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Pregação

Homem &Método
Um estudo intensivo da pregação
e entrega de sermões

Stafford North
Vice-Presidente Executivo do
Oklahoma Christian College

t-----Y P ^ X
EDITORA VI DALa ÍCRISTÃ
DEDICATÓRIA

O autor dedica este trabalho a todos os fiéis


proclamadores da Palavra no Brasil, quer es­
trangeiros ou brasileiros, quer trabalhem em
tempo integral ou meio-período, quer preguem
num bonito prédio na cidade a um grande
número de pessoas ou a alguns poucos ao ar
livre. A tarefa mais importante que Deus nos
delegou foi “pregar a Palavra”. Que Ele possa
conceder a todos a compreensão, a coragem e o
7,elo para levar a mensagem de seu Filho à
11ação brasileira.
Prefácio

Quando Deus planejou a igreja, que deve manifestar


sua “multiforme sabedoria” (Ef 3.10), Ele determinou que
o meio de difundir a mensagem seria de indivíduo p ara
indivíduo. Nos primeiros dias da igreja, Deus colocou
diretamente as palavras na boca de arautos inspirados e
na pena de escritores inspirados. As gerações que se
seguiram deveriam obter sua mensagem através da
“fé que uma vez por todas foi entregue aos santos”
(Judas 3), e proclamá-la a “toda criatu ra” (Mc 16.15).
Deus não falou muito em sua Palavra sobre a maneira
de pregar; isso fica em grande parte a nosso critério,
desde que falemos “a verdade em am or” (Ef 4.15). Desde
os primeiros tempos, porém, sabe-se que alguns oradores
são mais eficientes do que outros e, a p artir da antigüida­
de foram desenvolvidos oortos princípios que podem
ajudar todo orador público a tornar-se mais eficaz.
Desde que o pregador fala om público, ele pode tirar
proveito desses princípios. Klos podem ajudá-lo a esco­
lher tópicos mais úteis, a coletor o organizar o seu
material com maior eficiência o a transmitir sua mensa­
gem mais persuasivamente. Nenhuma dessas técnicas
deve jamais obscurecer ou substituir a mensagem de
Deus, mas elas podem ser um fator positivo para que a
mensagem penetre mais profundamente no coração dos
ouvintes.
O propósito deste livro ó ajudar os pregadores a
servirem melhor no reino de Deus. Que o Senhor os
auxilie a alcançar essa finalidade.
Introdução

Se o médico, cujo bisturi remove com delicadeza uma


parte do cérebro, deve abordar seu trabalho com profun­
do conhecimento, treino intensivo e extrema seriedade,
qual deve ser então a abordagem do pregador que opera
a alma, e cujos resultados serão pesados numa balança
de valores eternos? Se você é pregador ou deseja pregar,
escolheu um trabalho tão importante que ser humano
algum tem capacidade p ara calcular o seu vasto signifi­
cado. Tiago expressou isto perfeitamente quando disse:
“Meus irmãos, não vos torneis muitos de vós, mestres,
sabendo que havemos de receber maior juízo” (Tg 3.1).
Que ninguém se dedique a uma vida de pregação sem
antes refletir e orar, mas uma vez tomada a decisão de
pregar ou aceito o “chamado” , que esforço nenhum seja
então poupado em preparar-se.
Este livro foi escrito como um guia de estudo do
trabalho do pregador no púlpito. A abordagem é a
seguinte (1) considerar o ponto de vista bíblico do prega­
dor e (2) aplicar os princípios da oratória eficaz ao
preparo e entrega do sermão. Embora a abordagem tome
por certo que o aluno tenha conhecimento de oratória, os
princípios do discurso público são revistos e aplicados
especificamente à pregação.
1 0 Papel do
Pregador

“Prega a Palavra” — 2 Timóteo 4.2

INTRODUÇÃO
No ano 490 A.C., o rei Dario da Pérsia, dirigiu sua
vasta arm ada através do Mar Egeu em direção a M ara­
tona, que ficava poucos quilômetros a noroeste de
Atenas. Quando os atenienses souberam que estavam
para ser atacados, decidiram pedir aos seus vizinhos de
Esparta que esquecessem os conflitos do passado e os
ajudassem a proteger a Grécia do ataque persa. Em
menos de 48 horas Feidípedes correu os 160 quilômetros
que os separavam de Esparta e convenceu os espartanos
a se juntarem a eles na luta. Dois mil soldados esparta­
nos seguiram imediatamente para Atenas.
Todos os americanos conhecem a história de Paul
Revere que na noito de 18 de abril de 1775 cavalgou
através do território da Nova Inglaterra p ara avisar que
as tropas inglesas comandadas pelo general Gage esta­
vam a caminho de Lexington.
Honramos e louvamos aqueles que, com grande cora­
gem, levaram uma mensagem importante com tanta
urgência. Nós os aplaudimos porque eles compreende­
ram a sua missão e a executaram prontamente.
Com um sentido ainda maior de urgência, os apóstolos
receberam as palavras de Jesus. ‘‘Ide por todo o mundo e
pregai o evangelho a toda criatu ra” (Mc 16.15). Quando
as autoridades judias ordenaram que não falassem em
nome de Jesus, eles replicaram: “Antes importa obed
cer a Deus do que aos homens” (At 5.29). O zelo d
apóstolos era tão contagioso que Lucas registra: “Entr
mentes os que foram dispersos iam por toda par
pregando a palavra” (At 8.4).
Paulo chegou a declarar que era um “escravc
obrigado a pregar o evangelho, a levar as boas novas c
evangelho às almas perdidas (Rm 1.14-15). E escreve
aos coríntios: “Ai de mim se não pregar o evangelho!” |
Co 9.16). Não é de adm irar que dissesse a Timóteo,
quem convertera: “Prega a palavra, insta, quer sej
oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com tod
a longaminidade e doutrina” (2 Tm 4.2).
Comparadas com esta, as mensagens de Feidípedes
Paul Revere se reduzem a nada, pois aqui, sem dúvida
está a maior responsabilidade do mundo.
Não importa quão grande seja a graça de Deus oi
quão grande o sacrifício de Jesus, eles de nada valem at
que sejam conhecidos pelo pecador. E isto é sempre um;
responsabilidade humana. O Novo Testamento jamai
registra que Deus tenha falado diretamente a um peca
dor o que fazer para obter a salvação através de Cristo
Mesmo nos casos de Cornélio, Saulo e do etíope, ondí
Deus ajudou diretamente na transmissão da mensagem t
eles, o Senhor fez uso de um ser humano para esse fim
Como escreveu Paulo: “Como, porém, invocarão aquele
em que não creram? e como crerão naquele de quen
nada ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?’
(Rm 10.14). Unicamente através do agente humano é que
Deus faz então conhecida a sua grande oferta de salva­
ção por todo o mundo; e, neste estudo, estamos especial­
mente interessados na proclamação pública como um
meio de cumprir esta responsabilidade a fim de fazer
discípulos de todas as nações.
“M as,” objeta alguém, “a própria Bíblia não declara
que pregar é loucura? Como pode a loucura ocupar um
lugar tão importante?” Em 1 Coríntios 1.21, Paulo escre­
veu sem dúvida: “Aprouve a Deus salvar aos que crêem,
pela loucura da pregação”. O contexto torna claro, da
mesma forma que a construção grega, que ele se refere
aqui ao conteúdo da pregação como “loucura” e não ao
iilo (in pregação, pois ele continua: “mas nós pregamos a
Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura
para os gentios” . Se falar bem fosse loucura, essa
técnica não seria empregada por aqueles que buscam o
sucesso em tudo desde a política até o romance.
Pregar, então é o papel mais vital entre os homens,
pois o pregador se torna um mensageiro de Deus, um
canal através do qual a mensagem divina pode fluir, uma
harpa afinada de acordo com a verdade e tocando o hino
cantado pelos anjos: “Paz na te rra aos homens de boa
vontade” .
A PREGAÇÃO E A HOMILÉTICA DEFINIDAS
A melhor definição de pregação foi dada por Phillips
Brooks: “Pregação é a comunicação da verdade, do
homem p ara os homens. Ela contém dois elementos
essenciais — verdade e personalidade”. 1 Esta definição
revela muito com respeito à grandiosidade quase incom­
preensível da responsabilidade do pregador.
“Comunicação” sugere que a pregação envolve a
transmissão de uma idéia partida da mente do remeten­
te p ara a do recipiente. Grande parte do conteúdo deste
livro ensina como compreender e usar as armas da
comunicação p ara proclam ar a mensagem.
“V erdade”, na definição de Brooks, implica em que o
conteúdo da pregação deve ser consistente com a pala­
vra de Deus. Qualquer coisa acrescentada ou eliminada
dos “oráculos de Deus” não é uma pregação verdadeira.
Como é grande a obrigação do Pregador em transmitir a
mensagem de Deus e não a sua. As muitas passagens do
Novo Testamento que distinguem entro o que é “falso” e
o que é “verdadeiro” enfatizam a necessidade vital de
que o pregador estude com a monto aberta a fim de que
possa “pregar a p alavra” .
Com a frase “de homem para homens” , Brooks focali­
za a atenção no elemento humano na pregação. Deus
queria que o pregador acrescentasse algo à mensagem
— não para mudar o significado, mas para acrescentar
o poder da experiência, personalidade e testemunho do
próprio pregador.
1 Phillips Brooks, Lectures on Proaching (Grand Rapids, Zondervan
Publishing House, n.d.), p. 5.
Deus faz então brilhar a sua luz como os raios do sol
sobre o mundo, mas todas as pessoas estão dentro de
casa onde o sol não pode ser visto. O pregador é a janela
que permite que a verdade brilhe para as pessoas que
estão tateando cegamente no escuro.
Isto não quer dizer, naturalmente, que não seja
possível aprender a verdade diretamente da palavra
escrita sem que se diga nada oralmente a respeito, pois
tal coisa pode acontecer e já aconteceu. Para o homem
comum, porém, ocasiões como essas são raras, pois
poucos se interessam o bastante para ler cuidadosamen­
te por si mesmos até que sejam encorajados e ensinados
por algum cristão, geralmente um pregador ou alguém
que foi incentivado por ele. É desta forma então que o
pregador se torna a vidraça através da qual a luz de
Deus alcança a humanidade hoje.
Se o pregador, como uma vidraça, for colorido pelo
preconceito, as pessoas recebem uma iluminação imper­
feita. Se ele fala com insegurança quando uma orienta­
ção imediata é necessária, a luz é fraca e inadequada. Se
o pregador transmite a sua mensagem obscuramente,
sem o preparo adequado e sem clareza de pensamentos e
expressão, os que estão nas trevas permanecem nelas.
O pregador não deve então jamais distorcer ou modi­
ficar a mensagem de Deus. Ele deve manter o foco de luz
sobre Jesus Cristo e não sobre si mesmo; deve falar sobre
tópicos de Deus e não do homem. Em resumo, ele deve
aclarar o caminho para o céu. Embora o seu exemplo e a
sua fé possam ajudar para que a mensagem passe de
coração p ara coração, o pregador deve comunicar a
palavra salvadora de Deus.
O propósito da homilética é auxiliar o pregador na
transmissão da mensagem de Deus de maneira a revelar
o máximo da verdade iluminadora. Podemos, portanto,
definir homilética como a ciência de aplicar os princípios
do discurso público eficaz na pregação religiosa; é a arte
de aplicar a verdade de Deus às necessidades do ho­
mem. A homilética é uma “ciência” por basear-se em
princípios que foram observados como contribuindo p ara
o sucesso de oradores através dos séculos. Ao mesmo
tempo, há muito na pregação que participa da “a rte ” . O
pregador necessita de uma imaginação poética e precisa
fazer uso daqueles elementos contidos em toda arte, tais
como equilíbrio, ênfase, forma, unidade e clímax.

UMA BREVE HISTÓRIA DA PREGAÇÃO


A história está repleta dos registros daqueles que
fielmente ministraram a mensagem de Deus aos seus
semelhantes. Enoque (Judas 1) profetizou; Noé foi um
pregador da justiça de Deus (2 Pe 2.5); Moisés fez três
compridos discursos que se acham registrados em Deute-
ronômio; Josué e Samuel transm itiram ao povo as palavra
de Deus. Os profetas — o termo significa proclamador ou
revelador e não simplesmente prenunciador — ardiam
de zelo pelo Senhor e pronunciavam com força, vigor e
surpreendente ilustração os seus “assim diz o Senhor” .
João Batista foi tão popular em sua época que ‘‘toda
Jerusalém e Judéia” acorreram ao seu “reavivamento” , e
Jesus foi também um pregador, assim como professor,
conselheiro e filósofo.
O Espírito Santo empregou muitas vozes durante a
infância da igreja; Pedro, ousado e positivo; Estêvão,
claro e corajoso; Paulo, lógico e zeloso. Esses e um
exército de outros levaram a luta até o campo do inimigo
e venceram com a Espada do Espírito desembainhada,
“segundo o Espírito lhes concedia que falassem” . Esses
homens eram, na maioria, iletrados e não treinados na
arte da retórica, mas o Senhor encontrou neles as
qualidades naturais de fé, sinceridade, vigor e honesti­
dade que Ele utilizou p ara transm itir a sua mensagem.
Eles foram verdadeiramente embaixadores de Deus, pois
o Senhor os guiou enquanto falavam conforme a sua
promessa (Mt 10.14; Jo 14.26; 16.13).
Depois desses vieram outros igualmente dedicados e
zelosos, que não receberam a sua mensagem diretamente
do Espírito Santo, mas da primeira geração de cristãos
que tinham escrito com suas penas mergulhadas na tinta
da inspiração. Por volta do quarto século, a oratória de
púlpito tinha alcançado um alto grau de excelência pois
foi durante esta era pós-nicena que: (1) Agostinho (354-
430), um retórico convertido, estava aplicando a retórica
de Cícero à pregação cristã; (2) Ambrósio (340-397), de
seu púlpito em Milão, defendia habilmente contra a
“heresia arian a” ; e (3) Crisóstomo (347-407), chamado
de “Boca de Ouro” , estava pregando com eloqüência
em Antioquia e Constantinopla.
Deste apogeu, porém, houve um rápido declínio p ara
as trevas da idade média quando pouca pregação digna
de nota foi feita. Muitos argumentam que a pregação
durante esta época foi ineficaz por ter dependido cada
vez menos das Escrituras e cada vez mais dos pontos de
vista dos concílios e teólogos. Reforçando esta crença
está o fato de que com o Movimento da Reforma houve um
retorno à pregação de alto nível. Todos os grande
reformadores — Lutero, Calvino, Knox, Wesley, Savona-
rola — fizeram uso da pregação para expor seus pontos
de vista e incentivar seus seguidores. Estes foram segui­
dos por uma segunda e terceira geração de oradores
religiosos tais como Jonathan Edwards (1703-1758) e
George Whitefield (1714-1770), que abriram caminho
para o grande “Despertamento” americano do século
dezoito; Henry W ard Beecher (1813-1887) e Phillips Bro-
oks (1835-1893) que influenciaram milhares de pessoas
nos Estados Unidos durante o século dezenove; e Alexan-
der Campbell (1788-1866), W alter Scott (1796-1861), e
Barton W. Stone (1772-1844) que iniciaram o Movimento
de Restauração na América. Nesse interim, na Inglater­
ra, Frederick W. Robertson (1816-1853), Charles Spur-
geon (1834-1892), e Alexander M aclaren (1826-1910)
estavam fazendo sermões para grandes multidões.
Hoje, naturalmente, existem muitos que se tornaram
conhecidos como oradores eficazes devido aos seus pon­
tos de vista. Muitos destes fizeram uso amplo do rádio e
da televisão, assim como da página impressa. Cada
pessoa que estiver estudando para ser orador deve
selecionar vários pregadores eficientes a fim de observá-
los. Ninguém deve copiar o estilo de outrem, pois cada
um deve ter o seu estilo próprio, segundo a sua persona­
lidade e ambiente em que vive; todavia, todos podem
aprender tanto dos pontos fracos como fortes de outros.
Um estudo deste livro irá apresentar muitos pontos a
serem considerados no aprendizado através de outros.
O OBJETIVO DA PREGAÇÃO
À medida que esta série de pregadores é passada em
revista, certas observações se tornam evidentes. A exce­
lência na pregação tem origem num senso de urgência
pelas necessidades da humanidade combinado com a
mensagem de Deus revelada pelo Espírito p ara essas
necessidades. A pregação excelente, assim como a boa
pregação, exige uma compreensão das necessidades
humanas e um conhecimento dos remédios divinos.
Através desses homens podemos também descobrir o
papel central do pregador: desenvolver espiritualmente
as pessoas, levar os que se desviaram de volta a um Deus
cheio de amor. Aos que nasceram da água e do Espírito
ele deve fornecer direção no sentido de uma espirituali­
dade mais forte e profunda. O pregador que concebe o
seu papel como o de m inistrar às necessidades físicas
e sociais pode ser de alguma ajuda p ara a sua congrega­
ção, mas como Paulo indicou a Timóteo: “Pois o exercício
físico p ara pouco é proveitoso, mas a piedade para tudo
é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora é
e da que há de ser” (1 Tm 4.8]. Aquele que salva o corpo
faz bem; o que salva a mente faz melhor; mas o que salva
a alma faz muito melhor.
Mas, o que o pregador pode fazer e como ele pode
dispender o seu tempo a fim de edificar os espíritos em
sua congregação? O pregador deve ser um orador públi­
co, um professor particular, um conselheiro, um visita-
dor, um administrador, um secretário, um zelador,
ou tudo isso? Ninguém pode dizer exatamente como
cada pregador em sua congregação deve gastar as
suas horas, mas umas poucas observações podem ser
de valor.
Se o principal objetivo do pregador é auxiliar o
desenvolvimento espiritual das pessoas, o meio principal
de alcançar este alvo é mediante o ensino e a inspiraçãp.
Parte disto ele faz através da sua vida exemplar; parte
através do seu contato pessoal com os membros; e parte
através do ensino na sala de aula. Mas o método princi­
pal para ensinar e inspirar é e deve ser os seus pronun­
ciamentos do púlpito, e a este trabalho ele deve dedicar a
maior parte do seu tempo.
Ninguém pode incentivar o crescimento espiritual em
outros sem que esteja também crescendo. 0 pregador
deve, portanto, dedicar tempo ao estudo, à meditação e à
oração. Ele deve ser uma pessoa cuja profundidade de
alma e caráter esteja sempre aumentando e cuja percep­
ção e informação também aumentem sempre. Quando
permite que outros assuntos prejudiquem o tempo exigido
para o seu próprio desenvolvimento, ele está permitindo
que um câncer que irá eventualmente m atar a sua
eficácia comece a crescer.
Um estudo cuidadoso da vida dos melhores pregado­
res irá confirmar que p ara poder prestar serviço conti­
nuado a uma congregação, ele precisa envolver-se num
programa constante de desenvolvimento pessoal. Nestes
dias de velocidade, pressa, e um permamente sinal de
“muito ocupado” na porta, é difícil na maioria das vezes
que o pregador possa convencer, primeiro a si mesmo, e
depois a outros, de que as suas meditações sejam funda­
mentais para a congregação. Um olhar p ara os grandes
pregadores, porém, deveria ser convincente. Alexander
Campbell, por exemplo, levantava-se às três da manhã
para estudar e escrever sem ser interrompido até a hora
do café. 2 W alter Scott estudou os quatro evangelhos tão
cuidadosamente e fez com que seus alunos os estudassem
da mesma forma, que todos decoraram esses quatro
livros do Novo Testamento — em grego.3 Jonathan
Edwards leu toda espécie de livros desde os históricos e
os de ficção, comentários e enciclopédias, até os de
trigonometria e obstetrícia.4 Theodore Parker, da mes­
ma forma, tinha uma biblioteca de 20.000 volumes e em
resposta à pergunta do que ele costumava ler, um
biográfo respondeu — “tudo” .5
Isto não significa que o pregador deve ficar afastado

2 Robert Richardson, Memoirs of Alexander Campbell (Cincinnati:


Standard Publishing Company, 1897) II, 300.
3 Ibid., I, 509.
4 Orville A. Hitchcock, “Jonathan Edwards”, History and Criticism of
American Public Address, ed. William Norwood Brigance (New York: Mc-
Graw-Hill Book Company, Inc., 1943), I, 219.
5 Roy C. McCall, “Theodore Parker”, History and Criticism of American
Public Address, ed. William Norwood Brigance (New York: McGraw-Hill Book
Company, Inc., 1943), I, 240.
do seu povo, ou que ele não deve iazer visitas, dar
conselhos, e talvez ocasionalmente, trab alh ar até com as
próprias mãos p ara a igreja. Tais coisas são necessárias
para que ele avalie adequadamente as necessidades e
condições daqueles a quem os seus esforços são devidos.
A congregação deve sentir que a principal tarefa do
pregador é falar do púlpito com o propósito de estimular o
desenvolvimento espiritual e a isto ele deve dedicar-se
por completo.
Mas, a fala do púlpito ê realmente eficaz? Ela muda
na verdade as vidas? Ê difícil avaliar o verdadeiro efeito
dos sermões. Existem naturalm ente ocasiões em que os
efeitos podem ser conhecidos: um sermão sobre a deso­
nestidade leva meia dúzia a confessar o seu pecado; um
sermão sobre a entrada no reino leva os crentes arrepen­
didos a serem batizados; uma família aflita recebe conso­
lo em época de provação. Em cada uma dessas ocasiões
muito especiais, o pregador se tornou o instrumento de
Deus p ara aum entar a espiritualidade entre os ouvintes.
Mas, que dizer das ocasiões menos espetaculares quan­
do ninguém está em circunstâncias especialmente difí­
ceis, quando ninguém pede p ara ser batizado nem con­
fessa os seus pecados? Tais ocasiões são fracassos?
Quando os membros não podem lembrar-se do tema do
sermão da semana anterior, teria sido este ineficaz? A
resposta p ara essas perguntas deve ser um sonoro
“Não!”
O pregador deve reconhecer que seu trabalho tem
como alvo uma reação tanto imediata como a longo
prazo. Haverá ocasiões em que ele busca um alvo de
ação imediata: uma contribuição maior, mais adoração
nos hinos, uma conversão, um acordo num determinado
ponto de doutrina. Mas em muitos outros casos, o prega­
dor estará buscando um alvo de crescimento espiritual a
longo prazo. Como acontece com o exercício físico, tal
crescimento só é discernível depois de algum tempo. Ele
pode por exemplo, ensinar sobre fé, paciência e zelo
como parte de seu esforço continuado no sentido de
desenvolver o caráter. Em outras ocasiões ele pregará
sobre a salvação, expiação, ressurreição e juízo como
parte de seu plano a longo prazo para incutir em seus
ouvintes a compreensão do plano de Deus p ara a reconci­
liação do homem. Ainda outros sermões irão tra ta r da
lascívia, cobiça, modéstia, casamento, honestidade, be-
bedice, e cidadania a fim de criar uma compreensão dos
princípios morais e a capacidade de distingüir entre
certo e errado. Em tais ocasiões o pregador não está
buscando uma reação imediata, mas sim está tentando
criar um sistema de valores e conceitos — tijolos numa
casa espiritual.
A mente humana é um instrumento maravilhoso e
prodigioso. Cada ato, cada idéia, cada pensamento de
uma pessoa é registrado na sua memória consciente ou
inconsciente. Quando estamos tomando uma decisão ou
nos comunicando, todos esses atos, idéias, e pensamen­
tos do passado entram em ação quando a medida está
sendo tomada. De maneira algo parecida com um compu­
tador, o pregador ajuda sua congregação a. depositar
informações, preparando-se p ara tomar decisões e agir
segundo seja necessário. Os membros são com freqüên­
cia fortemente influenciados por sermões de que não
mais se lembram conscientemente.
A fim de levar os membros da sua congregação e
outros a um plano espiritual mais elevado, o pregador
terá de envidar todos os seus esforços. A congregação
deve considerá-lo como um obreiro ativo, caso contrário
não irá levá-lo a sério quando falar de como os assuntos
espirituais são importantes. Ele deve estabelecer como
regra passar pelos menos 40 horas por semana tra b a ­
lhando para a igreja além das horas que espera que um
membro de sua congregação passe no serviço religioso.
Sc, por exemplo, esperar que um dos membros trabalhe
40 horas por semana como carpinteiro e depois assista
titis cultos e faça trabalho pessoal por mais 4 ou 5 horas
pur semana, o pregador não pode fazer menos do que
luso.
O ministro, como é natural, deve conhecer a sua
própria natureza. Enquanto alguns são tentados a fazer
do menos, outros são tentados a fazer demais. Alguns
procuram delegar a outros tudo que é possível; outros
nfto delegam nada. O pregador deve seguir o seu próprio
('ousolho: ele dirá a um pai, passe algum tempo com seus
filhos; dirá a outro, tire um pouco de tempo parn
dlvorlir-se; aconselhará outro, você precisa dar mais
tompo para o Senhor. E pode perfeitamente aplicar tais
conselhos a si mesmo.

O USO DA RETÓRICA PELO PREGADOR .

Como parte desta visão do papel do pregador, será


útil ver a ligação que existe entre o uso da apresentação
pública feito pelo pregador, a fim de obter fins espiri­
tuais, e a arte da retórica.
A palavra retórica foi usada no mundo antigo para
descrever o “discurso persuasivo” , quer escrito ou fala­
do. Filósofos destacados como Platão, Aristóteles e
Cícero deram muita atenção aos princípios a serem
seguidos por quem desejasse levar os homens a crerem e
agirem. Paulo parece anotar os que levaram esses princí­
pios aos extremos quando se separa dos que faziam uso
de “ostentação de linguagem” (1 Co 2.1). Nenhum prega­
dor deveria certam ente hoje basear sua abordagem dos
ouvintes em “palavras floreadas” ou “raciocínio enge­
nhoso”.
Ao mesmo tempo, porém, Paulo empregou muitas das
técnicas do bom orador em seus sermões: elogios ao
auditório, uso cuidadoso de evidência, mudança de pon­
tos de acordo p ara pontos de desacordo, e muitos outros.
Existem, .pois, muitas lições proveitosas que o prega­
dor pode extrair da retórica. Desde que a base dos
princípios de retórica repousa sobre a natureza humana.
esses princípios escritos por Platão e Aristóteles três ou
quatro séculos antes do nascimento de Cristo continuam
válidos. Desde que referências freqüentes aos mesmos
serão feitas através deste livro, uma breve revisão é útil
neste ponto.
Os retóricos da antigüidade dividiam o discurso efi­
caz em cinco tópicos (cânons), a cada um dos quais
foram associadas muitas sugestões para o bem falar:
1. INVENÇÃO — coleta e planejamento do uso dos
materiais e idéias a fim de influenciar aos ouvintes.
Três dos tipos de apelo que o orador pode fazer são:
a. Apelos Lógicos ( Xóyoq ) baseados na evidência
e no raciocínio.
b. Apelos Emocionais ( irddoç ) baseados nos im­
pulsos e sentimentos.
c. Apelos Éticos ( r)0o<; ) baseados no caráter,
personalidade, experiência e reputação do ora­
dor.
2. DISPOSIÇÃO — arranjo do material na ordem
destinada a servir melhor o propósito do orador.
3. ESTILO — uso de palavras p ara transm itir a men­
sagem da maneira mais eficaz.
4. MEMÓRIA — lembrar a mensagem a ser transmiti-
ta.
5. ENTREGA — uso da voz e do corpo p ara apresentar
a mensagem aos ouvintes.
Desde que através de todo este livro será feita
referência aos antigos cânons de retórica, é útil gravar
este esboço em mente.

CONCLUSÃO
O pregador é então um oráculo de Deus. Ele deve
relacionar a Palavra de Cristo com as necessidades da
congregação. Ele deve ser verdadeiro, claro, dedicado;
deve ser profundo e pertinente. O pregador deve incum­
bi r-se de seu trabalho com a determinação de levar todos
aqueles com quem entra em contato a uma associação
niíiis íntima com Deus. Sua luta constante é manter a
mente dos membros concentrada nas coisas do espírito e
nno na matéria. Ele deve guiá-los, a fim de que “busquem
primeiro o reino de Deus” e então não irão atentar “nas
<ousas que se vêem, mas nas que se não veêm; porque as
que se veêm são temporais, e as que se não vêem são
Ultimas” (2 Co 4.18).
Mesmo que faça uso dos instrumentos do orador
publico para tornar mais eficiente o seu trabalho, o seu
ílvn é mais elevado. George Sweazei expressou isto muito
bem:
Um sermão não é um discurso público, mas sim um
olomnnto numa experiência de adoração. A pregação
pode ser estudada por si mesma, como a hinologia ou
os sacramentos podem ser considerados separada­
mente, mas é preciso lem brar sempre que o sermão é
apenas uma parte de uma experiência prolongada
com Deus. É disto que ele obtém um poder que, como
discurso, jamais poderia alcançar. Todas as profun­
das necessidades hum anas que tornam a adoração
necessária também tornam necessária a pregação,
porque o sermão é um dos meios mais poderosos para
possibilitar o encontro entre Deus e os homens.6

6 Georgn K. Swoazoy. Preaching the Good News (Englewood Cliffs, N.J.


prentice Hall, Inc., 1976, p.4.
As Qualidades
Pessoais do
Pregador

“Torna-te padrão” — 1 Timóteo 4.12

INTRODUÇÃO
Pode haver diferenças de opinião com respeito a mui­
tos aspectos da vida e do trabalho do pregador, mas exis­
te um ponto em que o acordo é total: um bom pregador
deve ser um bom homem. Muito do poder da palavra
falada de Jesus veio do poder da sua origem — uma vida
sem pecado. Paulo, João, Pedro, Estêvão, todos eles,
acrescentaram força às suas palavras pela dedicação de
suas vidas.
No capítulo 1, o papel do pregador foi descrito como
uma tentativa de levar a congregação a uma vida de
maior espiritualidade, a uma compreensão maior da
alma e de seus valores. Ele busca desenvolver devoção
ao espírito juntamente com uma fuga da carne. O prega­
dor deve levar seus ouvintes a “detestar o mal, apegan-
do-se ao bem” (Rm 12.9).
Se for este o alvo do ministro, ele não descobrirá
arma mais eficiente em seu arsenal do que o seu próprio
caráter digno. É freqüente o pregador e sua família
sentirem pena de si mesmos; eles se abandonam à
auto-piedade, lamentando o cuidado que precisam tor
para evitar críticas. Em lugar de deplorar o escrutínio do
sua vida, o pregador deveria comprazer-se em ter essa
oportunidade adicional para alcançar o seu alvo. Paulo
instou Timóteo a fazer uso de seu c aráter pessoal provei­
tosamente: “Torna-te padrão dos fiéis, na palavra, no
procedimento, no amor, na fé, na pureza” (1 Tm 4.12).
Desde os retóricos da antigüidade até o mais moderno
texto discursivo, a prova ética recebeu um lugar de
importância na realização da persuasão. Nas palavras
de Aristóteles: “O caráter ( rjdoç ) do orador é uma
causa da persuasão quando o discurso é pronunciado de
forma a torná-lo digno de fé”. De fato, continua ele,
‘poderíamos afirm ar que o seu caráter ( rjdoç ) é o mais
potente dos meios p ara persuadir.” 1 . Quintiliano, o
famoso retórico clássico do primeiro século A.D., acres­
centa o seu testemunho: “Meu objetivo, portanto, é a
educação do orador perfeito. O primeiro ponto essencial
deste é que seja um homem bom, e conseqüentemente
exigimos dele não apenas a posse de dons excepcionais
de oratória, mas também todas as excelências de cará­
te r.” 2 Tomando o seu lugar juntamente com o apelo
lógico e emocional, o apelo ético pode ser definido como o
apelo da personalidade do orador. Interpretado de ma­
neira ampla ele envolve as qualidades pessoais e reputa­
ção do orador, suas experiências, seu “toque comum”,
e, mais do que tudo, a maneira como ele utiliza essas
coisas na mensagem em si. Os retóricos reconheceram
então desde há muito que o caráter do orador eqüivale
aos seus apelos lógicos e emocionais.
0 relacionamento entre a vida do homem e a sua
mensagem pode ser facilmente divisado. Quando o minis­
tro insiste para que haja fé em tempos difíceis, seu
próprio comportamento exemplar por ocasião da morte
de seu pai irá em prestar força ao seu sermão. Quando
elo argumenta a favor de elevados padrões de moral, sua
vida pura e feliz reforçará o seu ponto de vista. Quando
ele pede sacrifício, sua liberalidade, seu desprendimen­
to, irão estabelecer o padrão para o seu pedido. Quando
suplica aos professores que planejem as suas aulas com
cuidado, kous hábitos cuidadosos de estudo darão poder
a esse apelo.
1 Aristòtulos, T Í M Hhetoric o/Aristotie, Translated by Lane Cooper (New
j

York: Apploton Cnntury-Crofts, Inc., 1932), pp. 8,9,1.2,1,


2 (Juinlilian, T)i<> Institutio O ra tória , Translated by H.H. Butler 4 vols.
(Canibritl)!!!, MtixNiichumitls: Harvard University Press, 1921-22), pp, 9,11.
Além do apelo ético mediante o qual o bom caráter do
pregador reforça os seus sermões, suas boas qualidades
também estabelecem o exemplo certo para a congrega­
ção. Ele assim tanto insta como exemplifica a conduta
cristã. Jesus tinha essas duas coisas em mente quando
disse: “aquele, porém, que os observar e ensinar, esse
será considerado grande no reino dos céus” (Mt 5.19).
Paulo instou com Timóteo da mesma forma: “Tem cuida­
do de ti mesmo e da doutrina” (1 Tm 4.16). Não é
significativo que em ambos os casos o exemplo tenha sido
colocado antes do ensino?
Embora não se trate da consideração principal, o
pregador e sua família devem, naturalmente, reconhecer
o mal que suas vidas pessoais podem acarretar à causa
que servem. A verdade perde a sua influência quando
está baseada na hipocrisia. Paulo salienta justamente
este ponto em Romanos 2.21-22: “Tu, pois, que ensinas a
outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que
não se deve furtar, furtas? Dizes que não se deve
cometer adultério, e o cometes? abominas os ídolos, e
lhes roubas os templos?” O ministro que contradiz a sua
pregação com a sua vida, anulará ambas.
Uma das certezas da pregação é portanto que ne­
nhum ministro pode servir eficazmente se a sua conduta
não se harmonizar com a sua mensagem. Por outro lado,
nenhum pregador pode alcançar o máximo do seu poten­
cial sem o benefício do apelo ético.
Mas quais são as qualidades pessoais que o pregador
deve possuir a fim de ser um oráculo eficiente de Deus,
um treinador de almas? Do número incontável de pala­
vras usadas p ara descrever os vários traços de caráter,
é difícil fixar-se num número razoável que resuma o tipo
de pessoa que o pregador deve ser. Existem, todavia, dez
qualidades que, interpretadas de maneira ampla, podem
ser usadas p ara incluir as qualidades pessoais mais
básicas e vitais relativas a um ministro da Palavra.

