? Por enredo simples, mas grandioso: os pais fun
dadores da América eram homens honestos
que fala de Deus e não de Cristo?
e religiosos,que escaparam da perseguição
A resposta a estas questões provavel na Europa. Chamados por Deus para uma
mente atravesse os caminhos que aproxi terra longínqua e fértil, eles fundaram uma
mam americanos ejudeus e que conduzirão nação livre e assumiram a missão de levar
a América a um regime de autoritarismo no ao mundo os valores divinos de liberdade
futuro. Talvez também explique por que, e felicidade. Essa narrativa decantada
embora idealizado por protestantes crentes construiu uma memória sólida^^,e chegou a
na justificação pela fé e no futuro reino de assumir o status de uma metanarrativa,com
Cristo, o projeto de poder da América não é pretensões a verdades absolutas, cristali-
para o mundo por vir, mas para esta vida. zou-se como uma ideologia. Sintetizados
Nos anos 1850,os adventistas sabatistas a partir de importantes textos da cultura
judaico-cristã, seus valores e mitos se re
já viam o destino histórico dos Estados Uni
produzem indefinidamente,constituindo-se
dos da América numa perspectiva ampla, num sistema da cultura.
no sentido de esta nação vir a desempenhar
um papel crucial, como a “besta” de dois Esses valores e mitos messiânicos
chifres (Ap 13:11-18) e a “imagem” da transformaram-se ao longo das décadas
besta(Ap 14:9-11)''^ Mais tarde, Ellen G. em forças históricas, que determinam e
White ampliou essa compreensão com a legitimam as ações imperialistas. A força
publicação de O Grande Conflito. Segundo desses mitos sobre a cultura americana é
ela,a nação americana vai desempenhar um objeto da reflexão do escritor Philip Roth,
papel escatológico em cooperação com o em sua trilogia composta por A marca
Vaticano numa campanha de intolerância humana.Pastoral americana e Casei com
e perseguição a fiéis que resistirem às im- um comunista. Roth compõe um quadro da
78 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
Referências
linguísticos verbais, a semiótica tem por objeto “Nação Inocente” impediu que muitos americanos
qualquer sistema sígnico: artes visuais, fotografia, compreendessem e mesmo que discutissem as com
cinema, música,culinária, vestuário, gestos,religião, plexas motivações dos atentados terroristas de 11 de
ciência,etc. Os conceitos da semiótica podem retro Setembro de 2001. O autor identifica cinco mitos-
ceder a pensadores como Platão e Santo Agostinho. chave que iludem o coração dos americanos: o mito
Entretanto, somente no século 20 começa a adquirir da Nação Eleita, Nação da Natureza, Nação Cristã,
o status de ciência, com os trabalhos do suíço Fer- Nação do Milênio e Nação Inocente. Hughes mostra
dinand de Saussure e do francês Aljirbas Greimas que,com a canonização desses mitos aparentemente
(semiótica francesa), do americano Charles S. Peirce inocentes da identidade nacional como verdades
(semiótica pragmática) e de luri Lotman, da escola absolutas,a América arrisca debilitar a promessa de
de Tartu, na Estônia (semiótica da cultura). Fonte: igualdade da Declaração de Independência.
33
Wikipedia, enciclopédia online. Hughes, Myths American Lives By^2\.
"luri M. Lotman, La Semiosfera: semiótica de Pardue, “A brief history of American Civil
la cultura e dei texto (Frónesis Cátedra: Universitat Religion”.
de Valencia, 1996), 1:31. Hughes, Myths American Lives By,23.
12 36
Ibid., 157. Pardue, “A brief history of American Civil
■Mbid., 160. Religion”.
14
Irene Machado, Escola de Semiótica (São E. E. Caims, O Cristianismo através dos
Paulo. Ateliê Editorial, 2003), 38. Séculos: uma história da igreja cristã (São Paulo:
15
luri M. Lotman, “O problema do signo e do Vida Nova, 1984), 270.
sistema sígnico na tipologia da cultura anterior ao Pardue, “A brief history of American Civil
século 20”, em lúri M. Lotman e outros. Ensaios Religion”.
39
de semiótica soviética (Lisboa: Livros Horizonte, Caims, O Cristianismo através dos Séculos^
1981), 102. 270.
40
Ibid, 123. George Bancroft, História dos Estados Unidos
17
Ernesto Milà, Lo que está detrás de Bush: da América, citado por Ellen G. White, O Grande
corrientes ocultas de la política de EEUU. Colec- Conflito 27“ ed. (Santo André, SP: CasaPublicadora
ción Geopolítica. n. 6 (Barcelona, Espanha: SL, Brasileira, 1981), 288.
2004), 4. ■” Hughes, Myths American Lives By, 28.
18
Umberto Eco, O Nome da Rosa (Rio de Janei- R. E. Spiller, O Ciclo da Literatura Norte-
ro: Nova Fronteira, 1983). Americana (Rio de Janeiro: Forense Universitária,
19
Milà, Lo que está detrás de Bush, 4. 1967), 22.
43
Ibidem. Kamal, Estados Unidos, 38.
21
Ibid., 5. ●«Ibid., 55.
45
-- Leandro Kamal, Estados Unidos: a formação A crença do “destino manifesto” foi formulada
da nação (São Paulo: Contexto, 2005), 35. pelo então futuro presidente John Quincy Adams,
23
Ver a íntegra do pacto feito entre os pais fun em 1811: “Todo o continente da América do Norte
Providência a ser
dadores, em 1620, disponível em http://www.let.mg. parece estar destinado pela Divina
nl/-usa/D/1601-1650/plymouth/compac.htm. povoado por esta nação, falando um idioma, profes
24
Francis Bacon, Nova Atlántida. Os pensadores sando um sistema geral único de princípios religiosos
(São Paulo: Nova Cultural, 1999), 227. e políticos e acostumada a um mesmo padrão de usos
25
Milà, Lo que está detrás de Bush, 8. e costumes sociais” (Sidney Lens, A Fabricação do
26
Robert R. Palmer, The Age of the Democratic Império Americano: da revolução ao Vietnã: uma
Revolution: A Political Histoiy ofEurope and Ame história do imperialismo dos Estados Unidos [Rio
rican, /7(50-/500 (Princeton: Princeton University de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006], 24). A ex
Press, 1959), 1:242. pressão “destino manifesto”, no entanto, foi primeiro
27 usada pelo jornalista John 0’Sullivan, em 1846, às
Fuser e Bianchi, “O grande império ameri-
cano”, 26. vésperas da guerra com o México, a qual ele via
-* Milà, Lo que está detrás de Bush, 8. como a oportunidade da “realização do nosso destino
29
The Unanimous Declaration of the Thirteen manifesto de nos espalharmos pelo continente que
United States of America”, de 4 de julho de 1776, recebemos da Providência” (Fuser e Bianchi, “O
disponível em http://www.let.rug.n1/-usa/D/l 776- grande império americano”, 29).
46
1800/independence/doi.htm. Luiz Antonio Moniz Bandeira, Formação do
30
Kamal, Estados Unidos, 79. Império Americano: da guerra contra a Espanha
Milà, Z,o que está detrás de Bush, 9. à guerra no Iraque (Rio de Janeiro: Civilização
32
Richard Hughes, Myths American Lives By Brasileira, 2006), 27-28.
(Illinois: University Illinois Press, 2003), 21. Neste Ibidem.
48
livro, Richard T. Hughes argumenta que o mito da Lens, A Fabricação do Império Americano, 23.
80 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
49
Anson Phekps Stokes, Church and State in nível em http://www.chuckp3.com/Pages/Writings/
the United States, vol. 1 (New York: Harper & Co., American_Civil_Religion.htm.
1950),467-468. Bellah, *‘Civil Religion in America”. Para
Hans Kohn, The Idea of Nationalism (New uma pesquisa sobre religão civil americana, ver
York: Macmillan Co., 1961),665. Desde a fundação ainda Robert N. Bellah, Broken Covenant: American
da América, diversos americanos especialmente Civil Religion in Time ofTrial(New York: Seabury
religiosos escreveram ou falaram sobre os valores Press, 1975).
da religião civil, relacionando Deus e a América. Deus é referido ou mencionado em todos os
Francis A. Schaeffer, um autor evangélico popular, discursos inaugurais dos presidentes americanos,
diz: “Estes homens [pais fundadores] sabiam o que exceto no segundo discurso inaugural de George
estavam fazendo. Sabiam que estavam edificados Washington (presidente dos EUA de 1789-1797),
sobre o Supremo Ser que é o Criador,a realidade final. que foi breve(dois parágrafos) e muito superficial.
Sabiam que sem esse fundamento tudo na Declaração Do primeiro discurso inaugural de Washington até
de Independência e tudo que se seguiria podería ser o segundo de James Monroe, em 1821, a palavra
transformado num absurdo inalterável. Eles foram “Deus” não aparece, mas outros termos são usados
homens brilhantes que sabiam exatamente o que os para mencionar a divindade. Em seu primeiro dis-
envolvia”(Francis A.Schaffer,y4 Christian Manifesto curso inaugural,
1 Washington se refere a Deus como
[Wheaton,IL:Crossway Books, 1981],33). Num livro .o ser
_ : Todo-Poderoso que governa o universo”.
intitulado One Nation Under God,o escritor evangé Grande autor de todo bem privado e público”,
lico Rus Walton chega a afirmar confiantemente que “Mão invisível” e “Parente benigno da raça hu
a “Constituição dos Estados Unidos foi divinamente mana”. John Adams(1797-1801) refere-se a Deus
inspirada” (Rus Walton, One Nation Under God como “Providência”, “Ser supremo sot)re ’
[Washington, DC:Third Century Publishers, 1975]). Patrono da ordem”,“Fundador da justiça e ^ ro-
Nos anos 1960 e 70,durante a guerra do Vietnã,os de tetor’ . Thomas Jefferson (1801-1809)fala do Infi
fensores do conflito buscavam legitimar suas palavras nito poder que governa os destinos do ®
apelando para o mito da nação eleita. Edward Elson “Ser em cujas mãos nós estamos’. James a ison
afirma que a América não podería ser concebida senão (1809-1817)fala do “Todo-Poderoso Ser cujo poder
como um “movimento espiritual” originado em Deus regula o destino das nações”. James Monroe(
e guiado em seu desenvolvimento pelo Espírito Santo. 1825) usa “Providência” e “Todo-Poderoso ’ P
George Otis, um homem de negócios, ecoa o mesmo fim,em seu segundo discurso, usa‘ Todo- o
tema: “A mão de Deus estava nas fundações dessa Deus” (Ver os discursos presidenciais e p
nação e a força de Cristo esteve com os construtores de mandato de todos os presidentes
, 6111
da América”(George Otis, The Solutions to Crisis- no site “From Revolution to Reconstrution
America[New York: Fleming H. Revell, 1972], 53). http://www.let.rug.nl/~usa/index.htm, usqu
Dale Evans Rogers afirmou que “a América estava na link “presidents”). . „
57
mente de Deus antes de tomar-se uma realidade” e que Bellah,“Civil Religion in America .
a nação era “parte de seus[divinos] propósitos para o Ibid.
gênero humano”(Dale Evans Rogers, Let Freedom Ibid.
