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Ano 6 - N° I . Revista do Seminário AdventistaLatino-Americano de Teologa .Sede BrasíU-Sul


I® Semestre de 2007
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»●
AS FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ

ESTÊVÃO, ISRAEL E A IGREJA

ISRAEL E O NOVO ISRAEL

O NOVO 'ISRAEL': A CONSTRUÇÃO DA IDEOLOGIA


DO MESSIANISMO AMERICANO

23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO?
A NOVA ABORDAGEM À LUZ DA ASTRONOMIA

UNASPRESS
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Ano6-
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1. Revista do SeminArio Adventtsta Latino-Amepicano de Teologia.Sede Brasil-Sul
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Editores
Amin A. Rodor e Alberto R. Timm

Editores associados
Vanderlei Domeles e Renato Groger

Programação visual e revisão


Renato Groger

Capa
Geyvison Souto

Parousia
uma
Seminário Adventista Latino-Americano
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4.000 exemplares
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Ano6'N- 1 . REvisTAOoSEMiNÀRtoAovENnsTALatino-AmericanodeTeologia.SedeBrasil-Sul

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Biüuoii-íca ümveráil&na
CENTRO UNIVERSnARIOADVFNnsWDE
SAOMULO Perioaicos

30/3 /29- 1° Semestre de 2007

BfBUOTECAUNIVERSrTARIA
LSijbstiluição □Pemiula ,
[^EnconL Bibliol ^Doação
O Novo Israel

Editorial 5

Artigos

Israel na profecia bíblica 1


Gerhard F. Haseí, Ph.D.

As festividades israelitas e a igreja cristã 29


Ángel Manuel Rodríguez, Th.D.

Estêvão, Israel e a Igreja 39


Wilson Parosclh, Ph.D.

Israel e o novo Israel. 53


AminA. Rodor, Th.D.

O novo ‘Israel’: a construção da ideologia do messianismo americano 67


Vanderlei Dorneles, Th.M.

23 de setembro ou 22 de outubro? Uma nova abordagem à luz da astronomia 83


Flenderson H. Leite Velten eJuarez Rodrigues de Oliveira
Editorial

A escola dispensacionalista de interpretação bíblica transformou o Antigo Testamento


em num tipo de playground para toda sorte de distorções hermenêuticas. O quadro é
deploravelmente difundido, com toda sorte de especulações infundadas, resultado das
ginásticas do rígido literalismo interpretativo que governa essa escola. O número de
sites populares na internet parece se multiplicar a cada semana. A maioria é disponi
bilizada por evangélicos fundamentalistas americanos, em sua defesa dogmática do
lugar do moderno Israel no quadro profético dos últimos dias. Para George Konig, por
exemplo,“Isaías predisse o renascimento \modernó\ de Israel.”' Citando o profeta (Is
66:6-8), ele conclui que tal profecia cumpriu-se espetacularmente em 14 de maio de
1948, quando a moderna nação de Israel ganhou reconhecimento dos Estados Unidos
e das Nações Unidos, em 24 horas. Para este autor, à semelhança de muitos outros,
“o status de Israel como uma nação soberana, foi estabelecido e reafirmado durante o
curso de um único dia”-, precisamente como indicado pela profecia bíblica.
Evidentemente, a questão fundamental não é se Israel deveria existir como uma na
ção, mas se a existência de Israel como uma entidade nacional, no território Palestino,
representa um cumprimento profético, como advogado pelo dispensacionalismo, com
as suas enormes implicações,sobretudo, escatológicas. Como solidamente argumentado
nos vários artigos deste número de Parousia, a leitura dispensacionalista das Escrituras,
baseada em uma radical dicotomia entre Israel e a Igreja^ é conseqüência de uma for
midável má compreensão hermenêutica, desacreditada por qualquer leitura cuidadosa
das Escrituras. O sionismo dispensacionalista, errôneo em seu fundamento teológico,
tende a identificar o moderno Estado de Israel com o Israel do Antigo Testamento,
abrindo, assim, a porta para toda sorte de impropriedades interpretativas.
Mais moderada, mas não menos truncada, é a tradicional e também consideravel
mente difundida pressuposição de que os judeus permanecem, através da era cristã,
como povo escolhido de Deus, retendo privilégios especiais e um papel relevante nos
planos divinos. Tal compreensão, contudo, desconsidera o claro testemunho do Novo
Testamento quanto à mudança inaugurada na história de Israel, bem como na história da
salvação, pelo primeiro advento de Jesus Cristo. Fundamentalmente, seria no mínimo
anacrônico que os cristãos continuassem a ler as Escrituras como se Jesus, o Messias
cristão, não tivesse vindo, como se o Novo Testamento não tivesse sido escrito, ou
ainda, como se fosse possível fazer voltar o relógio da história bíblica.
Esperamos que nossos leitores sejam beneficiados por esta nova edição temática
de Parousia, focalizando um dos tópicos mais atuais da teologia cristã, importante
sobretudo por seus desdobramentos e potencial de confusão.

Fratemalmente,

Amin A. Rodor
10 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

a mais antiga escola de interpretação das Tem-se afirmado que o futurismo está
quatro conhecidas no presente. Pode ser “batendo à nossa porta”’’, à porta do histo-
descrita como o método histórico contínuo ricismo, insistindo para ser recebido. Seu
de interpretação profética porque compre objetivo é modificar, desafiar e,se possível,
ende a profecia bíblica como contínua e substituir o método historicista de inter
consecutiva no que concerne às seqüências pretação profética que tem moldado tão
preditas de impérios e eventos nos livros proftmdamente o cristianismo em geral e o
de Daniel e Apocalipse. As profecias são protestantismo nos últimos séculos.
vistas a desenrolar-se em cumprimento
histórico desde o tempo do escritor bíblico Escola futurista
até o eschaton, o fim do mundo e a nova
criação, sem uma interrupção ou uma la A quarta grande escola de interpretação
cuna na visão profética. profética conhecida como futurismo* se
tomou uma parte importante do dispen-
O historicismo toma a descrição bíblica sacionalismo moderno. O futurismo tem
de predição profética, não importa que ela
profundas raízes na Contra-Reforma por
seja de curto ou de longo alcance, ao pé meio do emdito jesuíta espanhol Francisco
da letra. Segue a descrição bíblica da re- Ribera (1537-1591).’’
velação divina aos seres humanos(a saber,
profetas) em que Deus realmente predisse Ribera punha o cumprimento profético
o que iria acontecer no próximo ou distante no futuro.
(até mesmo muito distante) futuro. A es Em 1590,Ribera publicou um comentário sobre
cola historicista de interpretação não pode o Apocalipse como uma contra-interpretaçào à opi
existir sem a aceitação da afirmação bíblica nião [historicista] prevalecente entre os protestantes
de que Deus tem absoluto conhecimento que identificavam o papado com o anticristo. Ribera
prévio ou presciência da história e que Ele aplicou todo o Apocalipse menos os primeiros capítu
tem feito conhecido por antecipação o que los ao fim do tempo em vez de à história da igreja. O
ocorrería no futuro. anticristo seria um simples indivíduo maligno que se
ria recebido pelosjudeus e reconstruiría Jerusalém...
O historicismo aceita a ênfase bíblica de
e dominaria o mundo por três anos e meio.-“
profecia condicional com relação ao antigo
povo da aliança,ou Israel.As profecias acer Ribera foi subseqüentemente apoiado
ca de Israel devem ser cumpridas enquanto pelo Cardeal Roberto Belarmino (1542-
e apenas se Israel permanece obediente à 1621),2' que se opôs ao princípio dia-ano
aliança que lhe foi concedida por Deus. e relacionou o “chifre pequeno” do livro
Se Israel deixasse de guardar a aliança, de Daniel, geralmente identificado com o
então Deus não seria capaz de cumprir au papado, com o rei selêucida Antíoco IV,
tomaticamente as promessas que lhe fez no do segundo século a.C., que perseguiu os
passado. Deus permanecería leal às Suas judeus(veja 1 Macabeus).
promessas,mas elas seriam cumpridas com Entre os primeiros protestantes futu
aqueles que lhe fossem fiéis. Esse fiel povo ristas estavam importantes figuras como
remanescente de Deus não está restrito aos
S. R. Maitland, James H. Todd e William
descendentes étnicos de Abraão.
Burgh. Eles declararam explicitamente
O historicismo tem sido o método de nas décadas de 1820 e 1830 que seguiam
interpretação respeitado por sua antigui a Ribera.22 A partir de então, o futurismo
dade pela maioria dos crentes na Bíblia foi rapidamente adotado no sistema do
desde o início do cristianismo até o início dispensacionalismo que se desenvolveu da
do século 20. O historicismo, porém,tem década de 1830 em diante.
encontrado significativos competidores
nos outros três métodos de interpretação
As CRENÇAS FUTURISTAS DOS DIAS ATUAIS
(principalmente o futurismo) no cristianis
mo evangélico contemporâneo a partir da O futurismo dos dias de hoje vê o esta
segunda metade do século 20. belecimento do Estado de Israel como um
Israel na profecia bíblica /11

cumprimento direto da profecia bíblica.-^ se no conceito de que todas as promessas


Declara Leon J. Wood,preeminente escritor feitas ao antigo Israel são incondicionais e,
dispensacional-futurista:“O mais claro sinal portanto,devem ser literalmente cumpridas
da volta de Cristo é o moderno estado de no “Israel natural”. Este literalismo exige
Israel.”-'* Escreve o extensamente lido Hal que as porções proféticas e apocalípticas
Lindsey:“O mais importante sinal profético das Escrituras se relacionem principal
a proclamar a era do retomo de Cristo” e mente com o futuro, isto é, depois do final
“um dos mais importantes eventos de nossa da presente era ou dispensação da igreja,
época” é a fundação do Estado de Israel que representa uma lacuna ou parêntese na
em 1948.-^ Dispensacionalistas e futuristas profecia.^^ Essa chamada “era da igreja” é
também vêem a reunificação de Jemsalém considerada fora da visão bíblica da pro
em 6 dejunho de 1967 como um sinal direto fecia.^'* Além disso, a Bíblia é interpretada
26
do cumprimento da profecia. de tal maneira que a afirmação é reforçada
pelos dispensacionalistas-fiituristas de que
Há uma esperada reconstmção de um
nem o Antigo nem o Novo Testamento têm
templo em Jemsalém que, na opinião de
algo a ver com a igreja.A Bíblia, afirma-se,
muitos, deverá ocorrer na metade do perí
não toma conhecimento de uma igreja ou
odo de tribulação de sete anos.-"^ Qualquer
o tempo que ela ocupará. Com o suposto
visitante hoje em Jemsalém pode ir a um
silêncio bíblico da dispensação da igreja,
local específico e examinar os utensílios
toda profecia não-cumprida acerca do
que estão preparados para esse templo a
ser constmído. antigo Israel e relacionada com ele é pro
jetada para o futuro, porque a igreja não é
O futurismo acredita que na dispensação percebida como sendo a legítima herdeira
milenial final outro templo será constmído, de qualquer das promessas feitas por Deus
o templo milenial, em que os judeus lite no passado.
ralmente sacrificarão outra vez animais,
No futurismo o cumprimento profético
mas não num sentido expiatório. Eles serão deve vir no futuro e deve centralizar-se em
“memoriais do único e completo sacrifício
tomo de Israel como nação,^^ o Oriente
de Cristo.”28
Médio, inclusive a vinda de um futuro
No futurismo há o amplamente anteci anticristo e do falso profeta. Um papel
pado “arrebatamento secreto”^’ de todos os significativo é designado à Rússia,^® e uma
verdadeiros crentes, o qual deverá ocorrer literal batalha do Armagedom que ocorrerá
antes da grande tribulação.^® Nenhum crente na Palestina,^’ e assim por diante.
tem de passar pela apavorante tribulação.
No historicismo os crentes passarão Origem do dispensacionalismo
pela tribulação do “tempo de angústia” O futurismo está ligado ao dispensa
incólumes e especialmente protegidos pelo cionalismo. O “dispensacionalismo mo
braço poderoso de Deus; no futurismo os derno”^* tem sua origem nos ensinos de
crentes serão arrebatados para o Céu no John N.Darby(1800-1882),^® um educado
início da tribulação. Somente os incrédulos advogado que se tomou um escritor prolífi
experimentarão a grande tribulação do fim co com mais de 53 volumes,cada um com
do tempo na opinião do dispensacionalis- uma média de 400 páginas.'*® Darby foi um
mo-futurismo.
dos primeiros líderes do Movimento dos
Irmãos, de Plymouth na Inglaterra.'*' Em
Principal conceito na 1845 ele se desligou por causa de assuntos
interpretação futurista de eclesiologia e profecia para formar os
“Irmãos Exclusivos”,também conhecidos
Em contraste com o “historicismo”^',
como “darbyistas”.
o “futurismo” baseia-se no método litera-
lista de interpretação dispensacionalista.^- O segundo impulso fundamental para
Deve ser claramente compreendido que no 0 dispensacionalismo veio de Cyms In-
futurismo o cumprimento profético baseia- gerson Scofield (1843-1921), advogado
12/ PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

e legislador do Kansas, que produziu as laçam e definem a essência da interpretação


anotações para a original Bíblia de Refe dispensacional-fliturista. Sendo que as duas
rência de Scofield. Ela foi publicada pela primeiras são “aspectos básicos da escato-
primeira vez em 1909 e passou por uma logia futurista”'*^, elas precisam de análise
mais recente revisão em 1967. Essa Bíblia mais cuidadosa neste tempo.
com suas extensas anotações tem sido
uma importante força para popularizar o Distinção entre Israel e a igreja
dispensacionalismo.
A distinção entre Israel e a igreja, nas
Há outros nomes importantes que mol
palavras do bem-conhecido expoente
daram 0 dispensacionalismo em tempos
dispensacionalista. Charles Ryrie,é “pro
mais recentes. Entre eles estão Lewis Sperry
vavelmente a mais básica prova teológica
Chafer/2 e, mais recentemente. Amo C.
sobre se alguém é ou não um dispensa
Gaebelein,H.A.Ironside,Charles Caldwell
cionalista, e é sem dúvida a mais prática
Ryrie,J. Dwight Pentecost,Leon J. Wood e, e conclusiva.
»»50
é claro,John F. Walvoord,presidente eméri
to do Seminário Teológico de Dallas. Esta distinção entre Israel e a igreja,
Em anos recentes o livro The Late isto é, sua total separação, é também
uma coluna da interpretação futurista da
Great Planet Earth^^ [O futuro do grande
planeta Terra], de autoria de Hal Lindsey, profecia e da escatologia dispensacio-
nalista.^' Isto significa que toda a noção
reivindicou ter sido traduzido para mais de de uma “lacuna” ou intervalo entre a 69*»
30 línguas, vendido mais de 30 milhões de
e a 70** semana de Daniel 9:24-27 tem
exemplares em seus primeiros dez anos de
sua origem nessa distinção. A alegada
publicação.'*^ Escrito para os leigos, esse li
resultante dispensação da Era da Igreja
vro tem trazido popularidade sem preceden
tes para o futunsmo-dispensacionalista.
45 (supostamente fora da profecia bíblica
no sentido em que nem o Antigo nem o
A maioria dos pregadores populares de Novo Testamento conhece algo acerca do
rádio e TV ao redor do mundo pertencem período da igreja) baseia-se na distinção
ao
campo de interpretação profética dis- de Israel e a igreja.
pensacionalista-futurista. A abordagem dis-
pensacionalista-íuturista é dominante entre Podemos ver que esta distinção entre
os cristãos conservadores de muitas igrejas Israel e a igreja é o fundamento da es
protestantes em todos os continentes. catologia futurista e da interpretação dos
eventos do fim do tempo. Portanto, é de
O dispensacionalismo moderno de vital importância investigar a evidência
fende tenazmente que a história desde a bíblica para esta suposta distinção.
criação até o futuro reino milenial está
46
dividida em sete diferentes dispensações.
Argumentos para a distinção
Elas formam uma parte fundamental da
hermenêutica dispensacional-futurista de Israel/igreja
interpretação bíblica em geral e a inter
Segundo o futurismo e o dispensacio
pretação profética literalista pela qual ela nalismo, o termo “Israel” se refere aos
se mantém.'*''
judeus terrestres (ou judaísmo), isto é, o
“Israel natural”,e a igreja se refere ao povo
Colunas da interpretação celestial. Declara um preeminente escritor
profética futurista dispensacionalista: “Toda esta distinção
entre Israel e a igreja baseia-se no caráter
Há três colunas essenciais do dispensa
cionalismo. Elas estão unidas ao futurismo: singular da igreja. A igreja é exclusiva
quanto à sua natureza, seu tempo e sua
(1)A distinção radical entre Israel e a igreja; relação com Israel.
(2)a insistência em uma interpretação literal
Osto é,literalista)da Bíblia;e(3)o princípio Qualquer compreensão adequada dos
unificador da glória de Deus."** Elas se entre- fortalecedores fundamentos do futurismo e
Israel na profecia bíblica /13

sua opinião sobre Israel deve prestar plena que a Bíblia usa o termo “Israel” ela quer
atenção à relação da igreja com Israel. Afir dizer os judeus literais, étnicos, e quando
ma-se que a Igreja é o misterioso corpo de quer que a igreja é mencionada ela é sempre
Cristo^^ e o tempo da suposta dispensação uma entidade espiritual. A igreja nunca é
da Era da Igreja se estende do Pentecostes identificada com Israel, e Israel nunca é
54
ao rapto ou arrebatamento. identificado com a igreja.
55
Toda a teoria do rapto pré-tribulação,
que significa “que a igreja será arrebatada Análise bíblica da distinção
da Terra antes do início da tribulação”,^^ Israel/igreja
“origina-se na distinção entre Israel e a
igreja”^’. Forma uma das características Como esta importante coluna da her
básicas da escatologia dispensacionalista- menêutica dispensacionalista-futurísta se
fiiturista.^® Uma enumeração completa das comporta à luz da mensagem bíblica total?
diferenças entre Israel e a igreja foi provida Se for constatado que o Antigo e o Novo
em uma lista de vinte e quatro contrastes Testamentojamais sustentam tal distinção,
fornecida pelo pioneiro escritor dispensa- o próprio fundamento do dispensaciona-
cionalista Lewis Sperry Chafer,^^ fundador lismo e suas opiniões futuristas de Israel
serão destruídos.
do Seminário Teológico de Dallas. Elas são
resumidas por J. Dwight Pentecost.^® Significaria, em segundo lugar, que a
O ponto essencial desta diferenciação projeção de eventos a serem cumpridos
é que Israel é a entidade para a qual todas por meio do “Israel natural”, no futuro
as promessas do Antigo Testamento fo próximo na Palestina, ou no futuro dis
tante durante o milênio na Terra, não tem
ram feitas. Portanto, as promessas devem
fundamento bíblico.
ser literalmente cumpridas com o Israel
literal, natural, étnico - não com a igreja, Uma terceira inferência é que se a
que outros cristãos definem, baseados na separação radical de Israel e a igreja
evidência do Novo Testamento, como não se sustenta, então todo o conceito
“Israel espiritual”. de uma Era da Igreja com sua lacuna ou
Este cumprimento começou a ocorrer parêntese careceria do apoio que para ele
é reivindicado.
em 1948, quando o estado de Israel foi
fundado na Palestina. Estender-se-á até o Em quarto lugar, toda a idéia do “rapto
reino milenial, isto é,o milênio.“A igreja”, secreto” seria rebaixada,^ uma vez que a
afirma-se, “não está agora cumprindo-as mesma está ligada à distinção entre Israel
em nenhum sentido literal.”^' Assim,Israel e a igreja.
verá todas elas cumpridas de um modo li
Evidentemente, os riscos são altos.
teral principalmente durante o milênio que
Examinemos cuidadosamente as principais
será experimentado na Terra.^-
evidências bíblicas.
Afirma-se que a igreja é uma entidade
de um tipo essencialmente “espiritual” e Israel no Antigo Testamento
as promessas feitas ao antigo Israel não se
aplicam à igreja. Charles Ryrie sintetiza Nossa atenção deve voltar-se para o An
a seguir: tigo Testamento.É nele que encontramos o
o uso das palavras Israel e igreja mostra claramente nome “Israel” pela primeira vez.
que no Novo Testamento o Israel nacional continua
A designação “Israel” tem várias cono
com suas próprias promessas e a igreja nunca é
tações.^^ Este fato em si, como veremos,
equiparada com um assim chamado “novo Israel”,
mas é cuidadosa e continuamente distinguida como é um elemento importante que vai contra
uma separada obra de Deus nesta era.^^ a afirmação do futurismo e do dispensa-
cionalismo de que o uso da designação
Os intérpretes dispensacionalistas-fu- é especialmente uniforme ao longo do
turistas continuam insistindo que sempre Antigo Testamento.
14 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

Uma pessoa não permanecia o fator exclusivo sobre


o qual se constituía a entidade Israel no
Para começar, “Israel” é o nome dado
período pós-Êxodo. A totalidade do povo
ao patriarca Jacó:“Já não te chamarás Jacó
de Israel, constituída de descendentes ét
e sim Israel, pois como príncipe lutaste
nicos juntamente com o “misto de gente”
com Deus e os homens e prevaleceste” de descendentes não-étnicos, foi chamada
(Gn 32:28). Sua luta “com Deus”, e “com
a adorar a Deus(Êx 4:22, 23). Eles foram
o anjo” (Os 12:3-4), “simboliza a nova
designados “Israel, seu povo” em Êxodo
relação espiritual de Jacó com Jeová e re
18:1,e, posteriormente,como “a congrega
presenta o reconciliado Jacó por meio da
ção do Senhor”(Nm 20:4). Assim,o termo
graça perdoadora de Deus.”^^
“Israel” parece ser mais inclusivo do que
Resumindo, o uso inicial do termo mera afiliaçào étnica.
“Israel” na Bíblia faz dele um termo para
uma pessoa, um indivíduo,e não um povo Nação santa
ou uma nação.®’ Jacó é caracterizado e
identificado por meio de uma relação de fé Deus chama Israel para ser uma “nação
com Deus. Não há nada na primeira parte santa” (Êx 19:6). O termo “nação” (gôy)
da Bíblia que tome Israel exclusivamente não é típico de Israel no Antigo Testamento
ou regularmente um termo para uma nação (cf. Dt 4:6-8). O termo típico usado para
ou povo. Não há também nenhuma ênfase o povo de Deus no Antigo Testamento é
sobre linhagem física ou étnica. “Israel” é povo”(‘am).
um termo para uma pessoa que expressou Israel, porém, é chamado para ser uma
uma verdadeira resposta de fé e relação de “nação {gôy). Isto é assim por causa da
fé com o Deus da aliança. soberana eleição de Deus e não por causa
Essa primeira conexão entre “Israel” e de qualquer afiliação étnica ou mera linha-
69
fé dificilmente é acidental. Parece preparar gem. Israel é um povo especial em sua
o terreno para o que deve seguir-se no eleição e não um “povo ‘secular’”.
Antigo Testamento. Israel é uma comunidade de fé e a fé tor
na Israel essa comunidade especial.’® Nesse
Descendentes de Jacó Israel “o que importa não é a afiliação
No livro de Gênesis há 43 utilizações étnica; o que importa não é o natural, mas
do nome “Israel”. Destas, 29 se referem a muito singularmente seu relacionamento
Jacó,um indivíduo. Os usos restantes men com Jeová’”'. Aqui nós encontramos mais
cionam os “filhos de Israel” no sentido dos uma vez o aspecto da fé como a noção fun
“filhos de Israel/Jacó”.“As tribos de Israel” damental do verdadeiro Israel de Deus.
são usadas duas vezes(Gn 49:16, 28). Todo este elemento de fé está radicado
No livro de Êxodo o patriarca Jacó é em Abraão,o pai dos fiéis, que é chamado
mencionado duas vezes pelo nome “Is da Mesopotâmia para Canaã(Gn 12:1-3).
rael” (Êx 6:14; 32:13). Em 41 exemplos, Aqui também a promessa lhe é dada de
começando com Êx 4:22, o nome “Israel” que ele seria uma “nação” {gôy). O termo
é empregado para o Israel a ser redimido “nação”{gôy)é usado para “descrever um
da escravidão egípcia.®* Consistia na maior povo em termos de sua afiliação política
e territorial’”-
parte dos descendentes étnicos de Jacó, e,
respectivamente, de Abraão. O termo amplamente usado “povo”
(‘am) para o antigo Israel é uma expres
Composição de descendentes étnicos são típica para “consanguinidade e uma
91 paternidade racial comum” O uso de
E UMA “multidão MISTA
ambos os termos para o antigo Israel (na
No Êxodo os israelitas foram acom ção/povo) significa que Israel consistiría
panhados por “um misto de gente” (Êx de uma população composta de relação de
12:38). Isto revela que sua origem étnica sangue e povo; ainda que faltando a relação
Israel na profecia bíblica /15

de sangue, partilharia a mesma fé. Desse por bem o castigo da sua íníqüidade,então,
modo, Israel é uma entidade espiritual em me lembrarei da minha aliança com Jacó,
harmonia com o desígnio de Deus para e também da minha aliança com Isaque, e
Abraão(Gn 12:1-3; 17:4,5)e,assim,Israel também da minha aliança com Abraão,e da
saiu do Egito tanto como descendentes étni terra me lembrarei”(Lv 26:40-42).
cos quanto como uma “multidão mista” ou
Esta inequívoca declaração indica que
um “misto de gente”. O verdadeiro Israel
a promessa da terra não era incondicional:
do passado deveria ser uma comunidade de Estava condicionada à obediência de Israel
fé onde a linhagem étnica jamais fosse o ao Senhor. Somente um Israel obediente e
critério exclusivo para pertencer a Israel.
fiel reteria a posse da terra.

Comunidade da aliança A terra mencionada nas alianças feitas


com Abraão,Isaque e Jacó não é prometida
No monte Sinai, Deus fez uma aliança incondicionalmente aos descendentes dos
com Israel para que esse redimido Israel patriarcas, porque é parte da aliança abraâ-
da fé pudesse permanecer em uma relação mica(Gn 12:7; 26:5,6)que em si mesma é
contratual de fé com Deus(Êx 19-24). Isra condicional no que depende da obediência
el é uma comunidade religiosa ou de fé. humana(Gn 12:1; 12:7; 15:9, 10; 17:1, 9;
Israel é, ao mesmo tempo, uma comu 18:19; 22:17-19; 26:5).” Ninguém negará
nidade política que tinha de funcionar ao que a aliança abraâmica está ligada a luna
lado de outras nações do mundo antigo. verdadeira relação de fé com Deus(Gn 15:6)
76
Nesta dupla função como uma entidade que foi demonstrada por Abraão.
religiosa e política/nacional Israel deveria
experimentar todas as promessas da aliança Uma parte da nação
enquanto permanecesse fiel ao Senhor(Dt
26-28). Em inúmeras passagens do Antigo
Testamento a palavra “Israel” não é usada
Toda promessa da aliança já feita por como uma designação para toda a nação
Deus é condicional, dependendo de Israel das doze tribos. Alguns exemplos bastam
guardar a aliança com seu Senhor(Lv 26-27; para demonstrar esse uso restrito.
Dt 26-28).’'* As promessas da aliança são de
pendentes da fidelidade do povo da aliança. Em 1 Samuel 17:52 e 18:16,“Israel [é]
As promessas da aliança não deveríam vir claramente usado para denotar uma entida
automaticamente a Israel segundo a carne, de diferente de Judá””. Há 48 ocorrências
ou segundo uma linhagem étnica. Essas da palavra “Israel” em 2 Samuel como uma
promessas da aliança permaneciam depen designação do território do Reino do Norte,
dentes da fidelidade de Israel ao seu Deus. sem incluir o Reino de Judá.”
O que importa é uma relação de fé baseada Uma espécie semelhante de distribui
na aliança e não na origem étnica.
ção foi anotada por F. Anderson e D. N.
Freedman no livro de Amós. Eles obser
Obediência à aliança: pré-requisito vam que quando o nome “Israel” aparece
PARA A PROMESSA DA TERRA no livro de Amós, se refere ao Reino
do Norte,” exceto em Amós 9:7 onde
Um aspecto de fé e obediência é espe
parece se referir a Israel em seu sentido
cificamente ressaltado nas bênçãos e mal coletivo. Mesmo se alguém discorda de
dições de Levítico 26 e já ligado à aliança
algumas passagens, é certo que “Israel”
feita com Abraão, Isaque e Jacó. Se Israel realmente se refere muitas vezes ao Reino
persistisse na desobediência ao Senhor,en do Norte.
tão o Senhor levaria Israel para o exílio e “a
terra descansará”(v. 34).“Mas se[o Israel Em 33 utilizações das 43 do livro de
no exílio] confessarem a sua iniqüidade e a Oséias,“Israel” é compreendido como uma
iniqüidade de seus pais,... se o seu coração designação para o Reino do Norte.^® Suge
incircunciso se humilhar, e tomarem eles re-se que em cerca de 564 usos no Antigo
16/ PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

Testamento “Israel” se refere ao Reino do de Deus desde o tempo em que o Israel


Norte e, em outras utilizações, se refere nacional apostatou.
ao Reino do Sul.*' Outras vezes, pode se
referir a ambos os reinos. Sumário

Remanescente fiel A palavra Israel é usada em vários


sentidos no Antigo Testamento. Primeiro,
Houve tempo em que Israel como é usada para um indivíduo, Jacó, que é
entidade religiosa e nacional apostatou e chamado por outro nome, “Israel”, para
participou do culto religioso pagão. Como assinalar sua experiência de conversão e
resultado, um remanescente de fé tomou- sua nova relação espiritual com Deus.
se o verdadeiro Israel de Deus no Antigo
Em segundo lugar, a designação “Is
Testamento.Por exemplo, no nono século, rael” é usada para o Israel do Êxodo, que
o remanescente israelita fiel consistia de
foi escravizado no Egito e redimido por
Elias e dos sete mil que permaneceram leais Jeová para adorá-lo como uma comunidade
a Deus e à sua aliança dentro de uma nação
religiosa da aliança. Esse Israel incluía a
israelita apóstata(1Rs 19:18). “multidão mista” e não é meramente um
A experiência de Elias revela que o ver “Israel natural”.
dadeiro Israel é“um remanescente leal à fé Em terceiro lugar, o antigo Israel é de
da aliançajeovística”*^. Esse remanescente
signado como “nação”(gôy em hebraico),
fiel não dobraria os joelhos a Baal. Desse indicando que é constituído de pessoas que
tempo em diante, o verdadeiro Israel de não estão limitadas à consangüinidade, ou
Deus é uma entidade religiosa de pessoas relação de sangue, mas que se propunha a
fiéis e leais, mesmo que haja também o ser uma nação santa”. O que se leva em
Israel infiel como uma entidade nacional.
conta é uma relação de fe e o caráter espi
O último é um Israel apóstata. O Israel ritual do povo.
apóstata não herdará as promessas da alian
ça de Deus, porque ele não é mais fiel ao Quarto,“Israel” como uma designação
seu Deus da aliança. Isto é explicitamente pode ser usado para a nação como um
expresso na fórmula “Não-Meu-Povo” de todo, ou somente para o Reino do Norte,
Oséias 1:9. ou apenas para o Reino do Sul,ou para am
bos como um reino unido. Israel é também
No livro de Amós a descrição é a mes um termo que é empregado para a nação
ma. O “restante de José” do qual Amós
apóstata que é rejeitada por Deus e a res
profetizou(Am 5:15) é um remanescente
fiel de Israel. O Israel nacional ou natural peito da qual Deus diz: “Não-Meu-Povo”
(Os 1:9). Eles violaram a aliança de Deus
é rejeitado e não é o remanescente.*^
e se desqualificaram para ser o seu povo.
Isaías afirma explicitamente que o rema Esse Israel é rejeitado por Deus e não será
nescente de fé do futuro será uma “santa abençoado com as promessas da aliança.
semente”(Is 6:13)que “estão inscritos em
Quinto, Israel é uma designação usada
Jemsalém,para a vida”(4:3). Eles “herda
para um remanescente fiel que sai do Israel
rão as promessas da eleição e formarão o nacional ou vive dentro/ao lado do Israel
núcleo de uma nova comunidade de fé”(Is
84 nacional. Esse remanescente de fé herda
10:20s; 28:5s; 30:15-17). todas as promessas da aliança de Deus. Este
Ezequiel afirma que esse remanescente ponto de vista é apoiado pela aliança abraâ-
fiel terá um “coração novo” e um “espírito mica (veja principalmente Gn 17:10, 14;
novo”(Ez 11:16-21). O tema remanescente 18:19; 22:15-18; 26:4-5) onde a promessa
é usado nos profetas do Antigo Testamento da aliança está ligada repetidamente à obe
somente em um sentido religioso-teológico diência que mantém viva a promessa.
e nunca em um sentido étnico-nacional.
Resumindo, no Antigo Testamento o Existem predições que revelam que
remanescente de fé é o verdadeiro Israel os crentes gentios serão incorporados a
Israel na profecia bíblica /17

esse remanescente israelita fiel (Is 46:3-4; Igreja: herdeira das promessas do
45:20;56:6-8;66:19).“A descrição total do Antigo Testamento
remanescente escatológico do Antigo Tes
tamento revela que as bênçãos da aliança O problema da herança das promessas
de Israel como um todo serão cumpridas, do Antigo Testamento pela igreja é de
não em um Israel nacional incrédulo, mas grande importância. Vem S. Poythress
somente naquele Israel que é fiel a Jeová e suscita várias interrogações decisivas:“De
confia em seu Messias.”85 quais promessas do Antigo Testamento
Cristo é herdeiro? Ele é um israelita?
Em resumo,o Antigo Testamento indica Ele é a descendência de Abraão? Ele é o
que a afirmação dispensacional-fliturista herdeiro de Davi?”’° Ele responde citando
que sustenta que somente o “Israel natu- 2 Coríntios 1:20: “Porque quantas são
ral”^^ experimentará as promessas feitas as promessas de Deus, tantas têm nele
por Deus não pode harmonizar-se com a [Cristo] o sim.” A frase, “quantas são as
evidência bíblica*^. A evidência vétero-
promessas de Deus”, significa todas as
testamental revela claramente desde o
promessas de Deus. Elas encontram seu
princípio que somente um povo fiel herdará “sim” em Cristo.
as promessas concernentes à terra feitas na
aliança abraâmica.
2 Coríntios 1

Israel no Novo Testamento Nenhuma das “promessas de Deus”


feitas no Antigo Testamento estão fora
Como a palavra “Israel” é usada no
de Cristo. Ele é o “sim”, o foco e cum
Novo Testamento? Os dispensacionalistas-
primento de todas as promessas feitas no
flituristas afirmam que a distinção radical
passado.^' Este texto provê uma resposta
entre Israel como um povo literal e a igreja cristocêntrica à questão da herança das
como um povo espiritual é mantida ao lon
promessas do Antigo Testamento. Tal res
go do Novo Testamento. Charles Ryrie se
posta cristocêntrica do Novo Testamento
refere a 1 Coríntios 10:32 em sua afirmação vai contra o argumento dispensacionalista-
de que “o Israel natural e a igreja são tam
friturista que vincula as promessas a um
bém contrastados no Novo Testamento”*®.
Israel étnico e literal.
Este texto-prova precisa de alguma atenção
e lidaremos com ele posteriormente. É feita uma segunda pergunta: “Ora,
de quais destas promessas são os cristãos
Hans LaRondelle rebate o argumento herdeiros em união com Cristo?” Segui
de Ryrie a seguir:
mos aqui os pontos incisivos feitos por
A questão não é:“O Novo Testamento contrasta Poythress,o qual recorre às passagens dos
a igreja com o Israel natural?” mas antes:“A igreja escritos do apóstolo Paulo ao responder a
é chamada ‘o Israel de Deus’ no Novo Testamento este assunto.
e ela é ali apresentada como o novo Israel, o único
herdeiro de todas as prometidas bênçãos da aliança
de Deus para o presente e para o futuro?”®’ COLOSSENSES 2

Em Colossenses 2:9-10 Paulo afirma


Se a igreja for identificada no Novo
que os seguidores de Cristo são “com
Testamento como o Israel de Deus, então
pletos” nele. Diz o verso 10: “Nele vocês
a principal coluna do dispensacionalismo- têm sido feitos completos” (NASB).
futurismo estará sem fundamento também
Nossa ligação com Cristo nos provê de
no Novo Testamento.
completude ou inteireza em Cristo, uma
Dois problemas exigem consideração. inteireza que inclui também todas as
Um é a identificação da igreja como o Israel promessas das quais Cristo é herdeiro.
de Deus. O outro é se a igreja herda todas Por meio de Cristo todos os crentes, não
as promessas do Antigo Testamento. Abor importa sua origem nacional ou étnica,
daremos estes problemas a seguir. são herdeiros.*^^
18 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

Romanos 8 Abraão e herdeiros segundo a promes


sa.” A idéia aqui é que aqueles que são
Em Romanos 8:32 Paulo enfatiza mais de Cristo são também “herdeiros” das
especificamente:“Aquele que não poupou promessas dadas por Deus ao seu povo
o seu próprio Filho, antes, por todos nós o no Antigo Testamento.
entregou, porventura, não nos dará gracio
samente com ele todas as coisas?” Deus nos A carta aos Gálatas afirma que “não
dá com Cristo “todas as coisas”, inclusive pode haver judeu nem grego; nem escra
as promessas feitas ao seu povo no Antigo vo nem liberto; nem homem nem mulher;
Testamento. porque todos vós sois um em Cristo Je
sus”(G1 3:28). A distinção entre israelita
As três palavras, “todas as coisas” são e não-israelita, ou Judeu e gentio, com
intencionalmente compreensivas. “Todas respeito à salvação é removida. Todos
as coisas” inclui tudo e não omite nada. Se
os seres humanos partilham da mesma
nada é omitido,então em Cristo e com Cris salvação e promessas feitas àqueles que
to são dadas a todos os crentes “todas as
são o povo de Deus.
coisas”,inclusive as promessas previamen
te feitas a Abraão e seus descendentes. Se é este o caso, quem é a descen
dência/semente de Abraão? É a des
Retomamos a um texto adicional de
cendência/semente de Abraão apenas o
Romanos 8 onde este tema é desenvolvido
Judeu étnico? De maneira nenhuma. A
ainda mais explicitamente. Insiste Paulo nos descendência/semente de Abraão consiste
versos 16-17: “O próprio Espírito testifica
de crentes Judeus e gentios; aqueles que
com o nosso espírito que somos filhos de aceitaram a Cristo como seu Senhor e
Deus. Ora, se somos filhos, somos também Salvador. A descendência/semente de
herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros
Abraão são os que pertencem a Cristo
com Cristo.” Está aqui uma afirmação quan
e não aqueles que são o “Israel natural”
to a quem são os “filhos de Deus”. como querem sustentar os dispensacio-
Os cristãos são “filhos de Deus”. Mas nalistas-futuristas.
os crentes não são filhos órfãos ou filhos
deserdados. Somos filhos com todos os É salientado corretamente que “o Israel
de Deus” mencionado em Gálatas 6:16 “é
direitos e privilégios de filhos adotivos. E
uma qualificação profundamente religio
isto significa que aqueles que pertencem
a Cristo são “herdeiros de Deus”. Como sa” que não pode ser restrita aos israelitas
étnicos.’^ Um comentarista recentemente
filhos de Deus somos “co-herdeiros com
resumiu o significado da expressão “o
Cristo.” Isto quer dizer que herdamos o que
Israel de Deus” como segue:
ele [Cristo] herda.^'* Todos os crentes em
Cristo tomam-se herdeiros das promessas A expressão [Israel de Deus] não signi
do Antigo Testamento por meio dele que é fica os incrédulos membros do povo judeu,
o herdeiro dessas promessas. igualmente não significa o povo judeu em sua
totalidade e nem mesmo os cristãos judeus que
Assim,não há possibilidade de separar o não se converteram, mas todos os crentes em
“Israel natural”, do qual é dito ser terrestre, Cristo sem levar em consideração a sua origem
<J6
da igreja, que é constituída pelos “filhos de étnica ou religiosa.
Deus”na Terra(embora os dispensacionalis-
tas afirmem serem “celestiais”). O verdadeiro Os membros crentes da Igreja são o
Israel de Deus é co-herdeiro de Cristo. “Israel de Deus” e os herdeiros de todas as
promessas por meio de Jesus Cristo, com
quem eles são co-herdeiros.
Gálatas 3 e 6
seu
Paulo provê idéias adicionais ao Efésios 2 e 3
argumento. Ele declara de modo ine
quívoco em Gálatas 3:29: ‘ E, se sois Em Efésios o apóstolo continua susten
de Cristo, também sois descendentes de tando que há uma integração dos gentios
Israel na profecia bíblica /19

na comunidade dos fiéis. Os gentios, que foram quebrados “pela sua incredulidade”
outrora estavam “sem Cristo,... e estranhos (v. 20). O que importa é o assunto de fé,
às alianças da promessa”,não são mais “es não afiliação étnica. Não-israelitas, isto é,
trangeiros e peregrinos, mas concidadãos gentios, foram enxertados e são parte da
dos santos, e sois da família de Deus”(Ef oliveira “somente pela fé” (v. 20, RSV).
2:12, 19). A descrença mantém tanto judeus quanto
gentios separados da oliveira cultivada.
Em Efésios 3:5-6 Paulo reafirma que os
Mas os ramos de israelitas incrédulos, que
crentes gentios e israelitas são juntos her
foram quebrados, podem ser outra vez
deiros das promessas de Deus,“os gentios enxertados em sua oliveira cultivada, “se
são co-herdeiros, membros do mesmo corpo
não permanecerem na incredulidade” (v.
e co-participantes da promessa em Cristo
23). A idéia é que os israelitas físicos po
Jesus por meio do evangelho”(v. 6). dem ser readotados como crentes na nova
Esta descrição coerente de Paulo em comunidade da fé.
Romanos,Coríntios, Gálatas, Colossenses
A comunidade da fé, simbolizada pela
e Efésios não apóia a distinção entre um
oliveira cultivada, da qual os ramos de
“Israel natural” e a igreja, a qual é cons judeus incrédulos foram removidos e os
tituída de judeus e gentios convertidos, e ramos de crentes gentios foram enxertados
ambos, por meio de Cristo,sãojuntamente consiste somente de crentes,crentesjudeus
co-herdeiros das promessas divinas do
e crentes gentios. Dentro deste contexto, a
Antigo Testamento.’'' frase “todo o Israel será salvo”’’se refere a
todos os crentesjudeus e gentios que serão
100
Parábola da oliveira salvos (v. 26).
A famosa seção de Romanos 9-11, que Precisamente como os gentios são en
chega ao ponto culminante com a descrição xertados durante todo o período de tempo
da oliveira(Rm 11:13-24),contém a famo desde o Novo Testamento até a segunda
sa sentença “todo o Israel será salvo”(Rm vinda, assim os crentes judeus são en
11:26). Isto também enfatiza a integração xertados durante a mesma era. A mesma
de israelitas e gentios. qualificação para ser enxertado é, a saber,
fé em Jesus Cristo, que é exigida dejudeus
Os dispensacionalistas modernos têm
e gentios. Não há nenhuma distinção para
interpretado a frase “todo o Israel será
judeus e gentios no caminho da salvação.
salvo” como se referindo a uma conversão Também não há nenhum “caminho espe
em massa de todos os judeus pouco antes cial” de salvação para os judeus serem
da volta de Cristo.’* Este é o significado da salvos sem Cristo.
passagem? Tal sentido supõe que “Israel”
aqui é o Israel étnico, literal. Paulojá declarou em Romanos 9:6 que
“nem todos os de Israel são, de fato, israe
É imperativo considerarmos mais cuida litas” e no verso 7 ele insiste que “nem por
dosamente a parábola da oliveira encontrada serem descendentes de Abraão são todos
em Romanos 11:17-24. O quadro é de duas seus filhos”. No verso 27 ele enfatiza que
oliveiras, uma cultivada,a outra agreste. Os “somente um remanescente deles [filhos
ramos dosjudeus descrentes são cortados do
de Israel] será salvo”(NRSV). Portanto, a
tronco da oliveira cultivada de Israel. Então
indagação é se há uma contradição da parte
os ramos dos crentes gentios da oliveira
do apóstolo Paulo entre estas declarações
brava são enxertados,resultando uma árvore
e a declaração de Romanos 11:26 “todo
de crentes judeus e gentios. o Israel será salvo”. Existe contradição
Deus não rejeitou o seu povo Israel, somente se alguém propõe que “todo o
diz Paulo(Rm 11:1). “No tempo de hoje, Israel” de Romanos 11:26 se refere ao
sobrevive um remanescente segundo a Israel literal no sentido de judeus étnicos.
eleição da graça” (v. 5). Ele insiste que Se alguém segue o contexto de Romanos
os ramos naturais de israelitas étnicos 9-11, então a descrição de “todo o Israel”
20 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

referindo-se a todos os verdadeiros crentes defensor deste ponto de vista, argumenta


remanescentes de origem judaica e gentíli- a seguir: “As deduções teológicas da pro
ca está assegurada. messa de terra a Israel têm-se mostrado
fundamentais no propósito escatológico de
”106
Sumário Deus para o seu antigo povo.
Desejamos manter novamente que nos
Podemos resumir a descrição do Novo
sas discussões destes assuntos exegéticos
Testamento. A convergência coerente da
da Bíblia não devem de modo algum ser
evidência neotestamental aponta em uma só
compreendidas ou interpretadas como
direção. O “Israel de Deus”é a igreja,a qual
negando ao estado de Israel o direito de
é a comunidade de crentes,que é constituída
102 existir. O problema aqui é de interpreta
dejudeus e gentios convertidos e crentes.
ção bíblica e não de direito político ou
Juntos eles são os herdeiros por meio de nacional.
Cristo de todas as promessas da aliança já
feitas no Antigo Testamento. Juntos eles são
O PROBLEMA DO LITERALISMO
o corpo de Cristo em unidade total.
Não há nenhuma dispensação da Era da Uma breve consideração da compreen
Igreja para os gentios e uma dispensação são dispensacional/literalista do cumpri
para osjudeus em seguida a ela. Em Cristo mento das profecias do Antigo Testamento
todas as coisas são unidas. O total e pleno faz-se necessária. No dispensacionalismo
corpo de Cristo, do qual Cristo é a cabeça bem como no futurismo, a interpretação
não pode ser fragmentado em corpos se- “literal” ou “literalista” e “literalismo” é
qüenciais de igreja e israelitas.'®^ Cristo fundamental. Escreve J. Dwight Pentecost:
tem apenas um corpo de crentes judeus e “a consideração primária em relação à in
gentios. Resumindo, o Antigo e o Novo terpretação da profecia é que, como todas
Testamento concordam que o verdadeiro as outras áreas da interpretação bíblica
Israel de Deus são crentes, não se levando ela deve ser interpretada literalmente.”'®^
em consideração a origem étnica ou a iden Charles Ryrie mantém que “o dispensa
104
tidade nacional. cionalismo é o único sistema que pratica
consistentemente o princípio literal de
interpretação.”'®* Continua ele:
Promessas de terra
NO Antigo Testamento A interpretação literal das Escrituras leva
naturalmente a uma segunda característica - o
Precisamos investigar outro importante cumprimento literal das profecias do Antigo Testa
problema. Como devem ser consideradas as mento. Este é o princípio básico da escatologia pré-
109
promessas de terra ou territoriais feitas por milenial dos [dispensacionalistas-fiituristas].
Deus a Israel? Podem elas em algum sentido
ainda ser válidas para o “Israel natural”,isto Iria muito além dos limites do nos-
é, para os judeus? É a promessa da terra de so propósito empenhar-nos em uma
Canaã,feita a Abraão e aos outros patriarcas, discussão detalhada sobre a exatidão e
uma promessa eterna e irrevogável aos seus adequação do princípio hermenêutico de
descendentes étnicos para sempre? interpretação “literal consistente” ou “li
Os dispensacionalistas defendem cla teralismo consistente”."® Isto já foi feito
por outros e não é preciso acrescentar
ramente que todas as promessas feitas a
detalhes aqui novamente.111
Israel no passado devem ser cumpridas com
os descendentes literais de Israel na Terra. O “literalismo consistente sustenta
Desse modo,a fundação do Estado de Israel que Deus prometeu a Abraão que seus
no ano de 1948, as guerras subseqüentes descendentes herdariam “toda a terra de
em 1956 e 1967,e as expansões territoriais Canaã, em possessão perpétua”(Gn 17:8;
112
do Estado de Israel devem ser todas consi cf. 12:7; 24:7). Conclui-se que a aliança
deradas como cumprimentos das profecias abraâmica era um “pacto incondicional”"\
105
bíblicas. John F. Walvoord, importante que “tem a garantia de Deus de que Ele efe-
Israel na profecia bíblica / 21

tuará a necessária conversão que é essencial cendência no decurso das suas gerações.
«114
ao seu cumprimento. Abraão e seus descendentes podem violar
a aliança. Se eles podem “guardá-la”,
Para nosso propósito é muito mais
então ela é condicional à sua obediência.
importante investigar os princípios funda
mentais de interpretação profética que a No mesmo capítulo, no final do discurso
de Deus é feita referência ao fato de que a
própria Bíblia usa. Em 2Pedro 1:20-21 nos
é dito: “Sabendo, primeiramente, isto: que aliança pode ser “quebrada”(v. 14). Aqui
outra vez, como em “guardar” assim em
nenhuma profecia da Escritura provém de
“quebrar”, Abraão e seus descendentes
particular[“privada”,KJV;NKJV]elucida
ção; porque nuncajamais qualquer profecia podem anular as promessas da aliança.
foi dada por vontade humana; entretanto, A linguagem de “guardar” e “quebrar” é
homens[santos]falaram da parte de Deus, típica das alianças do Antigo Testamento,
movidos pelo Espírito Santo.” que são condicionais.