DEZ QUALIDADES PESSOAIS


O SENSO DO FARDO. Pregar é difícil, é trabalho
exaustivo. As recompensas m ateriais do mesmo não são
tão grandes como as oferecidas em muitas outras ocupa-
çfios enquanto os seus problemas e exigências são no
gorai muito maiores. O pregador tem pouca privacidade,
pois é solicitado a partilhar dos sofrimentos, temores e
dores mais íntimos de outros. Ele é constantemente
chamado para envolver-se em experiências que o exau­
rem física, mental e emocionalmente. Somente uma única
recompensa pode fazer com que a pregação seja digna
daquilo que ela exige do homem: a satisfação espiritual
de carregar um pequeno fardo para Ele, que levou um
grande fardo por nós.
O pregador que não sente “o fardo do Senhor” não
pode receber a emoção de suportá-lo e não pode sentir
por muito tempo que o lado positivo da pregação excede o
negativo. Este fardo inclui o reconhecimento de (1) a
duração da eternidade, (2] a culpa do pecado, (3) o valor
das almas, e (4) uma profundidade de compromisso. 3
Este sentido de fardo é relacionado de perto com o
“chamado para pregar” .
Existem certos pregadores que parecem ter sido
claramente separados dos demais como mensageiros de
Deus. Eles prendem os ouvintes e estabelecem um conta­
to direto com eles que os outros não conseguem alcançar.
Isto é geralmente devido ao seu senso profundo do fardo,
que leva o auditório a sentir a proximidade que existe
entre o pregador e Deus. Esta comunhão com Deus
torna-se um imã que liga pregador e ouvinte.
SINCERIDADE. Um dos traços básicos de um prega­
dor é a sinceridade. Nada irá afastar mais depressa
uma congregação do que o fato dos membros considera-
rom o pregador como um hipócrita; e nada, por outro
lado, irá tornar um auditório mais receptivo ou mais
disposto a relevar faltas do que uma convicção profunda
do sinceridade por parte do orador. Os escritores que
falam da homilética, fizeram uso de diversos termos para
doHcrover esta qualidade: honestidade moral, piedade*
pessoal, dedicação abnegada, zelo em servir.
Tal sinceridade nasce da preocupação com os perdi­
dos; ala floresce em trabalho diligente; e seu fruto ê a
alegria de levar uma alma ao trono de Deus. Paulo instou
3 Veja Ian McPherson, The Burden of the Lord (Nashville: Abingdo
Press, 1955), pp. 1012.
Timóteo a servir com “amor que procede de coração
puro e de consciência boa e de fé sem hipocrisia” (1 Tm
1.5). Jesus falou de “pureza de coração” e de “singulari­
dade de coração” ou propósito singular, único.
A sinceridade então, é básica para a eficácia do
pregador, e sem ela ele tem pouca probabilidade de
sucesso. Esta qualidade começa com a obsessão de
pregar, depois se expande enchendo a vida da pessoa
com uma percepção da extrema importância da espiri­
tualidade e termina quando o pregador pode dizer com
Paulo: “Combati o bom combate, completei a carreira,
guardei a fé” (2 Tm 4.7).
ENTUSIASMO. Relacionada com a sinceridade e
nascida dela acha-se a qualidade do entusiasmo. Jesus
falou dos que “têm fome e sede de justiça”, e Paulo
mostrou esta qualidade quando proclamou a Palavra
“com... lágrim as... publicamente e também de casa em
casa” (At 20.19-20). É o entusiasmo que gera a coragem
de falar de nossas convicções mesmo que nosso emprego
ou nossa vida estejam em risco. João Batista mostrou
essa determinação entusiástica quando disse a Herodes
que não tinha direito à esposa do irmão.
Com o entusiasmo vem o otimismo, e o pregador deve
ser otimista. Ele não deve deixar que sua chama se
apague quando outros estiverem prontos para desistir;
não deve fugir das nuvens escuras enquanto houver luz.
Em muitas situações é o pregador que deve estimular os
desanimados, caso contrário não haverá ninguém p ara
deter a maré da derrota.
A espécie de entusiasmo que discutimos aqui não é
uma efervescência que borbulha na superfície sem nada
por baixo. O pregador não deve também tornar-se tão
irreal em seu otimismo que a sua sinceridade possa ser
posta em dúvida. Pelo contrário, este entusiasmo deve
ser equacionado com uma firme convicção de que, pelo
poder de Deus, temos a “fé que vence o mundo” .
HUMILDADE. A primeira bem -aventurança declara:
“Bem-aventurados os humildes (pobres) de espírito, por­
que deles é o reino dos céus” (Mt 5.3). Pobreza do
espírito significa o conhecimento de nossas limitações e o
fato de reconhecer que “não cabe ao homem determ inar
o sou caminho” (Jr 10.23). Todo membro de igreja sabe o
(|tic alguns pregadores não sabem: o publicano na histó­
ria dc Jesus daria um pregador muito melhor do que o
fariseu. Kxiste uma tendência do mundo p ara exaltar o
pregador, e infelizmente, existe uma tendência por parte
dos pregadores de aceitarem isso.
() pregador é com freqüência chamado de “ministro”
o como tal ele deve m inistrar às necessidades das
pessoas. Mas pregador algum cujos olhos estejam con­
centrados sempre em si mesmo pode sentir a necessidade
alheia. Esta espécie de humildade é vista quando o
pregador tem tempo p ara falar com o mais inculto
membro de sua congregação sobre algum problema espi­
ritual. É vista em sua disposição para trabalhar lado a
lado com os membros num projeto especial no prédio da
igreja ou em distribuir folhetos. Mais do que tudo, a
humildade do pregador é testada quando ele tem a
oportunidade de praticar um ato de bondade do qual
ninguém ficará sabendo e pelo qual não receberá qual­
quer louvor humano.
Um número excessivo de pregadores exige louvor
constantê como um estímulo para o seu entusiasmo. Eles
não se mostram dispostos a realizar quaisquer tarefas
sem receber em troca cumprimentos e apertos de mão. A
alegria que sentem ao saber do sucesso de outro prega­
dor é tingida de uma certa tristeza e inveja.
A humildade é uma das qualidades mais difíceis de
serem adquiridas e mantidas pelo pregador. Em geral,
ele está sempre acima do nível da congregação em
inteligência, treinamento e zelo por Deus. É fácil p ara ele
julgar-se melhor do que os outros porque conhece mais
as Escrituras, tem uma visão mais ampla do serviço da
igreja, faz mais visitas e dá mais aulas do que os outros
membros. Do reconhecimento disto, não é difícil para ele
encher-se de imoderado orgulho pelas suas realizações.
O pregador precisa manter constantemente diante de si
mesmo o fato de que, se a sua capacidade é maior do que
a de outros, ele deveria agradecer a Deus e não conde­
nar o seu irmão; se, por causa de uma oportunidade
maior, ele superou outro, deveria então humilhar-se
diante do Senhor, e não exaltar a si mesmo diante da
igreja. O que a pessoa possui que não deva a seus pais.
seus professores, sua família, seus amigos, e a seu Deus?
O reconhecimento desta dependência ajudará a pessoa a
alcançar maior pobreza de espírito.
A verdadeira humildade está ligada de perto à gene­
rosidade — pôr-se de lado para que outros possam
destacar-se. A descrição que Paulo faz dos aspectos do
amor em 1 Coríntios pode ser também tomada como um
retrato da humildade: paciente; bondoso; não tem inveja;
não é soberbo, arrogante ou rude; não procura os seus
interesses; não se ressente do mal. O pregador, então,
deve pôr de lado o seu ego e buscar a Deus, o reino, e os
seus semelhantes. Paulo expressou o grau máximo dessa
humildade e generosidade quando disse aos Romanos
(9.3) que desejaria ser “anátem a”, separado de Cristo,
se isso significasse a salvação de outros.

MANSIDÃO. Outra pedra fundamental no caráter do


ministro deve ser a qualidade de mansidão, talvez a
característica menos compreendida de todas nos ensinos
de Jesus. A mansidão é com freqüência considerada
como fraqueza, e muitos que não têm coragem, resistên­
cia e força são chamados de mansos. Esses não são
mansos, mas covardes.
Números 12.3 fala de Moisés como sendo manso
“mais do que todos os homens que havia sobre a te rra ”.
Mas, por que? Moisés era covarde? Longe disso. Ele é
chamado “manso” porque sabia “agüentar” . Quando os
israelitas murmuravam e se queixavam dele, Moisés era
paciente e não se mostrava ofendido.
A mansidão, portanto,, é aquela qualidade de não se
sentir facilmente insultado. Algumas vezes esta qualida­
de é cham ada de “pele grossa” , e o oposto de mansidão é
tido como “sensibilidade excessiva”. O pregador deve
combinar a pele de um crocodilo com a gentileza de uma
pomba. Ele deve ser sensível às necessidades daqueles
com quem trabalha, e ao mesmo tempo insensível às
farpas atiradas contra sua pessoa e às de sua família. A
mansidão é a resposta que a humildade dá ao ataque.
A mansidão inclui uma porção generosa de tato —
capacidade para dizer as coisas certas e abster-se de
dizer as erradas. Outro elemento da mansidão é a
qualidade de pacificar. O pregador deve não só ser de
fácil convivência como também possuir esta qualidade
em grau contagioso. Ele não só deve emendar os rompi­
mentos quando estes ocorrem, como também, da mesma
forma que o pára-raio retira a eletricidade das nuvens a
fim de evitar que as descargas se transformem em
relâmpagos, o pregador deve descarregar a atmosfera
na igreja quando necessário a fim de impedir que surja o
ódio e sua conseqüente devastação. Assim como é objeti­
vo de muito louvor, o ministro também é alvo de muitas
críticas. Em tais ocasiões, como certamente haverá, ele
deve conduzir-se como o fizeram Moisés, Estêvão, Paulo
e Jesus: não retribuir com sarcasmo, maledicência, ou
calúnia, não dividir a igreja enquanto tenta justificar-se;
pelo contrário, deve retribuir o mal com o bem, orando
por aqueles que o prejudicaram, e amando a seus
inimigos. Muitas acusações devem ficar sem resposta e
os que se apressam em mandar imprimir uma justifica­
ção de seus atos geralmente acrescentam mais lenha à
fogueira sem qualquer resultado proveitoso.
PACIÊNCIA. Da mesma forma que um diamante bem
lapidado, a paciência tem muitas facetas: determinação,
dependabilidade, longanimidade, firmeza, resignação,
fortaleza, perseverança, domínio próprio. Os alvos do
ministro, em sua maior parte, são objetivos a longo prazo
que levam anos p ara ser alcançados, e mesmo então seu
trabalho não está terminado. Quando ele tiver dado tudo
de si e parecer que fez bastante progresso, ainda há
muito p ara ser feito. Em outras ocasiões o pregador sente
que fez o seu melhor, mas não tem nada para evidenciar
os seus esforços. Todavia, não deve desanimar.
Na vida de cada pregador haverão momentos em
que ele sentirá que seu trabalho foi em vão, quando se
esforçou mas não teve êxito, quando se sente completa­
mente incapaz para a tarefa. O jovem a quem o pregador
treinou tão bem começa a andar em má companhia e se
onvolve em um roubo; a família que ele pensou estar
unindo, de repente explode; o candidato que visitou a
ensinou e que prometeu aceitar Cristo, de uma hora parai
ou Ira esfria; e o membro fraco que parecia estar come-i
çando a cresce/, murcha e morre. A igreja com queia
trabalhou e para quem acendeu e cuidou do fogo ir J
enfraquecer como se a sua luz fosse apagar-se por
completo.
Em momentos assim o pregador deve recordar-se de
que após Jesus ter passado três anos com Judas, este a-
póstolo o traiu com um toque hipócrita de lábios. Alguns
dos judeus que no domingo tinham gritado “Hosanna”,
na sexta-feira clamaram “Crucifiquem-no”. Marcos de­
cepcionou Paulo, e Demas o abandonou. Esses exemplos
simplesmente sublinham as palavras de Paulo em 1
Coríntios 3.6: “Eu plantei, Apoio regou; mas o crescimen­
to veio de Deus” . O trabalho do pregador é plantar e
regar e “cada um receberá o seu galardão, segundo o
seu próprio trabalho” (1 Co 3.8). Com muita freqüência
os ministros tendem a medir seu trabalho em termos
humanos e não divinos. No registro de Deus o homem é
recompensado pela sinceridade e diligência de seu tra ­
balho, e não pelo número de acréscimos ou pela impor­
tância da contribuição. O “ acréscimo” é tarefa de Deus.
C) pregador não deve ficar excessivamente desanimado
quando não ocorre o acréscimo, nem exaltar-se demais
quando ele ocorre.
O pregador, então, deve esforçar-se ao máximo, mas,
no mesmo tempo, lem brar-se que a sua força vem do
Senhor. Ele não deve cansar-se “de fazer o bem, porque
a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (G1 6.9).
PUREZA. Apesar de estar implícita em outras carac­
terísticas, a pureza exige menção especial como sendo
importante para os pregadores, pois além de achar-se
sob observação especial, ele também se encontra sob
lentação especial.
O pregador deve tomar precauções extraordinárias a
fim de certificar-se de que nenhuma acusação moral
possa ser feita contra ele — seja ela verdadeira ou falsa.
Ele não deve, de modo geral, por exemplo, fazer uma
visita à casa de uma mulher sozinha sem estar acompa­
nhado de sua esposa ou de um outro homem. Se estiver
sozinho em seu escritório na igreja, deve deixar a porta
aberta quando uma mulher en trar p ara falar com ele. O
pregador deve ter também cuidado com suas mãos,
nunca se mostrando disposto a rodear as mulheres com
os braços. Um aperto de mãos deve bastar.
O pregador deve defender os altos padrões de moral e
viver e pensar de acordo com o que prega. A literatura
que lê e os filmes que assiste devem ser do tipo por ele
recomendados no púlpito.
Se essas sugestões parecerem extremas, basta lem­
b ra r dos muitos pregadores eficazes cujo trabalho ficou
perdido e cujas congregações se dividiram seja devido a
atos imorais ou acusações nesse sentido feitas contra o
pregador.
COMPETÊNCIA INTELECTUAL. Todo homem deve
levar para o seu trabalho certo equipamento básico. O
campeão de pulo deve ter pernas ágeis, o violinista dedos
hábeis, o estivador braços robustos, e o salva-vidas olhos
argutos. Desde que o trabalho do pregador é praticam en­
te mental, ele precisa ter facilidade para apreender
idéias e retê-las, mas nenhum pregador que não goste de
estudar poderá alcançar o sucesso. Como indicado no
Capítulo 1, o papel do pregador é principalmente liderar
a sua congregação, a fim de que esta alcance um grau
mais profundo de espiritualidade. A profundidade a que i
ele pode levar outros depende muito de sua própria
profundidade espiritual — estando esta em proporção
direta ao seu estudo pessoal e dedicação às Escrituras.
Paulo instou com Timóteo: “aplica-te à leitura” (1 Tm
4.13), e lhe disse: “procura apresentar-te a Deus aprova- I
do, como obreiro que não tem de que se envergonhar, I
que maneja bem a palavra da verdade” [2 Tm 2.15). I
Quintiliano concluiu que o orador perfeito teria de I
conhecer tudo, e o mesmo se aplica ao pregador perfeito. I
Jesus era sem dúvida o pregador perfeito porque ele 1
conhecia tudo, até mesmo os pensamentos dos homens. I
Não há nada que o pregador possa saber que não seja de I
valor p ara ele: história, literatura, ciência, arte, agricul- ■
tura, política, psicologia, medicina, negócios, sociologia, ■
publicidade, filosofia, música, esportes, acontecimentos ■
<ln atualidade, línguas estrangeiras, astronomia. E quan- ■
(o mais amplo o seu conhecimento, tanto maior a força e l
variedade em seu poder de ilustração e aplicação. fl
A capacidade mental do pregador deve conter u m a l
Imaginação rica, uma boa dose de originalidade, p o d e rS
do ilustração, e uma sede insaciável da verdade. H
Os melhores pregadores têm imaginação ativa e um
foque artístico. Um talento p ara apresentar uma história
interessante ou uma frase que provoque atenção é tão
importante na boa pregação como a capacidade de
arranjo lógico.
Em resumo, o pregador não deve ser apenas acima da
módia quanto à sua capacidade mental, mas deve inte-
rossar-se pelas pesquisas intelectuais. Sua mente é a sua
ferramenta básica, e ela deve ser suprida com amplo
conhecimento e ajustada com uma compreensão percep-
tiva da Palavra de Deus.

BOA SAÚDE. Apesar da mente do pregador ser a


nua principal ferram enta, esta mente está contida num
corpo sendo afetada pelas condições desse corpo. As
exigências físicas sobre o pregador são grandes. Seu
trabalho é exaustivo sob todos os pontos de vista —
longas horas, pressão constante, tensão emocional. Co­
mo o clínico, o médico de almas fica à disposição de seus
clientes durante vinte e quatro horas, e seu trabalho é
extenuante.
Assim sendo, é evidente que o pregador precisa ter
boa saúde ou não poderá continuar servindo muito tempo
ttm vista do rigor de sua tarefa. Mas existe uma outra
implicação. Ninguém fisicamente fatigado poderá ter
uma disposição alegre ou pensar com clareza — essen­
ciais para o pregador.
Desde que a sua eficácia como ministro da Palavra
iihtií diretamente relacionada com a sua saúde, o prega­
dor precisa cuidar de seu corpo. Embora deva trabalhar
bani ante, deve também program ar descanso. Ele precisa
ílti um dia fixo, ou dois meios-dias por semana p ara
jfecreação e ficar livre das responsabilidades. Para a
ÍRlHioria dos homens esta é uma necessidade a fim de
JüfHiter o seu bem -estar físico e mental. Se o ministro
pHOHtra sor trabalhador, ninguém fará objeções quando
ÃÍt> tomar algum tempo toda semana para recreação.
[ Infelizmente, a moderação neste ponto é difícil do
pinou Ira r. Muitos pregadores parecem recusar-so a
w iir um momento p ara descanso e recreação onquanto
HtroH descansam em excesso.
LIDERANÇA. O pregador deve ser um líder. A Bíblia
não o chama de “pastor” de um rebanho, nem é um
ditador ou administrador, mas é, mesmo assim, um líder.
Ele chama para a ação; ele ajuda no planejamento; ele
insiste numa resposta; ele não só indica como mostra o
caminho. Ele deve ser agressivo, zeloso, determinado,
idealista, bem organizado, diligente, e informado —
todas essas são qualidades de liderança. A eficiência
tanto na comunicação escrita como oral é também uma
qualidade de liderança necessária ao pregador. Embora
as Escrituras ordenem que o pregador exerça a sua
liderança sob a supervisão dos presbíteros, certas qua­
lidades de liderança são essenciais à realização da
sua tarefa. Quando as pessoas não reagem positivamente
a alguém, este não pode levá-las a um grau maior de
espiritualidade.

RESUMO
Essas dez qualidades, tomadas em conjunto, dão uma
idéia clara do homem qualificado p ara pregar. Apesar
de ninguém poder possuir todos esses traços ao ponto de
perfeição, aquele que é fraco em qualquer deles ou que
não parece ter a capacidade de desenvolvê-los, deve
reconhecer a sua incompetência e, se esta for demasiado
grande, ele deve buscar servir o Senhor de outra forma.
Os que possuem os ingredientes básicos devem concen- i
tra r suas energias no desenvolvimento contínuo dessas
qualidades — um crescimento constante em direção à
perfeição de Cristo. Apesar deste alvo ser impossível de
atingir, o esforço dispendido na tentativa irá trazer
dividendos à vida do pregador.
Mas, e se um homem que evidentemente não possui
essas qualidades for chamado para pregar? E se 0
homem tiver as qualidades e não for chamado? Grandfli
debate tem surgido a respeito do “chamado para p r a j
g ar” . Alguns acreditam que um chamado sobrenatural ■
exigido, enquario outros disseram que não existe c h a m a i
do algum. Apesar de que o propósito aqui não é discuti*
um detalhe a questão dos milagres no século vinte, ■
tendência hoje corretamente se afasta da crença de qijfl
o homem deve passar pela experiência de uma v i s ^ |
nobrenatural como um “chamado” para pregar. Que a
pessoa é chamada para pregar, entretanto, é de toda
forma verdade. Nathaniel Burton resumiu os elementos
ímturais no chamado para pregar como os “dons” , uma
"corta convergência das circunstâncias do indivíduo em
diroção ao ministério” e “o conselho unânime de amigos
fionsatos” .4 Batsell Baxter conclui: “O indivíduo pode
mupor que foi ‘chamado para p reg ar’ quando suas quali­
ficações naturais são aquelas necessárias ao ministro,
quando ele tem a certeza de que Deus quer que seja um
proclamador público do evangelho, e quando ele mesmo
dosoja pregar a tal ponto que jamais se sentiria conscien­
temente livre se declinasse da oportunidade p ara fazê-
lo ." 5
Paulo expressou o fardo que deve ser sentido por todo
ministro digno do evangelho: “Ai de mim se não pregar o
Bvongelho!” (1 Co 9.16). E aos Romanos (1.14-15) ele
PRoreveu: “Pois sou devedor tanto a gregos como a
brtrlmros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso,
nuunto está em mim, estou pronto a anunciar o evange­
lho, tam bém a vós outros, em Roma” .

flídtsell Barrett Baxter, The Heart of the Yale Lectures (New York: Tho
jgliHian Company, 1947), pp. 6,7; quoted from Nathaniel J. Burton, In Pulpit
ÍPariish (New York: The Macmillan Company, 1925), pp. 36-39.
Q 0 Processo da
Preparação

“Procura apresentar-te a Deus, aprovado, como obreiro


que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a
palavra da verdade” — 2 Timóteo 2.15

INTRODUÇÃO
Quando Jesus enviou os doze para a “comissão limita­
da” , ele os instruiu: “não cuideis em como, ou o que
haveis de falar, porque naquela hora vos será concedido
o que havereis de dizer” (Mt 10.19). Na era miraculosa da
profecia, línguas, interpretações, e conhecimento, esta
foi uma excelente instrução para os pregadores e produ­
ziu proclamação extremamente eficaz. Mas o pregador
de hoje que sobe ao púlpito sem preparar-se, apesar
disso ser necessário, nem merece nem recebe um mila­
gre.
O que então pode e deve fazer o pregador antes
levantar-se para transm itir a mensagem de Deus ao
povo? So Deus não lhe dá a mensagem diretamente, comoj
ela vem o o que o pregador deve fazer para facilitar um a
boa reação? Alguns, à primeira vista, poderiam sugeria
que tudo o que ele precisa fazer é tomar de alguni
versículo bíblico, lê-lo e explicá-lo. Considerando melhorl
porém, descobriríamos que nem toda passagem se rv i
para esso uso o que a “explanação” pode variar dfl
clichês ao acaso até a exegese lingüística. I
A conclusão é portanto inescapável: o mensageiro de
I )<!us do século vinte deve escolher uma determinada
monsagem espiritual adequada às necessidades do audi­
tório, procurar materiais para esclarecer e enfatizar a
mensagem, determ inar a sua ordem e arranjo, empregar
palavras que expressem melhor o pensamento, e falar
com clareza e força. Este processo de preparação de um
discurso, particularmente no que se aplica ao sermão, ê
o toma do restante deste livro. Neste capítulo veremos o
processo como um todo, e nos capítulos posteriores,
iramos observá-lo parte por parte.

A FAÍSCA CRIATIVA
Quase todo sermão digno de trinta minutos do tempo
do ouvinte começa com uma faísca criativa — aquela
porcepção instantânea em que o homem exclama: “É
BHsa a lição que eles precisam ” . Esta “semente de
ponsamento” 1 freqüentemente chega enquanto ele lê ou
modita sobre as Escrituras ou enquanto se aplica a algum
outro livro.2 O lampejo pode vir, entretanto, enquanto
fiHlivor ouvindo um sermão ou palestra, revendo livros de
notas ou arquivos, vendo televisão ou um filme, enquanto
ponvorsa, pesca ou dirige, ou enquanto sonha. Embora
#h faíscas pareçam espontâneas, elas na verdade são o
ffüialiado do riscar da mente p rep arad a com cuidado
íoiilra a pederneira das Escrituras, da experiência hu-
tjhmia ou da necessidade espiritual (Capítulos 4 e 5).
s Como qualquer escoteiro pode testemunhar, porém,
multas faíscas voam da pederneira sem inflamar os
Ifavolos e se perdem tão facilmente como foram produzi-
llftH, Por esta razão, todo pregador deve ter sempre a
pffo ama caneta e papel para apanhar esses lampejos.
MhNino (]ue uma só palavra seja às vezes suficiente p ara
falnm brar o pensamento, é preferível anotar tanto quan-
■ possível.3 O fato do pregador fazer uso de fichas, livro
I Amlrow W. Blackwood, A Preparação de Sermões, (São Paulo: Aste,
P ! P 41).
de notas, ou pedaços de papel não é tão importante como
capturar a faísca e preservá-la até que possa inflamar
uma congregação inteira, produzindo nela amor, zelo ou
compreensão.
Um método sistemático é naturalm ente melhor do que
um casual, e um plano para registrar, reter e revisar
esses “vislumbres eternos” é fundamental. Alguns pre­
gadores experientes usam um fichário p ara idéias em
certas áreas gerais tais como “Espírito Santo”, “Amor”,
“Arrependimento” , e “Visitação”. Outros fazem uso de
um arquivo onde guardam idéias ou ilustrações para
referências futuras. Embora seja importante “planejar o
trabalho”, mais importante ainda é “trabalhar o plano” .
Da faísca p ara as chamas não é apenas o processo de
preparo e entrega do sermão, é também o ponto alto da
pregação, o entusiasmo criativo. Garrison chama isso de
“alegria da descoberta”, e o descreve como o “prazer”
que transform a “o trabalho em recreação” . “Para nós
que estamos no ministério,” continua ele, “uma das mais
sublimes fontes de prazer é a de ouvir uma mensagem de
Deus. Juntamente com a percepção de uma nova verda­
de, ou um novo aspecto da antiga verdade, provavelmen­
te haverá uma alegria que se aproxima do êxtase.” 4
Este princípio explica porque um auditório pode ge­
ralmente dizer se o sermão é produto do estudo recente e
ativo do pregador, ou apenas um regurgitar mal digerido
de um livro de esboços, ou uma repetição apressada de
suas notas antigas. Se o sermão começar com a faísca,
ele pode acender o fogo; se se tra ta r simplesmente da
escolha de um assunto, é provável que o “ apague” .

PREPARO DO FOGO E MAIS COMBIJSTÍVKI,


Um bom sermão precisa de tempo para pegar fogo —
o bastante para permitir que a faísca incendeio a lenha,
mas não tanto tempo que venha a morrer. Hlackwood
chama este período de “incubação inconsciente”, 5 o
prazo que a maioria das idéias precisa para am adure­
cer. O pregador que permite um período do combustão

4 Ibid., p. 17.
5 Blackwood, op, cit., p. 43.
lenta entre a faísca e a chama irá surpreender-se com a
grande quantidade de material que irá coletar por aci­
dente e, naturalmente, terá mais tempo para estudar,
orar, discutir, e analisar o tema.
“Quando não existe tensão, isso favorece a descober-
la de coisas negligenciadas durante o período de concen­
tração.” 6 A semelhança do encontro de Jesus com a
figueira estéril, o sermão entregue antes de se achar
plenamente desenvolvido pode ter uma bela folhagem,
mas provavelmente não produzirá muito fruto. Uma
criança natim orta é o resultado provável do parto antes
do final da gestação.
O período de combustão lenta é propício à investiga­
ção, exegese, análise, pesquisa, meditação e oração. Ele
não só permite a coleta de mais material do que o
necessário p ara a meia hora do sermão (Capítulo 6), mas
também a escolha da maneira mais significativa de
apresentação (Capítulo 7). Mesmo que a entrega seja
feita de improviso (Capítulo 9), este período permite a
escolha de várias palavras e frases-chave.
O resultado final deste período é o esboço do sermão
— um meio de estabelecer, de forma resumida, as idéias
principais do sermão com o m aterial que o acompanha, e
de mostrar a relação exata que existe entre cada item e
todos os demais. Mesmo que o pregador planeje escrever
a mão o seu trabalho, ele deve primeiro fazer um esboço
a fim de esclarecer suas próprias opiniões e determinar
de que forma cada item ajuda a alcançar o seu objetivo.
Fazer um esboço é sem dúvida o melhor método p ara
reunir as diferentes idéias que o pregador possa ter
encontrado a respeito de um tema, transformando-as
num todo unificado.

Um número demasiado do sermões é escrito


como se fossem dicionários com várias notas
secundárias e observações importantes, mas ne­
nhuma ligação entro elas. O melhor que pode ser
dito a respeito dos mesmos é o que disse o tolo
quando lhe deram a lista telefônica da cidade de
6 Garrison, op. c it , p. 49
Nova Iorque p ara ler: “Não tem enredo, mas que
elenco!” 7
A fim de que o fogo possa queimar bem, os gravetos
precisam ser dispostos da forma certa e não espalhados
de qualquer jeito.
O Capítulo 7 tra ta em detalhe da organização de
sermões, pois a entrega do sermão deve fazer parte de
todo curso deste tipo.
O preparo de esboços com sentenças completas e as
subdivisões apropriadas, assim como uma compreensão
exata do significado de cada item constante do esboço,
devem tornar-se uma segunda natureza de todo prega­
dor.

A CHAMA
Quando o pregador sobe ao púlpito, ele deve estar
pegando fogo, queimando por dentro com sua mensagem.
Tudo teve início com uma faísca que associou criativa­
mente uma verdade bíblica a uma necessidade humana,
entrou em lenta combustão durante um período de pre­
paro e coleta de combustível, e agora explode em cha­
mas.
Ele praticou o sermão a fim de dar-lhe os últimos
retoques; decorou o esboço para poder dar quase toda a
sua atenção ao auditório; e passou seus instantes finais,
antes de subir ao púlpito, em oração silenciosa e intensa
a Deus p ara que envie “fogo do céu” .8 Agora está pronto
para deixar que a chama que arde em seu íntimo seja o
combustível que vá inflamar a congregação para o
Senhor.

7 Gerald Kennedy, His Word Through Preaching (New York: Harper e


Brothers Publishers, 1^47), p. 48.
Pregando
Segundo as
Necessidades

“Expondo estas coisas aos irmãos” — 1 Timóteo 4.6

INTRODUÇÃO
Como seria tolo p ara o capitão de um navio que
estivesse afundando, ficar no convés com a água subindo
cada vez mais e explicar aos passageiros em pânico
como ganhar no xadrez. Ainda mais tolo, porém, seria o
pregador falar às almas perdidas encerradas tem pora­
riamente em corpos agonizantes a respeito das belezas
da literatura ou entretê-las com a sua verve. O pregador,
como já se disse muitas vezes, é um homem em agonia
falando a homens agonizantes. Como muitos sermões
seriam diferentes se o pregador acreditasse que estava
tendo a sua última oportunidade de levar uma alma
perdida a Jesus; todavia, em cada auditório, haverá
provavelmente pelo menos uma pessoa a quem o ministro
estará falando pela última vez.
Esses pensamentos apenas sublinham a importância
da escolha cuidadosa do tema da pregação. Os pregado­
res não estão simplesmente envolvidos numa questão de
vida e morte, mas também de céu e inferno. Ao reconhe­
cer que, com toda probabilidade, ele jamais falará de
novo ao mesmo auditório, o pregador deve tomar especial
cuidado em atingir diretamente as maiores necessidades
de seus ouvintes. Como é trágico quando os necessitado!
do poder de cura e sustentação da Palavra de Deus
“pedem” e não recebem resposta; “buscam ” e não
encontram; “batem ” e ninguém abre. O pregador pode
pronunciar uma obra-prima de homilética com brilhan­
tes ilustrações, estilo vivido, organização incisiva, exe­
gese original e entrega entusiástica, sem alcançar qual­
quer êxito porque não satisfez as necessidades da con­
gregação. Tal realização pode ser com parada à de um
jogador de basquete que faz ótimas jogadas, tem o tempo
perfeito, mas atira na cesta errada.
O pregador deve estar sempre consciente de que a
sua missão é guiar os homens em direção ao céu.
Qualquer outra coisa que faça é apenas incidental.
Nenhum serviço político, social, econômico ou intelectual
que o pregador possa prestar irá jamais igualar-se à sua
assistência espiritual. Outras necessidades são premen­
tes e algumas vezes parecem mais imediatas, mas nada
deve obscurecer a maior de todas as necessidades —
reconciliação com Deus.
O pregador deve então conhecer a sua congregação.
Em termos do especialista em oratória, ele deve analisar
seus ouvintes.
Mas, exatamente o que o pregador deve saber a
respeito de seus ouvintes? Como é natural, o pregador
deve evidentemente, como qualquer outro orador, co­
nhecer o tamanho do auditório, a idade e os níveis
culturais representados, a ocasião para que se reúnam,
suas ocupações e ambiente em que vivem, situação
cultural e econômica, filiações políticas e religiosas,
atitudes com relação ao tema a ser apresentado, assim
como a proporção de homens e mulheres e seu estado
civil. Na maioria das ocasiões de pregação, porém, o
auditório é heterogêneo, sendo difícil generalizar devido
às diferenças de idade, nível cultural, e ambiente. O
melhor que o pregador pode fazer é tomar conhecimento
dos diferentes grupos representados: adolescentes, la­
vradores, membros de sindicatos, mães, universitários,
homens de negócio, aposentados, membros de partidos
políticos, e muitos outros. Ao saber quais os grupos
representados e as características gerais dos que neles
se encontram, ele pode obter uma idéia das particulari­
dades dos seus ouvintes.
Esses elementos-padrão p ara análise do público irão ser
de auxílio p ara o pregador em (1) escolher e fazer a
abordagem apropriada do seu tema, (2) selecionar ilus­
trações adequadas e m aterial de apoio, e (3) ad aptar o
seu apelo às principais convicções dos ouvintes.1
A fim de ser verdadeiram ente eficaz, porém, o minis­
tro deve ir muito além dessas considerações superficiais
ao analisar o seu público. Ele deve descobrir as necessi­
dades espirituais, os conflitos e os problemas daqueles
com quem fala.
É preciso ir além do sorriso e do aperto de mãos à
entrada e chegar ao conflito íntimo que aflige a maioria
dos ouvintes. Se Paulo pôde confessar a necessidade de
“esbofetear o seu corpo” a fim de vencer a sua luta
pessoal, poucos cristãos poderiam estar tão aperfeiçoa­
dos a ponto de não mais precisarem lutar.
Mas, qual a natureza deste conflito íntimo e como
pode o pregador compreendê-lo? Os problemas que preo­
cupam um pregador crescem num solo com três ingre­
dientes: (1) o conflito contínuo entre a matéria e o
espírito, [2] a satisfação de impulsos inatos, e (3) a
solução de problemas emocionais. Esses três formam o
fundamento triangular sobre o qual outros problemas são
erigidos, e, embora a superestrutura esteja constante­
mente se modificando à medida que alguns assuntos são
resolvidos e outros esquecidos, a base se mantém cons­
tante. Antes do pregador poder satisfazer as necessida­
des reais do seu povo, ele deve compreender o solo de
onde surgem os seus anseios e problemas. Ele não irá
naturalmente concentrar todos os seus sermões nesses
temas básicos, mas se observar apenas os problemas que
ficam acima do solo, deixará freqüentemente de tocar as
necessidades reais. O pregador deve dedicar-se ao de­
senvolvimento espiritual de sua congregação, a p rep arar
os seus membros p ara o céu, e a ajudá-los a se ajustarem
à vida presente.
MATÉRIA VS. ESPÍRITO
Muito do que vai pela mente da congregação surge do
conflito infindável entre a m atéria e o espírito. Esto
1 Mais informação sobre a análise dos ouvintes pode ser encontrada
qualquer livro padrão sobre a arte de falar em público.
tópico, de fato, é talvez o tema mais citado na Bíblia.
Adão e Eva foram os primeiros a escolher, e infelizmente
para todos os seus descendentes, eles escolheram a
matéria. Moisés, por outro lado, escolheu “ser m altrata­
do junto com o povo de Deus, a usufruir prazeres
transitórios do pecado” (Hb 11.25). Até mesmo Davi, um
homem “ segundo o coração de Deus”, achou Bate-Seba
mais atraente do que seu apego aos princípios retos.
Judas vendeu o seu Mestre por trinta moedas de prata,
mas Estêvão preferiu m orrer do que abandonar o que ele
sabia ser correto.
As escrituras se referem com freqüência ao apelo do
físico como sendo o “mundo” ou “a carn e”. Essas são
coisas opostas ao que é “celestial” e “espiritual”. Aos
Coríntios, Paulo descreveu o conflito nestes termos: “Não
atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se
não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que
se não vêem são etern as” (2 Co 4.18). Pedro advertiu
seus leitores que se abstivessem “das paixões carnais
que fazem guerra contra a alm a” (1 Pe 2.11).
Muitos acham difícil desenvolver uma fé bastante
forte p ara dar realidade àquilo que não vêem: Deus,
Cristo, o Espírito Santo, inspiração, céu, inferno, amor,
tesouros no céu. É muito fácil, por outro lado, comprar as
mercadorias que o Diabo vende abertamente: dinheiro,
poder, orgulho, sabedoria terrena, paixão, revido, “pas­
sar à frente” de outros.
Uma das necessidades cada vez mais prementes em
cada membro de todo auditório é ver o reino espiritual
com maior realidade, d ar mais importância aos valores
espirituais, tomar decisões numa perspectiva de eterni­
dade, dar aos assuntos espirituais uma prioridade cres­
cente, ao mesmo tempo que damos cada vez menos
importância às coisas materiais.
O pregador deve cuidar p ara que a maioria do seus
sermões tenha um efeito positivo na formação desta fé
ativa. Ele pode falar de Abraão que viu a cidade espiri­
tual “com fundamentos” ou de Rute que escolheu seguir
um Deus invisível em lugar dos ídolos que deixara em
Moabe, ou de Barnabé que cedeu seus bens materiais
com um fim espiritual em vista. Ele pode explicar passa­
gens que falem de “tesouros no céu” , “nascido da água e
do espírito” , “renovação da mente”, ou de “crescer na
graça e conhecimento de Jesus Cristo” .
Ele deve também m ostrar o materialismo à sua ver­
dadeira luz como um destruidor da alma. Tiago retrata
graficamente o plantio da semente da cobiça, o cresci­
mento da planta do pecado, e a ceifa do fruto da morte. A
verdade de tudo isso, continua Tiago, é que o caminho de
Satanás é falso e que “toda boa dádiva e todo dom
perfeito é lá do alto” (Tg 1.14-17).