60
[New York: Fleming H.Revell, 1975], 19-20). O Ibid. ^
61
escritor e evangelista Tim LaHaye,um dos cabeças da Discurso de posse do ex-presidente eorge
American Coalition for Traditional Values,escreveu: Washington, em 30 de abril de 1789, disponi^
“Sem a América, nosso mundo contemporâneo teria em http://www.Iet.rug.nl/~usa/index.htm, no m
perdido completamente a batalha pela mente e, sem presidents”. . „
62
dúvida, pela vida numa era totalitarista e humanista” Bellah,“Civil Religion in America .
63
Pardue, “A brief history of American Civil
(Tim LaHaye, The Battlefor the World[New York:
Fleming H. Revell, 1980], 35). Religion”. ,
^ Para o escritor Robert Wuthnow,no entanto, ha
Herman Melville, White-Jacket, or the World
in a Man-of-War (Boston: L.C. Page & Company, duas religiões civis na América. Aquela que rnantóm
1950), 114. uma visão conservadora, “baseada na arrogância e
52
Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social, no falso senso de superioridade”. E outra, baseada
vol. 1 (São Paulo: Nova Cultural, 1999), 241. nos princípios éticos e bíblicos”, mantida por pessoas
53
Robert Bellah, “Civil Religion in America”, que têm uma visão liberal desse mesmo fenômeno.
Dedalus, Journal ofthe American Academy ofArts Eles não declaram explicitamente adesão à visão
and Sciences (Inverno de 1967, vol. 96, n. 1, pági dos pais fundadores, segundo a qual a América é a
nas 1-21), disponível em http://www.robertbellah. nação eleita de Deus. Para eles,“a América tem um
com/articles 5htm. papel vital a desempenhar nos negócios do mundo
54
Charlie Pardue,“A brief history of American não por que seja a casa de um povo escolhido, mas
Civil Religion and its ecclesial implications”, dispo- por que tem vastos recursos e, como parte das na-
o NOVO ‘Israel’/81
ções mundiais, ela tem responsabilidade em ajudar últimos acontecimentos (Engenheiro Coelho, SP:
a aliviar os problemas do mundo”. Para Wuthnow, Unaspress, 2004), 273, nota 39.
as duas visões acerca da América tem sido objeto de Ver White, O Grande Conflito, 439,444.
67
discórdia e polarização, mais do que de consenso e Ray Raphael, Mitos sobre a Fundação dos
compreensão mútua (Robert Wuthnow. “Divided Estados Unidos: a verdadeira história da inde
we fali; America's two civil religion”, disponível pendência americana (Rio de Janeiro: Civilização
em http://www.religion-online.org/showarticle. Brasileira, 2006), 16.
6S
asp?title+235). Phillip Roth, A marca humana (São Paulo:
65
Ver Alberto R. Timm.“Escatologia Adventista Companhia das Letras, 2002), 12.
69
do Sétimo Dia, 1844-2004: breve panorama históri- Hannah Arendt, Origens do Totalitarismo:
CO ,em Alberto R.Timm.Amin A. Rodor e Vanderlei anti-semitismo, imperialismo, totalitarismo (São
Domeles (orgs.), O Futuro: a visão adventisía dos Paulo: Companhia das Letras, 1998),497.
J
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? UmA
NOVA ABORDAGEM À LUZ DA ASTRONOMIA
Henderson Hermes Leite Velten (autor do artigo)
Advogado, editor do site www.concertoetemo.com
JuAREZ Rodrigues de Oliveira (autor da pesquisa que subsidiou o artigo)
Pesquisador e tradutor juramentado de inglês/português
Resumo: O adventismo tem sido acusado in the days of Ezra and Jesus. These evi-
de defendo adventismo tem sido acusado dences consist in historically documented
de defender uma data incorreta para o Dia situations in which the Jewish months were
da Expiação em 1844, pois, de acordo com fit later than the Rabbinical Cycle. The se-
o calendário rabínico, o décimo dia do sé cond part ofthis article shows that, on the
timo mês teria ocorrido em 23 de setembro contrary of what many have led others to
naquele ano. A primeira parte deste estudo believe until now,the date ofOctober 22nd
apresenta evidências de que o calendário does not depend on the Karaites,but can be
rabínico atual não representa uma continui supported by Babylonian tablets attesting
dade do calendário judaico praticado nos the lunar Seventh Month, beginning with
dias de Esdras e Jesus. Essas evidências the new moon of October in years corres-
consistem em situações documentadas ponding to 457 B.C. and also by historical
historicamente em que os meses judaicos and astronomical certainty of April 27th,
foram posicionados mais tardiamente que A.D. 31 as the date for Chrisfs death .
no ciclo rabínico. A segunda parte deste This article defends that the mathematical
estudo mostra que, ao contrário do que al structure of the prophecy requires that the
guns fizeram crer até hoje, a data de 22 de end ofthe “2.300 evenings and momings”
outubro não depende dos caraítas, mas pode was on October 22nd/23rd, 1844. The
ser fundamentada em tabletes babilônicos astronomical analysis proves this day was
que atestam o sétimo mês lunar começando the tenth day ofthe lunar month.
com a lua nova de outubro em anos equi
valentes a 457 a.C. e também na certeza Parte 1: Evidências da descontinuida-
histórica e astronômica de 27 de abril do DE DO calendário rabínico em relação
ano 31 para a data da morte de Cristo. Este AO CALENDÁRIO JUDAICO DAS ÉPOCAS DE
artigo revela que a estrutura matemática da
Esdras e de Jesus - reavaliando a
profecia requer que o término das 2.300
tardes e manhãs tenha sido em 22/23 de IMPORTÂNCIA DO MÉTODO DE COMPUTO
outubro de 1844. A análise astronômica CARAÍTA NA DETERMINAÇÃO DO DIA DA
comprova que esse foi o décimo dia do EXPIAÇÀO EM 22 DE OUTUBRO
mês lunar.
Abstract: Adventism has been accused of Introdução
supporting an incorrect date for the Day of
Um dos alvos recorrentes dos críticos à
the Atonement in 1844, because,according
doutrina adventista do juízo investigativo
to the Rabbinical Calendar, the tenth day
of the Jewish Seventh Month occurred é a data escolhida pelos mileritas para o
in September 23rd in that year. The first dia da expiação em 1844. Ao passo que o
part of this study presents evidences that calendário rabínico, adotado pela grande
the current Rabbinical Calendar is not in maioria dos judeus do mundo inteiro,
continuity with the Jewish Calendar used apontava naquele ano para um 10 de tishri
--7
i
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO?/85
EvIDÊNCIAS DESFAVORÁVEIS
O ano 37 de Nabucodonosor equivale
AO CALENDÁRIO RABÍNICO a 568/567 a.C.(da primavera à primavera,
Nos tabletes de argila da Mesopotâ- no hemisfério norte). O referido mês 1
mia, nos escritos do historiador Judeu do caía em março ou em abril. Como pode
primeiro século Flávio Josefo, bem como ser demonstrado pela imagem 1 (p. 1^2),
na própria Bíblia, particularmente nos li gerada pelo programa Redshift2,a situação
vros de Esdras e de Ester, preservaram-se descrita no tablete ocorreu ao pôr-do-sol do
informações valiosas da antigüidade em dia 22 de abril de 568 a.C., pois nela se vê
que os meses dos calendários babilônico- o primeiro crescente lunar sob o pano de
persa e Judaico foram posicionados mais fundo da constelação de Touro.
tardiamente que no calendário rabínico.’ Isso faz de 22/23 de abril (de pôr-do-sol
Esses dados serão apresentados a seguir, a pôr-do-sol) o dia 1° de nisan naquele ^o.
a fim de demonstrar que o ciclo rabínico Diferentemente,o calendário rabínico coloca
atual não se harmoniza com os calen 1°de nisan em 24/25 de março,como o atesta
dários babilônico-persa e Judaico das a imagem 2(p. 102), gerada pelo programa
épocas de Daniel, Esdras e Jesus. Calendrical Calculations. Em 24 de março,
Existem atualmente excelentes progra 0 primeiro crescente não aparece em Touro,
mas em Áries(ver imagem 3, p. 103).
mas de computador, disponíveis gratuita
mente na Internet, que produzem as situ Esse é um dado relevante, pois vem do
ações do calendário Judaico rabínico para tempo de Daniel e da região em que ele es
qualquer ano numa longa faixa de tempo. tava quando recebeu suas revelações. Nesse
Será utilizado neste artigo o Calendrical período, é lógico supor que os Judeus, por
Ca/culations^. Outro ótimo programa capaz estarem em Babilônia, acompanhassem o
de gerar as situações do sistema rabínico calendário babilônico.
