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HERMENÊUTICA

Bíblica
“A hermenêutica é tanto ciência como arte. Na qualidade de ciência,
enuncia princípios, investiga as leis do pensamento e da linguagem e
classifica seus fatos e resultados. Como arte, ensina como esses
princípios devem ser aplicados e comprova a validade deles’’

Milton S. Terry

E ele me ensinava e me dizia: Retenha o teu coração as


minhas palavras; guarda os meus mandamentos, e vive.
Adquire sabedoria, adquire inteligência, e não te esqueças
nem te apartes das palavras da minha boca.

Provérbios 4:4,5

ETEBES
CENTRO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BATISTA DO ES
Enilton de Souza Araújo
Bacharel em Teologia - Seminário
Teológico Batista do Sul

Pastor há 37 anos da PIB em


Linhares/ES, sendo o primeiro e único
ministério pastoral

Foi presidente da CBEES no biênio 1999-


2001

Foi professor no SETEBES (Seminário


Teológico Batista do ES), das disciplinas
de Introdução Bíblica, Homilética 1, 2 e
3, Hermenêutica, Novo Testamento 1 e 2,
Teologia Bíblica do Novo Testamento,
Teologia Sistemática, Grego 1 e 2,
Exegese do Novo Testamento

ETEBES
CENTRO DE EDUCAÇÃO TEOLÓGICA BATISTA DO ES

Wolmar Craus
Coordenador Geral

Diego Juliano Bravim


Diretor
SUMÁRIO
Hermenêutica Bíblica: Introdução...............................................................................04
1 Conceituação............................................................................................................04
1.1 Hermenêutica e Exegese....................................................................................04
2 A tríplice tarefa do interprete....................................................................................06
3 Hermenêutica Tradicional & Hermenêutica Contemporânea..................................06
3.1 Hermenêutica Tradicional...................................................................................06
3.1.1 Modelo Intuitivo............................................................................................06
3.1.2 Abordagem Ciêntífica..................................................................................07
3.2 Hermenêutica Contemporânea..........................................................................07
3.2.1 Abordagem Contextual e o Círculo Hermenêutico....................................07
3.2.2 O problema em uma fórmula.......................................................................07
4 Princípios gerais de interpretação............................................................................08
4.1 Entre os Judeus Palestinos..................................................................................08
4.2 Entre os Judeus Alexandrinos.............................................................................08
4.3 Entre os Caraítas.................................................................................................09
4.4 Entre os Cabalistas..............................................................................................09
4.5 A interpretação no Período Patrístico................................................................09
4.6 A interpretação da Idade Média........................................................................11
4.7 A interpretação no Período da Reforma............................................................11
4.8 A interpretação pelos Católicos Romanos........................................................12
4.9 A interpretação no período do Confessionalismo.............................................12
4.10 A interpretação no período Histórico-Crítico...................................................13
4.11 Tendências Resultantes do período Histórico-Crítico......................................14
4.12 Tentativas de ir além do sentido histórico-gramatical.....................................14
5 Qual direção seguir?.................................................................................................15
5.1 A Bíblia é um livro humano.................................................................................15
5.2 A Bíblia é um livro divino....................................................................................16
6 A interpretação gramatical.......................................................................................17
Figura de linguagem.................................................................................................17
Figuras de linguagem que expressam comparações.........................................20
Figuras de linguagem que expressam substituição............................................20
Figuras de linguagem que trabalham com omissão ou supressão....................21
Figuras de linguagem que trabalham exageros ou atenuações........................21
Figuras de linguagem que trabalham com incoerências....................................21
Figuras de linguagem que trabalham com sonoridade......................................21
Identificando um sentido figurado nas Escrituras....................................................22
Recordando............................................................................................................... 22
7 A interpretação histórica...........................................................................................23
7.1 Afirmações da interpretação Histórica..............................................................23
8 A interpretação Teológica.........................................................................................25
9 Síntese dos passos Hermenêuticos...........................................................................26
Tradução literal.........................................................................................................26
Avaliação de Versões................................................................................................27
Análise de conteúdo.................................................................................................28
Análise gramatical................................................................................................28
Análise Histórica....................................................................................................28

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SUMÁRIO
Análise Teológica..................................................................................................29
Apreciação de textos paralelos.......................................................................29
Breve avaliação teológica................................................................................29
Nova tradução..........................................................................................................27
10 Seguindo os passos Hermenêuticos........................................................................31
10.1 Exercício: Texto Original de Romanos 12.1,2...................................................31
10.2 Tradução literal de Romanos 12.1,2.................................................................31
10.3 O Texto da Versão: A Bíblia de Jerusalém (Edições Paulinas)........................31
10.4 Avaliação da tradução da Bíblia de Jerusalém..............................................31
10.5 Análise de conteúdo.........................................................................................32
10.5.1 Análise gramatical de Romanos 12.1,2.....................................................32
10.5.2 Análise Histórica.........................................................................................36
10.5.3 Análise Teológicas......................................................................................40
10.5.4 Nova Tradução de Romanos 12.1,2...........................................................43
Referências Bibliográficas............................................................................................45

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Fonte: Pixabay - A Book

HERMENÊUTICA BÍBLICA
INTRODUÇÃO

Quem se envolve com a Bíblia com o propósito de extrair a preciosidade da Palavra de Deus,
enfrenta, inicialmente, dois desafios:

1 Como entender o significado de textos registrados há mais de dois milênios, num contexto
histórico e geográfico tão diferente do nosso? Este é o primeiro grande desafio.

2 O segundo tem a ver em como lidar com a natureza da fonte: ela não se contenta em informar
sobre o passado, mas quer provocar nos leitores de hoje uma resposta comprometida, engajada e
obediente. Considerando as mudanças que o mundo tem experimentado, o que significa isso no
concreto?

Não se pode responder ao segundo desafio sem que antes se tenha percorrido o primeiro. Para uma
pregação contextualizada, o intérprete precisa descobrir e avaliar o impacto do texto em seu ambiente
original.

1 CONCEITUAÇÃO
1.1 – HERMENÊUTICA E EXEGESE
HERMENÊUTICA - A palavra hermenêutica origina-se do
verbo grego hermeneuein, cujo significado é similar ao da
palavra exegese, ou seja “expressar” , “explicar” ,
“interpretar” e “traduzir’’. Hermenêutica significa, pois,
interpretação.

Contudo, deve-se salientar uma diferenciação: a


hermenêutica bíblica designa mais particularmente os
princípios que regem a interpretação dos textos; a
exegese descreve mais especificamente as etapas ou os
passos que cabe dar em sua interpretação.

Milton S. Terry em Biblical hermeneutics, 2 ed.1882 p.20


diz: “a hermenêutica é tanto ciência como arte. Na qualidade
de ciência, enuncia princípios, investiga as leis do
pensamento e da linguagem e classifica seus fatos e
resultados.

Como arte, ensina como esses princípios devem ser


Fonte: Pixabay - Students
aplicados e comprova a validade deles, mostrando o valor

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prático que têm na elucidação dos textos bíblicos mais difíceis. Portanto, a arte da hermenêutica
desenvolve e constitui um método exegético válido.”

EXEGESE - O termo deriva-se da palavra ἐξήγησις


(exegesis) que deriva do verbo (exegeomai) a preposição ex
(ek) significa: de dentro para fora de algo ou de algum lugar =
extrair. O termo (hegueomai) = conduzir; guiar). O verbo
hegueomai então, tem o sentido de tornar conhecido,
revelar, ex-ternar, ex-teriorizar, ex-por.

“Como um mergulhador traz um coral à superfície do mar


ou como se tira um objeto de um cofre, assim o exegeta traz
do texto original sua significação”. (CROATTO, J. Severino.
Hermenêutica bíblica: para uma teoria da leitura como
produção de significado. São Paulo: Paulinas; Porto Alegre:
Sinodal; 1986, p.59.).

Exegese, portanto, é a denominação que se confere à


interpretação das Sagradas Escrituras. É uma prática da
hermenêutica, em que o interprete procura extrair do texto o
seu real significado, o pensamento do autor;

Ao contrário da exegese, um outro termo bem parecido é


Fonte: Pixabay - Scuba Diver
eisegese (eisegese – ideias para dentro do texto), em que o
interprete procura injetar no texto o seu pensamento, alguma coisa que não está ali.

Na exegese é necessário empregar a filologia, ou crítica textual, porque para


compreender o texto, é necessário conhecer as línguas originais, contexto histórico, os
costumes, e a cultura da época em que o texto foi escrito. Somente através da exegese, é que
serão evitados erros como anacronismos, falsas interpretações e principalmente heresias,
que podem influenciar no destino eterno do homem.

PARA FIXAR!

Exegese – Extrai do texto o seu sentido dentro de seus contextos histórico e literário (o que
o texto quer dizer?) sem atribuir-lhe outro sentido. Como disse João Calvino: “...é permitido
que o autor diga o que ele realmente disse,(exegese) em vez de lhe impor o que acha que ele
devia dizer (eisegese)”.

Hermenêutica – Consiste nos princípios pelos quais se verifica o sentido do texto bíblico
dando-lhe a real interpretação.

Homilética – Transmissão do significado do texto e de sua aplicabilidade ao ouvinte


moderno sob forma de pregação.

Pedagogia - Transmissão do significado e aplicação do texto bíblico sob forma de ensino.

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05
2 A TRÍPLICE TAREFA DO INTERPRETE
Muitos são os motivos que desestimulam muitas pessoas a
ler e refletir sobre a Palavra de Deus. Dentre tantos, são
destacados os seguintes:

A A Bíblia foi escrita em uma época muito distante da nossa


,em um estágio de civilização diferente do atual

B A cultura da maioria dos textos bíblicos não corresponde à


nossa cultura ocidental, e, sim , à cultura própria do Oriente. Por
Fonte: Pixabay - Woman Gad
isso temos dificuldades em entender uma série de costumes,
valores, modos de pensar e agir encontrados na Bíblia.

C A distância que nos separa do período bíblico é também responsável pelo nosso parcial
desconhecimento de uma série de grupos (fariseus, saduceus, zelotas, samaritanos, etc.) e instituições
(templo, sinagogas, casa, família, sinédrio, festas, etc.) da época bíblica. O mesmo vale em relação às
situações e instituições sociais, políticas e econômicas existentes no passado.

A hermenêutica, diante desses vários motivos, precisa ajudar a compreender os textos bíblicos,
levando em conta a distância do tempo, espaço e diferenças culturais. Então, ela precisa cumprir três
tarefas:

1 Aclarar as situações descritas nos textos, ou seja, descobrir o passado bíblico de tal forma que o
que foi narrado nos textos se torne transparente e compreensível para nós que vivemos em outra época
e em circunstâncias e cultura diferentes.

2 Permitir que possa ser ouvida a intenção que o texto teve em sua origem.

3 Verificar em que sentido opções éticas e doutrinais podem ser respaldadas ou devem ser revistas
e relativizadas.

HERMENÊUTICA TRADICIONAL & HERMENÊUTICA


3 CONTEMPORÂNEA
3.1 – HERMENÊUTICA TRADICIONAL
3.1.1 Modelo Intuitivo

CONTEXTO ORIGINAL
MENSAGEM
BÍBLICA
MENSAGEM BÍBLICA HOJE
ORIGINAL

Ponto Forte – Qualquer pessoa pode interpretar a Bíblia nesse método.

Ponto Fraco – Liberdade do intérprete – Isto gera descontrole da interpretação Bíblica.

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3.1.2 Abordagem Científica

CONTEXTO ORIGINAL
MENSAGEM
BÍBLICA
MENSAGEM BÍBLICA
HOJE
ORIGINAL

Contexto Original – Tira do texto tudo o que for possível, analisando o contexto (acontecimentos e
pronunciamentos) procurando perceber o sentido na época.

Procura ver a história do texto.

3.2 – HERMENÊUTICA CONTEMPORÂNEA


3.2.1 Abordagem Contextual e O Círculo Hermenêutico

CONTEXTO ORIGINAL CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

MENSAGEM BÍBLICA MENSAGEM BÍBLICA


ORIGINAL HOJE

Elementos do Círculo - Hoje

1 A situação histórica do intérprete

2 A cosmo visão do intérprete; do escritor e do receptor

3 A escritura (tudo o que ela implica)

4 A teologia

Ao analisarmos as escrituras é necessário analisar-se o contexto mediato e imediato do


texto, por exemplo: 1. O versículo; 2. Como ele está no texto; 3. Como o texto está no livro; 4.
Como o livro está na Bíblia.

A Bíblia nos transporta para o seu mundo, e nós a interpretamos adaptando-a para o nosso
tempo.