IMPULSOS INATOS
Grande parte do tumulto e necessidade interiores do
homem surge do segundo dos três elementos do solo: a
satisfação dos impulsos inatos. Como uma corrente elé­
trica, esses desejos surgem constantemente no homem e
a sua satisfação é o objetivo contínuo do mesmo. Cada
impulso é divinamente concedido e se destina ao bem-es­
tar do indivíduo. Apenas quando as suas tentativas de
obter satisfação vão além dos limites dados por Deus é
que ele se sente frustrado, entra em conflito e peca.
O pregador presta importante serviço quando rela­
ciona o cristianismo a esses desejos do homem, pois,
fazendo isso, ele o torna tão prático quanto espiritual. Os
pregadores salientam às vezes com excesso as responsa­
bilidades e sacrifícios do cristianismo sem mencionar que
as bênçãos recebidas “tanto nesta vida como na vida por
vir” superam de muito aquilo que o cristão deve abando­
nar. O pregador, além disso, deve salientar o ponto de
que tudo que é proibido ao cristão no final só pode
beneficiá-lo. Assassinato, roubo, fornicação, mentira —
nada disso é bom nem para o homem nem p ara a
sociedade. Deus arranjou então de tal forma os princí­
pios do cristianismo que todo impulso é satisfeito em
proporção razoável, enquanto o indíviduo e a sociedade
se mantêm protegidos. Ao mesmo tempo, o homem está
servindo ao seu Criador e desenvolvendo um caráter
semelhante ao de Cristo.
O plano cristão para satisfazer os impulsos inerentes
a cada indivíduo é o melhor jamais imaginado. Ele evita
os extremos do estóico que afirma “evite o prazer” e do
hedonista que diz “ o prazer é tudo” . A verdade é que os
impulsos do homem são muito semelhantes aos controles
de um aparelho estereofônico. Perdemos quase sempre
os melhores sons quando sintonizamos tudo — volume,
agudos, baixos — no ponto mais alto. Da mesma forma,
quando alguém tenta levar todo impulso, ou qualquer
deles, até a sua completa gratificação, só irá encontrar
confusão e frustração.
Deus nos deu maneiras boas e belas de satisfazer
cada impulso, mas ele nos ensinou onde parar, identifi­
cando como pecado aqueles atos que ficam além dos
limites. Os que aceitam essas restrições serão muito mais
felizes agora e terão a satisfação eterna dopois da morte.
Um breve exame de cada impulso irá sugerir a
satisfação certa que Deus recomenda o os pocados que
recaem sobre os que passam além das restrições feitas
por Deus.
AUTO-PRESERVAÇÃO. Deus foz com que o homem
quisesse manter a sua vida o guardar-so das injúrias
físicas, mas ele deve fazer isso dontro dos limites da
honestidade e tem perança. Aquolo quo abusa da comida
sob a bandeira da auto-prosorvação ostá seguindo o
plano do Diabo da cobiça descontrolada, mas não está
servindo aos seus melhores intoroHHUH. A auto-preserva-
ção, além disso, deve ser temporada pala generosidade,
caso contrário se transform a num cAncor que destrói o
indivíduo mediante o desejo dosonfroado. () trabalho do
pregador então, deve inculcar os princípios que orientam
este desejo dentro de canais apropriados.
SEXO. Contrariamente à crença do alguns, não há
mal no sexo em si; somente o abuso dosto 6 urrado. Assim
como a auto-preservação leva o homom a cuidar de si
mesmo, o sexo leva à procriação da raça. Som esses dois
impulsos, a história do homem teria terminado muito
antes do grande dilúvio. A fim de concodor algo especial
e unificador ao relacionamento marido-osposa, para
proteger a sociedade contra a existência do crianças sem
lar, assim como para o bem-estar emocional do indiví­
duo, Deus ordenou que a satisfação sexual fosso obtida
dentro da estrutura do amor e do casamento. Fornica-
ção, adultério e lascívia, portanto, são coisas pecamino­
sas desde, que não visam o bem final do homem. Quando
os pregadores preparam ensinamentos adequados sobre
este assunto, estão não apenas fortalecendo a primeira
instituição divina, o lar, mas também ajudando os mem­
bros de sua congregação a evitar os perigos da satisfa­
ção pecaminosa que leva à miséria, sentimento de culpa,
e destruição. Poderia ser acrescentado que os profetas
da “nova moral” não apresentam nada de novo e certa­
mente não têm qualquer moral.
APROVAÇÃO SOCIAL. O desejo de aprovação faz
com que os homens se reúnam socialmente p ara o bem-
estar de todos. Os ensinamentos de Jesus sobre o amor
ao próximo, bondade, mansidão, humildade, paz, paciên­
cia e domínio próprio, são todos destinados a ajudar o
cristão a receber a aprovação tanto de seus semelhantes
como de Deus. O serviço cristão, da mesma forma, irá
receber aprovação. Por outro lado, os pecados da dispo­
sição: ódio, malícia, inveja e ira, separam os amigos,
enquanto o egoísmo destrói os casamentos, as relações
de negócios e as naçõe.s. O pregador deve advertir contra
os perigos da pressão por parte do meio em que vivem,
que leva a muitos pecados.
AFEIÇÕES. Unido à aprovação social está o desejo de
laços pessoais mais íntimos, “am ar e ser amado” . Tais
afeições são uma parte básica do lar e da vida em
família. Família nenhuma é tão unida como aquela em
que o pai, a mãe e os filhos são cristãos, seguindo assim
os princípios de preocupação com os outros em lugar de
si mesmo. O amor encontrado na comunhão cristã tam­
bém é de ajuda na satisfação deste impulso. Por outro
lado, os que estão ansiosos demais para ter amigos
podem cair em muitas arm adilhas “dolorosas e insensa­
tas”.
POSSESSÕES. Desde a criança que pega o seu
primeiro brinquedo, todos nós desejamos possuir coisas.
É este desejo que estimula a maior parte das pessoas a
trabalhar mais em suas ocupações seculares. Confinado
aos seus limites adequados, o impulso de posse fornece
uma importante motivação na rotina diária; mas além
desses limites, esse desejo se torna insaciável e leva o
indivíduo a um círculo vicioso de insatisfação. Os princí­
pios cristãos de honestidade, economia e mordomia são
básicos para uma satisfação adequada deste desejo; mas
a cobiça, a inveja, o materialismo e a tristeza aguardam
os que ultrapassam os limites dados por Deus.
PODER. O homem instintivamente deseja livrar-se
das restrições e a maioria almeja posições de liderança.
Sem este impulso não pode existir uma sociedade livre,
nem se encontra iniciativa no lar, nos negócios, na escola
ou na igreja. Mas a cobiça e a ambição surgem de um
desejo incontido de poder e, como resultado, um Hitler ou
um Stalin precipitam o mundo num abismo. O cristianis­
mo coloca o desejo de poder em seu lugar adequado,
combinando-o com a humildade e o amor.
PRAZER. O próprio Deus deve am ar a beleza, pois
artista algum pode igualar o quadro de um pôr-do-sol
feito por Deus ou a sua sinfonia da floresta. Ele deu ao
homem a capacidade de apreciar o belo e o que dá
prazer, e o homem goza da satisfação de todos os seus
sentidos. Existe, todavia, um constante perigo de que o
prazer se torne o impulso controlador em nossa vida, e o
indivíduo passa a viver para a luxúria da carne e não
para o fruto do Espírito. É Deus novamente quem fornece
os limites, apresentando exemplos desde Eva até Demas
daqueles que cairam nas armadilhas de Satanás, tendo
sido seduzidos pelo “mundo”. O pregador deve ajudar
seus ouvintes a manterem uma perspectiva divina.
CONVICÇÕES. O homem precisa de nlgo em que
acreditar, e como já visto, ele necessita do limites para
as suas atividades. O cristianismo pode fornecer essas
convicções. Como é trágico quo alguns lenluun tentado
eliminar do cristianismo qualquer doutrina quo pudesse
ser controversa, removendo assim grande parte de sua
força e valor. É interessante notar em relação a isto que
as religiões que mais crescem na América em anos
recentes têm sido as que oferecem uma doutrina mais
forte e mais definida, à qual a pessoa pode agarrar-se.
As que ofereceram apenas “relativismo” fizeram um
progresso mais lento ou declinaram. Os pregadores,
como os pais, precisam exercer uma orientação positiva
sobre aqueles que deles dependem, e devem fornecer
ensinamento suficiente a fim de p rep arar uma base firme
para as sólidas convicções.
EXPLORAÇÃO. O desconhecido contém tal fascina­
ção para o homem que o desejo de explorar deve ser
contado entre os impulsos básicos. Quer seja voar para a
lua, subir a um pico de montanha ainda inconquistado,
ou ler pela primeira vez um pergaminho recém-descober-
to, o ser humano vibra com a exploração. O pregador
pode ajudar na satisfação desse impulso orientando a
congregação no sentido de realizar atividades e estudos
que despertem o entusiasmo da exploração: testem unhar
a alguém que não conheça o evangelho, levar alimento e
roupas p ara os necessitados, ajudar uma família a
unir-se mais, levar a uma viúva sozinha, a um ex-convic-
to, ou a um membro de uma raça minoritária, uma
palavra de solidariedade a fim de que se sintam deseja­
dos. A vida cristã é vista dem asiadas vezes como monóto­
na, pouco excitante e aborrecida e as pessoas voltam-se
então p ara outras explorações, envolvendo-se com fre­
qüência de tal forma nas coisas materiais que abando­
nam por completo a vida espiritual. Cristo oferece muita
excitação e estímulo, bastando que os cristãos busquem
isso da m aneira certa.
RESPEITO E ADORAÇÃO. Onde quer que o homem se
encontrasse, ele sempre buscou algo além de si mesmo. A
pá do arqueólogo revela objetos de culto em todas as
civilizações do passado. O cristianismo fornece a melhor
de todas as satisfações p ara esta necessidade: um Deus
de amor, um guia da verdade, um alvo do céu. Todo
pregador deve fazer pleno uso do impulso humano inato
de descobrir algo acima e além de si mosmo p ara o qual
possa voltar-se.
Esses dez impulsos então, resumem as necessidades e
desejos fundamentais e inatos do cada indivíduo. Embora
cada um deles varie de intensidade de pessoa para
pessoa e até mesmo na mosma pessoa em ocasiões ou
estágios diferentes da vida, o pregador deve compreen­
der esses aspectos da natureza humana e seu relaciona­
mento com o ensino cristão. Seus sermões devem focali­
zar freqüentemente a ajuda que pode ser dada à congre­
gação a fim de que esta encontre satisfação plena
embora evitando a “concupiscência” , que é a procura
desenfreada de satisfação de um impulso que as escritu­
ras chamam de “am ar o mundo” .

SOLUÇÃO PARA PROBLEMAS EMOCIONAIS


Relacionadas com esses impulsos e nascidas deles
estão as emoções humanas, o terceiro ingrediente do solo
das necessidades do homem. Uma lista bastante abre­
viada das emoções inclui: medo, ódio, amor, inseguran­
ça, ira, culpa, vergonha, orgulho, solidão, excitação,
tristeza, piedade, simpatia, humor e inferioridade. Essas
emoções podem ser consideradas como os “sentimentos”
que o homem tem a respeito de seus impulsos. A pessoa
irá, por exemplo, temer o que ameaça a sua auto-preser-
vação e am ar aquilo que possa aumentá-la. Ela irá odiar
o que impede que alcance o poder, terá orgulho de suas
posses, entristecer-se-á quando seus afetos se perdem, e
sentir-se-á envergonhada quando ofender aqueles de
quem busca aprovação. A excitação surge naquelas
ocasiões em que uma satisfação repentina é antecipada
ou uma perda súbita é temida.
Embora, como veremos mais ta rd e ,2 um pregador
faça uso das emoções e motivos para persuadir, ele deve
também compreender os mesmos a fim de ajudar os
membros da congregação a se ajustarem às situações
que envolvam as suas emoções.
Edgar Jackson, em seu livro How to Preoch to People’s
Needs (Como Pregar de Acordo com as Necessidades das
Pessoas), discute necessidades emocionais como senti­
mentos de culpa, tristeza, temor, insegurança, alcoolis­
mo, solidão, fracasso, ira, dúvida, tensão, inferioridade,
e imaturidade. Ele observa:
Com base numa observação da média geral
pode ser possível obter uma idéia de um grupo
representativo da sua congregação. Numa con­
gregação de 500 pessoas, é razoável supor que
pelo menos 100 delas passaram pela experiência
de perder um ente querido recentemente, achan­
do-se portanto numa fase aguda de sofrimento.
2 Kste aspecto das emoções e motivos está contido no Capítulo 6.
Um terço dos casais deve estar provavelmente
enfrentando problemas de ajuste de personalida­
de que podem enfraquecer ou destruir o seu lar.
Peío menos metade dos 500 devem ter problemas
de ajuste emocional na escola, no trabalho, no
lar, ou na comunidade, que põem em perigo a sua
felicidade. Outros podem ter neuroses que vão
desde o vício da bebida até formas mais brandas
de obsessão e angústia. Talvez quinze ou mais
tenham tendências homossexuais e outros 25 so­
fram de depressão. Uma outra centena pode estar
debaixo de um sentimento de culpa ou medo de
descoberta tão grande que a paz de sua mente e
sua saúde física tenham sido prejudicadas. O
raro indivíduo cuja paz de mente e alma sejam
completas acha-se provavelmente rodeado por
aqueles que levam dentro de si fardos pesados.3
Apesar de tais estatísticas serem virtualmente impos­
síveis de constatar com exatidão, elas devem abrir os
olhos da maioria dos pregadores para as necessidades
emocionais que enfrentam no púlpito a cada domingo.
Em quase todo auditório há sempre alguém prestes a
tomar uma decisão difícil e que precisa de orientação
espiritual. Outro se encontra em crise espiritual e com a
direção correta pode ser levado a entrar no reino. Uma
família à beira do rompimento pode voltar a unir-se.
Alguém que esteja querendo praticar um ato pecaminoso
pode ser dissuadido dele.
Todos esses impulsos e emoções estão pulsando na
mente e no coração dos membros da congregação. Os
problemas e necessidades exigem um médico hábil que
saiba aplicar a palavra curativa de Deus.

OBSERVAÇÕES FINAIS

Além dessas necessidades básicas que formam a


subestrutura dos pensamentos do homem, existem natu­
ralmente aqueles problemas específicos que fazem parte
3 Edgar N. Jackson, How to Preach to People's Needs, (New York
Abingdon Press, 1956), p. 14.
de cada congregação em particular — e destes o prega­
dor precisa tomar consciência. Há ocasiões em que os
membros entram em conflito uns com os outros e preci­
sam ser advertidos. “Que não haja entre vós divisões” (1
Co 1.10). Outras vezes o programa precisa ser estimula­
do e a congregação tem necessidade de ouvir: “Tudo
posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13). Os momentos
de conflito internacional exigem que o pregador recorde
as palavras do salmista: “Deus é o nosso refúgio e
fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (SI
46.1). Os que se inclinam para a dúvida devem ser
lembrados de que, “Estes, porém, foram registrados
p ara que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e
p ara que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.31).

E evidente que a pregação exige o conhecimento das
necessidades individuais, um conhecimento muito mais
específico do que o dado pelas observações gerais ou
estatísticas. Um pregador deve conhecer a sua congre­
gação mediante contato direto, visitando os membros em
suas casas, no emprego ou negócio, na escola. Ele deve
observá-los no trabalho e na recreação, assim como na
sala de aula e no púlpito. Ele deve conhecer a comunida­
de através de seus veículos de notícias e contatos com
líderes da mesma. Deve estar familiarizado com os
eventos locais, estaduais, nacionais e internacionais a
fim de usá-los como exemplo e aplicação, mas acima de
tudo a fim de entender a tendência da época o a condição
do povo. Ele deve pesquisar os antigos registros da
igreja, tomar conhecimento de sua história e observar o
seu progresso. O pregador deve na verdade ser um
estudioso atento tanto do seu Livro como do seu povo.
Muitos grandes pregadores deram testemunho da
necessidade de conhecer a congregação. William Taylor,
que fez as Conferências Lyman Beecher sobre Pregação
em 1876, sugeriu quatro meios pelos quais o pregador
pode conhecer o homem: “O estudo dos muitos persona­
gens da Bíblia, que, segundo ele ‘representam cada uma
das fases da natureza hum ana’. A segunda fonte de
niíitorial era o campo da literatura ou história da huma­
nidade. A terceira fonte de informação indicada por
Taylor foi ‘as obras dram áticas de Shakespeare’. Sua
sugestão final foi esta: ‘m isturar-se com os próprios
homens” ’4 Henry W ard Beecher aconselhou:
Comece o seu ministério com as pessoas co­
muns. Tempere o seu caráter com a humanidade
e as simpatias pertencentes aos homens; misture-
se com os lavradores, os mecânicos e os trab alh a­
dores; coma com eles, durma com eles; pois no
final de contas, essa é a grande substância da
hum anidade.5
Jesus falou a respeito de si mesmo como de um médico
que veio p ara curar as almas doentes dos homens; os
pregadores que seguem o M estre são também médicos. O
Espírito Santo forneceu um grande número de medica­
mentos p ara diversos tipos de doenças, e o pregador
deve então examinar o paciente, diagnosticar a moléstia,
e aplicar o remédio. É preciso conhecer os remédios
divinos, mas isso não basta. O pregador precisa compre­
ender os pacientes e conhecer os seus problemas, e,
assim, com o mesmo cuidado com que um hábil neuroci-
rurgião remove uma parte doente do cérebro, ele deve
procurar aplicar o medicamento exato da m aneira mais
eficaz.
A chave p ara satisfazer as necessidades da congre­
gação é portanto tornar a pregação relevante. Embora
preguemos um evangelho antigo, ele continua aplicável
ao mundo moderno. Ele tra ta de problemas básicos que
persistem dentro do homem, entre os homens e entre o
homem e Deus. A maneira de tornar a pregação relevan­
te não é abandonar o antigo evangelho, mas torná-lo
significativo em termos de problemas, aspirações e ne­
cessidades atuais. Duas das surpreendentes qualidades
das Escrituras são sem dúvida tanto a sua oportunidade
como a sua eternidade: elas são sempre oportunas e
aplicáveis.
Talvez a melhor recomendação que pode ser dada à

4 Batsell Barrett Baxter, The Heart of the Yale Lectures (New York: The
MacMillan Company, 1947), pp. 241, 242. Citado em parte de William M.
Taylor, The Ministry of the Word (London: T. Nelson and Sons, 1876), pp.
41-44.
5 Henry Ward Beecher, YaJe Lectures on Preaching, 3 vols. (New York:
Charles Scribner’s Sons, 1890), p. 147; citado em Baxter, op. c ii , p. 243.
maioria dos pregadores é que os ouvintes sempre pergun­
tam: “E dai?” “E daí se Davi pecou com Bate-Seba?” “E
daí se existem diferentes tipos de am or?” Todo sermão
deveria fazer com que cada ouvinte dissesse: “Eu sei
como isto se aplica a mim”.
Todo ministro que possa fazer com que os irmãos se
lembrem do que verdadeiram ente precisam e possa
ajudá-los a aplicar o remédio às suas próprias vidas, irá
prestar um serviço de eterna importância.

PARA SUA CONSIDERAÇÃO


1. Como pode o pregador descobrir a informação que
precisa ter sobre as necessidades da sua congrega­
ção?
2. Cite e explique conforme necessário, o que acredita
serem as necessidades básicas das congregações.
3. Analise uma congregação, notando particularm ente
tanto as características gerais como as necessidades
específicas.
4. Cite pelo menos seis temas de sermão que você
poderia pregar, relacionados com qualquer impulso
inato de sua escolha.
Variando as
Funções do
Sermão
“Corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e
doutrina” — 2 Timóteo 4.2
O
INTRODUÇÃO
Alguns dos mais preciosos conselhos para os prega­
dores são sem dúvida encontrados nas cartas que Paulo,
um veterano amadurecido, escreveu a Timóteo, um neófi-
to, e uma parte muito importante dessas recomendações
tra ta da necessidade de sermões destinados a alcançar
diferentes propósitos. Paulo recomendou: “Prega a pala­
vra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repre­
ende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm
4.2). Há ocasiões, diz ele, p ara corrigir e repreender, e
outras p ara exortar e ensinar. Dois versículos antes,
Paulo tinha sugerido que as Escrituras são proveitosas
para “o ensino, p ara a correção, p ara a educação na
justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado p ara toda boa obra” (2 Tm
3.16,17).
Como indicado no Capítulo 4, o pregador deve focali­
zar as necessidades, mas ao fazer isso deve planejar
todo o seu programa de sermões da mesma forma que um
general traça a sua estratégia p ara invadir a fortaleza
do inimigo. O ministro prega geralmente para a sua
congregação cem vezes por ano, e durante um período de
alguns anos ele tem a oportunidade de desenvolver temas
básicos que satisfaçam as necessidades da mesma. Ele
precisa, portanto, variar a sua abordagem e seu propósi­
to, pois, se falar repetidam ente sobre o mesmo tema, irá
fazer surgir uma reação negativa por parte dos ouvintes,
que a princípio se cansam e depois passam a zombar do
seu “passatem po” . Se tra ta r apenas dos pontos mais
simples do evangelho, irá “retard ar o crescimento dos
membros da congregação dando-lhes apenas leite; se os
alimentar com uma dieta constante de carne, muitos
poderão ficar famintos porque não podem nem mastigar
nem digerir o alimento provido” .
O pregador, portanto, deve primeiro compreender as
necessidades da congregação; a seguir ele precisa diag­
nosticar as necessidades específicas e imediatas daque­
les a quem serve; e finalmente terá de preparar um
programa de pregação que irá tanto satisfazer essas
carências como ser favoravelmente recebido pela con­
gregação. Da mesma forma que o bom atirador que dá
doze tiros separados e eventualmente forma um círculo,
o pregador também pronuncia sermões independentes
que eventualmente formam um padrão de desonvolvi-
mento espiritual para a congregação.
O pregador busca desenvolver cada membro da con­
gregação, fazendo-o crescer continuamente, como o jar­
dineiro faz crescer as suas plantas. Uma árvore, por
exemplo, cresce de quatro maneiras ao mesmo tempo:
raízes, tronco e ramos, folhas e frutos. 0 cristão também
cresce de quatro m aneiras ao mesmo tempo: conheci­
mento, convicções, inspiração, e ação.
A raiz ou fundamento do crescimento cristão é o
conhecimento. Pedro indicou que precisamos “crescer
na graça e no conhecimento de nosso Senhor o Salvador
Jesus Cristo” (2 Pe 3.18), e ele citou o conhecimento como
uma das graças cristãs (2 Pe t.[j-(> ). Jesus também
colocou o conhecimento na base do crescimento cristão
quando afirmou: “Está escrito nos profetas: li serão
todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele quo da
parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim” (Jo
6.45). A grande comissão enfatiza o mesmo ponto: “Ide,
portanto, fazei discípulos (aprendizes) de todas as na­
ções, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-os a guardar todas as coesas quo vos
tenho ordenado” (Mt 28:18,19). O seguidor do )tisus que
não crescer em conhecimento irá murchar e morrer como
as pessoas da época de Oséias. “O meu povo” diz ele,
“está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento”
(Os 4.6). O conhecimento, então, como as raízes da
árvore, supre o alimento que torna possível o crescimen­
to das outras partes.
A igreja de Pérgamo fornece um exemplo de uma
congregação a que faltava suficiente conhecimento. A-
pesar de Jesus tê-los elogiado por “conservarem” certas
crenças, por causa de sua ignorância de outros pontos
eles tinham permitido a entrada de falsos ensinamentos e
foram, portanto, advertidos a “arrepender-se, se não ...”
(Ap 2.12-17).
Das raízes do conhecimento cresce o tronco da con­
vicção. O cristão não é apenas alguém que sabe; ele é
também alguém que crê. João estabeleceu o propósito de
grande parte da Bíblia quando disse: “Estes, porém,
foram registrados p ara que creiais” (Jo 20.31). O escritor
de Hebreus define a fé como “a certeza de cousas que se
esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb
11.1). D eclarada em outros termos, a f ê é aquela qualida­
de que dá realidade àquilo que o cristão aguarda, mas
não pode ver. A convicção do cristão faz com que Deus,
Cristo, o céu, e todos os demais conceitos espirituais
sejam verdadeiros e reais p ara ele. A fé em Deus é o
tronco robusto de sua vida e as outras convicções são os
ramos. O trabalho de todo pregador é estimular o cresci­
mento de todas essas convicções.
As folhas desta árvore são a inspiração. Uma árvore
pode ter boas raízes e um tronco grande, mas sem folhas
irá morrer. Assim também o cristão pode ter conheci­
mento e convicção, mas sem edificação para despertar o
seu zelo e exortação para estimular o seu entusiasmo, ele
morrerá. Como o sol sobre as folhas faz com que estas
produzam alimento para a árvore, os sermões do prega­
dor devem inspirar o cristão, produzindo assim combus­
tível para o sou cresci monto o produtividade.
Muitos cristãos, infelizmonte, permanecem como uma
árvore morta com raízes, tronco e ramos intactos, mas
sem vida ou fruto. O cristão podo ter conbocimento e
convicção, sem possuir qualquer sentimento, amor ou
zelo. Ele presta então apenas para ser queimado, como
os ramos sem fruto.
A igreja de Éfeso demonstra a importância da inspira­
ção. Jesus os elogiou por recusarem os falsos ensinamen­
tos e por suportarem a tribulação, mas condenou-os por
abandonarem o seu “primeiro amor” . Apesar de preser­
varem a sã doutrina, sua falha em am ar levou Jesus a
adverti-los: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-
te, e volta ã prática das primeiras obras; e se não, venho
a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te
arrependas” (Ap 2.5).
Finalmente, toda boa árvore produz fruto. Esta foi
uma ilustração favorita de Jesus: a figueira estéril foi
amaldiçoada; os ramos infrutíferos foram cortados da
vinha e lançados ao fogo; e o “teste do fruto” foi sugerido
como um meio de distingüir entre os verdadeiros e os
falsos profetas. O pregador deve então trabalhar no
sentido de obter ação. A produção de frutos é o teste real
do discipulado, pois “todo ramo que, estando em mim,
não der fruto, ele o corta” (Jo 15.2). Em todo exemplo que
Jesus deu do julgamento, ele usou os que não produziam
fruto como amostra dos que são condenados: o homem
que recebeu um talento, as cinco virgens néscias, o
convidado do casamento que não estava preparado, os
que deixaram de ajudar os necessitados. Jesus escreveu
à igreja de Sardes: “... tens nome de que vives, e estás
morto... porque não tenho achado íntegras as tuas obras
na presença do meu Deus” (Ap 3.1-2). Estavam mortos
porque nenhum fruto chegou a am adurecer.
O conhecimento, as convicções e a inspiração, por­
tanto, têm como propósito final a produção de frutos e a
ação. Conhecer o ensinamento bíblico sobre o casamento
é bom, mas construir um lar cristão é melhor; estar
convencido da divindade de Jesus é bom, mas levar
outros à mesma conclusão é melhor; compreender a
doutrina do logos é bom, mas viver de acordo com a
Palavra é melhor.
Os quatro objetivos do pregador são portanto produ­
zir em seus ouvintes as qualidades de conhecimento,
convicção, inspiração e ação. Cada um deles, como as
quatro partes de uma árvore, cresce simultaneamente, e
o crescimento em uma parte ajuda todas as demais, pois
olnn são inter-relacionadas. Uma outra semelhança é
também importante: enquanto a árvore vivo, ela cresce,
e quando deixa de crescer, morre. O cristão também
deve crescer continuamente e o pregador precisa com­
preender este crescimento e contribuir grandemente
para o mesmo.
Conhecimento, convicção, inspiração e ação podem
ser alcançados mediante um sermão planejado com esse
propósito particular, e os sermões desse tipo têm como
finalidade informar, convencer, estimular e praticar.
Esses quatro tipos de sermão se acham, além disso, em
ordem ascendente. O mais fácil de fazer é transm itir
informação, e os sermões p ara convencer, estimular e
praticar se tornam cada vez mais difíceis, nessa ordem.
Deve ser também notado que o tipo mais difícil quase
invariavelmente necessita que os alvos anteriores já
tenham sido alcançados. Assim sendo, o sermão para
convencer deve primeiro transm itir informação, o ser­
mão p ara inspirar deve primeiro informar e convencer, e
o sermão p ara praticar deve informar, convencer e
estimular antes de incitar à ação.
Além de compreender cada um desses tipos de ser­
mão, o pregador também deve analisar cada um deles em
alvos mais específicos. A seguinte lista de assuntos
gerais p ara cada categoria de sermão, tanto explica
melhor cada um desses propósitos para o sermão como
fornece uma ampla lista de temas adequados a cada tipo.
Essas declarações também permitem uma boa visão dos
alvos a longo prazo que o ministro tenha p ara o seu
trabalho com a congregação e devem ser freqüentemente
revisados a fim de manter um controle sobre os tópicos
dos sermões. Cada um pode naturalmente ser subdividi­
do em vários sermões individuais.

PROPÓSITOS PARA A PREGAÇÃO


() pregador deve informar a congregação sobre:
1. a história bíblica do homem, desde a criação até o
estabelecimento e primórdios da igreja, incluindo os
períodos da história bíblica, as dispensações, a vida
dos personagens bíblicos, e a geografia das terras
bíblicas.
2. a Bíblia, como uma comunicação inspirada por Deus,
o seus escritores e livros.
3. o plano de Deus p ara reconciliar a humanidade per­
dida: a queda, a promessa, a lei, as profecias, o Cris­
to, a igreja.
4. as características de Deus e a natureza e obra da Di­
vindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
5. a vida e os ensinamentos de Jesus.
6. o estabelecimento da igreja, o plano p ara integrar-se
nela, seu propósito e sua obra, sua organização, sua
disciplina, sua adoração, suas leis e as responsabili­
dades da filiação.
7. as grandes doutrinas bíblicas tais como a lei e a gra­
ça, a expiação, a reconciliação, o novo nascimento,
a propiciação.
8. os traços de caráter que o cristão precisa desenvol­
ver.
9. o valor da alma e as necessidades dos perdidos.
10. a origem e a obra de Satanás e a natureza e loucura
do pecado.
11. as grandes bênçãos e proveitos de ser cristão.
12. o casamento, o lar como Deus quer que seja, e as res­
ponsabilidades, oportunidades e meios de serem
bons participantes nos vários papéis da vida fami­
liar.
13. os fundamentos de todos os principais grupos religio­
sos do mundo.
14. as técnicas da realização de vários atos do serviço
cristão, tais como cuidar dos pobres, dos que perde­
ram entes queridos, e dos carentes espirituais.
15. os vários métodos e técnicas do estudo bíblico.
16. a aplicação dos princípios cristãos aos assuntos so­
ciais, políticos e comerciais.

O pregador deve convencer a congregação:


1. que Deus existe, que Ele fez o mundo, que Ele sempre
se preocupou e continua se preocupando com o ho­
mem.
2. que Jesus existia “desde o princípio”, que o “Verbo”
se fez carne, que Ele nasceu de uma virgem, que Ele
operou milagres e ensinou, que Ele morreu e foi res­
suscitado.
3. quo a Bíblia ó a Palavra do Deus, infalível o inspira-
da, escrita por homens cheios do Espírito p ara ho­
mens cheios de pecado.
4. que existe um céu p ara os justos e um inferno para os
perversos.
5. que as Escrituras são suficientes para as necessida­
des espirituais do homem, que todos os ensinos bíbli­
cos destinados aos homens de hoje devem ser obede­
cidos, e que todas as doutrinas religiosas não apoia­
das ou opostas às Escrituras são erradas e de\em ser
evitadas.
6. que os assuntos espirituais são tão reais como os ma­
teriais e têm um valor infinitamente maior.
7. que o cristianismo é a melhor maneira de satisfazer
às necessidades do homem e resolver os seus pro­
blemas.
O pregador deve estimular a congregação:
1. a adorar em particular e em público de maneira sig­
nificativa e aceitável.
2. a aum entar constantemente o seu amor por Deus e
Cristo, pelos irmãos na fé, e pelos perdidos.
3. a uma fé e esperança sempre crescentes.
4. a um desejo de assemelhar-se cada vez mais a Crirto,
dia a dia.
5. a aprender a fim de prestar mais serviço.
6. a ser zelosa em visitar e servir outros, tanto física co­
mo espiritualmente.
7. a um maior amor pelo que é bom e ódio pelo mal.
8. a ser melhores pais e filhos, maridos e esposas.
9. a um maior entusiasmo pelo Senhor e a um sacrifício
maior de tempo, dinheiro e talentos no seu reino.
10. a oferecer consolo em ocasiões de morte, tristeza e
aflição e a manter o ponto de vista cristão sobre a
morte.
11. a viver de acordo com as suas convicções.
12. a ser leal com a congregação local e os presbíteros.
13. a uma apreciação de sua herança cristã.
O pregador deve fazer a congregação agir no sentido de
que o indivíduo:
1. se torne cristão (caso ainda não seja).
2. participe de algum programa imediato — escola bí-
blica de férias, programa de visitação, doação espe­
cial, pesquisa da área, série de reuniões.
3. freqüente regularmente os serviços da igreja e as au­
las bíblicas.
4. leia diariamente a Bíblia e ore.
5. confesse o seu pecado ou rejeite uma prática peca­
minosa.
6. viva num plano superior ao do mundo e seja um bom
exemplo.
7. escolha o seu ministério no reino, se prepare para o
mesmo, e seja ativo no trabalho.
8. participe de uma tarefa específica: sustentar um
missionário, nomear diáconos, dar início a um pro­
grama de construção.
9. vote segundo a vontade de Deus quando um ponto po­
lítico esteja intrinsecamente ligado a princípios mo­
rais e religiosos.
10. participe de atividades comunitárias que dêem opor­
tunidade ao serviço cristão.

Com base nessas listas, será observado que os alvos


para a inspiração são principalmente aqueles que esti­
mulam os sentimentos e as atitudes, enquanto o sermão
para agir tem como objetivo uma resposta mais manifes­
ta. Os alvos da convicção tratam das crenças e doutri­
nas. Os sermões para informar tentam expôr um bom
conhecimento dos ensinos das Escrituras e sua relação
com as necessidades dos homens.
Os alvos acima mencionados são naturalmente dema­
siado amplos para que possam ser objetivo de um único
sermão, mas quando o pregador tiver expandido essas
listas e se apropriado delas, cada sermão proferido irá
auxiliá-lo a alcançar um dos alvos que acredita fazer
parte do seu ministério. Uma centena ou mais de sermões
pode e deve ser pregada, durante um certo período de
tempo, sobre muitos dos alvos a longo prazo citados. Uma
revisão ocasional, ou uma lista semelhante, irão ajudar
o pregador a saber quais as áreas que ele pode estar
negligenciando, assim como sugerir tópicos sobre os
quais deseje pregar.
ESTABELECIMENTO DO PROPÓSITO
P ara cada sermão preparado, o pregador deve ter um
propósito estabelecido, claro e conciso. Sem esta focali-
zação cuidadosa de um alvo específico, ele descobrirá
que seus sermões são agradáveis de se ouvir mas não
provocam transform ação de vidas.
Ao estabelecer esse propósito, o pregador deve pri­
meiro determ inar se o objetivo geral do sermão será
“inform ar” , “convencer” , “estim ular” ou “a tu a r”. O
estabelecimento do propósito deve sempre começar com
uma dessas frases a fim de que a investida básica do
sermão seja firmemente estabelecida na mente do prega­
dor. '
O restante da sentença que estabelece o propósito,
sempre escrita no alto do esboço, deve expressar mais
especificamente o efeito exato que o sermão pretende
produzir.
Damos a seguir alguns exemplos de declarações de
propósito para sermões das várias modalidades:
Informativos
1. Informar a congregação do significado da redenção.
2. Informar a congregação das responsabilidades dos
presbíteros.
3. Informar a congregação dos ensinamentos de Cristo
sobre o divórcio e o novo casamento.
Para convencer
1. Convencer o não-cristão de que Jesus é divino e o
cristão de que a sua fé tem bom fundamento.
2. Convencer a congregação d$ que Mateus 24 não
fornece elementos pelos quais determinar quando
será o fim do mundo.
3. Convencer a congregação de que os salvos podem
perder-se.
Para estimular (inspirar):
1. Estimular a congregação a um sentimento mais pro­
fundo ao participar da Ceia do Senhor.
2. Estimular a congregação a demonstrar maior amor
uns pelos outros.
3. Estimular o quo nflo 6 membro a apreciar as alegrias
da vida cristã.

Para a tu a r
1. Influenciar os membros da congregação a se apresen­
tarem como voluntários para um program a de tra b a­
lho pessoal a partir da .semana seguinte.
2. Influenciar os quo não híío membros a tomarem a deci­
são de aceitar a Cristo.
3. Influenciar a congregação no sentido de freqüentar a
Escola Dominical com mais assiduidade.
Outra m aneira do estabelecer o propósito de um sermão
é determ inar a reação exata que os membros da audiên­
cia deveriam ter.
1. Informar a audiência para que os ouvintes possam ex­
plicar a diforonça outro “lei” e “g raça” .
2 . Convencer oh ouvintes para que o fato da mentira ser
proibida ao cristão em qualquer circunstância se
torne um ponto do crença para ele.
3. Estimular a congregação a fim de que aprecie melhor
o sacrifício de Cristo.
4. Motivar a congregação a fim de que aumente a sua
contribuição semanal,
É possível quo do voz em quando seja apropriado com­
binar dois propósitos num só sermão: convencer a con­
gregação do quo um programa de transporte é necessá­
rio e motivá-la a cooperar voluntariamente no mesmo. Na
maioria dos casos, poróm, o objetivo secundário é abran­
gido pelo principal o a dupla declaração se faz desneces­
sária.
Quanto maiH específico o direto for o estabelecimento
do propósito, e quanto mais observável o ato por ele
sugerido, tanto mais o sermão terá probabilidade de
alcançar o sou alvo. Com freqüência, os pregadores
melhorariam tromendamento a sua pregação, pelo sim­
ples expediente do determ inar no estabelecimento do
propósito exatamente o quo esperam obter com o sermão.
O que esperam quo os ouvintes façam com a mensagem?
De que maneira ela irá modificar as suas vidas? Que
pecados irão evitar? Que graças cristãs irão manifestar?
Que obra p ara o Senhor farão? Como suas vidas, seus
empregos, seus lares, sua igreja, irão melhorar? Lembre-
se, “E daí?”
Esta determinação específica do resultado, não só
auxilia a fixar o alvo, mas também fornece a base para
medir até que ponto o pregador alcançou o seu objetivo.
Alguns objetivos são naturalmente a longo prazo e não
serão observados numa semana ou num mês, mas outros
podem ser medidos mais rapidamente ou pelos menos
estabelecida uma tendência que possa ser observada.