é o LimaCaP. As situações astronômicas
envolvidas serão analisadas com base
Evidência do ano 515 a.C.- ano
no software mundialmente conhecido
EM QUE SE CONCLUIU A EDIFICAÇÃO DO
Redshift, aqui em sua versão 2.0"^, cujo
principal objetivo é reproduzir virtualmente SEGUNDO TEMPLO
um observatório astronômico. No caso do Esdras 6:14-18 narra o témiino da recons-
programa Redshift 2,fez-se uma ampliação tnição do Templo nos seguintes termos:
no canto direito das imagens capturadas
para facilitar a visualização. Para gerar as Os anciãos dos judeus iam edificando e pros
situações do calendário Juliano, será utili perando [...] Edificaram a casa e a terminaram
zado o programa Sky View Cafe'\ [...] Acabou-se esta casa no ciia terceiro do mês
86 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
de adar, no sexto ano do reinado do rei Dario. 12 de Xerxes. Quando chegou o dia 13 do
Os filhos de Israel, os sacerdotes, os levitas e o primeiro mês do ano seguinte - isto é, do
restante dos exilados celebraram com regozijo a ano 13 de Xerxes - Hamà determinou que
dedicação desta Casa de Deus.[...] Estabeleceram se matassem a todos os judeus que viviam
ossacerdotes nosseus turnos e os levitas nas suas
no império,“e/77 um só dia^ no dia treze do
divisões, para 0 serviço de Deus em Jerusalém,
segundo está escrito no livro de Moisés.
duodécimo mês, que é o mês de adar”(Et
3:13). Muito antes de esse dia chegar,Ester
Babylonian Chronology^^, p. 30, adota conseguiu do rei a expedição de um decreto
autorizando os judeus a resistirem àqueles
0 dia 9/10 de março para 1° de adar em 515
a.C., sendo este ano 0 sexto de Dario I. Se que os quisessem matar(Et 8:10-12).
é assim,3 de adar foi 11/12 de março. Esse relato revela que, no ano 13 de
Xerxes, o dia 13 de adar foi o mesmo
O dia 11/12 de março de 515 a.C. foi um
tanto no calendário judeu quanto no ca
sábado.Portanto, a declaração de que “aca
bou-se esta casa no dia terceiro do mês de lendário babilônico-persa. Mas,isso só é
adar” não deve estar se referindo ao término possível se o ciclo rabínico for mais uma
vez desconsiderado.
do árduo trabalho de alvenaria, mas à própria
inauguração do templo,que foi o último ato Com efeito, o ano 12 de Xerxes co
de restauração (ver imagem 4, p. 103). meçou em 1° de nisan de 474 a.C., que,
segundo Babylonian Chronology,p. 31,foi
Se essa interpretação está correta,então
o dia 4/5 de abril. É sabido que, no fim do
a informação de que os sacerdotes foram
estabelecidos “nos seus turnos e os levitas ano 12 de Xerxes,houve um mês intercalar
nas suas divisões” concorda com Flávio Jo- (addaru 2), como está demonstrado pelo
documento Cameron,PTT27 {Babylonian
sefo, segundo o qual os turnos sacerdotais adicional
se estendiam de sábado a sábado: Chronology, p. 8). Esse mês
projeta o início do ano 13 de Xewes para
Ele[Davi]também os dividiu em turnos: e após ter 21/22 de abril de 473 a.C., que foi o dia 1
separado os sacerdotes, encontrou vinte e quatro de nisan naquele ano. Há, pois, segurança
turnos desses sacerdotes, dezesseis da casa de
de que essa foi a data de 1° de nisan no ano
Eleazar, e oito da [casa] de Itamar; e ele ordenou 13 de Xerxes.
que um turno deveria ministrar a Deus por oito
dias, de sábado a sábado(tradução nossa).'^ No ciclo rabínico, 1° de nisan em 473
a.C. não cairia em 21/22 de abril, mas em
Isso também se harmoniza com 2 Reis 22/23 de março, como se vê na imagem 7
11:5-7. (p. 105),o que colocaria o dia 13 de adar em
datas diferentes nos calendários judaico e
Se,todavia,o ciclo rabínico for adotado,
em 515 a.C. o dia 3 de adar não coincidirá babilônico-persa, não permitindo o sincro-
nismo testemunhado no livro de Ester.
com o sábado,como se pode perceber pela
comparação das imagens geradas pelos
programas Calendrical Calculatioris e Sky Evidência do ano 63 a.C.- ano da
View Cafe, perdendo-se a vinculação pre TOMADA DE JeRUSALÉM POR POMPEU
ciosa da inauguração do templo com o dia
de sábado (ver imagens 5 e 6, p. 104). No ano da conquista de Jerusalém
por Pompeu, o dia da expiação coincidiu
com o sábado semanal. Josefo dá indícios
Evidência do Ano 473 a.C.- ano dessa coincidência ao informar que[1]os
EM QUE os JUDEUS FORAM LIVRADOS DA romanos preferiam trazer suas máquinas
ARMADILHA DE HaMÃ para perto das muralhas de Jerusalém aos
Outra forte evidência contrária ao ciclo sábados, pois sabiam que então os judeus
não os atacariam, dada sua reverência por
rabínico pode ser extraída do livro de Ester.
esse dia,e que[2]a cidade foi tomada num
Ester 3:7 diz que se jogaram sortes dia dejejum solene'^ Quanto a este último
perante Hamã durante os 12 meses do ano item, é sabido que o único dia de jejum
à
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? /87
obrigatório prescrito pela lei era o Yom de Vitélio, foi assassinado em 16 de abril
Kippur(o dia da expiação)'^. de 69 d.C. e a morte de Vitélio ocorreu
em 20 de dezembro do mesmo ano.^° Se é
Embora Josefo não diga explicitamente
assim, pela declaração de Josefo,o mês de
que Jerusalém tenha sido tomada num kislev(ou casleu)caiu em dezembro no ano
sábado, esse fato é também atestado pelo
69 d.C., o que não concorda com o ciclo
historiador romano Dio Cassius,que escre
rabínico, que o coloca em novembro (ver
veu sua História Romana entre 200 e 220
imagem 13, p. 107).
d.C., o qual afirma que Pompeu tomou a
cidade “no dia até então chamado dia de Esse é mais um ponto critico para o ci
Saturno” isto é,o sábado (saturday = dia clo rabínico, pois Josefo estava vivo em 69
de Saturno). d.C.,já tendo sido vencido e capturado pelos
romanos na guerra judaica - trata-se, pois,
É verdade que, nessa mesma citação, de uma testemunha contemporânea. A cor
Dio Cassius também situa a conquista de
respondência que ele estabelece entre o mês
Jerusalém por Herodes e Sósio num sábado, macedônico de appeleus e o mêsjudaico de
mas a análise astronômica do início do séti
casleu(kislev),ao falar da derrota e da morte
mo mês naquele ano(37 a.C.) não favorece de Vitélio,representa maisum forte argumen
essa afirmação. Para esse caso,é preferível to em desfavor do calendário rabínico.
um dia da expiação no domingo.
Em 63 a.C., 10 de tishri caiu em 23/24 Conclusão
de outubro,já que o sétimo mês começou ao
pôr-do-sol do dia 14 de outubro(ver imagem A análise que se procedeu acima revela
8, p. 105 e imagens 9 e 10, p. 106). que, ao menos para os vários anos indica-
dos,o ciclo rabínico não se harmoniza com
Mas, pelo ciclo rabínico, o dia da ex o calendário judaico dos tempos de Es^as
piação teria ocorrido um mês mais cedo e de Jesus ou com o calendário babilônico-
naquele ano, numa quinta-feira e não num persa dos dias de Daniel e de Ester.
sábado (ver imagem 11, p. 106, e imagem
12, p. 107).
A DISTORÇÃO DO CALENDÁRIO JUDAICO
É interessante que essa situação seja PELA REFORMA DE HiLLEL II
bem semelhante à da controvérsia entre 23
de setembro e 22 de outubro - embora 63 Os testémunhos da antigüidade que
a.C. não seja ciclicamente correspondente a acabaram de ser examinados atestam que
1844 -,pois,em 63 a.C., o dia da expiação o ciclo rabínico atual não representa uma
caiu bem tarde, em 23/24 de outubro.'* De continuidade dos calendários judaico e
que maneira os opositores da doutrina de babilônico-persa conforme praticados no
1844 tentarão fugir a essa estrondosa evi período que se estende do sexto século a.C.
dência histórica e astronômica é o que se ao primeiro século da era cristã e fazem
terá de esperar para ver. suscitar a dúvida quanto ao que provocou
essa distorção. Os parágrafos a seguir ten
tarão responder a essa questão.