3.2.2 O Problema em uma fórmula

MENSAGEM BÍBLICA NOSSA MENSAGEM

MUNDO BÍBLICO NOSSO MUNDO

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07
4 PRINCÍPIOS GERAIS DE INTERPRETAÇÃO
4.1 – ENTRE OS JUDEUS PALESTINIANOS
Tinham profundo respeito à Bíblia como infalível Palavra
de Deus.

Consideravam sagradas até mesmo as letras, e seus


copistas tinham hábito de conta-las, a fim de evitar que alguma
se perdesse na transcrição. Ao mesmo tempo, tinham a Lei em
mais alta estima do que os profetas e escritos sagrados. Daí
ser a interpretação da Lei o seu grande objetivo.

Faziam clara distinção entre o mero sentido literal da Bíblia


(tecnicamente chamado peschat) e sua exposição exegética
(midrash). A motivação dominante do midrash era investigar e
elucidar, por todos os meios exegéticos viáveis, as possíveis
aplicações e significações escondidas (veladas) da Escritura”
(Osterley e Box, The Religion And Worship of the Synagogue,
p.75).

Hillel foi um dos maiores intérpretes entre os judeus.


Formulou sete regras, pelas quais, ensinou que a tradição oral
Fonte: https://ensaiosenotas.com/2016/11/02/as-sete-regras-de-interpretacao-de-hillel/
devia ser deduzida da Lei Escrita. São elas:

A O principal e o secundário E Inferência do geral para o especial

B “Equivalência” F Analogia de outro texto

C Dedução do especial para o geral G Inferência do contexto

D Inferência de vários textos

4.2 – ENTRE OS JUDEUS ALEXANDRINOS


Sua interpretação era mais ou menos determinada pela
filosofia de Alexandria.

Adotavam o princípio fundamental de Platão de que


ninguém deve acreditar em algo que seja indigno de Deus.
Quando encontravam alguma coisa no A.T. que não concordava
com sua filosofia e que ofendia a sua lógica, recorriam às
interpretações alegóricas.

Filo foi o grande mestre deste método de interpretação.


Ele não rejeitou totalmente o sentido literal da Escritura, mas o
considerava uma concessão à nossa fraqueza. Para ele, a letra
era apenas um símbolo de coisas muito mais profundas. A
significação oculta da Escritura era o que havia de maior
importância.

Filo diz “negativamente” que o sentido literal deve ser


excluído quando o que afirma é indigno de Deus, quando
envolve contradição, quando a própria Escritura alegoriza.
“Positivamente”, o texto deve ser alegorizado quando as Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%ADlon_de_Alexandria
expressões são ambíguas, quando existem palavras supérfluas,

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quando há repetição de fatos já conhecidos, quando a expressão é variada, quando há o emprego de
sinônimos, quando é possível um jogo de palavras em qualquer das suas modalidades, quando as
palavras admitem uma ligeira alteração, quando a expressão é rara, quando existe algo de anormal
quanto ao número e ao tempo gramatical (Farrar, Historia da Interpretação, p.22).

4.3 – ENTRE OS CARAÍTAS


Esta seita foi fundada por Anan ben David, cerca de 800
A.D. Podem ser considerados como descendentes espirituais
dos sadusceus. Representam um protesto contra o rabinismo
parcialmente influenciado pelo maometanismo.

A designação da palavra “Karaítes” é Beni Mikra –


“Filhos da Leitura”. Eram assim chamados porque seu
princípio fundamental era considerar a Escritura como única
autoridade em matéria de fé. Isso significava uma espécie de
desprezo à tradição oral e à interpretação rabínica e por outro
um novo e cuidadoso estudo do texto da Escritura. A fim de
combate-los os rabinos iniciaram um estudo semelhante, e o
resultado deste conflito literário foi o texto massorético.

Sua hermenêutica, como um todo, era muito mais correta


Fonte: https://www.sjimondenhollander.com/qaraites.html
do que a dos judeus palestinianos e alexandrinos.

4.4 – ENTRE OS CABALISTAS


Movimento do século XII. Representa uma redução
absurda do método de interpretação empregado pelos judeus da
Palestina, se bem que empregasse também o método alegórico
dos judeus alexandrinos.

Admitiam que todo o Massorah, mesmo os versos, as


palavras, letras, vogais e acentos foram entregues a Moisés no
Monte Sinai; e que “o número de letras, cada letra de per si, a
transposição e a substituição tinham poder especial e
sobrenatural”.

Em sua tentativa de desvendar os mistérios divinos,


lançaram mão dos seguintes métodos:

1 Gematria, de acordo com o qual podiam substituir certa


palavra bíblica por outra que tivesse o mesmo valor numérico;

2 Notarikon, que consistia em formar palavras pela


combinação de letras iniciais e finais, ou por considerar cada
Fonte: https://educalingo.com/pt/dic-fr/massorah
letra de uma palavra a letra inicial de outras, palavras;

3 Temoorah, que indicava o método pelo qual se conseguia nova significação das palavras por
meio do intercâmbio de letras.

4.5 – A INTERPRETAÇÃO NO PERÍODO PATRÍSTICO


No período patrístico, o desenvolvimento dos princípios hermenêuticos se prende a três diferentes
centros da vida da Igreja.

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09
1 A Escola Alexandrina – No começo do terceiro século
A.D. a interpretação bíblica foi influenciada especialmente pela
escola catequética de Alexandria. Ali a religião judaica e a
filosofia grega se encontraram e mutuamente se influenciaram.

Os principais representantes dessa escola foram


Clemente de Alexandria e seu discípulo, Orígenes.

Clemente de Alexandria foi o primeiro a aplicar o método


alegórico na interpretação do A.T. Propôs o princípio de que toda
a Escritura devia ser entendida alegoricamente. Na sua
opinião, o sentido literal da Escritura poderia fornecer apenas
um tipo de fé elementar, enquanto que o sentido alegórico
conduziria ao verdadeiro conhecimento.

Orígenes, foi além, tanto em saber como em influência.


Seu principal trabalho consiste no criticismo textual que realizou.
Orígenes considerava a Bíblia como meio de salvação do
homem. Ele aceitou que a Bíblia tem uma tríplice significação: a
literal, a moral e a alegórica. Em sua prática exegética, ele
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Clemente_de_Alexandria
quase menosprezou o sentido literal da Escritura.

2 A Escola de Antioquia – A escola de Antioquia, foi,


provavelmente, fundada no fim do terceiro século, tendo Diodoro
como primeiro presbítero de Antioquia. Seus dois discípulos –
Teodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo vão se destacar: Em
Teodoro como um exegeta – considerou a Bíblia como a infalível
palavra de Deus. Possuía uma exegese intelectual e dogmática;
João Crisóstomo (boca de ouro), assim chamado por causa do
esplendor de sua eloqüência. Eles avançaram no sentido de
uma exegese verdadeiramente científica, reconhecendo como o
fizeram, a necessidade de determinar o sentido original da
Bíblia.

No trabalho de exegese, Teodoro superou Crisóstomo. Ao


invés do método alegórico, ele defendeu a interpretação
histórico-gramatical, o que o colocou muito além do seu
tempo.

3 O tipo ocidental de exegese – Apareceu no Ocidente um


tipo intermediário de exegese. Acolheu alguns elementos da
escola alegórica de Alexandria, mas também reconheceu os
princípios da escola Síria. Acrescentou um outro elemento até Fonte: JOÃO CRISÓSTOMO (BOCA DE OURO)

então desconsiderado, a saber, a autoridade da tradição e da Igreja na


interpretação da Bíblia. Atribuiu valor normativo ao ensino da Igreja no
campo da hermenêutica. Esse tipo de hermenêutica foi representado por
Hilário e Ambrósio, mas, de modo especial, por Jerônimo e Agostinho.

A fama de Jerônimo se baseia mais na tradução da Vulgata do que na


sua interpretação da Bíblia. Era conhecedor tanto do hebraico como do
grego.

Agostinho difere de Jerônimo no fato de o seu conhecimento das


línguas originais ser muito deficiente. Fundamentalmente, não foi um
Fonte: Agostinho exegeta. Ele foi grande na sistematização das verdades bíblicas. Deu
ênfase à necessidade de se considerar o sentido literal, e de se basear nele

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o alegórico; mas, ao mesmo tempo, usou muito livremente a interpretação alegórica. Adotou um
quádruplo sentido na Escritura: histórico, etiológico (que investiga a causa e a origem de algo),
analógico e alegórico. Foi especialmente neste sentido que ele influenciou a interpretação da Idade
Média.

4.6 – A INTERPRETAÇÃO NA IDADE MÉDIA


Durante a Idade Média, muitos, mesmo dos clérigos (Sacerdotes, arcebispos, padres, párocos,
vigários) , viviam em profunda ignorância da Bíblia. E o que dela conheciam era somente da Vulgata e
através dos escritos dos Pais da Igreja.

A Bíblia era considerada um livro cheio de mistérios, e que só podia ser entendido misticamente.
Neste período o quádruplo sentido da Escritura (literal, etiológico, analógico e alegórico) era geralmente
aceito e tornou-se princípio estabelecido que a interpretação da Bíblia “tinha de adaptar-se à tradição
e à doutrina da Igreja”. Hugo de São Vitor chegou a dizer: “Aprende primeiro o que deves crer e
então vai à Bíblia para encontrar a confirmação”.

Nenhum novo princípio hermenêutico surgiu nesse tempo, e a exegese estava de mãos e pés
amarrados pela tradição e pela autoridade da Igreja.

4.7 – A INTERPRETAÇÃO NO PERÍODO DA REFORMA


A renascença foi de grande importância para o desenvolvimento de sadios princípios
hermenêuticos. A renascença chamou a atenção para a necessidade de se recorrer ao original.

Reuchlin e Erasmo – chamados os dois olhos da Europa – por sua vez, mostraram aos
intérpretes da Bíblia que tinham o dever de estuda-la nas línguas originais.

Reuchilin e Erasmo facilitaram grandemente o estudo da bíblia: O primeiro publicou uma


gramática e um dicionário da língua hebraica; o último, a primeira edição crítica do Novo Testamento
Grego. O Quádruplo sentido foi gradualmente abandonado e se estabeleceu o princípio de que a Bíblia
tem apenas um sentido.

Os reformadores acreditavam que a Bíblia era a inspirada Palavra de Deus. Contra a infalibilidade
da igreja eles colocaram a infalibilidade da Palavra. Sua posição se afirma em que não é a Igreja que
determina o que as Escrituras ensinam, mas as Escrituras que determinam o que a Igreja deve
ensinar.

O caráter essencial de sua exegese resultou de dois princípios fundamentais:

1 A Escritura é a intérprete da Escritura (Scriptura Scripturae interpres);

2 Toda compreensão e exposição da Escritura seja de acordo com a analogia da fé.(omnis


5
intellectus ac expositio Scripturae sit analogia fidei).

Os expoentes da reforma foram:

Lutero – Que traduziu a Bíblia para o alemão. Defendeu a


interpretação literal e de certa forma zombou da alegórica. Salientou a
necessidade de se considerar o contexto e as circunstâncias históricas;
exigiu do intérprete intuição espiritual e fé e se propôs a encontrar Cristo
em toda parte na Escritura;
LUTERO EM 1529 POR LUCAS CRANACH, O VELHO
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Lucas_Cranach_d.%C3%84._-_Martin_Luther,_1528_(Veste_Coburg).jpg

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Melanchton – Foi a mão direita de Lutero e superou-o no saber. Seu
grande talento e extenso conhecimento, inclusive do grego e do hebraico
fizeram dele um intérprete admirável. Sua exegese seguia os sadios
princípios:

A As Escrituras devem ser entendias gramaticalmente antes de o


serem teologicamente;

B As Escrituras têm apenas um simples e determinado sentido.


PHILIPP MELANCHTHON
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_Mel%C3%A2ncton

Calvino – Foi considerado por todos o maior exegeta da Reforma. Suas


exposições abrangem quase todos os livros da Bíblia. Seus princípios
fundamentais foram os adotados por Lutero e Melanchton. Achava que o
método alegórico era uma artimanha satânica para obscurecer o sentido
da Escritura. Acreditava firmemente na significação tipológica de muitas
coisas do A.T. Considerava como “primeiro dever de um intérprete,
permitir que o autor diga o que realmente diz, ao invés de lhe abribuir
o que pensamos que devia dizer”.
JOÃO CALVINO
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Calvino

4.8 – A INTERPRETAÇÃO PELOS CATÓLICOS ROMANOS


Esses não progrediram no campo exegético, durante a
Reforma.

Não admitiam a exegese bíblica fora da paternidade da


igreja.

Sua posição era que a Bíblia deveria ser interpretada em


harmonia com a tradição.