REVISÃO

Os três primeiros passos na preparação do sermão


deveriam estar agora claros. Qualquer deles pode ser o
primeiro, dependendo das circunstâncias específicas,
mas eles geralmente ocorrem nesta ordem: análise dos
ouvintes para determinar as necessidades, tanto imedia­
tas como a longo prazo; escolha dos objetivos a serem
alcançados durante um longo período de tempo; e, final­
mente, escolha de um assunto específico para o sermão
que irá ajudar a atingir um dos alvos estabelecidos.
Em alguns casos especiais, particularm ente quando
li ver de falar numa ocasião extraordinária, o assunto
podo ser determinado para o pregador; mas, normalmen-
I»:, ole escolherá seu próprio tópico. Esta escolha não
podo ser feita sem uma análise de sua parte quanto às
necessidades do auditório e seu planejamento em relação
aos propósitos a serem alcançados em um dado período
de tempo. Um método muito prático é p rep arar uma lista
de sermões a serem usados durante um período de dois a
três meses. Este método irá ser útil para que mantenha
um equilíbrio apropriado entre todos os propósitos que
pretende objetivar e, a não ser que um plano como esse
Hoju seguido, ele pode muito bem revisar a sua lista de
Normões já pregados e verificar que todo o seu programa
inclui a p e n a s informação ou motivação, havendo pouca
Variedade. (Veja o Capítulo 3 para mais detalhes sobre
tópicos de serm ões.)
Se os alvos imediatos e a longo prazo do pregador
■Mtlvurom sempre no seu subconsciente, ele pode então
flCOlhm- com sabedoria os tópicos específicos, os man­
damentos e os exemplos que irão enquadrar-se no plano
geral. Seu contato com pessoas em todo tipo de condições
irá fornecer o estímulo para um grande número de
temas adequados às necessidades da congregação. Algu­
mas datas especiais durante o ano, um acontecimento
local, nacional ou internacional, e acontecimentos na
igreja fornecerão idéias para sermões específicos.
Deve ser também salientado, naturalmente, que um
dado propósito pode ser alcançado de várias maneiras.
Suponhamos que o propósito do ministro é motivar a
congregação a aum entar sua oferta. Ele pode muito bem
p rep arar um sermão direto e dizer: “Vocês devem dar
mais porque...” Mas é possível descobrir uma aborda­
gem mais sutil e eficaz p ara alcançar o mesmo objetivo.
Ele poderia, por exemplo, pregar sobre “a oferta como
um ato de adoração” , \ou sobre a “mordomia”, “a
liberalidade”, “a gonoroàidade dos macedônios”, “as
ofertas dos judeus” , ou qualquer outro dentre uma
centena de tópicos — todos destinados a atingir o mesmo
alvo geral.
A análise das euvinles, a escolha do propósito, e a
escolha do assunto, são, portaato, os três primeiros
passos no preparo do um sermão o dovom fornecer o
fundamento adequado paru o quo vem a seguir.
A Organização
do Material
6 e o Uso de
Planos para
Sermões
“Maneja bem a palavra da verdade” — 2 Timóteo 2.15

INTRODUÇAO
Todo especialista em oratória desde os dias de Platão
e Aristóteles, testemunhou quanto à importância de orga­
nizar os materiais a serem utilizados nos discursos. Os
antigos chamavam a isso de arranjo ou disposição e
pensavam no assunto em termos da estratégia de que um
general poderia valer-se p ara desdobrar as suas tropas.
Apesar de ninguém negar a necessidade de um sermão
bem organizado, muitos não dão suficiente valor a isso.
Alguns, por exemplo, considerariam a organização como
adequada, desde que o orador reúna tudo o que tem a
dizer em um determinado ponto, em um só lugar. Vere­
mos, no entanto, que muito mais do que isso está envolvi­
do na questão.
O desenvolvimento da estrutura apropriada de um
sermão exige (1) a escolha do tema central do sermão
e dos pontos principais; (2) o apoio de cada um desses
pontos principais; (3) a ordem em que os pontos princi­
pais devem apresentar-se; (4) as transições de uma para
outra idéia; (5) a introdução e conclusão do discurso; e
(6) o desenvolvimento do clímax.
Quer o sermão seja destinado a informar, convencer,
estimular ou motivar, a mensagem fundamental do dis-
curso é uma série de idéias ou pontos relacionados.
Os pontos podem estabelecer informação básica a ser
aprendida, ou o ato a ser realizado. Essas declarações
formam o esqueleto ou esboço do discurso. A atenção
cuidadosa com a organização desses pontos fundamentais
facilitará tanto o ato de pregar como o de ouvir o sermão.
O pregador irá mais facilmente lembrar-se do que deseja
dizer e os ouvintes podem tanto seguir como registrar
melhor suas palavras. Nada é mais desconcertante do
que ficar sentado durante trinta minutos e ouvir cerca de
4.500 palavras atiradas sem qualquer ordem aparente.
Como é frustrante ouvir exemplos, testemunhos e dados
fatuais sem saber qual o ponto importante ligado a eles.
Desde que a mente humana foi criada p ara compreender
e apreciar aquilo que tem ordem, propósito e equilíbrio, o
pregador descobrirá que a organização dos materiais é
uma das suas armas mais poderosas.

SENTENÇA-TEMA
Se a estrutura de um sermão fosse encarada como
sendo um míssil, a ogiva do mosmo seria a sentença-te-
ma; ou, em outras palavras, a proposição ou a tese. Em
todo sermão, o pregador devo loolar introduzir uma
mensagem fundamental ou vordado básica na mente da
sua congregação. Assim como acionar a ogiva é a
finalidade última do míssil, tudo no sermão também
busca “registrar” a sontonça-toma que expressa aquilo
que o pregador dosoja quo os ouvintes conheçam,
creiam, sintam ou façam.
Num sermão para informar, por oxomplo, a sootença-
tema poderia ser:
Sentença-tema: Davi ora um homom segundo o cora­
ção de Deus.
Pontos Principais do Corpo:
I. A derrota de Golias, por parto do Davi, mostra a
plena confiança que ele depositava 0 111 Deus.
II. A recusa de Davi em m atar Soul mostrou sua
completa aceitação dos propósitos do Dons.
III. O arrependimento de Davi depois do sou pecado
mostrou sua completa devoção a Dous.
Esses três pontos se juntam na declaração de que
Davi era um homem que agradava a Deus e cada ponto
desenvolve um aspecto da sentença-tema.
Num discurso para convencer, a sentença-tema é a
proposição a ser provada:
Sentença-tema: Jesus é o Cristo
Pontos Principais do Corpo:
I. O cumprimento da profecia por parte de Jesus
prova ser ele o Cristo.
II. Os milagres de Jesus provam que ele é o Cristo.
III. A ressurreição de Jesus prova que ele é o Cristo.
Quando o propósito do pregador é estimular, a sen­
tença-tema expressa o tema que ele crê que irá inspirar
os ouvintes:
Sentença-tema: Os cristãos são os que extraem maior
satisfação da vida.
Pontos Principais do Corpo:
I. Os cristãos podem gozar a vida sem o peso do
orgulho, da malícia e da preocupação.
II. Os cristãos gozam a vida mediante o serviço a
outros.
III. Os cristãos gozam a vida por estarem próximos de
Deus.
Por último, no sermão p ara motivar, a sentença-tema
é no geral a atividade requerida: “visitar os doentes”,
“ler a Bíblia todos os dias” , “aum entar as ofertas”,
“freqüentar a escola dominical”. Em muitas ocasiões,
porém, o pregador obterá uma reação mais positiva se
usar uma abordagem mais sutil. Se ele quiser motivar a
congregação a uma participação maior no programa da
igreja, por exemplo, poderá pregar sobre a igreja de
Laodicéia:
Sentença-tema; .A carta de Jesus à igreja de Laodi­
céia indica sua reação com respeito
aos membros da igreja que não estão
trabalhando.
Pontos Principais do Corpo:
I. Jesus sabia que a igreja era morna e presunçosa.
II. Jesus ofereceu um remédio para sua condição,
III. Jesus prometeu, até mesmo a esta congregação,
grandes bênçãos condicionadas à sua aceitação
dos termos dele.
O primeiro passo na organização do sermão é pois de­
terminar a sentença-tema. A ogiva a ser lançada.

PONTOS PRINCIPAIS DO CORPO


Uma vez estabelecida a sentença-tema, a parte es­
sencial seguinte da organização é desenvolver pontos
principais para apoiá-la. Este desenvolvimento é chama­
do de “corpo” ou “discussão” do sermão. Ele é construí­
do sobre uma série de unidades, cada uma delas forma­
da de duas partes: (1) uma declaração ou ponto principal
e (2) o material de apoio que a acompanha. Uma declara­
ção ou assçr^ão e as escrituras, fatos ou exemplos que a
acompanham constituem então uma unidade básica,
sendo o corpo do discurso composto assim de tais unida­
des. Estas são geralmente designadas em forma de
esboço, tal como:
I. “Declaração” ou A. “D eclaração”
A. “Apoio” 1. Apoio
B. “Apoio” 2. Apoio
Desde que o m aterial de apoio é o tema do capítulo
que se segue, nos preocupamos aqui com o estabeleci­
mento dos pontos que formam o esqueleto do sermão.
Como o pregador determina os pontos principais a serem
usados como apoio da sua proposição? Quantos pontos
deve ter e em que ordem apresentá-los?
DETERMINAÇÃO DOS PONTOS PRINCIPAIS.. Desde
que todo o corpo do discurso pode ser considerado como
o desenvolvimento ou apoio da sentença-tema, os pontos
principais do corpo são, na realidade, divisões da sen­
tença-tema. Se, por exemplo, a sentença-tema do prega­
dor for esta: “Tende em vós o mesmo sentimento que
houve também em Cristo Jesus” , os ouvintes naturalm en­
te esperam que o corpo do sermão seja construído em
volta dos traços particulares que caracterizavam a men­
te do Jesus: humildade, obediência, sacrifício. Como
divisões da sentença-tema, esses se tornam então os
pontos principais do corpo do sermão.
Enquanto a mente ativa geralmente não acha difícil
encontrar um método apropriado para analisar a senten-
ça-tema, distribuindo-a em divisões adequadas, existem
alguns padrões que podem ser aplicados à sentença-te-
ma a fim de simplificar o processo de dividí-la. Como na
costura, essas peças são então unidas a fim de formar o
corpo do sermão. Os professores de homilética vêm
usando de há muito três tipos básicos de divisões com
esta finalidade: textual, expositiva, e tópica. A habilida­
de no emprego desses tipos de construção de sermão
pode ser de grande valia p ara o pregador.
1. TEXTUAL. O método textual p ara o desenvolvi­
mento dos pontos principais de um sermão é provavel­
mente o mais simples de todos se forem encontradas as
passagens adequadas. O pregador toma simplesmente
um versículo ou, no máximo, dois ou três versículos, e
descobre palavras, frases ou cláusulas nesse verso ou
versos que possam ser usadas literalmente como títulos
principais.
Alguns exemplos de sermões textuais podem mostrar
como isto é feito:
a. Sentença-tema: “Torna-te padrão dos fiéis, na
palavra, no procedimento, no
amor, na fé, na pureza” (1 Timó­
teo 4.12).
Pontos Principais do Corpo:
I. Seja um exemplo “na palavra” .
II. Seja um exemplo, “no procedimento”.
III. Seja um exemplo “no amor”.
IV. Seja um exemplo “na fé” .
V. Seja um exemplo “na pureza” .
b. Sentença-tema: “Porquanto aos que de antemão
conheceu, também os predestinou...; e aos
que chamou a esses também justificou; e aos
que justificou, a esses também glorificou” (Ro­
manos 8.29,30).
Pontos Principais do Corpo:
I. Deus “conheceu de antemão”.
II. Deus “predestinou”.
III. Deus “cham ou”.
IV. Deus “justificou”.
V. Deus “glorificou”.
c. Sentença-tema: “Deus é espírito; e importa que os
seus adoradores o adorem em es­
pírito e em verdade” (João 4.24).
Pontos Principais do Corpo:
I. “Adorem em espírito”
II. “Adorem em verdade”.
Outros sermões textuais podem ser desenvolvidos
com base em 1 Coríntios 16.13,14; 2 Coríntios 13.11,12;
Mateus 5.7; G álatas 6.8. Pode-se até p rep arar um ser­
mão textual baseado em Romanos 1.14-16, onde em três
versículos_consecutívos Paulo diz: “sou devedor; estou
pronto; não me envergonho” .
O sermão textual tem várias vantagens: (1) mantém o
pregador ligado às Escrituras; (2) é facilmente desenvol­
vido e lembrado; (3) uma breve ambientação ou discus­
são do contexto constitui uma introdução simples mas
eficaz.
Existem, porém, algumas dificuldades com o sermão
textual. (1) Nem todas as passagens se prestam a este
tipo de tratamento sem parecerem forçadas. Os prega­
dores até mesmo contam anedotas sobre alguém que
pregou um sermilo textual tomando cada palavra do
versículo e destacando-a: agora, agora eu; agora eu
suplico, agora suplico a vocês: agora suplico a vocês
irmãos; e assim por diante até à saciedade. (2) É preciso
também cuidado para nfio tirar um texto fora do seu
contexto e interpretá-lo de forma diferente daquela pre­
tendida pelo escritor. Km 1 Coríntios 14.15 por exemplo,
Paulo escreve: “Cantarei com o espirito, mas também
cantarei com a mente” . Seria fácil preparar um sermão
textual sobre (I) cantar com o espírito, o (II) cantar com a
mente; mas a não ser quo o contexto seja cuidadosamen­
te estudado, a pessoa deixaria de notar com facilidade
que o ponto em consideração é o uso dos dons espirituais
na adoração, o que dá ao versículo um significado bem
diferente daquele que aparenta quando o versículo
é tomado por si só. (3) Outro perigo do sermão textual é
que pode faltar-lhe unidade. Apesar de vários pontos
poderem ser extraídos de um único verso, deve ser dada
atenção para o desenvolvimento da unidade entre os
pontos. Se, por exemplo, quisermos p rep arar um sermão
textual com base em Mateus 5.5: “Bem-aventurados os
mansos, porque herdarão a te rra ”, é necessário desen­
volver os dois pontos em relação um ao outro, evitando
assim dois sermões distintos, um sobre a mansidão e
outro sobre a herança da terra.
A abordagem textual é eficaz para muitas ocasiões e
todo pregador deve saber como tirar proveito deste tipo
de organização de sermões.
2. EXPOSITIVO. A pregação expositiva, que está
sendo atualmente muito recomendada por diversos pro­
fessores de homilética, explico uma passagem das escri­
turas dividindo-a em suas idéias ou aplicações princi­
pais. A palavra “expositivo” significa “expor” ou “trazer
à luz”. O sermão expositivo, portanto, busca explicar
uma passagem a fim de que o seu significado básico se
torne evidente. Quando cuidadosamente estudadas, mui­
tas passagens irão abrir-se naturalmente, da mesma
forma que uma cebola pode ser naturalmente descasca­
da em camadas.
Embora o sermão textual geralmente abranja apenas
um ou dois versículos, o sermão expositivo tipicamente
cobre não menos de um parágrafo e pode mesmo abran­
ger um capítulo ou até um livro inteiro.
A qualidade essencial do sermão expositivo é a sua
análise da passagem. Em primeiro lugar o pregador
procura o tema ou princípio que parece correr através
da passagem para servir como sentença-tema. Ele pro­
cura a seguir os vários aspectos ou divisões desse tema a
fim de tomá-los como títulos principais. Ele pode ou não
fazer uso de palavras extraídas da passagem ao estabe­
lecer esses pontos, coisa que certamente faria se se
tratasse de um sermão textual.
Eis aqui alguns exemplos de temas e suas divisões
extraídos de uma determinada passagem:
a. 1 Coríntios 13 oferece um dos exemplos mais
freqüentes de um sermão expositivo. O tema, natural­
mente, é o amor; e, mais especificamente ainda, o tema é
o amor contrastado com os dons espirituais. Se este
capítulo fosse analisado, ele iria dividir-se naturalmento
em três partes: vs. 1-3 — a importância do amor; vs. 4-7
— a natureza do amor; e vs. 8-13 — a permanência do
amor. Esses pontos podem ser expandidos assim:
Sentença-tema: O amor é superior aos dons espirituais
porque:
Pontos Principais do Corpo:
I. O amor é mais importante do que os dons espiri­
tuais.
II. O amor é mais útil para o desenvolvimento do ca­
ráter cristão do que os dons espirituais.
III. O amor é mais permanente do que os dons espiri­
tuais.
b. A parábola do filho pródigo fornece outro exemplo
do desenvolvimento de um sermão expositivo. Quando o
contexto é considerado, fica claro que em Lucas 15, onde
se encontra a parábola, Jesus está sendo criticado por
associar-se co m ^ c ad o res. Ele responde com a “história
mais famosa e mais curta do mundo” , que na verdade
descreve duas atitudes em relação ao pecador ou ao
“perdido” . Note como as duas atitudes-chave que ele
contrasta se transformam nos pontos principais do ser­
mão expositivo.
Pontos Principais do Corpo:
I. O Pai — Deus vê os perdidos.
II. O Irmão Mais Velho — o farisaico (auto-suficien­
te) vê os perdidos.
Sentença-tema: Devemos ter a atitude correta em
relação aos perdidos — a atitude do
Pai.
c. Efésios 4.1-16 também se presta p ara o tratamento
expositivo. No verso um o apóstolo insta com a igreja
para “andar de modo digno” o prossegue então, expli- '
cando as implicações da dignidade no proceder.
Sentença-tema:. “Andeis de modo digno da vocação a
que fostes chamados.”
Pontos Principais do Corpo
I. O andar digno exige humildade (v. 2,3).
II. O andar digno exige diligência a fim de manter a
unidade (v. 4-7).
III. O andar digno exige desenvolvimento em direção
à máturidade completa (v. 8-16).
d. Muitos dos salmos se prestam p ara a pregação
expositiva. O salmo 23, por exemplo, pode ser dividido
em duas partes e extraída a seguir a grande conclusão.
Pontos Principais do Corpo
I. Deus é o Pastor; nós somos o seu rebanho (v. 1-4).
II. Deus é o Hospedeiro; nós os hóspedes (v. 5,6).
Sentença-tema: Deus irá suprir as minhas necessida-
< des.
Outros salmos que podem servir perfeitámente para um
sermão expositivo são: 1,8,15,19,24,51,100,139 e muitos
mais.

e. Efésios 5.22 até 6.9 representa outro exemplo de


uma análise expositiva. O tema aqui é claram ente “sub­
missão” e como ambas as partes em tal relacionamento
devem tra ta r uma à outra. O esboço pode ser o seguinte:
Sentença-tema: Cada um de nós deve respeitar a po­
sição do outro.
Pontos Principais do Corpo:
I. Esposas, submetam-se a seus maridos — maridos,
amem suas esposas.
II. Filhos, obedeçam a seus pais — pais eduquem
seus filhos.
III. Servos, obedeçam a seus senhores — senhores,
sejam bondosos com os seus inferiores (servos).

f. Até mesmo um livro inteiro da Bíblia pode ser


tratado de maneira expositiva. Um sermão sobre o livro
de Joel, por exemplo, pode considerar três pontos: a
história do livro, as profecias do livro, e as lições do
livro. Um estudo de Oséias pode começar com o relacio­
namento entre Oséias e Gômer (capítulos 1-3), depois
falar de Deus e Israel (capítulos 4-13) e term inar com a
relação entre Cristo e a igreja.
Um outro exemplo é encontrado no livro de Eclesias-
tes:
Pontos Principais do Corpo:
I. Os prazeres físicos não satisfazem.
II. A sabedoria do mundo não satisfaz.
III. O poder e a fama não satisfazem.
IV. A riqueza não satisfaz.
Sentença-tema: “De tudo o que se tem ouvido, a suma
é: Teme a Deus, e guarda os seus
mandamentos; porque isto é o dever
de todo homem" (Eclesiastes 12.13).
A pregação expositiva deve fazer parte do repertório
de todos os pregadores eficazes. Ela mantém as escritu­
ras em primeiro plano e concentra a congregação na
Palavra de Deus. Ela ajuda o pregador a evitar a
repetição, ou mesmo a monotonia na escolha de assun­
tos, e com certeza pregador algum jamais pode ter falta
de passagens sobre as quais desenvolver um sermão
expositivo. O verdadeiro segredo da boa pregação expo­
sitiva está no desenvolvimento da capacidade de análise
da passagem, vendo as suas aplicações e divisões natu­
rais. Tal habilidade só vem pela prática e observação
das exposições de outros. Embora o uso de sermões
preparados por outros pregadores e as análises de
comentaristas sejam de valor no estudo da pregação
expositiva, é preciso evitar, a todo custo, o perigo de
apoiar-se de tal forma no trabalho de outros que a pessoa
não venha a adquirir experiência própria.
3. TÓPICO. Os sermões tópicos, em contraste com os
textuais e os expositivos, não começam com um versículo
ou passagens especiais; pelo contrário, têm início com um
assunto, tópico, ou tema. Eles concentram as escrituras
extraídas de todas as partes da Bíblia em uma mensagem
central. Os títulos principais em tal sermão naturalmente
não se baseiam na análise de um versículo ou passagem,
mas na análise do assunto. São muitas as formas que
esta análise e as divisões principais resultantes podem
tomar, mas as mais comuns acham-se mencionadas
abaixo.
a. Narrativa com Aplicação. Um tipo muito simples
mas eficaz de sermão tópico é a “narrativa com aplica­
ção”, em que o pregador escolhe uma história bíblica
como assunto de seu discurso e relata a história com
grandes detalhes. A narrativa ó seguida de aplicações
das lições da história a problemas correntes. Podemos,
por exemplo, contar a história do Klias no Monte Carmelo,
fornecendo detalhes históricos, geográficos e culturais
importantes juntamente com a narrativa bíblica. Em se­
guida, o pregador pode fazer aplicações tais como: (1) fi­
lias tinha fé suficiente para defender o que era reto ape­
sar das dificuldades — e isso é algo que é muito necessá­
rio hoje: (2) a dependência da oração por parte de Elias
mostra o poder final que está ao dispor do cristão; (3) a
fuga repentina de Elias, afastando-se de Jezabel, indica
que até mesmo o mais forte entre nós está sujeito às
tentações.
Embora a Bíblia esteja repleta de histórias adequadas
a tal tratamento, é preciso exercer cuidado na escolha de
narrativas que possuam um clímax emocional p ara des­
pertar o interesse e que se prestem a amplas oportunida­
des de aplicação à vida atual. A história do pecado de
Davi e a visita de Natã, a história de Ester, a conversão
de Saulo, estas e muitas outras são excelentes.
Este tipo de pregação é simples, mas desde que quase
todos, jovens e velhos, gostam de uma boa história, a
“narrativa com aplicação” pode ser muito eficaz. O
segredo para contar uma boa história, que é essencial
neste tipo de pregação, está em encontrar o equilíbrio
adequado entre incluir detalhes específicos suficientes
para despertar interesse e fornecer informação, e, ao
mesmo tempo, evitar o estilo cansativo.
Neste tipo, a parte narrativa é geralmente a primeira
divisão do corpo e a aplicação a segunda. Uma narração
curta poderia, porém, constituir a introdução e cada
aplicação servir de ponto principal.
b. Explicando, Exemplificando, Aplicando. Outro tipo
de arranjo tópico p ara os títulos principais do sermão
pode ser chamado de “explicado, exemplificado, aplica­
do” . Neste caso, o pregador toma um princípio ou
doutrina bíblicos e o discute sob três aspectos: em
primeiro lugar ele explica o significado do ensino: segun­
do, ele dá exemplos do princípio em ação nas escrituras;
e, terceiro, ele aplica o princípio a situações da vida
atual. A “regra de ouro” se presta muito bem a este tipo
de tratamento.
Sentença-tema: Tudo quanto, pois, quereis que os
homens vos façam, assim fazei-o vós,
também a eles” (Mt 7.12).
Pontos Principais do Corpo:
I. Explicada a Regra de Ouro.
A. A regra de ouro é ampla —“tudo”.
B. A regra de ouro é positiva — “fazer”.
C. A regra de ouro é simples.
D. Aregra de ouro é justa.
II. Exemplificada a Regra de Ouro.
A. A oferta de Abraão a Ló exemplifica a regra
de ouro.
B.. O tratam ento dado por José aos irmãos exem­
plifica a regra de ouro.
C. A atitude de Paulo em relação aos cristãos
fracos exemplifica a regra de ouro.
D. A ajuda do bom samaritano a um judeu exem­
plifica a regra de ouro.
III. Aplicada a Regra de Ouro.
A. A regra de ouro aplica-se aos relacionamentos
familiares.
B. A regra de ouro se aplica às relações na esco­
la.
C. A regra de ouro se aplica aos relacionamentos
na igreja.
Outros exemplos são os seguintes: explicada a modés­
tia, exemplificada a modéstia, aplicada a modéstia;
explicada a mansidão, exemplificada a mansidão, aplica­
da a mansidão; “vós sois a luz” explicada; “Vós sois a
luz” exemplificada, “Vós sois a luz” aplicada. Este
mesmo tipo de abordagem pode ser usado para as
bem-aventuranças, as graças cristãs, os frutos do Espiri­
to, e para qualquer outro princípio da conduta cristã.
c. Lógico. Outro modelo pelo qual o pregador pode
dividir a sua sentença-tema em títulos principais pode
ser chamado de “abordagem lógica”. Embora isto não
deva ser tomado como indicação de que outros métodos
sejam ilógicos, este modelo dá ênfase particular às
associações lógicas. Aplicável particularm ente ao ser­
mão p ara convencer, o tipo de divisão “lógica” geral­
mente dá as razões porque. Um pregador poderia, por
exemplo, declarar como sua proposição: “Todos os cris­
tãos devem estudar diariamente a Bíblia” . Seus títulos
principais apresentariam as razões porque esta tese
deve ser aceita. Outro exemplo pode ser encontrado num
sermão com a sentença-tema: “Estou contente por ser
cristão” . Isto seria naturalm ente seguido das razões
porque: o cristianismo me dá algo p ara fazer, algo para
amar, e algo pelo que esperar.
Outro tipo de padrão lógico é aquele em que cada
ponto se apóia no anterior:
Pontos Principais do Corpo:
I. Se alguém está em Cristo é nova criatura.
II. O primeiro passo para transform ar-se nesta nova
criatu ra é o novo nascimento.
III. O passo seguinte p ara tornar-se esta nova criatu­
ra ê o crescimento cristão.
IV. A fim de permitir tal crescimento, o cristão deve
m anter um equilíbrio adequado entre o espírito e
o físico no seu modo de pensar e em sua vida.
V. Este eqüilíbrio pode ser alcançado apenas quando
o cristão organiza sua vida de maneira a ter tem­
po tanto p ara as coisas espirituais como p ara as
materiais.
Sentença-tema: O cristão deve assim passar um mí­
nimo de cinco horas por semana em
algum tipo de atividade espiritual
específica, tanto na assembléia pú­
blica como fora dela.
Este tipo de seqüência é chamado pelos lógicos de
“raciocínio em cadeia” , no qual cada elo se torna um
ponto principal do discurso.
d. Partes envolvidas. Os sermões podem ser com
freqüência construídos ao redor de pessoas ou grupos
chamados de “p artes” , envolvidos em uma dada situa­
ção. Podemos, por exemplo, falar sobre o amor de Deus e
demonstrar isso com seu amor por Abraão, seu amor
pelos Filhos de Israel, e seu amor pelos Cristãos. O
pregador pode também selecionar certos personagens-
chave em um episódio bíblico, histórico ou corrente,
ao redor dos quais ele construirá o seu sermão. A
história da cura da lepra de Naamã, por exemplo,
fornece a estrutura de um estudo das lições extraídas do
vida da empregada, de Naamã, de Geazi e de Eliseu, Um
estudo da crucificação poderia ser observado do pontH
de vista das partes envolvidas: os líderes judeus, a
multidão, os soldados, os ladrões, e Cristo. O nascimento
de Jesus, da mesma forma, pode ser visto através dos
olhos dos pastores, dos magos, dos pais e do rei Herodes.
e. Tempo. Outro método de dividir o corpo do ser­
mão é de acordo com o tempo. A divisão mais comum
deste tipo é “passado, presente e futuro”, com variações
desta abordagem. Simão. o mago, por exemplo, pode ser
estudado antes de sua conversão, na sua conversão e
após a sua conversão. O início da igreja também pode ser
observado na profecia e no cumprimento, e a vida de
uma congregação, seja no primeiro ou no vigésimo sécu­
lo, pode ser considerada em seu passado, presente e
futuro.
Outras variações do padrão de tempo envolvem uma
seqüência de dados ou eventos históricos. A vida de
Moisés, pode ser dividida em três períodos de quarenta
arios, e a de Davi na sua infância, sua fuga de Saul e seu
reinado. A história do exílio tem condições de ser
dividida em segmentos que abranjam a deportação para
a Babilônia, os acontecimentos do cativeiro e a volta da
Babilônia.
f. Espaço. Existem também ocasiões em que um as­
sunto pode ser abordado de uma perspectiva geográfica.
O ministério de Jesus é comumente dividido em ministério
da Judéia, ministério da Galiléia e ministério da Peréia; e
quase todo pregador e professor já dividiu uma lição em
rios, lagos ou montanhas. O trabalho missionário de
Paulo, o crescimento da igreja e a peregrinação dos
israelitas se prestam a este tipo de divisão.
g. Análise. Muitos tópicos se enquadram natural­
mente em certas divisões. O governo abrange o legislati­
vo, o judiciário e o executivo, enquanto o tênis compre­
ende os golpes com a mão virada para a frente, para trás
e o serviço. Muitos tópicos religiosos podem também ser
analisados em suas partes naturais: pecado, perdão,
redenção, justificação, arrependimento, consciência. A
medida que a pessoa pesquisa a natureza de tais tópicos,
ela descobre certos aspectos centrais quo se tornam os
pontos principais de um sermão. A Bíblia, por exemplo,
menciona três estados de consciência: pura, fraca e
impura. É possível também analisar um tópico como “De
Que Forma a Igreja de Jerusalém Cresceu” — uma igreja
operante. uma igreja que ora, uma igreja que contribui,
uma igreja unida. A declaração de Paulo de que devemos
“vencer o mal com o bem” pode ser analisada em títulos
tais como: vencer o ódio com o amor, vencer o orgulho
com a humildade, vencer a ociosidade com serviço.
h. Biográfico. Muitos pregadores gostam de abordar
um sermão de maneira biográfica, considerando a vida
de algum grande personagem bíblico ou histórico. Tais
.sermões são geralmente divididos seja de acordo com os
grandes acontecimentos ou as grandes virtudes na vida
dessa pessoa.
Sentença-tema: Abraão era homem de grande fé.
Pontos Principais do Corpo:
I. Abraão mostrou primeiramente a sua fé ao deixar
Ur a fim de ir para uma terra que Deus iria
mostrar-lhe (Gênesis 12).
II. Abraão manifestou também a sua fé ao resolver o
problema com Ló a respeito da terra (Gênesis 13).
III. Abraão mostrou novamente fé ao oferecer seu
filho Isaque (Gênesis 22).
Um sermão biográfico sobre Paulo poderia destacar
as qualidades que o tornaram grande: ele podia admitir
os seus erros, se aplicava com diligência a tudo quanto
fazia; jamais violou a sua consciência.
i. Analogia. Alguns sermões são na realidade uma
analogia ou comparação extensa, e, naturalmente, a
Bíblia está repleta de possibilidades para isso. Paulo
compara o êxodo do Egito e a entrada na te rra prometida
à saída do cristão do cativeiro do pecado, à sua vida no
deserto e finalmente cruzando o Jordão p ara entrar na
terra celestial prometida (1 Co 10). Sermões podem ser
preparados com a igreja como o corpo, a noiva, o reino e
a família; e a vida cristã é freqüentemente comparada
com uma corrida, uma luta, um trabalho, uma caminha­
da. Neste tipo de sermão, os pontos de comparação se
tornam os pontos principais do mesmo.
j. Solução de Problemas. Este tipo de sermão 6 evi­
dentemente preparado com base em algum problema Sijg
teológico ou prático, e depois de oferecer várias solu­
ções, a melhor delas é geralmente determinada. Os
passos comumente dados na solução de um problema são
de certa ajuda no desenvolvimento de um sermão desta
espécie, mas não precisam ser seguidos à risca: cons­
ciência do problema, localização e definição do proble­
ma, exploração das possíveis soluções p ara o problema,
determinação da melhor solução, e conseguir a aceitação
da solução dada.
Em alguns casos, a discussão do problema será o
primeiro ponto principal do corpo e a apresentação da
solução o segundo. Em outros casos, a apresentação do
problema será tra ta d a na introdução e todo o corpo será
usado p ara o exame da solução ou soluções.
Algumas das questões teológicas que podem ser tra ­
tadas deste modo são as seguintes: Qual a melhor
tradução? A salvação vem pela fé somente? Qual a
natureza e obra do Espírito Santo? Cristo foi levantado
dentre os mortos? Problemas práticos incluiriam: O
cristão deve tomar bebidas alcoólicas? O cristão pode
m atar quando recebe ordens do governo p ara isso? O
que a Bíblia ensina sobre o divórcio e novo casamento?

k. Seqüência motivada. Vários professores de orató­


ria desenvolveram planos especializados para a apresen­
tação de um tópico. O mais conhecido deles ê provavel­
mente o do Professor Alan Monroe — “seqüência motiva­
da” . Deixando de lado a introdução, o corpo e a conclu­
são usuais, ele sugere cinco pontos para todo o discurso:
atenção, necessidade, satisfação, visualização, ação.
O primeiro passo neste plano é concentrar a atenção
dos ouvintes sobre o tema geral; segundo, fazê-los sentir
uma necessidade ou problema que exija ação; terceiro,
m ostrar como esta necessidade pede ser satisfeita a tra ­
vés de uma solução proposta; quarto, fazer com que os
ouvintes visualizem a si mesmos com a solução em
operação; e finalmente, apelar para a ação necessária
p ara resolver o problem a.1 Este modelo começa apre­
sentando um quadro sombrio que obriga a audiência a

1 Alan H. Monroe. Princípios nnd Typos of Spoorh Thirit Kdition (New


York: Scott, Foresman and Compunv, 1949), Chiiptnr K>.
clamar p ara que algo seja feito e então, mostrarrlhe a
luz, a solução.
SUMÁRIO DOS TIPOS DE ORGANIZAÇÃO DE SER­
MÕES. Os três tipos básicos de padrões para a organiza­
ção de sermões são portanto o textual, o expositivo e o
tópico (com onze tipos).
Um sermão textual extrai palavras ou frases de um ou
dois versículos e transform a essas palavras nos títulos
principais. O versículo em si é geralmente a sentença-te-
ma.
O sermão expositivo, tipicamente, toma uma passa­
gem mais longa, um parágrafo ou um capítulo, faz de
um tema da passagem a sentença-tema, e a seguir usa
comentários sobre o tema da passagem como pontos
principais.
O sermão tópico começa com um assunto em lugar de
uma passagem e aborda o tópico a partir de um dentre
vários pontos de vista.
O pregador poderia fazer uso de seu conhecimento
desses vários padrões de sermão a fim de desenvolver o
seu próprio sermão, da seguinte maneira: suponhamos
que ele tenha decidido que uma das necessidades da
congregação é estudar mais a Bíblia em casa. Ele reflete
então a respeito de diversas idéias possíveis: um sermão
textual sobre Deuteronômío 6.4-9, extraindo frases p arti­
culares sobre como os israelitas deviam educar seus
filhos; um sermão textual sobre Efésios 6.4 sobre a
educação que os pais dão aos filhos, abrangendo (I)
disciplina e (II) advertência ou admoestação; um sermão
expositivo sobre 1 Pedro 1.22-2.5 sobre (I) A palavra de
Deus é a semente incorrutível p ara o nascimento espiri­
tual; (II) a Palavra de Deus é o leite espiritual p ara o
crescimento em Cristo; um sermão tópico sobre “nutri­
ção” (educação) explicada, “nutrição” exemplificada,
“nutrição” aplicada; um sermão tópico (partes envolvi­
das) sobre (I) os filhos de Samuel, (II) os filhos de Saul,
(III) os filhos de Davi.
Com essas possibilidades em mente, o pregador tem
condições de selecionar o que ele acredita que irá melhor
alcançar o seu propósito com esses ouvintes em particu­
lar e então continuar a desenvolver os demais pontos do
sermão.
OBSERVAÇÕES GERAIS: Em geral pode ser observado
que o uso de padrões como os descritos acima serão de
auxílio para m anter o sermão organizado com coerência.
O orador deve certificar-se de que está se mantendo
dentro do mesmo padrão através de todos os títulos
principais, pois uma mistura dos vários tipos resultará
em absurdos tais como aconteceu com o discurso de um
aluno que foi organizado com vista a três aspectos do
circo: (I) o circo no passado; (II) o circo no presente, e
(III) elefantes.
No caso do sermão textual, expositivo, e alguns tipos
do tópico, a ordem dos pontos se estabelece muito bem
pelo próprio padrão. Em outros casos, porém, cuidado
especial deve ser dado a que pontos estão em primeiro e
último lugares. Os modernos teoristas da oratória no
geral afirmam que o ponto mais forte deve ser o primeiro,
e o segundo mais forte por último, com os demais pontos
no meio. Se o auditório for contrário à proposição, o
pregador pode preferir guardar sua sentença-tema ou
proposição até o meio ou o fim do sermão, capacitando-o
assim a começar com o ponto que provavelmente terá
uma atenção mais favorável. Esta técnica permite que os
ouvintes comecem de acordo com o orador, na suposição
de que um acordo inicial irá ter maior probabilidade de
produzir uma aceitação final em lugar de um desacordo
inicial.
Embora não existam regras estabelecidas p ara deter­
minar a ordem em que todos os pontos devem ser
colocados, a ordem em que as divisões principais do
discurso são arranjadas é importante e deve receber
atenção cuidadosa.
O equilíbrio entre os pontos é também importante.
Apesar de que seria um absurdo esperar que cada
divisão do corpo tivosso um número igual de sub-pontos e
ocupasse exatamente o mesmo espaço de tempo, um
equilíbrio correto deve ser procurado. Se qualquer dos
pontos exigir mais tompo, deveria ser provavelmente o
primeiro a fim de que o discurso pegue velocidade em
lugar de esmorecer. Em todo caso, ponto algum deve
exceder em peso aos demais, nem qualquer ponto princi­
pal deve ser tão mínimo que so torne na verdade inconse­
qüente.
O número total de pontos principais pode variar de
dois a cinco, dependendo da natureza do assunto, do
espaço de tempo, e do tipo de esboço usado. Como regra
geral, quanto maior o número de pontos principais tanto
menos tempo pode ser usado p ara cada um. Mais do que
cinco ou seis pontos é quase sempre um excesso e
geralmente resulta numa organização confusa na mente
dos ouvintes.