Pedro não está anunciando uma “inter Isto toma-se mais explícito em Gênesis
18. Deus,em conversa com Abraão,diz que
pretação literal consistente” ou “literalismo
Ele escolheu a Abraão “para que ordene a
consistente”, mas uma interpretação sob o
seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de
controle do Espírito Santo, que é o doador
de todas as Escrituras. Assim, os interesses que guardem o caminho do Senhor e prati
quem a justiça e o juízo; para que o Senhor
“particulares” ou “privados” de alguém na
interpretação permanecem sob o controle da faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu
IIS respeito” (v. 19). Aqui está uma afirmação
Bíblia, que é o seu próprio intérprete.
clara do Senhor de que a aliança permanecerá
“É o princípio do ‘literalismo consis efetiva somente sob condição de obediência
tente’ o método legítimo de interpretar as de Abraão e seus descendentes.
profecias bíblicas?”"^ Como intérpretes Em Gênesis 22:16-18 as bênçãos pro
cristãos não podemos interpretar o Antigo metidas a Abraão serão suas porque “obe
Testamento como se o Novo Testamento
deceste à minha voz”(v. 18). As operações
não existisse. Como intérpretes responsá
veis da Bíblia em sua inteireza devemos da aliança são dependentes da obediência
a Deus. Em Gênesis 26:3-5 Deus se refere
descobrir como a Bíblia revela o cumpri
117 explicitamente à promessa “a tua descen
mento da profecia. dência darei todas estas terras” e a outras
promessas da aliança. Elas serão viabili
Condicionalidade zadas “porque Abraão obedeceu à minha
da aliança abraâmica palavra e guardou os meus mandados,
os meus preceitos, os meus estatutos e as
Vejamos se a aliança abraâmica é
minhas leis”(v. 5).
descrita no livro de Gênesis como incon
dicional com respeito à parceria humana Esta série de textos é coerente. Eles
na obrigação do contrato. Apóia o livro de revelam que a aliança abraâmica não era
Gênesis a noção difundida de que a aliança incondicional."^ A condicionalidade da
abraâmica é incondicional? Garante ele que aliança abraâmica repousa sobre a fide
as promessas da aliança devem ser dadas lidade do parceiro humano. Incidental-
literalmente à semente física de Abraão? O mente,Ellen G.White fala das “condições
livro de Gênesis provê uma clara resposta do concerto feito com Abraão.”"’ Isto
a estas interrogações essenciais. significa que não há nenhuma evidência de
que um cumprimento literal ou literalista
Há várias passagens em Gênesis que in
das promessas da aliança é ordenado inde
dicam que a aliança com Abraão não estava
incondicionalmente ligada aos descenden pendentemente da relação de fé daqueles
a quem a aliança foi feita.
tes físicos de Abraão. A aliança depende da
fidelidade de Abraão e seus descendentes. A insistência do dispensacionalismo
Em Gênesis 17:9 Deus dá o seu encargo: no “literalismo consistente” força um
“Guardarás a minha aliança, tu e a tua des- significado sobre o texto contra o qual o
22 / PaROUSIA - \° SEMESTRE DE 2007

contexto bíblico se opõe. Não há nenhuma tamento. Certamente Deus prometeu na


declaração em parte alguma do Antigo Tes aliança com Davi: “Farei levantar depois
tamento em que Deus garantiría ao Israel de ti o teu descendente”(2Sm 7:12), e “a
natural, literal “a conversão necessária tua casa e o teu reino serão firmados para
que é essencial ao seu cumprimento”'-®. O sempre” (v. 16). Isto é repetido em várias
princípio em ação é que aqueles que são da partes do Antigo Testamento(2Sm 23:5; SI
fé são a semente de Abraão (G1 3:7). Não 89:3-4, 26-28, 34; cf Is 55:3-4).
há nenhum apoio para o ponto de vista de Antes de considerarmos a evidência
que os de descendência étnica são o verda bíblica para a condicionalidade da aliança
deiro Israel, e que eles seriam convertidos davídica, é importante que analisemos
em massa no reino milenial ou em alguma a principal passagem encontrada em
outra ocasião. “Os da fé é que são filhos 2 Samuel 7:8-16. Estudantes das Es
de Abraão”(G1 3:7)“e herdeiros segundo crituras têm reconhecido que há duas
a promessa”(v. 29). partes na aliança.'-^ A primeira parte tem
Escreve Ellen White: “Todos os que promessas a serem cumpridas durante a
por meio de Cristo devessem tornar-se existência de Davi(2Sm 7:8-1 la). Estas
filhos da fé, seriam contados como se consistem de matérias que ocorreriam
mente de Abraão;eram herdeiros das pro antes da morte de Davi: um grande nome
messas do concerto; como Abraão eram (v. 9); um lugar para o seu povo (v. 10),
e descanso (v. 11).
chamados a guardar e tomar conhecidos
ao mundo a lei de Deus e o evangelho A segunda parte da aliança está separada
”121
de seu Filho, Não há aqui nenhuma da primeira pela declaração: “o Senhor te
restrição quanto à afiliação étnica ou uma faz saber” (v. 11b), e por uma mudança
derivação natural. de discurso na primeira pessoa (v. 8-11 a)
O “literalismo consistente” revela que para discurso na terceira pessoa(v. 12-16).
ele sobrepõe às Escrituras um princípio Além disso, há uma clara afirmação de
que as promessas dadas nos versos 12-16
que parece estranho ao significado pleno
e literal do texto dentro do seu próprio devem entrar em vigor no futuro:“Quando
contexto bíblico.
122 teus dias se cumprirem e descansares com
teus pais”(v. 12a). As promessas a serem
cumpridas depois da morte de Davi consis
Condicionalidade tem de: um descendente (v. 12b, 16); um
DA ALIANÇA DAVÍDICA trono eterno (v. 13, 16); e um reino eterno
(v. 12c, 16).
A afirmação a favor do “literalismo
consistente” é feita também para a aliança Toda a evidência bíblica deve ser
davídica. Está aqui uma declaração funda considerada quando se deseja encontrar
mental de um futurista: uma resposta para a questão da condicio
nalidade da aliança davídica. Há ampla
Segundo os estabelecidos princípios de interpreta
ção,a aliança davídica demanda um cumprimento evidência de que Deus assumiu um com
literal. Isto significa que Cristo deve reinar sobre promisso divino de cumprir a aliança.
o trono de Davi na Terra e sobre o povo de Davi Significa isto, porém, que a aliança deve
123
para sempre. ser literalisticamente cumprida sem levar
em consideração o relacionamento de fé
É claro que a aliança davídica é tam do parceiro humano na aliança? Há várias
bém compreendida por muitos hoje como passagens no Antigo Testamento que res
incondicional. pondem a esta indagação.
A conclusão de que a aliança davídica O Salmo 132:11 -12 se refere à aliança
é totalmente incondicional e tem de ser davídica. Aqui ela é vista como depen
literalisticamente cumprida baseia-se em dente da seguinte condição: “Se os teus
uma interpretação unilateral do Antigo filhos guardarem a minha aliança e o
Testamento, para não falar do Novo Tes- testemunho que eu lhes ensinar, também
Israel na profecia bíblica / 23

os seus filhos se assentarão para sempre o Israel étnico e literal, com osjudeus? Ou
no teu trono”(v. 12). a Bíblia apóia a conclusão de que o “novo
Israel” de crentes judeus e gentios herdam
O tema da condicionalidade da aliança
davídica é mantido em Salmo 89:30-32: as promessas de terra?
“Se os seus filhos desprezarem a minha lei
e não andarem nos meusjuízos,se violarem O TESTEMUNHO DE CrISTO
os meus preceitos e não guardarem os meus No Sermão da montanha Cristo apre
mandamentos, então, punirei com vara as senta a beatitude: “Bem-aventurados os
suas transgressões...” A condicionalidade
mansos, porque herdarão a terra” (Mt
da aliança davídica é mantida no Antigo 5:5). Hans LaRondelle declara que duas
Testamento com o condicional “se”.'^^ O
conclusões precisam ser tiradas: 0)nesta
aspecto condicional da aliança davídica é
bem-aventurança Jesus Cristo designa toda
aqui estabelecido como indiscutível.
a Terra aos seus seguidores espirituais. Em
Deus seria capaz de cumprir a aliança outra bem-aventurança o reino dos céus é
feita com Davi somente para aqueles que estendido aos pobres de espírito: “Bem-
mantém um relacionamento espiritual com aventurados os humildes de espírito, por
Ele.'-^ Considerando a condição de fideli que deles é o reino dos céus”(v. 3). Jesus
dade ao testemunho de Deus, a conclusão prescreve a herança do Céu e da Terra aos
dos dispensacionalistas de que “Cristo deve mansos e aos humildes de espírito.(2) A
reinar sobre o trono de Davi na Terra e sobre promessa original feita ao fiel Abraão é
o povo de Davi para sempre” dificilmente é expandida para a igreja a fim de incluir a
fiel ao próprio testemunho bíblico. Terra renovada.127
A evidência bíblica leva o estudante Este ponto de vista neotestamental ba
cuidadoso da Bíblia a concluir que o seia-se, é claro, no Antigo Testamento. O
“literalismo consistente” do dispensacio- salmistajá havia declarado no Salmo 37:11,
nalismo não pode ser reconciliado com o 29 que os “mansos”e os “justos” herdariam
testemunho interno da Bíblia. O “literalis a “terra”. O termo para “terra” aqui(como
mo consistente” é um sistema externo que nas promessas originais feitas a Abraão)é
é sobreposto à Bíblia e não permite que expresso pelo termo hebraico 'erets. Este
a Bíblia fale em suas próprias palavras. termo hebraico tanto pode ter o significado
Portanto, o dispensacionalismo parece ser de “terra” [território] quanto de “terra”'^®
um sistema que impõe significados à Bíblia no sentido mais comum.
que estão em desarmonia com o simples e Quando Cristo fala da herança da “ter-
claro testemunho das Escrituras.
ra Ele salienta o significado mais amplo
inerente ao termo veterotestamental. Cristo
Promessas de terra quer que seus seguidores tenham mais do
NO Novo Testamento que uma “terra limitada. Eles herdarão
toda a Terra! Cristo ressalta as promessas
Como devem ser cumpridas as promes da “terra” para incluir toda a Terra. Paulo
sas quanto à terra que eram feitas reitera- igualmente viu esta plenitude de intenção
damente no Antigo Testamento? Já vimos na própria aliança abraâmica. “Não foi
que as alianças abraâmica e davídica são por intermédio da lei que a Abraão ou a
condicionais até onde elas se referem ao sua descendência coube a promessa de ser
parceiro humano. Também sabemos que é herdeiro do mundo (grego kosmos), e sim
um fato no Antigo Testamento - mantido mediante a justiça da fé”(Rm 4:13).
no Novo Testamento - que o Israel do
passado não permaneceu fiel. Ademais, Esta opinião não é estranha ao Antigo
Israel como entidade nacional rejeitou Testamento em si. A visão final de que
a Cristo. Em vista destes fatos podemos o povo de Deus será o herdeiro de um
concluir que as promessas de terra feitas novo céu e de uma nova Terra recriados
na Bíblia ainda precisam se cumprir com (Is 65:17-19) está presente na escatologia
24/ PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

profética. A condição para se receber os como estando literalmente ou literalistica-


“novos céus e nova terra” é a fé no Senhor mente restritas à Palestina no passado ou
Jesus Cristo. no futuro.

Também é proveitoso considerar He-


Promessas de Cristo breus 12:22: “Mas tendes chegado ao
A carta aos Hebreus e os escritos pau- monte Sião e à cidade do Deus vivo, a
linos concordam que desde os dias em Jerusalém celestial.” Aqui os crentes,tanto
que Cristo veio em carne e o Israel literal judeus quanto gentios, em certo sentido já
recusou aceitá-lo, as promessas geográficas têm alcançado a Jerusalém celestial e, por
assim dizer, o monte Sião celestial. Isto é
e territoriais deveríam ser compreendidas
em cumprimento da promessa abraâmica
em seu sentido completo. A Jerusalém ter
e veterotestamentária de Isaías 60:14 e
restre não era mais a cidade santa e o lugar
Miquéias 4:1-2. Em outro sentido, todo
de habitação de Deus. Também o templo
seguidor de Abraão ainda busca “a[cidade]
terrestre havia perdido seu significado com
a morte de Cristo. que há de vir”(Hb 13:14). Temos chegado
à Jerusalém celestial por meio de Jesus
O Israel da fé da nova aliança tem uma Cristo, nosso precursor, que já se encontra
nova cidade. É a Jerusalém celestial. O Is lá enquanto ainda estamos a caminho.
rael da nova aliança tem um novo templo,
o que está no Céu.O Israel da nova aliança O livro de Apocalipse revela que as
tem um novo sumo sacerdote, o exaltado promessas da aliança dadas a Abraão não
Cristo celestial. O Israel da nova aliança serão literalmente cumpridas com osjudeus
tem um novo país, o celestial. durante o milênio. Sendo que cada crente
prolepticamente tem chegado ao monte
A melhor pergunta a ser feita é: como Sião e à Jerusalém celestial como afirma
Abraão compreendeu as promessas da Hebreus 12:22 - e, portanto, não há ne
aliança que lhe foram feitas?'-’ Abraão cessidade de esperar por um cumprimento
peregrinou “pela fé... na terra da promessa milenial como sustentam os dispensacio-
como em terra alheia,...porque aguardava a nalistas e futuristas - a realidade final do
cidade que tem fundamentos,da qual Deus cumprimento em sua plenitude aguarda
é 0 arquiteto e edificador”(Hb 11:9-l0). A o crente segundo Apocalipse 21-22. Ela
cidade que ele estava aguardando não era será cumprida em sua finalidade e em sua
a Jerusalém dos jebuseus, mas a do Céu, a mais abrangente e divina intenção quando
“Jerusalém celestial”(Hb 12:22). houver um novo céu e uma nova Terra.
“Sendo que os cristãos participam agora
E 0 que dizer da “terra” que foi pro
da herança de Abraão da cidade celestial,
metida a Abraão e seus descendentes?
também partilharão então dela.”‘^®
Hebreus 11:13-16 nos diz:“E confessando
[Abraão e seus descendentes] que eram Todas as promessas feitas por Deus
sobre a terra...
estrangeiros e peregrinos se cumprirão com o crente, independen
descendentes] aspi- temente de qualquer afiliação étnica. A
eles [Abraão e seus ‘
ram a [estavam ansiosos por] uma patria qualificação de cumprimento da parte dos
superior, isto é, celestial. seres humanos é a fé, genuína fé no Senhor
das Escrituras, manifestando-se em obedi
Como compreendia Abraão as promes
ência pela fé. Essa fé jamais está ligada a
sas da aliança? Ele as compreendia como
envolvendo a entrada na Jerusalém celestial qualquer antecedente étnico ou entidade
as nacional. É um dom e qualidade de vida
e no país celestial. Abraão, segundo
disponível a todo ser humano.
Escrituras, não compreendia as promessas
o
íjG.-.^n lt-VV3
BiDiioioce ( Jn
Penoüiuu© Israel na profecia bíblica / 25

Referências
WSS
' Artigo traduzido do original em inglês por ocorrerem. A questão é se esta possibilidade carrega
Francisco Alves de Pontes. qualquer probabilidade: é esta a maneira mais satis
- Cecyl Roth e Geoffrey Wigoder. eds. The New fatória de explicar o que encontramos em Daniel? A
Standard Jewish Encyclopedia (nova ed. Revista; moderna sabedoria [histórico-] crítica tem afirmado
Londres: W. H.AIien. 1975), 993. 1151. que não é isso” {Daniel, 1-2 Maccabees[Wilming-
Para uma defesa do método crítico-histórico, ton. DE: Glazier, 1981]. 11-12 - grifos seus).
u
veja Edgar Krentz, The Histórica! Criticai Method Charles C. Ryrie, Biblical Theology oflhe New
(Filadélfia: Fortress Press. 1975). Testament(Chicago: Moody Press, 1959), 346.
15
^iPara reações críticas e/ou rejeição do método Luis de Alcazar, Vesíigatio Arcani Sensns in
crítico-histórico. veja Walter Wink. The Bible in Apoca/ypsi (publicado postumamente em 1614).
Hiiinan Transformation Toward a New Paradigm Veja LeRoy Edwin Froom, The Prophetic Faith of
for Biblical Study {Fúaáél^íw. Fortress Press. 1973); our Fathers (Washington, DC: Review and Herald
Gerhard Maier, Das Ende der historisch-kritischen Publishing Assoe., 1948)2:506-10.
16
Methode (2a ed.; Wuppertal; Brockhaus Verlag, Veja L. E. Froom. The Prophetic Faith ofOur
1975). trad. Inglesada laed. TheEndofthe Histori- Fathers: The Histórica! Devehpment ofProphetic
cal-Criticü! Method{^\.. Louis: Concordia Publishing Inlerpreiation. 4 vols. (Washington: Review and
House. 1974); Gerhard F. Hasel, Biblical hiterpreta- Herald Publ. Assoe., 1946-1954).
lion Toí/or(Washington. DC: Instituto de Pesquisas Veja o artigo produzido pelo Instituto de Pes
Bíblicas,!985); Eta Linnemann,Histórica!Criticism quisas Bíblicas e Ellen G. White Estate intitulado
of the Bible: Methodology or Ideology? (Grand "Critique of Give Giory to Him by Robert Hauser
Rapids, Ml: Baker Book House, 1990). (agosto, 1984).
18
^ Veja a descrição detalhada deste princípio por Veja George Eldon Ladd. The BlessedHope. A
VanA. Harvey, The Historiou and the Believer. The Biblical Study ofthe SecondAdvent and the Rapture
Morality ofHistórica!Knowledge and Christian Be- (Grand Rapids. MI: Eerdmans, 1956), 35-60.
//cy(New York: Macmillan Comp.. 1966), 69-74. Froom,2:489-93.
^ Ibid.. p. 15. Ladd, The Blessed Hope, 37-38.
;i
’Thomas C. Oden, After Modernity... What? Froom. 2:495-502.
Agendafor Theolog\’{Gxwná Rapids, MI:Zondervan -- Froom, 2:511.
Publ, House, 1990), 126. Assim, entre outros, John F. Walvoord. The
* Harvey. The Historian and the Believer, 38-67. Nations, Israel and the Church in Prophecy (Grand
^ Por exemplo, Robert P. Carroll, When Prophecv Rapids, Ml: Zondervan. 1988), 19-26 da seção "Is
Failed. Cognitive Dissonance in the Prophetic Tra- rael in Prophecy".
ditions of the Old Testament (New York: Seabury Leon J. Wood. The Bible and Future Events:
Press, 1979). 112-120; Joseph Blenkinsopp, ///.?- An Introductoiy Suiwey of Last-Day Events (Grand
toty ofProphecy in Israel (Filadélfia: Westminster Rapids, Ml: Zondervan. 1973), 18.
Press, 1983), 19-52; Robert R. Wilson, Prophecy Hal Lindsey. The Late Great Planei Earth
and Society in Ancient Israel (Filadélfia; Fortress (Grand Rapids. MI; Zondervan, 1970), 54.
Press, 1980), Por exemplo. C. F. Baker, A Dispensational
10
G. Emest Wright,/ya/ít/t"The Layman’s Bible Theologs^ (Grand Rapids, MI: Zondervan. 1973).
Commentaries”(Londres: SCM Press, 1964),8. Wri 606. . „
2’ Assim Thomas S. McCall, "Problems m Re-
ght fala da "regra do polegar” ou princípio básico da
profecia preditiva do seguinte modo:"A profecia é biiilding the Tribulation Temple”, Bihlioiheca Sacra
anterior ao que ela prediz, mas contemporânea com, 0‘an. 1972),79.
-* John F. Walvoord, Israel in Prophecy (Grand
ou posterior a. o que ela pressupõe.”
" Ibidem. Rapids, MI: Zondervan, 1962), 125; cf. Charles L.
'● Isto é bem declarado por Klaus Koch, The Feinberg, "The Rebuilding ofthe Temple". Prophecy
in the Making. ed. CarI F. H. Henry (Carol Stream.
Prophets. The Bahi/onians and Persian Periods
(Filadélfia: Fortress, 1986). 2:73-80, e Wright, 8: IL: InterVarsity. 1971).
20 John F. Walvoord. The Rapture Ouestion
"O profeta tinha assim mensagens para seu próprio
povo em seus próprios dias. Não estaria dentro da (Ed. Rev.; Grand Rapids, Ml: Zondervan, 1979).
Samuele Bacchiocchi provê uma avaliação e crí
função primária do seu oficio dirigir um outro povo
em outro tempo que o seu próprio." tica do dispensacionalismo-futurista {The Advent
'' John J. Collins escreve sobre "a autenticidade Hope for Human Hopelessness [Berrien Springs.
das profecias de Daniel” a seguir: "O problema não MI; Biblical Perspectives. 1986]. 213-262). Seus
é se um profeta divinamente inspirado poderia ler argumentos contra a teoria do "rapto" incluem: (1)
predito os eventos que ocorreram ... anos antes de A terminologia para a segunda vinda de Cristo em
26 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

tais passagens como 1 Tessalonicenses 3:13; 2 Tes- anteriores que retratam uma “história do assunto
salonicenses 2:8; 1 Coríntios 1:7; 1 Timóteo 6:14 e das eras e dispensações” (A Bibliographic Histoiy
Mateus 24:27,37 e 39 provêem evidência para uma of Dispensationalism [Grand Rapids, Ml: Baker
só segunda vinda em um estágio e não em dois. Book House, 1965], 5). Ehlert procura mostrar que
(2) Paulo em 1 Tessalonicenses 4:15-17 descreve 0 dispensacionalismo é realmente antigo. Todavia,o
o Senhor como descendo “dos céus” ao ser “dada “dispensacionalismo moderno” parece ser singular.
a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e Simplesmente encontrar escritores pré-Darby que
ressoada a trombeta de Deus”,que são paralelas em têm dispensações não os toma dispensacionalistas.
Mateus 24:31 e 1 Coríntios 15:52,e demonstrou que Veja a crítica incisiva de Vern S. Poythress, Un-
não há nenhum “rapto secreto”.(3)Em Mateus 24:31 derstanding Dispensationalism (Grand Rapids, Ml:
o arrebatamento é colocado depois da tribulação e Zondervan, 1987), 9-11.
não antes e a proteção é concedida na tribulação John N.Darby, The Collected Writings ofJohn
(Apocalipse 3:10). (4) O livro de Apocalipse não Nelson Darby, ed. W. Kelly. 34 vols.(reimpresso;
apresenta nenhuma evidência para um rapto pré-tri- Sunbury, PA; Believers Bookshelf, 1971).
40
bulação, mas um retomo do Senhor pós-tribulação W. G. Tumer, John Nelson Darby (Londres:
(246-251). Hammond, 1944), 13-15; G. B. Bass, Backgrounds
30
Veja J. Dwight Pentecost, Things to Come:A to Dispensationalism(Grand Rapids, Ml: Eerdmans,
Study in Biblical Eschatology (Grand Rapids, Ml: 1960),48-99.
41
Zondervan, 1969), 156-217. H. Pickering, ChiefMen Among the Brethren
31
Veja especialmente as definições providas nas (2a ed.; Londres: Pickering e Inglis, 1931); W. Blair
dissertações de Samuel Nunez,“The Vision of Da Neatby, TheHistoiy ofthe Plymoiith Brethren(2“ ed.;
niel 8: Interpretations ffom 1700-1900”(diss. Ph.D, Londres: Hodder and Stoughton, 1902).
42
Andrews University, 1987), 10-11; Gerhard Pfandl, Lewis Sperry Chafer, Dispensationalism
“The Latter Days and the Time of the End in the (Dallas: Dallas Seminary Press, 1936); idem, Sj’^-
Book of Daniel” (diss. Ph.D, Andrews University, tematic Theology. 8 vols. (Dallas Seminary Press,
1990),5-6,publicadas como The Time ofthe End on 1947); idem. Major Bible Themes, rev. por John F.
the Book ofDaniel “Adventist Theological Society Walvoord (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1974).
43
Dissertation Series”(Berrien Springs, MI:Adventist Publicado primeiro em Grand Rapids, MI:
Theological Society Publications, 1992). Zondervan, 1970.
32 44
Para a finalidade deste estudo não será neces- Assim reivindicado por Hal Lindsey em seu
sário distinguir entre “futuristas” e “dispensacio livro subseqüente, The I980's: Countdown to Arma-
nalistas” (veja Pfandl, 7-8), porque os últimos são geddon (Toronto/New York, 1981), 4, II.
45
futuristas em perspectiva. Para sóbrias reações e críticas do futurismo de
33
Cmtchfield,244[veja nota 45 abaixo],declara: Lindsey, veja George C. Miladin, Is This Really the
“A maior parte dos eventos do fim do tempo ainda End? A ReformedAnalysis of‘The Late Great Planet
está adiante de nós como era futuro para aqueles do Earth ’(Cherry Hill, NJ: Mack Publ. Co., 1972); T.
período bíblico.” O próprio Darby tinha declarado: Boersma, Is the Bible a Jigsaw Puzzle... An Evalii-
“A maior parte das profecias, e em certo sentido, ation ofHal Lindsey s Writings (St. Catherines, Ca
podemos dizer, todas as profecias, terão o seu nadá, 1978);Comelius Vanderwaal,HalLindsey and
cumprimento na expiração da dispensação em que Biblical Prophecy (St. Catherines, Canadá, 1978);
estamos”(Writings. 2: Prophetic n"/, 279). Samuele Bacchiocchi, Hal Lindsey s Prophetic Ji
34
C. C. Ryrie,Dispensationalism Today(Chica gsaw Puzzle. Five Predictions that Failed (Berrien
go: Moody Press, 1965), 156-76. Springs, MI: Biblical Perspectives, 1985).
46
”Veja Charles L. Feinberg,Israel At the Center As sete dispensações em sua forma clássica
ofHistory and Revelation (Portland, OR: Multno- são aquelas de “inocência”(Gn 1:26-3:24), “cons
mah Press, 1980); Walvoord, Israel and Prophecy ciência”(Gn 4:1 -7:24),“governo humano”(Gn 8:1-
reimpresso em The Nations, Israel and the Church 11:26),“promessa”(Gn 11:27; Êx 18),“lei”(Êx 19;
in Prophecy, 15-133, e muitos outros. At 1:26),“graça”(At 2:1; Ap 19:21), e “reino”(Ap
Walvoord, The Nations, Israel and the Church 20:1-6)segundo Larry C.Cmtchfield,“The Doctrine
in Prophecy, 103-20, com ênfase na seção “The ofAges and Dispensations as Found in the Published
Nations in Prophecy”. Works of John Nelson Darby (1800-1882)” (Diss.
Pentecost, 340-58, com literatura anterior; Ph.D Drew University, 1985), 58-68.
47
Paul Lee Tan, The Interpretation of Prophecy C. I. Scofield, Rightly Divinding the Word
(Vinona Lake, IN: BMH Books, 1974), 349; Hal ofTruth (Fincastle, VA: Scripture Truth Book Co.,
or Consequences n.d.), 12-16.
Lindsey, The Rapture: Truth 48
(New York, 1983). Veja Crutchfield, 48-56, de quem eu dependo
38
Esta designação é usada por Amold D. Ehlert, fortemente nesta seção.
49
ê um estudo bibliográfico de escritores Cmtchfield, 68-71.
que prove
Israel na profecia bíblica / 27

50
Ryrie, Dispensationalism Today, 44-45; se Phenomenon ofConditíonality within Unconditíonal
melhantemente John F. Walvoord, “Dispensational Covenants”, Israels Apostasy and Restoration. Es-
Premillennialism”, Christianity Today 15 (setem says in Honor ofRoland K. Harrison, ed. Avraham
bro,1958), 13; Lewis Sperry Chafer, “Dispensatio Gileadi (Grand Rapids, MI: Baker Book House,
nalism,” Bibliotheca Sacra 93(1936): 448. 1988), 123-139; Ronald Youngblood,“The Abraha-
51
Ryrie, Dispensationalism Today’, 159. mic Covenant: Conditional or Unconditíonal?” The
Crutchfield, 49. Living and Active Word ofGod:Studies in Honor of
53
Veja Ryrie, Dispensationalism Today, 133-140. SamuelJ.Schultz,eds. Morris Inch e Ronald Young
Ibid., 136. blood(Winona Lake,IN: Eisenbrauns, 1983),31-46;
” Para uma sólida análise e crítica das origens Oswald T. Allis, God Spake by Moses (Nutley, NJ:
e mudanças na teoria do arrebatamento, veja Dave Presbyterian and Reformed, 1958), 72.
76
MacPherson, The Great Rapture Hoax (Fletcher, Aqueles que desejam afumar que Abraão não
N.C.: New Puritan Library, 1983). Para uma retifi teve sua fé considerada como justiça por Deus, mas
cada opinião do rapto pós-metade-da-semana, veja que Abraão considerou a promessa da semente como
agora Marvin Rosenthal, The Pré-Wrath Rapture of justiça(veja M.Oeming,“Ist Genesis 15,6 ein Beleg
the Church (Nashville, TN: Nelson, 1990). fiir die Anrechnung des Glaubens?”Zeitschriftjur die
56
Ryrie, Dispensationalism Today’, 159. alttestamentliche Wissenschaft 95[1983]: 182-197,
57
Crutchfield, 71. que foi enfrentado por Bo Johnson “Who Reckoned
58
Ryrie, Dispensationalism Today, 156-161. Righteousness to Whom?”SvenskExegetiskÃrsbok
59
Chafer, Systematic Theology, 4:47-53. 51 [1986]: 108-115)têm dificuldade com a sintaxe
J. Dwight Pentecost, Things To Come. A Study hebraica e o Novo Testamento (veja Rm 4:3, onde
in Biblical Eschatology(Grand Rapids, MI:Zonder- Abraão é o sujeito da segunda cláusula).
77
van, 1969), 201-202. Zobel,“yisra’el”, 401.
61
Ryrie, Dispensationalism Today, 158. Ibid.
79
Ibid., 546. F. I. Anderson e D. N. Freedman, Amos. A
<●3 Ibid., 140. New Translation with Introduction and Commentary
64
Para uma crítica do “rapto secreto”, veja “Anchor Bible”, vol. 24a (New York: Doubleday,
Ladd, The Blessed Hope, 89-104; Oswald T. Allis, 1989), 130-32.
Prophecy and the Church (Filadélfia: Presbiterian »»Ibid., 403.
81
and Reformed Publ. Co., 1977), 181-91. Ibid., 403.
65
Veja Gerhard von Rad, “Israel”, Theological Gerhard F. Hasel,“Remnant”, The Internatio
Dictionary of the New Testament, 3:356-59; R. nalStandard Bible Encyclopedia,ed. G.W.Bromiley
Mayer, “Israel, Jew, Hebrew, Jacob, Judah”, New (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1988), 4:132.
International Dictionaty of New Testament Theo Ibid., 4:133; idem, The Remnant. The History
logy, 2:304-16. and Theology ofthe Remnant Ideafrom Genesis to
66
Hans K. LaRondelle, The Israel of God in Isaiah (3a ed.; Berrien Springs, MI: Andrews Uni-
Prophecy (Berrien Springs, MI: Andrews University versity Press, 1980), 170-215.
Press, 1983), 82. Hasel,“Remnant”, The InternationalStandard
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of the Old Testament, eds. J. Botterweck e H. Ring- LaRondelle, 90-91.
86
gren (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1990), 6:401. RyÚQ,Dispensationalism Today,
Ibid. Para um estudo completo de Israel e suas impli
A. R. Hulst, “’am/goj volk”, Theologisches cações, veja a excelente obra de Hans K.LaRondelle
Handwôrterbuchzum Alten Testament, eds. E. Jenni citada anteriormente, The Israel ofGodin ProphecyK
e C. Westermann (Zurique: Theologischer Verlag/ Principies of Prophetic Interpretation (Bemen
Munich: Kaiser, 1976), 2:312-14. Springs, MI: Andrews University Press, 1983).
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71 s" LaRondelle, 98-99.
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91
1975), 2:427. Veja G. Friedrich, “Epangelia”, Theological
73
E. A. Speiser, “‘People’and ‘Nation’ of Israel”, Dictionaiy ofthe New Testament (Grand Rapids,
Journal of Biblical Literature 79 (1960): 160-170. Ml: Eerdmans, 1965), 2:584.
74
LaRondelle, 83-85. Ibid.
75 Ibid.
Veja sobre a condicionalidade da aliança
94
abraâmica com relação ao parceiro humano, Gerhard Ibid., p. 127.
F. Hasel, Covenant in (Mountain View, CA: "'LaRondelle, 110-111.
96
Pacific Press, 1982), 52-62; Bruce K. Waltke, “The Joachim Rhode, Der Briefdes Paiilus an die
28 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

Go/atór(Berlim: Evangelische Verlagsanstalt, 1989), 13:5, II; 32:13; 33:1; Números 11:12; 14:16, 23;
278(ênfase minha). 32:11; e Deuteronômio 1:8, 35; 4:31; 6:10, 18, 23.
Samuele Bacchiocchi, The Advent Hopefor Há treze promessas adicionais de terra no Antigo
Human Hopelessmss(Berrien Springs, MI: Biblical Testamento fora do Pentateuco.
Perspectives, 1986), 228-29. The New Scofield Bible, 20, 1318.
114
Chafer, Systematic Theology, 3:105-107; Pentecost, Things to Come,98.
MS
Pentecost, 298: John F. Walvoord, The Mülennial Veja Gerhard F. Hasel, Understanding the
Kingdom (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1959), Living Word of God (Mountain View, CA: Pacific
171-73,e outras. Press, 198), 66-82.
99 M6
Que este termo inclui tanto judeus quanto Bacchiocchi, The Advent Hope,221.
gentios é defendido,entre muitos outros,também por Gerhard F. Hasel,“Fulfillments ofProphecy”,
João Calvino e K. Barth, The Epistle to the Romans The Seventy Weeks, Leviticus, and the Nature ofPro
(Oxford: Oxford University Press, 1963), 416, que phecy,ed. Frank B. Holbrook “Daniel and Revelation
considera “todo o Israel” como a Igreja. Committee Series, Vol. 3” (Washington: Biblical
100
Hasel, “Remnant”, The International Stan Research Institute, 1986), 288-322.
M8
dard Bible Encyclopedia,4:134. Hasel, Covenant in Blood, 38-41.
101
M9
Tem sido até mesmo afirmado que Paulo Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, 138.
120
defende um “caminho especial” de salvação para Veja nota 113 acima.
121
judeus que são salvos sem fé em Jesus Cristo. Todo o Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, 476.
122
argumento de Paulo e sua insistência sobre fé em Je Para outros exemplos, veja LaRondelle,
sus Cristo contraria tal opinião. Deus tem apenas um 23-34.
123
caminho de salvação para toda a espécie humana. Pentecost, Things to Come, 112. Veja também
Veja também William Sanford La Sor, Isra Ryrie, Dispensationalism Today, 80.
124
el. A Biblical View (Grand Rapids, MI: Eerdmans, Seguimos aqui as sugestões de R. A. Carlson,
1976), 83-108.
103 David and the Chosen King (Uppsala: Almquist e
Poythress, 129,
104 Wiksell, 1964), 111-14.
125
Uma análise mais extensa é provida por Frank Cross crê que essa condicionalidade é
LaRondelle em seu livro, The Israel ofGod in Pro- uma forma primitiva do oráculo de Natã(Canaanite
phecy,em que nos temos beneficiado extensamente Myth and Hebrew Epic [Cambridge, MA: Harvard
nesta seção bem como na seguinte. University Press, 1973], 232). John Bright declara
John F. Walvoord, “IsraePs Restoration”, que “a continuidade da dinastia [de Davi]tomou-se
Bibliotheca Sacra 102(1945),405-16;idem,“Israel sujeita a condições!” {Covenant and Promise. The
in Prophecy”,em The Nations,Israeland the Church Prophetic Understanding ofthe Future in Pre-Exilic
inProphecy, 15-138.
106 Israel[Filadélfia: Westminster Press, 1976], 64.
126
Walvoord,“Israel in Prophecy”, The Nations, Veja Waltke, 131,132; David Noel Freedman,
Israel
107
and the Church in Prophecy, 78. “Divine Commitment and Human Obligation: The
Pentecost, Things to Come,60.
108 Covenant Theme”, Interpretation 18 (1964): 426;
109
B.ynt, Dispensationalism Today, 158 Avraham Gileadi,“The Davidic Covenant:A Theolo-
Ibid.
110 gical Basis for Corporate Protection”,Israels Apos-
Herman Hoyt,“Dispensational Premillennia-
tasy and Restoration. Essays in Honor ofRoland K.
lism”, The Meaning ofthe Millennium, ed. Robert
Harrison, ed. Avraham Gileadi(Grand Rapids, MI:
G. Clouse(Downers Grove, IL: InterVarsity, 1977), Baker Book House, 1988), 161, 162.
66. 127
111 LaRondelle, 138.
128
Poythress, Understanding Dispensationalists, H.H.Schmid,“'aeraes Erde, Land”, Theologis-
87-110. Veja também Bacchiocchi, The Advent Hope, ches Wôrterbuchzum Alten Testament, 1:228-36; M.
220-25, e, particularmente, Daniel P. Fuller, Gospel Ottosson,“’erets”, Theological Dictionaiy ofthe Old
andLaw: Contrast or Continuam? The Hermeneutics
Testament, eds. J. Botterweck e H. Ringgren(Grand
ofDispensationalism and Covenant Theology(Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1974), 1:393-405.
Rapids, MI: Eerdmans, 1980). 129
Na seqüência eu sigo largamente as idéias
"-Veja também Gênesis 13:14-15; 13:17; 15:7-
apresentadas por Poythress, 120-21.
130
21; 17:8; 26:3-4; 28:4, 13; 35:12; 48:4; 50:24; Êxo. Poythress, 123.
As FESTIVIDADES ISRAELITAS
E A IGREJA CRISTÃ
Ángel Manuel Rodríguez,Th.D.
Diretor do Biblical Research Institute da Associação Geral da lASD,Silver Spring, Maryland,EUA

Resumo: Este artigo faz uma análise das celebração e regozijo do seu povo em sua
principais festividades israelitas, insti presença. Aqui nos limitaremos às princi
tuídas por determinação divina após o pais festividades israelitas. Exploraremos
Êxodo. Na primeira parte do trabalho, o seu significado típico e comemorativo
e concluiremos com a discussão do seu
0 autor explora o sentido tipológico e
comemorativo de cada uma dessas sole- significado para os cristãos.
nidades no antigo Israel, bem como o seu
significado para a igreja cristã. Em segui As FESTAS E O SEU SIGNIFICADO TÍPICO
da, 0 texto discute se as mesmas festas E COMEMORATIVO
devem ou não continuar a ser observadas
pelos cristãos na atualidade A FESTA DA PÁSCOA
Abstract: This article deals with the main
A páscoa foi instituída logo após a saída
Israel festivais established by God after do Egito(Êx 12). É apresentada na narra
the Exodus. In the first part of the article, tiva do Êxodo em conexão com a décima
the author explores the typological and praga. Essa praga constituiu o julgamento
commemorative sense ofeach one oftho- final de Deus sobre o Egito e podería ter
se festivities in the life of ancient Israel, afetado os israelitas que ali habitavam. Ao
as well as their meaning to the Christian ser a páscoa instituída, tinha a finalidade de
church. Afterwards, the text discuss whe- proteger os hebreus dos dolorosos efeitos
ther the same feasts must be observed by da décima praga. Naquela noite todos os
modern Christians. primogênitos do Egito morreríam.
Introdução' Durante o dia 14 do mês de abibe cada
família deveria imolar um cordeiro sem
O sistema israelita não estava interes defeito (12:5, 21). Seus ossos não deve-
sado apenas na santidade do espaço (o riam ser quebrados. A carne da vítima era
tabemáculo e seus rituais), mas também comida durante a noite pelos membros da
na santidade do tempo. Os seres humanos família como um tipo de oferta pacífica. Era
são criaturas do tempo e do espaço e era assada e comida com pães asmos e ervas
intenção de Deus se encontrar com eles amargas(v. 8)e o seu sangue era colocado
em ambas as esferas de sua existência, no na verga da porta e nas ombreiras de cada
tempo e no espaço. É esta preocupação casa(v. 22). Esse ritual sangüíneo indicava
com o tempo que é comunicada por meio que naquela casa uma vida fora dada em
das diferentes festividades mencionadas no lugar da vida do primogênito da família. O
Antigo Testamento e, particularmente, por Senhor “veria o sangue”(v. 13)e passaria
meio do sábado. Deus se encontrava com pela casa, preservando a vida do primogê
o seu povo na esfera do tempo que não nito daquela família.
estava limitada exclusivamente ao sábado Enquanto no Egito morriam todos os
do sétimo dia. Outros períodos de tempo primogênitos, entre os hebreus morria
foram escolhidos por ele para adoração, uma vítima sacrifical. Por intermédio do
30 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

seu sangue os primogênitos de Israel eram israelitas deixavam seus lares e viajavam
redimidos. A idéia de propiciação ou ex- para o santuário(Dt 16:10). O significado
piação não é claramente afirmada, mas os tipológico dessa festa se encontra no Novo
hebreus poderiam ter interpretado o ritual Testamento: o fermento é considerado um
como tendo alguma virtude expiatória no símbolo do pecado,que não deve ser acha
sentido de preservar intacto seu relacio do no cristão, o qual, por meio de Cristo se
namento com o Senhor ao escapar do seu tornou ‘'nova massa”(ICo 5:7-8).
juízo. Conquanto originalmente Deus
ordenasse aos israelitas que oferecessem
Cerimônia do molho movido
o sacrifício em suas próprias cidades, ao
entrarem em Canaà eles deveriam passar a Ao entrarem os israelitas em Canaã
oferecê-lo no santuário central(Dt 16:5-6). deveríam levar para o Senhor as primícias
Ali o sangue era aspergido sobre o altar do da colheita de cevada(Lv ^310-11) Isto
mesmo modo que o sangue da maioria dos deveria ser feito em 16 de abibe, durante
sacrifícios(2Cr 35.11). 0 segundo dia da festa dos pães asmos
A festa comemorava a saída do Egito Nao era propriamente falando uma fes
e, ao celebrá-la, cada geração passava,em ta. mas uma cerimônia dentro de uma
certo sentido, pela experiência do Êxodo resta. Um molho da messe era movido
perante o Senhor em reconhecimento ao
(Êx 12:26; cf Dt 6:21-25). Esse evento
como ex- íalo de que toda a colheita pertencia a
era põ^rcebido pelos israelitas
0 modelo de poder redentivo ele como uma expressão de gratidão.- A
pressando
de Deus. Consequentemente, qualquer apresentação das primícias é um símbolo
ato redentivo de Deus no futuro seria in da ressurreição de Cristo no domingo da
páscoa (16 de abibe). Ele é descrito como
terpretado tipologicamente em função do
evento do Êxodo comemorado na páscoa “as primícias” da ressurreição escatoló-
(ex.:ls 48:20-21). gica daqueles que lhe pertencem (ICo
15:23). De fato, "o cordeiro imolado, o
O Novo Testamento revela o significado pão asmo. o molho dos primeiros Irutos,
tipológico dessa festa identificando Jesus representavam o Salvador”.-^
como 0 cordeiro pascal (João 1:36) que
morreu durante a celebração da festa da
ossos não foram A FESTA DAS SEMANAS (PENTECOSTES)
páscoa (19:14) e cujos
quebrados(19:36). E por meio do Seu san Essa festa é também chamada pente-
gue que a redenção foi realizada, libertando costes porque era celebrada 50 dias após
0 ser humano das forças malignas deste a cerimônia das primícias em 16 de abibe
mundo(Hb 9:12; 2:14-15). De fato, Paulo (Lv 23:15-21). Era parte do calendário
considera Jesus como a personificação da agrícola e consistia em levar ao Senhor as
própria festa da pascoa(ICo 5. /). primícias da colheita do trigo em 6 de sivã.
A festa era uma peregrinação celebrada
no santuário central (Dt 16:10). O dia 6
A FESTA DOS PÃES ASMOS
de sivã era um sábado cerimonial durante
intimamente relacio-
Essa festa estava o qual o povo se regozijava diante do Se
Era celebrada de 15 a
nada com a páscoa^ israelita^; nhor por suas bênçãos. “Como expressão
21 de abibe. Durante sete dias os sraelitas de gratidão pelo cereal preparado como
deviam comer pães asmos e nenhum fer- alimento, dois pães assados com fermen
7 H.via ser encontrado em seus lares, to eram apresentados diante de Deus. O
mento devia sei cj* nv a fpefo
(Êx 12:17-20, 34; pentecoste ocupava apenas um dia, que
.,.-0 r> fí=*mDO em que eies ueixa-
era dedicado ao culto religioso.”'*
apontava p pg\to, não tendo tempo
ram apressados O primeiro A festa estava também associada à expe
para preparar P sábados riência de Israel no Sinai quando foi esta
e 0 ultimo d-a ^as três festas belecida a aliança. Segundo Êxodo 19:1,os
cerimoniais. ^ a^ite cuja celebração os israelitas chegaram ao Sinai no terceiro mês
de peregrinação ou
As FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ / 31

após a saída do Egito. O pentecostes era Alguns desses salmos associam esta experi
celebrado durante o terceiro mês do ano.A ência com um chamado para louvar a Deus
celebração da festa era provavelmente um como rei,juiz do mundo (47:5-7; 98:6-9),
memorial ou uma reafirmação da aliança e como Criador e preservador do seu povo
entre Deus e Israel(cf 2Cr 15:10-13). Foi (100:1-5).^
por causa da aliança que a nação israelita A festa das trombetas não é mencionada
veio à existência(Ex 19:5-6).
explicitamente no Novo Testamento,o que
O Novo Testamento estabelece uma ní toma difícil identificar o seu significado
tida conexão entre o pentecostes e a igreja tipológico. Contudo,o livro de Apocalipse
cristã. Foi durante a festa do pentecostes faz referência às sete trombetas que são
que os discípulos receberam o batismo tocadas antes da consumação da salvação
do Espírito Santo e a igreja como tal veio e que chegam ao fim com uma visão do
à existência como o novo povo de Deus lugar santíssimo do templo celestial. “Pre
(At 2:1-4). Então foi estabelecida a nova cisamente como a festa das trombetas...
aliança(3:25). Mas também apontava para convocava o antigo Israel a fim de prepa
algo que ocorreu no santuário celestial. rar-se para a vinda do dia de juízo, Yom
“O derramamento pentecostal foi uma Kippur, assim as trombetas do Apocalipse
comunicação do Céu de que a confir enfatizam especialmente a aproximação
mação do Redentor havia sido feita. De do Yom Kippur antitípico... As trombetas
conformidade com sua promessa, Jesus parecem retroceder na história da salva
enviara do Céu o Espírito Santo sobre seus ção como sinais ao longo da era cristã de
seguidores, em sinal de que Ele, como que Deus se “lembrará” (isto é, agirá em
Sacerdote e Rei, recebera todo o poder favor de) seu povo e como avisos para o
no Céu e na Terra, tomando-se o Ungido preparo para o antitípico dia da expiação.^
”5
sobre seu povo. Elas descrevem a Deus como juiz da raça
humana e como enviando juízos sobre
A FESTA DAS TROMBETAS
pecadores impenitentes antes de ocorrer o
julgamento final.
Esta é a primeira das festas de outono
(Lv 23:23-25). Era celebrada durante o sé O DIA DA EXPIAÇÃO
timo mês(tishri)como um dia de descanso
solene, um sábado cerimonial. Embora o dia da expiação era celebrado no dia
alguns creiam que essa é uma festa de ano 10 de tishri, mas ao contrário de outras fes
novo,o texto não realça este fato. E chama tas,este era um dia dejejum para o povo de
da festa das trombetas porque a celebração Israel(Lv 23:29); não era uma festividade.
era iniciada por um toque de trombetas. De Era um sábado cerimonial durante o qual
fato, “trombetas” talvez não seja a melhor nenhum trabalho deveria ser feito (v. 28).
tradução do termo hebraico t'rü‘ah. Este Durante esse dia o sumo sacerdote realiza
termo parece designar o forte som do chifi^e va o serviço anual em favor dos israelitas.
de carneiro {shophar) em vez do som de Nesse dia o santuário era purificado de to
uma trombeta {htsotsrah, “trombeta”; cf dos os pecados, transgressões e impurezas
Nm 10:10; 29:1). do povo de Deus (Lv 16:16, 21, 30). Era
um dia de juízo em Israel.
A festa é descrita como um memorial
(Lv 23:24), mas não somos infoiroados no O dia da expiação não estava relaciona
tocante ao que ela comemora. É possível do com nenhum evento específico da histó
que o propósito da festa tenha sido lembrar ria de Israel. Antes, apontava para o futuro
ao povo que Deus era o Criador e Juiz do ato divino de julgamento e purificação.
mundo no preparo para as cerimônias do Miquéias usa a terminologia e ideologia
dia da expiação. Isto é sugerido por algu do dia da expiação para descrever a futura
mas passagens dos Salmos onde se faz obra de Deus em favor do seu remanescente
menção ao som de buzinas e de fazer “ruído escatológico. Descreve a Deus como aquele
jubiloso” diante do Senhor(cf SI 95-100). que perdoa as “transgressões”(7:18; pesct
32/ PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

rebelião”; Lv 16:16, 21), “iniqüida- intimidade entre Deus e seu povo (ex.:
des”(7:19;^awôn = “ofensa”; Lv 16:21), e 11:1-4; 2:14-15).
“pecados”(toto 7 = “pecado”;(Lv 16:21, A festa dos tabemáculos era também
30),removendo-os da sua presença e mos
interpretada escatologicamente como
trando sua fidelidade e misericórdia para
com o remanescente(Mq 7:20). apontando para um tempo futuro quando
a colheita de salvação de Deus se encer
As visões apocalípticas de Daniel apon rará e as nações do mundo irão adorá-Lo.
tam para um tempo em que o santuário seria Zacarias descreve para nós um tempo em
purificado pouco antes do estabelecimento que toda a cidade de Jemsalém estará pu
do reino de Deus na Terra(8:13,14). Isto su rificada e as nações da Terra virão perante
gere que o dia da expiação é essencialmente Deus para celebrar a festa dos tabemáculos
típico em vez de comemorativo. Aponta (14:16-21). O livro de Apocalipse desvenda
para o passado somente até o ponto em que o cumprimento tipológico dessa festa na
lida com todos os pecados do povo de Israel grande multidão que João viu “em pé diante
cometidos durante os anos anteriores. Mas o do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
fato de ocorrer ano após ano toma-o um tipo vestiduras brancas,com palmas nas mãos”
da ílitura e final purificação do povo de Deus (7:9). Eles estavam louvando e dando gra
em preparação para o reino messiânico. É ças a Deus por sua salvação. A colheita da
10
para esta dimensão tipológica que Miquéias salvação havia terminado (14:15-16).
e Daniel estão apontando.
Por intermédio das diferentes festi
vidades Deus estava revelando ao seu
A FESTA DOS TABERNÁCULOS
povo importantes aspectos do seu plano
Essa festa era celebrada durante 15 a 21 de salvação. As festividades da primavera
de Tisri. Era a última festa do ano agrícola falam sobre redenção efetuada; as festivi
depois de terminar a colheita (Êx 23:16; dades de outono acerca da consumação da
34:22). Era uma festa de peregrinação redenção. Seu significado tipológico não
quando Israel ia adorar a Deus no santuá somente aponta para a cruz, mas também
rio central(Dt 16:15). Era uma festa muito para o que está ocorrendo agora no reino
alegre durante a qual o povo expressava celestial e na Terra e nos permite anteci
sua gratidão a Deus(Lv 23:40; Jz21:19- par o que está prestes a ocorrer, isto é, a
21; Dt 16:14). A festa se iniciava com um ceifa escatológica.
sábado cerimonial e concluía com outro
em 22 de tishri (Lv 23:36). “Esta festa As FESTIVIDADES DO AnTIGO
reconhecia a generosidade de Deus nos
Testamento e a igreja cristã
produtos do pomar, do olival e da vinha.
Era a reunião festiva encerradora do ano. Devem os cristãos observar as fes
A terra havia concedido o seu produto, as tividades israelitas? Esta tem sido uma
colheitas estavam guardadas nos celei
questão muito debatida entre os cristãos,
ros; os frutos, o azeite e o vinho estavam mas a atual opinião prevalecente é que elas
armazenados, as primícias reservadas, e
tinham apenas um significado tipológico
agora o povo vinha com seus tributos de que foi cumprido em Cristo e sua obra de
ações de graças a Deus,que os havia assim mediação e juízo. Entre os adventistas há
abençoado ricamente.”* alguns que chegaram à conclusão de que
Durante a festa os israelitas moravam é necessário observar as festas e eles têm
em cabanas feitas de ramos de palmeiras promovido esta prática entre os membros
e ramos de árvores frondosas (23:40). A da igreja. Ao tratar desta questão,é necessá
festa era um memorial do tempo em que rio examinar as passagens bíblicas em que
é discutido o assunto das festas israelitas a
Deus fez Israel habitar em tendas durante
fim de determinar sua natureza e propósito.
sua peregrinação no deserto depois da saída
Vários eruditos adventistas têm examinado
do Egito (23:42).'^ Esse período é descrito
este assunto e a conclusão comum a que
por Oséias como um período de grande
As FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ / 33

eles chegaram, com exceção de Samuele referência explícita ao sábado em Êxodo


Bacchiocchi,é que a Bíblia não espera que 16 não menciona nenhum sacrifício ofere
os cristãos observem as festividadesjudai cido durante esse dia. Os sacrifícios foram
cas. Vamos resumir brevemente e avaliar associados ao sábado somente depois de ter
alguns dos principais argumentos usados sido feita a aliança e depois de ser instituído
para apoiar esta conclusão. o sistema sacrificial em Israel. Na Bíblia,
os sacrifícios não são um componente
indispensável da observância do sábado, a
(1)As FESTIVIDADES
qual poderia claramente ser mantida inde
E O SISTEMA SACRIFICIAL
pendente deles.
Cada uma das festividades era carac
terizada pela alegria de trazer oferendas e (2)As FESTIVIDADES
sacrifícios ao Senhor. Levítico 23 enumera E O CULTO CENTRALIZADO
as diferentes festividades e então sintetiza
seu principal objetivo, dizendo:“São estas Várias festividades deveriam ser cele
as festas fixas do Senhor,que proclamareis bradas no templo e não em qualquer outro
para santas convocações, para oferecer lugar na terra de Israel. Exigia-se especifi
ao Senhor oferta queimada” (v. 37). A camente que três festas fossem celebradas
preposição hebraica A’ (“para”) é usada no templo,tomando necessário que o povo
aqui para expressar a idéia de propósito. aparecesse perante o Senhor, a saber: a
Não há nenhuma indicação na Bíblia de festa dos pães asmos,a festa das semanas
e a festa dos tabernáculos (Dt 16:16).
que durante as festividades um sacrifício
Mesmo a Páscoa, que foi originalmente
espiritual poderia tomar o lugar de um ma
terial. As festas não podiam ser celebradas uma celebração em família, foi também
sem a oferta de sacrifícios. Em qualquer centralizada e ligada ao Templo:“Não po
derás sacrificar a Páscoa em nenhuma das
caso, não há nenhuma instrução dada na
Bíblia concernente a como observar a festa tuas cidades que te dá o Senhor,teu Deus.
sem uma vítima sacrificial. Aqueles que senão no lugar que o Senhor, teu Deus,
escolher para fazer habitar o seu nome”
promovem a observância das festividades
têm de criar sua própria maneira pessoal (16:5, 6). A Bíblia não admite a celebra
de celebrar as festas e no processo criam ção dessas festividades em algum outro
tradições humanas que não se baseiam lugar. Oséias perguntou aos israelitas que
deveriam ser exilados para a Assíria:“Que
em uma explícita expressão bíblica da
fareis vós no dia da solenidade e no dia da
vontade de Deus.
festa do Senhor?”(9:5). A resposta implí
Alguns têm afirmado que se a associação cita é: Nada!” Eles não seriam capazes
das festas com sacrifícios é tomada como de observar essas festas estando distantes
um motivo para limitar sua celebração ao do templo de Jemsalém."
tempo antes da vinda do Messias, então o Comenta Ellen G. White:
mesmo deve ser aplicado ao sábado, que
também estava associado aos sacrifícios Três vezes por ano era exigido dos judeus
no Antigo Testamento(Nm 28:9-10). Este reunirem-se em Jerusalém para fins religiosos.
é certamente um argumento inválido. O Envolto na coluna de nuvem, o invisível Guia de
Israel dera instruções quanto a esses cultos. Du
propósito específico dado no texto para a
rante o cativeiro dosjudeus,eles não puderam ser
celebração das festas era trazer ofertas ao
observados; mas ao ser o povo restabelecido em
Senhor na forma de sacrifícios. Isto não é
seu próprio país,recomeçara a observância dessas
declarado em parte alguma na Bíblia com comemorações. Era o designio de Deus que esses
respeito ao sábado,cuja finalidade principal aniversários O trouxessem à mente do povo.Com
era prover um tempo de repouso a fim de poucas exceções, porém, os sacerdotes e guias
se ter companheirismo e comunhão com da nação haviam perdido de vista esse objetivo.
o Criador. De fato, quando o sábado foi Aquele que ordenara essas assembléias nacionais
instituído no Jardim do Éden, o sacrifício e lhes compreendia o significado, testemunhava a
de animais era inconcebível. A primeira deturpação das mesmas.’-
34 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