No concílio de Trento enfatizou:

A Deveria ser mantida a autoridade da tradição


eclesiástica;

B A mais alta autoridade devia ser atribuída à Vulgata; e

C É necessário que a interpretação que se dá esteja de


acordo com a autoridade da Igreja e o assentimento unânime
Fonte: Pixabay - Belen Ga
dos Pais.

4.9 – A INTERPRETAÇÃO NO PERÍODO DO CONFESSIONALISMO


Após a reforma, ficou claro que os protestantes ainda sofriam os efeitos do velho fermento.
Teoricamente, conservavam o princípio: Scriptura Scripturae interpres. Mas enquanto se recusavam
a submeter sua exegese ao domínio da tradição e da doutrina da Igreja, corriam o risco de se deixar
escravizar pelos padrões confessionais da igreja.

Foi um período polêmico. O protestantismo estava lamentavelmente dividido em várias facções. A


exegese se tornou serva da dogmática e degenerou em mera busca de textos provas.

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Foi nesse período que alguns se inclinaram na direção de uma idéia mecânica da inspiração da
Bíblia.

Às tendências dominantes desse período surgiram algumas reações contrárias que merecem ser
destacadas:

1 Os Socinianos – Não criaram nenhum novo princípio


hermenêutico, mas em todas as suas exposições se basearam
na afirmação de que a Bíblia deve ser interpretada de modo
racional, ou, em harmonia com a razão. Assim, as doutrinas
da Trindade, das duas naturezas de Cristo, foram abandonadas.
Seu sistema teológico era uma mistura de Racionalismo e
Supernaturalismo;

2 Coccejus – Teólogo holandês, não satisfeito com o


método corrente de interpretações, sentiu que os que
consideravam a Bíblia como coleção de textos provas não
faziam justiça à Escritura como um organismo, do qual as
diferentes partes eram tipologicamente relacionadas entre
si. Seu princípio fundamental era o de que as palavras da
Escritura significavam o que podiam significar em todo o
discurso.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Cocceius
3 Os pietistas – Cansados das lutas entre os protestantes,
os pietistas se inclinaram a promover uma vida verdadeiramente JOHANNES COCCEIUS
piedosa. No todo, eles representavam uma reação sadia contra as interpretações dogmáticas de seu
tempo. Insistiam no estudo da Bíblia nas línguas originais, e sob a influência do Espírito Santo. De
acordo com seu ponto de vista, o estudo gramatical, histórico e analítico da Palavra de Deus produzia
apenas o conhecimento externo e superficial do pensamento divino, enquanto que o estudo que tira
inferências para repreensão e a oração penetram no âmago da verdade. Rambach e Francke foram
dois dos mais eminentes representantes. Foram os primeiros a falar da necessidade da interpretação
psicológica, no sentido de que os sentimentos do intérprete deveriam estar em harmonia com os
sentimentos do autor que desejava compreender.

4.10 – A INTERPRETAÇÃO NO PERÍODO HISTÓRICO-CRÍTICO


Neste período o espírito de reação predominou.

Divergentes pontos de vista foram expressos a respeito da inspiração da Bíblia. Negavam a


inspiração verbal e a infalibilidade da Escritura.

O elemento humano na Bíblia foi reconhecido e enfatizado; e os que acreditavam também no


elemento divino, refletiam sobre a mútua relação entre o humano e o divino.

Friedrich D.E.Sheleiermacher (1768-1834) e seus seguidores negaram o caráter sobrenatural


da inspiração. Exigiu-se do exegeta uma abordagem inteiramente livre do domínio dogmático e
confessional da igreja.

Seguiu-se o princípio de que a Bíblia devia ser interpretada como qualquer outro livro. O elemento
divino foi, em geral, menosprezado, e o intérprete se limitava à discussão de questões históricas e
críticas.

O resultado produzido por este período foi a consciência da necessidade da interpretação


histórico-gramatical da Bíblia.

O começo deste período foi marcado pelo aparecimento de duas escolas opostas: A Gramatical
e a Histórica.

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A Escola Gramatical era essencialmente supernaturalista, prendendo-se “às palavras do texto
como legítima fonte de interpretação autêntica da verdade religiosa”. Esse método era unilateral,
servia exclusivamente a uma pura e simples interpretação do texto, que nem sempre é suficiente na
interpretação da Bíblia.

A Escola Histórica se originou com Semler. Filho de pais pietistas, tornou-se, apesar disso, o pai
do Racionalismo. Semler salientou o fato de que os vários livros da Bíblia e o Cânon se originaram do
modo histórico, e eram, portanto, historicamente condicionados. Concluiu que seu conteúdo, em grande
parte, é local e efêmero, e que não pretendiam ter valor normativo para todos os homens em todos os
tempos. Daí ele dizer que era necessário que o intérprete tivesse estas coisas em mente para a
interpretação do Novo Testamento.

4.11 – TENDÊNCIAS RESULTANTES DO PERÍODO HISTÓRICO-CRÍTICO


Mesmo tendo este período iniciado com duas escolas opostas, revelou três tendências distintas no
campo da hermenêutica e da Exegese:

A Ala Racionalista – Resultante da conduta adotada por Semler, surgiu

A Paulus, professor de Heidelberg, assumiu uma posição puramente naturalista. Distinguiu duas
questões quanto aos milagres de Jesus: 1) Se eles ocorreram; 2) Como tudo o que aconteceu pode ter
acontecido. Quando à primeira observação responde afirmativamente e retira da segunda todo
elemento sobrenatural. Opondo-se a Paulus,

B Strauss propõe a teoria da interpretação mítica do Novo Testamento. Sob a influência de


A
Hegel, ensinou que a idéia messiânica e obras maravilhosas foram atribuídas a Jesus, após a sua
morte, pelo que se esperava do Messias. Este ponto de vista foi ridicularizado por

C F.C.Baur, o fundador da Escola de Tuebingen, que ensinou que o N.T. se originou de acordo com o
princípio hegeliano de tese, antítese e síntese.

A Dupla Reação ao Racionalismo – O Racionalismo não se desenvolveu sem oposição. No curso


dos tempos apareceu uma dupla reação:

A A Escola de Conciliação – Sob a influência de Schleiermacher, ignorou a doutrina da inspiração,


negou a validade permanente do A.T. e tratou a Bíblia como um livro qualquer. Distinguiu entre o
essencial e o não essencial, e achou que a ciência crítica era capaz de estabelecer a linha divisória entre
ambos.

B A Escola de Hengstemberg – Tomou como lema um retorno aos princípios da Reforma. Acreditou
na inspiração plenária da Bíblia e defendeu sua absoluta infalibilidade. Firmou sua posição nos padrões
confessionais da Igreja Luterana.

4.12 – TENTATIVAS DE IR ALÉM DO SENTIDO HISTÓRICO-GRAMATICAL


O resultado final deste período histórico crítico é o método histórico-gramatical.

Surge, porém, uma tendência segundo a qual se revela que a interpretação histórica e gramatical
não satisfaz plenamente e procurou-se complementá-la.

A Kant – afirmou que somente a interpretação moral da Bíblia tem significação religiosa. De acordo
com seu pensamento, o progresso ético do homem deve ser o princípio dominante na exposição da
Palavra de Deus.

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B Olshausen – advogou a necessidade de se alcançar “o
sentido mais profundo da Escritura”. Para ele, este sentido
não era nada à parte do sentido literal, porém algo intimamente
relacionado com ele. A maneira de descobrir o sentido mais
profundo é reconhecer “a revelação divina na Escritura e seu
ponto central, Cristo, em sua unidade com Deus e com a
humanidade” (Immer). Também adverte contra a antiga
interpretação alegórica.

C Germar – adotou o que se chamou de interpretação pan-


harmônica da Escritura. Exigiu completa harmonia entre o
sentido encontrado na Escritura, desde que seja considerado
como revelação de Deus, e as declarações de Cristo e tudo mais
que seja certo e verdadeiro.

D T.Beck – sugeriu a interpretação pneumática ou espiritual.


Ensinou que o intérprete devia ter o espírito de fé. Este espírito,
diz ele, daria ao intérprete a convicção de que as várias partes da Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Hermann_Olshausen
Escritura formam um todo orgânico.

5 QUAL DIREÇÃO SEGUIR?


VERDADE ACERCA DA BÍBLIA

Uma verdade acerca da Bíblia evidente por si mesma é que ela é um livro. Como outros
livros, foi escrita em línguas faladas pelos seres humanos com o propósito de transmitir
conceitos dos escritores para os leitores.

Outra observação óbvia a respeito da Bíblia é que se trata de um livro divino. É evidente
que, apesar de a Bíblia assemelhar-se a outros livros, é incomparável por sua origem ser
divina.

A partir dessa verdade evidente por si mesma compreendemos então que – a Bíblia é um
livro humano e a Bíblia é um livro divino.

5.1 –A BÍBLIA É UM LIVRO HUMANO


Como qualquer outro livro, foi escrita em idiomas que
permitissem a comunicação de conceitos aos leitores. Os sinais
ou símbolos que aparecem nas páginas da Bíblia foram nelas
colocados pelos escritores com o objetivo de comunicar algo a
alguém. Essa é a finalidade de uma comunicação por escrito:
ajudar os leitores a entender determinada coisa, isto é, transmitir
uma idéia, comunicar. A comunicação falada ou escrita, sempre
contém três elementos:

Aquele que fala ou escreve,

A mensagem, expressa em sons audíveis e inteligíveis ou


mediante símbolos gráficos inteligíveis a que chamamos
palavras e

Fonte: Pixabay - People Os ouvintes ou os leitores.

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Como a Bíblia foi escrita em línguas humanas, é óbvio que seu objetivo é comunicar as verdades de
Deus – o autor original – aos seres humanos.

Cada escrito bíblico – isto é, cada palavra, frase e livro – foi registrado em linguagem escrita
obedecendo a sentidos gramaticais comuns, incluindo a linguagem figurada.

Todo texto bíblico foi escrito por alguém para ouvintes ou leitores específicos, que se
encontravam num contexto histórico e geográfico específico, e com um objetivo específico.

A Bíblia foi afetada e influenciada pelo meio cultural em que cada autor humano a escreveu.

Cada passagem bíblica era apreendida ou entendida tendo em mente seu contexto.

Cada escrito bíblico adquiriu o caráter de um estilo literário específico.

Os primeiros leitores entendiam cada escrito bíblico de acordo com os princípios básicos
da lógica e da comunicação.

Essas seis afirmações mostram que, ao lermos a Bíblia, fazemos as seguintes perguntas:

Qual o significado gramatical das palavras para os leitores contemporâneos do autor?

O que essas palavras transmitiram para os primeiros leitores?

Como o ambiente cultural influenciou e afetou o que foi escrito?

Qual é o significado das palavras dentro de seu contexto?

Em que estilo literário o trecho foi escrito e como isso influi no que foi dito?

Como os princípios da lógica e da comunicação normal influem no sentido?

5.2 – A BÍBLIA É UM LIVRO DIVINO


Tendo em vista que foram elementos humanos que
escreveram os livros da Bíblia em linguagem humana, a primeira
afirmação manda-nos prestar a atenção às regras naturais de
gramática e sintaxe.

No entanto, a Bíblia é um livro sem igual. É singular porque


nos foi dada pelo próprio Deus. Isso fica evidente a partir de suas
próprias reivindicações de inspiração. Paulo disse: “Toda
Escritura é inspirada por Deus...”(2 Tm 3.16). Embora Deus
tenha usado autores humanos, as palavras que registraram
foram “inspiradas” por ele. Assim, inspiração é a obra
sobrenatural do Espírito Santo por meio da qual se orientou e
supervisionou os escritores bíblicos para que o que
escrevessem fosse a Palavra de Deus.

Ela é infalível quanto à verdade e definitiva em autoridade. A


palavra grega para “inspirado” (2 Tm 3.16) é theopneustos,
cujo sentido literal é “soprado por Deus”. Devido à sua origem
e natureza divinas, a versão original da Bíblia não continha
Fonte: Pixabay - Helping
erros.

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Pelo fato de ser um livro divino, a Bíblia é inerrante. A inerrância não se aplica às cópias dos
originais, pois nestas os escribas cometeram alguns erros no processo de transmissão. Não deve haver
dificuldade para entender que os autógrafos eram inerrantes, uma vez que a inspiração é vista como a
ação do Espírito Santo. Se considerássemos que os manuscritos bíblicos originais tivessem alguns
erros, por menores que fossem, como poderíamos afirmar que algum deles seja confiável? Como Deus
é verdadeiro (1 Ts.1.9/ 1 Jo5.20/ e não pode mentir (Tt.1.2; Hb.6.18). Deus pode preservar e preservou a
Sua Palavra de erro.