TRANSIÇÕES
Se os pontos e o m aterial de apoio do sermão podem
ser vistos como tijolos, o cimento que mantém unidos os
tijolos deve constituir as transições no sermão. Algumas
transições são compostas de declarações bastante for­
mais: “Tendo visto que Jesus cumpriu as profecias do
Velho Testamento com respeito ao Messias, vamos obser­
var agora o testemunho dos seus milagres” . Nesta única
sentença, o orador tanto faz uma revisão do ponto que
está concluindo como uma previsão daquele que vai
iniciar.
Em outras ocasiões, transições importantes podem
ser feitas mediante uma única palavra: primeiro, segun­
do, terceiro, portanto, então, também, por exemplo, além
disso, da mesma forma, em adição, conseqüentemente,
outro. Tais palavras fornecem a cola que faz grudar o
sermão como um todo na mente dos ouvintes e ajuda a
colocar cada parte em seu lugar adequado ao ser gruda­
da.
Muitos sermões parecem bem organizados no papel,
mas para os ouvintes se mostram confusos e desconjunta-
dos porque as transições não foram adequadas. A natu­
reza do sermão irá, certamente, determ inar quão eviden­
tes devem ser as transições. Se o sermão tiver a finalida­
de de informar ou convencer, os ouvintes devem perce­
ber perfeitamente cada ponto destacado e exatamente
quando um novo ponto é introduzido. Com este propósito,
o ministro deve empregar expressões como: “tendo vis­
to... vamos agora p a ra ”, “a seguir devemos considerar”,
e “a segunda razão p a ra ”. Ele deve tomar cuidado para
evitar o uso excessivo das mesmas transições, e d#
expressões banais como “achamos que” e “vemos que".
Os sermões p ara estimular e motivar, quando ligados
a um apelo mais emocional do que argumentativo, podem
não exigir transições tão óbvias, desde que os pontos
particulares que estão sendo feitos são na realidade
menos importantes para alcançar a reação geral. Nesses
sermões o pregador não está tão interessado em que o
auditório se lembre dos pontos principais, mas sim em
estabelecer um clima e uma reação. Mesmo nesses
casos, todavia, deve ser dada cuidadosa atenção às
transições, pois estas devem ser incluidas mesmo que
sejam óbvias p ara os ouvintes, e as transições mais sutis
freqüentemente exigem mais esforço do que as óbvias.

INTRODUÇÃO
Embora a parte introdutória do sermão possa tomar
cerca de cinco a dez por cento do tempo total, trata-se de
uma parte muito importante. Não é preciso defender os
méritos do adágio: “ as primeiras impressões são as que
duram ”, pois quer o orador goste ou não, o caso é
provavelmente sempre esse. Uma boa impressão inicial
levará a audiência a tender p ara a reação desejada, mas
,/um começo negativo vai esvaziar os pneus antes da
viagem começar.
Uma introdução irá geralmente alcançar três objeti­
vos: (1) cham ar atenção p ara o assunto, (2) fornecer o
material de apoio necessário, e (3) obter a boa vontade
dos ouvintes. No momento em que o orador sai da
introdução e avança para a sentença-tema e o corpo do
discurso, todos esses objetivos devem ter sido alcança­
dos. Em muitos c o r o s o pregador já é conhecido e
apreciado pelos ouvintes e precisará fazer pouco portan­
to para ganhar a sua boa vontade. Se for desconhecido
p ara eles, porém, deve reconhecer a necessidade de
atingir este objetivo. Km alguns'casos, será necessário
muito material de apoio para orientar a audiência em
direção ao assunto, mas em outros casos pouca coisa
será exigida p ara que compreenda o que virá em segui­
da. Obter a atenção dos ouvintes para o assunto ou fazer
com que sintam necessidade de ouvir o que vai seguir-se
irá, entretanto, ocupar um lugar importante em toda boa
introdução. O pregador deve ter então em mente que o
alvo não é apenas ganhar atenção, mas ganhar atenção
para o assunto. O orador pode chamar atenção sobre si
mesmo andando de gatinhas até o pódio, soprando uma
corneta, ou contanto a última piada, mas nada disso
chama atenção p ara o assunto a não ser que esteja
falando sobre ginástica, sobre como tocar corneta ou a
respeito do humor contemporâneo.
A introdução, naturalmente, é composta de unidades
básicas — declarações e material de apoio concernente
— assim como as outras partes do discurso; mas as
unidades são escolhidas de acordo com os alvos particu­
lares da introdução a serem alcançados. O pregador
pode, por exemplo, começar com uma narração a fim de
atrair o interesse para o seu tema, citar um testemunho
de um autor favorito dos ouvintes para ganhar a sua boa
vontade e intensificar o interesse, e finalmente suprir
informação fatual como material de apoio.
Quase todos os materiais de apoio discutidos no
Capítulo 7 podem ser usados na introdução, mas existem
algumas técnicas especiais que são úteis, especialmente
para focalizar a atenção no assunto.
1. O método mais freqüente usado para iniciar um
sermão talvez seja citar ou ler um “texto” da Bíblia.
Quando o sermão é textual ou expositivo, a passagem a
ser estudada deve ser naturalmente lida na introdução, a
não ser que seja muito extensa; mas não há necessidade
disso no caso do sermão tópico, uma escritura pode ou
não ser empregada para introduzir o tópico. O uso do
“texto” tem a vantagem de manter as Escrituras em
lugar de destaque no sermão e é simples p ara o pregador
encontrar m aterial para este fim. Caso faça uso desse
método, entretanto, a leitura deve ser bem feita a fim de
não perder o impacto; e em alguns casos é melhor
preceder o “texto” com algum outro material a fim de
despertar o interesse.
2. Outra técnica para a introdução pode ser chama­
da de “abordagem do problema” . Enquanto este método
é especialmente útil no padrão de organização do tipo
solução de problema e no passo da “necessidade” na
seqüência motivada, ele pode ser usado em quase todo
tipo de organização de sermões. O pregador pode come­
çar por exemplo, com uma contradição aparente nas
escrituras, tal como entre Paulo e Tiago sobre a salvação
pela fé, e proceder então com a solução para o problema.
Harry Emerson Fosdick usou a “abordagem do proble­
m a” em grande número de seus sermões.
3. Uma declaração ou demonstração da importância
do tópico p ara a audiência é especialmente positiva
quando bem feita. Em alguns casos a importância do
tema p ara os ouvintes pode ser destacada por uma
narração, testemunho, ou descrição; outras vezes uma
declaração ousada da importância seguida de um teste­
munho de apoio mostra-se eficaz.
4. A fim de fazer com que o sermão pareça relevante
para os problemas humanos desde o início, alguns prega­
dores gostam de começar com uma referência a um
acontecimento corrente. Billy Graham usou com freqüên­
cia este método com grande sucesso. O acontecimento
corrente pode ser nacional ou internacional, ou limitar-
se a um evento local de importância, mas se for bem
contado e tiver uma ligação direta com a lição a ser
apresentada, pode ser especialmente eficaz.
5. Em ocasiões especiais ou quando o pregador é um
orador convidado, alguma referência à ocasião pode
proporcionar um inicio positivo. Em ocasiões como dedi­
cação de um prédio, observância de uma realização
especial ou aniversário, a referência à ocasião é quase
obrigatória. Pode ser feita também menção de algum
empreendimento especial dos ouvintes. Um cumprimento
sincero sempre gera boa vontade.
6. Ainda outro método de iniciar um sermão é a
referência a alguma parte precedente do programa. A
menção de um hino ou oração, por exemplo, pode forne­
cer um meio excepcionalmente positivo de começar um
sermão, isto tem a vantagem de destacar o que é familiar
e parecer espontâneo.

CONCLUSÃO
Qualquer pessoa que tenha participado de um debate
de oratória pode confirmar a importância da última
réplica afirmativa, pois neste discurso final muitos deba­
tes foram vencidos. Assim como a primeira impressão
determina com freqüência se o sermão vai ser ouvido, a
última impressão determina geralmente a sua aplicação.
Num sermão p ara informar ou convencer, a conclusão
irá regularmente incluir um resumo e recapitulação. Nos
sermões para estimular ou praticar, a conclusão será o
ponto de apelo final e deve ser particularm ente persuasi-
va.
Quase todo tipo de material de apoio pode ser usado
na conclusão, mas a narração interessante, descrição
vivida, fato surpreendente, ou testemunho impressionan­
te serão de grande valia. Em muitas ocasiões o pregador
desejará desafiar os ouvintes e pode até afirmar seu
intento pessoal de agir de acordo com o apelo do sermão.
A conclusão deve, naturalmente, assegurar que os ouvin­
tes farão a aplicação adequada da lição à sua vida
pessoal. Sem isto, tudo o mais será inútil.
Em muitos casos, o apelo emocional mais forte será
reservado p ara a conclusão a fim de term inar o sermão
num ponto alto. A sentença final deve ser forte, e não um
“muito obrigado” inepto ou uma desculpa murmurada
por ter falado demais.
Se a conclusão deve ser realmente um ponto alto, é
preciso que não se alongue demasiado. Alguns sermões
se parecem com certas composições musicais que dão a
impressão que term inaram em meia dúzia de lugares,
apenas para começar de novo. Uma vez que os ouvintes
sintam que o pregador está prestes a term inar a lição,
não continuarão a p restar atenção por muito mais tempo.
Uma boa regra a seguir na conclusão é então esta: faça
um plano cuidadoso, tornando a conclusão forte mas
breve.

CLÍMAX
Um dos aspectos mais importantes e também mais
negligenciados da organização do sermão é o “clímax”,
(|ue vem do termo grego que significa “escad a”. O esboço
n a estrutura preparados com cuidado são característi­
cos de toda arte e, neste sentido, a pregação deve ser
uma arte. Da mesma forma que a seleção musical de bom
nível não se processa do princípio até o fim no mesmo
volume de som e à mesma velocidade, o sermão deve ter
também os seus picos e vales. Alguns pregadores pare­
cem subir no púlpito a toda velocidade e mantêm esse
compasso até que “quebram a fita” no final da corrida.
Outros começam a passo de tartaruga e mantêm-se a
essa mesma velocidade todo o tempo.
Uma das qualidades que diferencia a boa pregação
da comum, é justamente este assunto do clímax. Deve ser
primeiramente notado que o sermão não tem um único
mas muitos pontos altos, todos eles tecidos dentro de uma
estrutura dirigida constantemente para o ponto mais
alto. O intérprete de um poema deve estar capacitado
para indicar com exatidão como cada linha do poema se
encaixa em seu padrão, orientado no sentido do clímax
principal. O ator, da mesma forma, deve poder indicar
onde cada linha de uma dada cena se encaixa no clímax
da peça. O mesmo deve aplicar-se ao pregador. O seu
sermão precisa ser estruturado de m aneira que certas
declarações principais se destaquem como pontos de um
clímax intelectual. A comunicação do sermão feita pelo
pregador, a ser discutida num outro capítulo, desempe­
nha naturalm ente um papel vital no desenvolvimento do
clímax. O pico intelectual geralmente precede o ponto
alto emocional, mas ambos com freqüência ficam próxi­
mos do final. Deve haver uma leve “queda” depois do
clímax mais alto, a fim de que o sermão pareça ter sido
terminado.

PALAVRA FINAL
À medida que surge cada um dos aspectos da estrutu­
ra do sermão, ele parece ser mais importante do que
qualquer outro. Mas na verdade, as partes principais,
como os elos de uma corrente, são de igual importância,
pois sem eles, os outros perdem o valor. O sermão bem
organizado irá falhar se não tiver um bom material de
apoio; assim também acontece com aquele cujo tema é
excelente e o material bem escolhido, mas que não tenha
sido adequadamente estruturado. Da mesma forma que a
construção de um prédio, o preparo do sermão possui
muitas fases, o o pregador deve ser um perito em todas
elas.
Uso de
Material de
Boa Qualidade,
Interessante
e Poderoso
“Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina” — Tito 2.1

INTRODUÇÃO
Suponhamos que um pregador se coloque diante de
sua congregação, faça uma pausa enquanto observa a
audiência, e depois diga exatamente as seguintes pala­
vras:
“A partir de Hebreus 5.11 até 6.12 vemos o contraste
entre o cristão que cresceu em direção à maturidade e o
que não se desenvolveu:
I. O cristão amadurecido pode ensinar outros en­
quanto o subdesenvolvido precisa aprender ain­
da.
II. O cristão amadurecido tem bastante experiência
p a ra alimentar-se de carne, enquanto o subde­
senvolvido continua necessitando de leite.
III. O cristão amadurecido é paciente (diligente) en­
quanto o subdesenvolvido é vagaroso.
IV. O cristão amadurecido avança p a ra a perfeição
enquanto o subdesenvolvido se conserva nos fun­
damentos.
V. O cristão amadurecido pode gozar da plenitude
da esperança enquanto o subdesenvolvido com to­
da probabilidade se desviará.”
Depois dessas palavras, o pregador pede que se faça
um hino de convite.
Embora esta análise expositiva seja certam ente ade­
quada, o esboço por si mesmo não pode ser qualificado
como pregação. O ministro precisa injetar carne neste
esqueleto. Ele deve elaborar os pontos principais a fim de
esclarecer o seu significado, mas nem isto basta. Da
mesma forma que um vendedor de diamantes capacitado
gira a pedra preciosa p ara a que a luz brilhe em suas
várias facetas, o pregador deve fazer com que cada
faceta do seu sermão faisque. Com a engenhosidade de
um perito ele deve moldar ou “co rtar” cada uma das
idéias principais de modo que ao apresentá-la p ara uma
observação mental, ela pareça tanto interessante como
vivida. Em alguns casos ele deve além disso descobrir o
meio de convencer o auditório de que um ponto é
verdadeiro e em outros deve motivá-lo a fazer o que ele
lhes pede.
Antes de uma declaração de importância fundamen­
tal evocar a reação desejada, algo deve então acompa-
nhá-la p ara emprestar-lhe maior força, maior apelo,
maior vitalidade. Se o ponto principal é retratado como
uma bala pronta a ser lançada na mente, algo precisa
impeli-la. Se o ponto principal é visto como um quadro
preso na parede da mente, algo tem de prendê-lo no
lugar. Essas forças propulsoras, esses pregos são cha­
mados de material de apoio, e cada declaração com seu
material relacionado toma o nome de unidade b ásica.1 O
discurso inteiro é então composto de uma série dessas
unidades. Considere, por exemplo, a seguinte unidade
composta de uma declaração e o seu apoio:
Declaração: Jesus é a luz do mundo.
Material de Apoio:
Existe uma pequena igreja num lugar distante
onde não chegou ainda a eletricidade, mas mesmo
nas noites mais escuras o serviço divino é ali
celebrado. Cada fiel traz de casa uma vela e esta
é acesa na do ministro da pequenina igreja. O
prédio fica repleto de gente e a cena é descrita
1 Donald C. Bryant e Karl R. Wallace, Fundamentais of Public Speaking
ShiioikI Hditinn (New York: Appleton-Century-Crokftls, 1953), p. 42.
como “cheia de brilho”. Que a nossa vida não
passe de uma simples vela, que tire a sua luz da
vida de Cristo e leve a sua chama, e estaremos
aptos p ara ajudar a encher este grande templo da
necessidade e do pecado humano com a luz do
conhecimento da glória de Deus.2
A declaração é portanto impelida pela narração
que a apóia, e ambas se completam. A declaração terá
pouca força sem o material de apoio, e o material de
apoio não terá sentido sem a declaração. Juntos eles
constituem uma unidade básica, um tijolo, e quando
vários tijolos são colocados juntos na ordem apropriada,
cies representam o sermão inteiro.
Em resumo, um grupo de afirmativas ou asserções,
mesmo resultantes de uma análise cuidadosa, não basta
para um sermão. Cada uma delas deve estar acompanha­
da de m aterial de apoio que tornarão o ponto claro,
interessante, convincente ou comovente. E esses são
naturalmente os objetivos do material de apoio.
Os terapeutas da oratória na antigüidade considera­
vam a coleta e o uso de m aterial sob o título de invenção e
pensaram em três tipos de persuasão que tais materiais
poderiam obter: lógica, emocional e ética. Tenha em
mente esses pontos de vista enquanto estudamos este
lópico.
Este capítulo sobre material de apoio irá: (1) especi­
ficar os tipos de material que podem ser usados p ara
obter clareza, interesse, convicção e motivação; (2). su­
gerir como tais materiais poderão melhor alcançar essas
finalidades, e (3) descrever como localizar esses mate­
riais.

TIPOS DE MATERIAL DE APOIO


CITAÇÕES. Um dos tipos de material de apoio mais
freqüentemente usado para sermões são as citações ou
testemunhos, e a fonte mais comum do mesmo é natural­
mente a Bíblia. Algumas vezes ouvimos a queixa de que
um certo sermão não continha uma única referência às

2 D. Thomas, The Biblical Illustrator, Edited by Joseph S. Excell, St. John,


Volume I (Grand Rapids, Baker Book House, 1953), p. 18.
Escrituras. Se a pregação deve ser a comunicação da
verdade divina através do homem e para o homem, a
Bíblia deve ser a fonte principal do m aterial de apoio.
Existem, porém, outras fontes de citação: comentá­
rios, obras teológicas, literatura em prosa e poesia,
hinários, antologias de citações, obras históricas e enci­
clopédias.
As citações extraídas de qualquer dessas fontes
podem ser apresentadas de três maneiras: a citação
inteira, uma paráfrase, ou simplesmente uma referência
à citação ou ao autor. O método a ser usado deve ser
decidido conforme o propósito que se deseja alcançar.
Se, por exemplo, o pregador quiser dar a impressão de
que inúmeras autoridades concordam com um ponto por
ele estabelecido, pode citar uma ou duas delas por
inteiro e fazer uma referência às demais que têm a
mesma opinião sem citá-las por completo. Em outro caso,
ele pode preferir parafrasear ou destacar da citação a
frase particular que contém o ponto desejado, desde que
citar uma sentença ou versículo inteiro pode obscurecer
as frases mais importantes. Neste caso, naturalmente, é
preciso ter cautela p ara não fazer uso errado do teste­
munho e, embora o contexto completo nem sempre tenha
de ser citado, o pregador deve conhecê-lo bem e empre­
gar uma frase ou sentença inteira de acordo com o seu
significado real. Agir de outro modo seria desonesto. As
citações no geral ocorrem neste padrão familiar:

Declaração: Isaías retrata o Messias como um servo


sofredor.
Apoio com citação:
(1) “Certamente ele tomou sobre si as nossas enfer­
midades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimi­
do” (Is 53.4).
(2) Kyle M. Yates interpreta Isaías 53 como uma ilus­
tração do “destino, carreira, sofrimento, submis­
são e recompensa do servo”.3

3 Kyle M. Yates, Preaching from the Prophets (Nashville: Broadma


Press, 1942), p. 102.
INFORMAÇÃO FATUAL. Em quase todo sermão o
pregador te rá necessidade de apresentar dados verda­
deiros, números ou estatísticas, dados históricos, datas e
informação geográfica, descobertas arqueológicas e
científicas, ou mesmo acontecimentos correntes. A infor­
mação fatual pode ser considerada como incluida em três
iiutegorias: declarações simples, estatísticas e descri­
ções. As declarações simples podem ser datas ou núme­
ros contendo fatos tais como altura, custo, ou quantida­
de. As estatísticas ultrapassam as declarações, sendo
um meio de resumir a informação fatual mediante méto­
dos tais como médias, pesquisas, compilações e correla­
ções. As descrições, o terceiro tipo, são um meio de usar
ii informação fatual para ajudar os ouvintes a visualiza­
rem um lugar, acontecimento ou pessoa.
Alguns exemplos do uso da informação fatual irão
demonstrar este método de apoio.
Declaração: Salomão era imensamente rico.
Apoio através de informação fatual:
(1) A renda anual de Salomão em dinheiro era de
cerca de dezoito milhões de dólares (cf. 1 Rs
10.14; 2 Cr 9.13].4
(2) Quando a rainha de Sabá visitou Salomão, ela lhe
ofereceu, além de outros ricos presentes, uma
quantia em ouro valendo mais do que três milhões
de dólares (1 Rs 10.8-10).5
A informação fatual é no geral considerada como
desinteressante, e isto é verdade quando se aplica à
loitura de um comprido relatório financeiro ou uma
genealogia. Mas quando usada na forma de descrição,
ela pode despertar muito interesse. Note como Lloyd
(ionnel utilizou uma descrição fatual p ara criar interes­
se:
D eclaração:. “Uma das coisas mais tristes do mundo
é ter um filho ou uma filha com qualquer
deficiência física ou mental.”
Apoio pela descrição:
4 George L. Robinson, “Historical and Scriptural Digest” , The Master
HibJe (Indianapolis: J. W esley Dickson e Co., 1947), p. 1345.
5 :bi<t. p. 1346.
“Conheci uma menina epiléptica na cidade de
Tulsa. Os pais dela são membros da igreja onde
preguei durante alguns anos. Dava pena olhar
p ara a pobrezinha. Não saía da cadeira de rodas,
sua mente não era tão aberta como deveria ser.
Ela tinha cerca de nove ou dez anos de idade.
Certa vez, a garota teve 134 convulsões em vinte e
quatro horas. Eu costumava visitar a família de
vez em quando. Os pais da menina tinham se
casado muito jovens, com cerca de dezessete a
dezoito anos, e quando ela chegou aos nove eles
ainda continuavam bastante jovens. Eu sempre
pensava como deveria ser triste p ara aqueles pais
assim moços terem uma filha tão doente. Meu
coração sempre se comovia ao vê-los, como faz
com todos os pais cujos filhos ou filhas tenham
qualquer deficiência, e estou certo de que vocês
sentem o mesmo.

Meus amigos, mencionei há pouco que uma


das coisas mais tristes do mundo é ter um filho ou
uma filha com qualquer deficiência física ou
mental. Chamo agora sua atenção p ara algo muito
mais triste: ter filhos ou filhas deficientes, não no
aspecto físico ou mental, mas espiritualmen­
te ...” 6
Narração. Um terceiro tipo de m aterial de apoio é a
narração — o relato de algum incidente seja real ou
hipotético, na vida de uma pessoa ou grupo. Embora a
narração deva conter alguns dados fatuais, ela faz mais
do que relatar fatos. A narração conta uma história
relatando, de forma cronológica, acontecimentos que
compõem uma parte da vida de uma pessoa. A história
pode ser extraída da experiência do pregador ou de
outra pessoa. Histórias com base em literatura ou dados
históricos são no geral excelentes e uma narração hipoté­
tica pode ser fabricada se não for apresentada como um
evento real. Jesus foz uso de histórias hipotéticas tais
como as do filho pródigo e do bom samaritano. A narra-
6 Lloyd Connel, Christ in the Mountain and Other Sermons (Oklahom
City: Telegram Book Company, 1960), pp. 52-54,
gno é especialmente eficaz pois tem grande valor como
itileresse humano. A revista “Seleções” por exemplo,
prepara a maioria de seus artigos com base em n arrati­
vas de interesse humano.
Declaração: “Em toda idade, desde Adão até o p re­
sente, Deus tem multiplicado a utilidade
das coisas que lhe são em prestadas pa­
ra serviço.”
Apoio pela narração:
“Um profeta de Deus voltou faminto do deserto e pa­
rou na casa de uma viúva pobre. Viúva, o que é isso
em sua mão? Um pouco de farinha e um jarro de óleo.
Ela planejava fazer um último bolo p ara que ela e o fi­
lho pudessem comer e depois morreriam. Mas o que
não passava de uma pequena refeição na mão da mu­
lher, pelo poder de Deus, tornou-se provisão bastante
p ara ela, o filho e o profeta durante muito muito tem­
po; e as escrituras dizem que a farinha jamais acabou
e o jarro de óleo nunca ficou vazio. O Senhor Deus po­
de dar à menor das coisas o máximo de possibilida­
des. É estranho como as pessoas e coisas se tornam
poderosas quando são entregues ao Senhor.” 7
Em certas ocasiões o pregador desejará fazer quase
um sermão inteiro ao n a rra r algum evento dramático da
história bíbica — Elias no Monte Carmelo, Davi e Natã, o
jalgamento e crucificação de Jesus, a conversão de
Saulo. Em outros sermões, o breve relato de uma história
extraída da Bíblia, de livros, de noticiários, ou da
axperiência pessoal será eficaz para criar interesse e
dar força ao ponto que está sendo apresentado.
EXPLANAÇÃO. Embora a dependência dela deva ser
mantida a um mínimo, há ocasiões em que o pregador
precisa dar uma explicação. Desde que este é um tipo de
apoio menos interessante que os demais, deve ser usado
raram ente e apenas em conjunto com outros tipos. Ao
tratar de um problema doutrinário ou da exegese de uma
passagem, porém, o pregador terá de expôr e interpre*
lar, que são formas de explanação. Outro meio da
7 Reuel Lemmons, Abundant Living (Rosemead, Californiti! Qlti I'athi
lliiok Club Edition, 1950], pp. 67,69.
explicar é usando uma definição. A explanação pode
também envolver avaliações, nova exposição e conside­
rações de “por que e como”.
Note este exemplo da explanação que inclui definição
e nova exposição:
Declaração: “Terceiro, nosso Senhor morreu na cruz
p a ra cumprir as predições do Velho
Testamento.”
Apoio pela explanação:
“Notem, não usei a palavra “profecia” , desviei-me
dela de propósito. O termo “profecia” não significa
necessariam ente predizer. A maior parte das profe­
cias não faz prognósticos. Algumas vezes um profeta
fazia profecias e predições ao mesmo tempo, mas é
possível profetizar sem predizer coisa alguma. Profe­
tizar significa literalmente falar em nome de alguém.
Quando usamos a palavra “predição” não pode haver
dúvidas a respeito. Jesus morreu na cruz p ara cum­
prir as predições do Velho Testamento.” 8
Neste exemplo de explanação, o pregador está inter­
pretando uma passagem das escrituras:
Declaração: “No Salmo dezesseis, Davi predisse que
Cristo seria levantado dentre os mor­
tos.”
Apoio pela explanação:
“Pois não deixarás a minha alma na morte (Hades),
nem perm itirás que o teu Santo veja corrução”, es­
creveu Davi. Quando morremos, nossas almas vão
para o Hades. Hades significa literalmente invisível.
O corpo, naturalmente, vai p ara a sepultura. A alma
de Jesus não foi deixada no lugar em que os mortos es­
peram: ela não foi deixada no Hades. A sua carne não
viu corrução, Se a alma não foi deixada no Hades e a
carne não viu corrução, isso significa que houve uma
reunião de alma e corpo. Mas, quando o corpo e a al­
ma se reuniram, houve uma ressurreição, Assim sen­
do, Davi, mil anos antes da ressurreição do Senhor,

8 Jirnmy Allen, "To tlus I.iftml Up Christ”, Abilene Christian ColJeg


Annual Bible Locturos — 19(55 (Abilnne, Texas: Abilene Christian Sollege
Student Exehanqo, 196S), p. :i;i.
predisse que isso aconteceria.” 9
Existe uma grande tendência de apoiar-se em um
número excessivo de explicações e a maioria dos prega­
dores faria melhores sermões se reduzisse as explana­
ções e aumentasse outras formas de apoio.
COMPAfíAÇAO. Uma forma interessante de apoio e
que geralmente envolve o uso de outros tipos, tais como
latos ou narração, é a comparação. Nesta forma, dois ou
mais pensamentos ou objetos são “colocados lado a lado”
um do outro, sendo então destacadas as suas semelhan­
ças e diferenças.
Note como o seguinte exemplo de comparação fornece
clareza, interesse e força:
Declaração: ‘‘Deus é fiel.”
Apoio pela comparação:
“Folheie uma concordância e você descobrirá que es­
te é um dos temas favoritos da Bíblia. Esta belíssima
melodia é ouvida repetidamente e em formas variadas
através de toda ela. Existem peças musicais em que
uma certa toada se repete, agora é ouvida bem alto, a
seguir bem baixinho, depois rompe em tons sonoros e
então como um lamento plangente; mas continua sen­
do a mesma toada. E o pensamento abençoado da fi­
delidade de Deus se repete dessa forma através de to­
da a Bíblia.” 10
Outro exemplo mostra como a informação fatual é
tíimbém usada como base de comparação:
Declaração: “As igrejas iniciadas nesses países de­
veriam perpetuar-se.”
Apoio pela comparação:
“Com efeito é isto que Cristo quer, pois na sua
comissão ele instruiu aos que foram ensinados que
transmitissem a outros aquilo que tinham aprendido e
que por sua vez dessem instruções a estes p ara que
levassem ainda a outros.
“Há alguns anos atrás, o Dr. Hurley, Presidente do
9 Ibid., pp. 35.36.
10 James LeFan, "To Our Source of Help,” Abilene C hristian College
Amnml Bible Lectures — 1965 (Abilene Cristian College Student Exchange,
i»mr>), p. 16,17.
Salem College, foi convidado a fundar uma escola
não reconhecida oficialmente. Ele pediu a outras pes­
soas que se juntassem a ele na formação de um “Con­
selho p a ra o Progresso das Pequenas Escolas”, fami­
liarmente designado como “COPPE”. Escolas simila­
res se uniram para focalizar a atenção sobre as ne­
cessidades das entidades pequenas e não-reconheci-
das. Cada escola se comprometeu oficialmente a p ar­
ticipar de um programa ativo com a finalidade de pro­
mover a sua entrada na associação regional de reco­
nhecimento no menor prazo possível. Quando uma
das escolas participantes é reconhecida ela deve reti­
rar-se do COPPE. A ambição expressa dos dirigentes
do COPPE é chegar ao ponto de serem obrigados a fe­
char as suas portas.
“Por que o missionário não tenta treinar de tal forma
os convertidos que ele mesmo tenha de eventualmente
retirar-se do negócio?” 11
CASO TÍPICO. Um dos tipos de apoio mais comuns e
ao mesmo tempo mais útil é o caso típico ou exemplo. Este
método envolve basicamente o fornecimento de uma
amostra do que está sendo considerado. Se a declaração
indica que a humildade é mais proveitosa do que o
orgulho, pode ser oferecido como exemplo o caso do
fariseu e do publicano.
Como acontece com a comparação, o caso típico é
algumas vezes associado a algum outro tipo de apoio tal
como a narrativa, a definição, ou o testemunho.
John Allen Chalk nos dá este parágrafo que utiliza o
caso típico:
Declaração: “A cruz estava rodeada de muitas espé­
cies de pessoas que observavam a ago­
nia do Senhor.”
Apoio pelo caso típico:
“Os soldados romanos representavam o mundo pa­
gão que logo sucumbiria à influência do poder do Sal­
vador crucificado. Os líderes judeus ali se achavam
como um memorial de que 1.500 anos de preparação
11 Don Gardner, “To Sea Our Opportunities,” Abilene Christian College
Annual Bible Lectures — 1965 (Abilene, Texas: Abilene Christian College
Student Exchange, 1965). p. 227.
para a vinda do Messias de nada valeram para eles.
A mãe do Senhor e os outros seguidores também se
achavam ali em testemunho silencioso de que o seu
reino não era deste mundo.” 12
Os casos e exemplos podem ser também usados como
negue, a fim de dem onstrar melhor a sua utilização:
Sentença: “ Quando os pais se desviam, os filhos
geralmente os seguem.”
Apoio pelo caso típico:
“Quando obedeci o evangelho aos quatorze anos, ou­
tro garoto que tinha cerca da minha idade fez o mes­
mo. Ele era um rapazinho excelente, mas seu pai era
um bêbado inveterado. Dois ou três anos mais tarde
esse rapaz me disse: “Não adianta nada eu tentar ser
cristão; não posso ser ninguém. Meu pai é alcoóla­
tra ” . E ele deixou de freqüentar a igreja. Este pai não
só irá dar contas pelo seu comportamento no dia do
Juízo, como também por destruir seu único filho. O pai
do rapaz morreu enquanto o filho era ainda jovem,
mas a sua má influência continua nele até hoje. Como
essa história é diferente da de um homem que morreu
bem moço. Ele deixou três filhos pequenos. Certo dia
ouvi um deles pregar. Ele disse que se lembrava pou­
co do pai, mas uma das coisas que podia lem brar era
de vê-lo presidir a Ceia do Senhor, e essa memória fi­
cou com ele a vida inteira, e tivera grande influência
em levá-lo a ser um pregador do evangelho. Os três fi­
lhos desse homem são cristãos fiéis, e dois se torna­
ram excelentes pregadores. Cada um desses homens
‘mesmo depois de morto ainda fala’” 13
APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO. O último tipo de apoio é
aplicar ao ponto focalizado algum princípio que possa
ser provado ou que é geralmente aceito. Embora nem
sempre seja reconhecida, esta forma de apoio é bastante
comum. Por exemplo, foi m arcada uma reunião e uma
determinada pessoa se atrasa. Alguém diz: “É melhor
12 John Allen Chalk, The Praying Christ and Other Sermons (Dallas:
Clmstian Publishing Co., 1965), pp. 53,54.
13 Loyd L. Smith, "Our Attitude Toward Youth” , Central Chrisfiun
(.'olloge Second Annuaí Lectures (Barthwille, Oklahoma: Central ChristiHii
Colloge, 1952), p. 57.
começarmos. João está sempre atrasado” . O princípio
que passou a ser aceito através de várias ocasiões
específicas é este: ‘‘João está sempre atrasado” . Por
haver chegado antes a essa conclusão, esta é agora
empregada como uma verdade aceita a ser aplicada a
uma nova situação.
Os princípios aplicados nos sermões geralmente são
extraídos das escrituras. ‘‘Jesus disse, ‘Oferece a outra
face’, e não devemos então revidar quando alguém nos
insulta.” “Procedamos honestamente diante de todos”
claramente significa que quando fizermos uma prova,
não devemos copiar do vizinho e apresentar o trabalho
como sendo nosso. Paulo afirmou que os justos sofrerão,
e não devemos então surpreender-nos quando formos
ridicularizados por causa da nossa fé.
Em muitos casos, naturalmente, o princípio será
apresentado como uma citação, mas se for usado como
uma generalização a ser aplicada a uma dada situação,
deve ser então considerado como uma “aplicação de
princípio” e não simplesmente uma “citação”.
Num sermão intitulado “Guiado por uma Criança”,
Foy L. Smith aplica um princípio bíblico e usa diversos
outros meios de apoio no mesmo parágrafo.
“Em Provérbios 22.6 temos a advertência: “Ensina a
criança no caminho em que deve andar, e ainda
quando for velho não se desviará dele’. Nenhum es­
forço é demasiado no sentido de ensinar nossos filhos,
plantando nos seus corações o caminho da retidão,
esperando que quando forem mais velhos não se des­
viem dele. Muitos se desviaram do caminho em que
foram treinados — Salomão fez isso — mas o ensino
feito desde cedo pode ser o meio de recuperá-los. Os
pais pelo menos terão o consolo de saber que fizeram
todo o possível. Fomos ensinados a acreditar que esta
admoestação se tornará a segunda natureza da
criança, e jamais se apagará. A infância é o período
em que são recebidas as impressões para a vida; va­
mos, portanto, treinar a criança no caminho que deve
seguir e não no que ela quer seguir. Como pais, deve­
mos ensinar nossos filhos que freqüentar com regula­
ridade a casa de Deus é um mandamento divino. As
mães que esperam que o Joãozinho tenha cinco ou seis
anos antes de assitir aos serviços da igreja estão pe­
cando contra ela, contra si mesmas e contra seu pró­
prio filho. Uma jovem mãe me falou certo dia: ‘Vou es­
perar até que ele aprenda a comportar-se antes de le­
vá-lo ao culto’. Posso afirm ar que agora está sendo di­
fícil disciplinar esse jovenzinho, e prefiro muito mais
a criancinha pequena! Quando você vê um garotinho
que se comporta como um cavalheiro durante todo o
serviço, pode estar certo que foi treinado para isso
desde cedo. A coisa salta aos olhos.’” 14
Neste exemplo, não só vemos a aplicaçãG do princípio
niiunciado em Provérbios 22.6, como também alguma
explicação, um caso típico (Salomão), e uma narrativa
(mãe).