Evidência do ano 69 d.C.- ano da
MORTE DE Vitélio Com a destruição do templo no ano 70 e
a dispersão definitiva dosjudeus no ano 135
De acordo com Josefo, o imperador da era cristã, deixou de existir um núcleo
Vitélio “teve sua cabeça cortada no meio decisório que definisse tanto a duração do
de Roma,[após] ter mantido o governo mês a cada lua nova quanto os anos em que
[por] oito meses e cinco dias” e a bata era preciso intercalar um décimo terceiro
lha que o levou à morte foi travada “no mês. Acrescente-se a isso o fato de que os
terceiro dia do mês de apelleus [casleu]”
diferentes grupos de emigrantes judeus
(tradução nossa)
se encontravam a muitos quilômetros de
De acordo com o especialista em crono distância uns dos outros e não será difícil
logia E. J. Bickerman, Óthon, predecessor entender por que as datas do calendário
88 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
[período do Império Neobabilônico] 10-20 se trata de uma seita judaica tardia, tendo
dias mais tarde que no presente”(tradução surgido no século 8 da era cristã. Não
nossa)"^. Isso parece indicar que o clima do representam, pois, uma tradição contínua
período do Primeiro Império Babilônico era desde os dias de Daniel, Esdras e Jesus.
mais quente que o do Império Neobabilô
Ademais, é oportuno corrigir aqui um
nico, e que o clima deste último era mais
conceito equivocado que se cristalizou no
frio que o da época atual.
imaginário popular adventista: o de que
Quando os caraítas atuais defendem exista um calendário caraíta assim
datas coincidentes com as do calendário como o é o calendário rabínico, o qual
rabínico, é evidente que sua análise está permita saber antecipadamente em que
afetada pelo aquecimento global. data juliana ou gregoriana cairá determi
nado dia e mês. Isso é absolutamente falso,
folhinha”
Um esquema ancorado no Céu pois não existe algo como uma
caraíta. Diferentemente do que ocorre no
Recentemente, a data de 22 de outubro calendário rabínico,a duração de qualquer
tem sofrído ataques da parte daqueles que, mês no sistema caraíta só é definida no seu
acreditava-se, eram seus originadores: os 29° dia: se o crescente lunar for detectado
caraítas. Em resposta a uma consulta feita ao pôr-do-sol, o novo dia dará início a um
por opositores da fé adventista, o caraíta novo mês, de modo que o mês corrente
Nehemia Gordon declarou que “o Yom Ki- ficará com 29 dias; não sendo detectado
ppur deve ter sido celebrado pelos caraítas mês corrente
o primeiro crescente, o
no final de setembro em 1844, de acordo avançará mais um dia,totalizando 30 dias.
com o ciclo rabínico dos 19 anos,e não no Da mesma forma, a necessidade ou nao
final de outubro”(tradução nossa)^*. da inserção do décimo terceiro mês no
Prímeiramente é importante ressaltar os sistema caraíta só é determinada no final
termos duvidosos com que Nehemia Gor do mês de adar, ao se examinar o estado
da cevada nos arredores de Jerusalem.
don expressa sua opinião (“deve ter sido
celebrado”). Evidentemente, ele não tinha estando propícia para sua colheita duas
acesso a nenhum documento de 1844 que semanas depois, na festa das primicias,
não se acrescenta o ve-adar; do contrario,
comprovasse a celebração do dia da expia-
ção em 23 de setembro pelos caraítas. insere-se o décimo terceiro mês.
Como pode ser demonstrado pela ima Retrocedendo 28.447 meses judaicos
gem do programa Sk}^ View Cafe^ o dia 27 desde o décimo dia do sétimo mês, chega-
de abril caiu numa sexta-feira, o que pre se obviamente a um dia 10, embora tal
enche perfeitamente o quadro cronológico método não permita determinar a que mês
dado pelo Novo Testamento: sexta-feira = esse dia pertence. O raciocínio é idêntico
15 de nisan (ver imagem 21, p. 111). ao que seria feito com base num calen
dário juliano-gregoriano. Por exemplo:
retrocedendo um mês desde o dia 22 de
Compreendendo a estrutura mate
outubro, chega-se ao dia 22 de setembro;
mática DA PROFECIA retrocedendo 12 meses,chega-se ao dia 22
Sendo conhecida a data exata da cruci- de outubro do ano anterior; retrocedendo
fixão (26/27 de abril do ano 31), basta re 28.447 meses, chega-se ao dia 22 de um
troceder 69,5 semanas proféticas ou 486,5 mês qualquer.Assim,fica matematicamen
anos para se chegar ao ponto de partida te demonstrado que o ponto de partida dos
2.300 anos é necessariamente o décimo dia
dos períodos proféticos de Daniel 8 e 9 e
depois avançar 2.300 anos para se chegar de algum mêsjudaico. A fi*ação de 0,0124
ao ponto correto indicado pela profecia mês corresponde a apenas 8,7888 horas,
valor bem inferior ao de um dia completo
para o dia da expiação em 1844. Mas isso
deve tomar como base o calendáriojudaico, (24 horas), sendo, portanto, insuficiente
lunissolar, no qual a data do dia da expiação para deslocar as extremidades do período
era fixada. Os parágrafos a seguir tentarão profético de dentro do dia da expiação. O
aclarar as relações matemáticas dos perío diagrama reproduzido na página 112(ima
dos proféticos entre si. gem 22) ajudará na compreensão de todo
esse raciocínio.
Para a realização dos cálculos, serão
adotados os valores do ano solar(365,2422 O INÍCIO E o FIM DAS 2.300 TARDES E
dias) e do mês lunar(29,53059 dias).^*
MANHÀS - CÁLCULO DO MÊS
O INÍCIO E o FIM DAS 2.300 TARDES E Descobrir o mês em que os 2.300 anos
MANHÃS - CÁLCULO DO DIA DO MÊS deviam começar exige que se raciocine
com base na seguinte constatação mate
Daniel 8:14 informa que, ao término mática e astronômica: após um ciclo de 19
das 2.300 tardes e manhãs, deveria ocorrer anos, os mesesjudaicos voltam a ocupar a
um evento de purificação do santuário. No mesma posição que tinham dentro do ano
cerimonial típico do Antigo Testamento, solar no começo do ciclo.^’
isso acontecia no décimo dia do sétimo
mês, quando o sumo sacerdote israelita Com isso em mente, depnvolve-se
entrava no lugar santíssimo do santuário o seguinte raciocínio: dividindo o total
de meses lunares existentes em 2.300
para purificá-lo dos pecados do povo (Lv
anos (28.447 meses) pela quantidade de
16:29; 23:27 e 32; 25:9; e Nm 29:7). Fi
mesesn lunares presentes em um ciclo
xando o término do período profético no
dia da expiação, basta retroceder 2.300 (235 meses"*®), chega-se ao total de ciclos
existentes em 2.300 anos: 121 ciclos + 12
anos para se localizar o ponto de partida
lunações (sobra).
do mesmo período.
Segue-se, então, o seguinte raciocínio: Retrocedendo 121 ciclos desde o
2.300 anos solares constituem 840.057,06 sétimo mês, chega-se naturalmente ao
dias (2.300 x 365,2422 = 840.057,06). sétimo mês. Retrocedendo ainda os 12
Dividindo esse valor pela quantidade de meses restantes, chega-se novamente ao
dias de um mês lunar, obtêm-se o total de sétimo mês.'*' Portanto, as 2.300 tardes e
meses lunares presentes em 2.300 anos, a manhãs têm de começar no sétimo mês
saber,28.447,0124(840.057,06 / 29,53059 do calendário judaico, o mês de tishri(ver
= 28.447,0124). novamente a imagem 22, p. 112).
94 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
portanto, de 12° 28’53”. A altitude da lua estivesse a uma grande altitude, sua dis
era de 11“ 51’43”. Embora esses valores, tância em relação ao sol era considerável,
quando projetados sobre o gráfico da permitindo sua visibilidade(ver imagem
revista Sky’ & Telescope^ coloquem a lua 32, p. 116).
praticamente em cima do limite de visibi A análise astronômica assegura que o
lidade, pode-se afirmar que as condições primeiro crescente foi visível ao pôr-do-
permitiam que o primeiro crescente fosse sol de 13 de outubro, o que faz de 13/14
visto (ver imagem 27, p. 114). Parker e de outubro o dia 1° de tishri, confirmando
Dubberstein também adotaram o pôr-do- 22/23 de outubro como o dia da expiação
sol desse dia para o início do mês,embora em 1844. Portanto, há sólido fundamento
tenham aplicado ao mês uma posição 44
dife no esquema profético e astronômico para a
rente na ordem dos meses do ano. data de 22/23 de outubro. Uma explanação
Tomando as 15h do dia 29 de outubro mais ampla e minuciosa do assunto pode
ser encontrada no site www.concertoeter-
de 457 a.C. como o ponto de partida dos
no.com ou no livro Chronological Studies
períodos proféticos de Daniel 8 e 9 e cami
nhando 840.057,06 dias(correspondentes Relatedto Daniel8:14 and9:24-27^ publi
aos 2.300 anos), chega-se às 16h26 do dia cado pela UNASPRESS.
23 de outubro de 1844 d.C.,em Jerusalém, Como foi dito brevemente, o começo
o que corresponde ao começo da manhã da manhã de 23 de outubro de 1844 d.C.
em Boston e Nova Iorque."*-^ Procede-se em Boston corresponde ao meio da tarde
6SS6 cálculo somando-se o total de dias do mesmo dia em Jerusalém. Foi possi
existentes em 2.300 anos (840.057,06 velmente nesse momento que o millerita
dias) à data juliana referente às 15h de 29 Hiram Edson teve sua famosa “visão do
de outubro de 457 a.C.(1.554.806,0417), milharal”, na qual diz ter visto os céus se
com o que se obtém o resultado de abrirem e Jesus entrar no santo dos santos
2.394.863,1017. Fomecendo-se esse valor do santuário celestial para receber o reino,
ao programa Redshift 2,a tela exibe o céu o domínio e a glória (Dn 7:13).'*^ Foi ali
de 23 de outubro de 1844, às 16h26 (ver que o cômputo profético das 2.300 tardes
imagem 28, p. 115). e manhãs se encerrou; e Deus, que nunca
Visto que as 2.300 tardes e manhãs pre Se permite ficar sem testemunhas,revelou
cisam terminar num dia da expiação, faz-se esse importante acontecimento para o
humilde fazendeiro. Pode-se dizer que foi
necessário avaliar se o dia 22/23 de outubro
ali, em certo sentido,que nasceu a teologia
podería ter sido o décimo dia do sétimo mês
adventista do sétimo dia, uma teologia não
naquele ano. Para tanto, o mês de tishri de
baseada na fantasia e na especulação, mas
vería ter começado ao pôr-do-sol do dia 13
na confiabilidade da Palavra de Deus, na
de outubro (ver imagem 29, p. 115).
inalterabilidade das leis naturais (Jr 31:35
Nessa ocasião, o azimute do sol era e 36)e na revelação divina(experiências de
de 26T 4’ 57” (ver imagem 30, p. 115) Hiram Edson e Ellen G. \^ite), podendo
e o da lua, de 24T 11’ 40”(ver imagem ser, por isso, considerada qual “âncora da
31, p. 116), sendo a diferença azimutal, alma”, “segura e firme”, um “firme fun
portanto, de 19° 53’ 17”. A altitude da damento”, estabelecida na fidelidade das
lua era de 9° 47’ 00”. Embora a lua não promessas de Deus(Hb 6:19; e 11:1).