Qualquer tentativa para justificar sua (4)As FESTIVIDADES


celebração independente do templo isra E A IDENTIDADE ÉTNICA
elita é simplesmente uma determinação
humana sem qualquer base bíblica e pode A identidade étnica e religiosa dos
ser descrita, uma vez mais, como uma israelitas estava intimamente associada à
tradição humana. celebração de algumas das festividades.
Muito importante neste caso é a páscoa,
que estava restrita aos israelitas e àqueles
(3)As FESTIVIDADES que por meio da circuncisão se tomassem
E o CALENDÁRIO AGRÍCOLA israelitas(Êx 12:43-50). Bem pode ser que
Muitas das festividades estavam inti os judaizantes que Paulo enfrentou nas
mamente ligadas ao calendário agrícola igrejas cristãs estivessem exigindo que os
israelita. Este é claramente o caso com cristãos gentios se tomassem judeus (ou
respeito à festa dos pães asmos,que estava seja, fossem circuncidados - Atos 15:1)
ligada de perto à páscoa (Lv 23:5-11), a a fim de que pudessem celebrar a páscoa
festa das semanas(pentecostes; Dt 16:13; e, possivelmente, outras festividades e
Lv 23:15); e a festa dos tabemáculos(Êx rituais judaicos.
23:16; Dt 16:9; Lv 23:32). O mesmo se
aplicava aos anos sabáticos (Êx 23:10). (5)As FESTIVIDADES E O SiNAI
A implicação é que era impossível para
A Bíblia estabelece o fato de que as
os israelitas celebrar algumas dessas
festividades foram instituídas em Israel no
festividades antes da entrada em Canaã.
Este era particularmente o caso com as Monte Sinai, como parte da aliança entre
festas de pentecostes e dos tabemáculos Deus e Israel. Alguns têm sugerido que
Gênesis 1:14 indica que Deus instituiu as
(Êx 23:16). Nenhuma exceção a essas re
gras é mencionada na Bíblia, desse modo festividades antes do Sinai porque a passa
indicando que a celebração dessas festas gem declara:“Haja luzeiros no firmamento
estava restrita àqueles que moravam na dos céus, para fazerem separação entre o
terra de Israel. dia e a noite; e sejam eles para sinais, para
estações [mô^^éd], para dias e anos.” O
Depois da destruição do templo em 70 termo hebraico mô^êd, aqui traduzido por
d.C.,osjudeus desenvolveram um sistema “estações”, é o termo técnico usado para
que os habilitava a observar as festivida designar as festividades. Por exemplo,em
des sem 0 templo e fora de Israel. Isto Levítico 23:2: “As festas fixas do Senhor,
não foi instituído como resultado de uma que proclamareis, serão santas convoca
revelação especial de Deus por meio da ções; são estas as minhas festas”, o plural
qual Ele os instruiu em tal procedimento. mô^^^dim é traduzido por “festas fixas”. Mas
Essas festividades eram tão importantes é insano transferir este significado para
para a identidade judaica que eles decidi Gênesis 1:14. Primeiro, o termo hebraico
ram conservar viva sua memória. Mas a mâ^éd é freqüentemente usado no sentido
verdade é que fora da terra de Israel e na de “tempo determinado” e expressa a idéia
ausência dos rituais do templo era simples de “estação”, um tempo específico do
mente impossível observar as festividades ano em que ocorre um evento como, por
exatamente como o Senhor instruiu o povo exemplo, quando os pássaros migram (Jr
no Antigo Testamento. Os cristãos que 8:7; cf. Gn 17:21),ou está pronta a colheita
estão interessados em observar as festivi das uvas(Os 2:9). Não se refere exclusiva
dades enfrentam o problema de prover a mente às festividades. Muitos críticos eru
evidência bíblica que apoiaria a maneira ditos crêem que em Gênesis 1:14o termo
como as festividades devem ser observa também se refere ao festival cultuai. Esta
das independente dos serviços do templo conclusão se baseia em sua convicção de
em terras fora de Israel. Se eles não podem que Gênesis foi escrito durante o período
prover a evidência,estão formulando suas pós-exílico e que Moisés não o escreveu.
Discordamos deles.
próprias tradições não-bíblicas.

.k
As FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ /35

Segundo,se quisermos definir mais es bíblico está fazendo um esforço especial


pecificamente o significado do termo l^mô- para indicar que o sábado não é parte das
‘'“dim em Gênesis 1:14,devemos olhar para festas retomando àquela frase antes de
o contexto em que a criação do sol e da lua enumerar as festas.
está sendo discutida e não a sua utilização
Terceiro, a referência ao sábado é
em contextos de discussões cultuais. En
importante porque esse dia é especialmente
contramos tal contexto em Salmo 104:19,
santo. Em 23:3 é declarado que durante o
no qual é descrito o poder e o propósito sábado os israelitas não deveríam fazer
criativo de Deus: “Designou a lua para as “nenhuma obra”. Conceraentemente às
estações” [Almeida antiga]. O termo he
festas lemos que durante o tempo da santa
braico especifica o propósito ou
função da lua e provavelmente se refere às convocação — os sábados cerimoniais — o
povo não fará “nenhuma obra servil”(23:8,
fases da lua ou mais corretamente à função
21, 25, 35, 36). Isto indica que havia um
da lua como o corpo celeste que determina
tipo de obra que lhes era permitido fazer
o tempo fixo chamado “mês”. Terceiro, a
durante as festividades e que era proibido
passagem de Gênesis não pode ser utilizada o
para argumentar que as festividades foram durante o sábado. A propósito, durante
dia da expiação o povo não devia fazer
instituídas na Criação porque a passagem
“nenhuma obra”(23:28).
não está lidando com o regulamento das
festividades, mas com as funções especí Finalmente, Levítico 23:37-38 declara
ficas do sol e da lua. A conexão temática e explicitamente que as festividades não eram
terminológica entre Gênesis 1:14 e Salmo como o sábado: “São estas as festas fixas
104:19 indica que o termo tmô^“dim é do Senhor, que proclamareis para santas
usado em Gênesis para designar o período convocações,para oferecer ao Senhor oferta
fixo de tempo a que chamamos de “mês”, queimada... além dos sábados do Senhor, e
uma palavra que não é empregada na pas das vossas dádivas.” O Senhor não quena
sagem. Em Gênesis “uma tríplice função é que o povo considerasse o sábado como uma
designada a esses celestiais portadores de daquelas festas e deixou claro que elas deve-
luz: fazer separação entre o dia e a noite, nam ser celebradas além do sábado. Mesmo
servir como sinais da passagem do tempoi as ofertas trazidas durante as festividades
e iluminar a Terra.”'^ eram também além daquelas trazidas duran
te os serviços regulares. Não há ne^uma
(6)As FESTIVIDADES E O SÁBADO base bíblica para sugerir que o sábado e as
festas estejam na mesma categoria.
Alguns têm até mesmo sugerido que o
sábado era também considerado uma fes
(7)As FESTIVIDADES E OS CRISTÃOS
tividade e que, portanto, se as festividades
os
foram abolidas, o sábado também deve ter o Novo Testamento deixa claro que
sido abolido. Isto é obviamente incorreto. rituais do santuário do Antigo Testarnento
Primeiro, o sábado foi instituído muito chegaram ao fim por meio do sacrifício de
antes do Sinai, mesmo antes da entrada do Cristo na cruz e do seu ministério sumo
pecado no mundo; mais especificamente, sacerdotal no santuário celestial. A lei que
durante a semana da criação. Não é uma regulava o sistema israelita de adoração
sombra apontando para Cristo e sua obra. era sombra dos bens vindouros, não a
Segundo, Levítico 23:2 é uma declaração imagem real das coisas” (Hb 10:1), e
entre parênteses e não a primeira festa enu encontrou seu cumprimento em Cristo.
merada no capítulo. É verdade que é dito Concementemente à festa da páscoa diz
em 23:2: “São estas as minhas festas...” e Ellen G. White:
então o mandamento do sábado é imedia No décimo quarto dia do mês,à tarde,celebra
tamente mencionado. Mas note que em va-se a Páscoa,comemorando as suas cerimônias
23:4, depois da referência ao sábado,outra solenes e impressionantes o livramento do cati
vez encontramos a frase introdutória:“São veiro do Egito, e apontando ao futuro sacrifício
estas as festas fixas do Senhor.” O escritor que libertaria do cativeiro do pecado. Quando o
36 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007
!
Salvador rendeu Sua vida no Calvário, cessou a As referências às festividades no Novo
significação da Páscoa,e a ordenança da Ceia do Testamento têm a finalidade primária de
Senhor foi instituída como memorial do mesmo
datar eventos. Por exemplo, a prisão de Pe
acontecimento de que a páscoa fora tipo.'*
dro por Herodes é datada dos dias dos pães
asmos(Atos 12:3). A menção da festividade
Quando o tipo encontrou o antítipo,
não tem o intento de mostrar que Herodes ou
o tipo chegou ao fim. Escreveu ela em Pedro estava celebrando a festa. Um outro
outro lugar:
caso é a referência ao “jejum”em Atos 27:9.
Cristo se achava no ponto de transição entre dois O “jejum” neste verso muito provavelmente
sistemas e suas duas grandes festas. Ele,o imacu se refere ao dia da expiação. Mas a pas
lado Cordeiro de Deus, estava para se apresentar sagem não está dizendo que Paulo estava
como oferta pelo pecado, e queria assim levar a celebrando tal cerimônia. É mencionada a
termo o sistema de símbolos e cerimônias que por
quatro mil anos apontara sua morte. Ao comer a
fim de datar o incidente e prover um motivo
páscoa com seus discípulos, instituiu em seu lugar
para o conselho que Paulo estava dando aos
o serviço que havia de comemorar seu grande sa marinheiros. A navegação era perigosa du
crifício. Passaria para sempre a festa nacional dos rante a última parte do ano,especificamente
judeus.O serviço que Cristo estabeleceu devia ser depois de setembro. Referindo-se ao dia \
observado por seus seguidores em todas as terras da expiação, Lucas data o evento usando o
e por todos os séculos.'* calendário judaico. O que ele parece estar
dizendo é que “não apenas havia começado
Dificilmente ela poderia ter sido mais o tempo perigoso para a navegação,ojejum
clara quanto à função tipológica da páscoa (ou mesmo ojejum)era agora passado”19 - de
e dos outros tipos e cerimônias. sorte que era mais perigoso do nunca.
Não mais observamos os regulamentos Há alguma evidência para apoiar a
rituais levíticos. Temos um novo sumo conclusão de que quando os gentios se
sacerdote que não pertence à ordem de tomavam cristãos eles aceitavam o calen
Arão e “quando se muda o sacerdócio, dário judaico.-® O motivo era que “outros
necessariamente há também mudança de sistemas de calendários nomeavam os dias
lei”(Hb 7:12). A lei aqui mencionada não e os meses segundo as divindades pagãs e
deve estar limitada a uma que regula a demarcavam as estações por ritos pagãos.
linhagem sacerdotal; é antes a lei que não Em contraste, os judeus distinguiam as
pode aperfeiçoar(7:19),a lei que regula os estações pelas festividades que obviamen
rituais do santuário.
te não tinham nenhuma conotação pagã.
Provavelmente se poderia afirmar que Eles reconhecem os meses por luas novas
durante a era apostólica alguns cristãos e nomeiam esses meses usando termos
talvez tenham observado as festividades, agrícolas. Designam a semana por sábados;
mas não há nenhuma evidência bíblica começando no sábado, eles numeram, em
para apoiar a conclusão de que isto era vez de nomear, os dias da semana de um
uma exigência para os membros da igreja. a seis. Judaico, pagão, ou absolutamente
Há várias passagens no Novo Testamento nenhum sistema de cronometragem são
que dão a impressão de que Paulo celebrou as únicas opções disponíveis para Paulo e
suas comunidades,e a evidência indica que
algumas festas, mas não é claramente afir ”21
eles optaram pelo primeiro, Portanto,
mado nessas passagens(At 20:6, 15; ICo não devemos concluir que as referências às
16:8).'^ Devemos ter em mente que Paulo festas no Novo Testamento significam ne
uma vez foi ao templo de Jerusalém e ofe cessariamente que os apóstolos e as igrejas
receu sacrifícios(At 21:17-26)e até mesmo estavam celebrando aquelas festas.
permitiu que Timóteo fosse circuncidado
(At 16:1). Todavia, ele estava plenamente Conclusão
consciente do fato de que tais práticas não
18 As festividades israelitas eram ocasi
eram exigidas dos crentes cristãos.
ões de júbilo para os israelitas dentro da
As FESTIVIDADES ISRAELITAS E A IGREJA CRISTÃ / 37

teocracia instituída por Deus no Sinai. para os símbolos e sombras. A única festa
Elas comemoravam importantes eventos que ainda não se cumpriu ou está sendo
salvíficos da história de Israel e, ao mesmo cumprida é a festa dos tabemáculos, mas
tempo, apontavam tipologicamente para já somos parte da ceifa universal que Cris
a futura obra de salvação que Deus iria to virá recolher na segunda vinda.A Bíblia
realizar em favor do seu povo por meio do indica que a celebração das festividades
Messias. Com a chegada do Messias,a re tinha limitações geográficas e temporais
alidade para a qual elas apontavam já está e que suas funções religiosas encontraram
aqui e não mais há necessidade de olhar seu cumprimento em Cristo.

Referências

' Artigo traduzido do original em inglês por no deserto, o povo devia agora deixar suas casas, e
Francisco Alves de Pontes. habitar em cabanas, ou em caramanchéis,formados
- “Um molho deste cereal era movido pelo sa dos ramos verdes ‘das formosas árvores, ramos de
cerdote diante do altar de Deus,em reconhecimento palmas, ramos de árvores espessas, e salgueiros de
de que todas as coisas eram dele. Antes que esta ribeiros’. Levítico 23:40,42 e 43”(White,Patriarcas
cerimônia se realizasse não se devia fazer a colheita” e Profetas, 540).
(Ellen G. White, Patriarcas e Profetas [Tatuí, SP: “A festa dos tabemáculos não era apenas come
Casa Publicadora Brasileira, 1997], 539). morativa, mas também típica. Não somente apontava
^ White, O Desejado de Todas as Nações(Tatuí, para a peregrinação no deserto, mas, como festa da
SP: Casa Publicadora Brasileira, 2000), 77. ceifa, celebrava a colheita dos fhitos da terra, e in
^ Idem, Patriarcas e Profetas, 540. dicava, no futuro, o grande dia da colheita final, era
^ Idem, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa que o Senhor da seara enviará os seus ceifeiros para
Publicadora Brasileira, 1986), 39. ajuntar ojoio em feixes para o fogo,e colher o trigo
Segundo Ellen G. White, a festa foi celebrada para o seu celeiro. Naquele tempo os ímpios todos
durante o tempo de Esdras e Neemias:“Esse era um serão destmídos. Eles se tomarão ‘como se nunca
dia festivo, um dia de regozijo, uma santa convo tivessem sido’. Obadias 16. E toda voz,no Universo
cação, um dia no qual o Senhor tinha ordenado ao inteiro, unir-se-á em jubiloso louvor a Deus”(White,
povo que se mostrasse alegre e jubiloso; e em vista Patriarcas e Profetas, 541).
disto foram chamados a restringir suas mágoas, e '' Declara o profeta em Oséias 2:11:“Farei cessar
a se rejubilarem por causa da grande misericórdia todo o seu gozo, as suas festas de lua nova, os seus
do Senhor para com eles. ‘Este dia é consagrado ao sábados e todas as suas solenidades.” Aqui o sábado
Senhor vosso Deus’, disse Neemias, ‘pelo que não está incluído juntamente com as festas. Isto tem
vos lamenteis, nem choreis... Ide,comei as gorduras, sido interpretado por alguns para indicar que se os
e bebei as doçuras,e enviai porções aos que não têm israelitas não pudessem observar as festas durante o
nada preparado para si; porque este dia é consagra exílio, não seriam eles capazes de guardar o sábado.
os
do ao nosso Senhor. Portanto não vos entristeçais, Isto é equívoco porque, primeiro, sabemos que
porque a alegria do Senhor é a vossa força’(Ne israelitas guardaram o sábado durante o exílio, mas
8:9 e 10). A primeira parte do dia fora devotada a não as festas, porque as festas exigiam os serviços do
exercícios religiosos, e o povo despendeu o resto do templo. Segundo, esta passagem está simplesmente
tempo em grata reconsideração das bênçãos de Deus, indicando que Deus iria dar um fim a todo o corrom
e em desfrutar a abundância que Ele provera. Porções pido sistema israelita de adoração. Não está tratando
foram também enviadas aos pobres que nada tinham do assunto sobre se eles seriam ou não capazes de
para preparar. Houve grande regozijo, por causa das guardar as festividades e o sábado durante o exilio. E
palavras da lei que haviam sido lidas e entendidas” emI Oséias 9:5 que é suscitada a questão de observar
(Profetas e Reis [Tatuí, SP: Casa Publicadora Bra as festividades em um pais estrangeiro é a resposta
sileira, 1992], 662). dada é negativa. É importante notar que em 9:5 o
’ Richard M. Davidson,“Sanctuary Topology”, sábado não está incluido.
Symposium on Revelation - Book 1, editado por White, O Desejado,447. Há várias passagens
Frank B. Holbrook (Silver Spring. MD: Biblical onde os israelitas são ordenados a observar festivi
Research Institute, 1992). 123. dades como “estatuto perpétuo por vossas gerações,
White, Patriarcas e Profetas, 540. em todas as vossas moradas”(Lv 23:14, 21), dando
“Como a páscoa, a festa dos tabemáculos era a alguns a impressão de que isto está se referindo a
comemorativa. Em memória de sua vida peregrina qualquer lugar no mundo. Mas certamente não é este
1

38 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

O caso. Os israelitas estavam indo para Canaã e era que “evidência textual favorece a omissão” destas
este o lugar onde eles residiríam e onde se esperava palavras(Francis D.Nichols,Seventh-day Adveníist
que eles celebrassem as festividades. Esta era a Bible Commentaiy,vol.6[Washington,DC: Review
terra que o Senhor lhes deu como “terra das vossas and Herald, 1956], 367).
18
habitações”(Nm 15:2; cf. Ez 6:6). Alguns têm encontrado na seguinte decla
Victor P. Hamilton, The Book of Gênesis ração de Ellen G. White apoio para a observância
Chapíers 1-17 (Grand Rapids, MI: Eerdmans, hoje da festa dos tabernáculos: “Bom seria que o
1990), 127. povo de Deus na atualidade tivesse uma festa dos
14
Argumentam alguns que sendo que a celebra tabernáculos - umajubilosa comemoração das bên
ção das festividades era “estatuto perpétuo por vossas çãos de Deus a eles. Assim como os filhos de Israel
gerações” (Lv 23:14), elas deveríam permanecer celebravam o livramento que Deus operara a seus
para sempre. O termo “para sempre” não significa pais, e sua miraculosa preservação por parte dele
necessariamente que tudo a que ele se refere nunca durante suas jornadas depois de saírem do Egito,
terá fim (cf. Êx 27:21; Lv 7:36; 10:9; 17:7; Nm devemos nós com gratidão recordar-nos dos vários
10:8; 15:15; 18:23). Por exemplo,o fogo que arderá meios que Ele ideou para nos tirar do mundo,e das
para sempre se refere ao fogo que queimará até que trevas do erro, para a luz preciosa de sua graça e
consuma seu objeto e então se extinguirá. As festas verdade”(White,Patriarcas e Profetas,540,541).
deveríam durar até ao tempo em que encontrassem Mas ela não está promovendo a celebração das
seu cumprimento na obra de Jesus. festividades do Antigo Testamento. Está simples
IS í
16
White,Patriarcas e Profetas, 539. mente sugerindo,aconselhando,recomendando que
Idem, O Desejado, 652. tenhamos uma festa dos tabernáculos no sentido de
17
Todavia, Ellen G. White comenta sobre Atos: nos reunirmos para comemorar as muitas bênçãos
“Em Filipos Paulo demorou-se para celebrar a que temos recebido do Senhor. Isto será como um
páscoa. Só Lucas ficou com ele, partindo os demais culto de testemunhos, quando se concede tempo
membros da comitiva para Trôade, a fim de ali o aos membros da igreja para agradecer publicamente
esperarem. Os filipenses eram, dentre os conversos a Deus por sua bondade para com eles. Concluir
do apóstolo, os mais amorosos e sinceros, e durante do que ela diz aqui que devemos observar a festa
os oito dias da festa ele desfrutou pacífica e feliz dos tabernáculos é mal-interpretá-la. A festa dos
comunhão com eles” {Atos dos Apóstolos, 390, tabernáculos era uma festividade de colheita, mas
391). Vários comentários estão em ordem.(1) É na igreja cristã a verdadeira colheita é a colheita de
interessante observar que os companheiros de Paulo almas que ocorrerá no momento da segunda vinda.
não ficaram com ele, mas continuaram em seu luto. Então,comojá foi salientado, a festa será celebrada
Isto podería sugerir que eles não observaram a festa. diante do trono de Deus(Ap 7). A celebração terá
(2) Ellen G. White não diz que os filipenses obser lugar depois e não antes da colheita.
19
varam a festa com Paulo, mas que eles desfrutaram F. F. Bruce, The Acts of the Apostles: The
aqueles dias de comunhão com ele.(3)É importante Greek Te.xt with Introduction and Commentary
observar que o texto não provê nenhuma informa (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1951),455. O jejum
ção concernente à maneira como Paulo observou a mencionado em Atos 13:2-3 não tem nada a ver com
festa fora de Jerusalém. Pouco sabemos no tocante o Dia da Expiação.
20
à celebração da principal festividade judaica pelos Para evidência, ver Troy Martin, “Pagan and
judeus durante a dispersão.(4) O fato de que nem Judeo-Christian Time-Keeping Schemes in GI 4.10
Paulo nem qualquer dos apóstolos regulamentou and Cl 2:16”, New Testament Studies 42 (1996):
a observância cristã dessas festas indica que elas 105-119.
21
não eram uma exigência cristã. Doutro modo, a Ibid., 108. Ele menciona 1 Coríntios 16:2,
instrução teria sido dada. Sendo que a Bíblia silencia onde Paulo se refere ao “primeiro dia da semana”
no que concerne a este assunto, qualquer tentativa e não ao dia do sol. Seria incorreto concluir que
para regulamentar sua observância pelos modernos pelo fato de os cristãos terem aceito o calendário
cristãos seria uma imposição humana destituída judaico eles também aceitavam ou celebravam as
de qualquer apoio bíblico. Talvez seja útil dizer festividades judaicas. Acrescenta Martin: “Em se
uma palavra concernente a Atos 18:21. Diz a King guida à destruição do templo em 70 d.C., o sistema
James Version: “Devo por todos os meios guardar temporaljudaico permanece intacto mesmo quando
esta festa para que entre em Jerusalém.” Traduções os judeus não podem mais oferecer os sacrifícios
mais recentes omitem esta sentença. O motivo é prescritos”(110-111).
Estêvão,Israel
E A Igreja
Wilson Paroschi, Ph.D.
Professor de Novo Testamento no Sait, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

Resumo: O presente artigo investiga as da igreja e reformadores^ — muitos autores


razões que indicam o apedrejamento de simplesmente afirmavam que a 70^ semana,
Estêvão, no ano 34 da era cristã, como o que havia se iniciado com o batismo de
evento que encerra a profecia das “setenta Jesus, chegou ao fim quando o evangelho
semanas” de Daniel 9:24-27.0 autor parte começou a ser pregado aos gentios.A única
de um importante material produzido sobre indicação na profecia para esta conclusão
0 assunto por William H. Shea, na década era a frase introdutória: “Setenta semanas
de 1980, desenvolvendo e ampliando a estão determinadas sobre o teu povo e sobre
argumentação ali presente. O artigo primei a tua santa cidade”(v. 24), que se admitia
ramente reconstrói os ambientes histórico significar o final de todos os privilégios do
e teológico de Estêvão e o papel que ele povo judeu.
desempenhou na vida da igreja apostólica.
Esta interpretação recebeu mais sólido
Em seguida,analisa o significado profético
de seu discurso e sua visão no contexto da apoio escriturístico quando Estevão foi
inserido no cenário profético. A primeira
teocracia israelita, bem como seus resulta
pessoa a fazer isto parece ter sido o erudito
dos no relacionamento final entre Deus e irlandês William Hales. Em 1799, Hales
a nação judaica. publicou um volume anônimo em que
Abstract: This article deals with the rea- afirmava que a última das setenta semanas
sons behind the stoning of Stephen, in the havia terminado em '‘'"cerca de 34 d.C.{por
year A.D. 34 understood as the event that volta do martírio de Estevão) Quase dez
marks the end ofthe “seventy weeks” pro- anos mais tarde, na primeira edição do
seu A New Analysis ofChronology, ele foi
phecy ofDaniel 9:24-27. The author starts
out with the crucial work written on the menos hesitante em afirmar que a profecia6
“terminou com o martírio de Estevão
subject by William H. Shea, in the 1980s,
developing and broadening the discussion Finalmente, na segunda e mais definitiva
presented there. The article presents first edição dessa obra,ele não somente confir
the historical and theological contexts in mou sua posição, mas também a^ aperfei
which Stephen appears in Scripture, and çoou um pouco mais. Essa edição rnuito
contribuiu para popularizar sua cronologia
the role he played in the life of the apos-
entre alguns escritores proféticos dos pró
tolic church. It also analyzes the prophetic ximos dois séculos. Baseado em evidencia
meaning ofStephen’s speach and vision in
bíblica, histórica e astronômica, ele datou
the Israel theocratic context, as well as its
a crucifixão em 31 d.C., no meio da 70
final outcome in the relationship between
semana."O batismo, portanto, que ocorreu
God and the Jewish nation.
em 27 d.C., foi o evento que assinalou
Introdução' o início da “primeira metade da semana
da paixão de anos”, cuja metade restante
A interpretação histórico-messiânica “terminou com o martírio de Estevão, no
das setenta semanas- de Daniel 9:24-27 sétimo, ou último ano da semana Ele
teve de esperar um tempo muito longo por então acrescentou:
uma defesa exegética do evento que enceiTa
a profecia. Até o final do século dezoito Porque é notável que o ano seguinte, 35 d.C.. deu
início a uma nova era na igreja cristã, a saber, a
- seguindo a tradição da maioria dos pais
40 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

conversão de Saulo, ou o apóstolo Paulo, pelo uma abertura posterior), ou levar a um fim.
aparecimento pessoal de Cristo a ele na estrada de A prática usual tem sido aplicar este verbo
Damasco, quando ele recebeu sua missão quanto
em um dos primeiros dois significados.
aos gentios, depois que o Sinédrio judaico havia
Shea, porém,afirma que esta interpretação
rejeitado formalmente a Cristo pela perseguição
de seus discípulos.^
só faria sentido se o segundo objeto do
infinitivo (“selar”) fosse “profecia”, o que
Entretanto,durante os cento e cinqüenta não é o caso. Os dois objetos são “visão”
anos posteriores, a simples declaração (hazôn),e “profeta”(nabí), que sugerem a
de que o apedrejamento de Estêvão e, terceira interpretação (“levar a um fim”).
consequentemente, a conversão de Paulo
assinalaram o final das setenta semanas Em sua opinião, esta terceira interpre
em 34 d.C.,foi aceita como fato. Hales, na tação - levar a um fim - é preferida aqui
verdade,não estabeleceu nem uma simples por três razões. Primeira: ocorrendo sem o
conexão exegética entre Estêvão e Daniel artigo,“profeta” podería ter nesta passagem
9:24-27, e aqueles que vieram depois dele um significado coletivo ou corporativo,e a
se limitaram apenas a reproduzir o mesmo idéia de levar a um fim faria perfeito sentido
argumento,aparentemente despreocupados se ela se referisse a profetas como pessoas
em demonstrar por que a morte de Estêvão em vez de a suas palavras. Segunda: o
verbo hatam também ocorre três frases
é suficiente como evidência para o final
desse período profético. A única razão antes neste mesmo verso com a clara idéia
dada era a mesma de sempre, ou seja, que de levar a um fim (“dar fim aos pecados”).
após a sua morte, o evangelho foi levado Terceira,esta interpretação se ajusta melhor
aos gentios.'® ao contexto imediato porque o texto diz
que setenta semanas foram determinadas
Quando, porém,se fala sobre o cum-
sobre o povo de Daniel e sua santa cidade.
primento da profecia, a mera escolha de
Portanto,conclui Shea,“‘visão’e ‘profeta’
um evento específico necessariamente
devem chegar a um fim no tempo em que
não torna a data correta," a despeito se encerra este período profético”, e
de quão importante seja o evento. Sem
qualquer indicação em Daniel 9:24-27 desde que os eventos finais desta profecia parecem
e Atos 6-7 de que Estêvão encerra a se estender meia semana profética ou três anos e
70“ semana, a conclusão de Harold W. meio além da morte do Messias,devemos procurar
uma resposta no Novo Testamento.
Hoehner de que esta interpretação “é pura
especulação” seria correta. Por causa
disto, na década de 1980 William H.Shea Para ele, Estêvão cumpre os requisitos
15
tentou desenvolver este tema a fim de ex para essa resposta.
plicar de uma maneira mais convincente
O propósito deste artigo, porém, não é
as seguintes indagações:
somente mostrar como Shea liga Estêvão
O que foi tão significativo no que concerne ao à profecia, mas também dar um passo
apedrejamento de Estêvão? Por que foi o seu adiante, desenvolvendo alguns dos pontos
martírio mais importante do que o sofrido por desta conexão e explorando o papel de
outros naquele tempo? sempenhado por Estêvão no contexto da
Então, pela primeira vez, as conexões igreja primitiva, o que certamente torna
o seu significado profético ainda mais
exegéticas entre Estêvão e a profecia das
14 forte. Todavia, por causa das limitações
setenta semanas começaram a aparecer.
de espaço, este documento focaliza ape
O ponto de partida de Shea é a expressão nas o próprio Estêvão, seu ministério e
“para selar a visão e o profeta”, uma das o seu significado para o final das setenta
seis frases infinitivas que sintetizam o que semanas. Isto significa que nem os outros
16
ocorrería ao final das setenta semanas(Dn eventos e respectivas datas da profecia
9:24). Segundo ele,o verbo “selar”{hatam) nem a validade escatológica de 34 d.C. em
pode ser compreendido aqui tanto como va si como o ano da morte de Estêvão serão
17
lidar ou autenticar, quanto como fechar(até aqui discutidos.
Estêvào, Israel e a Igreja / 41

No que concerne à organização do se mudado para Jerusalém, e então ti


material, é dada prioridade ao relato de nham se tomado cristãos.-® Estêvão era
Estêvão conforme aparece no livro de um deles (6:5).-' Os “hebreus”, o outro
Atos. A primeira seção ou divisão, por segmento da igreja, contra os quais os
tanto, reconstrói os ambientes histórico e helenistas se queixaram, eram judeus
teológico de Estêvão,isto é, quem ele era, da Palestina de língua aramaica que for
como se tornou um pregador, qual era sua maram o núcleo original da comunidade
teologia,e as mudanças que ocorreram na cristã de Jerusalém. Os doze pertenciam
igreja apostólica imediatamente após e a esse grupo (6:2).
como resultado de sua morte. Então a se
O fato de que a igreja estivesse dividida
ção seguinte introduz as razões exegéticas
em dois gmpos distintos em tão primitivo
por que Estêvão parece se ajustar ao final
da 70“ semana pela análise do momento período não implica necessariamente,
do seu julgamento, a saber, a verdadeira como tem sido sugerido, duas comunida
natureza do seu discurso e visão e o seu des virtualmente separadas com diferentes
22
características religiosas e doutrinárias.
significado teológico em relação à aliança
Martin Hengel afirma que o único motivo
de Deus com Israel. No final, segue-se
para a separação era a língua, que “neces
um sumário das seções anteriores e uma
sária e rapidamente” levou os cristãos de
conclusão experimental.
fala aramaica e os de fala grega a adotar
serviços de adoração separados, precisa
Estêvão como pregador mente como nas sinagogasjudaicas(cf. At
Estêvão tem sido descrito como uma 6:9).-^ Mas é também “inerentemente pro
vável”, como diz I. Howard Marshall, que
das figuras mais “ambíguas” do relato
o grupo de fala aramaica era “mais radical
bíblico da igreja apostólica.'^Tem havido
muita discussão entre os eruditos acerca de em suas atitudes para com ojudaísmo” do
que o outro grupo,que havia ido muito mais
sua identidade,seu ambiente,sua teologia,
sua influência sobre Paulo e a missão aos longe do que o último em sua interpretação
24
do evangelho.
gentios, seu papel na teologia e estrutura
de Atos, e assim por diante.'® O relato de Embora Marshal reitere que essa di
Estêvão dado por Lucas em Atos 6-7 dá ferença não deve ser exagerada,-^ não é
origem a numerosas e diversas indagações impossível que além do problema envol
que são ainda mais relevantes quando se vendo as viúvas dos helenistas houvesse
faz uma tentativa de ligar sua morte à também algumas preocupações teológi
profecia das setenta semanas. Por causa cas.-^ Havia dentro do Judaísmo uma ten
disto, esta seção procura identificar três dência de considerar aqueles que estavam
elementos básicos acerca de Estêvão, a sob a influência da cultura grega religio
saber: sua comunidade, sua teologia e a samente liberais (cf. 1 Macabeus 1:10-
influência de sua teologia sobre a história 15; 2 Macabeus 4:7-20).-’Os helenistas
da igreja apostólica. não tinham nenhuma raiz nas tradições
hebraicas da Palestina. Muitos deles não
sabiam ler as Escrituras Hebraicas,e não
Sua comunidade
freqüentavam as sinagogas judaicas. Os
Estêvão aparece pela primeira vez no prosélitos, inferiores aos de nascimento e
contexto da primeira dissensão experi educação hebraica, naturalmente se asso
mentada pela igreja primitiva. O proble ciariam mais aos helenistas (cf. At 6:5).
ma estava relacionado ao suprimento de Mais ainda, sua aceitação dos costumes
alimento dado às viúvas helenistas de gregos e o seu intenso contato anterior
Jerusalém(At 6:1). O termo “helenistas” com gentios em seus países nativos certa
significava simplesmente pessoas que fa mente alimentariam a suspeita de que eles
lavam o grego como sua língua materna. não eram suficientemente firmes em sua
Neste caso,se refere a judeus que haviam observância da lei. Sejam quais forem os
nascido em países greco-romanos,tinham fatos precisos, os eventos subseqüentes
42 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

- isto é, a eleição dos sete, o julgamento “Este homem não cessa de falar contra
e morte de Estêvão e a perseguição que o lugar santo e contra a lei; porque o
veio depois disso - indicam que as dife temos ouvido dizer que esse Jesus, o
renças teológicas desempenhavam um Nazareno, destruirá este lugar e mudará
papel importante naquela dissensão e que os costumes que Moisés nos deu”(6:13-
a queixa dos helenistas, como diz James 14). Contudo, baseado na referência a
D. G. Dunn,era apenas o sintoma de um “testemunhas falsas” (6:13), P. Double
28
problema mais profundo. afirma que Lucas pretende indicar que
as acusações contra Estêvão não eram
Sua teologia verdadeiras.^-Mas as acusações, de fato,
não podiam ser totalmente falsas. É pos
A solução dos apóstolos para a queixa sível que Estêvão tivesse dito algo que ^ 1
dos helenistas foi escolher sete homens da havia sido torcido por seus opositores,
própria comunidade helenista para assumir “precisamente como as acusações feitas
a responsabilidade de servir os pobres que contra Jesus(Mc 14:58) parecem de fato
havia entre eles.^’Como sugere Hengel, a ter algum fundamento”
escolha pode ter caído sobre aqueles que
já eram os líderes dos cristãos helenistas.^® Segundo aquelas testemunhas, as pa
lavras proferidas por Estêvão sugeriam
Neste caso,sua eleição simplesmente signi
que o próprio Jesus destruiria o templo
ficava o reconhecimento de sua liderança,
e alteraria a tradição mosaica. De fato,
especialmente de Estêvão,o primeiro nome Jesus tinha dito: “Eu destruirei este san
da lista (cf. 6:5).
tuário edificado por mãos humanas e, em
Esta idéia é confirmada pela atividade três dias, construirei outro, não por mãos
que eles desempenharam imediatamente humanas.” O quarto evangelho dá a apli
após sua eleição, o que não se ajusta à cação imediata destas palavras como se
compreensão tradicional de que eles eram referindo à ressurreição corporal de Jesus
apenas diáconos. De fato, eles nunca são (Jo 2:19-21). Estêvão, porém, parece tê-las
identificados como “diáconos” {diako- aplicado,ou parte delas, ao próprio templo
noí) no livro de Atos,^' e o mesmo verbo a fim de ressaltar que ele havia perdido
usado em 6:2 para descrever o que eles o seu significado cultuai. Suas palavras
supostamente deviam fazer (diakonéo) é não habita o Altíssimo em casas feitas
também usado para a pregação da palavra por mãos humanas"(At 7:48) poderiam
pelos doze em 6:4. Também é digno de ser interpretadas não somente como um
nota que quando Lucas deseja distinguir protesto contra a relação idólatra que Isra
Filipe de seu homônimo, o apóstolo, ele el mantinha com o templo,mas também
não o chama de “Filipe, o diácono”, mas como uma declaração do final definitivo
“Filipe, o evangelista”(21:8). Isto ajuda a de todo o sistema cerimonial, porque nun
explicar por que os sete aparecem como ca foi pretendido que o templo se tornasse
pregadores e operadores de maravilhas e uma instituição permanente,^^ exceto em
sinais imediatamente após sua eleição(6:8- sua função doxológica (veja Is 2:1-4). É
10; 8:4-8, 26-40). E sua pregação deve ter notável que a única referência bíblica de
sido poderosa, porque é relatado que não que havia muitas conversões - mesmo
somente “se multiplicava o número dos entre os sacerdotes - apareça no contexto
discípulos” (6:7), mas também que sua da pregação de Estêvão (cf. 6:7).
atividade suscitava uma forte oposição dos
As palavras de Estêvão, porém, podem
judeus (6:9).
ainda ter o que Marshall chama de “im
Mas o que exatamente pregava Es plicação tácita”, ou seja, que Deus habita
têvão? Provavelmente as acusações feitas em um templo não-feito por mãos.^*^ À
contra ele provêem algum indício. Foi luz do livro de Hebreus, tal implicação
acusado de “proferir blasfêmias contra não é uma surpresa. Em Hebreus existe
Moisés e contra Deus” (6:11). Alguns a mesma ênfase de que o templo de Jeru
foram secretamente induzidos a dizer: salém já havia perdido seu significado e
Estêvão, Israel e a Igreja /43

função como um lugar de expiação (Hb palavra.” (8:4; cf. 8:5-8; 11:19-21). Os
8:7, 13; 10:1-2) e, por este motivo, tinha helenistas, portanto.
sido substituído por outro templo, um tomaram-se os verdadeiros fundadores da missão
templo superior, não “feito por mãos” aos gentios,em que a circuncisão e a observância
(9:24; cf. 8:1-2).^’ da lei ritual não eram mais exigidas.^'
Os apóstolos e outros cristãos judeus
Além disso,não é mera coincidência que
de fala aramaica de Jerusalém, como Ju
deus devotos, provavelmente ainda não Paulo,o apóstolo aos gentios,seja introduzi
estavam prontos para seguir a compreen do por Lucas no momento exato da morte de
são dos helenistas quanto a este assunto Estêvão(cf. 7:58). Concorda-se geralmente
específico. Ainda estavam de certa forma que Paulo freqüentava a sinagoga helenista
mencionada em Atos 6:9 e, assim, era um
ligados a alguns dos serviços do templo
e mesmo a alguns aspectos cerimoniais dos opositores de Estêvão."^"Paulo descreve-
se a si mesmo antes da sua conversão como
da lei (cf. At 3:1; 21:17-26; G1 2:11 -14)
Martin Hengel declara que “eles perma “fariseu”(Fp 3:5)e “extremamente zeloso”
da lei mosaica e da tradição dos antepassa
neciam mais profundamente arraigados
em sua tradição religiosa da Palestina, dos (G1 1:14). Como tal, ele dificilmente
que desde o tempo dos Macabeus inevita podería suportar um ataque contra a lei e o
culto do templo,duas das três colunas sobre
velmente consideravam qualquer ataque
”38 as quais,segundo Pirqe Aboth 1:2,o mundo
à Torah e ao templo como sacrilégio.
No entanto, Estêvão, bem como os outros repousa(sendo a última as boas obras).Para
cristãos helenistas, podem ter compreen ele, Estêvão e os outros cristãos helenistas
dido rapidamente que a missão de Cristo tinham se demonstrado apóstatas.Por causa
envolvia a ab-rogação de toda a ordem disto, ele os perseguiu(Fp 3:6). Um pouco
do templo e sua substituição por um mais tarde,porém,ele estava sendo acusado
novo edifício não-feito por mãos. O fato de pregar a mesma teologia que havia ten
de que eles tivessem nascido no exterior, tado destruir(cf Atos 21:21). Este fato tem
vivido mais perto dos gentios e falassern levado Hengel a declarar que os helenistas
outra língua podería tê-los feito mais fle de Jerusalém foram “a ponte real entre Jesus
e Paulo”.'*^
xíveis em sua tradição religiosa do que os 44
hebreus e ao mesmo tempo mais acessíveis Mas além das similaridades teológicas,
ao evangelho e à sua dimensão mundial.^’0 um evento aparentemente sem significado
evangelho significava o fim de todas as leis ajuda a esclarecer a íntima ligação entre
cerimoniais, inclusive os ritos sacrificiais. Paulo e os helenistas. Ao retomar de sua
Esses símbolos externos e visíveis do par- terceira viagem missionária, Paulo chegou
ticularismo judaico não eram compatíveis em Jemsalém e se hospedou com uma pes
com a universalidade da mensagem cristã soa chamada “Mnasom, natural de(Jipye,
de uma salvação já realizada. velho discípulo”(At 21:1 ó)."*^ Sendo Velho
discípulo”, sua conversão provavelmente
Sua influência remontava aos primeiros anos da igreja de
Jemsalém.^ Por ser de Chipre, ele era cer
Finalmente, deve ser notado que tamente um helenista e, portanto, pode ter
somente os cristãos helenistas foram tomado parte nos episódios de Atos 6—8.
dispersos de Jerusalém na perseguição Considerando que vários dos oito compa
contra a igreja após a morte de Estêvão. Os nheiros de Paulo nesta parte da viagem eram
apóstolos foram capazes de permanecer incircuncisos(cf. 20:4),Jon Paulien salienta
ali (cf. At 8:1, 14) como foram os outros que dificilmente um cristão hebreu estaria
cristãos hebreus (cf 11:1, 18, 22).^® Essa preparado para hospedá-los “com alegria”
perseguição, porém, teve uma influência (21:17). Mas como helenista, isto não seria
positiva sobre a atividade missionária um problema para Muasom."*® Seja qual for o
da igreja. “Entrementes, os que foram caso,o fato de que em Cesaréia eles tinham
dispersos iam por toda parte pregando a ficado em casa de Filipe, “que era um dos
44 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

sete”(21:8),é suficiente para mostrar a pro (7:55-56)toma-o “por definição” um pro


ximidade entre Paulo e os helenistas. feta, sendo que “é aos profetas que Deus /i
dá visões de si mesmo como esta”.^' Sendo
Assim, o martírio de Estêvão ocupa
uma posição de extrema importância na assim,conclui Shea,“ele pode ter tido mais
história da igreja apostólica. Foi o último breve ministério que o de qualquer profeta
evento que ocorreu enquanto as ações conhecido na Bíblia, porque foi apedrejado
ainda estavam confinadas a Jemsalém e os logo depois”.^- Todavia, não é a extensão
cristãos ainda viviam praticamente como de um ministério profético que o torna
judeus. Ao mesmo tempo,foi o evento que importante, mas o momento histórico de tal
primeiro envolveu a Paulo e que começou a
ministério e a mensagem comunicada. Por
levar a mensagem cristã ao mundo gentio.
causa disto,esta seção focaliza a estrutura e
Pode-se concordar com a posição de J.
significado do discurso de Estêvão e o real
C. O Neil de que “muito significado está
ligado a um só evento”, mas sua conclu objeto de sua visão.
são de que Lucas está esquematizando
a história e atribuindo a uma causa o que Seu discurso
provavelmente deveria ser atribuída a
O significado do discurso de Estêvão
muitas , é especulativa e destituída de
diante do Sinédrio (At 7:2-53) pode ser
evidência. A melhor alternativa, portanto, notado primeiramente, a partir de seu
é tomar a narrativa de Lucas como ela está
tamanho. É o mais longo discurso do
e reconhecer o significado de Estêvão no
livro de Atos, e este fato por si mesmo
desenvolvimento da igreja apostólica. tem sido suficiente para reter a atenção
Contudo, por mais significado que de muitos eruditos. Além disso, esse
ele tivesse, isto não basta para tomá-lo o discurso também tem sido descrito como
cumprimento das setenta semanas. Mas se “talvez [o mais] complicado discurso de
a frase para selar a visão e o profeta”(Dn Atos”,^‘^ por causa de sua perplexidade e
9:24)se aphca ao final desse período profé problemas de interpretação que ele susci-
tico e significa levar a um fim o ministério ta.^^ Um dos problemas está relacionado
profético em favor do povo de Daniel,e se com a natureza desse discurso, e, neste
Estevão satisfaz esses critérios cronologi ponto específico, a interpretação provida
camente bem como historicamente, então por Shea é muito criteriosa. Segundo ele,
o seu papel na história da igreja apostólica o discurso de Estêvão “deveria ser com
pode ser adicionado ao quadro para fortale preendido em conexão com a aliança do
cer ainda mais o seu significado profético Antigo Testamento”,^^ isto é, a maneira
Este e 0 assunto da seção a seguir. pela qual a aliança entre Deus e Israel foi
formulada e a maneira como os profetas
Estêvão como profeta usaram essa formulação.