Sendo um livro divino, é fonte indiscutível. A autoridade da Bíblia para determinar o que cremos e
nossa forma de viver deriva do fato de ser inerrante. O que ela considera indiscutível, nós devemos
considerar indiscutível, sem margem para dúvidas.

Como livro divino, apresenta unidade. Embora tenha sido escrita por cerca de 40 autores
humanos, a Bíblia é obra do próprio Deus. Vários fatos confirmam sua unidade: a) A Bíblia não se
contradiz; b) Como a Bíblia é coerente, seus textos obscuros e secundários devem ser interpretados
com base em textos claros e principais. c) Como a Bíblia é uma unidade, ela a si mesma se interpreta.
Quando estudamos a Bíblia, cada parte deve ser estudada tendo em mente o todo.

Como a Bíblia é um livro divino, tem seus mistérios. É preciso admitir que a Bíblia registra coisas
difíceis de entender. Os estudiosos das Escrituras têm de reconhecer que nem sempre são capazes de
determinar o sentido de certo texto.

Nossa meta em exegese é chegar o mais perto possível do sentido original. Para tanto,
precisamos usar as ferramentas necessárias para tal fim.

6 A INTERPRETAÇÃO GRAMATICAL
É uma referência ao processo de tentar descobrir o significado da palavra, frase ou texto por meio da
verificação de quatro aspectos:

Lexicologia – O significado das palavras. Quando tratamos do significado das palavras,


preocupamo-nos com:

A A Etimologia – Origem e evolução das palavras. A significação etimológica das palavras merece a
primeira atenção, não por ser a mais importante para o exegeta, mas porque logicamente precede às
outras significações. Tomemos a palavra Ekklesia em o N.T., derivada de ek e kalein. Designa a Igreja,
tanto na Septuaginta como em o N.T. e ressalta o fato de que ela é composta de um povo “chamado
para fora”, isto é, chamado para fora do mundo da impiedade como prova de sua devoção especial a
Deus.

O termo grego makrothymia, cuja tradução é “paciência” ou “longanimidade”, é formado por


makros “longo” e thymia “sentimento”. Na combinação dessas duas palavras o “s” caiu e o
significado é o de um sentimento de longa duração, ou seja, controlar os próprios sentimentos por muito
tempo.

B O emprego – Como elas são usadas por um mesmo autor e por outros escritores. A fim de
interpretar corretamente a Bíblia, o expositor deve conhecer as significações que as palavras adquiriram
no decorrer dos tempos, e o sentido em que os autores bíblicos as empregaram. Por exemplo: A palavra
ataktos foi traduzida com o sentido de desordem em 2 Tess 3.6,11. Talvez isso se deva ao peso dessa
palavra no grego clássico, onde era usada em referência a soldados que abandonavam as fileiras e que,
portanto eram considerados desordeiros. Mas, nos papiros, mais próximos da época neotestamentária,
a palavra ataktos é usada em referencia ao menino que “mata” aula na escola. Assim, nos versículos
citados acima o sentido sereia mais de “preguiçoso” e não de “desordeiro”.

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C Sinônimos e antônimos – de que forma termos semelhantes e opostos são empregados. A
importância do estudo cuidadoso de palavras sinônimas pode ser ilustrada com alguns exemplos:

João 21.15-17, quando o Senhor ressuscitado interrogou a Pedro quanto ao seu amor, empregou
duas palavras – agapao e phileo. O primeiro verbo expressa um afeto mais racional resultante do fato
de se ver no objeto desse afeto algo que é digno de consideração; ou ainda, resulta da sensação de que
tal afeto é devido à pessoa considerada benfeitora ou algo parecido; o segundo, sem ser
necessariamente um afeto irracional, preocupa-se menos consigo mesmo; é mais instintivo; procede
mais dos sentimentos e afeições naturais, implica mais na existência de paixão. O primeiro, baseado na
admiração e respeito, é o amor controlado pela vontade e é de caráter permanente; o segundo, baseado
na afeição, é o amor mais impulsivo e mais pronto a perder o seu fervor. Então, quando o Senhor fez a
pergunta a Pedro “amas-me?” usou o verbo agapao. Pedro, porém, não ousou responder
afirmativamente, se bem que amasse o Senhor com o amor que alcançou seus grandes triunfos nos
momentos de tentação. Assim, na resposta, Pedro empregou o verbo phileo. De novo, o Senhor repete
a pergunta, e Pedro responde do mesmo modo. Então o Salvador desce ao nível de Pedro e em sua
terceira pergunta usa a segunda palavra, como se duvidasse até mesmo deste amor (philein) de Pedro.
Não é de estranhar que Pedro ficasse triste e apelasse para a onisciência do Senhor.

Em Romanos 14.13, contudo, Paulo fala de “tropeços” e “escândalo”. Escândalo (skandalon,


em grego) significa um tipo de ofensa grave, algo que prejudique seriamente outra pessoa. Já tropeço
(proskomma) significa uma ofensa leve, algo que incomoda outra pessoa. Evidentemente, Paulo
estava dizendo que não queria prejudicar outro crente, nem séria, nem ligeiramente.

D O contexto – Como as palavras são usadas em diferentes contextos. O essencial é o que se refere
ao sentido particular em que elas ocorrem. O intérprete deve determinar se as palavras são usadas em
sentido geral ou particular; se empregadas em sentido literal ou figurado. Cotterell e Turner
relacionaram sete significados da palavra kosmos, que costuma ser traduzida por “mundo”:

A totalidade do universo criado, no qual a terra, os céus, os corpos celestes, etc.

A “humanidade”, ou seja, o “mundo” de pessoas;

A “terra” em contraposição ao céu ou céus;

A mortalidade; a “vida no mundo”;

Os seres (humanos e sobrenaturais) rebeldes a Deus assim como seus domínios, em oposição a
Deus;

O conjunto de elementos terrenos e sociais (entres os quais alegrias, posses e preocupações);


“adorno” ou “adornar”.

Coterell e Turner citam então os seis versículos abaixo, salientando que somente um desses
sentidos encaixa-se em cada versículo e que o contexto imediato da frase normalmente esclarece o
sentido.

“porque Deus amou ao kosmos de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”(Jo 3.16).

“Não ameis o kosmos nem as coisas que há no kosmos. Se alguém amar o kosmos, o amor do
Pai não está nele; porque tudo o que há no kosmos, a concupiscência da carne, a concupiscência dos
olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do kosmos” (1 Jo 2.15,16).

“Não seja o kosmos das esposas o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro,
aparato de vestuário”(1 Pe 3.3).

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“...e agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu tive junto de ti, antes que
houvesse kosmos (Jo 17.5).

“...e os que se utilizam do kosmos, como se dele não usassem; porque a aparência deste kosmos
passa” (1 Co 7.31).

“Porque nada temos trazido para o kosmos, nem coisa alguma poderemos levar dele”(1 Tm 6.7).

No estudo das palavras em seu contexto, o intérprete deve adotar os seguintes princípios:

1 A linguagem da Escritura deve ser interpretada de acordo com a sua importância


gramatical; e o sentido de qualquer expressão, proposição, ou declaração deve ser determinado pelas
palavras empregadas.

2 Uma palavra pode ter apenas uma significação no contexto em que ocorre. Ex. sarks pode
designar:

a parte sólida do corpo, exceto os ossos (I Cor. 15.39; Lc.24.39);

toda a sustância do corpo, quando sinônima de soma (At. 2.26; Ef.2.15;5.29);

a natureza animal (sensual) do homem (João 1.13; Rm.10.18); e

a natureza humana dominada pelo pecado, sede e veículo de desejos pecaminosos (Rm 7.25;8.4-
9; Gl.5.16,17). Se um intérprete atribuir todas estas significações a essa palavra em João 6.53, estará
atribuindo o pecado, num sentido ético, a Cristo, a quem a Bíblia apresenta como sem pecado.

3 Os casos em que Várias significações de uma palavra são reunidas de maneira que
resultam numa unidade maior não entram em conflito com o princípio anterior. Ex. João 20.21.
Quando Jesus diz aos discípulos: “Paz seja convosco”, significa a paz no sentido mais amplo – paz
com Deus, paz de consciência, paz consigo mesmo; Quando o Senhor ensinou que os discípulos
deviam orar, dizendo: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje”, a palavra pão evidentemente está
usada no sentido amplo de todas as coisas necessárias à vida.

Morfologia – A forma das palavras. Ao lidarmos com a formação das palavras, procuramos
conhecer sua estrutura. Por exemplo: a palavra bem adquire novo significado quando pluralizada:
bens. A morfologia trata da flexão das palavras, ou seja, como elas são formadas ou conjugadas. A
função das palavras. Diz respeito ao papel das diferentes formas. A preocupação é com os sujeitos, os
verbos, os objetos, os substantivos, etc.

Sintaxe – A relação entre as palavras. É o modo como as palavras são associadas ou unidas para
formar expressões, orações e períodos. A palavra “sintaxe” vem do grego syntassein, “colocar em
ordem”. Dificilmente uma palavra isolada transmite uma idéia completa, a não ser quando aplicada ao
marketing. Como os tijolos de uma construção, as palavras são elementos isolados que juntos formam
frases, que são as unidades elementos do pensamento. Sozinhas as palavras “homem”, “grande”,
“bola” e “bateu” não expressam nada, por isso precisam ser agrupadas. Mas a maneira como forem
agrupadas podem alterar o sentido, como podemos ver:

“O homem estraçalhou feio o carro”

“O carro estraçalhou feio o homem”

“O homem estraçalhou o carro feio.”

“O homem feio estraçalhou o carro”.

“O carro feio estraçalhou o homem.”

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Figuras de linguagem que expressam comparações

A Símile – É uma comparação em que uma coisa lembra a outra explicitamente ( usando as
expressões: como, assim como, tal qual, tal como) ex. 1 Pe 1.24; Lucas 10.31,
Salmo1.3

B Metáfora - É uma comparação em que um elemento é, imita ou representa outro (sendo que os
dois são essencialmente diferentes). Na metáfora a comparação está implícita e não declarada. Ex.
Is.406 9 não há a expressão "como" semelhante ao uso de Pedro em 1 Pe 1.24. outros exemplos Mt
5.43; Jo10.7,9

C Hipocatástase - É uma espécie de "metáfora" direta e radical. A semelhança ou comparação é


declarada de forma direta. Veja as diferenças:

Símile: "Vocês, ímpios, são como cães”

Metáfora: "Vocês, Ímpios, são cães".

Hipocatástase: "seus cães". (ex. João 1.29)

Figuras de linguagem que expressam substituição

A Metonímia - É a substituição de uma palavra por outra. Existem três tipos de metonímia na Bíblia :
1. A causa é usada em lugar do efeito. Ex. ‘‘...Vinde firamo-lo com a língua...(Jr 18.18)’’ A língua era a
causa, e as palavras, o efeito. Outro exemplo: ‘‘...a língua dos sábios é medicina.’’ Prov.12.18 (a
língua era a causa e o efeito as palavras) 2. O efeito é usado no lugar da causa. Davi disse; "Eu te amo, 6
Senhor, força minha" (SI 18.1) - a força (efeito) é empregado em lugar da causa (o Senhor). 3. O objeto
é empregado em lugar de outro semelhante ou que está a ele relacionado. Este é o tipo mais comum de
metonímia. Ex. "Eles tem Moisés e os profetas; ouça-nos". (a expressão "Moisés e os profetas",
substitui o termo "o Antigo Testamento") Lc 16.29 "O sangue de Jesus nos purifica de todo o
pecado". (a palavra sangue substitui, o sacrifício de Jesus) 1João 1.7

B Sinédoque - É a substituição da parte pelo todo. Ex. a palavra "grego" em Rm1.16 substitui todos
os gentios; Priscila e Aquila, "arriscaram as suas próprias cabeças" (Rm 16.4) cabeças (parte)
representa a própria vida deles (o todo).

C Merisma - É um tipo de sinédoque em que a totalidade ou o todo é substituído por duas expressões
contrastantes ou opostas. Ex. "Sabes quando me assento e me levanto" (SI139.2) significa que Deus
conhece todo o contexto da vida do salmista e não apenas quando ele se assenta ou se levanta.

D Personificação - Éa atribuição de características humanas a objetos inanimados, a conceitos ou a


animais. EX. Is 35.1 "Um deserto alegre"; Is 55.12 "Arvores batendo palmas".

E Antropomorfismo - Éa atribuição de qualidade humanas a Deus como ocorre nas referência aos
dedos de Deus (Sl 8.3), a seus ouvidos (31.2) e a seus olhos (2Cr 16.8).