Referências
'Um artigo publicado no The Muinight Or,de 3 que “o aniversário do dia da expiação será em 23 de
de outubro de 1844, afirmava que o dia da expiação outubro”. Na edição de 19 de outubro,o The Midni-
não podia “estar muito tora de 22 ou 23 de outubro”. ght Ciy trouxe a proclamação;“Eis que Ele vem! No
No mesmo periódico,em 12 de outubro, declarou-se décimo dia do sétimo mês,que corresponde a 22 ou
96 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
23 de outubro.”A data dupla,nesse caso,indica que o “ “A razão" para isso "é que as plantas usam
ciclo de 24 horas está sendo computado de pôr-do-sol seus relógios para sentir as estações, por meio do
a pôr-do-sol, segundo o método bíblico. comprimento do dia, garantindo que as flores nasçam
- Tudo indica que os mileritas basearam sua no tempo certo do ano. Algumas plantas, tais como
opção nos “relatos de muitos viajantes”,segundo os o trigo, florescem quando os dias ficam mais longos.
quais a cevada não era encontrada madura na páscoa Outras, tais como a cevada, florescem quando os
calculada pelo método rabínico, pois a “cevada não dias encurtam.”(“Molecules to Make Plants Tick.”
estava na espiga em Jerusalém até um mês mais tar New Scientist, n.“ 1.967 [Londres: Reed Business
de”{The Midnight Cry, de 11 de outubro de 1844). Information Ltd.,4 de março de 1995], 30,tradução
Um desses relatos é o testemunho de E. S. Colman, nossa). A Bíblia se refere aos frutos como “aquilo
em
um judeu convertido ao cristianismo e enviado como que o sol amadurece” (Dt 33:14), o que está
missionário à Palestina. Em seu artigo,escrito na Ter perfeita harmonia com a prática agrícola e com o
ra Santa em 1836 e publicado no American Biblical testemunho da ciência.
Reposiíory,de abril de 1840, p. 398 e seguintes, ele Momento do ano em que a luz solar atinge
afirma: “Nada como espigas de grãos verdes tenho os hemisférios norte e sul com o mesmo ângulo de
eu visto ao redor de Jerusalém na celebração dessa incidência.
festa. [...] Osjudeus caraítas a observam mais tarde ’ Outras fontes antigas que também situam os
que os rabínicos.”(Citado por J. V. Himes, S. Bliss, mesesjudaicos mais tardiamente dentro do ano solar
e A.Hale,no artigo “The Seventh Month Movement que o ciclo rabínico incluem os papiros encontrados
-Its History-Its Results- Defects in the Argument na colônia judia de Elefantina e os escritos de Euse-
- Our Position”, The Adventist Shield and Review, bio de Cesaréia. Infelizmente, o espaço deste a igo
janeiro de 1845, tradução nossa). Pode-se deduzir não permite que tais fontes sejam apresentadas e dis
do artigo de Colman que, por volta de 1836, os cutidas aqui. Uma análise mais completa do assunto
judeus caraítas estavam observando a páscoa mais será disponibilizada em breve no site http://www.
tarde que osjudeus rabínicos. Para maiores detalhes concertoetemo.com. .
sobre a matéria, ver o artigo “Karaite Reckoning vs. 8 Edward M. Reingold; Nachum Dershowitz,
Rabbanite Reckoning: Was October 22 the Right Calendrical Calculations, disponível em http:/ emr.
Date,or Was It September 23?”, no site http://www. cs.iit.edu/home/reingold/calendar-boo rs^ u„n.//
pickle-publishing.com. Já está disponível também numa nova \
^Números 28:11 e 14; 1 Samuel 20:5, 18, 19, emr.cs.iit.edu/home/reingold/calendar-boo
24, 27 e 34; e Isaías 66:23 vinculam o início do edition. Acessado em 01/03/2007. ,
niês à lua nova. A comparação de Números 10:10 ^ Roy E. Hoffman, Luna Cal 3.0 Beta 3, P -
com Salmos 81:3 reforça essa conclusão. Convém tível com Windows 95,98, Me, NT4-SP ou ,
notar, entretanto, que não se trata da lua nova 2000 e XP,disponível em http://www.geocmes_com/
astronômica (conjunção), pois esta, não sendo royhjl/software.htm, acessado em 01/ ●
10
visível, não se prestava como marco facilmente Marís Multimedia, Ltd, Redshift ,
identificável do início do mês; trata-se, antes, da patível com Windows 3.1, 95 1® ’
lua nova eclesiástica (primeiro crescente), que se Macintosh e Power Macintosh. Redshif -
fazia visível ao pôr-do-sol do dia da conjunção ou a teoria orbital D.E. 106. A precisão
dos dias subseqüentes. Filo de Alexandria(20 a.C. pode ser aferida pela comparação de suas e omen
-50 d.C.) afirma que “no tempo da lua nova, o sol com as fornecidas pelo site do Jet Propu ®
começa a iluminar a lua com uma luz que é visível boratory (Laboratório de Jato Propulsão da NAjiA.
aos sentidos, e então ela expõe sua própria beleza http://www.jpl.nasa.gov), que utiliza ^ ’
aos observadores” (Philo, The Works of Philo, http://ssd.jpl.nasa.gov/horizons.cgi. Acessa o em
Complete and Unabridged, New updated edition, 01/03/2007.
1“ ed.[Peabody, MA:Hendrickson Publishers,Inc., " Kerry Shetiine, Sky View Cafe 4.0 Beta, dis
1993], 572, tradução nossa). ponível em http://www.skyviewcafe.com/skyview.
^ Êxodo 9:31 e 32; Rute 1:22; 2:23; e 2 Samuel php, acessado em 01/03/2007.
12
21:9 e 10 confirmam que a cevada era o primeiro Abraham J. Sachs, Astronomical Diartes
grão a amadurecer no Egito e na Palestina. Essa é and Related Textsfrom Babylonia - completado e
a razão pela qual foi escolhida para compor o feixe editado por Herman Hunger, vol. 1 (Viena: Verlag
das primícias.Tanto Filo de Alexandria quanto Flávio der Ôsterreichischen Akademie der Wissenschaften,
Josefo se referem ao molho dos primeiros frutos da 1988),47.
cevada (Philo, The Works ofPhilo, 584; e Flavius Richard A. Parker; e Waldo H. Dubberstein,
Josephus,Antiquiíies oftheJews,livro 3,capítulo 10, Babylonian Chronology,626 B.C.-A.D. 75,“Brown
artigo 5, em The Works ofJosephus, Complete and University Studies”, vol. 19(Providence, R.I.: Brown
Unabridged, New updated edition [Peabody, MA: University Press, 1956). Esta obra é uma referência
Hendrickson Publishers, Inc., 1987], 96). padrão para historiadores, astrônomos e cronólogos.
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? /97
Lista os documentos cuneiformes que servem de base depois do equinócio do outono,que naquele ano caiu
para a determinação do início e do fim dos reinados em 22 de setembro.
19
dos soberanos babilônicos. persas e sírios, desde Flavius Josephus, The Wars ofthe Jews,livro
Nabopolassar até a anexação da Síria pelo Império 4,capítulo 11,artigo 4,em The Works ofJosephus,
Romano. Lista também os documentos que atestam Complete and Unabridged. New updated edítion.
a ocorrência de mês intercalar até a época de Arta- (Peabody, MA: Hendrickson Publishers, Inc.,
xerxes II. Além disso, apresenta uma reconstrução 1987),695.
20
provável do calendário babilônico-persa, com a E. J. Bickerman, Chronology ofthe Ancient
indicação do primeiro dia de cada mês, no intervalo World, ed. Rev (Londres: Thames and Hudson,
que se estende de 626 a.C. a 75 d.C. 1980), 207.
Flavius Josephus, The Antiquities oftheJews, Babylonian Talmud,Rosh Hashanah 21a,dis
livro 7, capítulo 14, parágrafo 7. em The Works of ponível em http://www.sacred-texts.com/judrindex.
Josephus, 208. htm, acessado em 01/03/2007.
22
“[...] e não tivesse sido nossa prática, dos dias Kenneth F. Doig, New Testament Chronology
de nossos antepassados, de descansar no sétimo dia, (Lewiston, NY: Edwin Mellen Press, 1990).
esse empreendimento não poderia ter sido realizado, A não-ocorrência de 1“ de nisan em data tão
em razão da oposição que os judeus teriam feito; baixa quanto 15 dias antes do equinócio pode ser
porque nossas leis permitem nos defendermos contra atestada por um exame cuidadoso das tabelas das
aqueles que começam a lutar conosco e nos assaltar, páginas 27-47 de Babylonian Chronology, para
entretanto não permitem nos intrometermos com 0 calendário babilônico-persa, e 157-159 de The
nossos inimigos enquanto eles fazem outra coisa. Chronology ofEzra 7(Siegfried H. Hom; e Lynn
Quando os romanos entenderam isso, naqueles dias H. Wood, The Chronology of Ezra 7, 2° ed„ rev.
que eram chamados ‘sábados’, eles não lançavam [Washington, DC: Review and Herald Publishing
nada contra os judeus, nem vinham para nenhuma Association, 1970]), para o calendário judaico em
batalha que lhes era travada, mas erguiam suas pla Elefantina [Egito]. No período abrangido por essas
taformas,e traziam suas máquinas para servirem-se tabelas, as datas realmente relevantes são aquelas
delas nos dias seguintes. [...] a cidade foi tomada em que a intercalação do décimo terceiro mês
no terceiro mês [do cerco], no dia do jejum, na está devidamente documentada por algum achado
centésima septuagésima nona olimpíada, quando arqueológico. No caso de Babylonian Chronology,
Caius Antonius e Marcus Tullius Cicero eram cônsules o catálogo dos documentos cuneiformes que iden
[...]”(Flavius Josephus, The Antiquities ofthe Jews, tificam os anos em que os meses intercalares foram
livro 14, capítulo 4, parágrafo 3. em The Works of inseridos ocorre nas páginas 4-9.