FUNÇÕES DO MATERIAL DE APOIO


Com uma idéia clara desses sete tipos de material de
apoio, é agora possível considerar exatamente como eles
podem ser usados p ara esclarecer, interessar, provar e
motivar.
ESCLARECER. A clareza é um elemento básico em
Ioda tentativa de comunicação. A organização ajuda a
tornar clara a apresentação, mas o material de apoio é
lambém fundamental. O ponto em foco não precisa
íipenas ser entendido, mas tornado tão claro que o seu
significado jamais possa ser erradam ente interpretado.
()s tipos de apoio que mais se usam para esclarecer são a
explicação, o caso típico, a comparação e a narração.
Suponhamos que o pregador queira destacar o ponto:
“A adoração deve ser em espírito e em verdade” . A fim
de fazer com que esta idéia fique gravada é necessário
material de apoio para esclarecer. Enquanto a adoração
ó algo geralmente compreendido, as palavras “espírito”
e “verdade” como usadas aqui não são imediatamente
entendidas. Ele então esclarece. Primeiro, explanação
por definição: “Thayer define espírito como o poder pelo
14 Foy L. Smith, The World is Yours and Other Sermons (Oklahoma City.
Tnlegram Book Company, 1959), pp. 60,61.
qual um ser humano sente, pensa, quer, decide.” 15
Mais explicação: “Isto é, Deus é um espírito, um ser
espiritual, e o homem tem em si uma parte que é como
Deus. Esta é cham ada de espírito, essa parte dele que
pensa e decide e determina” . No final, ele esclarece por
contraste. “Jesus diz então que o homem não deve mais
adorar a Deus em um lugar determinado onde se suponha
que a presença especial de Deus esteja. Deus, como
espírito, está em toda parte; o homem, feito à imagem de
Deus, pode ter comunhão com o seu Criador a qualquer
tempo em que se aproxime dele através do seu espírito. A
adoração cristã é então uma experiência espiritual e tem
lugar quando o espírito do homem faz contato com Deus,
que é espírito.” O esclarecimento continua mediante um
caso típico: “Lembrem-se, por exemplo, do caso de Paulo
e Silas. Embora seus corpos estivessem presos no tronco
na prisão, o espírito deles, que não podia ser aprisiona­
do, se elevou p ara entrar em contato com o Grande
Espírito através de cânticos e oração.”
O orador pode em seguida, usando os diversos tipos de
apoio, esclarecer as suas idéias na mente dos ouvintes.
Ele deve utilizar apoio suficiente para tornar clara a sua
afirmação, mas não gastar tempo demasiado nisso uma
vez alcançado o seu objetivo.
INTERESSAR. Além de esclarecer, o orador deve tam­
bém criar e reter o interesse; de outra forma ele não
conseguirá que ouçam a sua mensagem e muito menos
que a aceitem. Desde que as declarações que constituem
a parte básica de sua mensagem não são no geral muito
interessantes em si mesmas, o interesse no discurso deve
ser provido em grande parte pelo material de apoio por
ele escolhido.
Alguém poderá, porém, dizer que a comunicação
eficaz é que proporciona interesse ao sermão; e isto,
naturalmente, é verdade até certo ponto. Mas o pregador
precisa ter algo a dizer com a sua boa dicção e palavras
sobre as quais gesticular. Além disso, o interesse não
pode ser mantido por muito tempo apenas pela transmis­
são, por melhor que esta seja.
1T> |o H o p h Henry Thayer, A Greek-English Lexicon o f the New Testament
(Nmw York: Amorican Book Company, 1889), p. 520.
O interesse, como o termo é usado aqui, indica que o
orador está retendo a atenção no seu tema e criando na
riudiência o desejo de ouvir mais. Ele está fazendo com
que o ouvinte sinta que alguma necessidade vai ser
satisfeita.
Se for então usado m aterial de apoio p ara criar
interesse, ele deve preencher dois requisitos: (1) deve
locar naqueles motivos ou impulsos em que se baseiam
Iodas as necessidades humanas, e (2) deve ser apresen­
tado de forma a captar a atenção dos ouvintes.
Os impulsos a serem atingidos foram citados no
(iapítulo 4 sobre a pregação com vistas às necessidades,
londo sido explicados então com certos detalhes, mas o
ministro que pretender interessar a sua congregação
deve não só pregar sobre temas ligados às necessidades
ilos membros, mas também apresentar os mesmos a tra ­
vés de m aterial que contenha um apelo para essas
necessidades. As formas mais interessantes de apoio
mediante o qual apresentar esse material são narrativas,
casos típicos, descrições e comparação.
Como exemplo, vamos considerar um sermão em que
o pregador deseje estimular a congregação relatando as
características humanas que aborrecem a Deus. Ele
poderia declarar: “Deus fica irado com aqueles que se
recusam a responder ao seu chamado para o serviço”.
Apoio p ara este ponto seria extraído da história de
Moisés e a sarça ardente quando ele deu várias descul­
pas e finalmente pediu ao Senhor que m andasse outra
pessoa. Êxodo 4.14 afirma: “Então se acendeu a ira do
Snnhor contra Moisés” . Ao usar esta situação p ara apoio
de seu ponto, o pregador iria satisfazer as qualificações
dadas acima, pois o relato da história se utilizaria tanto
da descrição como da narração — tipos interessantes de
material de apoio — e ele atingiria os impulsos de
autopreservação e respeito a Deus, desde que provocar a
ira de Deus seria contrário a ambos.
Em outro caso, o pregador pode desejar fazer uso de
apoio para despertar interesse em relação ao seu tema
— “A honestidade é mais desejável do que a desonesti­
dade”. O interesse pode ser despertado neste ponto
fornecendo exemplos, talvez de forma narrativa, com
respeito a situações em que a honestidade mostrou ser a
melhor política. Por exemplo, ele pode referir-se ao
comerciante que lesou o governo numa transação de
milhares de toneladas de carne e que, temendo ser
descoberto, suicidou-se. Este exemplo permite a n a rra ­
ção e tra ta de motivos de autopreservação, aprovação
social e convicções.
Fica demonstrado então que é através do material de
apoio que o orador consegue manter o interesse na sua
mensagem, e sem prender a atenção e criar um senti­
mento de necessidade, ele não obterá a reação desejada.

PROVAR. Nos sermões destinados a informar, será


no geral suficiente interessar e esclarecer, mas quando o
objetivo ultrapassa a comunicação de conhecimento e
chega à persuasão, torna-se necessário provar as propo­
sições apresentadas no discurso.
No que se refere à apresentação oral, existem duas
maneiras básicas de provar. Uma delas é através da
observação, isto é, mediante os sentidos físicos. Você
pode provar que existem cinqüenta pessoas numa sala
contando as mesmas. Da mesma forma, você pode provar
que o hélio é mais leve do que o ar demonstrando
praticamente que um balão cheio de hélio irá subir
quando solto no ar. Jesus usou este método de observa­
ção quando mostrou a Tomé os sinais dos pregos em suas
mãos e quando disse aos discípulos de João que observas­
sem as pessoas que tinham sido curadas.
Uma observação assim fornece informação fatual que
se torna a base da crença. Este método de provar pela
observação deve ser apreciado pelo pregador, a fim de
que possa compreender o seu uso nas Escrituras. As
ocasiões p ara uso deste tipo de prova no púlpito são
porém muito raras. Um cientista pode demonstrar um
fenômeno observável da sua plataforma de preleção,
mas o pregador nem sempre achará útil o método de
provar pela observação em seus sermões.
O segundo método básico para provar é o de racioci­
nar, isto é, extrair conclusões de implicações em lugar de
observação. Aristóteles deu a isto o nome de apelo lógico.
A extração de conclusões através do raciocínio pode ser
aplicada a três tipos de circunstâncias: (1) quando dese­
jamos estabelecer como verdade ou fato algo que foi
(intes observável mas não pode sê-lo mais, (2) quando
desejamos extrair uma conclusão a respeito de um fato, e
(3) quando desejamos considerar assuntos que se acham
110 reino “invisível” do espírito, não sendo portanto
assuntos de fato nem de julgamento.
Vamos esclarecer cada ponto. A Bíblia menciona em
Isaías 20.1 um rei de nome Sargão. Se essa pessoa viveu
ou não é uma questão de fato. Até 1843 havia muitos que
acreditavam que a Bíblia estava errada sobre este fato.
Nesse ano, porém, um arqueólogo chamado Botta desco­
briu um palácio na região da antiga Nínive que continha
os registros do rei Sargão. Sargão não mais podia ser
observado como rei, mas a sua existência se acha na
área do fato. Podemos raciocinar a partir do efeito para
a causa que se existe um palácio e um registro de um rei
chamado Sargão, esse rei então realmente viveu.
Vejamos agora o raciocínio sobre os princípios e
política humanos. Alguns assuntos no reino da matéria
ou humano exigem conclusões que não se encontram
entre os fenômenios observáveis. A observação, por
exemplo, não nos permite concluir que um pôr-do-sol é
bolo ou que um filme é obsceno. Podem ser encontrados
realmente alguns fatos que pesam nessas questões, mas
não há meios de colocar um pôr-do-sol numa balança e
posá-lo, e mesmo que pudéssemos medir os comprimen-
los de onda de todas as cores, isso não iria estabelecer a
sua beleza. Se um filme é ou não obsceno é uma questão
i|ue não fica simplesmente limitada à observação física,
mas torna-se necessária a aplicação de um certo raciocí­
nio mediante princípios de aplicação, comparações, cau­
sas e efeitos. Outras questões de julgamento são estas:
Qual o melhor método para o trabalho missionário em
uma dada situação? Qual a natureza da providência de
Deus? Como a pessoa é justificada pela graça mediante a
fó? Tais questões são respondidas citando peritos no
assunto, aplicando uma verdade aceita a uma nova
aplicação, ou por comparações.
A terceira área geral p ara o raciocínio tra ta das
realidades espirituais. Existe um ser sobrenatural, eter­
no? Tenho eu uma alma? Existe um céu e um inferno?
Kssas questões exigem raciocínio sobre um “reino invisí­
vel” que não pode ser observado fisicamente nem julgado
num ponto de princípio. Sabemos que as realidades
materiais podem ser observadas com os sentidos físicos,
mas como “observamos” as realidades espirituais?
A extração de conclusões sobre a existência do
“invisível” começa com observações dos fenômenos físi­
cos. Podemos, por exemplo, ver o mundo em que vivemos
e sabemos que ele existe. A seguir raciocinamos quanto
ao campo das regras e princípios. Isto nos diz que nada
pode existir sem uma primeira causa. Mas ainda não
“provamos” a existência de Deus. Raciocinamos que
certos fatos e princípios exigem um novo passo, mas esse
passo nos leva além do nosso mundo finito. Queremos
agora considerar as várias alternativas. Uma das esco­
lhas é que a m atéria sempre existiu e agiu sobre si
mesma a fim de produzir aquilo que vemos. Outra
alternativa, entretanto, é que existe um poder inteligen­
te, invisível que criou e moldou o nosso mundo. Nenhuma
dessas alternativas pode ser estabelecida da mesma
forma que estabelecemos um fato, pois estamos tratando
com o reino “invisível” . Ê possível, porém, raciocinar a
respeito dessas alternativas. Qual a conclusão mais
consistente com o que observamos sobre a m atéria? O
que é mais consistente com os princípios que governam o
mundo “visível” ? As respostas a essas perguntas nos
mostram qual a conclusão mais razoável, mas desde que
estamos neste mundo físico, não teremos prova observá­
vel dessas realidades espirituais. As Escrituras nos
dizem que quanto mais forte a nossa fé, tanto mais real
se torna p ara nós o que é espiritual (Hb 11), mas esta fé
não é simples desejo, pois vimos que se baseia em todos os
fatos e raciocínios que podemos aplicar ao mundo “invi­
sível” .
A medida que discutimos os vários aspectos do racio­
cínio, devemos ter em mente esses três tipos de questão:
fato, princípio ou julgamento, e espiritual.
Tratarem os aqui de quatro tipos de raciocínio para
extrair conclusões, e cada um está baseado num tipo de
material de apoio discutido antes. Podemos pensar em
cada um desses tipos de raciocínio como numa “form a”
ou molde no qual despejamos nosso material de apoio a
fim do que ele possa solidificar-se transformando-se em
prova. Nossa mente aceita esses tipos de raciocínio como
conclusivos quando são suficientemente fortes e todos
oles são fôrmas que geralmente usamos quer tenhamos
ou não sido treinados nos métodos de raciocínio. Ê
possível porém aprender a usá-los mais eficazmente
ntravés de um estudo dos mesmos.
1. O primeiro tipo de raciocínio é raciocinar a partir
da autoridade. Nesta fôrma despejamos citações na
natureza de testemunho, e deve haver uma quantidade
suficiente de testemunho extraído de fontes confiáveis
para que possa endurecer como prova para a proposi­
ção. Se estivéssemos tentando, por exemplo, estabelecer
o princípio de que “Jesus é o Cristo” , poderíamos usar o
raciocínio partindo da autoridade mediante a citação de
vários daqueles que declararam crer na verdade desta
proposição. Poderíamos citar Pedro (Mateus 16.18), João
(João 20.31), Estêvão (Atos 7.56), o centurião que O
crucificou (Mateus 27.54), João Batista (João 1.29-34), e
finalmente o próprio Deus (Mateus 3.17). Força adicional
poderia ser obtida citando homens fora da Bíblia que
iiveram fé. Quando todo este testemunho é despejado na
fôrma que chamamos de “autoridade”, ele produz uma
prova de peso. Sua força se encontra no fato de que o
testemunho foi dado por testemunhas oculares que não
tinham qualquer proveito pessoal a extrair do mesmo, e a
transmissão do seu testemunho foi bem preservada. Isto
íiugere que p ara criar fé, o testemunho precisa ser de
uma fonte confiável, em posição de saber que aquilo que
ostá dizendo é verdade. O seu testemunho será correta­
mente transmitido, e a citação não deve ser tirada do seu
contexto.
Estamos na verdade usando raciocínio a p artir da
autoridade toda vez que buscamos provar mediante uma
citação das Escrituras. Se estivermos tratando com pes-
Hoas que considerem as Escrituras como autoridade, este
à um excelente método de prova. Se não for assim,
duvemos então primeiro encontrar uma autoridade co­
mum acatada por ambas as partes.
2. Um segundo método de prova pelo raciocínio é
raciocinar com base no exemplo ou caso típico. Neste
tipo, amostras representativas ou casos são despejados
Iíii fôrma chamada caso típico. Se os exemplos forem
iluíicientes e verdadeiram ente típicos, e não raros ou
manufaturados, obtém-se então uma forte coluna de
apoio. Este método, freqüentemente chamado de genera­
lização ou indução, é facilmente demonstrado conside­
rando a proposição de que “Nenhum ato declarado por
Deus como sendo pecado tem como finalidade o interesse
mais alto do indivíduo ou da sociedade” . Como prova de
tal princípio, é possível apresentar um grande número de
pecados como exemplos, nos quais a declaração é vista
como sendo verdadeira: assassinato, roubo, fornicação,
mentira, inveja, malícia, embriaguez. Cada um desses ca­
sos irá dem onstrar que cometer tal ato não é no melhor
interesse daquele que o pratica nem da sociedade em
geral. Desde que a proposição é vista como verdadeira
em numerosos casos, e desde que nenhum caso contrário
à mesma pôde ser encontrado, a proposição fica demons­
trada como verdadeira. Em relação a este tipo de raciocí­
nio deve ser notado que em algumas situações cada caso
possível pode ser examinado enquanto em outras apenas
um número limitado de casos é exposto à observação. Em
qualquer das hipóteses, uma conclusão pode ser extraí­
da, mas ela não deve ser apresentada como absoluta­
mente certa quando algumas amostras permanecerem
sem ser examinadas.
3. O terceiro tipo de prova com base no raciocínio é a
analogia, e o tipo de material de apoio usado p ara encher
esta “fôrma” é a comparação. Em muitas ocasiões obser­
vamos semelhanças surpreendentes entre dois objetos,
acontecimentos, ou pessoas, mas em dado ponto de
comparação temos informes sobre apenas um dos dois
objetos. O raciocínio a partir da analogia nos leva a
concluir, porém, que se dois itens são semelhantes em
todos ou quase todos os aspectos conhecidos, serão
também semelhantes no aspecto desconhecido. A ilus­
tração mais popular deste tipo de raciocínio é a história
das duas avestruzes no deserto. Um viajante observou
que os dois pássaros tinham pés, pernas, corpo e pescoço
semelhantes, mas um deles estava com a cabeça enter­
rada na areia. Por analogia ele concluiu que a cabeça
que não podia ver era igual à que estava de fora.
O raciocínio por analogia é um método comum para o
sociólogo e, assim sendo, é freqüentemente útil p ara o
pregador. Muitos historiadores por exemplo observaram
que todas as grandes civilizações mundiais se lançaram
no ataque aos de fora somente quando enfraquecidas
interiormente pela decadência moral e espiritual. Por
analogia podemos raciocinar que à medida que esses
sinais aparecerem em nossa civilização, há motivo para
preocupação e alarme. Tiago usou este tipo de argumen-
I» quando disse que Elias “homem semelhante a nós”
orou e não choveu durante três anos e meio. Assim
sondo, se formos como Elias em muitos respeitos, deve­
ríamos ser capazes de oferecer orações eficazes.
Devem ser tomadas precauções especiais p a ra usar
npenas analogias literais e não figuradas como prova,
pois não é possível manter um argumento comparando
objetos basicamente diferentes. Pode-se argum entar cor­
retamente, por exemplo, que quando Israel como na­
ção foi fiel a Deus ela prosperou e portanto quando
qualquer nação for justa, Deus irá exaltá-la. Neste caso
uma nação está sendo com parada com outra nação. Mas
não se pode raciocionar que desde que flecha alguma
tom mais do que uma ponta, igreja alguma deveria ter
mais do que um pregador. As flechas e os pregadores
diferem basicamente e a comparação é figurada e não
liIoral. Tais comparações são algumas vezes de valor
pura esclarecimento ou ênfase, mas não se prestam como
prova. Naturalmente, quando as Escrituras aprovam
uma comparação figurada ou uma relação “tipo-antiti-
po”, isso pode ser usado como prova. (Veja 1 Co 10 como
tsxemplo.)
4. O quarto tipo de raciocínio é argum entar a partir
ila uma verdade aceita ou aplicação de princípio. Este
padrão para chegar a conclusões, freqüentemente cha­
mado de dedução, envolve uma série de declarações ou
proposições que estão relacionadas de tal forma que uma
conclusão pode ser inferida das mesmas. Este tipo de
raciocínio é muitas vezes chamado de silogístico, pois
qualquer argumentação desta espécie é redutível a al-
Kuina forma de silogismo.
Uma explicação especial sobre o raciocínio dedutivo
pode ser útil antes de o discutirmos em detalhe. Um
raciocínio como esse é extremamente comum em sua
aparência informal. A dona de casa conclui que deve
comprar no Jumbo porque pode fazer realmente econo­
mia com os descontos ali obtidos. A criança exclama:
“Não é justo” quando o irmão ganha mais balas do que
ela. O homem de negócios afirma que a ocasião é boa
para a compra de ações porque a tendência do mercado
parece favorável. Todas essas são conclusões baseadas
numa verdade ou princípio aceitos. As conclusões não
são mais fortes do que a premissa básica em que se
apoiam, mas no geral é preciso alguma prática para
reconhecer essas premissas a fim de estudar a sua
validade. Não é provável que o pregador faça uso do
raciocínio dedutivo da maneira formal como vamos agora
considerá-lo. Mas esta prática irá ajudá-lo a reconhecer
o padrão de tal raciocínio e fazer uso dele com mais
precisão quando em pregar declarações desse tipo. Para
os que desejarem estudar uma outra abordagem além da
silogística, o sistema Toulmin poderá interessá-los.16
Raciocinar ou extrair conclusões de verdades ou
princípios aceitos evidentemente começa com uma decla­
ração que pode, de um lado, não exigir prova ou, de
outro lado, que. já foi estabelecida através de uma outra
forma de prova. Nossas mentes estão muito bem estoca­
das com verdades dessa espécie. Aquilo com que todos
concordam sem necessidade de provas pode ser chama­
do de axioma. Alguns exemplos seriam: “os pais devem
amar e cuidar de seus filhos” , “tudo que um homem
fraco pode levantar, o forte também pode”, “o pregador
deve ser sincero”. Jesus fez uso deste tipo de raciocínio
quando declarou: “Ora, se vós que sois maus, sabeis dar
boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai que
está nos céus dará boas cousas aos que lhe pedirem?”
(Mt 7.11). A verdade aceita nesta passagem é esta:
“Tudo que o homem pode fazer, Deus pode exceder”.
Algumas declarações talvez exijam prova mediante
testemunho, exemplo, ou analogia, mas quando assim
provadas, podem tornar-se então a base para a dedução.
Uma vez aceita a autoridade da Bíblia, qualquer
declaração extraída dela pode ser usada como uma
verdade sobre a qual argum entar. Outras situações para
raciocinar a p artir de princípios, incluem áreas como a
moral, a vida no lar e o trabalho da igreja. Depois de
lt> Vojii Douglas Ehninger and Wayne Brockriede, Decison by Debate
(Now Yurk: Dodd, Mead e Company, 1963), pp. 98-189.
citar alguns exemplos p ara estabelecer o princípio co­
mo verdadeiro, o pregador pode talvez declarar que
desde que a maioria das conversões hoje envolve o
contato pessoal, cada congregação precisa de um pro­
grama de trabalho pessoal ativo.
Vamos examinar agora brevemente a estru tu ra mais
formal do raciocínio a p a rtir da prem issa. Desde que o
silogismo foi projetado como um meio para m ostrar a
(Indução em seus elementos mais simples, vamos usar o
HÜogismo p ara explicar este “molde” de prova.
Silogismo Categórico. O primeiro tipo de silogismo e o
mais comumente encontrado recebeu o nome de “categó­
rico” . Esta designação é apropriada desde que este tipo
de raciocínio envolve uma categoria, e uma qualidade
que se aplica a cada membro da mesma. O raciocínio
negue este curso: (1) Existe uma categoria de objetos
chamados “X” , e cada objeto nessa categoria possui a
qualidade de “Y” ; (2) “Z” é um dos objetos na categoria
do “X” ; portanto, (3) “Z” tem a qualidade de “Y” ,
Note como este padrão ê aplicado no seguinte silogis­
mo:
Premissa maior: Todos os homens (categoria X) são
mortais (qualidade Y)
Premissa menor: Sócrates (objeto Z) é homem (cate­
goria X)
Conclusão: Portanto, Sócrates (objeto Z) é mortal
(qualidade Y).
Em termos simbólicos, podemos expressar o silogismo
culegorico desta forma, com “ ” significando “está
Incluido em” .
todo X Y
Z >X
Portanto Z Y
Outra m aneira simbólica de observar um silogismo
cítlcgórico é mediante os diagram as Venn. Círculos so­
brepostos podem ser desenhados para cada um dos três
furmos do silogismo: a categoria mais ampla (X) é cham a­
da de termo principal, a qualidade constante de cada
ebjoto da categoria (Y) é cham ada de termo médio, e o
Abjeto incluso na categoria mais ampla (Z) é chamado de
termo menor. Um círculo irá então representar cada um
desses três termos e a m aneira como se sobrepõem
dem onstrará a validade do raciocínio.

* y

Premissa maior: todo x^>y


Premissa menor: z ^>x
Conclusão: portanto z^> y

A premissa maior diz que todo X está incluido em Y,


portanto, não existe na verdade X em qualquer das
seções “a ” ou “d ” . Todo X subsiste nas seções b e/ou e.
Desde que a premissa menor declara que Z está em X, Z
deve estar seja em “d” ou “e” , mas a premissa maior
afirmou que não existe X em “d ” e, portanto, Z não pode
estar em “d ” . Desde que Z está em “e” e “e” está
incluido em Y, então Z deve ter a qualidade de Y. Sendo
exatamente isso que a conclusão declara.
Na forma de silogismo categórico que estamos estu­
dando, os termos do silogismo sempre surgem nesta
ordem:
Premissa maior:
Termo principal (X) — termo médio (Y)
Premissa menor:
Termo menor (Z] — termo principal (X)
Conclusão:
Termo menor (Z) — termo médio (Y)
Somente quando a ordem segue exatamente este
padrão o silogismo é considerado válido.
Que valor prático isto tem para o pregador? Todo
ministro irá sem dúvida descobrir-se fazendo este tipo de
raciocínio, e ele deve perceber o que se passa e concluir
se tem realmente valor. O pregador pode dizer por
exemplo: “Jesus declarou que os puros de coração verão
a Deus e assim, se vocês quiserem ver a Deus terão de
ser puros de coração” . Uma tal declaração é um silogis­
mo categórico de aparência informal. Ela poderia ser
expressa:
Premissa maior: “Os puros de coração ÍX) verão a
Deus (Y)”
Premissa menor: Você (Z) é puro de coração (X).
Conclusão: Portanto, você (Z) verá a Deus (Y).
O pregador desejará também empregar tal raciocínio
para provar suas declarações. Em quase todos os casos
desse tipo, a premissa maior será uma passagem das
Hscrituras.
Premissa maior: “Todos os que vivem piedosamente
(X) serão perseguidos” (Y).
Premissa menor: Eu (Z) estou vivendo piedosamente
(X).
Conclusão: Portanto, eu (Z) serei perseguido
m.
Premissa maior: “Todos os que crerem e forem bati­
zados (X) serão salvos” (Y).
Premissa menor: Eu (Z) cri e fui batizado (X).
Conclusão: Eu (Z) serei salvo (Y).
Note que em cada caso a premissa maior nomeia
primeiro a categoria e a seguir dá a característica; a
premissa menor nomeia o objeto específico e o coloca na
categoria; e a conclusão menciona novamente o objeto
nspecífico e lhe atribui a qualidade que pertence a todos
nn categoria. Esta ordem é muito importante e deve ser
Hoguida em cada caso até que a pessoa tenha estudado
o assunto cuidadosamente em obras mais detalhadas em
que outros padrões possam ser aprendidos. Note, tam­
bém, que antes de extrair uma certa conclusão, a
qualidade deve ser atribuída a “todos” na categoria. Se
apenas puder ser dito que “alguns” que começam a
bober se tornam alcoólatras, não se pode então concluir
que uma determ inada pessoa que passe a beber virá a
ímr alcoólatra. Podemos, porém, raciocinar como segue:
Premissa maior: Somente os que começam a beber se
tornam alcoólatras.
Premissa menor: Eu não comecei a beber.
Conclusão: Portanto, não me tornarei alcoóla­
tra.
Desde que uma das premissas é negativa, a conclusão
deve ser negativa, Se ambas as premissas fossem negati­
vas, nenhuma conclusão poderia ser extraída.
Deve ser tomado cuidado especial p ara não cair na
armadilha prem issa menor ilícita como chamada pelo
lógicos. Isto é, devemos estar certos de que a prem issa
m enor realmente coloca a pessoa na categoria sendo
considerada. O seguinte silogismo parece certo à primei­
ra vista, mas será?
Premissa maior: Todos os comunistas (X) acreditam
que Deus não existe (Y).
Premissa menor: João (Z) acredita que Deus não
existe (Y).
Conclusão: Portanto, João [Z) é comunista (Y).
Em lugar de colocar João na categoria dos comunistas,
a premissa menor atribui a ele a qualidade dos que
se acham nessa categoria. Note como a ordem dos termos
foi alterada para X-Y, Z-Y, Z-X. Isto não está de acordo
com a que foi dada acima e serve para indicar que a
conclusão não se segue. A premissa maior não afirma
que somente os comunistas acreditam que-Deus não
existe, pois não é esse o caso. A premissa menor é
portanto considerada como ilícita, pois deixa de cumprir
a sua missão de colocar o objeto na categoria. O raciocí­
nio no exemplo acima é portanto falso.
O silogismo categórico não ó porém a única forma de
silogismo. Existem duas outras que deveriam ser mencio­
nadas brevemente: a hipotética e a disjuntiva. Apesar
dos nomes soarem difíceis, não há dificuldade em retê-
los.
Silogismo Hipotético. O silogismo hipotético se apoia
numa declaração condicional “se”, daí o seu nome. A
premissa maior neste caso é composta de duas cláusulas,
denominadas an te ced en te e conseqüente. Ela afirma
que no caso do antecedente ou parte condicional se
mostrar verdadeiro, então o conseqüente também o
será. A premissa menor indica nesse caso se a cláusula
condicional realizou-se ou não, e a conclusão então
afirma ou nega o conseqüente.
Se fizermos com que “ ZD “ signifique “se-então”,
Iiodemos fazer o diagrama do silogismo hipotético desta
forma:
A ZD B Se “A” então “B”
A “A” é verdadeiro
portanto
B “B” é verdadeiro

Se o antecedente for negado, a apresentação seria


esta:
A ZD B se “A” então “B”
Á “A” não é verdadeiro
portanto
$ “B” não fica estabelecido

Uma forma ainda mais forte é esta: “se e apenas se” .


Isto é simbolizado por mas só pode ser usado no
caso de ser realmente verdadeiro.
Eis alguns exemplos:
Premissa Maior: Se (e apenas se) Carlos p assar em
história ele poderá jogar futebol (B).
Premissa Menor: Carlos passou em história (A).
Conclusão: Portanto, Carlos pode jogar futebol
(B).
ou
Premissa Maior: Se (e apenas se) Carlos p assar em
história (A) então poderá jogar fute­
bol (B)
Premissa Menor: Carlos não passou em história (A).
Conclusão: Carlos não poderá jogar futebol (B).
Este silogismo hipotético era um favorito de Paulo e é
preciso compreendê-lo a fim de entender bem alguns de
b o u s escritos. De fato, o capítulo 15 de 1 Coríntios está
repleto de raciocínios desse tipo. Por exemplo:
Premissa Maior: Se Cristo não ressuscitou (A), então
a sua fé é vã (B).
Premissa Menor: Cristo ressuscitou (A).
Conclusão: Portanto, a sua fé não é vã (B)
O pregador em muitas ocasiões irá declarar apenas a
premissa maior, deixando o restante para a mente do
ouvinte: se pudermos aum entar a contribuição até Cr$
1.000 por semana, podemos enviar outro missionário
para a África; se pudermos organizar melhor as aulas
bíblicas, será fácil aum entar a freqüência.
Silogismo Disjuntivo. O último tipo de raciocínio a
partir de uma premissa ou generalização é o silogismo
disjuntivo, uma declaração do tipo “Ou-ou”. Neste caso
a premissa maior estabelece duas alternativas, sendo
ambas possíveis. Mas p ara o raciocínio ser válido, deve
ser impossível que ambas ocorram simultaneamente. A
premissa menor então aceita ou rejeita uma alternativa,
e a conclusão, por sua vez, aceita ou rejeita a outra.
O silogismo disjuntivo também pode ser representado
simbolicamente por “ ” significando “ou... ou...
mas não ambos” .
C D Ou “C” ou “D” mas não ambos
C “C” é verdadeiro
portanto
D “D” não é verdadeiro
O pregador deve fazer uso desta forma de silogismo
desta maneira:
Premissa Maior: Ou Cristo é o Filho de Deus (C) ou
ele era um impostor [D).
Premissa Menor: Ele não era impostor (D).
Conclusão: Portanto, ele era o Filho de Deus
(C).
Cuidado especial deve ser tomado a fim de garantir
que ambas as alternativas não possam ocorrer.
Premissa Maior: Ou podemos construir um novo pré-

Premissa Menor: Devemos construir um novo prédio.

Isto pode parecer plausível na superfície e em alguns


casos até mesmo válido, mas seria possível fazer ambas
as coisas e a decisão de concretizar uma não elimina
necessariamente a outra.
5. Uma palavra especial deve ser dita nesta seção ao
raciocinar sobre relações causais. Em muitas discussões
sobre argumentos, o raciocínio a partir da causa é
mencionado como um tipo particular, e, na verdade,
pode ser assim considerado. Todavia, argum entar com
liase em causas e efeitos na realidade envolve o uso de
generalizações de casos e deduções de princípios acei­
tos. Por esta razão ele não recebe uma posição especial
nesta abordagem. Desde que muitas discussões sobre
religião envolvem realmente relações causais, este ponto
está sendo tratado aqui.
Todos aceitam o princípio de que “nada acontece sem
uma causa”, sendo assim aceito que, em cada ocorrên­
cia, algo aconteceu p ara fazê-la surgir. O acontecimento
que provocou o aparecimento de outros é chamado de
causa e os acontecimentos resultantes são chamados
afeito s. É geralmente útil descobrir o que provocou um
dado acontecimento. Desde que é aceito que não existe
efeito sem causa, devemos descobrir um evento anterior
sem o qual o efeito não poderia ter surgido. A causa
então pode ser definida como o antecedente indispensá­
vel do efeito.
Jesus reconheceu este princípio quando apresentou o
preceito: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus
7.16). Um fruto é, evidentemente, um efeito; e quando
raciocinamos que desde que os frutos de um programa
são “bons” o plano que os produziu é “bom”, fizemos uso
do raciocínio causai baseado na aplicação de um princí­
pio aceito (dedução).
A força do raciocínio a partir da causa está em
estabelecer a certeza do relacionamento entre a causa e
o efeito. O efeito ê geralmente conhecido e a busca se
concentra na causa. A contribuição aumentou de repen­
te e se manteve num nível alto durante vários meses, o
efeito é portanto claro. Mas, qual foi a causa? A investi­
gação revela que a única mudança no plano anterior foi a
apresentação de um programa mais extenso e o apelo a
um apoio financeiro maior. A conclusão, portanto, é que
esta apresentação e apelo provocaram o aumento nas
ofertas.
O raciocínio a respeito de causas desempenhou um
papel de importância nas discussões das evidências
cristãs. Os argumentos a favor da ressurreição de Jesus
foram com freqüência alicerçados numa base causai.
Tomemos, por exemplo, a mudança ocorrida no compor­
tamento de Pedro — de sua negação de Cristo à sua
pregação no Pentecostes. Deve ser encontrado um acon­
tecimento que pudesse produzir tão surpreendente trans­
formação, e esse evento, segundo se argumenta, foi a
ressurreição. Nenhuma outra causa, continua o raciocí­
nio, poderia ter produzido tal efeito pois nenhuma causa
menor teria poder p ara produzir uma mudança de tanta
magnitude.
Outro argumento causai relativo à ressurreição é
aquele que diz que apesar da ressurreição ser muito
difícil de explicar, o desenvolvimento inicial do cristianis­
mo seria de explicação ainda mais complexa sem ela.
Este argumento, como fica evidente, se move do efeito
para a causa, e está baseado num princípio que afirma
que algum acontecimento de surpreendente significado
deve ter ocorrido após a morte de Jesus a fim de unir seus
seguidores e estimulá-los a proclamar zelosamente o
evangelho. Nada menos do que ver o Senhor ressurreto
fornece uma causa suficiente p ara produzir este efeito.
As relações causais também ocupam um lugar impor­
tante nas discussões sobre a existência de Deus. Desde
que todos concordam que o mundo como agora existe
teve sua origem em algum lugar, discussões copio-
sas foram efetuadas, tentando estabelecer a causa pa­
ra o efeito que agora existe. Os m aterialistas e ateus
argumentam que tudo que existe hoje teve sua origem em
m atéria inorgânica através de milhões de anos de evolu­
ção. Os que crêem em Deus, por outro lado, argumentam
que o próprio Deus é a “primeira causa” , e que é muito
mais razoável aceitar a mente como o planejador e autor
do cosmos do que acreditar que o universo teve sua
origem na m atéria inexplicada e nebulosa, fazendo do
sistema presente um acidente acumulado. O raciocínio
causai pode ser diagramado segundo vários silogismos:

Ou o universo veio da mente ou da matéria. Ele


não poderia ter vindo da m atéria (causa insufi-
ciente); portanto, deve ter vindo da mente.
ou
Ou a primeira igreja rendeu sua vida por um
Salvador que os cristãos sabiam ter fracassado e
era um mentiroso, ou estes tinham razão para
crer que Ele havia ressuscitado.

O pregador deve então fazer uso de material de apoio


para provar. Ele age nesta conformidade utilizando um
dos quatro processos de raciocínio: (1) a partir do
tnstemunho, usando citações ou referências a autorida­
des aceitas, (2) a partir de casos típicos, apresentando
latos ou exemplos, (3) a p artir da analogia pela compa­
ração de dois objetos semelhantes, e (4) a partir da
premissa, aplicando uma verdade aceita ou principal ao
caso particular que está sendo discutido.
MOTIVAÇÃO. Finalmente, o m aterial de apoio for­
nece a base p ara a motivação, a parte mais exigente da
pregação. Informar ou convencer não é tão difícil, mas
levar uma audidência a sentir e agir é outra coisa.
Não é naturalm ente possível separar por completo os
apelos “lógicos”, “éticos”, e “emocionais” . Uma senten­
ça poderia englobar a todos e nenhuma persuasão ou
motivação fica completa sem que os três sejam envolvi­
dos. Desde que já discutimos o apelo ético quando
falamos do caráter do pregador, e o apelo lógico ainda
neste capítulo, vamos considerar agora o apelo emocio­
nal e como utilizá-lo com a finalidade de motivar.
O uso das emoções na pregação é um ponto importan-
le mas delicado. Nenhum pregador alcança êxito sem
empregar o potencial para o bem nas emoções de seus
ouvintes; entretanto, a possibilidade de abuso das emo­
ções é igualmente grande. Ao estudarmos este tópico da
motivação e como o apelo emocional pode contribuir para
ela, consideraremos primeiramente como motivar e a
H o g u i r até que ponto é apropriado aproveitar-se dessa
motivação.
O apelo emocional envolve três áreas básicas: (1) h
mensagem do pregador, (2) as palavras usadas para
transmiti-la, e (3) as insinuações não-verbais utilizadfil
por ele através do corpo e da voz, enquanto fala.
Vamos tra ta r primeiro da mensagem que o pregador
pode empregar a fim de produzir motivação. O que ele
dirá aos ouvintes que os leve a sentir e entrar em ação?
De forma básica, o pregador persuade um ouvinte
quando consegue relacionar o que ele quer que a pessoa
sinta e faça a um ou mais de seus motivos ou impulsos
básico s. Os dez impulsos fundamentais foram explicados
no Capítulo 4, mas devem receber atenção adicional aqui
desde que todos desempenham um papel importante na
motivação.
O motivo ou impulso é uma necessidade fundamental,
dada por Deus, inata em todos os seres humanos, e
embora listas incontáveis tenham sido compiladas quan­
to a esses impulsos, apenas dez deles estão sendo consi­
derados p ara o propósito deste estudo: auto-preserva-
ção, sexo, aprovação social, bens materiais, afeições,
poder, exploração, convicções, prazer, respeito e adora­
ção. As nossas emoções, tais como medo, amor, ódio, ira,
decepção, tristeza e alegria, se concentram ao redor dos
mesmos; pois, na realidade, as emoções que sentimos se
relacionam a cada um desses impulsos.
A lista abaixo especifica esses dez impulsos e apre­
senta depois de cada um declarações que poderiam ser
feitas pela pessoa que estivesse satisfazendo esse impul­
so. O pregador pode associar o que ele está pretendendo
para os seus ouvintes com a capacidade deles de senti­
rem as emoções expressas nas mesmas. Quando pensa­
rem que fazer o que ele deseja irá capacitá-los a pronun­
ciar uma dessas frases, então provavelmente farão o que
ele quer.