F Antropopatia - É a atribuição de emoções humanas a Deus. Ex. Zacarias 8.2

G Zoomorfismo -Éa atribuição de características animais a Deus ( ou ao homem). Ex. SI 94.4; Jó


16.9.

H Apóstrofe -E uma referência feita a um objeto como se fosse uma pessoa. EX. S.114.5 na
apóstrofe fala-se com o objeto como se ele fosse humano, na personificação atribui-se ao objeto uma
característica humana, sem falar com ele.

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I Eufemismo - É a substituição de uma expressão pesada, dura, jocosa, desagradável por outra
mais suave, leve, agradável. Ex. At.7.60; 1 Ts 4.13-15

Figuras de linguagem que trabalham com omissão ou supressão

A Elipse - É a omissão de uma palavra ou palavras cuja falta deixa incompleta a estrutura gramatical.
EX. "os doze" referência aos doze apóstolos; "A capital" que na verdade significa a cidade capital.

B Zeugma -Consiste na associação de dois substantivos com um mesmo verbo, quando pela lógica
o verbo tem um só substantivo. Ex. Lc 1.64 "sua boca se abriu e sua língua" numa escrita mais comum
se acrescentaria o verbo "desimpedida" antes da palavra língua.

C Reticência - É uma interrupção repentina do discurso, como se o orador não tivesse podido
terminá-lo.

D Pergunta retórica - É uma pergunta feita sem esperar realmente uma resposta objetiva, mas visa
levar o ouvinte a uma reflexão. Ex. Gn18.14; Rm 8.31

Figuras de linguagem que trabalham exageros ou atenuações

A Hipérbole - É uma afirmação exagerada em que e diz mais do que o significado literal, com
objetivo de dar uma ênfase a palavra, Ex.Dt.1.18; Mt 23.24; Mt 16.26

B Litotes - Consiste em uma frase suavizada ou negativa para expressar uma afirmação, que
também acaba tendo uma ênfase. É oposto da hipérbole. At. 21.39. "Ås vezes uma litotes é uma frase de
depreciação como acontece em Nu 13.33: "Éramos aos nossos próprios olhos como gafanhotos, e
assim também o éramös aos seus olhos". Lucas usou muitas litotes: At 12.18; 14.28, Paulo também
usou 1 Co 15.9

C Ironia - É uma forma de ridicularizar indiretamente sob a forma de elogio ou de dizer o que se quer
dizer porém de forma contrária, é uma forma mais sutil do que o sarcasmo. Ex. 1 Rs 18.27; 1 Co 4.10

D Pleonasmo - Consiste na repetição der palavras ou no uso de acréscimos de palavras


semelhantes, que em nossa língua parecem redundantes. EX. Jó 42.5; Mt 2.10

Figuras de linguagem que trabalham com incoerências

A Oxímoro - Consiste na combinação de termos opostos ou contraditórios em uma mesma


afirmação. EX. "Silêncio eloquente"; "Covarde valentia"; "sacrifícios vivos" (Rm 12.1)

B Paradoxo - É uma firmação aparentemente absurda ou contrária a lógica. É quando se afirma algo
contrário ao conhecimento comum ou que normalmente se espera. Não é apenas uma contradição, é
também. Ex. Mc 8.35.

Figura de linguagem que trabalham com sonoridade

Estas nem sempre são fáceis de perceber devido a questão do som na língua original (grego,
hebraico), porém existem com o propósito de marcar a idéia, de dar um destaque especial ao que está
sendo dito.

A Paronomásia - é o chamado "jogo de palavras" ou 'trocadilho" Consiste no emprego de palavras


de sons semelhantes para produzir sentidos diferentes. Ex. Mt. 8.22. As vezes usam-se palavras que
começam com a mesma letra, buscando também chamar a atenção através do som das mesmas. Isso
chama-se aliteração. Ex. Lc 21.11 Fome (Loimoi) e epidemias (limoi).

B Onomatopéia - É uma palavra que imita o som da coisa referida. Ex. murmúrio, tique-taque,
sussurro. Não ẻ raro que apareçam mais de uma figura de linguagem em uma mesma frase.

ETEBES
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21
O intérprete precisa discernir corretamente, para não corre o risco de tomar como literal o simbólico e
simbólico aquilo que é literal, além de acabar perdendo a riqueza do texto com seus estilos e ênfases.

Existem também as chamadas "expressões idiomáticas" que diferem das figuras de linguagem.
Zuck assim define um idiomatismo: "A expressão idiomática é uma figura de linguagem própria de
dado idioma ou indivíduos de determinada região". Ele ainda lembra que "um idiomatismo é uma
combinação de palavras que, como um todo, possuem um significado diferente do sentido
isolado de cada uma delas". (grifos meu) Ex. "dando uma de João sem braço", "Ele tem um
coração duro" (significa alguém indiferente, em nossa cultura) na cultura Shipibo do Peru diria-se de
alguém indiferente que "Seus ouvidos não tem buracos". Outros exemplos: "bater as botas" isso
não tem nada haver com morrer, mas logo entendemos o seu sentido, por já estar incorporado a nossa
cultura. Tanto no grego , quanto no hebraico existem expressões idiomáticas. Ex. o diálogo de Elias e
Eliseu em 1 Re 19.20 "Que te fiz eu?" (significa: "que fiz para te deter?") ou de outra forma: "Por
favor prossiga; você tem a minha permissão". Em Rm 16.4 se diz: "Deram seus pescoços" uma
expressão idiomática que significa arriscar a vida, foi traduzida como "arriscaram o pescoço" e
"arriscaram a vida".

Identificando um sentido figurado nas Escrituras

Roy B. Zuck destaca seis regras para isso:

1 Adote sempre o sentido literal (não figurado em seu contexto) de uma


passagem, a menos que haja boas razões para não fazê-lo.

2 O sentido é o figurado se o literal implicar uma impossibilidade.

3 O sentido é o figurado se o literal for absurdo, como no caso de as


árvores baterem palmas (Is 55.12).
Fonte: Roy B Zuck - Educador e autor cristão

4 Adote o sentido figurado se o literal sugerir imoralidade.

5 Repare se uma expressão figurada vem acompanhada de uma explicação literal.

6 As vezes uma figura é ressaltada por um adjetivo qualificativo, como "Pai celeste". Eu
acrescentaria uma outra observação: Cuidado, não se apresse, pesquise, analise e observe. Não se
deixe levar pela primeira impressão na hora de identificar ou discernir um sentido figurado de um literal.

RECORDANDO:

A interpretação gramatical nos ensina a prestar atenção às palavras bíblicas e ao seu emprego.

Embora possa parecer um exercício complicado, é indispensável para entendermos a Bíblia


corretamente. (ZUCK - A interpretação da Bíblia p.140-141)

Maneiras de descobrir o significado de uma palavra:

1 Examine sua etimologia, até mesmo o significado original e quaisquer outros significados que
surgiram a partir dele.

2 Descubra como a palavra é empregada:

A pelo mesmo autor no mesmo livro;

B pelo mesmo autor em outros livros da Bíblia;

C por outros autores na Bíblia;

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D por outros autores em outros documentos à época.

3 Descubra como são empregados os sinônimos e os antônimos

4 Analise os contextos:

A contexto imediato;

B contexto do parágrafo ou do capítulo;

C contexto do livro;

D contexto de textos paralelos;

E contexto da Bíblia como um todo

5 Verifique qual dos diversos sentidos possíveis, melhor se enquadra na idéia do texto.

Maneiras de descobrir o significado de uma frase:

1 Analise a frase e seus elementos, reparando nas classes de palavras ali contidas, no tipo de
período que é, nas orações que o compõem e na ordem das palavras.

2 Descubra o significado de cada palavra-chave (volte aos cinco pontos do item acima) e o modo
como elas influenciam o sentido da frase.

3 Analise a participação de cada elemento da frase na idéia transmitida pelo todo.

7 A INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA
O termo é aqui usado para indicar o estudo da Escritura à luz das circunstâncias históricas que se
estampam nos diferentes livros do Novo Testamento. Ao contrário da interpretação gramatical que se
aplica ao aspecto formal da Escritura, a interpretação histórica se refere ao conteúdo material da Bíblia.

7.1 – AFIRMAÇÕES DA INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA


A Palavra de Deus, originada de modo histórico, precisa
ser entendida à luz da história – Quando abrimos as
Escrituras, é como se estivéssemos entrando num país
estranho. Da mesma forma como ficamos confusos com a
maneira de agir das pessoas de outros países, podemos ficar
confusos com o que lemos na Bíblia. Assim, é importante
sabermos o que os personagens bíblicos pensavam, em que
acreditavam, o que diziam, faziam e produziam. À medida que
procedemos assim, temos mais condições de compreender e
transmitir essas informações com mais exatidão. Se não
atentarmos nessas questões culturais, podemos ser culpados
de fazer uma eisegese, que é projetar na Bíblia nossos conceitos
ocidentais do século XXI.

Ex. Por quê Paulo mencionou em Filipenses 3.20 a pátria


celestial de seus leitores? A cidade de Filipos era uma colônia
romana. Os habitantes de Filipos não eram cidadãos romanos,
mas o imperador Otávio Augusto lhes concedera “direitos Fonte: Pixabay
itálicos”, ou seja, concedera a eles os mesmos privilégios que

ETEBES
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23
teriam se sua terra natal fosse a Itália. Ciente disso, Paulo escreveu a respeito de uma pátria ainda mais
nobre para os cristãos de Filipos, que era a pátria celestial. Isso teria um significado todo especial para
os primeiros leitores dessa epístola.

Por que os herodianos, os saduceus e um escriba fizeram aquelas perguntas para Jesus, em Marcos
12.13-28? As indagações diziam respeito às suas respectivas ocupações e crenças. Os herodianos
tinham o apoio de Herodes e dos romanos, por isso discutiram com Jesus a questão do pagamento de
impostos a um poder estrangeiro (v.14). Os sadusceus não acreditavam em ressurreição, portanto
procuraram calar seu opositor levantando uma situação hipotética sobre uma mulher que teve sete
maridos (v.23). Os escribas judeus, por sua vez, preocupavam-se com os mandamentos do A.T; assim,
um deles perguntou a Jesus qual era o mais importante. (v.28).

Em Colossenses 1.15, a expressão “o primogênito de toda a criação” significa que Cristo foi
criado? Não, significa que ele é o Herdeiro de toda a criação (Hb.1.2), assim como o primogênito
ocupava um lugar especial de honra e tinha privilégios na família. A palavra grega para o primogênito é
prototokos. Se Paulo pretendesse transmitir a idéia de que Jesus foi o primeiro ser criado, ele teria
empregado outro termo grego: protoktisis. Ocorre que esse termo nunca foi utilizado em referência a
Jesus.

E assim, em todas as esferas: agricultura, arquitetura, vestimentas, vida doméstica, geografia,


organização militar, estrutura social...

Para compreendermos e interpretarmos corretamente as palavras de um autor, é preciso que


ele seja visto à luz de suas circunstâncias históricas – É verdade que o homem, em certo sentido,
controla as circunstâncias de sua vida e determina seu caráter; mas é igualmente verdadeiro que ele é,
em grande escala, o produto do seu ambiente histórico. Por exemplo, ele é filho de seu povo, de sua
terra e de sua época.

É importante conhecer as circunstâncias que cercavam determinado livro da Bíblia. Para tanto,
procura-se responder às seguintes perguntas:

1 Quem escreveu o livro? – Deve-se procurar conhecer o caráter e temperamento, sua disposição
e habitual modo de pensar. Deve esforçar-se por penetrar no recôndito de sua vida íntima, a fim de poder
entender, tanto quanto possível, os motivos dominantes de sua vida e assim obter, na visão interior dos
seus pensamentos, volições e ações. É desejável que se conheça alguma coisa a respeito da profissão
do autor.

Para conhecer o apóstolo Paulo, é necessário ler sua história tal como está registrada em Atos e
também ler suas Epístolas. Deve-se dar especial atenção a textos como Atos 7.58; 8.1-4; 9.1,2,22,26;
26.9; 13.46-48; Romanos 9.1-3; I Coríntios 15.9; II Coríntios 11; 12.1-11; Gálatas 1.13-15; 2.11-16;
Filipenses 1.7,8, 12-18; 3.5-14; I Timóteo 1.13-16.

Deve-se dar atenção às circunstâncias geográficas, políticas, religiosas e traços de sua escrita.

Com um conhecimento íntimo do autor do livro facilitará a compreensão adequada de suas


palavras.

2 Em que época foi escrito? – As circunstâncias geográficas e climáticas em geral influenciam o


pensamento, a linguagem e as representações do autor.