Josephus, 369, tradução nossa). “A prática de determinar o Ano Novo de
16 acordo com o Abib [cevada madura] é tão velha
Atos 27:9 se refere ao “tempo do jejum”. De
acordo com Levítico 16:29 e 31; e 23:27, 29 e 32, como a Torah. Nos tempos antigos, como hoje,
no dia da expiação osjudeus deviam “afligir as suas havia uma necessidade de anunciar que o abib fora
almas”,o que se aplica particularmente aojejum(ex.: encontrado, especialmente para aqueles no exílio,e
SI 35:13; e Is 58:3,5 e 10). Sobre a prática dojejum vários relatórios de abib antigos têm sobrevivido.
no dia da expiação, Josefo declara: “Entretanto, o O mais antigo relatório de abib remanescente data
sumo sacerdote não usava essas vestimentas em da última geração do período do segundo templo e
qualquer momento, mas[apenas] um vestuário mais é citado no Talmude.[...] Já que este relatório antigo
simples; ele somente as usava quando ele entrava na é um relatório rabínico de abib,ele reflete a mistura
parte mais sagrada do templo, uma só vez no ano; dos fatores de abib e de[outros fatores] não-bflílicos
no dia em que o costume é que todos observem um dessa seita. O relatório diz:‘Pois tem sido ensinado:
aconteceu uma vez que o mestre Gamaliel estava
jejum para Deus.”(Flavius Josephus, The Wars ofthe
Jews,livro 5,capítulo 5, parágrafo 7, em The Works sentando num degrau do Monte do Templo,e o bem
conhecido escriba Yohanan estava em pé diante dele
ofJosephus, 708, tradução nossa). Ver também The
Antiquities ofthe Jews,livro 17,capítulo 6, parágrafo com três folhas cortadas [de pergaminho] postas na
4; e livro 3, capítulo 10, parágrafos 2 e 3. sua frente.[O mestre Gamaliel disse]...tome a tercei
’’ Dio Cassius, Roman History, vol. 5, livro ra [folha] e escreva para nossos irmãos, os exilados
49, capítulo 22, artigo 7, Loeb Classical Library, da Babilônia e para aqueles na Média, e para todos
OS outros [filhos] exilados de Israel, dizendo: ‘Que
disponível em http://wvvw.penelope.uchicago.
edu/Thayer/E/Roman/Texts/Cassius_Dio/49*.html, sua paz possa ser grande para sempre!Pedimos para
acessado em 01/03/2007. informar que as pombas ainda estão tenras e os cor
"* Em 63 a.C., o dia da expiação(23/24 de outu deiros ainda estão muito jovens e o abib ainda não
bro)ocorreu 28 dias depois do equinócio do outono, está maduro. Parece aconselhável para mim e para
que naquele ano caiu em 26 de setembro. Em 1844, meus colegas adicionar trinta dias para este and’'
o dia da expiação(22/23 de outubro)ocorreu 31 dias (tradução nossa). Ancient Abib Reports, disponível
98 / PaROUSIA - r SEMESTRE DE 2007
no site oficial do movimento caraíta: http://www. do batismo e da crucifixão de Cristo, bem como do
karaite-komer.org, acessado em 01/03/2007. apedrejamento de Estevão. Ellen G. White afirma:
“Sacha Stem é doutor em Filosofia na área de “Até aqui, cumpriram-se de maneira surpreendente
Estudos Judaicos pela Universidade de Oxford e todas as especificações das profecias e fixa-se o início
chefe de Departamento da London School ofJewish das setenta semanas, inquestionavelmente, no ano
Studies. Para maiores informações biográficas sobre 457 antes de Cristo, e seu termo no ano 34 de nossa
0 Dr. Sacha Stem, ver o seguinte endereço; http:// era. Por estes dados não há dificuldade em se achar
www.ucl.ac.uk/hebrew-jewish/aboutus/stem.php, o final dos 2.300 dias. Tendo sido as setenta sema-
acessado em 01/03/2007. nas - 490 dias - separadas dos 2.300 dias, ficaram
26
Disponível em http://www.oxfordscholarship. restando 1.810 dias. Depois do fim dos 490 dias os
com/oso/public/content/religion/9780198270348/ 1.810 dias deveríam ainda cumprir-se. Contando do
toc.html, acessado em 01/03/2007. O acesso ao ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem a 1844.
conteúdo completo do livro é pago. Conseqüentemente. os 2.300 dias de Daniel 8:14
27 terminam em 1844. Ao expirar este grande período
J. Neumann;e S. Sigrist, Harvest dates in an-
cient mesopotamia as possible indicators ofclimatic profético, “o santuário será purificado . segundo
variations, disponível em http;//www.springerlink. o testemunho do anjo de Deus. Deste modo foi
com,acessado em 01/03/2007.0 acesso ao conteúdo definitivamente indicado o tempo da purificação do
do artigo é pago. santuário, que quase universalmente se acreditava
“ Robert K. Sanders, Day ofAtonement ofthe ocorresse por ocasião do segundo advento”(Ellen G.
KaraiteJews in 1844,disponível em http://www.tm- White, O Grande Conflito, 36‘‘ ed.[Tatuí, SP: Casa
thorfables.com/Day_of_Atonement_of_the_Karaite. Publicadora Brasileira, 1988] 328).
htm, acessado em 01/03/2007. M. L. Andreasen. Letters to the Churches
29 Books. Inc.), 39.
Que os mileritas não dispunham de informação (Payson, AZ: Leave.s-of-Autumn
específica acerca da situação da cevada em Jemsalém Disponível em http://br.geocities.com/cartas_andre-
no ano de 1844,fica evidente pelo exame da literatura asen, acessado em 01/03/2007.
adventista da época;“Neste ano,a primeira lua cheia Visto que a duração do ministério de Cristo
veio em 3 de abril; e se então a cevada estava madura, foi de 3,5 anos(Dn 9:27; e Lc 13:6-9) e que o ano
e a páscoa verdadeira[foi]então celebrada; ou se não 26 d.C. é a data mais recuada no tempo em que o
foi observada até a lua seguinte,nós não temos meios mesmo poderia ter iniciado(na verdade,o ministério
certos de saber. Como a primeira lua cheia veio tarde de Cristo começou no outono de 27 d.C.), po em
este ano, é provável que os Caraítas observaram a ser excluídas como opções para o ano da cruci xão
páscoa então, a menos que a cevada estivesse mais as datas de 26, 27, 28 e 29. Dos anos restantes da
tardia que o comum.Sefoi assim, segue-se que nós administração de Pilatos(26 d.C.-36 d.C.),apenas o
em breve estaremos no sétimo mês”(Advent Herald, ano 31 d.C. admite um 15 de nisan numa sexta-feira.
11 de setembro de 1844,tradução e grifo nossos).“É Os anos 30 d.C. e 33 d.C., que têm sido sugeridos
[algo] extraordinário que a páscoa, neste ano, deva por autores católicos e protestantes, admitem um 14
15 de nisan.
ter sido celebrada em 4 de maio, de acordo com o de nisan, mas de maneira alguma um
computo que nós temos adotado, baseado na crença numa sexta-feira.
33
Todos os anos do ministério de Jesus estão
de que o calendário rabínico está um mês mais cedo"
(Midnight Cry,7 de novembro de 1844, tradução e inseridos no governo de Pôncio Pilatos(Lc 3.1, 2,
grifo nossos).“[...]como o tempo,quando a colheita 21 e 22; 23:1-7; e 13-25). De acordo com Flavio
sen-
amadurecia, deve variar segundo a temperatura da Josefo,Pilatos governou a Judéia por dez anos,
estação, e outras circunstâncias, é óbvio que, para do depois enviado a Roma para se justificar perante
Tibério dos maus tratos infligidos aos samaritanos.