1. Autopreservação
a. Prolongarei minha vida.
b. Sentirei uma necessidade biológica de comida ou
bebida.
c. Ficarei livre de perigos e / ou terei mais seguran­
ça.
d. Aumentarei o meu respeito próprio.
2. Aprovação Social
a. Receberei reconhecimento ou respeito de outros.
b. Obterei a boa vontade ou aprovação de alguém.
3. Sexo
a. Sentirei uma satisfação sexual física.
b. Sentirei uma satisfação emocional como homem
ou mulher.
c. Sentirei atração por alguém do sexo oposto.
d. Aprenderei algo a respeito da satisfação do meu
desejo sexual.
4. Bens Materiais
a. Receberei dinheiro ou o seu equivalente.
b. Obterei ou manterei a posse de algo.
5. Prazer
a. Terei conforto físico ou prazer.
b. Terei prazer mental.
c. Evitarei a dor.
6. Poder
a. Influenciarei alguém ou farei com que façam o
que desejo.
b. Terei livre-arbítrio.
c. Farei algo que a maioria das pessoas não pode
fazer ou não faz.
7. Afeições
a. Receberei amor de alguém.
b. Darei amor a alguém.
c. Serei aceito por aqueles a quem amo.
8. Convicções
a. Ajudarei alguém a fazer o que é importante para
ele.
b. Cumprirei o meu dever.
c. Viverei de acordo com meu código de ética.
d. Entenderei mais claram ente meus princípios de
conduta.
e. Farei algo útil à minha comunidade ou ao meu
país.
!). Exploração
a. Aprenderei algo novo.
b. Enfrentarei um desafio.
c. Terei uma aventura.
10. Respeito e Adoração
a. Me sentirei ligado a alguém maior do que eu.
b. Terei comunhão com algo maior do que o homom.
c. Entenderei melhor o poder do sobrenatural.
Mas como pregador associa suas esperanças do que
os ouvintes farão com essas reações que acabamos de
rever? Ele pode, naturalmente, falar apenas desta rela­
ção. “Se quiserem preservar a si mesmos”, poderia
dizer, “então não vão para o inferno. A salvação pode
ser sua” . O apelo direto tem valor algumas vezes, mas
em muitos casos será através de algum tipo de material de
apoio, geralmente uma narração ou descrição, ou um
testemunho, que o orador pode mais eficazmente apre­
sentar seu apelo à audiência. Algumas das maneiras
mais eficazes de associar aquilo que você quer que o
ouvinte faça com os próprios desejos dele são:
1. Contar uma história que envolva crianças, pessoas
idosas ou deficientes. Todos parecem comover-se
com tais narrativas porque facilmente nos identifi­
camos com elas e temos uma afeição natural por
tais pessoas.
2. Descrever ou contar uma narrativa a respeito de
pessoas que enfrentaram um grande desafio e ven­
ceram. Nos sentimos atraídos por livros, filmes,
program as de televisão e pessoas que enfrentaram
problemas ou dificuldades e os venceram mediante
seus impulsos de exploração, convicções e respeito.
Qual o americano, por exemplo, que não se sentiu
comovido quando os seus compatriotas presos pelo
norte-vietnamistas foram libertados e fizeram de­
clarações cheias de patriotismo, saudando a ban­
deira de seu país? Eles tinham vencido da mesma
forma que os primeiros cristãos, que um aluno do
colegial ao recusar beber mesmo quando pressiona­
do por seus colegas, e que o executivo que recusou
participar de um negócio desonesto, a fim de alcan­
çar êxito.
3. Descrever eventos ou pessoas a fim de levar o ou­
vinte a recordar momentos tocantes de sua própria
vida — o nascimento de um filho, a perda de um en­
te querido, o amor a um animal de estimação, um
casamento, uma formatura, um momento de alegria
ou tristeza. Tais acontecimentos são facilmente li­
gados a nossos impulsos de afeição, prazer, explo­
ração, poder e sexo.
4. Dar testemunho pessoal — ou o seu ou o de outrém
— que associe o seu objetivo com as necessidades
do ouvinte. Se você e outros puseram em prática a
atitude ou ato que está instando e tiraram proveito
do mesmo, então esta experiência pessoal pode co­
mover. O testemunho dos que não fizeram o que es­
tá sendo sugerido e mais tarde se arrependeram po­
de também ser usado, como é natural.
5. Ajudar o ouvinte a visualizar a si mesmo fazendo o
que você sugere e descobrir nisso uma maneira de
satisfazer suas necessidades. A fim de levar à ação
o orador deve engajar a imaginação do ouvinte e a
visualização é um meio excelente de conseguir isso.

Depois de examinar (1) a mensagem ou conteúdo que


o pregador pode usar p ara desenvolver o apelo emocio­
nal, devemos também observar dois outros elementos que
são também importantes p ara alcançar este fim: (2) as
palavras escolhidas pelo orador p ara transm itir a sua
mensagem e (3) as insinuações não-verbais da voz e do
corpo. Enquanto a discussão principal desses aspectos
da pregação se encontra nos Capítulos 8 e 9, alguns
breves comentários se encaixam perfeitamente aqui.
As palavras não têm apenas um significado gramati­
cal. mas possuem também conotações emocionais que o
pregador deve reconhecer e utilizar. As palavras que
possuem um colorido emocional evidente são termos
como “perdido” , “racista”, “m ãe” , “fracasso” , “vitó­
ria”, “céu” , “inferno”, “ódio” , e muitas outras. Note a
diferença no apelo emocional das duas sentenças abaixo,
Hondo que o conteúdo básico de ambas é o mesmo:
(1) “Os que não falam a verdade devem esperar
maus resultados” ;
(2) “Todo mentiroso p assará a eternidade nos tor­
mentos do inferno, eternamente separado da face
de Deus.”
Afim de tornar comovente a sua mensagem, o prega­
dor deve então escolher as palavras mais adequadas
para causar um impacto emocional. Além do conteú­
do e das palavras, o modo de falar também é uma parte
básica do apelo emocional. A maneira como a pessoa
acompanha as palavras pronunciadas com as insinua­
ções não-verbais da voz e do corpo é muito importante no
sentido de fazer com que os ouvintes sintam e entrem em
ação.
Se, por exemplo, o próprio orador se sente comovido
por um pensamento, até o ponto de chorar, sorrir ou
parecer muito sincero, a audiência terá então maior
probabilidade de manifestar emoção. A pregação não é
um jogo e o pregador não deve naturalmente empregar
artifícios. Ele pode, no entanto, fazer uso de material que
tenha significado para si mesmo e estar preparado para
responder ao seu impacto. O seu entusiasmo, tristeza, ou
dedicação a uma causa irá certam ente criar um senti­
mento recíproco em outros. Algumas pessoas parecem
ter, por natureza, uma certa transparência de espírito
que comove facilmente os ouvintes. Outras precisam dar
mais atenção ao desenvolvimento desta capacidade. To­
dos, porém, podem aperfeiçoar o impacto emocional de
seus pronunciamentos.
Vamos dar agora alguns exemplos de apelo emocional
que ilustram os princípios acabados de sugerir. Jimmy
Allen empregou esses testemunhos a fim de estimular
seus ouvintes a aceitarem o poder de Cristo sobre a
morte em suas vidas:
“T.B. Larimore, algumas horas antes de morrer,
escreveu: ‘Minha fé nunca foi mais forte; minha esperan­
ça jamais foi tão certa... meu coração nunca foi mais
calmo... durmo bem, tenhos bons sonhos, e me regozijo
sempre.’ Por que deveria alguém temer a morte quando
possui no bolso os direitos de propriedade do céu.? John
Banister me falou da morte de um amigo cristão, dizendo
que cerca de dez minutos antes do irmão morrer ele fez
com os dedos o ‘V’ da vitória e apontou p ara o alto. É
inacreditável! O Salvador proporcionou-lhe paz mesmo
na hora da morte.” 17
Nesta amostra vemos o apelo do poder, que todos
desejariam possuir sobre a morte.
Outra amostra é fornocida por Reuel Lemmons que
usou a afeição pela mão e o respeito por Cristo a fim de

17 Jimmy Allen, “Christ, tho Prinne of Peace” , Great Sermons of 196


(Austin, R. B. Sweet Company, Inc., 1967), p. 26.
apelar aos ouvintes p ara que rejeitassem o pecado 0
aceitassem Cristo.
“Seria impensável que um jovem se mostrasse ingrato
— rebelando-se contra uma mãe amorosa. Todavia, nÓH
nos rebelamos contra Deus cujo amor por nós é ainda
maior do que 0 amor materno. Mal podemos pensar em
palavras que descrevam nossa repulsa por alguém que
se torna traidor do seu próprio país — sua terra bem-
amada. Entretanto, raram ente rejeitamos aquele que
trai o Pai celestial ou ofende o espírito da Graça. Quando
alguém despreza 0 sangue da aliança que 0 santificou,
quando retira Cristo do seu coração e 0 prega numa cruz
de vergonha diante da comunidade — duas vezes crucifi­
cado, ele certamente cometeu um crime contra o céu
digno do mais severo castigo.” 18
Depois de analisar como as emoções podem ser
usadas p ara levar uma audiência a agir, é preciso
considerar até que ponto as emoções podem ser adequa­
damente empregadas. Até onde ele pode chegar? Pode­
mos pensar no apelo emocional em quatro níveis. Primei­
ro, fazer uma consideração dos motivos ou simplesmente
falar sobre eles. Neste nível do apelo emocional 0 orador
menciona os impulsos como razões p ara levar-nos a agir.
“Esta ação está de acordo com aquilo que acreditam ”
(convicções); ou “agir desta forma irá proporcionar a
vocês um lar mais feliz” (afeição e aprovação social).
Um segundo nível de apelo emocional está na visuali­
zação da satisfação. O pregador aqui não sugere apenas
que uma dada ação irá satisfazer um impulso ou remover
um impedimento, mas faz uma descrição verbal da
satisfação derivada do ato que está instando p ara prati­
carem. “Imagine só, ” diz ele, “que alegria você vai sentir
quando alguém a quem ensinou se entregar a Cristo”
(convicções, respeito e adoração). Ou , “Pense comigo no
julgamento. Enquanto você espera em seu lugar, 0 Se­
nhor lhe diz: ‘Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no
pouco, sobre 0 muito te colocarei: entra no gozo do teu
Senhor’. Que momento maravilhoso! E tudo começou com
a sua resposta ao chamado de Jesus hoje” (respeito e

18 Reuel Lemmons, “The Exceeding Sinfulness of Sin” , Great Sermons of


1967, op.. cit., p. 97.
adoração, autopreservação). O pregador ajuda assim
seus ouvintes a visualizarem a real satisfação sentida
por eles caso seja tomada a atitude que ele está reco­
mendando.
Algumas vezes você desejará avançar ainda um pou­
co além da visualização da satisfação até o ponto de
realmente estimular as emoções. O cristianismo é uma
religião emocional, e não uma filosofia de estoicismo.
Espera-se que os cristãos sintam algo quando adoram,
pensem na morte do Senhor, ou meditem sobre o céu e o
inferno. Você deve então certam ente desejar estimular
as emoções de seus ouvintes em algumas ocasiões. As
vezes desejará fazê-los rir ou chorar, ou fazer com que
tenham uma forte sensação de culpa, vergonha ou amor.
Quando adequadam ente usados e controlados, tais sen­
timentos são de grande valor p ara motivar o auditório a
uma ação desejável.
O quarto nível de apelo emocional pode ser chamado
de excitação das emoções, e este nível é inadequado para
o discurso público. Neste nível a pessoa foi de tal modo
estimulada que não pode mais exercer um controle
consciente sobre os seus atos. O uso de motivação que
faça os processos mais lógicos entrarem em curto-circuito
não deve nem ser tentado nem tolerado, pois não há
desculpas p ara o pregador que leva os ouvintes a prati­
carem, enquanto estão em estado frenético, aquilo que
jamais fariam “ à luz clara do dia” . O apelo emocional
jamais deve ser levado ao ponto em que se torna uma
força controladora sem restrições ou onde leve a atos
baseados apenas na emoção sem qualquer raciocínio.
Entretanto, há definitivamente lugar na pregação
para o apelo emocional, e 6 no geral esta qualidade que
distingue o pregador medíocre daquele que tem sucesso.
Um professor do dram atização comentou certa vez que
ele julgava o valor de uma peça pelo fato de sentir ou não
um arrepio na espinha ao assistí-la, e o pregador irá com
freqüência descobrir que seus sermões mais eficazes
são aqueles que estimulam as emoções até um ní­
vel apropriado. Jonathan Edwards apelava principal­
mente à autopreservação. Henry W ard Beecher às
afeições, e Theodore Parker à convicção. Esta é também
uma das áreas que exigem muito estudo e muita expe­
riência para o seu emprego adequado.
O pregador deve estudar cuidadosamente o assunto
da motivação. Deve ler livros sobre persuasão e psicolo­
gia. Um de seus mais importantes deveres é inspirar,
motivar, persuadir; e aprender a fazer isto corretamente
ó o trabalho de uma vida.
RESUMO. Embora essas quatro funções do material
de apoio — interessar, esclarecer, provar, e motivar —
lonham sido apresentadas separadam ente, com freqüên­
cia o mesmo material de apoio pode produzir dois ou três
desses efeitos. O exemplo usado primariamente para
provar, pode ao mesmo tempo fornecer interesse e
motivação. Uma narrativa, empregada com o intuito de
motivar, ajuda às vezes também a esclarecer uma
declaração. O ponto importante a ser lembrado com
relação a isto é que o orador deve ter um objetivo
principal p a ra cada parte do m aterial incluido, mas é
preciso também que perceba quaisquer valores adicio­
nais contidos nesse material.

PESQUISA DO MATERIAL DE APOIO


Antes de encerrar esta discussão sobre o material de
apoio, devemos dar alguma atenção às fontes de onde o
mesmo pode ser extraído e como obtê-lo.
FONTES. Todo pregador que deseje servir como mi­
nistro deve especializar-se na pesquisa a fim de alcançar
pelo menos um nível médio de capacidade e eficácia. Esta
a razão pela qual o fato de cursar uma faculdade é
importante, pois é ali que aprende melhor como e onde
encontrar os materiais que necessita. Alguns até mesmo
definiram o ensino superior como o processo de aprender
a descobrir onde tudo se encontra e não o de aprender
ludo. Algumas atividades extra-curriculares como deba­
te e jornalismo são também úteis para o treinamento,
pois nas mesmas a pessoa precisa “ cavar” para obter
materiais e acostumar-se a tomar notas.
O pregador deve possuir em sua biblioteca algumas
ferramentas básicas. Ele deve ter várias traduções da
Bíblia, uma concordância completa, e tanto um dicioná­
rio como uma enciclopédia bíblica. Se tiver estudado
línguas a ponto de poder fazer uso delas, irá incluir na
mesma um léxico grego e hebreu e, naturalmente, um
dicionário comum de português. É bom ter diversos
comentários, e da biblioteca do pregador devem constar
tanto aqueles que abrangem a Bíblia inteira como os que
se especializam num só livro ou num pequeno grupo deles.
Os comentários devem ser escolhidos com base tanto na
sua interpretação das Escrituras, quanto na quantidade
de informação histórica e cultural por eles fornecida e se
apresentam material relativo à organização de livros e
capítulos. A biblioteca deve incluir outrossim uma boa en­
ciclopédia geral, de onde o pregador possa extrair ilustra­
ções e detalhes históricos, biográficos e artísticos. Além
disso, a coleção de livros básicos do pregador deve incluir
trabalhos sobre história da igreja, teologia sistemática,
assuntos doutrinários, etiqueta e alguns livros que pro­
porcionem inspiração. Também serão úteis algumas an­
tologias de poesia e prosa e uma coleção de citações
aproveitáveis. Finalmente, a biblioteca do pregador deve
incluir alguns livros de sermões bem escolhidos e talvez
alguns esboços de sermão.
Cuidado especial deve ser naturalmente tomado ao
fazer uso desses materiais. Pregador algum que dependa
grandemente dos sermões preparados por outros jamais
se tornará um orador de primeira classe. Embora esses
livros sejam úteis p ara a pesquisa de idéias, ilustrações e
métodos de abordagem, o sermão de forma alguma deve
ser o “regurgitar” do trabalho de outrem. Uma boa regra
a seguir neste ponto é esta: jamais pregue um sermão que
seja baseado num único esboço de outro. Se tais mate­
riais forem empregados, o pregador deve sempre pesqui­
sar mais do que uma fonto e esforçar-se p ara preparar
um novo esboço apoiado no que encontrou. Se não puder
apresentar quaisquer idéias sobre o assunto através do
seu próprio estudo do mesmo, pelo menos o arranjo e
desenvolvimento do toma devem ser criação dele. Broa-
dus, que faz algumas observações valiosas neste ponto,
sugere que o pregador jamais deve “apropriar-se de um
discurso inteiro, com ou sem autorização” . 19

19 John A. Broadus. On th o Preparation and Delivery of Sermons (New


York: Harper e Brothers, 1944), p. B8.
Neste particular, pode ser feita alguma menção de
como e quando citar as fontes usadas. A fonte de
informação deve ser dada quando o orador usa: (1) uma
citação direta, (2) uma idéia importante que não faz
parte do conhecimento geral, (3) uma declaração surpre­
endente em relação à qual seria desonesto aceitar crédi­
to, e (4) uma abordagem ou parte de um esboço de
outrem. Este reconhecimento de uma fonte não enfra­
quece a sua influência; mas, pelo contrário, reforça o
seu apelo ético, mostrando que você está a par do que
outros disseram sobre o assunto em questão.
O reconhecimento das fontes deve ser feito da manei­
ra mais interessante possível. Quando alguma fonte
particular forneceu o germe de uma idéia p ara o sermão,
o pregador pode dizer, “Há várias semanas atrás li uma
declaração num livro chamado ‘A Maior Coisa do Mundo’
(The Greatest Thing in the WorldJ por Henry Drummond
que ficou gravada em minha mente, e esta idéia tornou-
se o tema do sermão de hoje. ” Assim o crédito é dado sem
necessidade da declaração mais formal e menos interes­
sante do tipo “nota de rodapé” .
Se uma citação ou paráfrase for extraída de um autor
específico, a fonte deve geralmente introduzir e não
seguir o material. O orador deve dizer, por exemplo,
“Jonathan Edwards falou exatamente sobre este ponto
em seu sermão “Pecadores nas Mãos de um Deus Irado”.
Ao escrever, é importante que cada fonte seja cuida­
dosamente documentada, e o mesmo se aplica quando
falamos; mas nem toda a documentação precisa ser
incluída no discurso em si. É inútil, por exemplo, dar
detalhes específicos como o número de página ou volume
desde que o auditório não irá guardá-lo. A data deve ser
dada apenas se tiver alguma importância particular.
Se o autor citado não for bastante conhecido, a força
da citação será maior se ele for identificado pelas suas
qualificações como autoridade no assunto.
Em adição às fontes de material acima mencionadas,
o pregador deve ter alguns itens para leitura regular, os
quais farão aum entar o seu cabedal de conhecimentos,
assim como prover informações específicas, em certos
casos, para os sermões: um jornal diário, uma rovista
noticiosa semanal, e dois ou três periódicos religiosoi d§
tipos diversos. Ele deve ler o máximo que puder a respeito
de todas as áreas de conhecimento e manter sempre um
livro “aberto” . Desde que o seu orçamento p ara a
compra de livros será provavelmente limitada, os livros
brochados, que contêm agora o que há de melhor na
literatura, podem perfeitamente suprir as suas necessi­
dades gerais de leitura a preço reduzido.
Seria, porém, decididamente desastroso deixar a
impressão de que a única fonte de idéias p ara os sermões
é a página impressa. Existem duas outras fontes gerais
que precisam ser mencionadas. O pregador deve fazer
bom uso das conversas mantidas com outras pessoas. Ele
terá freqüentemente idéias que devem ser testadas no
calor de uma conversa com outros pregadores e estudio­
sos da Bíblia. Em outras ocasiões será ele quem vai
servir de teste para as idéias de um outro e pode
aprender delas. Sempre que possível deve associar-se
com aqueles cuja conversa seja estimulante e informati­
va. Conta-se, por exemplo, que o Presidente Roosevelt,
em lugar de ler um certo livro, chamou o autor para
conversar com ele na Casa Branca.
Outra fonte geral de grande valia é a experiência do
próprio pregador. Se alguns ministros passassem tanto
tempo procurando lembrar-se de situações surgidas em
suas próprias experiências quanto passam folheando
algum livros de ilustrações, provavelmente encontrariam
muito mais e melhores exemplos, pois podem falar sobre
eles com mais firmeza e convicção. É preciso tomar
naturalmente precauções, a fim de não fazer uso dema­
siado de experiências pessoais no púlpito, mas se o
pregador tiver medo de estar referindo-se a si mesmo
com demasiada freqüência, ele pode então apresentar
situações que observou pessoalmente sem se referir a is­
so. O bom gosto e a ética cristã iriam porém exigir que ele
não revele assuntos que lhe foram revelados em confian­
ça ou situações envolvendo membros de sua congregação
de maneira desagradável ou ofensiva.
NOTAS. T o r n a r notas é um hábito dos mais impor­
tantes para o pregador adquirir no início de sua carrei­
ra. Ele deve determ inar um sistema para isso e seguí-lo
durante toda a sua vida de pregação. Alguns preferem
usar livros de notas pequenos que podem ter sempre
consigo. Outros dão preferência a cartões que podem ser
convenientemente preenchidos e arquivados.
Qualquer seja o método, o pregador descobrirá que
vale a pena anotar as coisas cuidadosamente. Ele deve
registrar todas as idéias para sermões onde quer que
elas ocorram, em seu escritório, durante uma visita,
vendo televisão, ou no campo de golfe. É comum que o
ministro conceba o que acredita ser um excelente plano
de sermão apenas p ara vê-lo fugir de sua mente antes de
usá-lo. Ilustrações podem também sui’gir em momentos
inesperados. Podemos ver uma árvore morta sendo remo­
vida pela municipalidade e compreender que isto nos
ajudará a enfatizar um ponto sobre a produção de frutos.
Ao assistir a um program a sobre a vida do presidente
Lincoln, o pregador pode perceber que ele contém mate­
rial ilustrativo com respeito à dedicação a uma causa.
Ele pode ouvir um locutor fazer uso de uma anedota que
talvez seja útil. E, naturalmente, lerá material em livros e
revistas que terá necessidade de registrar.
É da maior importância, todavia, que o pregador se
lembre de que o item que deseja registrar não é tudo que
deve ser colocado nas suas notas. A fonte de informação
é também vital e deve ser incluída no mesmo lugar em que
o próprio item. Qualquer bom manual de estilo mencio­
nará a informação a ser registrada e o sistema de
colocação. A bibliografia e notas de rodapé neste livro
também fornecem exemplos do método p ara registro da
fonte. No caso da informação não ser extraída de um
material já publicado, a data em que foi obtido e detalhes
da conversação ou discurso ouvido devem ser registra­
dos.
Desde que cerca de noventa por cento das palavras
ditas pelo pregador no sermão são constituídas de mate­
rial de apoio, os seus sermões podem perfeitamente
manter-se de pé ou cair de acordo com a sua capacidade
de achar e fazer uso desse material.
8 0 Fraseado
do Sermão

“Digo palavras de verdade e de bom senso” — Atos 26.25

INTRODUÇÃO
Certas pessoas “têm um jeito todo especial com as
palavras” . Alguns falam em sentenças curtas e claras;
outros em frases mais longas e complexas, salpicadas
com uma linguagem altamente descritiva e figurada. O
termo usado p ara descrever o uso das palavras caracte­
rístico ao orador, é estilo.
Toda pessoa tem o seu estilo — sua própria maneira
de usar as palavras, Shakespeare linha um estilo elegan­
te repleto de todo tipo de figura do linguagem. A maior
parte dos pregadores tom um estilo simples e direto.
Desde que as palavras escolhidas pela pessoa para
revestir os seus pensamentos desempenham uma parte
tão importante na comunicação de idéias da mente do
orador p ara a do ouvinte, o pregador não deve deixar o
seu estilo à mercê do acaso ou do hábito. Pelo contrário,
ele deve treinar a si mesmo para fazer uso das palavras
da maneira mais positiva possível.
Embora existam e devam oxistir grandes variações no
estilo dos diversos oradores, há certas qualidades de
estilo que todos devem buscar.
CLAREZA
A qualidade de estilo mais fundamental p ara o prega­
dor é a clareza; pois, acima de tudo o mais, a audiência
deve compreender a sua mensagem. Desde que as pala­
vras não passam de símbolos dos pensamentos a serem
transmitidos, a clareza do estilo significa na verdade
transparência, a fim de que os ouvintes possam ver o
significado através das palavras. Se o sentido for consi­
derado como um quadro ou imagem mental, as palavras
devem pintar o quadro com tal exatidão que a audiência
possa vê-lo em detalhe.
A fim de obter esta clareza, o pregador deve escolher
palavras que expressem o sentido exato. “Filipe correu”,
por exemplo, torna o quadro mais claro do que “Filipe
foi” . “Lançou” , “deixou c a ir”, ou “empilhou” é melhor
do que “colocou” , e “esmurrou” ou “golpeou” melhor do
que “bateu”. Os verbos que descrevem a ação ou o
movimento com precisão tornam o quadro mais claro.
Outro elemento da clareza é a concretização. En­
quanto os detalhes do “continuum concreto-abstrato”
devam ser deixados para os escritores de semântica, é
importante notar aqui que o “sintonizador fino” que
torna a imagem nítida é o uso de palavras concretas.
Todas as palavras, desde que não passam de símbolos,
omitem necessariam ente alguns detalhes. Isto é, nenhu­
ma palavra ou combinação de palavras pode dar todos os
detalhes do quadro, assim como artista algum consegue
incluir em sua paisagem cada um dos detalhes. Os
termos que melhor conseguem incluir todos os dados são
chamados concretos, enquanto as palavras que excluem
a maior parte deles são denominadas abstratas. Note,
por exemplo, como o quadro gradualmente se ilumina à
medida que esta seqüência de palavras se move do
abstrato para o concreto: algo — objeto — animal —
mamífero — canino — cão — collie — Lassie. Existem,
como é natural, usos p ara as palavras abstratas, mas na
maioria das vezes o termo concreto, específico, torna
muito mais nítida a imagem na mente do ouvinte.
Outro aspecto da clareza é o uso de detalhes específi­
cos. É no geral simples incluir detalhes específicos numa
descrição ou narrativa, aguçando assim a imagem men­
tal. Ao falar da competição entre Elias e os profetas de
Baal no Monte Carmelo, por exemplo, detalhes como a
altura do monte, sua proximidade do mar, e sua vegeta­
ção podem facilmente ajudar os ouvintes a desenharem o
seu quadro: “Entre toda a multidão que se encontrava no
alto do monte, somente Elias era um servo dedicado de
Deus; os profetas de Baal eram 450. Ele tinha subido
sozinho a ladeira coberta de árvores a fim de postar-se a
quase 300m acima do Mar M editerrâneo.” Adjetivos
como “rochoso” , “íngreme”, “claro” , “pálido”, “vento­
so”, “quieto” , “áspero” , “tempestuoso”, “fresco”, e
“colorido” podem ser empregados a fim de suprir muitos
detalhes necessários. A variação no uso destes termos é
essencial: “muito” , “grande”, “belo” e “maravilhoso”
são palavras no geral empregadas em excesso.
Um ingrediente final do estilo claro é a concisão. Os
pregadores com freqüência tomam o “caminho mais
longo” com uma barragem de palavras desnecessárias.
“Vemos agora que p ara a pessoa viver como o cris­
tão deve fazê-lo, é necessário que tenha fé.” Tudo
isto poderia ser dito em seis palavras: “Os cristãos,
então, devem ter fé” . A verbosidade obscurece a com­
preensão do ouvinte e no geral não passa de um subterfú­
gio p ara a falta de preparo do pregador. Um grande
número de pregadores tiraria sem dúvida proveito da
advertência feita ao fazendeiro cujo estábulo se encon­
trava tão cheio de feno que não havia espaço para
ordenhar as vacas: “Enfarde-o”.
A clareza de estilo pode ser então obtida empregando
palavras exatas, concroías, suprindo detalhes específi­
cos, e desenvolvendo a concisão. Assim sendo, os pensa­
mentos não serão aponas percebidos claramente, mas
aparecerão também revestidos do onorgia.

CORREÇÃO
A segunda qualidade do estilo quo devo receber a
atenção do pregador é a correção. Muitas portas se
fecharão p ara o ministro cuja gramática 6 embaraçosa
para a congregação. Os erros de concordância entre
sujeito e verbo ou o uso de adjetivos onde são exigidos
advérbios cham ará a atenção p ara as palavras em lugar
do significado, levantando assim barreiras p ara a com­
preensão, Uma audiência não pode senão perder o
respeito pelo homem que dedica sua vida à oratória sem
levar o assunto suficientemente a sério p ara aprender a
usar corretam ente sua língua nativa. Embora seja verda­
de que exista certa tolerância com relação ao discurso
oral, o que não acontece com o escrito, não há desculpa
para o pregador que usa “eu” em lugar do caso objetivo
ou que confunde “infligir” (aplicar) com “infringir”
(transgredir).
COLORIDO
Parte da fama de Van Gogh como pintor se deve às co­
res particularm ente brilhantes conseguidas por ele. Seus
quadros são memoráveis pòr serem vividos. Um estilo
colorido não só torna um ponto claro como interessante,
O pregador pode usar dois elementos especiais de estilo a
fim de tornar sua linguagem colorida e vivida: fantasia e
figuras.
Fantasia significa simplesmente fa z e r com que os
ouvintes usem a imaginação. O estímulo de cada um dos
cinco sentidos pode ser tanto imaginário como real, de
forma que a pessoa pode “v er” e “ouvir” uma batalha,
aspirar o incenso forte, sentir a dor causada por uma
coroa de espinhos, e provar vinagre sem na verdade
experimentar qualquer dessas coisas. A fa n ta sia é me­
lhor usada, naturalmente, quando recorda experiências
que fo rn ece ra m forte estímulo aos sentidos. As experiên­
cias desconhecidas devem ser associadas às conhecidas.
Phillips Brooks algumas vezes chegou quase a alcan­
çar o nível da poesia com sua viva imaginação:
Existe uma nova tranqüilidade que não é es­
tagnação, mas segurança, quando uma vida entra
assim em Cristo. É como a correnteza de um
milhão de riachos descendo a montanha, murmu­
rando e tagarelando enquanto se aproximam do
mar e se enchem com seus propósitos profundos.
É o firm ar das asas trêmulas de um pássaro
perdido quando avista finalmente o ninho e se
acalma com a certeza de alcançá-lo. Compara-se
a isso a serenidade da alma inquieta que desco-
bre a Cristo e descansa suas asas exaustas na
atmosfera da sua verdade, e assim permanece
nEle enquanto segue em sua direção.1
A segunda m aneira de adquirir um estilo vivido é
fazer uso de figuras de linguagem. Desde que algumas
listas de figuras ou tropos chegam até a 200 itens, é
impossível discutir aqui o assunto em detalhe; mas o
pregador deve, sem dúvida, tomar tempo para estudar
cuidadosamente este aspecto. A Bíblia está cheia de
imagens figuradas, e a não ser que ele se familiarize com
as mesmas, terá grande dificuldade em interpretar ade­
quadamente muitas passagens das Escrituras. Ao estu­
dá-las com o propósito de exegese, o ministro irá, ao
mesmo tempo, aprender a aplicá-las em sua própria
pregação.
Algumas das figuras de linguagem mais comuns in­
cluem:
Metáfora —uma comparação direta de coisas essen­
cialmente diferentes, uma comparação condensa­
da: “Eu sou a porta” , “Vós sois a luz do mundo”,
“Este é o meu sangue”, “Vocês são soldados de
Cristo” .
Símile — uma comparação de coisas essencialmente
diferentes, usando os sinais de uma comparação,
“equivalente” ou “como” : “A vida cristã é como
uma corrida” , “Vós sois como figueiras estéreis,
como poços sem água” , “Precisamos de Deus como
as ovelhas precisam de pastor, como os que estão
nas trevas precisam da luz”.
Hipérbole — é uma afirmação exagerada com o inten­
to de enfatizar e não de enganar: “ a tua descen­
dência será como as estrelas dos céus e como a
areia na praia do m ar”. “Toda Judéia foi ouvir
João.”
Metonímia — consiste em usar uma palavra por ou­
tra, tal como a parte polo todo, um autor pela sua
obra, um adjetivo pelo substantivo que ele modifica,
a causa pelo efeito, ou o continente pelo conteúdo:
1 Citado no livro de Marie Hochmuth e Norman W. Mattis, “Phillips
Brooks”, A History and Criticism of American Public Address (New York:
McGraw-Hill Book Company, Inc., 1943), I, 319.
“quantas vezes beberem esta taça”, “Eles têm
Moisés e os profetas”, “acima do luminoso azul”.
Personificação — fazer os seres inanimados ou irra­
cionais agirem e sentirem como pessoas humanas:
“as pedras clamam” , “os céus declaram a glória de
Deus”, “até mesmo as árvores pareciam sussurrar
que ele estava perdido” .
As imagens e figuras de linguagem dão cor e vida ao
estilo, mas não devem ser usadas com tanta freqüência
que os ouvintes comecem a brincar de “descubra a
figura” e se esqueçam de atentar no sermão. Em desa­
cordo com a opinião de alguns, as figuras de linguagem
não são artificiais; elas são naturais p ara a pessoa
envolvida em sentimentos fortes e excitação. O pregador
deve, portanto, fazer uso das imagens somente quando
tiver elevado o nível de excitação ao ponto delas parece­
rem naturais.
Uma palavra de precaução deve ser dita quanto ao
uso de chavões. Algumas figuras de linguagem e outras
frases se tornaram tão comuns que chegam a ser ofensi­
vas ao ouvinte atento. Quem não sente um certo desa­
grado ao ouvir frases como estas: “apanhado como um
rato numa rato eira”, “alegre como um passarinho”?
Força. O pregador deve também esforçar-se para
obter um estilo vigoroso, que impressione. Isto não quer
dizer, de forma alguma, que ele deva “im pressionar” a
audiência com a sua habilidade; mas, sim, que deve
procurar fazer uso de palavras que “penetrem”, ou
fiquem gravadas. Alguns oradores fizeram isto tão bem
que as frases por eles cunhadas passaram a fazer parte
da língua: “a cortina de ferro” (Churchill), “nada a
temer a não ser o medo em si” (Roosevelt), “do povo, pelo
povo e p ara o povo” (Lincoln), “nunca tantos deveram
tanto a tão poucos” (Churchill).
Uma técnica para desenvolver frases memoráveis é o
uso da frase equilibrada — uma declaração contendo
duas partes que se eqüivalem. “O evangelho é a pérola
de grande preço tornada possível pelo príncipe de gran­
de paz”, “Aborreça o que é mau, apegue-se ao que é
bom”, “O cristianismo exalta o indivíduo, o comunismo
exalta o estado” .
A repetição é outro método do estilo impressivo.
Churchill de novo é que fornece o exemplo mais conheci­
do: “Lutaremos com eles nas praias: lutaremos com eles
em terra; lutaremos com eles nas cidades”. Podemos
resumir um sermão expositivo extraído de Efésios, dizen­
do: “Andar de modo digno significa então andar em
amor, andar em paz, andar em boas obras, andar nos
passos de Jesus, e andar como filhos da luz” . A repetição
de uma palavra ou frase em cláusulas sucessivas faz com
que a idéia fique profundamente gravada.
A aliteração pode também tornar uma declaração
impressiva, mas é preciso cuidado p ara não abusar deste
método. Alguns pregadores começam cada título princi­
pal em todos os seus sermões com a mesma letra. Embora
isto seja eficaz quando aplicado cuidadosamente, o seu
efeito fica perdido pelo excesso de uso. É possível, por
exemplo, falar da igreja na profecia, na apresentação e
na perfeição, e dos pecados gêmeos da arrogância e da
avareza. Podemos também falar das “pobres perspecti­
vas de paz” e dos “desvios do diabo” .
ORIGINALIDADE
Embora o pregador deseje em certas ocasiões men­
cionar frases proveitosas pronunciadas por outros, ele
deve esforçar-se p ara desenvolver o seu próprio estilo.
Deve também evitar cuidadosamente os chavões comuns
entre pregadores e oradores: “o último mas não o
menor” , “e em conclusão gostaria de dizer”, “obrigado
pela sua bondosa atenção” , “disse tudo isso p ara dizer
isto”, “vemos que” , “vamos examinar João, capítulo
quatro e verso cinco” , “enquanto ficamos de pé e canta­
mos” .
O pregador irá aporfoiçoar melhor o seu próprio
estilo, compreendendo om primeiro lugar as várias quali­
dades e técnicas de estilo apresentadas aqui e elabora­
das em outro ponto. A soguir, elo deve ler e ouvir com
particular atenção tudo quo so roforo à escolha e combi­
nação de palavras. A escrita, com sua oportunidade
para refazer e melhorar, proporciona uma oportunidade
excelente de treinamento com vistas a um estilo bom e
original. A correção e a clareza devem vir em primeiro
lugar, seguidas do colorido e força. Depois de anos de
prática adquire-se originalidade.
0 Sermão
9 Poderoso

“Para que... eu seja ousado p ara falar, como me cumpre


fazê-lo” — Efésios6.2Q

INTRODUÇÃO
As opiniões divergem amplamente quanto ao pronun­
ciamento do sermão. Alguns diriam: “Desde que a pessoa
esteja de posse da verdade, não importa a maneira como
a transm ita.” Essas pessoas apontariam p ara 1 Coríntios
2.1 onde Paulo afirma: “não o fiz com ostentação de
linguagem” e p ara 2 Coríntios 11.6 onde alegou “embora
seja falto no falar” . Eles argumentariam que desde que
Paulo não precisou fazer uso de linguagem “floreada”,
também não precisamos disso hoje.
Outros argumentariam em resposta que Apoio é des­
crito favoravelmente como “homem eloqüente” (Atos
18.24) e que uma análise dos sermões de Paulo mostra
com clareza que ele foz uso tanto dos princípios retóricos
como psicológicos. Sua referência a uma falta de exce­
lência no falar, alegam eles, não tinha o propósito de
indicar que ele não dava importância ao estilo claro,
vigoroso e eficaz, mas que em contraste com os sofistas
gregos, comuns naquela época, ele não fez qualquer
tentativa no sentido de imitar a sua eloqüência floreada,
excessiva.
É naturalmente verdade que a aplicação sistemática
dos princípios de retórica à pregação cristã surgiu
centenas de anos antes da idade apostólica. Paulo torna
porém claro que ele está plenamente a favor de um estilo
que permite uma apresentação clara, facilmente capta­
da pelos ouvintes. Em 1 Coríntios 14, ele enfatiza a
importância de falar p ara que a audiência possa compre­
ender: “Assim vós, se, com a língua, não disserdes
palavra compreensível, como se entenderá o que dizeis”.
Em Efésios 6.20, Paulo escreve também que será “ousado
p ara falar, como me cumpre fazê-lo”.
O Novo Testamento, no mínimo, permite e até mesmo
encoraja que seja dada atenção ao estilo, não para que o
orador venha a ser elogiado ou para que a mensagem do
evangelho pareça estar alicerçada na sabedoria huma­
na, mas a fim de que a Palavra de Deus penetre
vigorosamente no coração dos homens.
A observação de pregadores e igrejas irá confirmar a
necessidade de pregadores que possam falar as verda­
des do evangelho com clareza e vigor. A pessoa que fala
mal não só mata o interesse, como também obscurece a
verdade. O pregador pode unir-se a Aristóteles ao consi­
derar a oratória como uma necessidade lamentável
[Retórica 3.1), ou concordar com Demóstenes que afir­
mou que a primeira, a segunda e a terceira leis da
oratória eficaz eram “falar”, falar, falar” . Mas em
ambos os casos, a comunicação bem feita deve ser
considerada como essencial para a excelência no púlpi­
to.
Embora o modo de falar deva ser naturalmente manti­
do em sua própria área, ele afeta o sucesso do trabalho
do pregador, e ministro algum pode ignorar a importân­
cia da “entrega” do sermão ou doixar de desenvolver a
sua habilidade na mesma, ü bom estilo pode tornar
passável o sermão medíocre e excelente o de superior
qualidade. Por outro lado, um estilo pobre torna até
mesmo a melhor mensagem fraca e ineficaz.
USO DA VOZ
Muitos dos aspectos do pleno uso da voz no pronun­
ciamento do sermão são quase óbvios demais p ara men­
cionar e certam ente não exigem elaboração. O pregador
deve falar suficientemente alto p ara ser ouvido “pelo
surdo no último banco” ; ele deve articular bem as
palavras para que as mesmas possam ser facilmente
compreeendidas; ele deve pronunciar suas palavras de
maneira aceitável. Existem porém muitas outras conside­
rações que às vezes são negligenciadas: adquirir varie­
dade vocal, utilizar a voz p ara obter ênfase e clímax, e
evitar um tom artificial de “pregação”.
1. ADQUIRIR VARIEDADE VOCAL. Um dos requisi­
tos mais essenciais para a pregação manter-se interes­
sante é a variedade da voz. O pregador que falar sempre
com a mesma velocidade e altura de voz durante todo o
sermão irá descobrir com freqüência que muitos dormi­
ram enquanto pregava. São apenas quatro os fatores que
podem variar na voz e pelas modificações destes surgem
todas a.s variações vocais: velocidade, volume, modula­
ção, qualidade.
A velocidade na voz se refere à velocidade com que as
palavras são ditas, sendo a mesma controlada pelo
tempo tomado para pronunciar cada palavra e pelo
espaço deixado entre elas. Isso indica que as sentenças a
serem enfatizadas devem levar mais tempo p ara serem
pronunciadas, enquanto outras frases ou sentenças
devem ser ditas com rapidez, evidenciando assim serem
incidentais ao núcleo da mensagem. A pausa entre as
palavras possui também grande importância. Uma pausa
é um período de silêncio planejado com um propósito
específico, enquanto uma hesitação é uma perda momen­
tânea de controle. A pausa pode ser usada para alcançar
vários objetivos: (1) antes de um termo importante, p ara
“gravá-lo” ou m ostrar o seu significado pouco usual;
(2) depois de uma palavra, p ara que a mesma “penetre”;
(3) depois de uma sentença ou clímax p ara permitir um
descanso antes de entrar na nova área de pensamento. A
pausa, então, realiza grande parte daquilo que o uso de
espaço, recuos e grifo representa na palavra impressa.
A velocidade é, talvez, o mais simples dos fatores
variáveis que podem ser controlados na voz, e os prega­
dores que percebem um problema na variação devem
fazer uma tentativa consciente de obter variedade pri­
meiramente no que se relaciona com a velocidade.
O volume deve também mudar durante o discurso,
pois se for mantido um nível constante de altura os
ouvintes se cansarão com facilidade. Desde que um
volume mais alto é no geral associado com a ênfase, uma
altura constante irá parecer aos ouvintes como uma
tentativa de d ar a tudo uma ênfase igual. Quando tudo é
enfatizado, evidentemente nada é enfatizado.
Os aumentos de volume são essenciais quando se
chega a um climax e o pregador deve usá-los para os
pontos de especial destaque. Desde que a ênfase é
produzida pela mudança e não só pela altura da voz, um
volume baixo pode ser com freqüência empregado eficaz­
mente p ara obtê-la. Assim sendo, se o pregador estiver
falando rapidam ente e em voz alta, a mudança súbita
para um tom mais vagaroso e uma sentença mais suave
será especialmente eficaz.
A modulação se refere aos altos e baixos na escala
musical. Quase ninguém fala na verdade em um só tom
de voz, de modo uniforme. Isso seria insuportável depois
de algum tempo. O erro mais comum na modulação é
repetir a mesma série de tons. Alguns pregadores come­
çam cada sentença do sermão no ponto médio de sua
tonalidade de voz e depois a levantam gradualmente; a
seguir, perto do final da frase ou sentença, a voz cai de
súbito. Isto pode ser visto no diagrama abaixo:

Quero deixar bem claro, que antes de nascer de novo

o indivíduo precisa nascer primeiro da água e do espírito.