Deve-se ter algum conhecimento dos produtos da terra, de suas árvores, arbustos e flores, grãos
vegetais e frutas; seus animais; insetos e aves etc.

Em Lucas 13.32, Jesus chamou Herodes de raposa porque achava que ele era dissimulado e
astuto? Não, naqueles dias a raposa era tida como um animal traiçoeiro; assim, Jesus estava
insinuando que Herodes era conhecido por sua traição.

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Por que Jesus condenou a figueira que não tinha frutos, se nem era época de figos? (Mc 11.12-14).
Em Israel, as figueiras costumavam produzir pequenos botões em março e grandes folhas verdes em
abril. Esses pequenos botões eram “frutos” comestíveis. Jesus “amaldiçoou” a figueira na época da
Páscoa, ou seja, abril. Como a planta não apresentava botões, não daria frutos naquele ano. Mas o
“tempo de figos” ia do final de maio até fins de junho, que é quando amadureciam. A maldição que
Jesus lançou sobre a figueira representava a falta de vitalidade espiritual de Israel (como a falta de
botões), a despeito de sua aparente religiosidade (como as folhas verdes).

3 O que levou o autor a escreve-lo? – Os escritores dos livros bíblicos tinham um propósito em
mente. Portanto, o conhecimento da finalidade que o autor tinha em mente não somente ajuda a
entender o livro como um todo, mas também lança luz sobre alguns detalhes. Em alguns casos, o autor
mesmo declara o propósito de seu livro, como Lucas, em Lc 1.1-4 (Fazer uma narrativa diligente, em
ordem, aparentemente a uma pessoa (Teófilo) ou (amigos do conhecimento) com o objetivo de
transmitir conhecimento e constatação plenos sobre Jesus e seu ministério); João, em Jo 20.31
(“para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu
nome”) e Ap 1.1 (“revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as
coisas que brevemente devem acontecer...”) ; como Pedro em I Pe 5.12 (“...escrevo
abreviadamente, exortando e testificando que esta é a verdadeira graça de Deus; nela
permanecei firmes”). Há casos, porém, em que somente a leitura demorada do livro ajudará a
descobrir seu objetivo.

4 Para quem foi escrito? – As condições dos leitores originais não somente determinam o caráter
do escrito, mas explicam muitas de suas peculiaridades.

A resposta a essas indagações podem ajudar-nos a discernir o que o livro está dizendo.

A preocupação central é o ambiente cultural em que os autores humanos do N.T. trabalharam. Em


qualquer cultura ou época, os escritores de um documento, assim com os leitores, sofrem a influência do
contexto social. Uma série de declarações do livro de Colossenses mostra a possibilidade da influência
de uma seita filosófica e religiosa em Colossos, que poderia ter sido uma forma incipiente do que viria a
ser mais tarde o gnosticismo.

8 A INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA
Na Escritura há muita coisa que não pode ser explicada pela
história, nem pelos autores secundários, mas somente em
Deus. Considerações puramente históricas e técnicas não
valem para explicar fatos como: a) A Bíblia é a Palavra de
Deus; b) Ela constitui um todo orgânico, do qual cada livro
em particular é parte integrante; c) O Antigo e o Novo
Testamento se relacionam; d) Não somente as afirmações
explícitas da Bíblia, mas também aquilo que se pode deduzir
dela por boa e necessária conseqüência, constitui a Palavra
de Deus.

A designação “Interpretação Teológica” merece a


preferência, pelo fato de indicar a autoridade divina da Bíblia, e
pela consideração igualmente importante de que, em última
análise, Deus é o verdadeiro intérprete de Sua Palavra.

A exegese teológica não se contenta meramente em extrair


o significado verbal preciso do texto, mas vai mais além para
descobrir a teologia que informa o texto. Busca descobrir não
meramente as diretrizes dadas, por exemplo, por Paulo a esta
Fonte: Pixabay - Saint John Evangelist
ou aquela igreja, mas a teologia que impelia a dá-las.

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25
1 Em primeiro lugar, é necessário um estudo de correlação. Para ser possível avaliar a teologia
de um texto, é necessário determinar inicialmente outros textos que tratam da mesma temática.

Exemplo: Comparar Lucas 22.19,20 com I Coríntios 11.24,25; Mateus 9.1-8 com Marcos 2.1-12;
Os sacrifícios espirituais de que fala Pedro em I Pedro 2.5 encontram explicação parcial em Romanos
12.1, que, por seu turno é explicado por Romanos 6.19.

2 Em segundo lugar, devemos tentar enquadrar o conteúdo de nosso texto dentro de temas e
doutrinas teológicas fundamentais, como no-lo apresentam a dogmática e a teologia
sistemática.

Exemplos desses temas fundamentais são: a compreensão bíblica sobre a criação, a salvação, o
juízo de Deus, o Espírito Santo, os dons do Espírito, o pecado, a fé, a igreja, a Palavra de Deus, a pessoa
de Cristo, as últimas coisas, etc.

3 Por último, a teologia do texto pode ser avaliada na medida em que procurarmos nos inteirar
das suas conseqüências práticas.

Obs. A análise teológica oferece uma boa oportunidade para examinar os títulos que os textos
recebem nas modernas versões da Bíblia. Estes títulos muitas vezes representam uma síntese
teológica do texto na perspectiva dos editores dessas versões. É oportuno verificar se os títulos
propostos interpretam corretamente a mensagem teológica do texto. Não raro, eles revelam a posição
teológica, ideológica ou de gênero dos editores. Como exemplo vejamos o texto de Lucas 7.36-50.
Alguns dos títulos encontrados são: “Jesus e a pecadora”; “a pecadora que ungiu os pés de Jesus”;
“A pecadora perdoada” e “Jesus em casa de Simão, o fariseu”. É interessante observar como os
vários títulos empregados concentram-se na relação entre Jesus e a mulher pecadora. O fariseu da
história dificilmente é lembrado no título. Será isto uma casualidade? Um exame atento mostra que a
maior parte da história não tematiza o diálogo entre Jesus e a mulher, e, sim, justamente entre Jesus e o
fariseu, homem: 7.36,39-47! A história é um misto de exaltação ao comportamento da mulher e de crítica
ao comportamento do homem. Não seria, pois, mais adequado um título que procurasse corresponder a
estes dois momentos realçados na narrativa? A mulher é apresentada como pecadora (v.37). Mas o
homem igualmente é tido como tal (vv.44-46). Assim sendo, não parece justo destacar unicamente a
mulher como pecadora no título da narrativa.

9 SÍNTESE DOS PASSOS HERMENÊUTICOS


A fim de tornar possível uma orientação rápida quanto
as tarefas que envolvem as diversas etapas da exegese,
quanto aos recursos disponíveis e a metodologia
adequada para cada passo exegético a ser alcançado.

Estaremos sugerindo uma síntese simplificada como


caminho para o exercício exegético:

1 Tradução literal

Realizar uma tradução própria do texto, do grego para o


português

A tradução literal procurará respeitar a inclusão ou omissão


dos artigos, bem como a ordem original das palavras, desde
Fonte: Pixabay - Sand
que, naturalmente, isso não produza, em português, um sentido

26 ETEBES
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diferente do que havia no original grego.

É necessário que se faça uma análise gramatical e tradução de todas as palavras do texto,
anexando-as à exegese em forma de apêndice.

A tradução literal trará como resultado um texto que não está preocupado com um “bom
português”, mas num português que consiga reproduzir, da melhor maneira possível, as construções
gramaticais, a ordem das palavras e a forma da língua original.

Por ser parte integrante do início da exegese, toda tradução literal terá um forte caráter de
provisoriedade. Ela necessitará de uma segunda tradução complementar ao final da exegese.

Uma boa tradução deve ser:

Correta – Deve dar o sentido o mais exato possível da mensagem original.

Clara – Deve produzir um texto bem compreensível. Não deve ter expressões confusas ou que
possam ser entendidas erradamente.

Natural – Deve soar como se um falante nativo tivesse escrito aquele texto.

Recursos :

Edições interlineares do Novo Testamento

Dicionários do grego bíblico

Gramáticas do grego neotestamentário

Chaves Linguísticas

Comentários com base no novo testamento grego.

2 Avaliação de Versões

Avaliar pelo menos duas traduções do Novo Testamento quanto ao seu grau de fidelidade ao texto
original.

Este exercício terá por finalidade: Avaliar a fidedignidade das traduções em uso

Observar se a tradução omite termos ou expressões do original grego, ou, a tradução acrescenta
termos ou expressões ao original, e ainda, a tradução modifica/substitui termos ou expressões do
original?

Mostrar as várias possibilidades de tradução do texto

Levar o (a) intérprete a rever, eventualmente, sua própria tradução.

Introduzir nas primeiras interpretações do texto, considerando, sobretudo, que a tradução já


implica, parcialmente, uma interpretação.

Recursos :

BEEKMAN, J., CALLOW, J. A arte de interpretar e comunicar a palavra escrita; técnicas de


tradução da Bíblia. São Paulo; Vida Nova, 1992.

EKDAHL, E.M. Versões da Bíblia; por que tantas diferenças? São Paulo: Vida Nova,1993.

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27
3 Análise de conteúdo

3.1 – Análise gramatical

Compreende considerações sobre os diversos aspectos a partir dos quais pode-se avaliar a
linguagem empregada num texto.

Examina a existência de palavras, expressões ou frases de destaque no texto, bem como o


emprego de termos característicos ou não do autor.

Relaciona as categorias e formas gramaticais em destaque no texto, como: substantivos, verbos,


advérbios e preposições.

Examina como palavras, expressões e frases estão relacionadas entre si: conjunções
empregadas, a ordem do sujeito e predicado...

Observa o estilo do texto fazendo alusão a: metáfora, alegoria, pleonasmo...

Recursos :

Grego Analítico

Gramática Grega

Dicionários Grego – Português

3.2 – Análise Histórica – Como os textos bíblicos envolvem uma época, cultura e situação religiosa e
social diferente e distante da nossa é necessário esclarecer dados históricos pressupostos no texto.

A inserção no mundo sócio-religioso da época procurará responder a perguntas como:

Quem escreve o que para quem? – Os intérpretes devem procurar conhecer o melhor possível o
autor do escrito, a natureza e o propósito da carta (no caso de escolher epístolas), bem como as
características dos destinatários. Dados a este respeito são encontrados nas Introduções ao NT, bem
como nas introduções aos comentários das respectivas cartas.

Qual o contexto literário do texto? – Neste item procura-se saber qual a relação existente entre o
texto da exegese e o(s) texto(s) imediatamente anterior (es) e posterior (es).

O que representavam, como eram valorizados, como eram entendidos na sua época os grupos,
instituições, classes, costumes e práticas apresentadas pelo texto?

Qual o significado de sua menção dentro do texto, quando considerados à luz da questão central
por ele abordada?

Alguns exemplos são importantes para entender certos detalhes relacionados com a situação e
contexto da época:

Dados geográficos – Na parábola do bom samaritano, há uma referência a um assalto entre


Jerusalém e Jericó. Por quê exatamente entre estas duas cidades? Um conhecimento topográfico
regional explica: o caminho de descida entre Jerusalém e Jericó era tortuoso, rochoso e árido. Por isso
era praticamente inabitado e se prestava propício a assaltos e esconderijos.

Dados sociais – Em marcos 15.40s menciona-se Jesus, durante o seu ministério na Galiléia,
estar acompanhado por várias mulheres. Este fato, interpretado à luz de nossa experiência, poderia nos
parecer normal. O conhecimento do espaço reservado para as mulheres na época de Jesus, contudo,
nos revela que na Palestina nenhum rabino se fazia acompanhar por mulheres. Visto sob esta ótica, o

28 ETEBES
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movimento de Jesus pode ser considerado como de ruptura frente aos padrões sociais do seu tempo.

Dados econômicos – Em diversos lugares encontramos referências aos pobres. Seríamos


levados a achar que à época existiam – como hoje – uma série de pessoas mal remuneradas, que
ganhavam muito pouco para uma existência digna. Esta interpretação é errônea. O exame à época
demonstra que “pobres” eram pessoas que não tinham meio algum de subsistência, ou seja, eram
mendigos, necessitados de esmolas para sobreviver.

Dados políticos – Quando se fazia referências a sumo sacerdotes. A alusão não é simplesmente
religiosa. O sacerdote concentrava o primado religioso e político sobre o povo. Além do mais, os sumo
sacerdotes da época caracterizavam-se por um extravagante luxo e riqueza.