definir quando o primeiro mês caraíta começou,nós
devemossaber em que período a seara da cevada es “Mas quando esse tumulto foi acalmado, o senado
tava madura em Jerusalém em 1844.Se nós tivermos samaritano enviou uma embaixada a Vitélio, o qual
esse fato,então nós podemos saber quando o sétimo tinha sido cônsul, e que era agora o governador da
Síria, e acusou Pilatos de assassinato; pois eles
mês começou,e,certamente,com que dia em nosso
calendário o décimo dia coincidiría. Mas, não será não foram a Tirathaba a fim de se revoltar contra
dada a impressão de que, antes de outubro último, os romanos, mas para escapar da violência de
nós tínhamos recebido qualquer informação quanto Pilatos. Então Vitélio enviou Marcelo, um amigo
ao período da colheita da cevada em Jemsalém" seu, para cuidar dos negócios da Judéia, e ordenou
{The Morning Watch,6 de março de 1845, tradução que Pilatos fosse a Roma, para responder perante
e grifo nossos). o imperador pela acusação dos judeus. Assim, Pi
Ellen G. White também estava ciente de que latos, quando tinha completado dez anos na Judéia,
são as datas de meio(batismo e morte de Jesus)que apressou-se para Roma, e isso em obediência às
sustentam as datas de início e defim do esquema ordens de Vitélio, que ele não ousou contradizer;
cronológico de Daniel 8:14 e 9:24-27. Depois de falar mas antes que pudesse chegar a Roma, Tibério
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? /99
havia morrido" (Flavius Josephus. Antiquities of do evangelho de João, ou nas circunstâncias das
the Jews, livro 18, capítulo 4, artigo 2, em The próprias ocorrências que,após uma bem equilibrada
Works ofJosephus. 482, tradução e grifo nossos). interpretação,requeira ou permita que creiamos que
Suetônio, historiador romano do primeiro século, o discípulo amado tenha tencionado ou corrigir ou
informa que Tibério “morreu... com setenta e oito contradizer o testemunho explícito e inquestioná
anos de idade e vinte e três de reinado,aos dezessete vel de Mateus, Marcos e Lucas (o testemunho de
dias antes das calendas de abril, sob o consulado de que Jesus e seus discípulos comeram a refeição da
Cnéio Acerrônio Próculo e de Caio Pôncio Nigrino” páscoa no dia regular, conforme citado no Lange’s
(Suetônio, A Vida dos Doze Cé.sares, 2“ ed. reform. Commentary,in loc.)’”(Russell Norman Champlin,
[São Paulo,SP: Ediouro,2002], 130). Pela listagem O Novo Testamento Interpretado Versículo por
de E. J. Bickerman, em Chronology'ofthe Ancient Versículo [Guaratinguetá, SP: Sociedade Religiosa
World, Cnéio Acerrônio Próculo e Caio Pôncio A Voz Bíblica Brasileira], 600). A suposição de que
Nigrino exerceram seu consulado em 37 d.C. O a morte de Cristo tinha de ocorrer no mesmo dia
décimo sétimo dia antes das calendas de abril é 16 em que o cordeiro pascal era imolado é apressada e
de março. Portanto, a morte de Tibério ocorreu em superficial, pois Cristo também era representado por
16 de março de 37 d.C. Levando em consideração todos os outros animais sacrificados no cerimonial
a distância existente entre Jerusalém e Roma e que judaico, mas nem por isso, por exemplo,Ele teve de
Tibério já havia morrido quando Pilatos chegou à ser crucificado no dia da expiação, quando o bode
cidade imperial, o término de seu governo pode ser expiatório era imolado.Ellen G.White confirma que
situado no final de 36 d.C. ou no começo de 37 d.C. “no dia em que a páscoa era comida, Ele [Cristo]
Como ele esteve à frente dos negócios da Judéia devia ser sacrificado”(Ellen G. White, O Desejado
por dez anos, o início de sua administração pode de Todas as Nações, 19“ ed.[Tatuí, SP: Casa Publi-
ser fixado no final do ano 26. cadora Brasileira,1995j,642,grifo nosso). Apáscoa
34
Alguns têm interpretado erroneamente certas era comida já no dia 15 de nisan, que foi, portanto,
declarações do evangelho de João e sugerido que a a data judaica da crucifixão. Uma discussão mais
crucifixão tenha ocorrido em 14 de nisan, porém os exaustiva do assunto, inclusive quanto ao cumpri
sinóticos não deixam dúvida de que a data correta é mento antitípico do festival das primícias, símbolo
15 de nisan. Seguindo o ritual prescrito pela Lei, os da ressurreição de Cristo, o qual era celebrado o
discípulos prepararam a páscoa na tarde de quinta- dia imediato ao sábado”(Lv 23:12), o primeiro a
feira(14 de nisan)e a comeram depois do pôr-do-sol, da semana, pode ser encontrada no site http./
já nas primeiras horas da sexta-feira bíblica (15 de concertoetemo.com ou no livro Chronological Stu-
nisan). Ver Mateus 26:17 e20; Marcos 14:12 e 17; e dies Related to Daniel 8:14 and 9:24-27.
35
Lucas 22:7 e 14. A expressão “preparação da páscoa” Mateus 27:62; Marcos 15:42 (ver tambern
João 19:14 e 31
em João 19:14 se refere simplesmente à sexta-feira 16:1 e 2); Lucas 23:54-24:1; e
numa sexta-feira,
da semana da páscoa, pois o dia que precedia o sá atestam que a cracifixão ocorreu . Ver
bado era conhecido como “dia da preparação”(Mt cujo nome bíblico era o “dia da preparação
27:62; 28:1; e Lc 23:54-56; cf. Ex 16:5, 22, 23 e Êxodo 16:22-30. .
36
29). O sábado após a morte de Cristo pode ter sido Sky & Telescope Magazine(Cambridge, MA.
considerado um “sábado grande”(Jo 19:31)apenas New Tract Media Company).Disponível também em
por ter ocorrido dentro da semana dos pães asmos e versão online, no endereço: http://skyandtelescope.
com. Acessado em 01/03/2007.
não devido a uma suposta sobreposição de um sábado
semanal com uma festa cerimonial. Por fim, João O azimute do sol era de 279“ 16’31”e o da lua,
de 276“6’54”,sendo a diferença azimutal,portanto,
18:28 não precisa ser interpretado em desarmonia
de 3“ 9’ 37”. A altitude da lua era de 11“ 28’47”. A
com os sinóticos, no sentido de que a páscoa teria
lua estava abaixo do limite de visibilidade.
sido celebrada na noite de sexta para sábado, pois
talvez os sacerdotes não tivessem participado da ceia Visto que o calendário judaico depende tanto
por terem estado envolvidos na prisão e julgamento do sol(por causa do amadurecimento da cevada,es
de Jesus e ainda pensassem em comê-la antes que o sencial para a festa das primícias)quanto da lua(por
causa do início do mês na lua nova), os conceitos e
dia avançasse. Jesus deixou claro que aquela refeição
valores de ano solar e de mês lunar(lunação)devem
de quinta-feira à noite era uma ceia pascal(Lc 22:15).
Para que a crucifixão ocorresse em 14 de nisan,Jesus ser aplicados aos períodos proféticos, pois estes estão
deveria ter antecipado a celebração da ceia, o que atrelados às datas de festasjudaicas(o 15 de nisan e o
Ele não estava na liberdade de fazer, pois veio para 10 de tishri),fixadas na base do sistema lunissolar. Os
cumprir a lei (Mt 5:17 e 18; e Gl 4:4). “Após exa valores do ano trópico(solar)e do mês sinódico(lu
minar criteriosamente todo esse problema, Robinson nar)são fornecidos pelo The Astronomical Almanac
declarou qual a sua conclusão a respeito:‘Após repe for the Year 1995(Washington,DC:Nautical Alma
tida e calma consideração, na minha mente repousa nac Office of the United States Naval Observatory.
a firme convicção de que nada existe, na linguagem Londres: Her Majesty’s Nautical Almanac Office of
100 / PaROUSIA - 1“ SEMESTRE DE 2007
the Royal Greenwich Observatory). calendário juliano. consiste numa escala, idealizada
Em outras palavras, isso quer dizer que uma pelo astrônomo Joseph Scaliger. cujo objetivo é indi
data do calendário Judaico só volta a coincidir com vidualizar cada momento por um número diferente.
o mesmo ponto do ano solar após um período de 19 Assim, meio-dia(12h)de T de Janeiro de 4713 a.C.
anos. Exemplo:se,num determinado ano, 1“ de nisan (ponto inicial do período)é identificado pelo número
cair em 21 de março(equinócio atual),o mesmo só se 0,0000; 12h01 desse mesmo dia Já é representado
repetirá 19 anos depois. Isso ocorre porque 19 anos pelo número 0,0007; 12h do dia 2 de Janeiro têm
solares possuem praticamente o mesmo número de como designação o número 1,0000. Para se obter a
dias de 235 meses lunares, que é o total de lunações data Juliana de um dado momento, pode-se utilizar
presentes em 19 anos. A diferença é mínima: um o excelente programa de conversão disponível neste
excesso de 0,08685 dia(ou de 2,0844 horas)do ciclo endereço: http://aa.usno.navy.mil/data/docs/Julian-
lunar sobre o ciclo solar. Date.html, acessado em 01/03/2007.
44
Em cada ciclo de 19 anos, 12 anos são de 12 O The Seventh-day Adventist Bible Commen-
meses e 7, de 13. Logo, 19 anos lunissolares perfa fary, vol. 3, p. 108 e 109, reproduzindo as tabelas
zem 235 meses lunares(12x 12 + 7 x 13 = 235). de Hom (p. 158)e de Parker e Dubberstein (p. 32),
41 situa o mês de tishri em setembro e não em outubro
Em 2.300 anos, há 121 ciclos completos de
19 anos e mais 12 meses lunares. Após 2.299 anos no ano de 457 a.C. Evidentemente, essa opção não
(que correspondem aos 121 ciclos), a diferença de + se coaduna com o Yom Kippur em 22/23 de outubro
2,0844 horas se acumula em + 10,50885 dias(2,0844 no ano de 1844, pois o término dos 2.300 anos nessa
X 121 = 252,2124 - 24 = 10,50885). Isso significa data requeriria que o início do período também
que o esquema lunissolar está terminando dez dias tivesse ocorrido num mês de outubro. Todavia,
depois do esquema puramente solar. No entanto, nem Horn, nem Parker e Dubberstein apresentam
funda-
avançando mais um ano(os 12 meses de sobra),essa qualquer documentação contemporânea para
diferença é corrigida, pois o ano puramente solar é mentar sua opção por um tishri em setembro no ano
cerca de 10 dias maior que o ano lunar(354,36708 de 457 a.C. Existe a possibilidade de que um décimo
-365,2422 = -10,87512). terceiro mês tivesse sido intercalado no final do ano
42
Foi na noite anterior à crucifixão que Jesus babilônico correspondente a 458/457 a.C., deslo-
exclamou: “Pai, é chegada a hora” (Jo 17:1). Foi cando tishri para um mês mais tarde em 457 a.C. A
também nessa noite que Jesus confirmou sua decisão sugestão de Parker e Dubberstein quanto a um mes
de se oferecer pela raça pecadora(O Desejado de intercalar no final do ano babilônico correspondente
Todas as Nações,690 e 693). Ellen G. White também a 457/456 a.C. não está amparada em documentação
anos 14[591/590
enfatiza a noite como ponto decisivo: “A morte do da época. Por outro lado, para os
cordeiro pascal era sombra da morte de Cristo. Diz a.C.] e 33 [572/571 a.C.] de Nabucodonosor (p.