A questão com A interpretação de Shea baseia-se princi


que agora nos depa- palmente em um importante estudo publicado
ramos e: Estêvão foi um profeta? Se é em 1954 por George E. Mendenhall,-^’que
assim, então devemos também indagar: identificou a estmtura da aliança do Sinai
ele satisfaz os critérios exigidos por Daniel com o tratado de suzerania utilizado pelos
9:24-27 para o final do período das setenta reis hititas em 1450-1200 a.C.,^*^ um perío
semanas. Baseado em Atos 7-52 F F do que corresponde exatamente aos inícios
Bruce declara que “Estêvão colocoj-se na do povo de Israel. O rei hitita era o grande
sucessão profética por atacar” osjudeus no rei ou suzerano que tinha sob seu controle
mesmo ponto em que os haviam atacado os vários vassalos, de quem ele esperava fide
lidade e estrita obediência. A aliança, que
profetas do Antigo Testamento, isto é,‘as
era designada pela expressão “juramentos
noções pervertidas de Israel do verdadeiro e compromissos”, tinha basicamente seis
culto de Deus”.* Shea afirma que a visão elementos:(1)o preâmbulo,que identificava
que Estêvão teve no final do seujulgamento o suzerano;(2) o prólogo, que descrevia as

..'k
Estêvão, Israel e a Igreja / 45

relações prévias entre o suzerano e o vassalo; esse discurso podería parecer um estranho, talvez
(3)as estipulações ou obrigações impostas ao até mesmo tedioso,sermão em que ele discorre de
um modo monótono sobre a história de Israel.
vassalo;(4)provisão para depósito no templo
e leitura pública periódica;(5)as testemunhas
da aliança; e(6)as bênçãos e maldições que Mas à luz do uso da fórmula da aliança
viriam ao vassalo como resultado de sua e especialmente o modelo rib no Antigo
obediência ou desobediência.^^ Testamento, o discurso assume um pro
fundo significado. O que Estêvão fez em
Embora Mendenhall declare que “so Atos 7:2-50 foi desenvolver a seção do
mente duas” alianças bíblicas pertencem prólogo da aliança original do mesmo
a este modelo. Êxodo 20-23 e Josué 24,^° modo que os profetas do Antigo Testa
Shea tem demonstrado com sucesso que mento faziam quando apresentavam o rib
Deuteronômio, 1 Samuel 12 e Miquéias divino contra Israel.^^
6 também podem ser organizados de
acordo com essa mesma estrutura.^' E Seu VEREDITO
para ele, o valor dessa identificação está
no fato de que ela mostra que “quando A missão profética cumprida por Estê
os profetas vinham como reformadores vão em seu julgamento também esclarece
para chamar Israel de volta à relação da sua atitude no que concerne às acusações
aliança do Sinai, eles o faziam aplicando lançadas contra ele. Alguns eruditos têm se
referido ao seu discurso em termos de uma
a fórmula da aliança a situações vigentes
em seu tempo. Fazendo isto, afirma defesa ou apologia,^mas ele realmente não
Shea, os profetas às vezes usavam a pa fez nenhum esforço para se defender, em
contraste com o caso de Pedro algum tem
lavra hebraica rfó, cuja melhor tradução
é provavelmente “demanda judicial da po antes (cf. At 4:8-12). Neste sentido, G.
aliança”, para expressar a idéia de Deus A. Kennedy está certo quando afirma que
o discurso de Estêvão está retoricamente
apresentando diante de um tribunal uma
incompleto,^’ porque em vez de refút^ a
ação contra o seu povo por causa de sua
falsidade das acusações,ele de fato consiste
violação da aliança.^^ Em Miquéias 6:1-2,
de uma mensagem de acusação e condena
por exemplo,que se assemelha ao preâm
bulo e aos parágrafos das testemunhas ção. Simon Légasse descreve a atitude de
Estêvão em termos de “uma inversão de
da aliança original, a palavra rib ocorre
três vezes: papéis”, isto é, de acusado ele tomou-se
acusador,^® porque depois de sua longa ex
Ouvi, agora, o que diz o SENHOR; Levanta-te, posição da história de Israel, ele anunciou
defende a tua causa [rib] perante os montes, e o seu veredito:
ouçam os outeiros a tua voz. Ouvi, montes, a
controvérsia [rib] do SENHOR, e vós, duráveis Homens de dura cerviz e incircuncisos de cora
fundamentos da terra, porque o SENHOR tem ção e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito
controvérsia [rib] com o seu povo e com Israel Santo; assim como fizeram vossos pais, também
entrará em juízo. vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não
perseguiram? Eles mataram os que anteriormente
Em seguida (v. 3-5), no prólogo cor anunciaram a vinda do Justo,do qual vós agora vos
tomastes traidores e assassinos,vós que recebestes
respondente, o profeta lembra ao povo
a lei por ministério de anjos e não a guardastes
os poderosos atos de Deus em seu favor
(At 7:51-53).
no passado. As estipulações e violações
são enumeradas nos versos seguintes (v. Essas palavras consistem na culmina
6-12), que culminam com as maldições ção do discurso^’*^ e devem ser compreen
64
(V. 13-16). didas como uma declaração explícita de
Segundo Shea, este antecedente do condenação. Matando o Messias, aquelas
Antigo Testamento é necessário para uma pessoas não somente estavam se identi
melhor avaliação do discurso de Estêvão ficando como filhos de seus “pais”, mas
em Atos 7. Sem esta base em mente, es também completando a grande soma
creve ele, de rebelião e iniqüidade iniciada por
46 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

elesj® ou, usando a linguagem bíblica, Isto é confirmado pelo bem-conhecido


“eles tinham enchido a medida de seus incidente relatado em Marcos 12:35-37
pais”'^'. Se os seus pais eram culpados (cf Mt 22:41-46; Lc 20:41-44). Não podia
de matarem os profetas, eles eram ainda ser Davi, porque ele não havia subido aos
mais por assassinarem a Jesus. Como diz céus;ele aindajaz sepultado em seu túmulo
Marshall, eles tinham chegado ao limite (cf At 2:29, 34). Assim, esta passagem só
da oposição de Israel a Deus.’^ podia apontar para o Messias e,segundo os
Gerd Lündemann salienta corretamente apóstolos, ela encontrou seu cumprimento
em Jesus de Nazaré(cf v. 34-36).
que “o chamado ao arrependimento” que
se destaca em outros discursos de Atos está Mas a visão de Estêvão também con
ausente aqui.’^ Parece, portanto, que o que siste de uma referência à corte celestial
Estêvão estava apresentando aos líderes mencionada em Dn 7:9-14. Em sua visão,
judeus não era apenas outra das demandas Estêvão se referiu a Jesus como “o Filho
judiciais da aliança de Deus, mas a final,’'* do homem”, e este título remonta ao seu
como se o seu tempo para o arrependi uso original em Daniel,’^ onde o contexto
mento tivesse definitivamente chegado ao é claramente de juízo.*® É importante
fim e eles fossem achados culpados, Eles notar, porém, que o próprio Jesus já ha
tinham falhado em guardar a aliança(cf. v. via usado o mesmo título em conexão
53),e por causa disto eles não eram mais o com a idéia de sua exaltação. Diante do
povo da aliança.A mudança pronominal de mesmo sinédrio Ele havia dito: “Desde
“nossos”(v. 11,19,38,44,45)para vossos agora, estará sentado o Filho do homem
pais (v. 51)talvez signifique mais do que à direita do Todo-poderoso Deus” (Lc
uma simples ruptura na solidariedade de 22:69), e esta declaração particularmente
Estêvão com sua audiência, como sugere pode ser a chave para se compreender a
Gehard A. Krodel.^^Pode também indicar o visão de Estêvão. Combinando a idéia de
final definitivo da relação da aliança entre sua exaltação com a alusão ao tribunal
Deus e Israel como nação. A referência a celestial, Jesus pode de fato ter inferido
Jesus em 7:52 toma implícito que agora o que Ele estava naquele momento em pé
verdadeiro povo da aliança eram aqueles em julgamento diante dos líderes judeus,
que acreditavam nele e o seguiam.’^ Em mas “estava chegando o tempo em que
outras palavras, o povo que pertencia à Ele seria juiz enquanto eles estariam em
aliança de Deus não era mais definido em pé diante dele”.*' Neste sentido a visão de
termos étnicos ou políticos como tinha sido Estêvão poderia indicar que esse tempo
Israel, mas em termos de discipulado para havia chegado, porque ele viu Jesus “em
77
Jesus Cristo(cf 11:26). pé” {estôta) à direita de Deus em vez de
“sentado”{kathémenos),como Jesus mes
Sua visão mo tinha dito que estaria.
A conclusão acima pode parecer um Esta mudança verbal tem dividido os
tanto radical, mas é confirmada como ver- eruditos, e no mínimo cinco diferentes
dadeira pela visão de Jesus que Estêvão interpretações têm sido propostas. C. H.
teve em seguida. Quando ele acabou de Dodd,por exemplo, nega que o particípio
falar, estando “cheio do Espírito Santo” estôta tenha qualquer significado especial.
(7:55), disse: Eis que vejo os céus abertos Segundo ele, significa muito geralmente
e o Filho do homem, em pé à destra de “estar situado” sem necessariamente
82
Deus”(v. 56). qualquer sugestão de uma atitude ereta.
William Kelly, por sua vez, diz que Jesus
Primeiramente,deve ser notado que sua estava em pé porque Ele ainda “não ha
visão é uma clara referência à exaltação via tomado definitivamente seu assento”,
do Messias mencionada no Salmo 110:1.’* isto é, que era um período de transição
Nesta passagem, não há dúvida de que O em que Jesus “ainda estava dando aos
“Senhor” a quem Deus disse: “Assenta- judeus uma oportunidade final”.*-’ H. P.
te à minha direita” cria-se ser o Messias. Owen, por outro lado, propõe que o que
Estêvão,Israel e a Igreja / 47

Estêvão recebeu foi uma espécie de visão onde Deus se levanta a fim dejulgar(cf. Jó
proléptica “da glória da parousiá". Para 19:25; Is 3:13; Dn 12:!).«’Portanto, o que
ele, Jesus estava em pé em preparação Estêvão viu em visão, podería ser Jesus le-
para o seu segundo advento.*^ Marshall vantando-se para pronunciar o seu juízo.
pensa que Jesus estava em pé para receber
O segundo ponto que deve ser notado
o moribundo Estêvão em sua presença. Em
é que a aliança que Deus tinha com Israel
sua opinião, a implicação da visão é a de
não era em si mesma sinônimo de salvação,
que “como Jesus ressurgiu dos mortos,
mas uma provisão pela qual a salvação de
assim serão os seus seguidores”.*^ Uma
Deus podería ser levada ao mundo inteiro
idéia ligeiramente diferente é dada por
(cf. Gn 12:1-3).^° Em outras palavras, a
Bruce, que acredita que Jesus estava em
aliança devería ser compreendida prínci-
pé à direita de Deus como testemunha de
palmente em termos de missão. De sorte
Estêvão, o qual havia confessado Jesus
que declarar que osjudeus não são mais o
diante dos homens, e agora ele via Jesus
confessando-o diante de Deus.*^ povo da aliança não significa que Deus os
tenha rejeitado,como às vezes tem sido su
Mas conquanto a interpretação de Kelly gerido’’(cf. Rm 11:1-10), mas apenas que
dificilmente possa ser aceita por causa de Deus escolheu outro povo para executar o
sua clara fórmula dispensacionalista,*’ a seu plano missionário. Deve ser lembrado
idéia de que Jesus estava em pé parajulgar que a aliança de Deus com Israel foi esta
Israel não pode ser totalmente rejeitada. belecida em uma base corporativa, isto é,
Deve-se notar, primeiro, que todo o con envolvia toda a nação como uma entidade
texto do discurso de Estêvão estabelece teocrática.’-Portanto, falar sobre o final da
realmente o fato de que não era Estêvão aliança com Israel não significa o ímal do
quem estava sendo julgado pelos líderes interesse de Deus nosjudeus como indiví
de Israel, mas Israel estava sendo julgado duos.Por causa disto,o evangelho ainda foi
por Deus por meio do ministério profético pregado a eles até mesmo depois da morte
de Estêvão. Estêvão se dirigiu ao sinédrio de Estêvão (cf At 28:17-28).’^ Mas o pn-
não como um réu, mas como um profeta vilégio de ser “raça eleita, sacerdócio real,
que trazia o rib final de Deus contra aquelas nação santa,povo de propriedade exclusiva
pessoas. Por causa disto, ele terminou o de Deus,a fim de proclamardes as virtudes
seu discurso com uma enérgica declaração daquele que vos chamou das trevas para a
de condenação. Eles tinham falhado em sua maravilhosa luz”(IPe 2:9)não era mais
cumprir a aliança; portanto não eram mais exclusivamente deles.’^0 povo da aliança
o povo da aliança. agora não era mais definido pela lii^ag^
de sangue, mas pela fé em Jesus Cnsto(
E importante notar que algum tempo 3:26-29; cf Rm 11:25-32).’^ Deste modo,
antes, Pedro tinha dito à mesma audiência o ministério de Estêvão,seu discurso e sua
que Jesus fora exaltado por Deus “a Prín visão, parece ser uma explanação apro
cipe e Salvador, a fim de conceder a Israel priada e cumprimento da profecia de que
o arrependimento e a remissão de pecados” “setenta semanas estão determinadas sobre
(At 5:31). Comentando esta passagem, o teu povo e sobre a tua santa cidade (Dn
Krodel declara que por intermédio da pre 9:24). Conclui Shea:
gação apostólica Deus estava oferecendo
Estêvão foi o último profeta verdadeiro a quem
“uma segunda oportunidade a Jerusalém
Deus chamou para aquele ofício de falar articu-
e seus líderes”. Se a oportunidade fosse
ladamente ao povo de sua eleição. Quando seus
aceita, então o arrependimento e o perdão líderes o apedrejaram, eles silenciaram a voz do
seriam recebidos como dom de Deus, me último em uma longa série de seus profetas. Sua
diado pelo mesmo Jesus que eles haviam morte trouxe um fim à função do ofício profético
matado.**Agora, porém, Jesus não parecia em seu favor como um povo. A visão que ele viu
estar mais esperando por seu arrependimen pouco antes de morrer foi a última visão que um
to. Era um tempo de juízo. Além disso, é profeta que ministrava especialmente para eles
digno de nota que há alguns textos na Bíblia deveria ver.*’^
48 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

Conclusão uma distinta mudança. Não mais os cristãos


judeus poderíam ser considerados como judeus
À luz dos parágrafos anteriores, a in ortodoxos; eles eram uma seita distinta e heré
terpretação tradicional de que as setenta tica. Não mais era a lei judaica o âmago de sua
semanas de Daniel 9:24-27 atingiram religião. A pregação de homens como Estêvão
seu cumprimento com o apedrejamento os excluía.’^
de Estêvão parece ser muito mais do que
uma mera possibilidade. Embora a escolha O significado profético de Estêvão,
deste evento por Hales estivesse baseada porém, não está relacionado apenas com a
mais em uma coincidência cronológica separação definitiva da igreja do judaísmo i
tradicional e sua orientação em relação aos
do que em uma convicção exegética, isto
gentios. Para os cristãos Estêvão foi um
não significa que ele estava errado; nem
aqueles que por cento e cinqüenta anos pregador e mesmo um reformador,'°®e para
usaram o mesmo argumento sem tentar osjudeus ele foi um profeta,o último profeta
chamado por Deus para falar diretamente a
justificá-lo exegeticamente. O fato é que
se for compreendido como levando a um Israel como o povo da aliança. Como tal,sua
fim o ministério profético em favor de mensagem foi uma mensagem de condena
Israel(“o teu povo e a tua santa cidade”) ção. Eles tinham quebrado a aliança e, por
conforme defendido por Shea,a frase se- causa disto. Deus o chamou para apresentar
seu rib final contra eles. No exato momento
lar a visão e o profeta” encontra um cum
primento plausível em Estêvão. Primeiro, em que Estêvão os estava condenando na
porque o papel que ele desempenhou na Terra,Jesus os estavajulgando em sua corte
celestial. A visão de Estêvão, portanto, não
história da igreja primitiva- que, embora
muito breve, foi decisivo e significativo foi a visão de um mártir perto da morte,
- dificilmente pode ser exagerado. Estê mas a visão de um profeta cumprindo sua
vão representou literalmente o início do missão. Assim, os privilégios dos judeus
cristianismo como uma religião universal, como o povo da aliança chegaram ao fim.As
embora isto lhe custasse a própria vida! setenta semanas finais que Deus havia dado
Sua morte foi injusta e violenta. As pedras ao seu povo tinham terminado; o ministério
silenciaram-lhe a voz, mas não foram profético em seu favor também estava ter
capazes de mudar o curso da história. Ao minando, e eles não eram mais o povo da
contrário,“um jovem chamado Saulo”(At aliança. Todavia, pela fé em Jesus Cristo
7:58),também helenista, que observava e eles ainda poderíam retomar sua posição e
evidentemente aprovava a execução, no missão, porém não mais como nação.
final tomou-se o grande continuador da
97 A última esperança de Israel como
obra iniciada por Estevão. nação deixou de existir com Estêvão. As
Sem dúvida, Estêvão foi mais do que pedras que os dirigentes judeus lhe atira
um diácono como o termo é hoje compre ram selaram para sempre o seu destino.
endido. Ele foi um pregador, e por causa Mas Estêvão não morreu sem primeiro
da sua formação helenista,“parece ter sido revelar uma nobreza de caráter típica de
o primeiro cristão a perceber que o cristia um verdadeiro mártir. Em seu derradeiro
nismo significava o final dos privilégios momento, ele ainda orou: “Senhor, não
judaicos, e o primeiro a abrir o caminho lhes imputes este pecado”(At 7:60). Estas
para uma missão aos gentios”.^* Declara palavras, entretanto, foram muito mais do
Norman J. Bull: que uma oração. Eram a genuína expressão
da vontade de Deus em relação àquelas pes
O apedrejamento de Estêvão iniciou um novo
soas. Para Israel,o tempo havia terminado;
estágio na história da infante igreja. Até então o
contudo ainda há esperança para Israel em
cristianismo tinha sido uma seita do judaísmo.
uma base individual.
Os cristãos tinham vivido como judeus, pela
lei judaica. Eles podiam ainda ser considerados Eles também,se não permanecerem na incre
como formando uma sinagoga separada, como dulidade, serão enxertados; pois Deus é poderoso
U)l
faziam muitos grupos de judeus. Agora houve para os enxertar de novo(Rm 11:23).

.11
Estêvão, Israel e a Igreja / 49

Referências

'Este artigo foi originariamente apresentado no I Pacific Press, 1955),257;J. Barton Payne, Thelmmi-
Congresso Internacional da Bíblia,realizado na cida nent Appearíng ofChríst(Grand Rapíds: Eerdmans,
de de Jerusalém (Israel), de 8 a 14 dejunho de 1998, 1962), 149; Charles Boutflower,In and Aroundthe
e publicado no Journal ofthe Adventist Theological Book ofDaniel(Grand Rapids: Zondervan, 1963),
Society,9(1998): 343-361,sob o título “The Profetic 210; Robert M. Gumey, God in Control(Worthing:
Significance of Stephen”. Traduzido do original em H. E.Walter, 1980), 115-119.
inglês por Francisco Alves de Pontes. "Talvez por causa disto Young, 220, declare
- J. Burton Payne, Encyclopedia of Biblical acerca das setenta semanas:“Nenhum evento impor
Prophecy (Grand Rapids: Baker, 1997), 383-389, tante é destacado como assinalando a terminação.” E
ressalta que há basicamente quatro diferentes tipos de Pusey, 193,diz que o final da profecia“provavelmen
interpretação de Dn 9:24-27: a liberal, a tradicional, te” assinala o tempo em que“o evangelho abarcou o
a dispensacionalista e a simbólica. A tradicional, mundo”. Ele então acrescenta:“Não temos os dados
também conhecida como interpretação histórico- cronológicos para estabelecê-lo.”
12
messiânica,é caracterizada por aplicar a esta profecia Harold W. Hoehner, Chronological Aspects
o princípio dia-ano e por sustentar que “toda esta of the Life of Christ (Grand Rapids: Zondervan,
passagem é de natureza messiânica, e o Messias é o 1977), 126.
William H. Shea,“Daniel and the Judgment,”
principal personagem... o grande terminus adquem"
um manuscrito sobre a doutrina do santuário e do
da parte central da profecia, isto é, as 69 semanas
(Edward J. Young, The Prophecy ofDaniel[Grand juízo, Andrews University,Julho de 1980, 366.
Rapids: Eerdmans, 1949], 209). ‘‘‘ A tese de Shea foi finalmente publicada em
^ Para um estudo exaustivo de interpretação “The Prophecy of Daniel 9:24-27”, em Seventy
profética desde os primeiros pais da igreja até os Weeks, Leviticus, Nature of Prophecy, Daniel &
Revelation Committee Series, vol. 3, ed. Frank B.
tempos modernos, veja LeRoy Edwin Froom, The
Prophetic Faith ofOur Fathers,4 vols.(Washington: Holbrook (Washington: Instituto de Pesquisas Bí
Review & Herald, 1948). blicas, 1986), 75-118.
15
●* Veja E. B. Pusey, Daniel the Prophet (New Shea,“The Prophecy of Daniel 9:24-27”, 80;
York: Funk & Wagnalls, 1855), 193. cf “Daniel and Judgment”, 73-75.
Para a mais recente e exaustiva análise da
^[William Hales], The Inspector, orSelect Litera-
ty Intelligence (London: J. White, 1799), 207 (ênfase cronologia das setenta semanas, veja Brempong
Owusu-Antwi, The Chronology ofDaniel 9:24-27,
suprida). Hales identifica-se como o autor desse volu
me em seu Dissertations on the Principal Prophecies Adventist Theological Society Dissertation Series,
(Londres: C. J. G. & F. Rivington, 1808), ix. vol. 2(Berrien Springs: ATS Publications, 1995).
* William Hales, A New Analysis of Chronology A datação da morte de Estêvão é inteiramente
(London: pelo autor, 1809-1812), 564. dependente da datação da conversão de Paulo, e a
’ Sob a influência de James Ussher, cuja obra datação da conversão de Paulo tem sido o objeto de
Annales Veteris Testamenti (Londres: Ex Officina muita discussão entre os eruditos, que têm postulado
J. Flesher, 1650-1654) tinha sido o padrão para a qualquer data de 32 a 36 d.C., incluindo, é claro, 34
cronologia bíblica por quase dois séculos, havia mui d.C., que representa exatamente uma intermediária
e um meio termo entre as outras sugeridas. Para uma
tos eruditos que colocavam a crucifixão no final da
última semana em 33 d.C., talvez porque a morte de recente e completa discussão sobre a cronologia de
Jesus parecia muito mais relevante do que qualquer Paulo, veja Rainer Riesner, Paul s’ Early Period
outra coisa no final da profecia. (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), 3-227.
18
Martin H. Scharlemann, Stephen: A Singular
●'William Hales, A Ne^> Analysis of Chronology
and Geography, HistoryandProphecy, 4 vols., 2“ed. Saint, Analecta Biblica, no. 34 (Roma: Instituto
(Londres: C. J. G. & F. Rivington, 1830), 1:94-95. Bíblico Pontifício, 1968), 1. Veja também Marcei
Mbid., 1:100. Simon, St. Stephen and the Hellenists (Londres:
10
Veja, por exemplo, Carl A. Auberlen, The Pro Longmans, Green and Co., 1958), 1-4.
phecies of Daniel and The Revelations of St. John Veja Günter Wagner,ed.,An Exegetical Biblio-
(Edimburgo:T&T Clark, 1856), 140; J.N. Andrews, graphy ofthe New Testament: Luke and Acts(Macon:
The Sanctuaiy and Twenty-Three Hundred Years, Mercer University, 1985), 397-416.
20
2“ed. (Battle Creek: Steam Press, 1872), 27; Uriah O termo “helenistas” aparece também em
Smith, Daniel and the Revelation (Battle Creek: Atos 9:29 e 11:20 (para o problema textual desta
Review and Herald, 1903), 204-205; Philip Mauro, passagem, veja Bruce M. Metzger, A Textual Com-
The Seventy Weeks and the Great Tribulation (Bos mentaty on the Greek New Testament, 2“ ed. [Stutt-
ton: Scripture Truth Depot, 1923), 112; George M. gart: Sociedade Bíbilca Unida, 1994], 340-342), e,
Price, The Greatest ofthe Prophets (Mountain View: segundo o contexto, em cada uma dessas passagens
50 / PaROUSIA - SEMESTRE DE 2007

30
ela deve se referir a um grupo diferente. Se em 6:1 Hengel, Benveen Jesus and PauU 13.
31
os helenistas são cristãos judeus de fala grega, em No Novo Testamento,os sete não são mencio
9:29 eles são apenasjudeus de fala grega,e em 11:20, nados fora do livro de Atos. Nenhum deles, inclusive
gentios de fala grega de qualquer raça que moravam Estêvão e Filipe, são nomeados pelos pais apostóli
em Antioquia. Para uma análise completa do termo cos. Mesmo quando os últimos comentam sobre o
“helenista”, veja Martin Hengel,Between Jesus and ofício de diáconos, eles citam as epístolas pastorais
Paul(Filadélfia: Fortress, 1983), 1-11. em vez de remontar esta instituição ao tempo dos
21
Para a tese apresentada por Abram Spiro, sete. A primeira referência específica a eles como
“Stephen’s Samaritan Background”, em Johannes diáconos na literatura posterior da igreja parece ser
Munck, The Acts ofthe Apostles, The Anchor Bible do comentário de Irineu de que Estêvão foi tanto o
(New York: Doubleday, 1967), 285-300, de que primeiro diácono quanto o primeiro mártir {Against
Estêvão era samaritano, veja F. F. Bruce, The Book Heresies III, 12, 10; IV, 15, 1).
ofActs,The New International Commentary on the P. Double, “The Son of Man Saying in
New Testament, ed. rev.(Grand Rapids: Eerdmans, Stephen’s Wimessing:Acts 6:8-8:2“,NTS31(1985):
1988), 120. 71-72.
22
33
Simon, que interpreta a palavra “helenista” Harrop, 183. Veja também Marshall, 128;
como helenismo”,declara que os helenistas de Atos Scharlemann, 13.
34
são pessoas que “sob a influência e contaminação Assim Gerhard A. Krodel, Acts, Augsburg
o pensamento grego, se desviaram dos caminhos Commentary on the New Testament (Mineápolis:
da estnta ortodoxia farisaica e, portanto, poderiam Augsburg, 1986), 150-151.
ser rotulados de ‘paganizantes . Ele declara tam- 35
Manson,34.
bem que essa idéia não está totalmente clara no 36
Marshall, 146.
37
contexto simplesmente porque Lucas “não podia, De fato, as semelhanças entre o discurso
ou nao queria, ver que algo mais estava implícito de Estêvão e Hebreus não estão limitadas a este
na palavra”(12-14),
ponto, Manson enumera muitas outras incluindo:
/ '^o^chim Jeremias, a atitude para com os rituais e a lei judaica; o senso
in the Time of Jesus (Filadélfia: Fortress Press,
1975), 62, até do chamado divino para o povo de Deus, o qual é
mesmo sugere que os helenistas chamado para “sair”; as sempre mutáveis cenas da
devem ter vivido juntos em seu próprio distrito ou vida de Israel, e o sempre renovado desabrigo dos
quarteirão em Jerusalém, onde tinham suas sinago-
fiéis; a palavra de Deus como “viva”; a alusão a
gas e hospedarias.
24 Josué em conexão com a promessa do “repouso” de
I. Howard Marshall, The Acts ofthe Apostles, Deus; a idéia dos “anjos” como sendo ordenadores
Ine Tyndale New Testament Commentaries(Grand da lei de Deus; e a direção dos olhos para o Céu e
Rapids: Wm.B. Eerdmans, 1982), 125 128
-*Ibid., 125. para Jesus (36). C. Spicq adiciona alguns outros:
predileção pelos mesmos personagens do Antigo
Cf Jürgen Becker,Paul:Apostle to the Gentiles
Testamento como heróis e santos; condenação da
(Lousville: Westminster/John Knox, 1993),63,454; geração de israelitas no deserto; uso tipológico do
Clayton K. Harrop, “Stephen and Paul”, em’ With
Antigo Testamento; construção do tabemáculo em
8teadfastPurpose, ed. Naymond H. Keatley(Waco: toda a linha de um modelo celestial; e a citação da
Baylor U, 1990), 182; Hengel, 1-29,48-64; Martin
Escritura como “Deus disse” ou “Moisés disse”
SCM,1986),
{L’Épitre aux Hébreux, 2 vols. [Paris: J. Gabalda,
ofPauis Gospel,2“
1952], 1:202-203). William L. Lane declara: O
(Tubingen: J.C.B. Mohr, 1984), 45-50; William
escritor de Hebreus foi um profundo teólogo que
anson, The Epistle to the Hebrews(Londres: Ho-
parece ter recebido sua formação teológica e espi
ader and Stoughton, 1951), 27, 28.
ritual dentro da ala helenística da Igreja”(Hebrews
^ The Antiquities of the Jews 1-8, Word Biblical Commentary [Dallas: Word,
jj ■ '
■ ■ ^®^e as controvérsias durante o tempo de 1991], cxlvii).
38
erodes, veja The Antiquities ofthe Jews 15.8.1-5.
Hengel, Earliest Chnstianity>, 73.
39
A/ Dunn, Unity and Diversity in Cf Dunn, 272.
40
199^16?'^'''”^'''’ 41
Marshall, 151.
Hengel, Between Jesus and Paul, 13. Veja
A conclusão de que os “sete” eram também
também Hengel, Earliest Christianity, 76-80.
42
úelenistas baseia-se na seguinte evidência: o pro- Veja Dennis Gaertner, Acts, 2“ed. (Joplin:
ema estava relacionado às viúvas helenistas(6:1); College Press, 1995), 123.
to os os sete tinham nomes gregos(6:5); a oposição Hengel, Between Jesus and Paul, 29.
44
a Estêvão veio de uma sinagoga helenista (6:9); a J. Christian Beker declara categoricamente
perseguição que se seguiu à morte de Estêvão não que Paulo herdou sua teologia acerca de Jesus dos
afetou os apóstolos (8:14). cristãos helenistas a quem ele havia perseguido {Paul
Estêvão,Israel e a Igreja /51

the Apostle [Filadélfia: Fortress, 1984], 341). Veja arca da aliança está certamente ligada aos costumes de
também Manson,42-44. aliança dos tempos pré-mosaicos” (p. 64).
45
Para o problema textual envolvido nesta “Shea, “The Prophecy of Daniel 9:24-27”, 81.
63
passagem, veja Emst Haenchen, The Acts of the A palavra rib aparece também na ação judi
Apostles: A Commentary (Filadélfia: Westminster, cial da aliança de Oséias (4:1). Malaquias (3:5) e
1971), 607. Ezequiel (5:8) usam uma palavra diferente, mispat,
Bruce, 402. que significa “julgamento”. Para discussão adicional
Munck, 209, sugere que Mnasom pode ter sobre a ação judicial da aliança, veja Herbert B.
estado entre os cipriotas que deixaram Jerusalém Huffmon, “The Covenant Lawsuit in the Prophets”,
após o apedrejamento de Estêvão e pregaram o JBL 78 (1959): 285-295; Julien Harvey, “Le ‘Rib-
evangelho diretamente aos gregos de Antioquia Patem,’ Réquisitoire Prophétique Sur la Rupture
(Atos 11:19-20). de FAlliance”, Bíblica 43 (1962): 172-196; James
Jon Paulien,“Mnason”, ABD {\992),4:882. Limburg, “The Root byr and the Prophetic Lawsuit
J. C. 0’Neill, The Theology ofActs in Its His- Speeches”,y5188 (1969): 291-304; KirstenNielsen,
torical (Londres: SPCK, 1961), 72. Yahweh as Prosecutor andJudge, JSOT Supplement
Bruce, 152. Luke T. Johnson também afirma Series 9 (Sheffield: JSOT, 1978).
64
que porque Estêvão é descrito como “cheio do Shea, “Daniel and the Judgment”, 370-37L
65
Espírito e de sabedoria”(6:3) e porque ele operava Ibid., 371. A solução que muitos eruditos têm
“prodígios e grandes sinais entre o povo”(6:8), ele encontrado para a aparentemente desnecessária ex
era um profeta,“e como os profetas antes dele, ele tensão do discurso é especular que Lucas expandiu
gerou uma reação dividida”(The Acts ofthe Apostles, o discurso original pela combinação de diferentes
Pagina Sacra Series, vol.5[Collegeville: Liturgical, tradições (veja Krodel, 137-140).
66
1992], 112). Assim J. Cantinat, L 'Église de la Pentecôte
Shea,“The Prophecy de Daniel 9:24-27”, 81. (Paris: MAME, 1969), 105; Cecil J. Cadoux, The
”Shea,“Daniel and the Judgment”, 367. Early Church and the World (Edimburgo: T. & T.
”Marshall, 131, declara:“Se a extensão é algu Clark 1955), 109; Delbert Wiens, Stephen s’ Sermon
ma coisa que tem mérito, o discurso de Estêvão é (Ashfield: BIBAL Press, 1995), 11. Embora Wens
uma das mais importantes seções de Atos.” use a palavra “apologia”, porque para ele “esse
●‘'“'Marion L. Soards, The Speeches inActs (Lou- discurso é uma defesa racional de sua causa por um
isville: Westminster/John Knox, 1994), 58. advogado”, ele declara que a expressão “proclama
55
Veja Simon, 39-77; Scharlemann, 22-89; ção profética” seria ainda melhor.
67
Simon Légasse, Stephanos (Paris; Éditions du Cerf, G. A. Kennedy, New TestamentInterpretation
1992), 17-94. (Chapei Hill: U North Carolina P, 1984), 121-122.
68
**Shea, “The Prophecy of Daniel 9:24-27”, 81. Légasse, 23. ,
57
George E. Mendenhall, “Covenants Forms in 0’Não há dúvida de que o aoristo egenesthe
Israelite Tradition”, BA 17 (1954): 50-76. (v. 52) deve ser classificado como culminativo. O
^“^Até aquele tempo, não havia nenhum acordo advérbio nün reforça esta idéia.
70
entre os eruditos concernente à origem do conceito Floyd V. Filson, Pioneers of the Primitive
de aliança no Antigo Testamento. Alguns atribuíam Church (New York: Abingdon, 1940), 75.
isto à obra de Moisés (assim W. O. E. Oesterley e Bruce, 152.
Theodore H. Robinson, Hebrew Religion, Its Origin ^-Marshal, 147. . . .
73
Gerd Lündemann, Early Christianity Accor-
andDevelopment [Londres: SPCK, 1937], 156-159),
enquanto outros achavam que ele tinha sido desen dingto the Traditions inActs (Mineápolis: Fortress,
volvido pelos profetas durante o oitavo e sétimo 1989), 88. ,
^■'Shea, “Daniel and Judgment , 372.
séculos (assim Julius Wellhausen, Pwlegomena to
the History of Israel [Edimburgo: A. & C. Black, Krodel, 151-152.
76
1885], 417). Veja Wiens, 223.
59 77 ‘cristãos” em Atos
Mendenhall enfatiza que a forma de aliança Para o significado do termo
hitita não era tão rígida. Pode ter havido variação 11:26, veja Robert Maddox, The Purpose ofLiike-
na ordem dos elementos bem como no fraseado. Acts (Edimburgo: T&T Clark, 1982), 31.
Haenchen, 292.
Ocasionalmente, um ou outro dos elementos podería 79
estar faltando (58). Veja Scharlemann, 15.
60 80
Ibid., 62. Arthur J. Ferch afirma que o papel do Filho do
61
Veja Shea, “Daniel and the Judgment”, 369-371. homem em Dn 7:9-14 não é de juiz que toma o seu
Em sua formulação, Shea não inclui o quarto item da assento ao lado de Deus. Segundo ele, o que esta
estrutura da aliança hitita, embora Mendenhall pro passagem retrata é uma cena de investidura, em que
vavelmente se referindo a textos como Deuteronômio 0 Filho do homem recebe “o dominio, a glória e o

31:24-29, declare que “a tradição do depósito da lei na reino” (The Son of Man in Daniel Seven, Andrews
52 / PaROUSIA - 1® SEMESTRE DE 2007

University Seminary Doctoral Dissertation Series, {Resurrection, Irn/nortality. and Eternal Life in Jn-
vol. 6[Berrien Springs: Andrews University Press, tertestamentalJudaisrn. HarvardTheological Studies
1979], 148, 172-174, 183). Não há dúvida, porém, 26 [Cambridge: Harvard UP. 1972], 27, cf. 12).
de que no judaísmo posterior, bem como no Novo Gordon E. Christo provê uma interessante análise da
Testamento, o Filho do homem vem para realizar conotação judicial da palavra quin (“levantar-se”),
uma função judicial (veja 1 Enoque 62:2-3; 69:26- que ocorre em Jó 19:25,e então conclui: “Quer para
29; Mt 25:31-46). acusar ou defender-se contra acusação, quer como
81
Herschel H. Hobbs, An Exposition of the testemunha(pró ou contra), ou quer como juiz para
Gospel ofLuke(Grand Rapids: Baker, 1966), 322. pronunciar o veredito,o indivíduo tinha de levantar-
Veja também 1. Howard Marshall, The Gospel of se a fim de falar” (“The Eschatological Judgment
Luke, The New International Greek Testament in Job 19:21-29, An Exegetical Study”, Andrews
Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 1978), University Seminary Ph.D Dissertation [Berrien
850; C. F. Evans, Saint Luke, TPI New Testament Springs: Andrews U, 1992], 129-134).
Commentaries(Londres: CSM, 1990), 837; Norval ^"Willem VanGemeren define a aliança de Deus
Geldenhuis, Commentary on the Gospel ofLuke, com Israel como uma “soberana administração de
The New International Commentary on the New graça e promessa”, pela qual Deus elegeu Israel para
Testament (Grand Rapids: Eerdmans, 1993), 587; si mesmo e conferiu-lhe uma série de privilégios,tais
Darrell L. Bock, Luke, Baker Exegetical Commen como a multiplicação de sua semente, a doação da
tary on the New Testament(Grand Rapids: Baker terra, e sua própria presença em bênção e proteção,
1996), 2:1800).
a fim de habilitá-lo para ser o canal de suas bênçãos
C. H. Dodd, According to the Scriptures para as nações (The Progress ofRedernption [Car-
(Londres: Nisbet, 1952), 35. Veja também Gustaf lisle: Patemoster, 1995], 107, 129).
Dalman, The Words of Jesus (Edimbureo: T&T 91
Veja, por exemplo, Jack T. Sanders, TheJews
Clark, 1909), 311.
83 in Luke-Acts (Filadélfia: Fortress, 1987), 80-83,
William Kelly,An Exposition oftheActs ofthe 297-299,317.
92
Apostles, 3“ed.(Londres: G. Morrish, 1952), 102- VanGemeren, 158-159.
103. John N.Darby declara:“Ele não se assenta,por
’^Para uma análise crítica sobre o ponto de vista
assim dizer, até Israel ter formalmente rejeitado o de Sanders, veja James D. G. Dunn, The Partings of
testemunho, quando o brado de Estêvão chegou aos r the Ways(Londres:SCM Press/Philadelphia: Trinity
seus ouvidos. Ele tomou o seu lugar, assentando-se P. International, 1991), 149-151.
até que seus inimigos sejam postos debaixo de seus
r 94
Veja Gumey, 116-119.
pés, depois da recusa deles de ouvir o testemunho 95
Veja Dunn, 248-251.
do Espírito Santo. Estêvão sendo recebido por Cristo 96
Shea,“Daniel and the Judgment,” 372-373.
97
no Céu,Israel como Israel deve esperar lá fora”{The Em uma interessante passagem, Martinho
Collected Writings,28“ed. William Kelly[Oak Park- Lutero descreve a conversão de Paulo como a
Bible Truth, n.d.], 283).
“vingança” de Estêvão, porque Paulo deixou de ser
H. P. Owen,“Stephen’s Vision in Acts vii 55-
o que era e se tomou o que o próprio Estêvão era
6”, AT5 1 (1954): 224-226.
(Lecture on Psalm One Hundred Eighteen, Luther’s
Marshall,The Acts ofthe Apostles, 149.
Works, Ed. Amer [Saint Louis: Concordia, 1955-
*‘’Bmce, 156.
1976], 11:412).
*^Para uma recente discussão do dispensaciona- 98
G- B. Caird, The Apostolic Age (Londres:
lismo, veja Keith A. Mathison, Dispensationalisrn:
Gerald Duckworth, 1955), 86.
99
Rightly Dividing the People ofGod?(Phillipsburg: Norman J. Bull, The Rise ofthe Church (Lon
P&R, 1995). Veja também Hans K. LaRondelle, dres: Heinemann, 1967), 49-50.
100
The Israel of God in Prophecy (Berrien Springs: Filson descreve o movimento liderado por
Andrews UP, 1983).
Estêvão como “quase uma revolução” na igreja cristã
««Krodel, 128.
89
primitiva (52).
George W. E. Nickeisburg identifica Daniel lOI
Sou grato ao Dr. Richard M. Davidson por
12:1-3 como uma “descrição de uma cena de ju sua bondade em ler este documento, e por algumas
ízo.” E para ele, um dos elementos constitutivos sugestões proveitosas, embora a responsabilidade
desta cena é exatamente a posição em pé de Miguel pelas conclusões a que chegamos seja do autor.

1
E O NOVO Israel
Amin a. Rodor,Th.D.
Professor de Teologia Sistemática e diretor do Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP

Resumo: Este artigo trata da escatologia Introdução


desenvolvida pela escola de interpretação
O sistema teológico conhecido como
profética chamada “dispensacionalista”,
“dispensacionalismo” vem controlando em
demonstrando a inconsistência de seus pres
grande medida a interpretação evangélica
supostos. Na primeira parte do trabalho, o da Bíblia nos últimos 100 anos.' As décadas
autor revê o conteúdo presente na obra de dois recentes tem testemunhado a publicação de
modernos defensores representantes do dis- uma extraordinária quantidade de livros,
pensacionalismo,Hal Lindsay eTim LaHaye.
artigos,folhetins e confissões evangélicas,
Em seguida,o artigo apresenta um cuidadoso bem como o surgimento de um grande
estudo sobre dois princípios bíblicos funda número de sites de internet, divulgando,
mentais de interpretação, que minam em sua com alguma variação de detalhes, a noção
base as teorias propostas pelo dispensacio-
de que o moderno Estado de Israel é um
nalismo: o da condicionalidade profética e
cumprimento profético. A esta idéia, em
o da soberania e liberdade da eleição divina.
geral, encontra-se associado um detalhado
Na última parte o autor discute a noção da
esquema de eventos escatológicos que cul
“teologia da substituição” enfatizando que a mina com o arrebatamento da Igreja. Esta
Igreja Cristã substituiu permanentemente o compreensão coloca o Israel nacional no
Israel nacional do antigo Testamento. centro do palco, conferindo-lhe um papel
Abstract: This article provides an definido nesta seqüência de eventos,depois
analysis of the eschatology developed do retomo invisível de Jesus Cristo.
by the school of prophetic interpretation Os efeitos da hermenêutica dispensacio
called dispensationalism, and points out nalista em considerável número dos ensinos
the inconsistencies of its basic presuppo- cristãos (algo não discemível à primeira
sitions. In the íirst part of the paper, the vista), exerce um extraordinário impacto
author reviews the fallacious content in the sobre a doutrina de Deus, a antropologia,
Work of two representativos of dispensa a cristologia, a soteriologia, a eclesiologia
tionalism: Hal Lindsay and Tim LaHaye. e,sobretudo,a escatologia."A aceitação do
Following, it presents a careful study dispensacionalismo afeta diretamente,ain
about two fundamental biblical principies da,a compreensão quanto ao moderno Isra
of interpretation, that undermine the very el e os eventos no Oriente Médio. Timothy
essence dispensationalist hermeneutics, P. Weber, por exemplo, documenta como
i.e. the principie of prophetic conditiona- evangélicos dispensacionalistas têm exerci
lity and the principie of the sovereignty do significativo impacto no relacionamento
and freedom of divine election. In the last entre os Estados Unidos da América e o
Israel nacional. Estes dispensacionalistas,
part the author discusses the nature of the
crendo que Israel como nação aceitará a
“replacement theology,” with the empha-
Cristo como Messias, e possuirá a terra
sis that the Christian Church has replaced
da Palestina, têm oferecido considerável
the national Israel of the Old Testament
apoio moral, financeiro e espiritual a esse
permanently.
54 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

país.Em resposta,segundo ele,importantes diferentes denominações evangélicas,


líderes israelenses têm abraçado o apoio de ganhou ímpeto com o estabelecimento
evangélicos dispensacionalistas.^ do moderno Estado de Israel, em 14 de
maio de 1948. Tal evento, associado
Este artigo primeiramente faz uma
com a vitória de Israel na guerra árabe-
breve descrição de teorias infundadas do
israelense dejunho de 1967, passou a ser
dispensacionalismo quanto aos últimos
entendido por dispensacionalistas não
eventos, representadas por Hal Lindsay e
apenas como um clássico cumprimento
Tim LaHaye,e dos efeitos do sensaciona- 46
profético, mas também como o mais
lismo criado em relação a esses autores. claro sinal do retorno de Cristo”^.
Em seguida, analisa em particular dois
princípios de interpretação interligados,
que, quando claramente compreendidos, Hal Lindsay e suas “profecias
desacreditam qualquer teoria que pretenda O crédito por popularizar o dispensa
reter o status privilegiado dos judeus na cionalismo, em tempos recentes, pertence
era cristã: 1)o da condicionalidade profé a Hal Lindsay, cujos livros e idéias foram
tica,e 2)a noção bíblica da soberania e li vendidos aos milhões. S. Bacchiocchi’
berdade da eleição divina. Por outro lado, observa que Lindsay contribuiu, mais que
tais princípios, quando não entendidos ou nenhum outro, não apenas para tomar o
levados em consideração, conduzem, ao dispensacionalismo popular, mas também
contrário, a uma interpretação anacrônica para dar-lhe sabor sensacionalista, estabe
das Escrituras, na qual se faz uma leitura lecendo datas especificas para o cenário
do Antigo Testamento como se o Novo do tempo do fim.Para Lindsay, o ponto de
Testamento não tivesse sido escrito, ou partida de todo o esquema escatológico, o
como se Jesus Cristo, o Messias cristão, início de sua “contagem regressiva”, é o
não tivesse vindo. ano de 1948, data do estabelecimento do
Estado de Israel. Este evento é considera
A teoria dispensacionalista e o do por Lindsay “o mais importante sinal
Israel étnico profético a anunciar a era do retomo de
Cristo”®. Para ele, de todos os sinais do fim
Muito antes de 1948, considerável dados por Cristo em seu sermão profético
número de cristãos cria na eventual res- (Mt 24),“o mais importante sinal... tem que
tauração de Israel na ""Terra Santa". Tal ver com a restauração na Palestina, com o
visão foi grandemente influenciada por renascimento de Israel”^.
dois fatores na história do pensamento
Lindsay, como outros que se inspira
cristão. O primeiro é a tradicional supo riam em suas fantasias, relaciona idéias a
sição de que osjudeus constituem o povo
partir de interpretações arbitrárias e chega
escolhido de Deus, retendo as bênçãos
a conclusões dignas dos almanaques de
desta posição, contrariando, assim, o
claro testemunho do Novo Testamento ficção. Por exemplo, de sua leitura de Ma
teus 24:32-33, ele conclui que a referência
quanto à mudança inaugurada na histó
kfigueira cujos “ramos se tomam tenros”
ria de Israel com o primeiro advento de
e cujas “folhas brotam”, é uma imagem
Jesus Cristo.'*
para a restauração nacional de Israel,em 14
O segundo fator relaciona-se direta de maio de 1948... quando o povo judeu,
mente com o surgimento da escola de depois de quase dois mil anos de exílio,
interpretação profética conhecida como sob incessante perseguição, tomou-se no
dispensacionalismo^ na primeira metade vamente uma nação.'® Este é o sinal que,
do século 19, que passou a fazer insis segundo Lindsay, indicaria que “Jesus está
tente promoção da idéia do retorno de às portas, pronto para retomar”".
Israel à Palestina, como um precursor do Então, para determinar com precisão a
segundo advento de Cristo. Esta noção, data do advento visível'- de Jesus, Lindsay
assimilada pela consciência religiosa de recorre ao verso 34 de Mateus 24: “Não
Israel e o novo Israel /55

passará esta geração, sem que todas estas de, desconsiderando-se tanto o significado
44
coisas aconteçam, Esta geração'\ na como a idade dos textos bíblicos utilizados.
interpretação de Lindsay referia-se à futura Tal método de interpretação termina dando
“geração que veria os sinais — o principal valor supersticioso a números e símbolos
deles o renascimento de Israer’’\ E arra- bíblicos,além de relacionar arbitrariamente
zoa;“Uma vez que uma geração na Bíblia textos sem qualquer correlação.
é um período em tomo de quarenta anos’”'*,
a questão se resolve com uma simples ope Deixados para trás
ração aritmética. Em 1970 Lindsay predisse
que “dentro de 40 anos, a partir de 1948, É comum dizer-se que a cada quinze
todas estas coisas poderíam acontecer”'^. anos, as pessoas, em geral, se esquecem
do que aconteceu nos últimos quinze
Dito de outra maneira, no esquema anos. Tal compreensão popular parece
profético de Lindsay, “dentro de 40 anos” ser verdade com a reedição mais recente
da última geração, a qual teve início em do dispensacionalismo. Tendo esquecido
1948, isto é, em 1988 (1948 + 40), todas completamente o fiasco de Lindsay, novos
as profecias apontando para o retomo de proponentes da teoria dispensacionalista,
Cristo deveríam se cumprir. Em seu livro lançaram-se às novas especulações escato-
The 1980s: Countdown to Armageddon, lógicas, na série dos livros Left Behind, de
traduzido para o português com o título Os autoria de Tim LaHaye e Jerry. B.Jenkins.
Anos 80: Contagem Regressiva para o Ju Como resultado do sucesso do primeiro
ízo Final, Lindsay afirma: “Muitos ficarão livro,Left Behind, considerado um dos dez
chocados com o que acontecerá no futuro best-sellers do século 20, os autores deci
muito próximo. A década de 1980 poderá diram expandir o projeto numa seqüência
ser a última década da história como nós a de 12 livros e mais um filme. Surpreen
conhecemos”'^. Com base em seus cálculos dentemente, estes livros foram também
e em textos bíblicos lidos de forma tmncada elevados à categoria de best-sellers nas
e conveniente aos seus propósitos, Lindsay listas do New York Times, The Wall Street
“profetizou” não apenas o retorno visível Journal Q USA Today, e considerados ..
de Jesus para o ano de 1988, mas uma série a mais bem sucedida série de ficção cnsta
de outros eventos’’que deveríam acontecer de todos os tempos”’’.
a partir de 1981, ano do retorno invisível
Os livros da série Left Behind, bem
de Cristo: o arrebatamento da igreja, a
como o filme, pressupõem um cenário
tribulação e o início da restauração de Is
escatológico particular, no qual um grupo
rael. Assim, Lindsay atribuía considerável
de eventos tomará lugar. Tal cenáno, com
importância aos sete anos entre 1981 e
1988, nos quais, como resultado de uma alguma variação, é amplamente aceito e
crido por evangélicos fundamentalistas.
equivocada interpretação de Ezequiel 38 e
39,ocorrería a invasão de Israel pela Rússia 1. Em algum ponto,no futuro próximo,
e seus aliados.'* acontecerá o arrebatamento secreto, no
A década de 80 passou e o calendário qual Jesus virá de maneira invisível para
reunir todos os verdadeiros crentes. Osfiéis
profético de Lindsay não se cumpriu. De-
mortos ressuscitarão e,juntamente com os
ploravelmente, parece ser verdade que a
outros, serão arrebatados para o Céu.
única lição da história é que as pessoas não
aprendem as lições da história. O período 2. Durante sete anos, haverá na terra
subseqüente verificou uma tentativa de se um período de tribulação, iniciado por um
reconstmir as fracassadas teorias de Lind ataque da Rússia contra Israel.
say. Mudaram-se os nomes, os cálculos e
3. Durante a tribulação, uma série de
as datas, mas o engano básico pennanece
inalterado: leitura especulativa das Escri julgamentos espetaculares tomam lugar.
turas, que ignora o contexto histórico das Estes são descritos, segundo seus propo
profecias,sua dimensão de condicionalida- nentes, no livro do Apocalipse.
56 / PaROUSIA - r SEMESTRE DE 2007