Dados culturais – Nos evangelhos é relatado que escribas e fariseus se escandalizavam pelo fato
de Jesus reclinar-se à mesa com pecadores (Mc 2.15-17; Lc. 15.1s; Mt 11.19). O alcance dessa prática
dificilmente se consegue perceber em nossos dias, em que sentar-se à mesa significa, sobretudo,
alimentar-se, independentemente de quem está à nossa direita ou esquerda. Na época de Jesus,
porém, e em especial no Oriente, receber alguém em comunhão de mesa significa até os dias de hoje
uma honra que quer dizer oferta de paz, confiança, fraternidade, perdão.

Dados religiosos – Em Mateus 5.23s Jesus sugere que antes de entregar uma oferta sobre o altar
do templo, é necessário reconciliar-se com as pessoas. Esta recomendação, que para nós pode parecer
banal, na época não era. Implicava em ferir sensibilidades de muitos. Outras práticas como: a
circuncisão dos meninos, a observância do sábado. Praticamente todos os textos bíblicos, quando
consultados de modo atento, possuem exemplos que requerem uma análise mais acurada para que se
possa entender o seu exato sentido dentro da época em que foram redigidos.

Recursos :

A Bíblia (AT e NT)

Concordâncias Bíblicas

Literatura sobre o mundo do NT

Dicionários Bíblicos

Comentários Bíblicos

3.3 – Análise Teológica – A análise teológica compreende dois aspectos:

3.3.1 – Apreciação de textos paralelos – Para descobrir a existência de textos com assuntos
similares, pode-se usar como critério a identidade de termos e expressões ou, então, de uma maneira
mais genérica, de conteúdo como um todo.

Por exemplo: Para a análise da quinta bem-aventurança “bem aventurados os


misericordiosos, pois alcançarão misericórdia”(Mt. 5.7). Temos um excelente paralelo na parábola
do credor incompassivo em Mt. 18.23-35. Pode-se chegar ao paralelo pelo uso de uma concordância ou,
eventualmente, pelos textos de referência às margens externas. A mesma teologia se encontra presente
no AT (p.ex., Pv 14.21): “o que despreza o seu vizinho peca, mas o que se compadece dos pobres é
feliz” e também em outros escritos do NT, a exemplo de Tg. 2.13: “porque o juízo é sem misericórdia
para com aquele que não usou de misericórdia”.

3.3.2 – Breve avaliação teológica – Esta vai depender, em grande parte, do grau de
aprofundamento teológico-sistemático que se possa alcançar em relação ao (s) tema (s) em evidência
no texto. A natureza e as exigências do texto também vão determinar de que maneira esta análise
teológica pode ser estruturada.

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29
Vamos usar como exemplo o texto de 1 Coríntios 13.13: “Agora, pois, permanecem a fé, a
esperança e o amor...” e explora o texto dentro destas três dimensões teológicas fundamentais.

A Em relação à fé, as perguntas que caberia formular ao texto são as seguintes:

Como é expressa pelo texto a fé em Deus, Jesus ou no Espírito Santo? Com que idéias, práticas
ou valores Deus, Jesus ou o Espírito Santo são associados?

Há alguma figura usada no texto para representar o divino e o que pretende destacar?

B As dimensões do amor no texto procuram torná-lo transparente para os compromissos e as


respostas concretas que reclama a fé em Deus. Neste caso, a orientação é utilizar-se do texto de 1 Jo
4.20: “Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a
seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê.” As perguntas que poderiam ser
levantadas ao texto são:

Que dimensões de amor como expressão da fé em Deus explora o texto?

Há compromissos de ordem pessoal, eclesiástica ou social reclamados pelo texto?

C Muitos textos exploram simultaneamente uma dimensão de esperança, de futuro e porvir. Eles
o fazem, ora dando as razões e os fundamentos da esperança cristã, ora relacionando fé e ação no
presente com vida no futuro.

Perguntas que poderiam ser formuladas em relação a este aspecto são:

Há aspectos de esperança focalizadas no texto? Quais são?

Como o texto relaciona vida presente com vida no porvir?

Recursos : Como subsídios para este passo exegético são indicados:

Comparar conteúdo com outros textos com ajuda de chaves ou concordâncias bíblicas;

Teologias bíblicas

Teologias do Novo Testamento

Dicionários bíblico-teológicos;

Manuais de Teologia

Comentários Bíblicos.

4 Nova Tradução

Esta tradução deve ater-se em apresentar um texto perfeitamente adequado à compreensão


dentro da língua portuguesa.

Considerar todas as descobertas de conteúdo feitas ao longo do trabalho de interpretação.

5 Referências Bibliográficas

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10 SEGUINDO OS PASSOS HERMENÊUTICOS
10.1 – EXERCÍCIO: TEXTO ORIGINAL DE ROMANOS 12.1,2

v.1

1 Παρακαλῶ οὖν ὑμᾶς ἀδελφοί διὰ τῶν οἰκτιρμῶν τοῦ Θεοῦ παραστῆσαι τὰ σώματα ὑμῶν
θυσίαν ζῶσαν ἁγίαν «τῷ Θεῷ» εὐάρεστον τὴν λογικὴν λατρείαν ὑμῶν

2 καὶ μὴ συσχηματίζεσθε τῷ αἰῶνι τούτῳ ἀλλὰ μεταμορφοῦσθε τῇ ἀνακαινώσει τοῦ νοός εἰς τὸ
δοκιμάζειν ὑμᾶς τί τὸ θέλημα τοῦ Θεοῦ τὸ ἀγαθὸν καὶ εὐάρεστον καὶ τέλειον

10.2 – TRADUÇÃO LITERAL DE ROMANOS 12.1,2

v.1 Falo junto a, portanto, vos, irmãos, através de as misericórdias do Deus, postar{dês} junto a os
corpos de vós{por} sacrifício vivo, santo, bem aprazível ao Deus, o racional serviço de vós.

v.2 E não sejais conformados ao esquema de o eón este, pelo contrário, mudai totalmente de forma
pela renovação da mente, para o por{ dês } a prova vós qual a vontade do Deus, a boa, e bem aprazível,
e completa.

10.3 – O TEXTO DA VERSÃO : A BÍBLIA DE JERUSALÉM (EDIÇÕES PAULINAS).

v.1 Exorto-vos, portanto, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais vossos corpos como
hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual.

v.2 E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de
poderdes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito.

10.4 – AVALIAÇÃO DA TRADUÇÃO DA BÍBLIA DE JERUSALÉM

v.1: A versão

Traduz o verbo (Παρακαλῶ) = parakalô como exorto-vos o que me parece ser a melhor tradução,
enquanto outras versões o traduzem como rogo-vos. A tradução da B.J. combina mais com a
característica do apóstolo Paulo pois para ele exortação era um dom.

Traduz o substantivo (οἰκτιρμῶν) = oiktirmôn – que está no plural, no singular misericórdia. Ao


singularizar a palavra, é infiel ao texto original e limita uma interpretação abrangente ao tema As
Misericórdias de Deus.

Traduz o substantivo (θυσίαν) = thusían – como hóstia. Talvez pelo fato do substantivo ser feminino.
Mas, uma vez mais, não é fiel ao texto grego. Pois hóstia é algo que o fiel recebe e o texto fala de algo que
se oferece a Deus. A melhor tradução seria sacrifício. Pois o que está na mente do apóstolo são os
sacrifícios de corpos de animais mortos no contexto do judaísmo.

Traduz o adjetivo (λογικὴν) = logikén e o substantivo (λατρείαν)= latreían – como culto espiritual, já
dando uma interpretação, quando o texto original tem o significado de culto racional, ou seja uso do
raciocínio para cultuar, um exercício de inteligência. Se bem que traduzir como culto espiritual não fere a
compreensão do texto.

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v.2: A Versão

Traduz o verbo (συσχηματίζεσθε) = suskematízeste, que está na vós média/passiva para a vos
ativa: vos conformeis ao esquema. Quando a tradução fiel ao texto seria: sejais conformados ao
esquema. Na vós passiva o sujeito sofre a ação.

Traduz o substantivo (ἀνακαινώσει) = anakainósei, renovação, por renovando que é um verbo no


gerúndio. Apesar de a idéia de uma renovação constante ser lícita e importante, porém, não é fiel ao
texto.

Traduz o verbo (δοκιμάζειν) = dokimázein, pordes à prova, por poderes discernir. Mudando
completamente o sentido do verbo. A tradução de algumas versões por experimenteis é bem mais
aceitável, pois, experimentar é provar.

Traduz os adjetivos neutros (τὸ ἀγαθὸν καὶ εὐάρεστον καὶ τέλειον) = to agatón, kaí euareston kai
télion, como o que é bom, agradável e perfeito. Quando a tradução, respeitando o texto deveria ser: a
boa, agradável e perfeita. Ao optar por tal tradução, mudou o foco, vejamos: O que é bom, agradável e
perfeito foi deslocado para concordar com poderes discernir... o que é bom, agradável e perfeito; E não
com a vontade de Deus que é boa, agradável e perfeita, que é o propósito ressaltado pelo apóstolo.

10.5 ANÁLISE DE CONTEÚDO

10.5.1 – Análise gramatical de Romanos 12.1,2

v.1

1 Παρακαλῶ οὖν ὑμᾶς ἀδελφοί διὰ τῶν οἰκτιρμῶν τοῦ Θεοῦ παραστῆσαι τὰ σώματα ὑμῶν
θυσίαν ζῶσαν ἁγίαν εὐάρεστον «τῷ Θεῷ» , τὴν λογικὴν λατρείαν ὑμῶν

Παρακαλῶ (parakalô) – 1ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo Παρακαλεῶ


(parakaléo) = conclamar, implorar, encorajar, exortar. A preposição Παρα (pará) = para o lado de, perto
de (acusativo) + o verbo καλεῶ (kaléo) = gritar, chamar em voz alta, chamar a atenção. Acentua a idéia
de exortar.

Em Atos 28.14 e 28.20 o sentido é o de “convidar”. Nos sinóticos o sentido é “implorar, suplicar”
(Lc 7.4; Mt 18.29; Mc. 5.12).

Para Paulo “exortação” era um dom (12.8) e ele faz uso em várias ocasiões: Em 1 Co 14.30-31 vê a
necessidade de exigir que os profetas falassem um após o outro em ordem, de modo que todos
pudessem ser exortados. Em Filipenses 2.1, Paulo anima os filipenses a exercitarem-se mutuamente.
Em 1 Ts. 3.2 envia Timóteo para, entre outras coisas, exortar a igreja. Em 1 Ts 4.1; Fp 4.2; Rm 12.1 Paulo
considera que é seu dever seguir o costume normal da igreja primitiva exortando a comunidade.

Os que optaram pelo termo “Rogo-vos” queriam dar uma atitude mais branda por parte do apóstolo,
uma vez que a evidência maior para a epístola é a de uma carta na qual Paulo procura apresentar-se
para uma visita posterior, e portanto precisava ser amável, o que justificaria o “Rogo-vos”.

Já a palavra “exorto-vos” pressupõe maior intimidade e autoridade para com a igreja, como é o caso
das outras epístolas.

Παρακαλῶ οὖν ὑμᾶς ἀδελφοί (parakalô oún humaz adelfoi) = exorto, portanto, a vós irmãos!.

οὖν (oún) = Pois ou portanto. Partícula pospositiva, pode ser entendida também como dando
seqüência a uma narrativa.

32 ETEBES
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Alguns acham que Paulo não está fazendo ligação com qualquer secção particular da epístola, mas
antes uma conexão com tudo o que consta nos onze primeiros capítulos.

Entretanto, se olharmos a doxologia do capítulo anterior (11.33-36) vamos encontrar sentido para a
partícula (οὖν).

v.36 – Porque d'Ele (Ele é a fonte)

e por Ele (Ele é o meio eficaz)

e para Ele (Ele é o alvo de toda a vida).

São todas as coisas (Ele dá sentido a tudo)

Por causa de tudo isso (οὖν), portanto, é que exorto-vos a uma dedicação total de vida.

διὰ τῶν οἰκτιρμῶν τοῦ Θεοῦ (dia tôn oiktirmôn tou theou) = através das misericórdias de Deus.

διὰ (dia) – Preposição que, como é o caso, usada com o genitivo tem o sentido de “meio” quando
ligada a pessoa ou instrumentalidade “pela”, melhor seria: “através de”.

τῶν οἰκτιρμῶν τοῦ Θεοῦ (ton oiktirmôn tou theou) = as misericórdias de Deus. Estamos diante de
um genitivo subjetivo plural. As misericórdias pertencem a Deus e são oferecidas aos homens.

οἰκτιρμῶν = Compaixão, graça, favor. (οἰκτος-oiktos) significa “Lamentação” ou “pena” pela


morte de uma pessoa. O verbo οἰκττεἰρo (oiktteiro) também οἰκττἰζῶ (oitizo), significa “ter
compaixão”, “compadecer-se”, tanto no sentido de mero sentimento quanto da ação misericordiosa
dinâmica.