Outros têm um padrão que desce continuamente:

Quero deixar bom claro, que antes de nascer de novo

-------N --------- X
o indivíduo precisa nascer primeiro da água e do espírito.

----------------------- \ ------------------------------\

A repetição do mesmo tom de voz desta maneira é


um dos problemas mais freqüentes na pregação, e todo
pregador deve fazer uma auto-análise e pedir a críticos
competentes que fiquem atentos a fim de evitar que isto
aconteça. Uma vez estabelecido o padrão é difícil aban­
doná-lo. O melhor método de aperfeiçoamento é o uso de
um gravador e prática regular com um observador
qualificado.
As variações na qualidade ou timbre vocal são tam­
bém possíveis, apesar de serem menos usadas de manei­
ra consciente do que outras variações. Isto pode ser
talvez melhor observado no emprego do sarcasmo, quan­
do se dá à voz o tom particular associado a esse
sentimento. As variações na qualidade geralmente sur­
gem com a mudança de velocidade, volume e modulação,
assim como com uma reação mental ao significado do que
está sendo dito. A sinceridade, o vigor e o entusiasmo na
voz estão também bastante ligados à qualidade e têm
importância fundamental na obtenção da resposta dese­
jada por parte dos ouvintes.
2. UTILIZAÇÃO DA VOZ PARA OBTER ÊNFASE E
CLÍMAX. Associados de perto com a variação na voz
estão a ênfase e o clímax. Ênfase é a colocação de uma
força especial numa palavra, frase ou sentença, a fim de
chamar atenção ou sublinhar o seu significado. Na
sentença “Deus é am or” por exemplo, a ênfase deve cair
sobre as palavras “Deus” e “ amor” , pois o copulativo
“é” não exige atenção especial. Na sentença “É aquele” ,
porém, a ênfase pode ser perfeitamente colocada na
palavra “é” a fim de indicar sem dúvida que “ele é
aqüele” . O termo particular enfatizado irá geralmente
afetar todo' o sentido da sentença. Na declaração sim­
ples, “Você vai à cidade” , se a ênfase for colocada no
“você” , a sentença então significa “Você (em oposição a
ele) vai à cidade?” Mas se a força estiver em “cidade” o
significado seria: “Você vai à cidade (em oposição a
campo)” . Esta ênfase, naturalmente, é aplicada na medi­
da em que velocidade, volume, modulação e qualidade
são modificados a fim de imprimir força a uma frase ou
palavra em especial.
O clímax não se refere à força sobre uma palavra
específica, mas ao curso da força. A medida que a
velocidade, o volume e a modulação são gradualmente
aumentados, a voz se move em direção a um clímax, e
uma série inteira de climaxes deve levar ao grande
momento do sermão, em outros termos, o auditório é
levado através de uma trilha entre montes e vales até que
chegue finalmente ao ponto mais alto da cordilheira. Este
clímax no pronunciamento do sermão deve, naturalm en­
te, corresponder ao clímax emocional e intelectual do
mesmo.
_ 3. COMO EVITAR O TOM ARTIFICIAL DE “PREGA-
ÇAO” (Santimônia] Muitos pregadores se habituam a
usar um tom de voz chamado às vezes de “tom de
pregador” ou “lamento santimonioso”. Embora alguns
jovens pregadores deliberadamente tentem adotar esse
estilo a fim de assemelhar-se ao seu “ídolo” , a prática em
questão deve ser evitada desde que distrai a atenção dos
ouvintes e impede que o orador faça uso da ênfase e do
clímax como devem ser usados. Embora seja fácil deter­
minar se o pregador tem ou não este problema, a causa e
a cura não são descobertas com tanta facilidade. No
geral existe um padrão repetido de inflexão, como mos­
trado acima, com uma velocidade constante. Algumas
vezes o pregador também se “utiliza” de uma qualidade
de voz apenas p ara pregar, e outros chegam a desenvol­
ver, em adição á sua voz natural, uma “voz” especial
para pregar e outra para orar. Não existe razão p ara o
pregador parecer diferente, tanto em relação a si mesmo
como a outros seres humanos, quando prega e o uso da
voz de maneira especial, artificial, somente prejudicará
em lugar de contribuir p ara o seu aperfeiçoamento.
Desde que o trabalho do pregador se concentra
grandemente no emprego da voz, ele deve diligenciar
para aprender a fazer bom uso dela. Além disso, ele deve
também protegê-la ao máximo: não deve falar quando
estiver com laringite ou com as cordas vocais fatigadas,
estando alerta em relação a qualquer problema vocal
crônico. Desde que a maioria dos problemas da voz surge
de infecções respiratórias ou qualquer condição alérgi­
ca, o pregador deve procurar conselho médico imedia­
tamente quando tais condições se fazem presentes. A voz
é um instrumento delicado e pode ser prejudicada per­
manentemente se não forem tomadas as precauções
necessárias.

O USO DO CORPO
A audiência não ouve apenas o pregador, mas tam­
bém o vê. Para alguns, isto é prejudicial; enquanto para
outros, dá oportunidade para que a apresentação se
torne mais positiva. O ponto principal a ser enfatizado é
que o corpo deve estar alerta e receptivo, da mesma
maneira que os ouvintes devem estar. O ouvinte pode
prestar uma atenção superficial sem qualquer reação, e
o orador também. O exemplo extremo é o do pregador
que lê um manuscrito de forma a indicar que não está na
verdade consciente daquilo que lê. Desde que o auditório
se inclinará a reagir àquilo que ouve da mesma maneira
que o orador o faz, este deve parecer alerta, ativo e cheio
de energia.
A linguagem do corpo do pregador deve acrescentar
algo à mensagem transm itida e não diminuir algo. Quan­
do estiver insistindo p ara que haja ação, ele deve movi­
mentar-se com entusiasmo; quando pedir orações, seu
corpo e sua voz devem sugerir suavidade. O seu rosto,
igualmente, deve refletir o tom emocional da mensagem;
alguns movimentos no púlpito proporcionam alívio; e
gestos podem ser utilizados com o fim de enfatizar e
esclarecer.
O pregador, outrossim, deve evitar que seus gestos,
movimentos ou expressões faciais provoquem distrações.
Andar de lá para cá, usar o mesmo gesto repetidamen­
te, criizar as mãos como se estivesse orando, bater no
púlpito — todas essas distrações e outras semelhantes
devem ser evitadas. O corpo, a voz, e as palavras devem
colaborar como um todo na comunicação das idéias e da
disposição.
Não é preciso dizer que o pregador tem como obrigi-
ção vestir-se com cuidado e de maneira conservadora.
Isto é importante, não necessariam ente pelo que pode
acrescentar, mas em vista da distração geralmente re ­
sultante do trajar-se com negligência ou com excessivo
apuro.

PRONUNCIAMENTO IMPROVISADO OU ESCRITO


Existem essencialmente dois únicos tipos de pronun­
ciamento do ponto de vista de quando o fraseado exato do
sermão é feito: antes do discurso e durante o mesmo.
Quando o fraseado exato, exceto por itens tais como
títulos principais e uma sentença de abertura e encerra­
mento, é deixado p ara o momento da entrega, esta é
chamada de improvisada ou extemporânea. Esta última
palavra significa “fora de tempo” ou “na hora”. Contrá-
riando a noção popular, um discurso extemporâneo não é
necessariamente pronunciado sem preparo anterior. Ele
pode ter sido cuidadosamente preparado com material
de apoio e um esboço completo. O discurso de improviso,
porém, não é escrito antecipadamente; antes, a escolha
exata das palavras é deixada p ara a hora da entrega. O
tempo gasto no preparo não é então uma qualidade
determinante no discurso extemporâneo. O que acontece
é que o fraseado exato é decidido quase inteiramente à
medida que o discurso é pronunciado, sem levar em
conta o tempo gasto na preparação antecipada.
O outro tipo é geralmente chamado de sermão escrito,
isto é, o fraseado ó escrito cintos do sermão ser pronun­
ciado. Em alguns o manuscrito 6 lido, enquanto em outros
as palavras são doe oradas.
Embora ambos os tipos tonham as suas vantagens e
desvantagens, o pregador irá obter quase sempre resul­
tados muito melhores do sormfto improvisado. Quando
ele esboça o seu sermão antecipadamente e escolhe as
palavras ao pronunciá-lo, tom possibilidade de olhar
p ara os ouvintes e estabelecer uma comunicação positiva
mediante o contato do olhar. Elo Irá também parecer
mais natural e terá aquele vigor espontâneo que a
audiência considera atraente.
O sermão manuscrito, por outro lado, tem a vantagem
de alcançar uma excelência suporior de estilo, pois as
palavras podem ser escolhidas e consideradas antes de
serem escritas em sua forma final. O uso de figuras de
linguagem e frases refinadas é também mais fácil neste
tipo de discurso. Uma outra vantagem, em algumas
ocasiões, é que o manuscrito fornece um registro exato
daquilo que foi dito, caso isto seja importante. O discurso
escrito, porém, está cheio de armadilhas. Existe um
preconceito natural com respeito a ouvir um discurso lido
e memorizar cada sermão seria algo inviável devido ao
tempo gasto para isso. O pronunciamento de um sermão
memorizado com toda certeza deixará muito a desejar em
termos de uma entrega natural, entusiástica. A adapta­
ção às circunstâncias imediatas é praticam ente impossí­
vel quando o discurso foi completamente preparado com
antecedência.
Em vista dessas considerações, a melhor prática para
o pregador é desenvolver a sua habilidade no discurso
improvisado. Ele desejará decidir sobre as declarações
exatas dos títulos principais, talvez a sentença de aber­
tu ra e encerramento, e algumas das figuras de linguagem
a serem utilizadas. Essas, assim como as citações e outro
material de apoio, serão entretecidos no discurso à me­
dida que for pronunciado. Queremos acrescentar que a
prática no pronunciamento de sermões, ajudará a esta­
belecer parte do fraseado e fará com que as palavras
surjam com mais facilidade — especialmente p ara o
pregador inexperiente. “Pregar p ara as cadeiras vazias”
é muito recomendado antes da entrega final do sermão.
Até mesmo alguns dos pregadores mais experimentados
podem ser ocasionalmente encontrados no púlpito, pre­
gando para os bancos vazios como um meio de preparar-
se para os serviços do domingo.
A boa entrega é essencial. A congregação quer
orgulhar-se da boa dicção do seu pregador e mais
prontamente se disporá a levar outras pessoas para a
igreja quando isso acontece. A mensagem fará “contato”
com o ouvinte quando a entrega reforça em lugar de
diminuir o impacto das palavras pronunciadas. A fim de
melhorar a sua ontrogo, o orador deve fazer uso de
recursos audio-visuais para auto-análise e pedir ocasio­
nalmente o auxílio de um pregador experimentado e em
quem confie, a fim de aconselhá-lo.
A Pregação
em Ocasiões
Especiais
Bibliografia

Existem três tipos de situação que necessitam espe­


cial consideração: sermões p ara casamentos, funerais e
despedidas no ato de formatura.

CASAMENTOS

O casamento é uma cerimônia e embora o clamor


contra os “enlaces pomposos” seja algumas vezes ouvi­
do, existe algo positivo a ser dito em relação a fazer do
casamento uma ocasião tão importante quanto possível.
Desde que o matrimônio como instituição parece estar
perdendo o seu valor na mente de muitos, é vital que
aqueles que acreditam que o mesmo deve ser permanen­
te façam dessa ocasião algo solene, belo e significativo.
Embora o ministro não deva ser o “encarregado” do
cerimonial — isto fica a cargo da noiva — ele precisa
conhecer bem a etiqueta ligada ao mesmo. Durante o
ensaio o ministro deve perm anecer como espectador,
embora sua presença seja certamente necessária para
prestar ajuda quando a ocasião exigir.
O sermão do casamento deve ser breve, simples,
impressivo, solene e de estilo algo elevado. Cabe ao
pregador salientar, tanto p ara os noivos como para os
ouvintes, o significado e o plano divino para o casamento;
essa não é porém ocasião p ara discutir detalhes contro­
versos. O ato deve ter como propósito m ostrar a dignida­
de e a satisfação envolvidas na formação de um novo lar
e deixar, portanto, um sentimento de otimismo e felicida­
de em todos os corações com respeito à ocasião. Qual­
quer aconselhamento específico sobre os problemas do
casal deve ser feito com bastante antecipação, pois uma
parte importante do cargo do ministro em relação a todo
enlace é o aconselhamento pré-nupcial.

MODELO DE CERIMÔNIA DE CASAMENTO


Nós nos reunimos hoje p ara assistir à união deste
casal. O casamento foi instituído por Deus, aprovado por
Cristo e regulamentado pelo Espírito Santo, tendo como
objetivo o bem da humanidade. Em vista das duas partes
terem descoberto uma na outra qualidades positivas, é
bom que ambas tenham desejado realizar esta união.
Quem dá esta mulher em casamento? (Pai: “Eu dou”
ou “A mãe dela e eu”).
O casamento é uma grande aventura, um período de
alegria e tristeza, vitória e derrota, esperança e deses­
pero. Mas através de tudo isso, vocês encontrarão força
e consolo um no outro. Se tiverem êxito nesta aventura,
vocês receberão os benefícios de uma vida útil e gloriosa
daqui por diante.
A Bíblia nos ensina como obter sucesso no casamento.
Ela recomenda que o amor seja o guia em sua jornada em
comum. Paulo escreveu aos Efésios: “Maridos, amai
vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a
si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Ele escreveu
também a Tito, dizendo que as jovens recém-casadas
devem ser ensinadas a am ar seus maridos (Tt 2.4). Este
amor não é simples “ atração rom ântica”, mas trata-se
de algo bem mais profundo. Paulo descreve o que o amor
significa p ara ele no capítulo 13 de 1 Coríntios: “O amor é
paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se
ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenien­
temente, não procura os seus interesses, não se exaspe­
ra, não se ressente do mal; tudo sofre, tudo crô, tudo
espera, tudo suporta” . O apóstolo diz então que os quo se
amam realm ente serão pacientes, bondosos, humildes,
corteses, generosos, e compreensivos em suas relações
mútuas, sabendo também perdoar um ao outro. Ou, de
outro modo, os que entram na relação do casamento com
esta espécie de amor estarão dispostos a fazer a sua
parte e mais ainda a fim de obter êxito em sua união.
A Bíblia também nos ensina que p ara termos sucesso
em qualquer empreendimento nesta vida precisamos
am ar a Deus.
Com este amor por Deus e um pelo outro como diretriz
constante, vocês estarão capacitados a atravessar as
correntezas desta existência e chegar um dia ao mar
sereno da eternidade.
O Espírito ensina, outrossim, que os laços matrimo­
niais devem ser tão permanentes quanto a vida dos dois
que passam a fazer parte dessa união; que os laços do
matrimônio são tão sagrados quanto aqueles que unem
Cristo à sua igreja; e que o elo entre marido e mulher
deve ser ainda mais íntimo do que o que existe entre pais
e filhos. Vocês devem então deixar pai e mãe e se unirem,
tornando-se uma só carne (Mt 19.5).
Repitam agora os votos em que prometem aceitar um
ao outro e viver de acordo com os ensinamentos de Deus
sobre o matrimônio. Esses votos não são apenas formais,
mas devem ser a expressão sincera de seus sentimentos
mútuos.
Você (homem) aceita esta (mulher) p ara ser sua
esposa: para amá-la, honrá-la e cuidar dela, na doença e
na saúde, na riqueza e na pobreza, vivendo com ela
segundo as leis divinas p ara o casamento até que a
morte os separe? (Sim.)
E você (mulher) aceita este (homem) p ara ser seu
marido; p ara amá-lo, honrá-lo, cuidar dele e obedecê-lo;
na doença e na saúde; na riqueza e na pobreza; vivendo
com ele segundo as leis divinas p ara o casamento até que
a morte os separe? (Sim.)
As alianças devem ser trocadas como símbolos dos
votos que acabaram de fazer, e que elas possam ser
sempre um sinal de sou amor um pelo outro e uma
lembrança desta ocasião.
— Com esta aliança eu me caso com você, e tanto os
meus bens terrenos como todo o afeto do meu coração lhe
pertencem. — Desde que fizeram esses votos, pela
autoridade de que estou investido como ministro do
evangelho, eu os pronuncio marido e mulher, e o que Deus
ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.6).
Oração.

FUNERAIS

O funeral é uma das situações mais difíceis no


trabalho do ministro. Desde que tanto ele como os
ouvintes estarão sob o impacto de uma grande emoção,
ele deve verificar especialmente se planejou e preparou-
se bem p a ra a ocasião.
Existem, naturalmente, muitos detalhes adequados às
circunstâncias, os quais o pregador deve conhecer e
satisfazer. No momento em que seja avisado de uma
morte entre pessoas suas conhecidas, ele deve visitar a
família e oferecer toda ajuda possível. Na maioria das
vezes a família estará de tal forma perturbada que não
pode pensar claramente, e ele terá de ajudá-la a organi­
zar as coisas. Ao prestar esse tipo de ajuda, ele deve
naturalm ente mostrar-se especialmente compreensivo e
evitar intromissão onde não seja necessário ou desejado.
O procedimento apropriado exige que o pregador siga
à frente do caixão sempre que ele for levado p ara dentro
do prédio, p ara fora do prédio, ou levado no carro
funerário p ara o túmulo. Ele também geralmente fica de
pé à cabeceira do caixão enquanto os presentes olham
o corpo, se isto fizer parte do serviço.
O serviço fúnebre é realizado principalmente p ara (1)
prestar respeito ao morto, (2) consolar os que ficam, e (3)
advertir os vivos; esses objetivos devem estar na mente
do pregador ao prep arar o seu discurso.
Ao prestar respeito ao morto, o pregador precisa
conhecer a condição espiritual do mesmo: criança que
ainda !não chegou à idade da razão, cristão fiel, cristão
desviado, não-cristão. A condição espiritual da pessoa
deve ter grande influência nas palavras do pregador no
funeral, pois ele não deve desmentir a sua pregação
regular com aquilo que diz num funeral. Fazer isso seria
hipocrisia.
No caso do bebê ou criança pequena, o pregador deve
estar capacitado a oferecer excelente consolo aos pais
mediante referências a passagens como Mateus 19.13,
14; Mateus 18.1-4; Lucas 18.15-17; e 2 Samuel 12.23.
Desde que o Novo Testamento indica em vários pontos
que a obediência responsável é exigida a fim de obter o
céu, somente os capazes de tal coisa terão de dar contas
de seu atos. Embora a morte de uma criança pequena
seja no geral um grande desapontamento e tristeza, o
consolo pode ser oferecido através de referências ao
destino eterno da mesma. Na verdade, se os pais esta-
vam buscando levar seus filhos p ara o céu, a morte de
uma criança é uma ocasião de certeza de cumprimento.
Quando o falecido era um cristão fiel, na medida em
que o pregador tem conhecimento disso, ele pode ser
razoavelmente otimista quanto ao futuro com o uso de
algumas destas escrituras: Salmos 1; 15; 23; 90.10;
116.15; Provérbios 31.10; João 11.25,26; 14.1-6; Romanos
8.26-39; 1 Coríntios 15.12-26; 50.58; 2 Coríntios 4.16-18;
5.1-8; 1 Tessalonicenses 4.13-18; 2 Timóteo 4.7,8; Apoca­
lipse 14.13; 21.1-7; 22.12-14. Ele certam ente deve falar
da esperança possuida pelos cristãos como um encora­
jamento aos que ficaram.
Quando o pregador é chamado p ara falar no funeral
de alguém sobre quem há dúvidas ou incerteza quanto à
sua condição espiritual ou cuja condição é evidentemente
sem esperança, ele deve resistir à pressão natural de
oferecer consolo além do que as Escrituras poderiam
autorizar. O meio mais seguro é falar sobre alguma
qualidade pessoal positiva possuída pela pessoa, decla­
ra r claramente que o que é dito no funeral não pode
acrescentar nem subtrair nada do juízo de Deus quanto à
pessoa, e sugerir que ela está nas mãos de um Deus justo
e misericordioso. Ele pode acrescentar ainda que se o
morto tivesse condições de transm itir alguma mensagem
para os sobreviventes, sem dúvida os aconselharia a
preparar-se para a horu em que cada um dos que ainda
estão vivos tiver de passar pelo rio da morte.
Mostrando o devido respeito pelo morto, o pregador
irá sem dúvida, como é natural, consolar de certa forma
os que ficaram, mas pode fazer ainda mais. Ele pode
dar uma esperança razoável com relação ao falecido, e
deve com toda certeza fazer isso. Consolo pode ser
também oferecido colocando a morte na perspectiva
cristã da vida e da eternidade. O contraste entre a
esperança cristã na ressurreição e o desespero da
religião pagã pode servir de consolo aos crentes. O
comportamento de outros que enfrentaram bem a hora
da morte é também valioso.
A advertência aos vivos constitui uma parte impor­
tante de todo serviço fúnebre. Embora feita com discri­
ção, toda pessoa presente deve ser alertada no sentido
de fazer um retrospecto de seu próprio preparo para tal
ocorrência. Apesar do serviço não ter como objetivo o
evangelismo ou o arrependimento, ele deve produzir tal
efeito.
Uma técnica útil p ara os sermões fúnebres é pensar
em passagens que a vida do falecido traga à mente ou
ilustre, e fazer dessas passagens o foco central da
mensagem. Um bom pai, por exemplo, pode lembrar
Efésios 6.4; uma boa mãe, Provérbios 31. Um homem de
negócios brilhante, Efésios 4.28 e um obreiro social, Atos
9.36-42. Um obreiro pessoal, Atos 8.4. Alguns minutos de
reflexão sem dúvida tra rão à memória várias passagens
apropriadas p ara qualquer pessoa, seja ela cristã ou
não, e estas podem tornar-se os títulos principais dos
comentários p ara o funeral. O primeiro dos exemplos
abaixo usa esta abordagem. Os exemplos também mos­
tram como tra ta r honestamente a situação, fazer refe­
rências respeitosas ao morto, e manter os comentários
concentrados nas Escrituras.
A MORTE DE UM SANTO
Propósito: Estimular os enlutados a se alegrarem e os
vivos a servirem.
Introdução:
A. A maioria dos funerais dá ocasião à tristeza,
mas não este. Como é natural, todos nós estamos
tristes porque não vamos ver mais ____________
por algum tempo, mas esta tristeza é superada pe­
la nossa alegria de que ela foi p ara casa descan­
sar de seu trabalho. A sua alma se tornou grande
demais p ara ser retida pelo seu frágil corpo, ten­
do sido libertada p ara unir-se ao Senhor, a quem
ela amou e serviu.
B. Foi justamente em relação a ocasiões como esta
que Paulo disse aos Tessalonicenses que não se
entristecessem como aqueles que não têm espe­
rança (1 Ts 4.13).
SS. Quando penso na morte dela hoje, três grandes
verdades me vêm à mente.
I. “Quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse
o que vos sirva” (Mateus 20.26).
A. ___________ serviu à comunidade.
B. Mas, mais importantes do que essas obras são os
muitos atos de serviço generoso por ela realiza­
dos.
C. A parte mais importante na sua vida útil, porém,
foi a sua contribuição p ara o reino de Deus, ao
qual muito amava, sem sombra de dúvida; se ela
pudesse indicar o que na sua vida parece ser
agora mais importante, seu trabalho p ara Deus
estaria em primeiro lugar.
II. “Preciosa é aos olhos do Senhor a morte dos seus
santos” (Salmo 116.15).
A. Não podemos, naturalmente, falar por Deus; e
nenhum de nós é juiz de seu próximo; mas para
os que tiveram uma vida cristã fiel, temos a se­
gurança de que a morte p ara eles não é um fim
trágico, mas sim o belo início da eternidade.
B. Do nosso lado, a morte parece uma porta escura
pela qual passamos p ara um lugar desconhecido
e misterioso, mas pelo vislumbre que Deus nos
deu daquilo que fica além, quando a morte é
olhada do outro lado, trata-se então da porta de
ouro que nos leva desta vida de tristeza, doença
e aflições, para uma vida de glória, beleza e des­
canso.
C. Quando Paulo chegou ao final de sua vida, ele
pôde dizer: 2 Timóteo 4.6-8.
D. Estou certo de que _________ pode dizer: “Es­
tou melhor agora” . E nos reunimos hoje não para
lam entar o seu falecimento, mas p ara honrar a
sua vida e nos dedicarmos de novo ao tipo de vi­
da que ela teve.
III. “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora”
(Mateus 25.13).
A. Quando penso na vida útil e na morte preciosa
de __ , não sou motivado a chorar por
ela, mas sim pelas minhas próprias fraquezas e
falhas.
B. É em ocasiões como esta que no geral podemos
ver a nossa vida inteira numa perspectiva mais
autêntica, mais real. Envolvidos nas atividades
diárias, podemos perder de vista o que é verda­
deiramente importante, assim como o marinhei­
ro ocupado de tal forma em manter a forna­
lha acesa p ara que o navio ande mais depressa,
se esquece de olhar a bússola que lhe diz pa­
ra onde está indo.
C. A vida e a morte dela devem mostrar-nos que a
parte mais importante desta existência é viver
para Deus. Em ocasiões como esta, tudo se des­
vanece exceto aquilo que é feito a serviço de
Deus.
D. Quero viver de maneira que quando eu estiver
deitado diante da assembléia e alguém estiver
onde me acho agora, ele possa dizer de mim,
como eu posso dizer dela, “ele viveu para Deus e
usou suas energias e seu talento p ara anunciar o
reino.
Conclusão:
A. Nessas qualidades cristãs tão boas, sejamos como
ela foi.
B. Oração.

VIDA, MORTE, JUIZO


Propósito: Estimular os enlutados a receberem consolo e
advertir a todos.
Introdução e Sentença-tema: Nos reunimos em honra
deste amigo querido que
partiu.
Corpo:
I. (Estamos tristes, mas não devemos sentir-nos sur­
presos.)
A. Estamos tristes hoje por causa do falecimento de
, porque a sua partida foi repenti­
na e inesperada, e porque nos parece que o na­
vio da vida afundou no meio da viagem.
B. Não devemos, porém, ficar surpreendidos ou
chocados com acontecimentos como esse. A Bí­
blia explica isso com estas palavras:
1. A vida é breve — Jó 14.2; Salmos 103.14-16;
Tiago 4.14.
2. Quer a viagem termine no meio do mar ou na
praia distante, mesmo assim a vida deve ter­
minar para todos nós (Hb 9.27).
3. Devemos também notar que esta morte assim
como todas as outras são devidas ao pecado
(Rm 5.12); e dessa forma devemos odiar o pe­
cado.
__ Nosso propósito aqui não é julgar onde esta
pessoa, ou qualquer outra irá passar a eternidade, pois
esse julgamento pertence a Deus, e o que dissermos e
fizermos nesta ocasião não pode acrescentar ou subtrair
nada à medida da sua vida.
II. Podemos porém permitir que este memorial seja o
seu último ato de serviço por nós, pois nesta hora
podemos permitir que sua vida nos faça lembrar:
A. Que a vida é breve.
B. Que devemos aplicar-nos ao máximo em nossa
vida, enquanto temos a oportunidade.
C. Que a morte é certa e virá um dia p ara todos nós.
— Fazendo com que nos lembremos dessas coisas, ele
estará nos ajudando a alcançar uma vida melhor.
Conclusão: Aos entes queridos que ficaram, filho, espo­
sa, pai, amigo, oferecemos nossa simpatia e
orações, p ara que possam continuar vivendo
da melhor maneira possível, como ele gosta­
ria que fizessem.
Oração.
O serviço fúnebre irá consistir geralmente de alguns
cânticos, uma oração, leitura de uma passagem e o
sermão. Em certas ocasiões os trabalhos são divididos
entre dois ministros, em cujo caso um deles lê a passa­
gem das Escrituras, e faz também uma breve oração. O
outro faz o sermão, sem alongar-se muito, e geralmente
termina com uma oração,
O serviço ao lado do túmulo, que se segue ao enterro,
deve ser muito rápido. O ministro lê uma passagem, tal
como Eclesiastes 12, João 5.25-29, ou 1 Tessalonicenses
4.13-18, e faz em seguida uma oração. Depois disto, ele
conversa rapidam ente com os parentes mais próximos e
possivelmente os acompanha até o carro, caso tenha
bastante amizade com a família.
Depois do enterro, ele deve retirar-se discretamente,
mas não irá considerar seus deveres como terminados
até que tenha visitado a família enlutada no dia seguinte.
DESPEDIDAS DE FORMATURA
Muitas escolas, até mesmo as escolas públicas, reali­
zam festividades especiais p ara os formandos, as quais
podem ter como foco pontos morais e espirituais. Embora
o pregador não deva aproveitar-se dessas oportunidades
p ara “cham ar atenção sobre a sua igreja”, cabe-lhe
porém enfatizar com firmeza as necessidades e desafios
espirituais, procurando transm itir também inspiração. O
seguinte exemplo mostra como isto pode ser feito.
TRÊS JOVENS IMPORTANTES
Propósito: Estimular os formandos a se interessarem
mais pelas coisas espirituais.
Introdução:
A. É uma honra p ara mim ter sido incluído em seus
planos numa ocasião tão importante como esta, e
acho excelente viver num país que inclui costumei-
ramente uma ocasião especial om que é dada-
atenção aos assuntos espirituais juntamente com
as festividades do formatura.
B. Quando vocês deixam o colegial, alguns vão para
a faculdado, outros começam a trabalhar, outros
ainda so casam, mas os princípios que desejo men­
cionar hojo irão enquadrar-se em qualquer situa­
ção.
Sentença-toma: Quero falar-lhes sobre três personagens
bíblicos importantes que quando jovens
mostraram possuir as qualidades que
espero que vocês façam o possível para
obter.
Corpo:
I. Davi, quando ainda bem jovem, derrotou Golias.
A. Davi derrota Golias.
B. Quando tinha aproximadamente a idade de vo­
cês, Davi possuia uma fé suficientemente forte
p ara fazê-lo arriscar a vida pelo seu povo.
C. O jovem de hoje precisa de fé, pois vivemos em
tempos difíceis com perigos em toda parte; mas
não permitam que nada abale a sua fé em Deus e
no triunfo da justiça (1 Jo 5.4). A mesma fé é ne­
cessária seja na sala de aula, nos negócios, nos
campos esportivos, ou no campo de batalha.
II. José, quando jovem, resistiu à tentação.
A. José é vendido como escravo, mas permanece fiel.
B. Ele saiu de casa nas circunstâncias mais adver­
sas; e, se alguém tinha desculpa p ara esquecer-
se do Deus de seus pais, esse alguém era José.
C. Todavia, quando tentado, ele não cedeu e fugiu.
D. Se você quiser tornar-se aquilo que espera vir a
ser, é preciso que saiba resistir à tentação — de­
sonestidade, álcool, imoralidade — não pense que
essas coisas possam vir a ser um atalho para al­
cançar o seu objetivo; pelo contrário, trata-se de
um beco sem saída que não o levará a lugar
algum.
III. Ester, quando jovem, aproveitou-se da oportunidade
p ara servir, e agiu.
A. Ester arriscou sua vida p ara servir a seu povo.
B. Poucos de nós terão oportunidade de salvar o
país inteiro num momento grandioso, mas temos
sempre ocasiões diárias para fazer o bem e ser­
vir.
C. Qualquer seja a sua posição, faça dela um meio
de prestar serviço.
Conclusão:
A. Você estabeleceu seus alvos: espero que possa alcan­
çá-los.
B. Se alcançar esses alvos, porém, terá de ter fé, resistir
à tentação, e aproveitar-se das oportunidades.
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Hon lem &Método


Se o rnêdico, cujo bisturi remove com delicadeza uma
parte do cérebro, deve abordar seu trabaJho com profundo
conhecimento, t eino intensivo e extrema seriedade, qual
deve ser então a abordagem do pregador que opera a alma,
e cujos resultac os serão pesados numa balajiçp de valores
eternos? Se voc %é pregador ou deseja pregar, escolheu um
trabalho tão importante que ser humano algum tem capaci­
dade para calcular o seu vasto significado. Tiago expressou
isto perfeitar 3iite quando disse; ‘ Meus irmãos, não vos
tomeis mui os de vos, mestres, sabendo que havemos de
receber iraior juízo” (Tg 3.1). Que ninguém se dedique a
uma vidt. de pregação sem antes refletir e orar, mas uma
vez tomada a Iscisão de pregar ou aceito o “chamado”, que
esforço nenhum saja então poupado em preparar-se.
Deus não faiou muito e.. ua Palavra sobre a maneira de
pregar; iss: rica em grande parte a nosso critério, desde
que falemos “a verdade em amor” (Ef 4.15). Desde os
primeiros tempos, porém, sabe-se que alguns oradores são
mais eficientes do que outros e, a partir da antigüidade
foram desenvolvidos certos princípios que podem ajudar
todo orador público a tornar-se mais eficaz.
Este livro foi escrito como um guia de estudo do trabalho
do pregador no púlpito. Seu propósito é ajudar os pregado­
res a servirem melhor no reino de Deus. Que o Senhor o.,
auxilie a alcançar essa finalidade.
/

EDITORA VIDAlAiCRISTA

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