4. Haverá o surgimento de“um governo 9. Por fim,acontecerá a batalha do Ar-


mundial” que tomará o controle de todo mageddon em Israel, seguida do Segundo
o planeta. LaHaye identifica tal governo Advento. Jesus descerá do céu, com suas
como um subproduto das Nações Unidas, hostes celestiais e exterminará o anticristo.
e afirma que ele estará localizado na re Ele, então, reinará na terra por mil anos,
construída antiga cidade de Babilônia, no período conhecido como o milênio, no qual
Iraque. Tal governo será liderado por uma fogo cai do céu e consome os rebeldes. De
sinistra figura conhecida como o anticristo, pois disto, os mortos remanescentes serão
ou a “besta”. ressuscitados. O dia dojulgamento ocorre,
5. Paralela a isto, surgirá “uma religião e Deus inaugura a ordem eternal, com um
novo céu e uma nova terra.
mundial”, à qual se espera que todos se
unam. LaHaye entende isto como uma Em suma, neste engenhoso delírio
mistura sincretista das religiões do mundo, interpretativo, o que real mente é deixado
liderada pela Igreja Católica e o papa. Ele para trás, é a Bíblia e a seriedade de sua
identifica tal religião como uma ressurrei mensagem. De fato, tanto Lindsay como
ção do paganismo babilônico. LaHaye transformam a Bíblia num tipo de
6. Em certo ponto, com a ajuda do anti horóscopo, que interpreta mal e distorce a
cristo, o templo judeu, em Jemsalém, será pureza e integridade dos ensinos de Cristo,
reconstmído. No meio da tribulação, o anti dando para milhões de pessoas a impressão
cristo profana o templo, assentando-se nele de que isto é realmente o que as Escrituras
e declarando-se Deus. Aqueles que se recu ensinam sobre os últimos eventos. Steve
sarem a honrá-lo como Deus serão mortos, Wohlberg,relaciona comentários de pesso
e seus seguidores deve receber a “marca da as como Bill Bright, presidente do Campus
besta”(666), na fi-onte ou na mão direita. Crusade for Christ, afirmando que o filme,
Left Behind, “é uma excelente descrição
7. Além da ameaça de morte, será utili do que a Bíblia declara que atualmente
zada pressão econômica para compelir as acontecerá depois do Arrebatamento”, ou,
pessoas a receberem a marca da besta. A ainda, John F. Walvoord, ex-presidente do
esta altura, de acordo com LaHaye,o mun Dallas Theological Seminary, uma das for
do terá adotado uma sociedade sem moeda, talezas atuais do dispensacionalismo: “As
provavelmente utilizando microchips sob a principais representações desta história não
pele para toda transação monetária. Aque são ficção”2°. Não menos deploravelmente,
les que não recebem a marca da besta, não contudo,tais fantasias produzem em outras
poderão comprar ou vender. pessoas o efeito precisamente oposto,forta
lecendo o cinismo e a incredulidade contra
8. Apesar da coação utilizada para as Escrituras.
que as pessoas recebam a marca da besta,
muitos não se submeterão. Haverá, neste Além disso, o que se torna evidente
tempo, um grande número de crentes em nos esquemas de Lindsay e LaHaye, é
Cristo, embora, de acordo com LaHaye, que as pessoas estão realmente tentando
tecnicamente eles não sejam cristãos, uma escapar da tribulação, como entendida
vez que a igrejajá terá sido arrebatada para por eles, e não do pecado. As ginásticas
0 Céu. Estes são os “santos da tribulação”, interpretativas são também evidentes. Este
os que se tomarão crentes durante a tribu tipo de teologia é construído sobre textos
lação. Muitos se converterão devido a in reunidos,cujo relacionamento primário é o
fluência das 144 mil testemunhasjudaicas, sistema na mente do intérprete,em lugar de
cujos esforços evangelísticos contribuem idéias expressas pelos escritores bíblicos.
para a grande “colheita de almas”, nas Tome-se, por exemplo, o caso da noção de
arrebatamento secreto, defendido tanto
palavras de LaHaye. Entre aqueles que se
converterão durante a tribulação,estarão os por Lindsay como por LaHaye. Podemos
judeus, que finalmente aceitarão a Cristo ler toda a Bíblia, do início ao fim, e não
como o Messias. encontraremos um único texto claramente
Israel e o novo Israel /57

ensinando que haverão dois distintos ad são apenas representantes? A questão fun
ventos de Jesus-um secreto,como descrito damental, como sugerido anteriormente,
por estes interpretes em suas produções, e tem que ver com o método hermenêutico
outro visível, que será testemunhado por ffeqüentemente utilizado.^'* As Escrituras
todos. Finalmente, na seqüência de even sofrem uma descaracterização radical, e a
tos observada em Left Behind, o estudante seriedade de sua mensagem é subvertida
das Escrituras pode perceber um eco da e mesmo exposta ao ridículo, quando o
linguagem bíblica, mas as aplicações da texto sagrado é lido sem clara compreensão
hermenêutica literalista do dispensaciona- de corretos e consistentes princípios de
lismo são completamente estranhas à Bíblia interpretação. Evidentemente, isto não se
e distorcem o claro significado contextual aplica apenas aos dispensacionalistas, mas
delas.-' Dito de forma simples, embora o a qualquer interpretação que, de maneira
pacote, o exterior, ou a linguagem, possa anacrônica, atribui um status ao povo ju
parecer bíblica, o conteúdo nada tem a deu dentro da era cristã que eles não mais
ver com a mensagem das Escrituras. Nas possuem como entidade étnica. Tais inter
palavras de C. N. Norman Kraus: pretações,como enfatizado anteriormente,
incoerentemente agem como se Cristo não
A interpretação dispensacionalista é construí
tivesse vindo"^ e como se o Novo Testamen
da sob um conceito inadequado quanto à natureza 26
da linguagem e do seu uso. Buscando manter a
to não houvesse sido escrito.
qualidade sobrenatural da narrativa bíblica, ele
[o dispensacionalismo] assume que a linguagem CONDICIONALIDADE PROFÉTICA
bíblica é como a linguagem dos livros de textos
da ciência; isto é, seus termos têm um significado Quando estudantes da Bíblia descon
fixo, do começo ao fim.-- sideram o princípio de condicionalidade
profética, eles abrem uma enorme porta
Voltando a atenção para o papel que os para toda sorte de distorções. A profecia
judeus ocupam nestes esquemas,distingue- condicional é um princípio de interpreta
se claramente que Israel é o elemento-cha- ção bíblica, que se aplica às declarações
ve. que domina a teologia de Left Behind. de natureza predictivas que envolvem a
A cadeia de eventos que leva ao final re escolha humana. Tal princípio é ilusfrado
tomo de Cristo, depende da existência da de forma representativa em Deuteronomio
terra santa, que estará sob um catastrófico 28:“E será que se ouvires a voz do Senhor
assalto do anticristo. Não é de admirar que teu Deus...”(v. 1), e a narrativa passa des
o bom-again loby americano é obcecado crever os resultados da obediência. Por
com a defesa de Israel, erguendo-se contra outro lado, “... se não deres ouvido a voz
qualquer plano de paz no oriente, contanto do Senhor...” (v. 15), as conseqüências
que este sionismo cristão floresça, estabe seriam modificadas, tomando rumo dia-
lecendo Israel como “o povo escolhido de metralmente oposto. O mesmo princípio e
Deus”, num jogo de poder para forçar o encontrado claramente no livro de Jonas,
cumprimento das profecias quanto a Israel, resumido em 3:10: “E Deus viu as obras
como eles as entendem. Nesta compreensão deles, como se converteram do seu mau
literalista e futurista da Bíblia,o destino do caminho,e Deus se arrependeu do mal que
povo judeu é retornar à terra dos seus pais, tinha dito lhes faria,e não o fez.” Os exem
e reclamar a herança prometida a Abraão e plos se multiplicam e são bem conhecidos.
23
aos seus descendentes para sempre. Dito de outra maneira,como resumido por
Ellen G. White, tal princípio reconhece
Princípios equivocados que “as promessas e ameaças de Deus são
DE INTERPRETAÇÃO igualmente condicionais”-^
Onde localizar o erro de tomar o esta Aqueles que atribuem significado bí
belecimento do moderno estado de Israel o blico à restauração do moderno estado de
ponto de partida para engenhosos esquemas Israel,e esperam um futuro glorioso para os
proféticos, dos quais Lindsay e LaHaye judeus dentro do plano divino,ignoram pre-
58 / PaROUSIA - 1® SEMESTRE DE 2007

cisamente este aspecto crucial.A história do tual e missionária,Israel falhou durante esta
povo de Israel é, provavelmente, a melhor segunda oportunidade. Nos dias de Jesus,
ilustração do princípio de condicionalidade a apostasia dos judeus havia chegado ao
profética. Colocado na encruzilhada do seu clímax. O Israel étnico,em arrogância
mundo antigo, e “adornado com cada pro e complexo de superioridade, passara a
vidência para que se tomasse a maior nação reclamar as promessas do concerto com
da terra”,-* Israel tinha uma extraordinária base em seu relacionamento de sangue
vocação como depositário dos oráculos di com Abraão.
vinos(Am 3:7; Rin 3:1,2), e representante
Note-se que, segundo Jesus, o fracasso
dos desígnios eternos(Dt 7:6). Mas o fato
de Deus estar do lado de Israel, não colocou básico dosjudeus, antes mesmo de rejeitá-
lo como o Messias enviado, foi a rejeição
Israel automaticamente do lado de Deus,e
a história do povo escolhido constitui um da revelação dada por meio de Moisés,em
quem eles diziam confiar. “Não penseis
capítulo escuro de incredulidade, idolatria
que sou eu quem vos acusa diante do
e deslealdade concertual. Ezequiel 20:1-17
oferece um vivido sumário de sua consis- Pai. Quem vos acusa é Moisés; em quem
tente obstinação. vós confiais, porque se vós crésseis em
Moisés, crerieis em mim”(Jo 5:45, 46).
O Antigo Testamento registra a de Os judeus não passaram no teste básico:
plorável história de como a vinha que aderência e compromisso com a verdade
fora trazida cuidadosamente do Egito (SI conhecida. Jesus deixa claro que o pro
80:8)e cercada de todos os cuidados para blema dos judeus era incredulidade de
produzir frutos abundantes(Is 5:1-5), pro caráter crônico e sistemático. A rejeição
duziu apenas uvas bravas e imprestáveis dele (Jo 1:11), foi uma conseqüência
(Jr 2:31), frustrando assim os planos de natural de um estado de obstinação e
Yahweh. Posteriormente, mesmo quando cegueira irrecuperáveis. Com palavras
a nação judaica passou pelas amargas de profundo lamento, Jesus pronuncia
conseqüências de sua obstinação, durante sobre o povo escolhido julgamento ir
o cativeiro babilônico, o Senhor miseri revogável: “Jerusalém, Jerusalém que
cordiosamente prometeu restaurar o seu matas os profetas, e apedrejas os que
povo. Os capítulos 40-66 de Isaías cons te são enviados! Quantas vezes quis eu
tituem a comovente narrativa da intenção ajuntar os teus filhos... e tu não quiseste..
divina. De fato, as promessas feitas a Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta”
Abraão e expandidas no período posterior, (Mt 23:37-38).
deveríam “ter encontrado cumprimento,
em grande medida, durante os séculos O Novo Testamento não conhece ne
seguintes ao retorno dos israelitas das nhum plano subsidiário em favor da nação
terras do seu cativeiro... Ao final dos anos judaica. Gálatas 3:28 insiste que “não há
de humilhante exílio. Deus graciosamente maisjudeu nem grego... porque todos vós
deu a seu povo, Israel, por intermédio de sois um em Cristo Jesus”. Os que são de
Cristo,tomam-se os verdadeiros filhos de
Zacarias esta certeza: “Voltarei para Sião,
e habitarei no meio de Jerusalém; e Jeru Abraão e herdeiros conforme a promessa
salém chamar-se-á a cidade da verdade e (Gl. 3:29). As palavras de Efésios 2:11-22
o monte do Senhor dos exércitos, monte esclarecem que aos olhos de Deus não há
da santidade.”^’ mais judeus e gentios, mas por meio de
Cristo ambos se tornaram um na igreja
Contudo, “essas promessas estavam cristã, a qual é fundada sobre ambos, os
condicionadas à obediência. Os pecados apóstolos do Novo Testamento e os pro
que haviam caracterizado os israelitas fetas do Antigo Testamento. Finalmente,
anteriormente ao cativeiro não deviam ser Romanos 9 a 11,capítulos freqüentemente
repetidos”^®. Mas isto é precisamente o que utilizados para defender a noção de uma
aconteceu. Em lugar de humilde submissão teocracia judaica restaurada na Palestina,
para o cumprimento de sua vocação espiri¬ insistem, ao contrário, que os legítimos
Israel e o novo Israel /59

herdeiros do concerto não são os incré de Deus, também os judeus individuais


dulos descendentes naturais de Abraão devem ser admitidos em tal comunhão.De
(“Israel segundo a carne”), mas exclusi fato, no Novo Testamento, o termojudeu
vamente os filhos espirituais de Abraão, como referência teológica não tem qualquer
aqueles que pertencem a Cristo. Estes ca conotação com os literais descendentes de
pítulos da carta aos Romanos,representam Abraão, mas refere-se a qualquer pessoa
a extraordinária transição da naçãojudaica (judeu ou gentio) convertida a Cristo e
para a igreja cristã. Aqui o apóstolo apela unida a Ele(Rm 9:2, 3,6, 7; Rm 2:28,29;
aos judeus individualmente para que res G13:27-29;Jo 8:38- 40). O apóstolo Pedro
pondam ao chamado de Deus, por meio chama os gentios no novo Israel de Deus de
de Cristo, e se juntem aos gentios, que o “raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
encontraram como a final solução para o povo de propriedade exclusiva de Deus”
problema do pecado. (IPe 2:9), porque eles assumiram o papel
do Israel físico do Antigo Testamento.
Paulo não deixa nenhuma dúvida de que
o teste para permanecer em adequada rela A LIBERDADE DA ELEIÇÃO DIVINA
ção conceituai agora é o exercício da fé em
Cristo (Rm 9:30-33). O apóstolo remove Não há qualquer dúvida de que aos
qualquer distinção teológica entre judeus judeus, de acordo com Romanos 9:4 e
e gentios(Rm 10:12), e nenhum direito ao 5, como povo escolhido de Deus, foram
favor divino pode ser reclamado com base oferecidas extraordinárias vantagens
em descendência natural. Ao longo do argu espirituais. A eles, segundo o apóstolo
mento de Paulo,fica evidente que a igreja, Paulo, pertencem a adoção, a glória, as
composta daqueles que crêem, ocupa o alianças, a legislação, o culto e as pro
lugar do Israel étnico,e forma o verdadeiro messas. Deles são os patriarcas, e deles
Israel que emerge do tronco do povo esco descende o Cristo.
lhido, e inclui, em parte, o remanescente Contudo, deveriamos seriamente nos
de Israel(os ramos naturais que não foram perguntar se todas estas vantagens e prerro
quebrados)e,em parte, os gentios que vie gativas foram oferecidas aos antigosjudeus
ram a crer em Cristo(os ramos enxertados). como recompensa ou um tipo de retribuição
Os gentios, por outro lado, são convidados ao mérito deles. Se este é o caso,então(e so
a ponderar sobre “a bondade e a severidade então) Deus não podería senão reconhecer
de Deus”(Rm 11:22). Severidade para com tais virtudes, independente de como osju
aqueles(judeus)que por sua incredulidade deus se comportassem,e reconhecer o mé
foram rejeitados,e bondade para com estes rito deles.As Escrituras,entretanto,nem de
(gentios),que foram aceitos pela livre graça longe sugerem uma resposta positiva a isto.
divina. Os gentios devem permanecer em Israel é caracterizado e distinguido como
tal graça, para que não sejam cortados(Rm uma entidade étnica, mas as características
11:22),e osjudeus,que foram cortados,“se enumeradas por Paulo não têm por base
não permanecerem em incredulidade,serão 0 judaísmo segundo a sarx. Elas não são
enxertados”(Rm 11:23). Assim,aceito pela herdadas em termos da raça, mas com base
igreja,o novo povo do concerto,a comuni na eleição divina. Todas estas “marcas” são
dade messiânica,ou seja, ^"todo Israel[isto o que são, pela ação divina, sua iniciativa
é, os gentios que permanecem na bondade e sua liberdade de eleição.
divina e osjudeus que não permanecem na Precisamente por causa da iniciativa di
incredulidade] será salvo*'(Rm 11:26). vina no passado,Israel tinha um extraordi
De acordo com Paulo, portanto, o ju nário potencial para o íuturo. De fato,Israel
deu literal tem futuro e parte nos eternos fora preparado para um futuro com Deus e
planos de Deus, mas apenas como um a serviço de Deus. Entretanto,porque Israel
membro da igreja cristã. Assim como os não permitiu ser introduzido em tal futuro,
gentios individualmente são enxertados seu passado tomou-se então, uma questão
na salvadora comunhão com o novo povo de “passado sem futuro”. Não é inconce-
60 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

bível,como alguns parecem crer,que,uma A segunda ilustração é ainda mais clara


vez que Israel recusou cumprir o papel que neste aspecto. No caso de Isaque, pode-se
Deus lhe havia oferecido, não havia nada imaginar que sua eleição foi baseada na
que Deus pudesse fazer senão suspender vantagem que ele tinha como filho de uma
sua eleição. Esta, devemos lembrar, não mulher livre, enquanto Ismael era filho de
é apenas uma questão sobre Israel, ela é uma serva. Mas quando Paulo se volta para
também uma questão a respeito de Deus. a escolha de Jacó, não há lugar para este
A questão da falta de integridade de Israel, tipo de raciocínio. Ele e seu irmão filhos de
simultaneamente suscita a questão acerca Isaque, nascidos em circunstâncias iguais
da integridade divina. Se Israel permitiu e, para intensificar ainda mais a liberdade
que o seu passado, pleno de potencial para divina, ambos são gêmeos, filhos do mes
o futuro,fosse prostituído e degenerado em mo pai e da mesma mãe, iguais em todos
meras crônicas,como podería Yahweh tra aspectos do ponto de vista do status. Deus,
tar com o seu povo de dura cerviz e reinci contudo, novamente suipreende a lógica
dente em rebelião? Na história da teologia, humana (segundo a carne prioridade de
esta questão é conhecida como o problema vería ser dada ao primogênito), e escolhe
do relacionamento entre a vontade de Deus Jacó, o segundo dos dois. Nada podería
e a liberdade humana. ilustrar melhor a liberdade de Deus ao
escolher; liberdade que já se manifestara
Uma simples observação no critério di
antes, e agora é expressa de forma supre
vino de eleição não deixa qualquer dúvida ma. A escolha de Jacó em lugar de Esaú
de que Deus é soberano em suas escolhas,
Precisamente enfatiza que a decisão do “conselho” ou
em Romanos 9:6-13, parte “propósito” divino surge da liberdade de
da seçao frequentemente utilizada como Yahaweh. É o squ goodpleasure que deter
sustentação da idéia da permanência do mina sua decisão(Rm 9:11). Desta forma,
Israel físico sob as bênçãos do concerto.
na história dos gêmeos, como Anders
encontramos duas ilustrações que, em Nygree sublinha,“Paulo remove qualquer
ultima análise, desacreditam e subvertem fator que pudesse ser considerado como a
tal teoria. Primeiro, verificamos a eleição base da distinção entre eles”^‘.
de Isaque, um dos dois filhos de Abraão
Deus elege Isaque, não Ismael. Aqui, se Israel é eleito unicamente a partir da
minalmente,constatamos a verdade básica livre graça de Deus. Paulo, ao longo de
expressa por Paulo séculos depois,a saber- sua exposição, estabelece o fato de que
“Nem todos são filhos de Abraão, porque não há nada nos judeus segundo a carne,
eles são seus descendentes”(Rm 9:7). Do que indique qualquer possibilidade de rei
vindicação em termos de mérito ou direito.
ponto de vista natural, poder-se-ia pensar
que a promessa fosse tão válida para Ismael Absolutamente nada que possa ser utili
como para Isaque, pois ambos eram filhos zado como um argumento que justifique
de Abraão. Mas Deus em sua soberana li uma reivindicação sobre o favor divino.
A consequência disto é fundamental para
berdade de eleição deu a promessa a Isaque
entendermos o enorme engano dos que
(Gn 21:12). Mesmo ao ofertar a promessa.
insistem em supostas virtudes ou supe
Deus demonstra que há uma distinção rioridade de Israel. De acordo com Paulo,
básica entre aqueles que são nascidos de
em consequência da compreensão de que
acordo com a carne, e os que são nascidos
a escolha divina é baseada na graça, não
pela força da promessa (G1 4:23). Assim,
pormos, sob qualquer hipótese, afirmar
não foi por virtude de descendência natural
a idéia de impossibilidade da rejeição de
que Isaque toraou-se herdeiro das bênçãos Israel. O raciocínio é consideravelmente
de Abraão. É claro que deste exemplo simples: Se Deus é livre para escolher o
concreto se podería concluir, como alguns objeto de suas promessas. Ele é também
tem feito, que as promessas do concerto livre para rejeitar o que Ele escolheu. Ele
pertencem automaticamente a Isaque e sua tem o direito de manter a liberdade de sua
posteridade, mas isto é precisamente o que eleição no presente e no futuro, da mesma
não somos autorizados a pensar. forma que no passado. Assim, eleição e
Israel e o novo Israel /61

rejeição tomam-se os pólos opostos da descobriu-se considerável ênfase colocada


mesma elipse, baseado no princípio da nesta transição, em que a igreja substitui
liberdade divina. e toma o lugar do antigo Israel. Walter
C. Kaiser observa: “A teologia da subs
A interpretação paulina de que a eleição
de Israel é totalmente fundamentada na tituição... declara que a igreja, a semente
espiritual de Abraão,substituiu o Israel na
inexplicável liberdade de Deus,retira de Is
rael e dos defensores da incondicionalidade cional... cumprindo os termos do concerto
dado a Israel, e que fora perdido pela sua
do concerto abraâmico,qualquer segurança desobediência.”^^ Da mesma forma,Ronald
baseada em raça. Realmente, o argumento
E. Diprose fala em nome de muitos ao defi
de Paulo é equivalente à negação da reali
dade do concerto de Yahweh com Israel em nir a teologia da substituição como a noção
termos de incondicionalidade. O apóstolo de que a igreja substituiu completamente o
considera isto uma inferência errada. Ele Israel étnico, cumprindo o plano de Deus
I
como recipiente das promessas feitas a Is
argumenta que o Deus de Israel, o Senhor
rael no Antigo Testamento.^® A cumulativa
do concerto, o Deus que elege, não é ne
evidência dada por estes autores^’ coloca
nhum outro senão o Deus criador. Ajustiça
de Deus deve ser vista em conexão com em destaque as inconsistências dispensa-
cionalistas da suposta dicotomia Israel/
os seus direitos de Criador. Ou,em termos
claros: de acordo com Paulo, Deus pode igreja. Nada no novo testamento, nem de
longe, sugere que Cristo tenha vindo para
agir como Ele escolhe, e suas ações não
estabelecer um reino terreno, o qual tenha
podem ser avaliadas por qualquer norma
sido temporariamente postergado, dando,
humana de justiça. Ao contrário, são tais
assim, origem a um suposto “plano de
ações que definem e estabelecem o signi
emergência”, no qual a igreja cnstã e ape-
ficado da justiça.
nas uma interrupção” do plano onginal,
Em suma, podemos afirmar que Deus que exige o arrebatamento dos crentes em
é soberano em seu chamado e promessas. Cristo do mundo,para que Israel reassuma
Ele os oferece àqueles a quem Ele quer(Ml seu destino profético.
1:2), não permitindo a ninguém prescrever
Além da percepção destes autores,uma
regras sobre isto, ou ter qualquer reivindi
leitura atenciosa do novo testamento reve
cação sobre Ele.
la que Israel foi real e permanentemente
substituído pelo novo povo de Deus Nessa
O NOVO Israel
substituição, dois elementos simultâneos
Os cristãos, ao longo de quase dois mil são evidentes: o primeiro, do ponto de
anos de história, têm afirmado a compreen vista negativo, é o de que a igreja emerge
são de que, no Novo Testamento, a igreja do antigo Israel; o segundo,sob uma otica
cristã substituiu o Israel nacional do Antigo positiva, é o de que ela toma o lugar de
Testamento, tomando-se o novo Israel, o Israel, substituindo, assim, o historico
novo povo de Deus. Alister E. McGrath, povo de Deus.^* Temos que concordar com
por exemplo, observa que um “amplo Hans K. LaRondelle, autor reconhecido e
consenso” existiu na igreja apostólica, prolífico no tema,quando ele indica que no
segundo o qual “a Igreja é uma sociedade Novo Testamento Israel não é mais o povo
espiritual que substitui Israel como o povo de Deus, sendo radicalmente substituído
de Deus no mundo”^-. Da mesma forma,H. pelo povo que aceitará o Messias e a sua
Wayne House,ampliando o arco histórico, mensagem.Para LaRondelle,a igreja subs
observa que esta posição, conhecida como tituiu “o povo que rejeitou Cristo”^’. Assim,
supersessionisrrr’^ ou replecement theology uma leitura lúcida do Novo Testamento,
foi o “consenso da igreja desde a metade do
passa forçosamente por Cristo, pois para
segundo século d.C., até o presente”^'*. os escritores do Novo Testamento. Ele é a
Por meio de uma rápida revisão na chave para interpretação e compreensão do
produção acadêmica de teólogos recentes. Antigo Testamento.
62 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

“Cristo, o último intérprete das pro aspecto territorial das promessas feitas ao
fecias de Israel”'*®, é a verdadeira norma antigo Israel. A terra palestina não apare
para a elucidação das Escrituras Hebrai ce dentro do horizonte paulino e, assim,
cas; em Cristo nos confrontamos com o personalizando a promessa “em Cristo”,
fim da teocracia dos Judeus. Já o livro o apóstolo a universaliza.'*- Em suma, o
de Deuteronômio profetizara o resultado cumprimento cristocêntrico das promessas
final da desobediência da nação escolhida: do Antigo Testamento, estabelece a igreja
“Se te esqueceres do Senhor teu Deus e cristã como a verdadeira herdeira de tais
andares após outros deuses, servindo-os e promessas.”*^ Curiosamente, em nenhum
adorando-os, protesto hoje contra vós que lugar o Novo Testamento promete a terra
certamente perecereis. Como as nações que da Palestina ao novo Israel, a igreja. Os
o Senhor destruiu de diante de vós, assim santos, reunidos na “universal assembléia
perecereis, pois não quisestes obedecer a e igreja dos primogênitos,” se achegam à
voz do Senhor vosso Deus”(Dt 8:19-20). “cidade do Deus vivo, à Jerusalém celes
O último ato de rebelião de Israel, mani¬ tial”(Hb 12:22,23).
festo na rejeição do Messias, realiza as
palavras desta profecia, na pessoa do Seria, portanto, não apenas anacrônico,
mas também um contra-senso e uma des
próprio Cristo: “Jerusalém, Jerusalém!
consideração absurda de Cristo, se os cris
Que matas os profetas e apedrejas os
que te são enviados! Quantas vezes tãos dessem a última palavra da revelação
quis eu ajuntar os teus filhos...e tu não ao Antigo Testamento, negando, assim, o
quiseste! Agora a vossa casa vosficará conceito de revelação progressiva e descar
desertar(Mt 23:37). A transferência de tando a única chave explanatória pela qual
Israel para a igreja,é irremediavelmente o Antigo Testamento pode ser elucidado.
efetuada,como atestada na solene decla Tal anacronismo deixaria de fora os novos
ração: “Portanto, vos digo que o remo elementos que foram introduzidos na his
de Deus vos será tirado e será entregue tória da salvação pela encarnação de Jesus
Cristo. LaRondelle corretamente indica
a um povo que produza os respectivos
frutos” (Mt 21:43). A partir de então, que para os cristãos, no Novo Testamento,
Israel tomou-se uma nação sem qualquer Cristo é o intérprete definitivo do Antigo
significado profético. Testamento,e Ele atribuiu às Escrituras He
braicas uma interpretação não centralizada
Devemos notar que Cristo, e não o an nos judeus, mas nele mesmo.
44

tigo sonho geográfico dosjudeus,é o foco


do Novo Testamento, pois, de acordo com
Conclusão
Paulo,“quantas são as promessas de Deus,
tantas têm nele [Cristo] o sim, porquanto O dispensacionalismo,com sua herme
também por ele o amém” (2Co 1:20). nêutica literalista, transformou o Antigo
Gerhard Hasel observa que este texto pro Testamento no playgroimd de enormes
vê uma resposta cristocêntrica à indagação especulações quanto ao papel de Israel
“a quem pertence as promessas do Antigo no plano divino'*^, desconsiderando e não
Testamento?” Hasel conclui que tal res- fazendo justiça ao conceito bíblico da
posta cristocêntrica do Novo Testamento escatologia inaugurada, ou à forma como
“está em oposição ao argumento futurista Cristo cumpriu as promessas do Antigo
do dispensacionalismo, o qual liga tais Testamento. Tal método de interpretação
promessas a um Israel étnico, literal”'*'. tem produzido enormes distorções, como
Em Colosseses 1:26,27 o apóstolo enfatiza aquelas vistas nas idéias de Lindsay e
que “o mistério que estivera oculto dos LaHaye. O potencial de engano para
séculos e das gerações; agora todavia, se milhões de pessoas é incalculável, ali
manifestou aos seus santos”, o qual é “... mentando esperanças infundadas numa
Cristo em vós, a esperança da glória.” escatologia antibíblica.
E, como W. D. Davies adequadamente Este artigo focalizou a desconsideração
resume, Paulo ignora completamente o dispensacionalista de dois princípios bíbli-

i
Israel e o novo Israel /63

COS que,se considerados seriamente,cons responde com veemência, “de modo nu-
tituem obstáculos intransponíveis para toda nhum”.O plano divino se cumprirá,contudo,
compreensão interpretativa que queira ou não no tempo previsto pelo dispensacionalis-
busque atribuir ao Israel moderno qualquer mo,após o arrebatamento da igreja,ou tendo
vantagem baseada em mera raça ou herança o Israel físico,instalado na Palestina,como o
natural. Primeiro: as promessas do Antigo beneficiário das promessas de Deus. Então,
Testamento são condicionais. Uma vez que a questão da “salvação de todo Israel”(Rm
o relacionamento conceituai com Deus era 11:26), se toma uma questão de “tempo-
um pré-requisito para que a nação escolhida quando?” e da “maneira-como?” A questão
se tomasse o verdadeiro Israel e recebesse a concernente ao tempo em que “todo Israel
realização das promessas,a nação israelita será salvo”,tem que ver com uma dimensão
do Antigo Testamento desqualificou-se a si escatológica,naparomia,o retomo do Senhor
mesma como beneficiária das promessas Jesus Cristo. Com relação à“maneira-como”,
divinas. Segundo: uma vez que a escolha o cumprimento do plano divino se dará com
de Israel, como demonstrado, foi baseada outro beneficiário, a saber, a igreja, o novo
exclusivamente na liberdade divina, fica e verdadeiro Israel, que compreende todos
assegurado que Deus é também livre para aqueles que aceitam Jesus Cristo,querjudeu
rejeitar aqueles que, embora tivessem ou gentio. Assim,o fiacasso do Israel literal
potencial para o futuro, frustraram tal pos não fiiistra os eternos desígnios de Yahweh.
sibilidade, a partir do que Israel tomou-se Por meio de Cristo, todas as provisões fo
uma nação sem qualquer futuro profético. ram feitas para o seu mais amplo, pleno e
Concluir o contrário, baseado em elitismo glorioso cumprimento, quando o povo do
ou em saudosismo do exlusivo status ocu Messias será introduzido, no seu retomo,na
verdadeira Canaã, que é de cima e na nova
pado por Israel na história redentiva, não é
Jemsalém, a cidade que tem fundamentos.
apenas tentar voltar o relógio da profecia,
mas incorrer na idéia absurda de que o Deste ponto de vista, a “salvação de Israel”,
homem, afinal, tem a última palavra. nos últimos dias, no tempo da parousia, é
um acontecimento estritamente miraculoso,
Significaria isto, como formulado na por meio da iniciativa estritamente divina,
pergunta de Paulo, que “rejeitou Deus o seu totalmente independente de Israel e/ou do
povo?”(Rm 11:1). Como o próprio apóstolo resto da humanidade.

Referências

'O dispensacionalismo, como sistema de inter Fortress, 1996), x; Craig A. Blaising, “The fiiture
pretação bíblica, infiltrou-se em praticamente todos os Israel as a Theological Question”, Journal of
os ramos do protestantismo moderno, chegando a the Evangelical Theological Society, 44:3 (2001),
exercer “considerável influência dentro dos círculos 443-450.
conservadores”(Millard J. Erickson, Contemporaty ’Timothy P. Weber, “How Evangelicals Beca-
Opstions in Eschatology[Grand Rapids, MI: Baker, me IsraePs Best Friend”, Chrístianity Today (5 de
1985], 162). No entanto,contrariando a noção manti Outubro, 1998), 39-49. Para Weber, “os íntimos
da por dispensacionalistas em geral, nenhum dos pais laços entre evangélicos e Israel são importantes: isto
a igreja, reformadores, puritanos, ou representantes tem moldado a opinião popular na América, e, em
das principais denominações cristãs, antes do final certa extensão, a política americana internacional”
do século 19, pode ser encontrado dando apoio a tais (ibid., p. 39). Weber oferece também o exemplo do
ensinos. Em geral,os dispensacionalistas citam como primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu,
representativas destas tradições cristãs, passagens falando na The Foices Unitedfor Israel Conference
isoladas que não representam o pensamento central em Washington, DC,em abril de 1998. Mais de três
delas. Veja Wolfhart Pannenberg,Systematic Theolo- mil na audiência eram evangélicos dispensaciona-
gy(Grand Rapids, Ml: Eerdmans, 1993), 3:471. listas. De acordo com Weber, Netanyahu declarou:
“ Veja, por exemplo, R. Kendall Soulen, The “Nós não temos maiores amigos e aliados do que
God ofIsrael and Chistian Theology>(Minneapolis: as pessoas assentadas nesta sala” (ibidem). Veja o
64 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

artigo de Vanderlei Domeles, “O novo ‘Israel’: a Esta teoria de dois adventos de Cristo recua
construção da ideologia do messianismo americano às idéias de Darby. Rompendo com todo o ensino
e a legitimação do poder imperial”, neste número histórico da igreja cristã, Darby afirmou que o se
de Parousia. gundo advento de Cristo não ocorreria em um, mas
* Toda a carta aos Hebreus é uma exposição em dois estágios. Primeiro, um retomo invisível, para
desta dramática mudança que ocorreu na vida re o “arrebatamento secreto” dos verdadeiros crentes,
ligiosa e nacional de Israel. Os cristãos primitivos quando terminaria o grande “parentesis” ou a “era da
claramente entenderam que Jesus, o Messias, veio igreja,” que se iniciou quando os judeus rejeitaram
para estabelecer uma ordem de coisas radicalmente a Cristo. Para legitimizar a noção do arrebatamento
nova, na qual o relacionamento com Deus nada e de dois adventos, Darby dividiu as Escrituras em
mais tinha a ver com o nacionalismo judaico. Para dois grupos de passagens, um gmpo relacionado
os dispensacionalistas, contudo. Deus tem dois pro Israel, e outro gmpo de passagens se aplicando à
gramas separados, um para o Israel natural e outro igreja. Em tempos recentes, na tentativa de fugir do
para a igreja.“Dois Povos de Deus” distintos um do problema de um terceiro advento,dispensacionalistas
outro.Para C.Ryrie,a distinção entre Israel e a igreja argumentam que o arrebatamento e o advento final
é considerada a “primeira essência” do dispensacio- de Jesus são simplesmente duas fases de um único
nalismo. Charles C.Ryrie,Dispensationalism Today advento. Mas isto não passa de mera racionalização.
(Chicago,111: Moody Press, 1973),50. Louis DeCaro Se Jesus veio para morrer por nossos pecados e
corretamente observa que “Sem esta dicotomia voltou ao Céu, devendo vir novamente em segredo
básica em sua hermenêutica, o dispensacionalismo para o arrebatamento dos seus seguidores, voltar ao
não podería permanecer como um sistema distinto Céu,para,anos mais tarde, retomar outra vez à Terra,
de interpretação bíblica. Todo o sistema revolve ao
agora de maneira visível, para exterminar o anticristo
redor da alegada divisão que existe entre Israel e a - então temos três vindas, e não duas.
13
igreja”(Louis DeCaro, Israel Today: Fulfilment of Ibidem. Em seu comentário sobre o filme de
Prophecy?[Philadelphia: Presbyterían and Reformed Lindsay,“The Late Great Planet Earth”, Gary Wil-
Publishing Co., 1974], 26).
bum observa que a pressuposição fundamental do
® O dispensacionalismo, como um sistema reli filme é “que o mundo deve terminar dentro de uma
gioso,teve sua origem nos anos 1830,na Inglaterra, geração a partir do nascimento do Estado de Israel.
quando John Nelson Darby (1800-1882) desenvol Qualquer opinião acerca dos negócios do mundo que
veu a idéia de várias dispensações, nas quais Deus não se ajuste dentro desta profecia, está descartada”
testou o homem ao longo da história humana. A
(Gary Wilbum,“The Dopomsday Chie”, Christianity
este sistema uniu-se a noção do “arrebatamento”, Today, 22[28 de Janeiro, 1978]:22).
originado com Margaret MacDonald,na Escócia. O 14
Lindsay, ibid., 54.
dispensacionalismo e a noção do “arrebatamento” 15
Ibid.
tomaram-se intimamente conectados num sistema 16
Ibid.
inovador e errôneo,desconhecido na história do cris 17
Lindsay, The I980s Countdown to Armage-
tianismo. As doutrinas do dispensacionalismo foram
ddon(New York, NY: Thomas Nelson 1980), 1.
18
sistematizadas por Cyrus I. Scofield (1843-1921), Veja a referência 12.
na sua Scofield Reference Sacred Scripture(Oxford 19
Veja Steve Wohlberg, The Left Behind De-
University Press, 1909). Tal obra produziu uma
ception (Chicago, 111; The Remnant Publications,
compreensão das Escrituras totalmente oposta ao 2001), V.
método histórico de interpretação bíblica. De acordo 20
Wohlberg, vii. Publicações evangélicas nunca
com Charles C. Ryrie, como observado acima, a haviam visto tal fenômeno desde The Late Great
“essência do dispensacionalismo... é a distinção entre
Planet Earth, de Lindsay, na década de 1970.
Israel e a igreja” (Dispensationalism Today, 44). É 21
O literalismo artificial do dispensacionalismo
precisamente esta descontinuidade criada entre Israel é reconhecido mesmo por John MacArhtur, um dis-
e a igreja que toma possível ao dispensacionalismo pensacionalista moderado: “Existe uma tendência
manter sua estrutura de idéias.
entre os dispensacionalitas de exagerarem a com-
* Leon J. Wood, The Bible and Future Events
partimentalização ao ponto de fazerem distinções
(Grand Rapids, MI: Baker, 1973), 18.
não-bíblicas. Um desejo quase obsessivo de cate
^ Samuele Bacchiocchi, HalLindsay s Prophetic
gorizar tudo em detalhes que tem levado intérpretes
Jigsaw Puzzle(Bernen Springs, WI: Biblical Pers dispensacionalistas a traçar uma linha não apenas
pectives, 1985), 23. entre a igreja e Israel, mas entre a salvação e o disci-
* Hal Lindsay,A Study Manual to the Late Great pulado, entre a igreja e o reino, a pregação de Cristo
Planet Eart(Grand Rapids: MI, Baker, 1971), 18 ea
mensagem apostólica, a fé e o arrependimento,
Ibid., 53 a era da lei e a era da graça.” John MacArthur Jr.,
Ibidem.
The Gospel Aceording to Jesus(Grand Rapids, MI:
" Ibid., 54 Zondervan, 1988), 25.

l
Israel e o novo Israel /65
31
-- C. Norman Kraus, Dispensationalism in Anders Nygreen, Commentary on Romans
America: Its Rise and Development(Richmond, V (Philadelphia, PS: Fortress, 1980),362.
32
A: John Knox, 1958). 132. Alister E. McGrath, Christian Theology: An
55 Veja,Amin A. Rodor,**A Natureza do Concerto Introdiiction (Melden: Blackwell, 1998),461-462
33
Abraâmico: uma análise da interpretação dispensa- Siipersessionismo é designação comum usada
cionalista”,Parousia(Ano 3, n" 1,segundo semestre na literatura erudita recente para identificar esta po
de 2004),5-26. Veja também Alberto R.Timm,“Uma sição. Comentando sobre o termo, Clark M. Willia-
análise crítica da escatologia dispensacionalista de mson escreve:“Supersessionism,é derivado de duas
Hal Lindsay” (dissertação de mestrado. Seminário palavras do latim,super e sedere,como quando uma
Adventista Latino-Americano de Teologia, Instituto pessoa se assenta na cadeira de outra, substituindo-
Adventista de Ensino, 1988). o”. Clark M. Willamson, A Guest in the House of
2A
O sistema hermenêutico do dispensacionalismo Israel: Pos-Holocaust Church Theology (Loncon:
tem sido objeto de sérias criticas, por sua artificialida Westminster/John Knox, 1993), 268.
34
de, inconsistências, literalismo e desconsideração dos H. Wayne House, no capítulo “The Church s
princípios Sola Scriptnra e Tota Scriptnra, além de Appropriation of IsraePs Blessings”, em Israel, the
outros. Veja, por exemplo, Norman Gulley, Christ is Land and the People:An EvangelicalAffirmation of
Cow//7g(Hagerstown, MA:Review and Herald, 1998), Gods Promises, ed. H. Wayne House(Grand Rapi-
a
71 -91. Na página 80,Gulley oferece uma lista de obras ds. Ml: Kregel, 1998), 77. Peter Ochs sugere que
significativas que têm,direta ou indiretamente,criticado ênfase recente na “replacement theology” se deve a
a hermenêutica dispensacionalista. Veja,especialmente, eventos tais como o holocausto e o estabelecimento
Hans K. LaRondelle, The Israel ofGod in Pmphecy\- do moderno estado de Israel (Peter Ochs,“Judaism
Principies ofPmpheticInierpietation(Berrien Springs, and Christian Theology”, em The Modern Theolo-
MI: Andrews University Press, 1983). gians, ed. David F. Ford [Malden, MA: Blackwell,
55 Assim,onde as sementes de Abraão(osjudeus) 1997],607). É de se perguntar,contudo,se tal ênfase
falharam, a Semente de Abraão par excellance. não se trata de uma tentativa de se contrabalançar
Cristo, foi vitorioso (Gl. 12:3). Em Cristo a história a divulgação do dispensacionalismo com sua in-
de Abraão foi recapitulada. De fato, Ele é o novo sistência no oposco. Veja, ainda, Scott Christopher
Israel. Assim, embora a natureza cósmica das pro Bader-Sayer,“Aristorie or Abraham? Church,Israel
messas e missão dadas a Abraão tenham alcançado and the Politics of Election” (Ph.D. Dissertanon.,
cumprimento apenas parcial no Antigo Testamento, Duke University, 1997).
fiel à realidade tipo/antítipo,o elemento inteiramente Walter C. Kaiser Jr., “An Assessment ot Ke-
original no Novo Testamento é o cumprimento or placement Theology’: The Relationship between
meio de Cristo do que foi dito acerca do antigo Israel. Israel of the Abrahamic-Davidic Covenant and the
Ele é a cabeça do novo corpo, a igreja (Cl 1:18; Ef Christian Church”, Mishkanll (1994):9.
3:6),ondejudeus e gentios integram o novo “Israel de 56Ronald E. Diprose,Israel in the Development
Deus”(Gl 6:16). Como Gulley observa,“a dimensão ofthe Christian Thougth (Roma: Instituto Bíblico
celestial é a surpreendente herança não revelada no Evangélico Italiano, 1999), 2.
37
Para uma considerável lista de tais autores, veja
Antigo Testamento. Igualmente surpreendente é o
fato de que tal herança não é apenas futura, mas Norman Gulley, Christ is Corning, 80.
38
já presente em Cristo” (Christ is Corning, 78). Em Veja esta ênfase em Paul Herman Riderbos,
Cristo já nos assentamos nos lugares celestiais(Ef Outline ofhis Theology (Grand Rapids, MI: Eerd-
2:6), e, assim, muito além da limitada interpretação mans, 1975), 333-34. , -
5’ Hans K. LaRondelle, The Israel of God in
literalista do dispensacionalismo,o foco na Palestina
e na velha capital dosjudeus se transpõe para um ní Prophecy: Principies of Prophetic Interpretation
vel infinitamente mais amplo e superior. Deus afirma (Berrien Springs, MI: Andrews University Press,
que o seu novo Israel “tem chegado ao monte Sião, 1983), 101. Bruce K. Waltke, professor de Antigo
e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial... e Testamento na Regent University, afirma a respeito
a Jesus Cristo, o mediador da nova aliança...”(Hb dos esforços de LaRondelle em criticar a herme
12:22-24). nêutica dispensacionalista: “Em minha opinião, os
26 trabalhos de LaRondelle e Hoekema,permanecem os
Veja a discussão deste tópico mais à frente, na
seção “O Novo Israel”. melhores sobre o tópico”(Dispensationalism Israel
27
Ellen G. White, Mensagens Escolhidas (Santo and the Church:the Searchfor Definition, Eds. Craig
André, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1966), 1:67. A. Blaising e Darrel L. Bock [Grand Rapids, ML:
28
Ellen G. White, Christ Object Lessons(Wa Zondervan, 1992],353). Referindo-se diretamente a
shington DC: Review and Herald, 1962), 288. esta obra de LaRondelle, ele a avalia como “a super
29
Ellen G. White, Profetas e Reis(Santo André, book”(ibidem).
40
SP: Casa Publicadora Brasileira, 1968), 703, 704. Hans K. LaRondelle, “Israel na profecia”,
Ibid., 704. em O futuro, eds. Alberto Timm, Amin A. Rodor
66 / PaROUSIA - 1“ SEMESTRE DE 2007

45
e Vanderlei Domeles (Engenheiro Coelho, SP.: O autor não está desapercebido das mudanças
UNASPRESS,2004), 232. interpretativas que têm ocorrido dentro do dispensa-
Gerhard F. Hasel,“Israel in bible prophecy”, cionalismo,com uma geração progressista de novos
Journal of the Adventist Theological Society 3/1 autores. O próprio dispensacionalista pode ser ana
(1992): 136. lisado em quatro “dispensações”: pré-scofieldiana,
W. D. Davies, The Gospel ofthe Land: Ear- scofieldiana, essencialista e progressista. As novas
ly Christianity and Jewish Territorial Doctrine tendências no dispensacionalismo são evidentes no
(Bekerley,CA:UniversityofCalifórnia, 1974), 178, volume editado por Craig A. Blaising e Darrell L.
179. Veja ainda Anthony Thiselton, New Horizons Dispensationalim, Israel and the Church: The
in Hermeneutics (Grand Rapids, MI: Zondervan, Search for Definition, mencionado acima. Embora
1992), 27. tais mudanças devam ser congratuladas, elas não
43
Veja o artigo de Gerhard F. Hasel nesta edição representam a maioria dos dispensacionalistas e,
de Parousia.
44 portanto, a ala progressista não significa que as três
LaRondelle,“Israel na profecia”, 232 eras anteriores, não estejam mais vivas e ativas.