Paulo:‘Cristo, nossa páscoa,foi sacrificado por nós’ 28) e 3 [553/552 a.C.] de Nabonido (p. 29), que
(ICo 5:7). [...] Aqueles símbolos se cumpriram, correspondem ciclicamente a 458/457 a.C.(a cada
não somente quanto ao acontecimento mas também 19 anos,as datas do esquema lunar voltam a ocupar
quanto ao tempo. No dia catorze do primeiro mês praticamente a mesma posição dentro do ano solar),
Judaico,no mesmo dia e mês em que,durante quinze Babylonian Chronology> apresenta documentação
longos séculos, o cordeiro pascal havia sido morto. arqueológica para a inserção de mês intercalar que
Cristo, tendo comido a páscoa com os discípulos, Justifique um tishri em outubro e não em setembro
instituiu a solenidade que devería comemorar sua de 457 a.C. Há, pois, razoável apoio documental
própria morte como o ‘Cordeiro de Deus que tira na cronologia babilônica das épocas de Daniel e de
..
o pecado do mundo’. Naquela mesma noite Ele Jesus para se posicionar o mês de tishri em outubro,
foi tomado por mãos ímpias, para ser crucificado no caso, de 1844.
45
e morto” {O Desejado de Todas as Nações, 399, A hora do sacrifício da tarde ocupa posição de
even¬
grifo nosso). Daniel 9:27 afirma que no “meio da destaque na história bíblica, pois nela ocorreram
tos particularmente importantes,dentre os quais podem
semana” o Ungido faria “cessar o sacrifício e a oferta
de manjares”. Na ceia pascal, “Cristo se achava no ser citados, a título de exemplificação, o sacrifício do
ponto de transição entre dois sistemas e suas duas cordeiro pascal (Êx 12:6), o fogo que desceu do céu
grandes festas”(O Desejado de Todas as Nações, sobre o altar de Elias(IRs 18:26, 27, 29, 36 e 38), a
652, grifo nosso). Ellen G. White também assevera revelação das 70 semanas(Dn 9:21)e o fim da agonia
que “quando comeu a páscoa com seus discípulos, de Jesus sobre a cruz(Mt 27:46,47 e 50). A “visão do
Ele pôs umJim aos sacrifícios que por quatro mil anos milharal” possivelmente ocorreu no mesmo momento
tinham sido oferecidos” (Ellen G. White, em The do sacrifício da tarde em Jerusalém, pois a diferença
Seventh-day Adventist Bible Commentary, 5:1139, de sete fusos horários faz com que as 8h da manhã em
ed. rev.[Washington,DC:Review and Herald, 1976], Boston(ou 7h em Port Gibson,onde Edson vivia)cor
tradução e grifo nossos). respondam às 15h em Jerusalém.Em Jerusalém,o 10 de
O período Juliano, que nada tem a ver com o Tishri se estendeu do pôr-do-sol do dia 22 ao pôr-do-sol
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? / 101
do dia 23 dc outubro. Em Boston, o dia da expiação, saído do santíssimo do santuário celestial para virá
calculado pelo horário de Jenisalém. estendeu-se de Terra no décimo dia do sétimo mês, no término do
cerca de 1 Oh 15 da manhã do dia 22 a cerca de 1 Oh 15 da 2.300 dias, neste dia, Ele havia entrado pela primei
manhã do dia 23 de outubro[vale lembrar que o sistema ra vez no segundo compartimento desse santuário,e
de fiisos horários, como é conhecido hoje, dividindo o que Ele teria uma obra a fazer no lugar santíssimo
mundo em 24 zonas, de 15" cada, só foi proposto em antes de vir à Terra. Nesta data, Ele havia entrado
1878 e aceito intemacionalmente depois de 1884]. nas bodas;em outras palavras, diante do Ancião de
Portanto, nos EUA, o dia da expiação calculado por Dias, a fim de receber um reino, domínio e glória;
Jerusalém ocorreu mais para dentro do dia 22 do que do e que nós devemos esperar por seu retomo das
dia 23.0 ponto alto do dia da expiação era o sacrifício bodas; e minha mente foi dirigida para o capítulo
da tarde, quando o sumo sacerdote, tendo completado 10 de Apocalipse; onde eu pude ver que a visão
o ritual prescrito para a purificação do santuário, saía havia falado e não mentiu; o sétimo anjo havia
e abençoava o povo. É bem apropriado, pois, que as começado a fazer soar sua trombeta; nós tínhamos
2.300 tardes e manhãs se estendam do meio da tarde comido 0 livrinho; tinha sido doce em nossa boca,
do dia 10 de tishri em 457 a.C. ao meio da tarde de 10 e agora tinha se tomado amargo em nosso estôma
de tishri em 1844. go, amargando todo o nosso ser. Que nós devemos
46 profetizar outra vez, etc., e que quando o sétimo
Segue-se o trecho do manuscrito de Hiram
anjo começou a tocar, o templo de Deus foi aberto
Edson que descreve a experiência: “Nossas ex
no Céu, e lá foi vista em seu templo a arca de seu
pectativas eram muito grandes, e assim estivemos
testamento,etc. Enquanto eu me encontravaparado
esperando a vinda de nosso Senhor até que o relógio
no meio do campo, meu companheiro havia seguido
badalou as 12 batidas da meia-noite. O dia havia
caminhando quase mais que o alcance da voz,antes
acabado e nosso desapontamento tornou-se uma
de perceber que eu não o acompanhava. Quando
certeza. [...] Choramos e choramos até o amanhe
me perguntou por que me havia detido por tanto
cer [...] Comecei a sentir que deveria haver luz e
tempo,eu respondi:‘O Senhor estava respondendo
ajuda em nossa angústia presente. Disse a alguns
à nossa oração matutina, dando-nos luz sobre o
irmãos: ‘Vamos ao galpão’. Entramos no celeiro,
desapontamento.”’ Fragmento de um m^uscnto
fechamos as portas e nos inclinamos diante do
não datado de Hiram Edson, mantido no Hentage
Senhor. Oramos ferventemente porque sentíamos
Room da Andrews University Library, traduçao e
nossa necessidade. [...] Depois do desjejwn disse a Internet no endereço:
um de meus irmãos:‘Vamos visitar e animar alguns grifo nossos, disponível na ● j/r» foo
http://www.sdadefend.com/sdadefend-old/Oct22.
de nossos irmãos.’ Assim o fizemos,e.fui detido na
htm, acessado em 01/03/2007.
metade de um campo extenso, que cruzávamos. O
céu pareceu abrir-se diante de mim,e vi distinta e
claramente que,em vez de nosso sumo sacerdote ter
102 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
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110 / PaROUSIA - 1” SEMESTRE DE 2007
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121 ciclos X 235 meses lunares = 28.435 meses lunares
*Obs.: cada ciclo de 19 anos contém 235 meses lunares
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Cálculo do Mês
69,5 semanas = 486,5 dias = 486,5 anos
486,5 anos = 486 anos +6 meses
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ENTENDENDO O GRAFICO:
1. Cálculo do Dia do Môs.Em 2.300 anos há 28.447 meses completos. Retrocedendo 28.447 meses desde o dia 10
do sétimo mês(Tishrí),chega-se evidentemente ao dia 10de algum mês.
2. Cálculo do Môs.Em 2.300 anos há 121 ciclos completos de 19 anos e mais um ano de 12 meses. Depois de um
ciclo completo, os meses judaicos voltam a ocupar a mesma posição dentro do ano solar em que estavam no
começo do ciclo. Retrocedendo 121 ciclos desde o sétimo mês, chega-se naturalmente ao sétimo mês.
Retrocedendo ainda os 12 meses restantes,chega-se novamente ao sétimo môs.
3. Cálculo do Dia do Môs. Em 486,5 anos há 6.017,1615 meses lunares. Avançando 6.017 meses lunares desde o
dia 10 do sétimo mês,chega-se ao dia 10 de algum mês.Avançando 4,7 dias, equivalente a 0,1615 mês,chega-
se ao dia 15.
4. Cálculo do Môs. Avançando 486 anos desde o sétimo mês, chega-se ao sétimo mês. Avançando 6 meses,
equivalente a 0,5ano,chega-se ao primeiro mês(Nisan).
Conclusão.As 2.300 tardes e manhãs começam e terminam na data anual da Festa da Expiação e as 69,5 semanas
proféticas, começando à hora do sacrifício da tarde dessa mesma data, avançam até a noite de 14 para 15 de Nisan,
quandoo sacrifício pascal era comido.
Imagem 22(gráfico)
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Chegou a revista eletrônica que você precisava para manter 0 seu ministério
atualizado. Por meio de artigos, pesquisas bíblicas, resenhas de livros,
entrevistas e notícias você encontra informação e conhecimento num só endereço.
www.unasp.edu.br/kerygma
A crença de que o Israel nacional tem um papel essencial no
cumprimento profético dos eventos finais baseia-se na
interpretação dispensacionalista das Escrituras. Esta escola entende
as profecias de forma literalista e abre caminho para inúmeras distorções
hermenêuticas. Há diversos sites populares na internet,, a mair>*^ia deles
disponibilizados por evangélicos fundamentalistas americatios, que
defendem de forma dogmática o lugar de Israel no quadro profético. O dia 14
de maio de 1948, quando a nação de Israel ganhou reconhecimento dos
Estados Unidos e das Nações Unidas, em 24 horas, tornou-se ama data
celebrada por estes crentes,com o status de marco profético do fim dos tempos.
Tem Israel um papel decisivo nos eventos escatológicos? Como se
mlacionam a igreja cristã e o conceito de um povo de Israel escoltiido por
eus? Quais as implicações da crença num Israel nacional para a no^a aliança
umversal estabelecida com a morte de Cristo?
A
^ questão não é se Israel deve existir como uma nação, rnas se a
existencia e srael como uma nação no território Palestino representa um
cumprimento
com as profético. Os vários artigos desta edição de Parou^ía tratam
1- . fundamentais envolvidas na hermt^íiêutica
ispensacjonahsta.entre elas, a dicotomia entre Israel e a igreja, o cq^^ceito de
Israel e o futuro escatolog.co. Com mais esta edição temática Parou^a avança
no cumprimento de sua missão no <if^r,úAr. v
●1-1 , ● ~ ^ sentido de defender e apreserttar uma
equilibrada visao bíbbca que valoriza as FsrriM,*-^ < - r ,
interpretativa. Escrituras como sua prof,,rJa fonte
SEMINÁRIO ADVENTISTA
Latino-americano de Teologia