]
o NOVO ‘Israel’: a construção da
IDEOLOGIA DO MESSIANISMO AMERICANO
Vanderlei Dorneles, Th.M.
Professor de Metodologia no Salt, Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP, e diretor da Unaspress

Resumo: O presente artigo estuda as Introdução'


origens das expressões, valores e mitos
No início da década de 1990,o governo
que constroem o messianismo americano,
uma visão cívico-religiosa que permeia republicano de George Bush retomou o
a cultura dos Estados Unidos atribuindo uso da expressão “nova ordem mundial”,
ideologicamente a esse país o papel de um estágio da política global comandada
legítimo (e sagrado) libertador/redentor pelos americanos. Na alternância do poder
do mundo. A partir dos conceitos de me na Casa Branca não houve mudança de
mória, texto e cultura, elaborados pelo rumo em relação a esse projeto políti
pensador russo luri Lotman,o autor iden co. Em 1993, 0 democrata Bill Clinton
tifica as memórias históricas messiânicas assumiu o governo da maior potência
que podem ser verificadas nos discursos político-militar e assegurou que, embora
de recentes autoridades governamentais se mudasse a administração, os interesses
norte-americanas. O artigo também aborda fundamentais da América não se alteram,
a forma como a dimensão civil assumida e que as mudanças eram para preservar
pela religião cristã nos Estados Unidos “os ideais americanos da vida, liberdade
confirma a expectativa profética adven- e busca da felicidade”, e ainda, que ^ a
tista quanto à participação desse país na missão da América é de natureza eterna .
crise final predita no capítulo 13 do livro Sob seu governo, os Estados Unidos fize
de Apocalipse. ram guerra à Somália, ao Haiti,
Abstract: This article explores the roots Iraque, Sudão e Iugoslávia. Em 1997,
of the expressions, values and myths at para justificar o lançamento de mísseis
Work on the basis of the American mes- contra o Iraque, Madeleine Albright,então
secretária de Estado, declarou:
sianic Vision, a civic-religious view that
permeates the culture of the United States Se nós temos de usar a força, é porque somos
a América. Somos a nação indispensável. Nos
ofAmerica,attributing ideologically to this
temos estatura. Nós enxergamos mais longe em
country the legitimate (and sacred) role
direção do futuro^
as releaser/changer of the world. Taking
the concepts of memory, text and culture, Essa noção de que os americanos são
elaborated by the Russian luri Lotman,the
superiores, guardiões e líderes da liberda
author identifies the historical messianic
de,comissionados a policiar e transformar
memories which can be observed in recent 0 mundo, manifestou-se ainda mais for
speeches of North-American govemment temente nos eventos recentes da guerra
authorities. The article also approaches americana contra o terrorismo, no pós-11
the way in which the civilian dimension de Setembro. O presidente republicano
assumed by the Christian religion in the George W. Bush, antes do ataque ao Ira
United States of America confirms the que,em discurso no congresso americano,
prophetic Adventist expectation, related to em 25 de janeiro de 2003, declarou:
the participation ofthis country in the final
A América é uma nação forte e digna no uso de
crisis previewed in chapter 13 of the book sua força. Nós exercitamos o poder sem vanglória
of Revelation.
e nos sacrificamos pela liberdade de estranhos.
68 / PaROUSIA - SEMESTRE DE 2007

Os americanos são um povo livre, que sabe que a seus governos, estão crendo num mito de
liberdade é um direito de cada pessoa e o futuro que a América é isolacionista e pacífica.
de toda nação. A liberdade que temos não é um Ele declara ainda:
presente da América para o mundo,é um presente
de Deus para a humanidade.^ Com nossa forma de governo democrática, atin
gimos um pináculo na história da civilização.
No discurso de posse para o segun Talvez só Roma, na Antigüidade, cultivasse uma
do mandato, em 20 de janeiro de 2005, concepção semelhante de seu papel civilizador.
Bush reiterou: O resultado dessa crença é o nosso impulso para
transformar países que não se alinham conosco.
Nós proclamamos que todo homem e toda mulher Aqueles que nos ameaçam o fazem porque não
nesta terra têm direitos,e dignidade,e valor incom são democráticos. A cura está na mudança de suas
parável, porque eles trazem a imagem do Criador formas de governo.[...] O mundo precisa ser trans
do céu a da Terra. [...] Com nossos esforços, nós formado para se tomar mais seguro: essa tradição
acendemos uma chama também, uma chama na de pensamento é muito forte entre nós^
mente dos homens. E ela aquece aqueles que
sentem seu poder, queima aqueles que combatem O messianismo americano se eviden
seu
progresso, e um dia esse fogo indomável da cia em cerimônias públicas, em discursos
liberdade vai atingir os recantos mais obscuros
do nosso mundo.® oficiais, especialmente em contextos de
guerra. É usado para legitimar ações vio
lentas, para motivar soldados e para lem
As palavras de Clinton e Albright, bem
brar o papel da América como guardiã da
como as de Bush,dão eco a valores e mitos de
liberdade humana. O messianismo parece
natoeza religiosa,os quais constituem o pró assumir contornos de uma ideologia, no
prio âmago da cultura americana.Evidenciam
um claro messianismo,o qual os americanos sentido de que cimenta o tecido social e dá
se sentem chamados e legitimados a exercer sentido e coesão; de uma identidade, que
dá um modo de ser ao americano; de um
em relação ao restante do mundo,como um
novo Israel. Esse messianismo coloca as sistema da cultura, que articula e gera uma
guerras americanas como parte de um vasto infinidade de textos®; e de uma utopia, que
mantém um ideal e um sonho de restaura
conflito entre o bem e o mal,entre liberdade
e absolutismo, entre democracia e barbárie. ção da condição humana'^.
O messianismo americano é um sistema de De onde são tirados os termos especí
valores e mitos que remontam às origens ficos que constroem o messianismo ame
dessa cultura e aos pais fundadores.Ao longo esses
ricano? Em que contextos históricos
da história americana,esse messianismo sedi me-
valores e mitos foram propostos? Que
mentou-se como uma ideologia,cujo objetivo mórias históricas são remontadas nas falas
é legitimar e sacralizar o poder imperial. e discursos dos recentes governantes? Em
O americano Robert Kagan,um dos ide que textos da cultura americana e em que
ólogos da extrema direita americana,defen momentos essa mentalidade foi gestada?
de que,desde os pais peregrinos, a América E que implicações o messianismo impõe à
sempre foi um poder expansionista e que religião cristã dos pais fundadores?
esse impulso está no DNA americano.
Neste artigo, as respostas para estas
A ambição de desempenhar um poder grandioso no questões são buscadas a partir da ótica
palco mundial tem raízes profundas na personali dos conceitos de memória,texto e cultura,
dade americana. Desde a independência,e mesmo propostos pelo pensador russo luri Lotman,
antes, os americanos sempre tiveram a convicção maior representante da chamada semiótica'®
de que sua nação tinha um destino grandioso, e da cultura. Inicialmente,farei uma breve re
... os Estados Unidos já despontavam para seus visão bibliográfica dos conceitos teóricos
líderes como um “Hércules no berço”, “embrião que embasam a compreensão da memória e
de um grande império”'’. da cultura como esferas simbólicas. A essa
revisão, essencial para a compreensão do
Para Kagan, quando os americanos se tema, se seguirá uma inicial reconstrução
surpreendem com as ações belicistas de da memória do messianismo americano.
o NOVO ‘Israel’/69

como uma ideologia e um sistema da cultu na memória sob uma hierarquia, que obe
ra. Darei atenção também à dimensão civil dece a paradigmas definidos pela própria
assumida pela religião nesse contexto. O cultura. Este é o princípio que determina
artigo sugere uma reflexão sobre como esse os textos a serem “lembrados” e aqueles a
fenômeno reforça a expectativa profética serem “esquecidos”. Mas, uma vez que a
adventista acerca do papel da América na cultura é viva e dinâmica, nada se esquece
crise final prevista em Apocalipse 13. para sempre e nada se lembra para sempre.
Segundo Lotman,“cada cultura define seu
Memória e textos da cultura paradigma do que se deve recordar(isto é,
conservar) e do que se deve esquecer”’^
Lotman propõe uma visão sistêmica
Assim, no interior da memória, o que
da cultura, na qual os textos não são pe
ças isoladas, mas partes de um todo. Sua “esquecer” e o que “lembrar” pode ser
escola cultural tem um conceito bastante definido em função de uma ideologia ou
de um sistema dominante da sociedade.
amplo de “texto”(do latim textu^ tecido).
Se cada cultura define o que se deve “pre
Literatura, peças musicais, obras de arte,
servar” e “esquecer”, no nível da memória
produções cinematográficas, documentos
e discursos históricos são considerados coletiva, então a “história intelectual da
humanidade pode ser considerada uma luta
“textos da cultura”. Tudo que é tecido^
sintetizado, produzido pela mente e que pela memória”''*. Essa luta é travada pnn-
trata da condição humana constitui-se num cipalmente por mecanismos como igreja,
texto da cultura. estado, educação, sociedade civil e (hoje)
a mídia, entre outros.
O que distingue a semiótica russa é sua
ênfase sobre o caráter orgânico-estrutural Os paradigmas articulados por forças
da cultura. Por causa da interligação entre dominantes da memória coletiva sedimen
os diversos elementos culturais,“as partes tam sistemas culturais, que vão gerar novos
não entram no todo como detalhes mecâni textos constantemente'^ São sistemas da
cos, mas como órgãos de um organismo”". cultura as grandes narrativas que produ
Nesse sentido, os filmes, livros, textos zem uma multiplicidade de textos e que
jornalísticos e discursos oficiais mantêm conservam na memória seus valores mais
ligações entre si. Os discursos dos presi predominantes. O iluminismo europeu do
século 18 foi um dos sistemas mais pode-
dentes americanos,os filmes de Hollywood
e a literatura americana mantêm elementos rosos da cultura da Idade Modema'^
comuns porque estão interligados como O messianismo americano deve ser
partes de um sistema cultural. visto como um sistema da cultura, uma
A noção da cultura como um sistema vez que se constitui a partir da sucessão de
facilita a compreensão dos processos cul uma diversidade de textos como discursos,
turais ao propor que os textos da cultura livros, filmes,etc. Esse sistema se compõe
estão em constante interferência e entre- de textos que projetam os Estados Unidos
cruzamento, de forma que textos atuais como nação eleita, possuidora de um “des
são sempre influenciados e modelizados tino manifesto”.
pelos antigos. A memória é o ambiente
onde os textos antigos são conservados e O MESSIANISMO AMERICANO
de onde se articula sua influência. Ela tem
Os valores que impulsionam e ali
uma natureza textual, isto é, compõe-se de
mentam 0 projeto de poder americano
sentenças, nanativas,expressões, imagens.
Memória é um reservatório que conserva, remontam à fundação da América, seu
transmite e gera textos. Para Lotman, “a descobrimento e mesmo ao impulso mes
cultura é uma inteligência coletiva e uma siânico e missionário que marcou a Europa
memória coletiva”'I É a acumulação de nos séculos 15 e 16. Como um sistema da
textos que constrói a memória de uma cultura, o messianismo foi consti*uído ao
dada civilização. Os textos estão dispostos longo dos séculos, juntando fatos históri-
70 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

COS, recortes de falas e discursos de líde Historiadores têm descrito Colombo


res e governantes, retalhos de narrativas, como um híbrido de ingenuidade, creduli
verdadeiras ou não. Sob a influência de dade e ousadia. Ambicioso, tinha também
forças políticas e religiosas, esses elemen arroubos de um iluminado. Era um fran-
tos diversos carregados de valores e mitos ciscano e fora influenciado pelas teorias
foram sendo decantados para a construção milenaristas de Joaquim de Fiore,de quem
de uma memória coletiva. São textos que se dizia discípulo, e cujas profecias ele
preservam valores e que construíram uma confessou terem-no impulsionado em sua
estrutura de significados que tendem a se aventura pelo Atlântico. A evangelização
reproduzir constantemente. deste “novo mundo” contou com uma pri
meira leva de missionários franciscanos,da
A partir desta seção, vou explorar no
mesma corrente milenarista de Colombo,
panorama histórico americano trechos, re-
talhos e recortes de falas, de discursos e da a qual era proibida pela ortodoxia romana
literatura que,ao longo dos séculos,foram e que persistiu na clandestinidade, como
consta da obra novelesca de Umberto Eco,
se enlrecruzando na sedimentação de uma
O Nome da Rosa^^.
memória para a América que lhe confere o
status de um novo Israel. Para esses fi'anciscanos milenaristas, o
Chamo de messianismo americano uma novo mundo “devia ser o paraíso perdido de
vocação de natureza religiosa assumida que falam as escrituras”. Colombo escreveu
pela América em relação ao restante do que“ninguém podería encontrar esse paraíso
mundo. Essa vocação é auto-proclamada terrenal, a menos que guiado pela vontade
a partir da posse de certos valores bíblicos' divina”. Colombo e os milenaristas do sé
Ao longo dos séculos, essa vocação mes culo 15 acreditavam terem encontrado um
siânica reconfigurou o papel da religião na “espaço novo”,um “novo mundo”,onde se
con-
política americana,de modo que a religião daria a propagação do evangelho, que
foi levada para o espaço público sem inter duziria à conversão dos pagãos e à derrota
ferência no princípio de separação entre do anticristo, possibilitando “o início do
igreja e estado. Apocalipse e a renovação do mundo”
Na exploração do fenômeno, vou dar O uso do adjetivo “novo” para referir-se
atenção ao surgimento do conceito da à América recém-descoberta liga as cren
América como “novo mundo”, no período ças milenaristas européias ao Apocalipse
do “descobrimento”. Em seguida, vou de João, em que o futuro reino de Deus é
abordar em que consiste e de onde se tirou descrito como a realização de “novo ceu e
da idéia da América como “nação eleita” nova terra”,onde se erguería a “nova Jeru
ou novo Israel. Em seguida, vou falar do salém”(Ap 21:1-2). O Apocalipse funciona
conceito de religião civil, a religião que nqui como um texto da cultura, preservado
sacraliza o estado, e suas implicações para na memória, que conserva crenças e valo
a religião cristã. res, e influencia a leitura dos fatos.
Quando Colombo chegou às Antilhas,
O NOVO MUNDO acreditou ter alcançado o Éden. Cria que
a corrente do Golfo era formada pelos
Buscando as primeiras manifestações
“quatro rios do paraíso”. Ele escreveu:
desse fenômeno, encontramos a figura
Deus me fez mensageiro de um novo céu
histórica de Cristóvão Colombo. O impul e de uma nova terra, da qual havia falado
so messiânico contagiou originalmente o
o Apocalipse de São João; depois de me
marinheiro, que baseado em mapas antigos me
haver falado pela boca de Isaías, ele
atribuídos a Paolo dei Pazzo Toscanelli e indicou o lugar onde encontrar”"”. Em
de confidências de antigos marinheiros, 1494,Colombo chegou à Jamaica e creu ter
“acreditou na existência de um continente encontrado o “reino de Sabá”, que visitara
que ainda não conhecia a mensagem de Salomão, e origem dos reis magos. Achar
Jesus Cristo”'l esses lugares foi para Colombo “signos
o NOVO ‘Israel’/ 71

inequívocos do final dos tempos e da re Além do êxodo rural britânico, outro


novação do Cosmos”-', e a redescoberta fator que impulsionou a colonização do
do paraíso perdido, do Éden de onde Adão novo mundo, no século 17, foi a publi
e Eva foram expulsos. cação de uma pequena obra chamada
“Nova Atlântida”, em 1626, do então
Se a descoberta do “novo mundo” por falecido Francis Bacon, que dá eco aos
Colombo teve uma motivação mística e valores e à visão de Colombo acerca do
espiritual, sua nào-exploraçào até o século novo mundo.Trata-se de uma ficção,com
17 também se deveu a fatores místicos. diversas referências aos evangelhos e
Tal descoberta era possível desde os pri- com forte linguagem escatológica. Bacon
mórdios da navegação fenícia. No entanto, descreve uma sociedade secreta chamada
o Ocidente estava para além das colunas “Casa de Salomão”,ideal e científica. Os
Hércules,onde o precipício se abriria diante personagens de sua história chegam . .^à
dos navegadores. Derivado de “occido” Atlântida e se dedicam a um rito inicia-
(morrer,sucumbir),“Ocidente” era a “terra tico de “purificação de três dias”, alusão
da morte” para os antigos. Ali o homem não à morte e ressurreição de Cristo. Em
poderia chegar. terra, os visitantes da Atlântida declaram.
A despeito de toda a mística envolvendo “Deus, seguramente, está presente nesta
a descoberta de Colombo,o “novo mundo” terra”, e ainda:
não foi colonizado até o início do século 17. Examinemos nossa situação e nós mesmos.
Mas,com a intensificação do êxodo rural na Somos homens atirados a terra,assim como Jon^
Inglaterra no século 16, enchendo as cida o foi ao ventre da baleia,quandojá nos considerá-
des de gente sem recursos e sem instrução, vamos sepultados nas profundezas do mar; agora
estamos em terra, mas nos encontramos entre a
essa colonização estava a caminho.
vida e a morte,porque estamos além do Velho e do
A idéia de uma terra fértil e abundante, um Novo Mundo;e só Deus sabe se voltaremos a vera
mundo imenso e a possibilidade de enriquecer a Europa. Uma espécie de milagre nos trouxe aqui e
todos era um poderoso ímã sobre essas massas--. só algo semelhante nos pode levar de volta-.

A colonização representava para a In Os navegadores de Bacon retratam a


glaterra um meio de descarregar no novo situação de desterro e exílio dos protes
mundo tudo o que não fosse mais desejável tantes europeus.
no Velho. Essa foi uma massa de colonos A crença de um novo mundo, abenço
constituída de analfabetos, gente pobre, ado por Deus, alimentou os sonhos e as
órfãos, mulheres sozinhas, viciados,desor fantasias messiânicas dos colonizadores
deiros,entre outros. Mas houve outro gmpo da América e mesmo dos ilummistas. Os
interessado em deixar a Europa em busca primeiros colonizadores a chegarem a
de uma terra de sonhos,os quais a memória essa terra
histórica consagrou como “os peregrinos” se consideravam predestinados e tinham a Europa
{pilgrims). A perseguição religiosa era como excessivamente
- decadente para o triunfo da
uma realidade constante na Inglaterra nos Reforma. Era preciso alcançar um novo mundo e
séculos 16 e 17,o que impulsionou muitas fazer tabula rasa.
levas de religiosos para o novo mundo. Um
desses grupos chegou a Massachussetts em Esses “pais peregrinos” considerados
1620,liderados por John Robinson,William os fundadores dos Estados Unidos levaram
Brewster e William Bradfort, religiosos de com eles a imprensa e o puritanismo-^ O
formação escolar desenvolvida. Em 21 de renomado historiador americano Robert R.
novembro desse mesmo ano,eles firmaram Palmer afirma que, ao nascer, os Estados
o chamado “Mayflower compact”,em ho Unidos da América eram a grande esperan
menagem ao navio que os trouxe do velho ça dos europeus iluministas, que haviam
mundo, o Mayflower, comprometendo-se perdido a esperança no próprio continente
a seguir “leis justas e iguais”-^ e consideravam a América o único local
72/ PaROUSIA - \° SEMESTRE DE 2007

“onde a razão e a humanidade poderíam Em 1776, os Estados Unidos se toma


desenvolver-se com mais rapidez do que ram uma nação independente, com uma
em qualquer outro lugar”^^. constituição moderna, mas eram um pe
queno país verticalmente entre o Maine e a
Em 1630,chegaram à América o advo Flórida e horizontalmente entre o Atlântico
gado britânico John Winthrop e mais 700
e o Mississipi, cerca de um quarto do atual
pessoas, todas adeptos do puritanismo.
território. Nos 100 anos seguintes, esse
Julgavam estar se retirando de uma terra de
território cresceu incorporando a Flórida,
cadente dominada pelo vício, para possuir
Louisiana, Texas, Oregon e territórios an
a“terra prometida”,um lugar predestinado
tes pertencentes ao México, alguns destes
“a dar certo e a se tomar um exemplo de comprados outros tomados, tomado-se o
virtude para o resto do mundo”^^
quarto maior país do mundo.
Na fundação de Massachussetts(1628), A independência das colônias foi in
eles criam que ali o “Senhor estava criando
fluenciada por autores iluministas, mas
um novo céu e uma nova terra”,restauran
principalmente pelo inglês Jonh Locke,
do o paraíso do Gênesis, como acreditou
nascido numa família protestante. A noção
Colombo. Também ecoando as crenças de de estado, desenvolvida por Locke, manti
Colombo,no século 18, George Washing nha que o objetivo do contrato imaginário
ton assegurou;
entre o Estado e a população era o de garan
Os Estados Unidos são a Nova Jerusalém desti tir os “direitos naturais do homem,a liber
nados pela Providência a ser um lugar em que o dade, a felicidade e a prosperidade”^”.
homem alcance seu pleno desenvolvimento,onde
Os fundadores criam ter obtido por
a ciência,a liberdade,a felicidade e a glória devem
propagar-se de forma pacífica. dádiva divina a “terra prometida”. Esta
terra, no entanto, só se podería alcançar
O evangelista dos índios, John Eliot por meio de sofrimento e trabalho, de onde
anunciava “a aurora e o surgir do Sol do derivou a idéia de progresso indefinido e
evangelho na Nova Inglaterra”^». de trabalho transformador. Os conceitos
de “novo” em contraste com o velho”,
Desta forma, um espírito de renovação de restauração pela América em contras
e de restauração, um impulso messiânico, as
te com a decadente Europa, lançaram
permeou a fundação dos Estados Unidos! bases para o maniqueísmo americano e
O impulso do “novo”, textualmente de ainda para o culto à Juventude^', e se for
rivado do Apocalipse, manifesta-se em taleceram ainda mais pela associação com
diversos nomes, como Nova Inglaterra a crença da América como nação eleita,
(1579), Nova Iorque (1625), Nova Hamp- povo peculiar.
shire 0638), Nova Escócia (1713), Nova
Orleans (1718), Nova Jersey (1776); e O NOVO Israel
depois “Nova Ordem Mundial”, inscrita
no grande selo que ilustra as cédulas de 1 De onde, no entanto, os puritanos tira
(um)dólar. ram a idéia de que Deus lhes havia chamado
para um missão de natureza universal? A
A essas idéias de renovação também
estiveram vinculados os ideais de liberdade origem dessa crença remonta ao início da
Refoma na Inglaterra, na criação da Igreja
e soberania popular,acalentados pelos pere Anglicana, no século 16.
grinos protestantes que deixavam a Europa
rumo à “terra prometida”. Os mesmos ideais Para divorciar-se de Catarina de Ara-
embasam o texto da Constituição America gon, o rei Henrique VIII teve de criar a
na, redigido por Thomas Jefferson: Igreja Anglicana, separando a Inglaterra
do Vaticano. Era uma igreja da Inglaterra,
Todos os homens são criados iguais, dotados pelo dirigida pelo estado,e estabelecida poucos
Criador de certos direitos inalienáveis, entre estes a anos depois de Lutero ter iniciado a Refor
vida, a liberdade e a procura da felicidade”^''. ma na Alemanha, em 1521.
o NOVO ‘Israel’/ 73

Antes disso, o bispo inglês William de sobre a nação inglesa. As mudanças


Tyndale tinha ido à Alemanha estudar sociais e as perseguições aos protestantes
com Lutero, e iniciou a tradução do Novo no sentido de restabelecer a fé católica leva
Testamento para o inglês, que publicou em ram ao surgimento de focos de resistência,
1526. Mais tarde, Tyndale publicou sua chamados de “puritanismo”. Os puritanos
versão inglesa do Pentateuco. Segundo o estavam determinados a recolocar a Igreja
historiador americano Richard T. Hughes, Anglicana nos moldes antigos revelados na
durante a tradução de Deuteronômio,Tyn Palavra de Deus.
dale ficou especialmente impressionado Segundo Charlie Pardue, “embora
OS
com o tema do pacto. “Ali ele encontrou puritanos quisessem remover da fé qual
o relato de que Deus fez um pacto com seu quer coisa católica e retomar para uma
povo escolhido.”-^- O encanto de Tyndale igreja bíblica, eles não abandonaram o
com a questão do pacto e principalmente modelo de uma igreja estatal”.^® Foram
com as consequências de a nação eleita perseguidos durante todo o reinado de Eli-
quebrar o pacto o levou a entender que zabeth I,que se estendeu de 1559 a 1603. Já
“o tema central das Escrituras é o pacto o seu sucessor,o rei James I quis implantar
que Deus firmou com seu povo”^\ As o absolutismo na Inglaterra,o que levou os
traduções bíblicas de Tyndale “plantaram puritanos de orientação calvinista a uma
no subconsciente da Inglaterra a idéia do situação ainda mais dramática,pois prega-
pacto nacional”^'*. A linguagem de Tyndale vam a liberdade de mercado e eram contra
deixava subentendido que Deus tinha es o absolutismo^^ O rei declarou então que
colhido a Inglaterra como ao antigo Israel, faria com que os puritanos se conform^-
mas que “os ingleses estavam quebrando sem ou oprimi-los-ia para saírem do país,
esse pacto”. ou faria coisa pior”"*®.
Para Hughes, a visão de Tyndale Em meio à perseguição, os punt^os
acerca do pacto criou um terreno fértil se fortaleceram na idéia da predestina
em que “a noção de eleição germinaria ção de Calvino e mantiveram a noçao
lentamente até desabrochar plenamente de pacto nacional de Tyndale. Para
nos Estados Unidos”^\ Hughes, diante das dificuldades, os pu
ritanos tinham uma última carta a jogar.
Em 1547, o rei Henrique foi sucedido
“Eles poderiam escapar para a Anierica
por seu filho Eduardo VI, quando este ti
nha apenas nove anos, o que o levou a ser [recém-descoberta], e f^guer uma igreja
conforme as normas bíblicas”.
comparado ao rei israelita Josias, inclusive
por suas tentativas de conduzir a Inglaterra Tendo saído da Inglaterra para o novo
de volta para Deus. mundo, os puritanos passaram a ver a st
mesmos como o próprio povo escolhido,e
Quando a Reforma se difundiu em conseqüência
a Inglaterra como o antigo Egito, de onde
do reinado dojovem monarca,a idéia da Inglaterra
Deus os livrara da perseguição, como o
como nação eleita de Deus ficou bem cimentada
na consciência nacional^*’. fizera aos israelitas. Eles desenvolveram
, , ,
uma noção de estado permeada pelos valo
Em 1553, porém, Maria Tudor assumiu res da religião. Na América,“os primeiros
o trono inglês, decidida a reconduzir a puritanos viam a religião como uma lei”, o
Inglaterra para a igreja de Roma. Retoman que na sua teologia unia religião e estado,
e eles não viam como uma nação podería
do a inquisição, matou 300 protestantes,
chamando-os de heréticos, o que lhe valeu permanecer eleita, se não constituísse uma
0 nome de “Maria Sanguinária”'*^ Muitos teocracia. As primeiras colônias fundadas
no novo mundo
protestantes fugiram da Inglaterra. Eles
viam a morte dos crentes piedosos como aceitavam a religião com uma lei, um hábito e um
uma maldição e se lembravam da alegação objeto de suas atenções diárias, porque isso lhes
de Tyndale de que,caso se afastasse de sua tinha sido negado em seu pais de origem e causado
vontade. Deus retiraria a bênção da eleição sua perseguiçào’''*^
74 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

Tinham em altíssima conta que constituíam çado o estado de graça. E as seitas evangélicas,
0“novo Israel”'*^ na nova terra. Apoiavam- que emigraram para a América ou lá se forma
ram. desenvolveram um protestantismo peculiar,
se nas afirmativas bíblicas, traduzidas por
fundamentalista. que se diferenciava e ao mesmo
Tyndale, e repetiam com freqüência esses
tempo se identificava com a forma do judaísmo,
ditos: assim como os hebreus no Egito,eles ao buscar inspiração na Bíblia, para atribuir ao
foram perseguidos na Inglaterra; como os povo americano o destino manifesto de expandir
hebreus atravessaram o deserto do Sinai, suas fronteiras e a missão de guiar a humanidade,
eles atravessaram o longo e tenebroso como se fosse o povo eleito por Deus-”.
Atlântico; como os hebreus, os puritanos
receberam a indicação e a herança divina Essa leitura do Êxodo por parte dos
da nova terra. E tal como Deus dera força fundadores puritanos lançou raízes pro
fundas na memória americana. As mesmas
a Josué para expulsar os antigos habitantes
da terra de Canaã, os puritanos criam ter crenças ecoaram mais de cem anos depois
em discursos oficiais, nos séculos e 19.
recebido direito e força divinos para exter
minar os índios de sua Canaã"^. Presidentes americanos como George Wa
shington e Thomas Jefferson acreditavam
Aqui0relato do Êxodo assume a função que os Estados Unidos tinham um papel
de um texto da cultura, que é resignificado mundial, como os “antigos ‘f
pelos puritanos, ao narrarem suas expe ‘raça escolhida’,representando uma ordem
riências. A narrativa bíblica se reproduz social mais elevada, levando o
em novos textos, na fala dos peregrinos. E aonde quer que fosseni”«. A ^renÇ^e“ma
vai continuar a produzir outros textos na eleição divina esteve na base da g
composição do sistema da cultura norte- americanas ao longo dos seculos^,^
americana que sustenta o messianismo, na a guerra contra a França em em 1812 pelo
sedimentação de uma memória coletiva. obter territórios espanhóis,
1846-47,contra
Os ideais de renovação e o messianismo Canadá e pela Flórida,em
o México.
alimentavam o espírito de expansão, mas, da república
sobretudo o chamado “destino manifes- No contexto do nascimento
to”'*^ a idéia de que Deus tinha dado aquela americana, no século 18,a crença de que os
terra aos peregrinos, que deviam possuí-la Estados Unidos são a nação eleita de Deus,
foi tema das
como o povo de Israel possuiu pela força o novo Israel,era tão forte que .
a antiga terra de Canaã. principais propostas ° g Thomas
Assim, desde os primórdios, uma vo
cação messiânica “marcou a formação e
pelo Congresso
impregnou a cultura” americana.“O povo desenho do selo dos
de 1776, para lançar o um dese-
americano, do mesmo modo que os israe
Estados Unidos. Frankhn proP°® j.
litas, passou a considerar-se o mediador, o nho de Moisés erguendo seu
vínculo entre Deus e os homens .Esse pac
dindo o Mar Vermelho ..Rgbelião
to bíblico entre Deus e os israelitas inspirou
coberto pelas águas,com jgffgrson
o pacto firmado entre si pelos peregrinos à aos tiranos e obediênca a Deus ●
bordo do Mayflower. Crentes de que eram propôs uma criança de Israel ^
fiéis a Deus,em contraste com os europeus, com o mote “guiado por uma"uvem dura -
entregues ao vício e à decadência, eles se
te o dia e por uma coluna de fogo ^
sentiam comissionados a exercer um papel Em 1799, Abiel Abbot, pastor da Prime ra
restaurador frente aos outros povos. “O Igreja em Haverhill, Massachussetts,decla
sentimento de grandeza e superioridade rava que “o povo dos Estados Unidos tem
conformou desde os primórdios parte da mais proximidade e paralelo com o antigo
identidade dos Estados Unidos”'*^. Israel do que qualquer outra nação sobre
A predestinação constitui a substância real do
o globo”5«. O escritor americano Herman
Melville, autor do clássico Moby Dick,em
protestantismo [calvinista], daqueles que criam
estar em comunhão direta com Deus e ter alcan- 1850, escreveu: Nós, americanos, somos

J
o NOVO ‘Israel’/ 75

o povo peculiar e escolhido - o Israel dos ligião veio sedimentando uma memória para
novos tempos; nós carregamos a arca das a América.Essa vocação messiânica assumi
liberdades do mundo”^'. da pelos americanos apoiou-se inicialmente
na promessa do Apocalipse de um “novo
Na comparação com o Israel bíblico,
mundo”, depois estendeu-se até o pacto
os pais fundadores e, por conseqüência, a
com Abraão e ao Êxodo. A formação de
nação, assumem um ideal e uma missão uma memória coletiva e de uma identidade
perante o mundo. A eleição de Israel como
que projetam os Estados Unidos,como uma
povo peculiar deve ser vista à luz do pacto
nação escolhida com um papel messiânico,
firmado por Deus com Abraão.
ocorre a partir de uma seleção das fontes bí
Disse o Senhor a Abrão: sai da tua terra, da tua blicas. Um sistema dominante opera por trás
parentela e da casa de teu pai e vai para a terra do cenário histórico e determina o que do
que te mostrarei; cie tifarei uma grande nação, texto bíblico deve ser lembrado e resgatado
e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu e o que deve ser esquecido. O messiamsmo
uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e americano é construído praticamente sem
amaldiçoarei os que te amaldiçoarem,em ti serão USO dos evangelhos, sem menção à nova
benditas todas as nações da terra (Gn 12:1-3,
aliança e sem referências a Jesus Cristo,
ênfase nossa).
embora os puritanos fundadores fossem
protestantes crentes na justificação pela fé.
Após 400 anos no Egito, Moisés tirou
Nesse processo de construção da memória,
Israel de lá, sob a direção divina para
a religião foi adaptada ao espaço público,
atravessar o deserto do Sinai em direção a
tanto quanto possível sem prejuízo do princí
Canaã, uma terra que “mana leite e mel”
(Nm 13:27), um paraíso, um Éden restaura pio de separação entre igreja e estado.Nesse
do,dado por herança aos israelitas, recém- espaço,a religião não é mais o cristianismo,
nem Deus é o Deus da Bíblia, pelo menos
libertados. Em Deuteronômio 11:22-25,se
não de toda a Bíblia. O que aparece é uma
assegura que se o povo de Israel for fiel a
nova religião, ou um novo uso dela, a re
Deus e ao pacto, guardando sua lei,
ligião civil”.
o Senhor desapossará todas estas nações, e pos
suireis nações maiores e mais poderosas do que De que se constitui essa religião? Sob
vós. Todo lugar que pisar a planta do vosso pé, que implicações o cristianismo é moldado
desde o deserto, desde o Líbano, desde o rio, o rio ao espaço público de uma nova ordem? Que
Eufrates, até o mar ocidental,será vosso. Ninguém tipo de religião o messianismo americano
vos poderá resistir; o Senhor, vosso Deus, porá tem como seu fimdamento? A seção seguin
sobre toda a terra que pisardes o vosso terror e o te propõe respostas a essas questões.
vosso temor(ênfase nossa).

A RELIGIÃO CIVIL AMERICANA


Este pacto entre Deus e Abraão e de
pois entre Deus e Israel, estabelece que a O conceito de religião civil foi origi
eleição implicava:(1)que o povo de Israel nalmente proposto por Jean-Jacques Rous-
era superior espiritual e moralmente em seau, em Do Contrato Social, publicado
relação ao mundo,(2)que todas as nações em 1762. O filósofo francês tinha uma
teriam sua chance de bênçãos somente visão funcionalista da religião no sentido
pelas mãos de Israel,(3)que todos os que de sacralizar o dever e a lei, essenciais
estivessem contra Israel estariam contra para a sociedade. Segundo ele, os dogmas
Deus e seriam amaldiçoados, e (4) que de uma religião civil devem ser poucos e
Israel tinha a posse da terra prometida e a simples, diretos:
missão/direito de trabalhar pela transfor A existência de Divindade poderosa, inteligente,
mação das outras nações. Ao se considerar
benfazeja, previdente e provisora; a vida futura;
0 novo Israel, o povo americano arroga a felicidade dosjustos; o castigo dos maus;a san
todas estas prerrogativas. tidade do contrato social e das leis”, os dogmas
Ao longo de cinco séculos, o uso da positivos.“Quanto aos dogmas negativos,limito-
os a um só: a intolerância.--
noção da eleição divina e dos valores da re-
1

76 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

Esse mesmo conceito ecoa nas palavras política, mas sem a representação de credo.
de Benjamin Franklin, um dos redatores da Bellah define:
Declaração de Independência dos Estados Embora o assunto dc crença, adoração e comu
Unidos,embora ele não tenha chamado isso
nhão seja considerado estritamente privado, há,
de religião civil: ao mesmo tempo, certos elementos de orientação
Eu nunca duvidei da existência de Deus; de que religiosa que a grande maioria dos americanos
ele fez o mundo e o governa por sua Providência; compartilha. E estes elementos têm cumprido um
de que o mais aceitável serviço para Deus é fazer papel crucial no desenvolvimento das instituições
o bem aos homens;de que nossas almas são imor americanas e ainda provê uma dimensão religiosa
tais; e de que o crime deve ser punido e a virtude, para a estrutura da vida americana como um todo,
recompensada aqui ou no porvir.” incluindo a esfera política. Esta dimensão religiosa
pública é expressa na forma de crenças, símbolos
Comparando as palavras de Rosseau e e rituais que eu chamo de religião civil america
na. A cerimônia de posse de um presidente é um
Franklin, conclui-se que “a religião civil
importante evento dessa religião^\
que os fundadores [americanos] estabele
ceram era em essência um reflexo de seus
próprios ideais iluministas”^"*. Analisando as palavras de Kennedy,
Bellah afirma que ojuramento é feito diante
Para entender a religião civil na América, do povo e de Deus. Além da Constituição,
os conceitos propostos por Robert Bellah, as obrigações dos presidentes se estendem
em seu célebre artigo “Civil Religion in não só ao povo, mas a Deus.
America”^^ são essenciais. Ele concebe
Na teoria política americana,a soberania permane
a religião civil “não como uma forma de
ce, naturalmente,com o povo, mas implicitamente
auto-adoração nacional”,como apontaram e,frequentemente,explicitamente a
soberania final
alguns de seus críticos, mas como “uma é atribuída a Deus^*^.
subordinação da nação a princípios éticos
transcendentes, acima da possibilidade In God we
Este é o significado do mote
de julgamento”. O artigo cita o discurso
trust”(em Deus nós confiamos), bem ^mo
inaugural do ex-presidente americano da inclusão da fi*ase “Under God”(sob Deus,
John Kennedy, em 20 de janeiro de 1961. ou sob as ordens de Deus) na bandeira.
Kennedy se refere a Deus três vezes^^. Na
primeira ele diz: “Eu jurei diante de vocês Essa motivação ecoa na Declaração^de
e do Deus Todo-Poderoso o mesmo jura Independência, na qual há quatro referen
mento que nossos antepassados fizeram há cias a Deus.A segunda é a de que “todos os
quase dois séculos.” Depois,“os direitos do homens são formados por seu Criador com
homem não vêm da generosidade do esta certos direitos inalienáveis”. Com isso.
do, mas da mão de Deus”. Por fim,“aqui da nova
Thomas Jefferson coloca a legitimação
na terra a obra de Deus deve ser a nossa nação na concepção da mais alta lei, que e a-
própria obra”. Kennedy não se refere a uma seada tanto no direito natural clássico quanto na
religião particular. Não se refere a Jesus religião bíblica*".
Cristo, ou a Moisés, ou à igreja cristã, ele
também não se refere à sua Igreja Católica. George Washington também repete a
Ele fez referência ao conceito de Deus,que mesma noção em seu discurso inaugural,
quase todas as pessoas aceitam e encaram em 30 de abril de 1789, como o primeiro
de forma diversa. Bellah questiona: presidente americano:
Se considerarmos o princípio de separação entre Seria muito impróprio omitir neste primeiro ato
igreja e estado,como um presidente justifica o uso oficial minha fervente súplica ao Todo-Poderoso
da palavra Deus em seu discurso? Certamente, Ser que mantém o universo,que preside o conselho
essa separação não vai contra o uso da dimensão das nações.*'
religiosa na política.”
Para Bellah, as falas e os atos dos pais
E nesse espaço que surge o conceito de fundadores, especialmente os presidentes,
religião civil,quando a religião participa da dão a forma e o tom da religião civil.
o NOVO ‘Israel’/ 77

Essa religião civil, embora derive do cristianismo, posições contrárias à Palavra de Deus nos
não é o próprio cristianismo. Por algum motivo, últimos tempos^®.
nem Washington nem Adams nem Jefferson, nem
Kennedy mencionam Cristo. Nem qualquer outro
depois deles, embora todos mencionem Deus. Considerações finais
O Deus da religião civil não é só “unitariano”, Como demonstrado neste artigo, a vo
ele tem também uma face severa, muito mais
cação para o exercício do poder frente às
relacionada com a ordem, lei e direitos do que
demais nações não é um desenvolvimento
com salvação e amor. [...] Ele está ativamente recente na história da América, embora
envolvido com a história, em concerto especial
com a América. Aqui a analogia tem muito menos
a interpretação adventista, no século 19,
a ver com o direito natural do que com o antigo
tenha sido uma novidade no campo do
IsraeP^ estudo do Apocalipse. O levantamento
da memória americana, confirmando que
Para Pardue, os americanos fizeram o impulso e a ideologia do messianismo
dessa religião uma espécie de “totem”, remonta à fundação dos Estados Unidos,
no sentido de que “os valores e virtudes sugere que desde o início a nação ja pos
da nação que chamamos de América são suía um destino profético. Sugere também
colocados diante de nós como religio que o pendor da América para o controle
sos”. Ele critica ainda que essa religião das demais nações e para a restrição da
transformou a liberdade numa tirania, liberdade não é resultado de uma convicção
santificou a escravidão, o individualismo, momentânea,mas uma vocação presente no
consumismo, militarismo, guerra nuclear, DNA americano.
por meio do nacionalismo^\ Tudo feito em A memória histórica americana foi mo
nome de Deus^’’*. delada, ao longo dos séculos, de forma a
tomar o messianismo uma vocação atrativa
Por que a religião civil se conecta a
Israel e não à igreja cristã professada pelos e convincente, plantando a idéia de uma
nação eleita com uma missão divina. E um
pais peregrinos? Por que ela trata só com
direitos e deveres e não com salvação? Por enredo simples, mas grandioso: os pais fun
dadores da América eram homens honestos
que fala de Deus e não de Cristo?
e religiosos,que escaparam da perseguição
A resposta a estas questões provavel na Europa. Chamados por Deus para uma
mente atravesse os caminhos que aproxi terra longínqua e fértil, eles fundaram uma
mam americanos ejudeus e que conduzirão nação livre e assumiram a missão de levar
a América a um regime de autoritarismo no ao mundo os valores divinos de liberdade
futuro. Talvez também explique por que, e felicidade. Essa narrativa decantada
embora idealizado por protestantes crentes construiu uma memória sólida^^,e chegou a
na justificação pela fé e no futuro reino de assumir o status de uma metanarrativa,com
Cristo, o projeto de poder da América não é pretensões a verdades absolutas, cristali-
para o mundo por vir, mas para esta vida. zou-se como uma ideologia. Sintetizados
Nos anos 1850,os adventistas sabatistas a partir de importantes textos da cultura
judaico-cristã, seus valores e mitos se re
já viam o destino histórico dos Estados Uni
produzem indefinidamente,constituindo-se
dos da América numa perspectiva ampla, num sistema da cultura.
no sentido de esta nação vir a desempenhar
um papel crucial, como a “besta” de dois Esses valores e mitos messiânicos
chifres (Ap 13:11-18) e a “imagem” da transformaram-se ao longo das décadas
besta(Ap 14:9-11)''^ Mais tarde, Ellen G. em forças históricas, que determinam e
White ampliou essa compreensão com a legitimam as ações imperialistas. A força
publicação de O Grande Conflito. Segundo desses mitos sobre a cultura americana é
ela,a nação americana vai desempenhar um objeto da reflexão do escritor Philip Roth,
papel escatológico em cooperação com o em sua trilogia composta por A marca
Vaticano numa campanha de intolerância humana.Pastoral americana e Casei com
e perseguição a fiéis que resistirem às im- um comunista. Roth compõe um quadro da
78 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

vida americana em que pessoas de “grande “A liberdade não é um presente da América


vigor moral e intelectual são assoladas para o mundo, mas um presente de Deus
por forças históricas fora de controle”^*, para a humanidade”, proclama Bush.
independentes da razão.
Quem será o próximo inimigo comum
Durante o século 20, os americanos da humanidade,na escalada americana pela
desenvolveram sua estratégia de poder construção da nova ordem mundial, e na
global a partir da nomeação de um inimigo tentativa de restaurar o paraiso na terra?
comum da humanidade,que eles passaram
Refletindo sobre os campos de concen
a combater. Na Segunda Guerra Mundial,
os americanos combateram e derrotaram o tração do nazismo,a filósofa judia Hannah
Arendt declara que as massas modernas se
nazismo e o fascismo, demonizados como
inimigos comuns da humanidade.Na Guer caracterizam pela perda da fé nojuízo final,
ra Fria,os americanos assumiram o desafio do que decorre a perda do temor dos maus,
de combater outro inimigo comum, o co e da esperança dos bons. Para ela,
munismo,também retratado em seus textos incapazes de viver sem temor e sem esperança,
culturais,especialmente cinematográficos, os homens são atraídos por qualquer esforço que
como um inimigo da raça humana,repres- pareça prometer uma imitação humana do p^aíso
sor da liberdade. Após a queda do Muro de que desejaram ou do inferno que temeram .
Berlim(1989),a América entrou num vazio
de poder, não havia mais inimigos. Então, A Utopia americana de uma nova ordem
nos atentados de 11 de Setembro (2001), mundial, construída por uma nação elei-
eis que um novo inimigo se apresenta: o ta”, promete ser a repetição da tentativa de
fiindamentalismo islâmico.Em todas essas se reconstruir o “paraíso perdido’. Poaera
batalhas, os americanos lançam mão de ser um novo holocausto,contra os dissi en
sim.
seus mitos e proclamam seu messianismo. tes? O Apocalipse diz que

Referências

'Este texto é a descrição inicial de um fenômeno do Poder: os


* Robert Kagan, Do Paraíso e
em estudo pelo autor na composição de uma tese ordem mundial
Estados Unidos e a Europa na nova
doutoraijunto à Escola de Comunicação e Artes, da
(Rio de Janeiro: Rocco, 2003), 88. '. Entre-
Universidade de São Paulo(USP). ’ Carlos Graieb. “O país da guerra
^ “My fellow citizens, today we celebrate the vista com Robert Kagan. Veja. 6 de dezembro de
mystery of American renevi^al”, discurso de posse 2006, 14.
do ex-presidente americano Bill Clinton, em 20 de » Para um estudo sobre como o cinema ameri
janeiro de 1993, disponível em http://www.let.rug. cano reproduz os valores e ideais messiânicos, ver
nl/~usa/P/bc42/speeches/clinton 1.htm. Douglas Kellner, A Cultura da Mídia (Bauru,
^ I. Fuser e D. Bianchi,“O grande império ame Edusc, 2001).
ricano”. Aventuras na História (São Paulo: Abril, ’Para Kagan, “os Estados Unidos, como todo
janeiro de 2006), 29. bom filho do Iluminismo, ainda acreditam na possi
^ “President Delivers ‘State of the Union’”, bilidade de perfeição humana,e mantérn a esperança
discurso do presidente Americano George W. Bush, da possibilidade de perfeição do mundo’(Kagan,Do
no dia 25 de janeiro de 2003, antes da invasão do Paraíso e do Poder, 96).
‘a arte dos
Iraque, disponível em http://www.whitehouse.gov/ A semiótica(do grego semeiotiké ou
news/releases/2003/01/20030125.html. sinais”)é a ciência geral dos signos,que estuda todos
^ “President Swom-ln to Second Term”, dis os fenômenos culturais como se fossem sistemas
curso de posse do segundo mandato da presidência sígnicos, isto é, sistemas de significação. Ocupa-se
de George W. Bush, no dia 20 de janeiro de 2005, do estudo do processo de representação, na natureza
disponível em http://www.whitehouse.gov/news/re- e na cultura, do conceito ou da idéia. Em oposição
leases/2005/01/20050120-1.html. à linguística, que se restringe ao estudo dos signos
o NOVO ‘Israel’/ 79

linguísticos verbais, a semiótica tem por objeto “Nação Inocente” impediu que muitos americanos
qualquer sistema sígnico: artes visuais, fotografia, compreendessem e mesmo que discutissem as com
cinema, música,culinária, vestuário, gestos,religião, plexas motivações dos atentados terroristas de 11 de
ciência,etc. Os conceitos da semiótica podem retro Setembro de 2001. O autor identifica cinco mitos-
ceder a pensadores como Platão e Santo Agostinho. chave que iludem o coração dos americanos: o mito
Entretanto, somente no século 20 começa a adquirir da Nação Eleita, Nação da Natureza, Nação Cristã,
o status de ciência, com os trabalhos do suíço Fer- Nação do Milênio e Nação Inocente. Hughes mostra
dinand de Saussure e do francês Aljirbas Greimas que,com a canonização desses mitos aparentemente
(semiótica francesa), do americano Charles S. Peirce inocentes da identidade nacional como verdades
(semiótica pragmática) e de luri Lotman, da escola absolutas,a América arrisca debilitar a promessa de
de Tartu, na Estônia (semiótica da cultura). Fonte: igualdade da Declaração de Independência.
33
Wikipedia, enciclopédia online. Hughes, Myths American Lives By^2\.
"luri M. Lotman, La Semiosfera: semiótica de Pardue, “A brief history of American Civil
la cultura e dei texto (Frónesis Cátedra: Universitat Religion”.
de Valencia, 1996), 1:31. Hughes, Myths American Lives By,23.
12 36
Ibid., 157. Pardue, “A brief history of American Civil
■Mbid., 160. Religion”.
14
Irene Machado, Escola de Semiótica (São E. E. Caims, O Cristianismo através dos
Paulo. Ateliê Editorial, 2003), 38. Séculos: uma história da igreja cristã (São Paulo:
15
luri M. Lotman, “O problema do signo e do Vida Nova, 1984), 270.
sistema sígnico na tipologia da cultura anterior ao Pardue, “A brief history of American Civil
século 20”, em lúri M. Lotman e outros. Ensaios Religion”.
39
de semiótica soviética (Lisboa: Livros Horizonte, Caims, O Cristianismo através dos Séculos^
1981), 102. 270.
40
Ibid, 123. George Bancroft, História dos Estados Unidos
17
Ernesto Milà, Lo que está detrás de Bush: da América, citado por Ellen G. White, O Grande
corrientes ocultas de la política de EEUU. Colec- Conflito 27“ ed. (Santo André, SP: CasaPublicadora
ción Geopolítica. n. 6 (Barcelona, Espanha: SL, Brasileira, 1981), 288.
2004), 4. ■” Hughes, Myths American Lives By, 28.
18
Umberto Eco, O Nome da Rosa (Rio de Janei- R. E. Spiller, O Ciclo da Literatura Norte-
ro: Nova Fronteira, 1983). Americana (Rio de Janeiro: Forense Universitária,
19
Milà, Lo que está detrás de Bush, 4. 1967), 22.
43
Ibidem. Kamal, Estados Unidos, 38.
21
Ibid., 5. ●«Ibid., 55.
45
-- Leandro Kamal, Estados Unidos: a formação A crença do “destino manifesto” foi formulada
da nação (São Paulo: Contexto, 2005), 35. pelo então futuro presidente John Quincy Adams,
23
Ver a íntegra do pacto feito entre os pais fun em 1811: “Todo o continente da América do Norte
Providência a ser
dadores, em 1620, disponível em http://www.let.mg. parece estar destinado pela Divina
nl/-usa/D/1601-1650/plymouth/compac.htm. povoado por esta nação, falando um idioma, profes
24
Francis Bacon, Nova Atlántida. Os pensadores sando um sistema geral único de princípios religiosos
(São Paulo: Nova Cultural, 1999), 227. e políticos e acostumada a um mesmo padrão de usos
25
Milà, Lo que está detrás de Bush, 8. e costumes sociais” (Sidney Lens, A Fabricação do
26
Robert R. Palmer, The Age of the Democratic Império Americano: da revolução ao Vietnã: uma
Revolution: A Political Histoiy ofEurope and Ame história do imperialismo dos Estados Unidos [Rio
rican, /7(50-/500 (Princeton: Princeton University de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006], 24). A ex
Press, 1959), 1:242. pressão “destino manifesto”, no entanto, foi primeiro
27 usada pelo jornalista John 0’Sullivan, em 1846, às
Fuser e Bianchi, “O grande império ameri-
cano”, 26. vésperas da guerra com o México, a qual ele via
-* Milà, Lo que está detrás de Bush, 8. como a oportunidade da “realização do nosso destino
29
The Unanimous Declaration of the Thirteen manifesto de nos espalharmos pelo continente que
United States of America”, de 4 de julho de 1776, recebemos da Providência” (Fuser e Bianchi, “O
disponível em http://www.let.rug.n1/-usa/D/l 776- grande império americano”, 29).
46
1800/independence/doi.htm. Luiz Antonio Moniz Bandeira, Formação do
30
Kamal, Estados Unidos, 79. Império Americano: da guerra contra a Espanha
Milà, Z,o que está detrás de Bush, 9. à guerra no Iraque (Rio de Janeiro: Civilização
32
Richard Hughes, Myths American Lives By Brasileira, 2006), 27-28.
(Illinois: University Illinois Press, 2003), 21. Neste Ibidem.
48
livro, Richard T. Hughes argumenta que o mito da Lens, A Fabricação do Império Americano, 23.
80 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

49
Anson Phekps Stokes, Church and State in nível em http://www.chuckp3.com/Pages/Writings/
the United States, vol. 1 (New York: Harper & Co., American_Civil_Religion.htm.
1950),467-468. Bellah, *‘Civil Religion in America”. Para
Hans Kohn, The Idea of Nationalism (New uma pesquisa sobre religão civil americana, ver
York: Macmillan Co., 1961),665. Desde a fundação ainda Robert N. Bellah, Broken Covenant: American
da América, diversos americanos especialmente Civil Religion in Time ofTrial(New York: Seabury
religiosos escreveram ou falaram sobre os valores Press, 1975).
da religião civil, relacionando Deus e a América. Deus é referido ou mencionado em todos os
Francis A. Schaeffer, um autor evangélico popular, discursos inaugurais dos presidentes americanos,
diz: “Estes homens [pais fundadores] sabiam o que exceto no segundo discurso inaugural de George
estavam fazendo. Sabiam que estavam edificados Washington (presidente dos EUA de 1789-1797),
sobre o Supremo Ser que é o Criador,a realidade final. que foi breve(dois parágrafos) e muito superficial.
Sabiam que sem esse fundamento tudo na Declaração Do primeiro discurso inaugural de Washington até
de Independência e tudo que se seguiria podería ser o segundo de James Monroe, em 1821, a palavra
transformado num absurdo inalterável. Eles foram “Deus” não aparece, mas outros termos são usados
homens brilhantes que sabiam exatamente o que os para mencionar a divindade. Em seu primeiro dis-
envolvia”(Francis A.Schaffer,y4 Christian Manifesto curso inaugural,
1 Washington se refere a Deus como
[Wheaton,IL:Crossway Books, 1981],33). Num livro .o ser
_ : Todo-Poderoso que governa o universo”.
intitulado One Nation Under God,o escritor evangé Grande autor de todo bem privado e público”,
lico Rus Walton chega a afirmar confiantemente que “Mão invisível” e “Parente benigno da raça hu
a “Constituição dos Estados Unidos foi divinamente mana”. John Adams(1797-1801) refere-se a Deus
inspirada” (Rus Walton, One Nation Under God como “Providência”, “Ser supremo sot)re ’
[Washington, DC:Third Century Publishers, 1975]). Patrono da ordem”,“Fundador da justiça e ^ ro-
Nos anos 1960 e 70,durante a guerra do Vietnã,os de tetor’ . Thomas Jefferson (1801-1809)fala do Infi
fensores do conflito buscavam legitimar suas palavras nito poder que governa os destinos do ®
apelando para o mito da nação eleita. Edward Elson “Ser em cujas mãos nós estamos’. James a ison
afirma que a América não podería ser concebida senão (1809-1817)fala do “Todo-Poderoso Ser cujo poder
como um “movimento espiritual” originado em Deus regula o destino das nações”. James Monroe(
e guiado em seu desenvolvimento pelo Espírito Santo. 1825) usa “Providência” e “Todo-Poderoso ’ P
George Otis, um homem de negócios, ecoa o mesmo fim,em seu segundo discurso, usa‘ Todo- o
tema: “A mão de Deus estava nas fundações dessa Deus” (Ver os discursos presidenciais e p
nação e a força de Cristo esteve com os construtores de mandato de todos os presidentes
, 6111
da América”(George Otis, The Solutions to Crisis- no site “From Revolution to Reconstrution
America[New York: Fleming H. Revell, 1972], 53). http://www.let.rug.nl/~usa/index.htm, usqu
Dale Evans Rogers afirmou que “a América estava na link “presidents”). . „
57
mente de Deus antes de tomar-se uma realidade” e que Bellah,“Civil Religion in America .
a nação era “parte de seus[divinos] propósitos para o Ibid.
gênero humano”(Dale Evans Rogers, Let Freedom Ibid.
60
[New York: Fleming H.Revell, 1975], 19-20). O Ibid. ^
61
escritor e evangelista Tim LaHaye,um dos cabeças da Discurso de posse do ex-presidente eorge
American Coalition for Traditional Values,escreveu: Washington, em 30 de abril de 1789, disponi^
“Sem a América, nosso mundo contemporâneo teria em http://www.Iet.rug.nl/~usa/index.htm, no m
perdido completamente a batalha pela mente e, sem presidents”. . „
62
dúvida, pela vida numa era totalitarista e humanista” Bellah,“Civil Religion in America .
63
Pardue, “A brief history of American Civil
(Tim LaHaye, The Battlefor the World[New York:
Fleming H. Revell, 1980], 35). Religion”. ,
^ Para o escritor Robert Wuthnow,no entanto, ha
Herman Melville, White-Jacket, or the World
in a Man-of-War (Boston: L.C. Page & Company, duas religiões civis na América. Aquela que rnantóm
1950), 114. uma visão conservadora, “baseada na arrogância e
52
Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social, no falso senso de superioridade”. E outra, baseada
vol. 1 (São Paulo: Nova Cultural, 1999), 241. nos princípios éticos e bíblicos”, mantida por pessoas
53
Robert Bellah, “Civil Religion in America”, que têm uma visão liberal desse mesmo fenômeno.
Dedalus, Journal ofthe American Academy ofArts Eles não declaram explicitamente adesão à visão
and Sciences (Inverno de 1967, vol. 96, n. 1, pági dos pais fundadores, segundo a qual a América é a
nas 1-21), disponível em http://www.robertbellah. nação eleita de Deus. Para eles,“a América tem um
com/articles 5htm. papel vital a desempenhar nos negócios do mundo
54
Charlie Pardue,“A brief history of American não por que seja a casa de um povo escolhido, mas
Civil Religion and its ecclesial implications”, dispo- por que tem vastos recursos e, como parte das na-
o NOVO ‘Israel’/81

ções mundiais, ela tem responsabilidade em ajudar últimos acontecimentos (Engenheiro Coelho, SP:
a aliviar os problemas do mundo”. Para Wuthnow, Unaspress, 2004), 273, nota 39.
as duas visões acerca da América tem sido objeto de Ver White, O Grande Conflito, 439,444.
67
discórdia e polarização, mais do que de consenso e Ray Raphael, Mitos sobre a Fundação dos
compreensão mútua (Robert Wuthnow. “Divided Estados Unidos: a verdadeira história da inde
we fali; America's two civil religion”, disponível pendência americana (Rio de Janeiro: Civilização
em http://www.religion-online.org/showarticle. Brasileira, 2006), 16.
6S
asp?title+235). Phillip Roth, A marca humana (São Paulo:
65
Ver Alberto R. Timm.“Escatologia Adventista Companhia das Letras, 2002), 12.
69
do Sétimo Dia, 1844-2004: breve panorama históri- Hannah Arendt, Origens do Totalitarismo:
CO ,em Alberto R.Timm.Amin A. Rodor e Vanderlei anti-semitismo, imperialismo, totalitarismo (São
Domeles (orgs.), O Futuro: a visão adventisía dos Paulo: Companhia das Letras, 1998),497.
J
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? UmA
NOVA ABORDAGEM À LUZ DA ASTRONOMIA
Henderson Hermes Leite Velten (autor do artigo)
Advogado, editor do site www.concertoetemo.com
JuAREZ Rodrigues de Oliveira (autor da pesquisa que subsidiou o artigo)
Pesquisador e tradutor juramentado de inglês/português

Resumo: O adventismo tem sido acusado in the days of Ezra and Jesus. These evi-
de defendo adventismo tem sido acusado dences consist in historically documented
de defender uma data incorreta para o Dia situations in which the Jewish months were
da Expiação em 1844, pois, de acordo com fit later than the Rabbinical Cycle. The se-
o calendário rabínico, o décimo dia do sé cond part ofthis article shows that, on the
timo mês teria ocorrido em 23 de setembro contrary of what many have led others to
naquele ano. A primeira parte deste estudo believe until now,the date ofOctober 22nd
apresenta evidências de que o calendário does not depend on the Karaites,but can be
rabínico atual não representa uma continui supported by Babylonian tablets attesting
dade do calendário judaico praticado nos the lunar Seventh Month, beginning with
dias de Esdras e Jesus. Essas evidências the new moon of October in years corres-
consistem em situações documentadas ponding to 457 B.C. and also by historical
historicamente em que os meses judaicos and astronomical certainty of April 27th,
foram posicionados mais tardiamente que A.D. 31 as the date for Chrisfs death .
no ciclo rabínico. A segunda parte deste This article defends that the mathematical
estudo mostra que, ao contrário do que al structure of the prophecy requires that the
guns fizeram crer até hoje, a data de 22 de end ofthe “2.300 evenings and momings”
outubro não depende dos caraítas, mas pode was on October 22nd/23rd, 1844. The
ser fundamentada em tabletes babilônicos astronomical analysis proves this day was
que atestam o sétimo mês lunar começando the tenth day ofthe lunar month.
com a lua nova de outubro em anos equi
valentes a 457 a.C. e também na certeza Parte 1: Evidências da descontinuida-
histórica e astronômica de 27 de abril do DE DO calendário rabínico em relação
ano 31 para a data da morte de Cristo. Este AO CALENDÁRIO JUDAICO DAS ÉPOCAS DE
artigo revela que a estrutura matemática da
Esdras e de Jesus - reavaliando a
profecia requer que o término das 2.300
tardes e manhãs tenha sido em 22/23 de IMPORTÂNCIA DO MÉTODO DE COMPUTO
outubro de 1844. A análise astronômica CARAÍTA NA DETERMINAÇÃO DO DIA DA
comprova que esse foi o décimo dia do EXPIAÇÀO EM 22 DE OUTUBRO
mês lunar.
Abstract: Adventism has been accused of Introdução
supporting an incorrect date for the Day of
Um dos alvos recorrentes dos críticos à
the Atonement in 1844, because,according
doutrina adventista do juízo investigativo
to the Rabbinical Calendar, the tenth day
of the Jewish Seventh Month occurred é a data escolhida pelos mileritas para o
in September 23rd in that year. The first dia da expiação em 1844. Ao passo que o
part of this study presents evidences that calendário rabínico, adotado pela grande
the current Rabbinical Calendar is not in maioria dos judeus do mundo inteiro,
continuity with the Jewish Calendar used apontava naquele ano para um 10 de tishri
--7

84 / PaROUSIA - r SEMESTRE DE 2007

(sétimo mêsjudaico;cf. Lv 25:9)em 22/23 mês entre as datas de ambos os sistemas


de setembro,os mileritas preferiram fixá-lo e de que a situação astronômica em 1844
em 22/23 de outubro'. parecia exigir datas mais tardias que as do
ciclo rabínico.
Ao chegar à conclusão de que os 2.300
anos deviam terminar em 10 de tishri, por
ser neste dia e mês que se realizava a “pu A ORIGEM DA DIVERGÊNCIA
rificação do santuário”, o milerita Samuel ENTRE O CALENDÁRIO RABÍNICO
S. Snow procurou determinar qual a data E O SISTEMA CARAÍTA
gregoriana correspondente ao dia da expia-
ção em 1844. Em seu estudo da cronologia Para que se entenda bem a origem do
bíblica, Snow descobriu que os caraítas, problema, deve-se ter em mente que o
gmpo dissidente dojudaísmo,faziam sérias calendário judaico está atrelado concomi
tantemente à lua e ao sol. À lua, porque ela
restrições à corrente judaica predominante
condiciona o início do mês\ cujo primeiro
(a “rabínica”), não somente no apego desta
às tradições e interpretações de seus antigos dia é determinado pela observação do
mestres, muitas vezes em desfavor das Es primeiro crescente, ou “primeira visibili
crituras, como também em seu sistema de dade da lua”, que ocorre pouco depois da
lua nova astronômica. Ao sol, porque a
datação das festividades da religião.
posição dos meses dentro do ano trópico
O principal foco de divergência estava (ou solar) está condicionada ao amadure
no método para se determinar a posição cimento da cevada,já que na semana da
do primeiro mês judaico (abib-nisan) festa dos pães asmos se devia apresentar
dentro do ano solar. Diferentemente do
um feixe com os primeiros trutos da terra,
calendário gregoriano, cujos anos são
a fim de que a colheita pudesse ter lugar
sempre de 12 meses,o calendário judaico (Lv 23:4-14). A cevada é o primeiro grão
possui anos de 12 e de 13 meses. A partir a amadurecer na Palestina, razão pela qua
de 358 d.C., com a reforma do calendário foi escolhida desde cedo para determinar o
promovida pelo rabino Hillel II, as inter- tempo da celebração da festa dos asmos .
calações do décimo terceiro mês passaram
Visto que geralmente o amadurecimento
a ser previamente definidas, por meio de dos frutos ocorre em estações bem defi
cálculo (o ciclo dos 19 anos), com o que nidas, as quais são determinadas pela po
se estipulava a época do primeiro mês e sição da Terra em relação ao sol, pode-se
do início do ano religioso.
dizer que a festividade das primícias faz
Os caraítas não concordam com essa atrelar o calendário judeu ao ano solar ,
prática, pois entendem que a ocasião opor servindo por isso como uma espécie de
tuna para a intercalação do décimo terceiro calibrador do calendário.
mês não deve ser determinada por mero De regra,o amadurecimento da cevada
cálculo, mas por uma observação empírica ocorre no começo da primavera, próximo
do amadurecimento da cevada. A razão
ao equinócio^ época do primeiro mêsju
para isso será explicada mais adiante. daico. Mas,o início desse mês é variável,
Confiando no método caraíta,Samuel S. assim como o de todos os demais meses,
Snow preferiu descartar 22/23 de setembro já que é a lua nova que marca o primei
como 10 de tishri em 1844, tal como pro ro dia do mês. Quando, por exemplo, o
posto pelo ciclo rabínico, e adotar 22/23 primeiro crescente é detectado na tarde
de outubro. Isso porque, em alguns casos, de 27 de março, como foi o caso em 27
as datas caraítas são um mês mais tardias d.C., não há qualquer problema na deter-
que as do esquema rabínico. Samuel S. m inação do primeiro mês, pois esta data
Snow não contava com uma informação não está muito aquém nem muito além do
em
caraíta específica da situação da cevada equinócio (que naquele ano ocorreu
em Jemsalém para o ano de 1844.^ Ele se 22 de março). Mas, quando a lua nova
valeu tão somente da noção geral de que, cai muito antes do equinócio, surge então
em alguns casos,ocorria a diferença de um o problema, como foi o caso do ano 28,

i
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO?/85

em que a primeira visibilidade ocorreu ao Evidência do ano 568 a.C.- o ano 37


pôr-do-sol de 16 de março (o equinócio, DE NaBUCODONOSOR
nesse ano, também foi em 22 de março).
Essa é uma época muito precoce, e, O ano 37 de Nabucodonosor é riquíssi
mo em informações históricas e astronômi
portanto muito fria, para que a cevada já
pudesse estar madura, razào pela qual não cas provenientes dos tabletes babilônicos.
Muitos desses dados são relevantes para
se começou então o primeiro mês, mas
houve o acréscimo de um mês adicional, patentear a incompatibilidade entre o ciclo
rabínico atual e o calendário babilônico da
o ve-adar, ficando o dia 1“ de nisan para
a lua nova seguinte. época de Daniel.
A citação a seguir é de um desses ta¬
O cerne do problema com o calendário
bletes:
rabínico está Justamente na determinação
dos meses Judaicos - se estes devem se Ano 37 de Nabucodonosor, rei de Babilônia, mês
posicionar mais cedo ou mais tarde dentro 1,[o primeiro do qual foi identificado com]o trigé
do ano solar. simo[do mês precedente], a lua tomou-se visível
atrás do Touro do céu [tradução nossa].'-

EvIDÊNCIAS DESFAVORÁVEIS
O ano 37 de Nabucodonosor equivale
AO CALENDÁRIO RABÍNICO a 568/567 a.C.(da primavera à primavera,
Nos tabletes de argila da Mesopotâ- no hemisfério norte). O referido mês 1
mia, nos escritos do historiador Judeu do caía em março ou em abril. Como pode
primeiro século Flávio Josefo, bem como ser demonstrado pela imagem 1 (p. 1^2),
na própria Bíblia, particularmente nos li gerada pelo programa Redshift2,a situação
vros de Esdras e de Ester, preservaram-se descrita no tablete ocorreu ao pôr-do-sol do
informações valiosas da antigüidade em dia 22 de abril de 568 a.C., pois nela se vê
que os meses dos calendários babilônico- o primeiro crescente lunar sob o pano de
persa e Judaico foram posicionados mais fundo da constelação de Touro.
tardiamente que no calendário rabínico.’ Isso faz de 22/23 de abril (de pôr-do-sol
Esses dados serão apresentados a seguir, a pôr-do-sol) o dia 1° de nisan naquele ^o.
a fim de demonstrar que o ciclo rabínico Diferentemente,o calendário rabínico coloca
atual não se harmoniza com os calen 1°de nisan em 24/25 de março,como o atesta
dários babilônico-persa e Judaico das a imagem 2(p. 102), gerada pelo programa
épocas de Daniel, Esdras e Jesus. Calendrical Calculations. Em 24 de março,
Existem atualmente excelentes progra 0 primeiro crescente não aparece em Touro,
mas em Áries(ver imagem 3, p. 103).
mas de computador, disponíveis gratuita
mente na Internet, que produzem as situ Esse é um dado relevante, pois vem do
ações do calendário Judaico rabínico para tempo de Daniel e da região em que ele es
qualquer ano numa longa faixa de tempo. tava quando recebeu suas revelações. Nesse
Será utilizado neste artigo o Calendrical período, é lógico supor que os Judeus, por
Ca/culations^. Outro ótimo programa capaz estarem em Babilônia, acompanhassem o
de gerar as situações do sistema rabínico calendário babilônico.
é o LimaCaP. As situações astronômicas
envolvidas serão analisadas com base
Evidência do ano 515 a.C.- ano
no software mundialmente conhecido
EM QUE SE CONCLUIU A EDIFICAÇÃO DO
Redshift, aqui em sua versão 2.0"^, cujo
principal objetivo é reproduzir virtualmente SEGUNDO TEMPLO
um observatório astronômico. No caso do Esdras 6:14-18 narra o témiino da recons-
programa Redshift 2,fez-se uma ampliação tnição do Templo nos seguintes termos:
no canto direito das imagens capturadas
para facilitar a visualização. Para gerar as Os anciãos dos judeus iam edificando e pros
situações do calendário Juliano, será utili perando [...] Edificaram a casa e a terminaram
zado o programa Sky View Cafe'\ [...] Acabou-se esta casa no ciia terceiro do mês
86 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

de adar, no sexto ano do reinado do rei Dario. 12 de Xerxes. Quando chegou o dia 13 do
Os filhos de Israel, os sacerdotes, os levitas e o primeiro mês do ano seguinte - isto é, do
restante dos exilados celebraram com regozijo a ano 13 de Xerxes - Hamà determinou que
dedicação desta Casa de Deus.[...] Estabeleceram se matassem a todos os judeus que viviam
ossacerdotes nosseus turnos e os levitas nas suas
no império,“e/77 um só dia^ no dia treze do
divisões, para 0 serviço de Deus em Jerusalém,
segundo está escrito no livro de Moisés.
duodécimo mês, que é o mês de adar”(Et
3:13). Muito antes de esse dia chegar,Ester
Babylonian Chronology^^, p. 30, adota conseguiu do rei a expedição de um decreto
autorizando os judeus a resistirem àqueles
0 dia 9/10 de março para 1° de adar em 515
a.C., sendo este ano 0 sexto de Dario I. Se que os quisessem matar(Et 8:10-12).
é assim,3 de adar foi 11/12 de março. Esse relato revela que, no ano 13 de
Xerxes, o dia 13 de adar foi o mesmo
O dia 11/12 de março de 515 a.C. foi um
tanto no calendário judeu quanto no ca
sábado.Portanto, a declaração de que “aca
bou-se esta casa no dia terceiro do mês de lendário babilônico-persa. Mas,isso só é
adar” não deve estar se referindo ao término possível se o ciclo rabínico for mais uma
vez desconsiderado.
do árduo trabalho de alvenaria, mas à própria
inauguração do templo,que foi o último ato Com efeito, o ano 12 de Xerxes co
de restauração (ver imagem 4, p. 103). meçou em 1° de nisan de 474 a.C., que,
segundo Babylonian Chronology,p. 31,foi
Se essa interpretação está correta,então
o dia 4/5 de abril. É sabido que, no fim do
a informação de que os sacerdotes foram
estabelecidos “nos seus turnos e os levitas ano 12 de Xerxes,houve um mês intercalar
nas suas divisões” concorda com Flávio Jo- (addaru 2), como está demonstrado pelo
documento Cameron,PTT27 {Babylonian
sefo, segundo o qual os turnos sacerdotais adicional
se estendiam de sábado a sábado: Chronology, p. 8). Esse mês
projeta o início do ano 13 de Xewes para
Ele[Davi]também os dividiu em turnos: e após ter 21/22 de abril de 473 a.C., que foi o dia 1
separado os sacerdotes, encontrou vinte e quatro de nisan naquele ano. Há, pois, segurança
turnos desses sacerdotes, dezesseis da casa de
de que essa foi a data de 1° de nisan no ano
Eleazar, e oito da [casa] de Itamar; e ele ordenou 13 de Xerxes.
que um turno deveria ministrar a Deus por oito
dias, de sábado a sábado(tradução nossa).'^ No ciclo rabínico, 1° de nisan em 473
a.C. não cairia em 21/22 de abril, mas em
Isso também se harmoniza com 2 Reis 22/23 de março, como se vê na imagem 7
11:5-7. (p. 105),o que colocaria o dia 13 de adar em
datas diferentes nos calendários judaico e
Se,todavia,o ciclo rabínico for adotado,
em 515 a.C. o dia 3 de adar não coincidirá babilônico-persa, não permitindo o sincro-
nismo testemunhado no livro de Ester.
com o sábado,como se pode perceber pela
comparação das imagens geradas pelos
programas Calendrical Calculatioris e Sky Evidência do ano 63 a.C.- ano da
View Cafe, perdendo-se a vinculação pre TOMADA DE JeRUSALÉM POR POMPEU
ciosa da inauguração do templo com o dia
de sábado (ver imagens 5 e 6, p. 104). No ano da conquista de Jerusalém
por Pompeu, o dia da expiação coincidiu
com o sábado semanal. Josefo dá indícios
Evidência do Ano 473 a.C.- ano dessa coincidência ao informar que[1]os
EM QUE os JUDEUS FORAM LIVRADOS DA romanos preferiam trazer suas máquinas
ARMADILHA DE HaMÃ para perto das muralhas de Jerusalém aos
Outra forte evidência contrária ao ciclo sábados, pois sabiam que então os judeus
não os atacariam, dada sua reverência por
rabínico pode ser extraída do livro de Ester.
esse dia,e que[2]a cidade foi tomada num
Ester 3:7 diz que se jogaram sortes dia dejejum solene'^ Quanto a este último
perante Hamã durante os 12 meses do ano item, é sabido que o único dia de jejum

à
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? /87

obrigatório prescrito pela lei era o Yom de Vitélio, foi assassinado em 16 de abril
Kippur(o dia da expiação)'^. de 69 d.C. e a morte de Vitélio ocorreu
em 20 de dezembro do mesmo ano.^° Se é
Embora Josefo não diga explicitamente
assim, pela declaração de Josefo,o mês de
que Jerusalém tenha sido tomada num kislev(ou casleu)caiu em dezembro no ano
sábado, esse fato é também atestado pelo
69 d.C., o que não concorda com o ciclo
historiador romano Dio Cassius,que escre
rabínico, que o coloca em novembro (ver
veu sua História Romana entre 200 e 220
imagem 13, p. 107).
d.C., o qual afirma que Pompeu tomou a
cidade “no dia até então chamado dia de Esse é mais um ponto critico para o ci
Saturno” isto é,o sábado (saturday = dia clo rabínico, pois Josefo estava vivo em 69
de Saturno). d.C.,já tendo sido vencido e capturado pelos
romanos na guerra judaica - trata-se, pois,
É verdade que, nessa mesma citação, de uma testemunha contemporânea. A cor
Dio Cassius também situa a conquista de
respondência que ele estabelece entre o mês
Jerusalém por Herodes e Sósio num sábado, macedônico de appeleus e o mêsjudaico de
mas a análise astronômica do início do séti
casleu(kislev),ao falar da derrota e da morte
mo mês naquele ano(37 a.C.) não favorece de Vitélio,representa maisum forte argumen
essa afirmação. Para esse caso,é preferível to em desfavor do calendário rabínico.
um dia da expiação no domingo.
Em 63 a.C., 10 de tishri caiu em 23/24 Conclusão
de outubro,já que o sétimo mês começou ao
pôr-do-sol do dia 14 de outubro(ver imagem A análise que se procedeu acima revela
8, p. 105 e imagens 9 e 10, p. 106). que, ao menos para os vários anos indica-
dos,o ciclo rabínico não se harmoniza com
Mas, pelo ciclo rabínico, o dia da ex o calendário judaico dos tempos de Es^as
piação teria ocorrido um mês mais cedo e de Jesus ou com o calendário babilônico-
naquele ano, numa quinta-feira e não num persa dos dias de Daniel e de Ester.
sábado (ver imagem 11, p. 106, e imagem
12, p. 107).
A DISTORÇÃO DO CALENDÁRIO JUDAICO
É interessante que essa situação seja PELA REFORMA DE HiLLEL II
bem semelhante à da controvérsia entre 23
de setembro e 22 de outubro - embora 63 Os testémunhos da antigüidade que
a.C. não seja ciclicamente correspondente a acabaram de ser examinados atestam que
1844 -,pois,em 63 a.C., o dia da expiação o ciclo rabínico atual não representa uma
caiu bem tarde, em 23/24 de outubro.'* De continuidade dos calendários judaico e
que maneira os opositores da doutrina de babilônico-persa conforme praticados no
1844 tentarão fugir a essa estrondosa evi período que se estende do sexto século a.C.
dência histórica e astronômica é o que se ao primeiro século da era cristã e fazem
terá de esperar para ver. suscitar a dúvida quanto ao que provocou
essa distorção. Os parágrafos a seguir ten
tarão responder a essa questão.
Evidência do ano 69 d.C.- ano da
MORTE DE Vitélio Com a destruição do templo no ano 70 e
a dispersão definitiva dosjudeus no ano 135
De acordo com Josefo, o imperador da era cristã, deixou de existir um núcleo
Vitélio “teve sua cabeça cortada no meio decisório que definisse tanto a duração do
de Roma,[após] ter mantido o governo mês a cada lua nova quanto os anos em que
[por] oito meses e cinco dias” e a bata era preciso intercalar um décimo terceiro
lha que o levou à morte foi travada “no mês. Acrescente-se a isso o fato de que os
terceiro dia do mês de apelleus [casleu]”
diferentes grupos de emigrantes judeus
(tradução nossa)
se encontravam a muitos quilômetros de
De acordo com o especialista em crono distância uns dos outros e não será difícil
logia E. J. Bickerman, Óthon, predecessor entender por que as datas do calendário
88 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

judaico diferiam de comunidade para co um décimo terceiro mês. Obviamente, se


munidade nessa época. o inverno se estender tão somente até o
dia 15 de nisan, esse procedimento não se
Ao reorganizar o calendário judaico,
fará necessário,o que permite concluir que
a intenção de Hillel II era definir critérios
os rabinos admitiam que o dia 1° de nisan
claros que possibilitassem a adoção de
começasse até 15 dias antes do equinócio
um sistema único pelos judeus do mundo
inteiro. Por isso, abandonou-se a variabi da primavera, fazendo o 16 de nisan, data
rabínica para o festival das primícias, cair
lidade entre 29 e 30 dias de que cada mês
bem em cima do equinócio. Portanto,tudo
gozava até então, fixando-se rigidamente
indica que Hillel estabeleceu a equação 16
a duração de cada um dos 12 meses, o que
de nisan = equinócio da primavera como
tomou menos relevante a observação do
baliza do calendário,opção que resultou na
primeiro crescente. Também se definiu
distorção do sistema judaico, por quebrar o
em que anos do ciclo lunissolar de 19 anos
vínculo com o calendário seguido nos tem
0 décimo terceiro mês deveria ser inter
pos de Esdras e de Jesus,já que os registros
calado, relegando ao passado a regra da
da antigüidade~^ nunca revelam o primeiro
observação da cevada madura.Atualmente,
os rabínicos intercalam o mês adicional mês começando em data tào baixa quanto
15 dias antes do equinócio.
invariavelmente no terceiro, sexto, oitavo,
décimo primeiro, décimo quarto, décimo A imagem 14 (p. 108), gerada pelo
sétimo e décimo nono anos do ciclo. Os programa Calendrical Calculations,revela
novos parâmetros criaram uma rigidez que em 360 d.C. o sistema rabínico situa
antinatural do calendário, o que distorceu 16 de nisan precisamente em cima do
seus fundamentos, rompendo o elo com o equinócio, que naquela faixa da era cristã
calendário seguido nos tempos de Daniel, estava em 19 de março.
Esdras, Ester e Jesus. Os caraítas não concordam em alinhar
Dentre os critérios introduzidos pela Re o 16 de nisan com o equinócio da prima
forma de Hillel que distorceram o sistema vera, pois,entendendo que a observação da
do calendário judaico, possivelmente o de cevada madura é o método subentendido
maior conseqüência tenha sido o da fixação das Escrituras-"^, consideram impossível
arbitrária de 16 de nisan no equinócio da começar o mês de nisan tão cedo quanto
primavera como parâmetro geral. Uma 15 dias antes do equinócio, já que isso
instrução rabínica do quarto século afirma: resultaria numa festa das primícias sem os
“Quando tu vires que o tequphah[ou ciclo] primeiros frutos da cevada.
de tebeth se estenderá ao décimo sexto dia
Quando as tabelas de Richard A.Parker
de nisan, declara aquele ano um ano em-
e Waldo H. Dubberstein, em sua recons
bolísmico [ou intercalar] sem hesitação”
21 trução do calendário babilônico-persa, e
(tradução nossa).
de Siegfried H. Horn, com seu calendário
Tequphah é um termo hebraico que judaico de Elefantina, são comparadas
significa “a volta do ano” e se refere aos com o ciclo rabínico, nota-se que as datas
equinócios, quando aproximadamente os rabínicas estão 20 dias mais baixas que as
anos recomeçavam no Oriente Médio. atestadas pelos tabletes mesopotâmicos e
Kenneth F. Doig^^ explica que a expressão pelos papiros judaicos do Egito. Na sua
'‘''tequphah de tebeth” se refere ao período maior parte, isso se deve a uma diferença
compreendido entre o solstício do inverno conceituai: os babilônicos e os judeus
e o equinócio da primavera. de Elefantina procuravam alinhar com
o equinócio o 1° de nisan, ao passo que
Em outras palavras, o que o Talmude
os rabínicos procuram sincronizar com o
está querendo dizer é que sendo perce
equinócio o 16 de nisan.
bido, por cálculo (o ciclo dos 19 anos),
que o inverno se estenderá até o dia 16 de A diferença de 20 dias pode ser explica
nisan, fazendo assim o equinócio cair no da assim: 15 dias de diferença decorrentes
dia 17, naquele ano deve ser intercalado do padrão rabínico de buscar esse sincro-
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO?/89

nismo de 16 de nisan com o equinócio + O ciclo rabínico dá as seguintes datas


5 dias de diferença devido à projeção do para 1° de nisan nos mesmos anos:
ciclo rabínico para trás. A cada 19 anos, o 1999- 17/18 de março
ciclo rabínico se desloca 0,08685 dia em
relação ao ano solar. Retrocedendo o ciclo 2000-5/6 de abril
rabínico desde o quarto século d.C. até o 2001 -24/25 de março
quinto século a.C., cria-se a diferença de
quase 5 dias. 2002- 13/14 de março

Recentemente, o especialista judeu Sa Esses dados revelam que, apesar da


cha Stem-^ publicou uma obra valiosa sobre divergência entre os métodos rabínico
a história do calendário judaico, intitulada e caraíta, as datas de ambos os sistemas
Calendar and Commimity - A History of têm sido as mesmas ou têm apresentado
the Jewish Calendar, 2nd Centwy BCE to pouquíssima diferença nos últimos anos.
lOth Centwy CE[Calendário e comunidade Essa coincidência reincidente entre datas
-uma história do calendáriojudaico,do 2° rabínicas e caraítas tem uma explicação.
século a.C. ao 10‘' século d.C.], a qual vem É que o calendário rabínico obedece ri
se
corroborar o que acabamos de demonstrar. gidamente 0 ciclo lunissolar, em que
No resumo de seu livro, informa-se que: verifica um adiantamento da lua em rela
ção ao sol de cerca de 2 horas (0,08685
Até o primeiro século d.C.. calendários lunares
dia) a cada 19 anos. De 358 d.C. até
judaicos tendiam a ser mais tardios em relação
ao ano.solar, e a Pà.scoa sempre ocorria depois do hoje, esse distanciamento do ciclo lunar
em relação ao ciclo solar já se acumulou
equinócio vernal. Lá pelo quarto século, intercala-
ções foram ajustadas de modo que a Páscoa passou em cerca
__ de 7 dias, o que significa que
a ser mais cedo [tradução e grifo nossos].-'’ as datas rabínicas já estão atualmente 7
dias mais tardias que no tempo de Hillel
Aqui temos um importante testemunho II. As datas caraítas, por sua vez, estão
proveniente de um erudito judeu moderno ficando possivelmente mais precoces por
sobre a descontinuidade do calendário causa do aquecimento global, que tem
rabínico em relação ao calendário judaico sido responsável pelo amadurecimento
praticado na antigüidade. cada vez mais cedo da cevada.
J. Neumann,do Departamento de Ciên
Rabínicos versus caraítas cias Atmosféricas da Universidade Hebrai
Nos últimos anos, a data mais precoce ca(Hebrew University),e R. M. Sigrist, da
Escola Bíblica(Ecole Biblique), ainbos de
para T de nisan no ciclo rabínico aconteceu
Jerusalém, após examinarem referências a
em 1994, com nisan começando em 12/13
datas de colheita da cevada nos tabletes de
de março. Em 2002,os caraítas começaram
argila da Mesopotâmia, afirmam que, no
o mês de nisan em 15/16 de março, apenas
período do Primeiro Império Babilônico
3 dias mais tarde que a data indicada pelo
sistema rabínico em 1994. (1800 a.C.- 1650 a.C.), tais colheitas ge
ralmente começavam no final de março ou
De acordo com o site do Movimento começo de abril, ao passo que, no período
Caraíta, as datas de T’ de nisan, definidas neobabilônico(600 a.C.-400 a.C.), época
com base nos critérios de observação do de Daniel e Esdras, elas começavam no
primeiro crescente e do amadurecimento final de abril ou em maio.
da cevada, entre 1999 e 2002, foram as
Segundo os mesmos pesquisadores,“em
seguintes:
nossa própria era, naquilo que foi uma vez a
1999- 17/18 de abril Babilônia central e norte,a colheita começa
2000 - 5/6 de abril na segunda metade de abril ou mais tarde.
Consequentemente, no L.O.B.P. [período
2001 - 26/27 de março do Primeiro Império Babilônico],a colheita
2002- 15/16 de março começava 10-20 dias mais cedo e no N.B.P.
90 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

[período do Império Neobabilônico] 10-20 se trata de uma seita judaica tardia, tendo
dias mais tarde que no presente”(tradução surgido no século 8 da era cristã. Não
nossa)"^. Isso parece indicar que o clima do representam, pois, uma tradição contínua
período do Primeiro Império Babilônico era desde os dias de Daniel, Esdras e Jesus.
mais quente que o do Império Neobabilô
Ademais, é oportuno corrigir aqui um
nico, e que o clima deste último era mais
conceito equivocado que se cristalizou no
frio que o da época atual.
imaginário popular adventista: o de que
Quando os caraítas atuais defendem exista um calendário caraíta assim
datas coincidentes com as do calendário como o é o calendário rabínico, o qual
rabínico, é evidente que sua análise está permita saber antecipadamente em que
afetada pelo aquecimento global. data juliana ou gregoriana cairá determi
nado dia e mês. Isso é absolutamente falso,
folhinha”
Um esquema ancorado no Céu pois não existe algo como uma
caraíta. Diferentemente do que ocorre no
Recentemente, a data de 22 de outubro calendário rabínico,a duração de qualquer
tem sofrído ataques da parte daqueles que, mês no sistema caraíta só é definida no seu
acreditava-se, eram seus originadores: os 29° dia: se o crescente lunar for detectado
caraítas. Em resposta a uma consulta feita ao pôr-do-sol, o novo dia dará início a um
por opositores da fé adventista, o caraíta novo mês, de modo que o mês corrente
Nehemia Gordon declarou que “o Yom Ki- ficará com 29 dias; não sendo detectado
ppur deve ter sido celebrado pelos caraítas mês corrente
o primeiro crescente, o
no final de setembro em 1844, de acordo avançará mais um dia,totalizando 30 dias.
com o ciclo rabínico dos 19 anos,e não no Da mesma forma, a necessidade ou nao
final de outubro”(tradução nossa)^*. da inserção do décimo terceiro mês no
Prímeiramente é importante ressaltar os sistema caraíta só é determinada no final
termos duvidosos com que Nehemia Gor do mês de adar, ao se examinar o estado
da cevada nos arredores de Jerusalem.
don expressa sua opinião (“deve ter sido
celebrado”). Evidentemente, ele não tinha estando propícia para sua colheita duas
acesso a nenhum documento de 1844 que semanas depois, na festa das primicias,
não se acrescenta o ve-adar; do contrario,
comprovasse a celebração do dia da expia-
ção em 23 de setembro pelos caraítas. insere-se o décimo terceiro mês.

Em segundo lugar, mesmo que os ca Alguns autores adventistas do sétimo


raítas tivessem começado o mês de tishri dia, distanciados da experiência millerita,
com a lua nova de setembro, isso pouco não têm prestado atenção a esse fato e
importaria, pois Ellen G. White não se acabam transmitindo a impressão de que
compromete com eles. Na verdade,o gran exista um calendário caraíta fixo e de que
de equívoco de muitos autores adventistas os milleritas se basearam nele ao escolher
até hoje tem sido o de superestimar a im a data de 22 de outubro. Todavia, nem os
portância dos caraítas para a sustentação mileritas, nem Ellen G. White fazem tal rei
da data de 22 de outubro. A relevância do vindicação. Por isso, quando os opositores
movimento caraíta para o adventismo está da fé adventista pedem que se lhes apresen
circunscrita aos seus princípios corretos te uma “folhinha” caraíta de 1844, estão
de organização do calendário, a saber, solicitando algo que nunca os milleritas ou
a observação real do primeiro crescente Ellen G. White disseram existir.
lunar e a constatação do amadurecimento Até mesmo o fator cevada madura deve
da cevada. Foram esses princípios que ter seu papel redimensionado ao se discutir
ajudaram os mileritas a localizar a data a posição dos mesesjudaicos dentro do ano
correta da expiação em 1844. Qualquer solar em 1844. Isso por dois motivos:
supervalorização dos caraítas para além
desses pontos fundamentais é desnecessá 1) Como foi dito há pouco, o aqueci
ria e imprópria,já que documentalmente mento global tem provocado um amadure-
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO?/91

cimento mais precoce da cevada em relação Parte 2: A centralidade da cruz no


ao que se verificava nas épocas de Daniel ESQUEMA CRONOLÓGICO DE 1844-DETER
e Esdras, o que têm propiciado uma apro MINANDO OS PONTOS DE INÍCIO, DE MEIO E
ximação das datas dos sistemas rabínico e
DE TÉRMINO DOS PERÍODOS PROFÉTICOS DE
caraíta nos anos mais recentes;
Daniel 8:14 e 9:24-27.
2)Desde a morte de Cristo em 31 d.C.,
caducou para sempre o sistema cerimonial “Um PREGO EM LUGAR FIRME
99

do templo judeu, não existindo razão al


guma para voltarmos nossa atenção para a Na primeira parte deste artigo,demons
cevada madura em Jerusalém ou em qual trou-se que 0 ciclo rabínico — em que se
quer outra parte do mundo. Paulojá decla estribam os opositores da fé adventista para
rara: “Guardais dias, e meses,e tempos,e denunciar a data de 22 de outubro como
anos. Receio de vós tenha eu trabalhado mero equívoco milerita — não concorda
em vão para convosco”(G14:10 e 11). De com o calendário judaico dos tempos de
fato, a partir de 31 d.C.,“o tempo oportuno Esdras e de Jesus ou com o calendário babi-
de reforma”,os crentes deveríam transferir lônico-persa dos dias de Daniel e de Ester,
sua atenção do santuário terrestre para o uma vez que, por vezes, para os mesmos
celestial, onde Cristo ingressou para mi anos, algumas fontes antigas situam os
nistrar como sumo sacerdote(Hb 9:9-12 e meses judaicos mais tardiamente, dentro
24). No meio da septuagésima semana da do ano solar, que o ciclo rabínico.
profecia de Daniel, cessou o sacrifício e Isso não significa que, apenas por conte
a oferta de manjares”(Dn 9:27; Mt 27:50 dessas inconsistências, a date do ciclo rabí
e51;Ef5:2;eHb 10:5-10). Portanto, não
nico para o dia da expiação em 1844(23 de
há razão alguma para uma preocupação setembro)deva ser sumariamente descarta
exagerada com a situação da cevada em da, mas sem dúvida coloca o sistema do qual
Jerusalém. Essa era uma tarefa para sacer
ela é dependente sob forte suspeição.
dotes, não para milleritas, ou adventistas,
ou quaisquer outros cristãos. Discutir se o sétimo mêsjudaico deveria
ter começado com a lua nova de setembro
É interessante notar que a mesma cruz ou com a lua nova de outubro com base no
que pôs fim ao sistema cerimonial judaico, amadurecimento da cevada naquela ocasião
tomando desnecessária uma maior preocu
é inócuo, pois não existem informações
pação com a situação da cevada em 1844, disponíveis sobre a situação da ceva a
também serve de âncora para o esquema nos arredores de Jerusalém na primavera
cronológico que conduz a 22 de outubro. de 1844. Os próprios mileritas foram
É a data da crucifixão (abril de 31 d.C.) suficientemente honestos em reconhecer
que sustenta as datas de início (outubro de esse fato."’
457 a.C.) e de término (outubro de 1844
d.C.)das 2.300 tardes e manhãs, pois, den Na verdade, a data de 22 de outubro
está ancorada na solidez de 31 d.C. como
tre os eventos preditos em Daniel 9:24-27,
ano da crucifixão de Cristo, para o qual
é o que possui os melhores dados da Bíblia
se verifica uma convergência singular de
e da história para sua localização. Fixando
a data exata da morte de Cristo, é possível dados bíblicos e históricos. Se o meio da
determinar também as datas dos outros septuagésima semana é fixado em 31 d.C.,
eventos vinculados cronologicamente 0 início das 70 semanas necessariamente
na profecia. Visto que a localização da será em 457 a.C. e o término das 2.300
data da cruz depende essencialmente da tardes e manhãs terá de ser em 1844.^°
astronomia, pode-se dizer que o esquema Seguindo o mesmo raciocínio,se a páscoa
cronológico sobre o qual se apóia a mensa da crucifixão (no primeiro mês judaico)
gem adventista está ancorado no céu. Esse caiu em abri/, tanto o início quanto o fim
tema será mais amplamente desenvolvido das 2.300 tardes e manhãs terão de ser em
a seguir. outubro, pois a morte de Cristo ocoitcu
92/ PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

69,5 semanas proféticas - ou 486,5 anos sua altitude e da diferença azimutal em


- depois que as 70 semanas começaram relação ao sol. O gráfico reproduzido na
(Dn 9:25 e 27): 0,5 ano corresponde a 6 página 108(imagem 15) é o da edição de
meses; 6 meses antes de abril dá em ou setembro de 1989.
tubro. Como bem disse M. L. Andreasen,
Cada círculo fechado representa um
autor do clássico adventista O Ritual do
crescente lunar que pôde ser visto e cada
Santuário,“o meio da semana que aponta círculo aberto indica uma lua nova que
0 tempo do sacrifício sobre a cruz” “é
foi procurada, mas que não foi vista. A
como um prego no lugar firme’(Is 22:23),
linha no meio do gráfico procura dividir,
ao qual” está amarrada “toda estrutura
aproximadamente,os casos que foram bem
cronológica da profecia e que também sucedidos dos que não o foram.
justifica a data de 1844. Remova-se ou
mude-se essa data” e não haverá “uma Com esses dados em mãos, é possível
âncora para o sistema cronológico culmi determinar a data exata da crucifixão em
nando em 1844”^'. termos do calendáriojuliano. Assim como na
primeira parte deste artigo, as si^ações as
A DATA DA CRUCIFIXÃO tronômicas envolvidas serão analisadas aqui
com base no software versão 2.0.
A certeza do ano 31 d.C. consiste no Para gerar as situações do calendáriojuliano,
fato de ser a única opção sustentáveP% será utilizado o programa Sky’ View Cafe.
dentro do período do governo de Pôneio
Para o ano 31 d.C., a obra Babylonian
Pilatos(26 d.C.- 36 d.C.)”, em que o 15
de nisan”, data judaica da crucifixão, caiu Chronology (p. 46) propõe o pôr-do-sol de
numa sexta-feira”. Tal foi o caso em 26/27 11 de abril para o início do primeiro mes.
de abril do ano 31. No entanto, quando os dados astronôrnicos
são cuidadosamente observados,percebe-se
Afim de se estabelecer a correspondên
que, ao pôr-do-sol do dia 11, a lu^ estava
cia entre as datas judaicas e o calendário muito baixa para ser detectada a olho nu.
juliano (ou o gregoriano), é necessário
averiguar em que dia o primeiro crescente Não é de admirar que a data proposta
o inicio do
lunar (lua nova eclesiástica) foi visível. por Parker e Dubberstein para
favorável.
Os principais fatores que determinam a primeiro mês não seja a mais
visibilidade do primeiro crescente são a pois na página 25 de Babylonian Chrono
diferença azimutal entre o sol e a lua e a logy eles admitem “que um certo numero
altitude da lua. Esses dois fatores combi de datas” em suas tabelas “podem estar
nados funcionam como os eixos x q y de erradas por um dia”.
um plano cartesiano.
Adotando o pôr-do-sol do dia seguinte
O azimute é a distância em graus, me (12/04/31), o crescente é perfeitamente
dida sobre o plano do horizonte, entre um visível. O azimute do sol era de 279 45
corpo celeste e o ponto cardeal norte. A 56” (ver imagem 16, p. 109) e o da lua,
diferença azimutal entre o sol e a lua revela de 275° 35’ 5” (ver imagem 17, p. 109),
a distância em graus entre esses dois corpos sendo a diferença azimutal, portanto, de
medida sobre o plano do horizonte. Quanto 4° 10’ 51”. A altitude da lua era de 22° 38’
maior a diferença azimutal, mais afastados 52”. Quando esses valores são aplicados
estarão o sol e a lua entre si. A altitude da ao gráfico da revista Sky^ & Telescope, fica
lua é a distância em graus entre o corpo evidente que a lua estava acima do limite de
celeste e a linha do horizonte. visibilidade (ver imagem 18, p. 110).
Nas edições de agosto de 1971,setem Definindo 12/13 de abril do ano 31 d.C.
bro de 1989 e julho de 1994, a respeitada como o primeiro dia do primeiro mês, o dia
36
revista de astronomia Sky & Telescope 15 de nisan cai em 26/27 de abril - de pôr-
publicou alguns gráficos que permitem do-sol a pôr-do-sol (ver imagem 19, p. 110,
avaliar a visibilidade da lua a partir de e imagem 20, p. 111).
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO?/93

Como pode ser demonstrado pela ima Retrocedendo 28.447 meses judaicos
gem do programa Sk}^ View Cafe^ o dia 27 desde o décimo dia do sétimo mês, chega-
de abril caiu numa sexta-feira, o que pre se obviamente a um dia 10, embora tal
enche perfeitamente o quadro cronológico método não permita determinar a que mês
dado pelo Novo Testamento: sexta-feira = esse dia pertence. O raciocínio é idêntico
15 de nisan (ver imagem 21, p. 111). ao que seria feito com base num calen
dário juliano-gregoriano. Por exemplo:
retrocedendo um mês desde o dia 22 de
Compreendendo a estrutura mate
outubro, chega-se ao dia 22 de setembro;
mática DA PROFECIA retrocedendo 12 meses,chega-se ao dia 22
Sendo conhecida a data exata da cruci- de outubro do ano anterior; retrocedendo
fixão (26/27 de abril do ano 31), basta re 28.447 meses, chega-se ao dia 22 de um
troceder 69,5 semanas proféticas ou 486,5 mês qualquer.Assim,fica matematicamen
anos para se chegar ao ponto de partida te demonstrado que o ponto de partida dos
2.300 anos é necessariamente o décimo dia
dos períodos proféticos de Daniel 8 e 9 e
depois avançar 2.300 anos para se chegar de algum mêsjudaico. A fi*ação de 0,0124
ao ponto correto indicado pela profecia mês corresponde a apenas 8,7888 horas,
valor bem inferior ao de um dia completo
para o dia da expiação em 1844. Mas isso
deve tomar como base o calendáriojudaico, (24 horas), sendo, portanto, insuficiente
lunissolar, no qual a data do dia da expiação para deslocar as extremidades do período
era fixada. Os parágrafos a seguir tentarão profético de dentro do dia da expiação. O
aclarar as relações matemáticas dos perío diagrama reproduzido na página 112(ima
dos proféticos entre si. gem 22) ajudará na compreensão de todo
esse raciocínio.
Para a realização dos cálculos, serão
adotados os valores do ano solar(365,2422 O INÍCIO E o FIM DAS 2.300 TARDES E
dias) e do mês lunar(29,53059 dias).^*
MANHÀS - CÁLCULO DO MÊS

O INÍCIO E o FIM DAS 2.300 TARDES E Descobrir o mês em que os 2.300 anos
MANHÃS - CÁLCULO DO DIA DO MÊS deviam começar exige que se raciocine
com base na seguinte constatação mate
Daniel 8:14 informa que, ao término mática e astronômica: após um ciclo de 19
das 2.300 tardes e manhãs, deveria ocorrer anos, os mesesjudaicos voltam a ocupar a
um evento de purificação do santuário. No mesma posição que tinham dentro do ano
cerimonial típico do Antigo Testamento, solar no começo do ciclo.^’
isso acontecia no décimo dia do sétimo
mês, quando o sumo sacerdote israelita Com isso em mente, depnvolve-se
entrava no lugar santíssimo do santuário o seguinte raciocínio: dividindo o total
de meses lunares existentes em 2.300
para purificá-lo dos pecados do povo (Lv
anos (28.447 meses) pela quantidade de
16:29; 23:27 e 32; 25:9; e Nm 29:7). Fi
mesesn lunares presentes em um ciclo
xando o término do período profético no
dia da expiação, basta retroceder 2.300 (235 meses"*®), chega-se ao total de ciclos
existentes em 2.300 anos: 121 ciclos + 12
anos para se localizar o ponto de partida
lunações (sobra).
do mesmo período.
Segue-se, então, o seguinte raciocínio: Retrocedendo 121 ciclos desde o
2.300 anos solares constituem 840.057,06 sétimo mês, chega-se naturalmente ao
dias (2.300 x 365,2422 = 840.057,06). sétimo mês. Retrocedendo ainda os 12
Dividindo esse valor pela quantidade de meses restantes, chega-se novamente ao
dias de um mês lunar, obtêm-se o total de sétimo mês.'*' Portanto, as 2.300 tardes e
meses lunares presentes em 2.300 anos, a manhãs têm de começar no sétimo mês
saber,28.447,0124(840.057,06 / 29,53059 do calendário judaico, o mês de tishri(ver
= 28.447,0124). novamente a imagem 22, p. 112).
94 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

O MEIO DA SEPTUAGÉSIMA SEMANA traçado até aqui. O ponto alto do dia da


- CÁLCULO DO MÊS expiação era a hora do sacrifício da tarde,
aproximadamente às 15h, quando o sumo
Do início das 70 semanas até a morte sacerdote saía do santuário, depois de tê-lo
do Ungido transcorreríam 69,5 semanas ou purificado, e abençoava o povo. Fixando
486,5 anos. Ficou demonstrado no subi- aí o início dos períodos proféticos, as 69,5
tem anterior que as 2.300 tardes e manhãs semanas atingem não a parte clara do dia
começam no sétimo mês do calendário 14, mas a noite do dia 15 (ver imagem 22,
judaico. Isso significa que as 70 semanas p. 112), na qual Jesus, após ter celebrado a
também se iniciam nesse mês, pois ambos última páscoa com os discípulos, instituiu
os períodos começam simultaneamente. a cerimônia que deveria comemorar sua
Avançando, então, 486 anos desde o morte pelos séculos por vir (ICo 11:23-
sétimo mês, chega-se também ao sétimo 26). Naquela mesma noite, Jesus passou
mês;e com os6 meses restantes,correspon pela terrível experiência do Getsêmani e
dentes à metade de um ano,pode-se chegar foi preso para ser crucificado.*’-
ao décimo terceiro mês ou ao primeiro mês,
já que o ano judaico podia contar com 12 Conclusão
ou 13 meses,dependendo do caso. O Novo As 2.300 tardes e manhãs começam e
Testamento registra que a morte de Jesus
terminam na datajudaica do Yom Kippur:o
ocorreu na época da Páscoa judaica, que
décimo dia do sétimo mês.As 69,5 semanas
era sempre celebrada no primeiro mês(Mc
se estendem do meio da tarde desse mesmo
14:12 e Lv 23:5 e 6). Fica claro, pois, que
dia até a noite do décimo quinto dia do pri
0 meio da septuagésima semana deveria
meiro mês(ver imagem 22, p. 112).
coincidir com o primeiro mês do ano ju
daico, o mês de nisan (ver novamente a
imagem 22, p. 112). Localizando o início e o fim das
2.300 TARDES E MANHÃS
o MEIO DA SEPTUAGÉSIMA SEMANA
Tomando a noite do dia 26 de abril do
- CÁLCULO DO DIA DO MÊS ano 31 d.C. como o meio da septuagésima
Não somente o ano e o mês,mas mesmo semana da profecia de Daniel, basta retro
ceder 177.690,3303 dias (corresponden
0 dia exato da morte do Salvador já esta
vam indicados em Daniel 9: 69,5 semanas tes às 69,5 semanas ou 486,5 anos) para
localizar o início do período. Subtraindo
proféticas equivalem a 486,5 anos; estes,
1 732.496,3720 (data juliana'’^ correspon
por sua vez, consistem em 177.690,3303
dente às 22h56 de 26 de abril de 31 d.C.,
dias (486,5 x 365,2422 = 177.690,3303),
a noite em que Jesus celebrou a páscoa e
nos quais há 6.017,1615 meses lunares
(177.690,3303/ 29,53959 = 6.017,1615). seguiu para o Getsêmani)por 177.690,3303,
obtêm-se 1.554.806,0417. Quando esse va
Desconsiderando-se, num primeiro lor é fornecido ao programa Redshift 2,a tela
momento, a fração (0,1615) e avançan apresenta o céu do dia 29 de outubro de 457
do apenas com o valor inteiro de 6.017 a.C., às 15h (ver imagem 23, p. 113).
meses lunares, chega-se ao décimo dia
Diante disso, basta apenas confirmar se
do primeiro mês. Caminhando 4,7692
28/29 de outubro foi realmente um dia da
dias, correspondentes a 0,1615 mês lunar
(0,1615 X 29,53059 = 4,7692), a partir expiação. Para tanto, seria necessário que
o pôr-do-sol do dia 19 de outubro tivesse
do décimo dia do primeiro mês, chega-se
marcado o início do sétimo mês(ver ima
ao décimo quarto dia desse mesmo mês,
que seria, então, o dia da crucifixão de gem 24, p. 113).
Cristo. Mas, o Novo Testamento aponta Nessa ocasião, o azimute do sol era
para o décimo quinto dia do primeiro mês de 260° 35’42”(ver imagem 25, p. 113)
como o dia da morte do Salvador, o que e o da lua, de 248° 6’ 49” (ver imagem
exige uma pequena correção no esquema 26, p. 114), sendo a diferença azimutal.
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? /95

portanto, de 12° 28’53”. A altitude da lua estivesse a uma grande altitude, sua dis
era de 11“ 51’43”. Embora esses valores, tância em relação ao sol era considerável,
quando projetados sobre o gráfico da permitindo sua visibilidade(ver imagem
revista Sky’ & Telescope^ coloquem a lua 32, p. 116).
praticamente em cima do limite de visibi A análise astronômica assegura que o
lidade, pode-se afirmar que as condições primeiro crescente foi visível ao pôr-do-
permitiam que o primeiro crescente fosse sol de 13 de outubro, o que faz de 13/14
visto (ver imagem 27, p. 114). Parker e de outubro o dia 1° de tishri, confirmando
Dubberstein também adotaram o pôr-do- 22/23 de outubro como o dia da expiação
sol desse dia para o início do mês,embora em 1844. Portanto, há sólido fundamento
tenham aplicado ao mês uma posição 44
dife no esquema profético e astronômico para a
rente na ordem dos meses do ano. data de 22/23 de outubro. Uma explanação
Tomando as 15h do dia 29 de outubro mais ampla e minuciosa do assunto pode
ser encontrada no site www.concertoeter-
de 457 a.C. como o ponto de partida dos
no.com ou no livro Chronological Studies
períodos proféticos de Daniel 8 e 9 e cami
nhando 840.057,06 dias(correspondentes Relatedto Daniel8:14 and9:24-27^ publi
aos 2.300 anos), chega-se às 16h26 do dia cado pela UNASPRESS.
23 de outubro de 1844 d.C.,em Jerusalém, Como foi dito brevemente, o começo
o que corresponde ao começo da manhã da manhã de 23 de outubro de 1844 d.C.
em Boston e Nova Iorque."*-^ Procede-se em Boston corresponde ao meio da tarde
6SS6 cálculo somando-se o total de dias do mesmo dia em Jerusalém. Foi possi
existentes em 2.300 anos (840.057,06 velmente nesse momento que o millerita
dias) à data juliana referente às 15h de 29 Hiram Edson teve sua famosa “visão do
de outubro de 457 a.C.(1.554.806,0417), milharal”, na qual diz ter visto os céus se
com o que se obtém o resultado de abrirem e Jesus entrar no santo dos santos
2.394.863,1017. Fomecendo-se esse valor do santuário celestial para receber o reino,
ao programa Redshift 2,a tela exibe o céu o domínio e a glória (Dn 7:13).'*^ Foi ali
de 23 de outubro de 1844, às 16h26 (ver que o cômputo profético das 2.300 tardes
imagem 28, p. 115). e manhãs se encerrou; e Deus, que nunca
Visto que as 2.300 tardes e manhãs pre Se permite ficar sem testemunhas,revelou
cisam terminar num dia da expiação, faz-se esse importante acontecimento para o
humilde fazendeiro. Pode-se dizer que foi
necessário avaliar se o dia 22/23 de outubro
ali, em certo sentido,que nasceu a teologia
podería ter sido o décimo dia do sétimo mês
adventista do sétimo dia, uma teologia não
naquele ano. Para tanto, o mês de tishri de
baseada na fantasia e na especulação, mas
vería ter começado ao pôr-do-sol do dia 13
na confiabilidade da Palavra de Deus, na
de outubro (ver imagem 29, p. 115).
inalterabilidade das leis naturais (Jr 31:35
Nessa ocasião, o azimute do sol era e 36)e na revelação divina(experiências de
de 26T 4’ 57” (ver imagem 30, p. 115) Hiram Edson e Ellen G. \^ite), podendo
e o da lua, de 24T 11’ 40”(ver imagem ser, por isso, considerada qual “âncora da
31, p. 116), sendo a diferença azimutal, alma”, “segura e firme”, um “firme fun
portanto, de 19° 53’ 17”. A altitude da damento”, estabelecida na fidelidade das
lua era de 9° 47’ 00”. Embora a lua não promessas de Deus(Hb 6:19; e 11:1).

Referências

'Um artigo publicado no The Muinight Or,de 3 que “o aniversário do dia da expiação será em 23 de
de outubro de 1844, afirmava que o dia da expiação outubro”. Na edição de 19 de outubro,o The Midni-
não podia “estar muito tora de 22 ou 23 de outubro”. ght Ciy trouxe a proclamação;“Eis que Ele vem! No
No mesmo periódico,em 12 de outubro, declarou-se décimo dia do sétimo mês,que corresponde a 22 ou
96 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

23 de outubro.”A data dupla,nesse caso,indica que o “ “A razão" para isso "é que as plantas usam
ciclo de 24 horas está sendo computado de pôr-do-sol seus relógios para sentir as estações, por meio do
a pôr-do-sol, segundo o método bíblico. comprimento do dia, garantindo que as flores nasçam
- Tudo indica que os mileritas basearam sua no tempo certo do ano. Algumas plantas, tais como
opção nos “relatos de muitos viajantes”,segundo os o trigo, florescem quando os dias ficam mais longos.
quais a cevada não era encontrada madura na páscoa Outras, tais como a cevada, florescem quando os
calculada pelo método rabínico, pois a “cevada não dias encurtam.”(“Molecules to Make Plants Tick.”
estava na espiga em Jerusalém até um mês mais tar New Scientist, n.“ 1.967 [Londres: Reed Business
de”{The Midnight Cry, de 11 de outubro de 1844). Information Ltd.,4 de março de 1995], 30,tradução
Um desses relatos é o testemunho de E. S. Colman, nossa). A Bíblia se refere aos frutos como “aquilo
em
um judeu convertido ao cristianismo e enviado como que o sol amadurece” (Dt 33:14), o que está
missionário à Palestina. Em seu artigo,escrito na Ter perfeita harmonia com a prática agrícola e com o
ra Santa em 1836 e publicado no American Biblical testemunho da ciência.
Reposiíory,de abril de 1840, p. 398 e seguintes, ele Momento do ano em que a luz solar atinge
afirma: “Nada como espigas de grãos verdes tenho os hemisférios norte e sul com o mesmo ângulo de
eu visto ao redor de Jerusalém na celebração dessa incidência.
festa. [...] Osjudeus caraítas a observam mais tarde ’ Outras fontes antigas que também situam os
que os rabínicos.”(Citado por J. V. Himes, S. Bliss, mesesjudaicos mais tardiamente dentro do ano solar
e A.Hale,no artigo “The Seventh Month Movement que o ciclo rabínico incluem os papiros encontrados
-Its History-Its Results- Defects in the Argument na colônia judia de Elefantina e os escritos de Euse-
- Our Position”, The Adventist Shield and Review, bio de Cesaréia. Infelizmente, o espaço deste a igo
janeiro de 1845, tradução nossa). Pode-se deduzir não permite que tais fontes sejam apresentadas e dis
do artigo de Colman que, por volta de 1836, os cutidas aqui. Uma análise mais completa do assunto
judeus caraítas estavam observando a páscoa mais será disponibilizada em breve no site http://www.
tarde que osjudeus rabínicos. Para maiores detalhes concertoetemo.com. .
sobre a matéria, ver o artigo “Karaite Reckoning vs. 8 Edward M. Reingold; Nachum Dershowitz,
Rabbanite Reckoning: Was October 22 the Right Calendrical Calculations, disponível em http:/ emr.
Date,or Was It September 23?”, no site http://www. cs.iit.edu/home/reingold/calendar-boo rs^ u„n.//
pickle-publishing.com. Já está disponível também numa nova \
^Números 28:11 e 14; 1 Samuel 20:5, 18, 19, emr.cs.iit.edu/home/reingold/calendar-boo
24, 27 e 34; e Isaías 66:23 vinculam o início do edition. Acessado em 01/03/2007. ,
niês à lua nova. A comparação de Números 10:10 ^ Roy E. Hoffman, Luna Cal 3.0 Beta 3, P -
com Salmos 81:3 reforça essa conclusão. Convém tível com Windows 95,98, Me, NT4-SP ou ,
notar, entretanto, que não se trata da lua nova 2000 e XP,disponível em http://www.geocmes_com/
astronômica (conjunção), pois esta, não sendo royhjl/software.htm, acessado em 01/ ●
10
visível, não se prestava como marco facilmente Marís Multimedia, Ltd, Redshift ,
identificável do início do mês; trata-se, antes, da patível com Windows 3.1, 95 1® ’
lua nova eclesiástica (primeiro crescente), que se Macintosh e Power Macintosh. Redshif -
fazia visível ao pôr-do-sol do dia da conjunção ou a teoria orbital D.E. 106. A precisão
dos dias subseqüentes. Filo de Alexandria(20 a.C. pode ser aferida pela comparação de suas e omen
-50 d.C.) afirma que “no tempo da lua nova, o sol com as fornecidas pelo site do Jet Propu ®
começa a iluminar a lua com uma luz que é visível boratory (Laboratório de Jato Propulsão da NAjiA.
aos sentidos, e então ela expõe sua própria beleza http://www.jpl.nasa.gov), que utiliza ^ ’
aos observadores” (Philo, The Works of Philo, http://ssd.jpl.nasa.gov/horizons.cgi. Acessa o em
Complete and Unabridged, New updated edition, 01/03/2007.
1“ ed.[Peabody, MA:Hendrickson Publishers,Inc., " Kerry Shetiine, Sky View Cafe 4.0 Beta, dis
1993], 572, tradução nossa). ponível em http://www.skyviewcafe.com/skyview.
^ Êxodo 9:31 e 32; Rute 1:22; 2:23; e 2 Samuel php, acessado em 01/03/2007.
12
21:9 e 10 confirmam que a cevada era o primeiro Abraham J. Sachs, Astronomical Diartes
grão a amadurecer no Egito e na Palestina. Essa é and Related Textsfrom Babylonia - completado e
a razão pela qual foi escolhida para compor o feixe editado por Herman Hunger, vol. 1 (Viena: Verlag
das primícias.Tanto Filo de Alexandria quanto Flávio der Ôsterreichischen Akademie der Wissenschaften,
Josefo se referem ao molho dos primeiros frutos da 1988),47.
cevada (Philo, The Works ofPhilo, 584; e Flavius Richard A. Parker; e Waldo H. Dubberstein,
Josephus,Antiquiíies oftheJews,livro 3,capítulo 10, Babylonian Chronology,626 B.C.-A.D. 75,“Brown
artigo 5, em The Works ofJosephus, Complete and University Studies”, vol. 19(Providence, R.I.: Brown
Unabridged, New updated edition [Peabody, MA: University Press, 1956). Esta obra é uma referência
Hendrickson Publishers, Inc., 1987], 96). padrão para historiadores, astrônomos e cronólogos.
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? /97

Lista os documentos cuneiformes que servem de base depois do equinócio do outono,que naquele ano caiu
para a determinação do início e do fim dos reinados em 22 de setembro.
19
dos soberanos babilônicos. persas e sírios, desde Flavius Josephus, The Wars ofthe Jews,livro
Nabopolassar até a anexação da Síria pelo Império 4,capítulo 11,artigo 4,em The Works ofJosephus,
Romano. Lista também os documentos que atestam Complete and Unabridged. New updated edítion.
a ocorrência de mês intercalar até a época de Arta- (Peabody, MA: Hendrickson Publishers, Inc.,
xerxes II. Além disso, apresenta uma reconstrução 1987),695.
20
provável do calendário babilônico-persa, com a E. J. Bickerman, Chronology ofthe Ancient
indicação do primeiro dia de cada mês, no intervalo World, ed. Rev (Londres: Thames and Hudson,
que se estende de 626 a.C. a 75 d.C. 1980), 207.
Flavius Josephus, The Antiquities oftheJews, Babylonian Talmud,Rosh Hashanah 21a,dis
livro 7, capítulo 14, parágrafo 7. em The Works of ponível em http://www.sacred-texts.com/judrindex.
Josephus, 208. htm, acessado em 01/03/2007.
22
“[...] e não tivesse sido nossa prática, dos dias Kenneth F. Doig, New Testament Chronology
de nossos antepassados, de descansar no sétimo dia, (Lewiston, NY: Edwin Mellen Press, 1990).
esse empreendimento não poderia ter sido realizado, A não-ocorrência de 1“ de nisan em data tão
em razão da oposição que os judeus teriam feito; baixa quanto 15 dias antes do equinócio pode ser
porque nossas leis permitem nos defendermos contra atestada por um exame cuidadoso das tabelas das
aqueles que começam a lutar conosco e nos assaltar, páginas 27-47 de Babylonian Chronology, para
entretanto não permitem nos intrometermos com 0 calendário babilônico-persa, e 157-159 de The
nossos inimigos enquanto eles fazem outra coisa. Chronology ofEzra 7(Siegfried H. Hom; e Lynn
Quando os romanos entenderam isso, naqueles dias H. Wood, The Chronology of Ezra 7, 2° ed„ rev.
que eram chamados ‘sábados’, eles não lançavam [Washington, DC: Review and Herald Publishing
nada contra os judeus, nem vinham para nenhuma Association, 1970]), para o calendário judaico em
batalha que lhes era travada, mas erguiam suas pla Elefantina [Egito]. No período abrangido por essas
taformas,e traziam suas máquinas para servirem-se tabelas, as datas realmente relevantes são aquelas
delas nos dias seguintes. [...] a cidade foi tomada em que a intercalação do décimo terceiro mês
no terceiro mês [do cerco], no dia do jejum, na está devidamente documentada por algum achado
centésima septuagésima nona olimpíada, quando arqueológico. No caso de Babylonian Chronology,
Caius Antonius e Marcus Tullius Cicero eram cônsules o catálogo dos documentos cuneiformes que iden
[...]”(Flavius Josephus, The Antiquities ofthe Jews, tificam os anos em que os meses intercalares foram
livro 14, capítulo 4, parágrafo 3. em The Works of inseridos ocorre nas páginas 4-9.
Josephus, 369, tradução nossa). “A prática de determinar o Ano Novo de
16 acordo com o Abib [cevada madura] é tão velha
Atos 27:9 se refere ao “tempo do jejum”. De
acordo com Levítico 16:29 e 31; e 23:27, 29 e 32, como a Torah. Nos tempos antigos, como hoje,
no dia da expiação osjudeus deviam “afligir as suas havia uma necessidade de anunciar que o abib fora
almas”,o que se aplica particularmente aojejum(ex.: encontrado, especialmente para aqueles no exílio,e
SI 35:13; e Is 58:3,5 e 10). Sobre a prática dojejum vários relatórios de abib antigos têm sobrevivido.
no dia da expiação, Josefo declara: “Entretanto, o O mais antigo relatório de abib remanescente data
sumo sacerdote não usava essas vestimentas em da última geração do período do segundo templo e
qualquer momento, mas[apenas] um vestuário mais é citado no Talmude.[...] Já que este relatório antigo
simples; ele somente as usava quando ele entrava na é um relatório rabínico de abib,ele reflete a mistura
parte mais sagrada do templo, uma só vez no ano; dos fatores de abib e de[outros fatores] não-bflílicos
no dia em que o costume é que todos observem um dessa seita. O relatório diz:‘Pois tem sido ensinado:
aconteceu uma vez que o mestre Gamaliel estava
jejum para Deus.”(Flavius Josephus, The Wars ofthe
Jews,livro 5,capítulo 5, parágrafo 7, em The Works sentando num degrau do Monte do Templo,e o bem
conhecido escriba Yohanan estava em pé diante dele
ofJosephus, 708, tradução nossa). Ver também The
Antiquities ofthe Jews,livro 17,capítulo 6, parágrafo com três folhas cortadas [de pergaminho] postas na
4; e livro 3, capítulo 10, parágrafos 2 e 3. sua frente.[O mestre Gamaliel disse]...tome a tercei
’’ Dio Cassius, Roman History, vol. 5, livro ra [folha] e escreva para nossos irmãos, os exilados
49, capítulo 22, artigo 7, Loeb Classical Library, da Babilônia e para aqueles na Média, e para todos
OS outros [filhos] exilados de Israel, dizendo: ‘Que
disponível em http://wvvw.penelope.uchicago.
edu/Thayer/E/Roman/Texts/Cassius_Dio/49*.html, sua paz possa ser grande para sempre!Pedimos para
acessado em 01/03/2007. informar que as pombas ainda estão tenras e os cor
"* Em 63 a.C., o dia da expiação(23/24 de outu deiros ainda estão muito jovens e o abib ainda não
bro)ocorreu 28 dias depois do equinócio do outono, está maduro. Parece aconselhável para mim e para
que naquele ano caiu em 26 de setembro. Em 1844, meus colegas adicionar trinta dias para este and’'
o dia da expiação(22/23 de outubro)ocorreu 31 dias (tradução nossa). Ancient Abib Reports, disponível
98 / PaROUSIA - r SEMESTRE DE 2007

no site oficial do movimento caraíta: http://www. do batismo e da crucifixão de Cristo, bem como do
karaite-komer.org, acessado em 01/03/2007. apedrejamento de Estevão. Ellen G. White afirma:
“Sacha Stem é doutor em Filosofia na área de “Até aqui, cumpriram-se de maneira surpreendente
Estudos Judaicos pela Universidade de Oxford e todas as especificações das profecias e fixa-se o início
chefe de Departamento da London School ofJewish das setenta semanas, inquestionavelmente, no ano
Studies. Para maiores informações biográficas sobre 457 antes de Cristo, e seu termo no ano 34 de nossa
0 Dr. Sacha Stem, ver o seguinte endereço; http:// era. Por estes dados não há dificuldade em se achar
www.ucl.ac.uk/hebrew-jewish/aboutus/stem.php, o final dos 2.300 dias. Tendo sido as setenta sema-
acessado em 01/03/2007. nas - 490 dias - separadas dos 2.300 dias, ficaram
26
Disponível em http://www.oxfordscholarship. restando 1.810 dias. Depois do fim dos 490 dias os
com/oso/public/content/religion/9780198270348/ 1.810 dias deveríam ainda cumprir-se. Contando do
toc.html, acessado em 01/03/2007. O acesso ao ano 34 de nossa era, 1.810 anos se estendem a 1844.
conteúdo completo do livro é pago. Conseqüentemente. os 2.300 dias de Daniel 8:14
27 terminam em 1844. Ao expirar este grande período
J. Neumann;e S. Sigrist, Harvest dates in an-
cient mesopotamia as possible indicators ofclimatic profético, “o santuário será purificado . segundo
variations, disponível em http;//www.springerlink. o testemunho do anjo de Deus. Deste modo foi
com,acessado em 01/03/2007.0 acesso ao conteúdo definitivamente indicado o tempo da purificação do
do artigo é pago. santuário, que quase universalmente se acreditava
“ Robert K. Sanders, Day ofAtonement ofthe ocorresse por ocasião do segundo advento”(Ellen G.
KaraiteJews in 1844,disponível em http://www.tm- White, O Grande Conflito, 36‘‘ ed.[Tatuí, SP: Casa
thorfables.com/Day_of_Atonement_of_the_Karaite. Publicadora Brasileira, 1988] 328).
htm, acessado em 01/03/2007. M. L. Andreasen. Letters to the Churches
29 Books. Inc.), 39.
Que os mileritas não dispunham de informação (Payson, AZ: Leave.s-of-Autumn
específica acerca da situação da cevada em Jemsalém Disponível em http://br.geocities.com/cartas_andre-
no ano de 1844,fica evidente pelo exame da literatura asen, acessado em 01/03/2007.
adventista da época;“Neste ano,a primeira lua cheia Visto que a duração do ministério de Cristo
veio em 3 de abril; e se então a cevada estava madura, foi de 3,5 anos(Dn 9:27; e Lc 13:6-9) e que o ano
e a páscoa verdadeira[foi]então celebrada; ou se não 26 d.C. é a data mais recuada no tempo em que o
foi observada até a lua seguinte,nós não temos meios mesmo poderia ter iniciado(na verdade,o ministério
certos de saber. Como a primeira lua cheia veio tarde de Cristo começou no outono de 27 d.C.), po em
este ano, é provável que os Caraítas observaram a ser excluídas como opções para o ano da cruci xão
páscoa então, a menos que a cevada estivesse mais as datas de 26, 27, 28 e 29. Dos anos restantes da
tardia que o comum.Sefoi assim, segue-se que nós administração de Pilatos(26 d.C.-36 d.C.),apenas o
em breve estaremos no sétimo mês”(Advent Herald, ano 31 d.C. admite um 15 de nisan numa sexta-feira.
11 de setembro de 1844,tradução e grifo nossos).“É Os anos 30 d.C. e 33 d.C., que têm sido sugeridos
[algo] extraordinário que a páscoa, neste ano, deva por autores católicos e protestantes, admitem um 14
15 de nisan.
ter sido celebrada em 4 de maio, de acordo com o de nisan, mas de maneira alguma um
computo que nós temos adotado, baseado na crença numa sexta-feira.
33
Todos os anos do ministério de Jesus estão
de que o calendário rabínico está um mês mais cedo"
(Midnight Cry,7 de novembro de 1844, tradução e inseridos no governo de Pôncio Pilatos(Lc 3.1, 2,
grifo nossos).“[...]como o tempo,quando a colheita 21 e 22; 23:1-7; e 13-25). De acordo com Flavio
sen-
amadurecia, deve variar segundo a temperatura da Josefo,Pilatos governou a Judéia por dez anos,
estação, e outras circunstâncias, é óbvio que, para do depois enviado a Roma para se justificar perante
Tibério dos maus tratos infligidos aos samaritanos.
definir quando o primeiro mês caraíta começou,nós
devemossaber em que período a seara da cevada es “Mas quando esse tumulto foi acalmado, o senado
tava madura em Jerusalém em 1844.Se nós tivermos samaritano enviou uma embaixada a Vitélio, o qual
esse fato,então nós podemos saber quando o sétimo tinha sido cônsul, e que era agora o governador da
Síria, e acusou Pilatos de assassinato; pois eles
mês começou,e,certamente,com que dia em nosso
calendário o décimo dia coincidiría. Mas, não será não foram a Tirathaba a fim de se revoltar contra
dada a impressão de que, antes de outubro último, os romanos, mas para escapar da violência de
nós tínhamos recebido qualquer informação quanto Pilatos. Então Vitélio enviou Marcelo, um amigo
ao período da colheita da cevada em Jemsalém" seu, para cuidar dos negócios da Judéia, e ordenou
{The Morning Watch,6 de março de 1845, tradução que Pilatos fosse a Roma, para responder perante
e grifo nossos). o imperador pela acusação dos judeus. Assim, Pi
Ellen G. White também estava ciente de que latos, quando tinha completado dez anos na Judéia,
são as datas de meio(batismo e morte de Jesus)que apressou-se para Roma, e isso em obediência às
sustentam as datas de início e defim do esquema ordens de Vitélio, que ele não ousou contradizer;
cronológico de Daniel 8:14 e 9:24-27. Depois de falar mas antes que pudesse chegar a Roma, Tibério
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? /99

havia morrido" (Flavius Josephus. Antiquities of do evangelho de João, ou nas circunstâncias das
the Jews, livro 18, capítulo 4, artigo 2, em The próprias ocorrências que,após uma bem equilibrada
Works ofJosephus. 482, tradução e grifo nossos). interpretação,requeira ou permita que creiamos que
Suetônio, historiador romano do primeiro século, o discípulo amado tenha tencionado ou corrigir ou
informa que Tibério “morreu... com setenta e oito contradizer o testemunho explícito e inquestioná
anos de idade e vinte e três de reinado,aos dezessete vel de Mateus, Marcos e Lucas (o testemunho de
dias antes das calendas de abril, sob o consulado de que Jesus e seus discípulos comeram a refeição da
Cnéio Acerrônio Próculo e de Caio Pôncio Nigrino” páscoa no dia regular, conforme citado no Lange’s
(Suetônio, A Vida dos Doze Cé.sares, 2“ ed. reform. Commentary,in loc.)’”(Russell Norman Champlin,
[São Paulo,SP: Ediouro,2002], 130). Pela listagem O Novo Testamento Interpretado Versículo por
de E. J. Bickerman, em Chronology'ofthe Ancient Versículo [Guaratinguetá, SP: Sociedade Religiosa
World, Cnéio Acerrônio Próculo e Caio Pôncio A Voz Bíblica Brasileira], 600). A suposição de que
Nigrino exerceram seu consulado em 37 d.C. O a morte de Cristo tinha de ocorrer no mesmo dia
décimo sétimo dia antes das calendas de abril é 16 em que o cordeiro pascal era imolado é apressada e
de março. Portanto, a morte de Tibério ocorreu em superficial, pois Cristo também era representado por
16 de março de 37 d.C. Levando em consideração todos os outros animais sacrificados no cerimonial
a distância existente entre Jerusalém e Roma e que judaico, mas nem por isso, por exemplo,Ele teve de
Tibério já havia morrido quando Pilatos chegou à ser crucificado no dia da expiação, quando o bode
cidade imperial, o término de seu governo pode ser expiatório era imolado.Ellen G.White confirma que
situado no final de 36 d.C. ou no começo de 37 d.C. “no dia em que a páscoa era comida, Ele [Cristo]
Como ele esteve à frente dos negócios da Judéia devia ser sacrificado”(Ellen G. White, O Desejado
por dez anos, o início de sua administração pode de Todas as Nações, 19“ ed.[Tatuí, SP: Casa Publi-
ser fixado no final do ano 26. cadora Brasileira,1995j,642,grifo nosso). Apáscoa
34
Alguns têm interpretado erroneamente certas era comida já no dia 15 de nisan, que foi, portanto,
declarações do evangelho de João e sugerido que a a data judaica da crucifixão. Uma discussão mais
crucifixão tenha ocorrido em 14 de nisan, porém os exaustiva do assunto, inclusive quanto ao cumpri
sinóticos não deixam dúvida de que a data correta é mento antitípico do festival das primícias, símbolo
15 de nisan. Seguindo o ritual prescrito pela Lei, os da ressurreição de Cristo, o qual era celebrado o
discípulos prepararam a páscoa na tarde de quinta- dia imediato ao sábado”(Lv 23:12), o primeiro a
feira(14 de nisan)e a comeram depois do pôr-do-sol, da semana, pode ser encontrada no site http./
já nas primeiras horas da sexta-feira bíblica (15 de concertoetemo.com ou no livro Chronological Stu-
nisan). Ver Mateus 26:17 e20; Marcos 14:12 e 17; e dies Related to Daniel 8:14 and 9:24-27.
35
Lucas 22:7 e 14. A expressão “preparação da páscoa” Mateus 27:62; Marcos 15:42 (ver tambern
João 19:14 e 31
em João 19:14 se refere simplesmente à sexta-feira 16:1 e 2); Lucas 23:54-24:1; e
numa sexta-feira,
da semana da páscoa, pois o dia que precedia o sá atestam que a cracifixão ocorreu . Ver
bado era conhecido como “dia da preparação”(Mt cujo nome bíblico era o “dia da preparação
27:62; 28:1; e Lc 23:54-56; cf. Ex 16:5, 22, 23 e Êxodo 16:22-30. .
36
29). O sábado após a morte de Cristo pode ter sido Sky & Telescope Magazine(Cambridge, MA.
considerado um “sábado grande”(Jo 19:31)apenas New Tract Media Company).Disponível também em
por ter ocorrido dentro da semana dos pães asmos e versão online, no endereço: http://skyandtelescope.
com. Acessado em 01/03/2007.
não devido a uma suposta sobreposição de um sábado
semanal com uma festa cerimonial. Por fim, João O azimute do sol era de 279“ 16’31”e o da lua,
de 276“6’54”,sendo a diferença azimutal,portanto,
18:28 não precisa ser interpretado em desarmonia
de 3“ 9’ 37”. A altitude da lua era de 11“ 28’47”. A
com os sinóticos, no sentido de que a páscoa teria
lua estava abaixo do limite de visibilidade.
sido celebrada na noite de sexta para sábado, pois
talvez os sacerdotes não tivessem participado da ceia Visto que o calendário judaico depende tanto
por terem estado envolvidos na prisão e julgamento do sol(por causa do amadurecimento da cevada,es
de Jesus e ainda pensassem em comê-la antes que o sencial para a festa das primícias)quanto da lua(por
causa do início do mês na lua nova), os conceitos e
dia avançasse. Jesus deixou claro que aquela refeição
valores de ano solar e de mês lunar(lunação)devem
de quinta-feira à noite era uma ceia pascal(Lc 22:15).
Para que a crucifixão ocorresse em 14 de nisan,Jesus ser aplicados aos períodos proféticos, pois estes estão
deveria ter antecipado a celebração da ceia, o que atrelados às datas de festasjudaicas(o 15 de nisan e o
Ele não estava na liberdade de fazer, pois veio para 10 de tishri),fixadas na base do sistema lunissolar. Os
cumprir a lei (Mt 5:17 e 18; e Gl 4:4). “Após exa valores do ano trópico(solar)e do mês sinódico(lu
minar criteriosamente todo esse problema, Robinson nar)são fornecidos pelo The Astronomical Almanac
declarou qual a sua conclusão a respeito:‘Após repe for the Year 1995(Washington,DC:Nautical Alma
tida e calma consideração, na minha mente repousa nac Office of the United States Naval Observatory.
a firme convicção de que nada existe, na linguagem Londres: Her Majesty’s Nautical Almanac Office of
100 / PaROUSIA - 1“ SEMESTRE DE 2007

the Royal Greenwich Observatory). calendário juliano. consiste numa escala, idealizada
Em outras palavras, isso quer dizer que uma pelo astrônomo Joseph Scaliger. cujo objetivo é indi
data do calendário Judaico só volta a coincidir com vidualizar cada momento por um número diferente.
o mesmo ponto do ano solar após um período de 19 Assim, meio-dia(12h)de T de Janeiro de 4713 a.C.
anos. Exemplo:se,num determinado ano, 1“ de nisan (ponto inicial do período)é identificado pelo número
cair em 21 de março(equinócio atual),o mesmo só se 0,0000; 12h01 desse mesmo dia Já é representado
repetirá 19 anos depois. Isso ocorre porque 19 anos pelo número 0,0007; 12h do dia 2 de Janeiro têm
solares possuem praticamente o mesmo número de como designação o número 1,0000. Para se obter a
dias de 235 meses lunares, que é o total de lunações data Juliana de um dado momento, pode-se utilizar
presentes em 19 anos. A diferença é mínima: um o excelente programa de conversão disponível neste
excesso de 0,08685 dia(ou de 2,0844 horas)do ciclo endereço: http://aa.usno.navy.mil/data/docs/Julian-
lunar sobre o ciclo solar. Date.html, acessado em 01/03/2007.
44
Em cada ciclo de 19 anos, 12 anos são de 12 O The Seventh-day Adventist Bible Commen-
meses e 7, de 13. Logo, 19 anos lunissolares perfa fary, vol. 3, p. 108 e 109, reproduzindo as tabelas
zem 235 meses lunares(12x 12 + 7 x 13 = 235). de Hom (p. 158)e de Parker e Dubberstein (p. 32),
41 situa o mês de tishri em setembro e não em outubro
Em 2.300 anos, há 121 ciclos completos de
19 anos e mais 12 meses lunares. Após 2.299 anos no ano de 457 a.C. Evidentemente, essa opção não
(que correspondem aos 121 ciclos), a diferença de + se coaduna com o Yom Kippur em 22/23 de outubro
2,0844 horas se acumula em + 10,50885 dias(2,0844 no ano de 1844, pois o término dos 2.300 anos nessa
X 121 = 252,2124 - 24 = 10,50885). Isso significa data requeriria que o início do período também
que o esquema lunissolar está terminando dez dias tivesse ocorrido num mês de outubro. Todavia,
depois do esquema puramente solar. No entanto, nem Horn, nem Parker e Dubberstein apresentam
funda-
avançando mais um ano(os 12 meses de sobra),essa qualquer documentação contemporânea para
diferença é corrigida, pois o ano puramente solar é mentar sua opção por um tishri em setembro no ano
cerca de 10 dias maior que o ano lunar(354,36708 de 457 a.C. Existe a possibilidade de que um décimo
-365,2422 = -10,87512). terceiro mês tivesse sido intercalado no final do ano
42
Foi na noite anterior à crucifixão que Jesus babilônico correspondente a 458/457 a.C., deslo-
exclamou: “Pai, é chegada a hora” (Jo 17:1). Foi cando tishri para um mês mais tarde em 457 a.C. A
também nessa noite que Jesus confirmou sua decisão sugestão de Parker e Dubberstein quanto a um mes
de se oferecer pela raça pecadora(O Desejado de intercalar no final do ano babilônico correspondente
Todas as Nações,690 e 693). Ellen G. White também a 457/456 a.C. não está amparada em documentação
anos 14[591/590
enfatiza a noite como ponto decisivo: “A morte do da época. Por outro lado, para os
cordeiro pascal era sombra da morte de Cristo. Diz a.C.] e 33 [572/571 a.C.] de Nabucodonosor (p.
Paulo:‘Cristo, nossa páscoa,foi sacrificado por nós’ 28) e 3 [553/552 a.C.] de Nabonido (p. 29), que
(ICo 5:7). [...] Aqueles símbolos se cumpriram, correspondem ciclicamente a 458/457 a.C.(a cada
não somente quanto ao acontecimento mas também 19 anos,as datas do esquema lunar voltam a ocupar
quanto ao tempo. No dia catorze do primeiro mês praticamente a mesma posição dentro do ano solar),
Judaico,no mesmo dia e mês em que,durante quinze Babylonian Chronology> apresenta documentação
longos séculos, o cordeiro pascal havia sido morto. arqueológica para a inserção de mês intercalar que
Cristo, tendo comido a páscoa com os discípulos, Justifique um tishri em outubro e não em setembro
instituiu a solenidade que devería comemorar sua de 457 a.C. Há, pois, razoável apoio documental
própria morte como o ‘Cordeiro de Deus que tira na cronologia babilônica das épocas de Daniel e de
..
o pecado do mundo’. Naquela mesma noite Ele Jesus para se posicionar o mês de tishri em outubro,
foi tomado por mãos ímpias, para ser crucificado no caso, de 1844.
45
e morto” {O Desejado de Todas as Nações, 399, A hora do sacrifício da tarde ocupa posição de
even¬
grifo nosso). Daniel 9:27 afirma que no “meio da destaque na história bíblica, pois nela ocorreram
tos particularmente importantes,dentre os quais podem
semana” o Ungido faria “cessar o sacrifício e a oferta
de manjares”. Na ceia pascal, “Cristo se achava no ser citados, a título de exemplificação, o sacrifício do
ponto de transição entre dois sistemas e suas duas cordeiro pascal (Êx 12:6), o fogo que desceu do céu
grandes festas”(O Desejado de Todas as Nações, sobre o altar de Elias(IRs 18:26, 27, 29, 36 e 38), a
652, grifo nosso). Ellen G. White também assevera revelação das 70 semanas(Dn 9:21)e o fim da agonia
que “quando comeu a páscoa com seus discípulos, de Jesus sobre a cruz(Mt 27:46,47 e 50). A “visão do
Ele pôs umJim aos sacrifícios que por quatro mil anos milharal” possivelmente ocorreu no mesmo momento
tinham sido oferecidos” (Ellen G. White, em The do sacrifício da tarde em Jerusalém, pois a diferença
Seventh-day Adventist Bible Commentary, 5:1139, de sete fusos horários faz com que as 8h da manhã em
ed. rev.[Washington,DC:Review and Herald, 1976], Boston(ou 7h em Port Gibson,onde Edson vivia)cor
tradução e grifo nossos). respondam às 15h em Jerusalém.Em Jerusalém,o 10 de
O período Juliano, que nada tem a ver com o Tishri se estendeu do pôr-do-sol do dia 22 ao pôr-do-sol
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? / 101

do dia 23 dc outubro. Em Boston, o dia da expiação, saído do santíssimo do santuário celestial para virá
calculado pelo horário de Jenisalém. estendeu-se de Terra no décimo dia do sétimo mês, no término do
cerca de 1 Oh 15 da manhã do dia 22 a cerca de 1 Oh 15 da 2.300 dias, neste dia, Ele havia entrado pela primei
manhã do dia 23 de outubro[vale lembrar que o sistema ra vez no segundo compartimento desse santuário,e
de fiisos horários, como é conhecido hoje, dividindo o que Ele teria uma obra a fazer no lugar santíssimo
mundo em 24 zonas, de 15" cada, só foi proposto em antes de vir à Terra. Nesta data, Ele havia entrado
1878 e aceito intemacionalmente depois de 1884]. nas bodas;em outras palavras, diante do Ancião de
Portanto, nos EUA, o dia da expiação calculado por Dias, a fim de receber um reino, domínio e glória;
Jerusalém ocorreu mais para dentro do dia 22 do que do e que nós devemos esperar por seu retomo das
dia 23.0 ponto alto do dia da expiação era o sacrifício bodas; e minha mente foi dirigida para o capítulo
da tarde, quando o sumo sacerdote, tendo completado 10 de Apocalipse; onde eu pude ver que a visão
o ritual prescrito para a purificação do santuário, saía havia falado e não mentiu; o sétimo anjo havia
e abençoava o povo. É bem apropriado, pois, que as começado a fazer soar sua trombeta; nós tínhamos
2.300 tardes e manhãs se estendam do meio da tarde comido 0 livrinho; tinha sido doce em nossa boca,
do dia 10 de tishri em 457 a.C. ao meio da tarde de 10 e agora tinha se tomado amargo em nosso estôma
de tishri em 1844. go, amargando todo o nosso ser. Que nós devemos
46 profetizar outra vez, etc., e que quando o sétimo
Segue-se o trecho do manuscrito de Hiram
anjo começou a tocar, o templo de Deus foi aberto
Edson que descreve a experiência: “Nossas ex
no Céu, e lá foi vista em seu templo a arca de seu
pectativas eram muito grandes, e assim estivemos
testamento,etc. Enquanto eu me encontravaparado
esperando a vinda de nosso Senhor até que o relógio
no meio do campo, meu companheiro havia seguido
badalou as 12 batidas da meia-noite. O dia havia
caminhando quase mais que o alcance da voz,antes
acabado e nosso desapontamento tornou-se uma
de perceber que eu não o acompanhava. Quando
certeza. [...] Choramos e choramos até o amanhe
me perguntou por que me havia detido por tanto
cer [...] Comecei a sentir que deveria haver luz e
tempo,eu respondi:‘O Senhor estava respondendo
ajuda em nossa angústia presente. Disse a alguns
à nossa oração matutina, dando-nos luz sobre o
irmãos: ‘Vamos ao galpão’. Entramos no celeiro,
desapontamento.”’ Fragmento de um m^uscnto
fechamos as portas e nos inclinamos diante do
não datado de Hiram Edson, mantido no Hentage
Senhor. Oramos ferventemente porque sentíamos
Room da Andrews University Library, traduçao e
nossa necessidade. [...] Depois do desjejwn disse a Internet no endereço:
um de meus irmãos:‘Vamos visitar e animar alguns grifo nossos, disponível na ● j/r» foo
http://www.sdadefend.com/sdadefend-old/Oct22.
de nossos irmãos.’ Assim o fizemos,e.fui detido na
htm, acessado em 01/03/2007.
metade de um campo extenso, que cruzávamos. O
céu pareceu abrir-se diante de mim,e vi distinta e
claramente que,em vez de nosso sumo sacerdote ter
102 / PaROUSIA - 1° SEMESTRE DE 2007

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23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? / 103

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104 / PaROUSIA - 1® SEMESTRE DE 2007

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23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? / 105

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106 / PaROUSIA - 1“ SEMESTRE DE 2007

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23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? / 107

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108 / PaROUSIA - r SEMESTRE DE 2007

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Nachum Dershow-itz Edward M. Relngold
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23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? / 109

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110 / PaROUSIA - 1” SEMESTRE DE 2007

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Imagem 2i{Sky J'lew Cafe)


112 / PaROUSIA -1° SEMESTRE DE 2007

Cálculo do Dia do Mês


2.300 tardes e manhãs = 2.300 dias = 2.300 anos
2.300 anos x 365,2422 dias = 840.057,06 dias
840.057,06 dias -r 29.53059 dias = 28.447,0124 meses lunares
0,0124 mês lunar x 29.53059 dias = 0,3662 dia
0,3662 dia x 24 horas = 8,7888 horas
*Obs.1: ano solar = 365,2422 dias
*Obs.2: mês lunar = 29,53059 dias

1Õ^ Í0°/7°|
Cálculo do Mês
28.447 meses lunares = 121 ciclos[de 19 anos] 12 meses lunares [de sobra]
121 ciclos X 235 meses lunares = 28.435 meses lunares
*Obs.: cada ciclo de 19 anos contém 235 meses lunares
10°/7°| 10°/7°|

Cálculo do Dia do Môs


7 semanas + 62 semanas + 0,5 semana = 69,5 semanas
69,5 semanas x 7 dias = 486,5 dias = 486,5 anos
486,5 anos x 365,2422 dias = 177.690,3303 dias
177.690,3303 dias + 29,53059 dias = 6.017,1615 meses lunares
0,1615 mês lunar x 29,53059 dias = 4,7692 dias

6.017 lunaçSes 4,7 dias

Cálculo do Mês
69,5 semanas = 486,5 dias = 486,5 anos
486,5 anos = 486 anos +6 meses

486 anos 6 moses

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7semanas + 62 semanas ou 69 semanas ou 483 anos ou 7 anos

ENTENDENDO O GRAFICO:
1. Cálculo do Dia do Môs.Em 2.300 anos há 28.447 meses completos. Retrocedendo 28.447 meses desde o dia 10
do sétimo mês(Tishrí),chega-se evidentemente ao dia 10de algum mês.
2. Cálculo do Môs.Em 2.300 anos há 121 ciclos completos de 19 anos e mais um ano de 12 meses. Depois de um
ciclo completo, os meses judaicos voltam a ocupar a mesma posição dentro do ano solar em que estavam no
começo do ciclo. Retrocedendo 121 ciclos desde o sétimo mês, chega-se naturalmente ao sétimo mês.
Retrocedendo ainda os 12 meses restantes,chega-se novamente ao sétimo môs.
3. Cálculo do Dia do Môs. Em 486,5 anos há 6.017,1615 meses lunares. Avançando 6.017 meses lunares desde o
dia 10 do sétimo mês,chega-se ao dia 10 de algum mês.Avançando 4,7 dias, equivalente a 0,1615 mês,chega-
se ao dia 15.
4. Cálculo do Môs. Avançando 486 anos desde o sétimo mês, chega-se ao sétimo mês. Avançando 6 meses,
equivalente a 0,5ano,chega-se ao primeiro mês(Nisan).
Conclusão.As 2.300 tardes e manhãs começam e terminam na data anual da Festa da Expiação e as 69,5 semanas
proféticas, começando à hora do sacrifício da tarde dessa mesma data, avançam até a noite de 14 para 15 de Nisan,
quandoo sacrifício pascal era comido.

Imagem 22(gráfico)
23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? / 113

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23 DE SETEMBRO OU 22 DE OUTUBRO? / 115

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116 / PaROUSIA - 1“ SEMESTRE DE 2007

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Chegou a revista eletrônica que você precisava para manter 0 seu ministério
atualizado. Por meio de artigos, pesquisas bíblicas, resenhas de livros,
entrevistas e notícias você encontra informação e conhecimento num só endereço.

www.unasp.edu.br/kerygma
A crença de que o Israel nacional tem um papel essencial no
cumprimento profético dos eventos finais baseia-se na
interpretação dispensacionalista das Escrituras. Esta escola entende
as profecias de forma literalista e abre caminho para inúmeras distorções
hermenêuticas. Há diversos sites populares na internet,, a mair>*^ia deles
disponibilizados por evangélicos fundamentalistas americatios, que
defendem de forma dogmática o lugar de Israel no quadro profético. O dia 14
de maio de 1948, quando a nação de Israel ganhou reconhecimento dos
Estados Unidos e das Nações Unidas, em 24 horas, tornou-se ama data
celebrada por estes crentes,com o status de marco profético do fim dos tempos.
Tem Israel um papel decisivo nos eventos escatológicos? Como se
mlacionam a igreja cristã e o conceito de um povo de Israel escoltiido por
eus? Quais as implicações da crença num Israel nacional para a no^a aliança
umversal estabelecida com a morte de Cristo?
A
^ questão não é se Israel deve existir como uma nação, rnas se a
existencia e srael como uma nação no território Palestino representa um
cumprimento
com as profético. Os vários artigos desta edição de Parou^ía tratam
1- . fundamentais envolvidas na hermt^íiêutica
ispensacjonahsta.entre elas, a dicotomia entre Israel e a igreja, o cq^^ceito de
Israel e o futuro escatolog.co. Com mais esta edição temática Parou^a avança
no cumprimento de sua missão no <if^r,úAr. v
●1-1 , ● ~ ^ sentido de defender e apreserttar uma
equilibrada visao bíbbca que valoriza as FsrriM,*-^ < - r ,
interpretativa. Escrituras como sua prof,,rJa fonte

SEMINÁRIO ADVENTISTA
Latino-americano de Teologia

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