Algumas versões traduzem οἰκτιρμῶν (oiktirmôn) como Compaixão (MT, RA, AA) em outras como
Misericórdia (BJ). A palavra está grafada no plural e isto (segundo Russel Champlin N.T.I.V.V.) se deve a
hebraísmo, através da septuaginta, que penetrou no N.T., pois no hebraico esse termo aparece
regularmente no plural, provavelmente como meio de elevar o concerto.

A forma plural é natural aqui, pois expressa a multiplicidade da graça divina. Se entendermos como
plural “As misericórdias de Deus” poderíamos supor que Paulo estivesse se referindo a algumas
“misericórdias” já mencionadas nos capítulos anteriores como:

A misericórdia da Justificação (Rm 3.24,28)

A Misericórdia da Identificação nos crentes em Cristo pelo batismo (Rm 6.3)

A Misericórdia da Reconciliação (Rm 5.10)

A Misericórdia da Graça Super abundante (Rm 5.20,21)

A Misericórdia da permanência do Espírito Santo em cada um dos remidos (Rm 8.9)

A Misericórdia da Eleição Divina (Rm 8.28,29).

A Misericórdia da Segurança Eterna (Rm 8.39).

A Misericórdia da Glorificação Final (Rm 8.29,30).

A Misericórdia da Herança que possuímos em Cristo (Rm 8.17).

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33
παραστῆσαι (parastêssai) – 1º aoristo infinitivo do verbo παριστῆμι (para, (pará) & ιστῆμι
(ístemi)) = Colocar ao lado, depositar, separar para um propósito especial. (Rm 6.13,19).

θυσίαν (Thusían) – Sacrifício, oferta. O substantivo θυσίαν significa o ritual do sacrifício e traduz
(minhâh no hebraico) que significa “uma dádiva”, “um presente” (Gn 32.14,19,21-22; Jz 6.18; Gn
4.3ss). Tem no grego secular o significado de “sacrificar”, embora originalmente, em conexão com
a oferta com fumaça significasse “fumegar”.

ζῶσαν ἁγίαν (Thusían Zosan) = Sacrifício “vivo” – Acusativo singular feminino, particípio
presente. Pode ser traduzido também como “Sacrifício de vida”.

ἁγίαν εὐάρεστον τῷ Θεῷ (hágion euareston tô Theô) = “Santo” e “agradável” a Deus.

ἁγίαν (hágian) = Adjetivo acusativo feminino singular – “Santo”. Os gregos empregavam três
palavras diferentes para denotar aquilo que é “santo”.

Ί'ερoς (hierós) – Denota aquilo que é essencialmente “santo” ou “tabu”, o “poder divino” ou
aquilo que era consagrado a ele, como “santuário”, “sacrifício”, “sacerdote”.

ἁγί oς (hágios) – É o grupo de palavras mais freqüente no NT e contém um elemento ético. Enfatiza o
“dever de adorar aquilo que santo”.

O'σίoς (hósios) – Também inclina nesta direção. De um lado, indica o mandamento e a providência
de Deus do outro a obrigação e moralidade humanas.

εὐάρεστον τῷ Θεῷ (euáreston to Theô) = aceitável, agradável a Deus.

εὐάρεστον (euáreston) = (εὐ = -advérbio, bem, bom- & άρεστον– verbo, ser aceito). A junção das
duas palavras formam o advérbio – aceitável, agradável.

τῷ Θεῷ (ao Deus) – O dativo, forma em que as palavras estão grafadas, dá-nos a noção exata do
propósito. O artigo quase toma a forma de uma preposição (Para). O sacrifício cumpre o propósito de
agradar a Deus.

τὴν λογικὴν λατρείαν ὑμῶν (ten logikén latreían humôn) = O vosso culto racional.

λατρείαν (latreían) = serviço, culto (a Deus) – Substantivo. Palavra derivada de λατρεὑῶ (latreúo)
Aoristo. Servir, prestar um serviço religioso a Deus. Celebrar um culto a Deus. Que por sua vez vem
de λατρῶν (latrón) = “salário”. No grego secular significa “trabalhar por salário”, e depois “servir
sem salário”. Posteriormente ganhou uso ritual “honrar aos deuses”.

λογικὴν (logikén) = racional. A raiz deste termo, no original, vem da palavra “λογos” (logos) que
significa o princípio divino da razão universal. Em o novo testamento como visto em Romanos 12.1
tomou o sentido de: racional, espiritual, pertencendo à mente e ao espírito. Dando a entender um culto
com a convicção da inteligência.

v.2

2 καὶ μὴ συσχηματίζεσθε τῷ αἰῶνι τούτῳ ἀλλὰ μεταμορφοῦσθε τῇ ἀνακαινώσει τοῦ νοός εἰς τὸ
δοκιμάζειν ὑμᾶς τί τὸ θέλημα τοῦ Θεοῦ τὸ ἀγαθὸν καὶ εὐάρεστον καὶ τέλειον

καὶ μὴ συσχηματίζεσθε (kaí mé suskematízesthe) = verbo imperativo na vós média ou passiva = e


não sejais conformados.

συσχηματίζεσθε (συσ + σχηματίζεσθε).

συσ = associativo instrumental, expressando cooperação, intimidade.

34 ETEBES
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σχηματίζεσθε de (σχημα - skéma) = “forma”, “aparência exterior”. (συχηματίζῶ) suskematizo =
“moldar” , “formar conforme’’ - passivo “ser conformado como”, “ser conformado a”. O
pensamento grego não fazia nítida distinção entre o externo e o interno. σχημα – skéma , significa a
forma que é vista. A forma externa. Para a mente grega, o observador via, não somente a coisa externa,
como também a forma interna ao mesmo tempo.

(σχηματίζῶ) skematizo = Significa, não somente “conformar-se à forma externa”, como também
assumir a forma de alguma coisa ou identificar-se com outra pessoa de modo essencial.

τῷ αἰῶνι τούτῳ (tô aiôni touto) = o presente século. O termo αἰῶνι (aiôni) indica “era” ou
“época”. Esta palavra utilizada por Paulo, não é a palavra grega “kosmos” que significa o mundo
físico, o mundo dos homens.

Há vários sentidos para a palavra αἰῶνι

1 Um tempo extremamente longo, a eternidade, tanto a passada como a futura (Gn 6.4 e At 15.18);

2 A era presente, simplesmente como idéia temporal, o estado de coisas que envolve o período
(Mt.13.22 e Romanos 12.2).

3 O mundo material (Hebreus 1.2);

4 As condições naturais do homem, o mundo e o seu caráter (1 Cor 1.20).

5 Algumas vezes é utilizada para referir-se à era vindoura, no sentido do “período messiânico” (Mc
10.30, Lc. 18.30).

O termo usado por Paulo se aplica mais ao segundo sentido “a era presente” .

Por trás da palavra αἰῶνι (aiôni) está o conceito judaico de um “presente século mau” (Gl 1.4).

ἀλλὰ μεταμορφοῦσθε (allá metamorfústhe) = pelo contrário, mudai de forma.

ἀλλὰ (allá) = pelo contrário, mas, porém, contudo. Conjunção super ordenativa.

μεταμορφοῦσθε = 2ª pessoa, plural, presente, imperativo passivo.

μετα (metá) = Em composição com outras palavras, como é o caso, sua idéia mais fluente é como
(Trans) apesar de também significar ( Com). Meta + Morfoô significa mudar a forma exterior,
transfigurar-se.

Ao contrário de σχημα (skema) e eidos (eidos) a palavra μορφε (morfé) está mais relacionada com o
ser total, e não somente com a aparência externa.

τῇ ἀνακαινώσει τοῦ νοός (tê anakainósei tu noos) = Pela renovação da vossa mente.

ἀνακαινώσει (anakainósei) Substantivo, dativo, feminino, singular. (ἀνα + καινοσ) ἀνα (aná) = De
novo + καινοσ (kainós) novo, significando renovação.

Novo e Velho são idéias correlativas e contrárias. Aquilo que é novo fica em contraste com o que já
existia no princípio.

καινοσ (kainós) novo – Denota aquilo que é novo quanto à qualidade, em relação ao que já existia,
enquanto que (νεοσ– neos) se emprega temporalmente para aquilo que não existia antes e que acaba
de aparecer.

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35
Os sinóticos usam NEOS E KAINÓS como sinônimas (Mc 2.21-22). O substantivo ἀνακαινώσει
(anakainósei) “renovação”, não é conhecido fora da literatura cristã, e se acha apenas (2 vezes) em o
N.T. Em Romanos 12.2 e em Tito 3.5.

νοός (noos) = substantivo, genitivo, masculino, singular - “mente”, “razão”, “entendimento”.

Este substantivo, se acha nos escritos paulinos, inclusive Efésios, Colossenses e Pastorais, tem
significado de “mente” “capacidade de julgar”, “entendimento” (2 Ts 2.12). É colocado lado a lado
com a consciência (Tt 1.15).

εἰς τὸ δοκιμάζειν (eis to dokimázein) = para o por à prova.

εἰς (eis) = Preposição, acusativo. Para.

δοκιμάζειν (dokimázein) = Verbo, infinitivo, presente, voz Ativa, acusativo = por à prova,
experimentar. “Provar por meio de teste”. O infinitivo com preposição expressa o propósito ou
resultado.

τί τὸ θέλημα τοῦ Θεοῦ (ti to thélema tu theú) = qual a vontade do Deus.

θέλημα (thélema) = Substantivo, nominativo, neutro, singular = Vontade. Há duas palavras no grego
para designar “vontade”.

1 Bοῦλη (Boúle) = vontade. Mais no sentido de indicar a volição humana (I Tm 2.8; 5.14; Tt 3.8), isto
é os impulsos da consciência humana. É também usada como atribuída a Deus (Ef. 1.11 e Hb. 6.17).

2 θέλημα (thélema) = vontade. Este vocábulo é usado com mais freqüência para designar “a
vontade de Deus”, principalmente nos escritos paulinos.

τὸ ἀγαθὸν καὶ εὐάρεστον καὶ τέλειον ( to agatón kaí euáreston kaí téleion) = adjetivos, nominativos,
neutros, singulares = a boa, e bem aprazível/agradável, e completa/perfeita.

Recursos :

Novo Testamento Interlinear

Grego Analítico

Gramática Grega

Chave Lingüística do Novo Testamento

Dicionários Grego – Português

10.5.2 – Análise Histórica


Contextualização – Um estudo adequado sobre a natureza da vontade de Deus à luz de Romanos
12.1-2 não pode ser feito sem uma consciência das atitudes e estruturas políticas, culturais e religiosas
existentes no período.

A Cidade de Roma – A capital do império romano chamava para si o título de principal cidade do
império, maior que Atenas, Alexandria e Antioquia. Situava-se na parte ocidental do Mundo romano e
tinha ligações íntimas com as áreas mais importantes e remotas de seu domínio. Roma se impunha em
todas as questões imperiais, política, sociais, militares, comerciais e religiosas.

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36 ETEBES
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Estava a 19 km da costa, o que lhe dava proteção de ataques
marítimos. Suas muralhas se estendiam e rodeavam sete
montes, entre os quais o Capitolino e o Palatino são os mais
importantes, pois neles se localizava o fórum, sede
administrativa do império, que incluía sob seu domínio as
regiões fronteiriças do Mediterrâneo, os países do Oriente
próximo e do Oriente médio, a Bretanha e países do norte da
África.

Roma foi edificada através de conquistas e mantida pela sua


força militar, competência administrativa e grande comunicação
facilitada por estradas muito boas que comunicavam com as
mais longínquas partes do império.

Roma era uma cidade rica, graças aos empreendimentos


comerciais. Gente de toda parte se dirigia a ela e lá participava
do que a cidade oferecia. Sua opulência e luxúria eram em parte
mantidas pelos escravos que na sua maioria (800.000 de uma
população de 1.500.000) trabalhava nas casas dos mais
Fonte: Pixabay - Sculpture
abastados.

Apesar da língua oficial ser o latim, a falada era o grego.

Na época da epístola de Paulo aos romanos, Roma vivia o período do império, isto é, o terceiro
período, antecedido pelo da Realeza, que se caracterizou pelo culto doméstico (deuses familiares) e o
culto oficial (deuses do panteon), mas não havia moralidade nesses cultos, onde em muitos deles havia
orgias. O segundo período foi o da República, onde a religião doméstica sofre um declínio e o culto oficial
uma degradação.

O período imperial teve seu início em 31 a.C, com o aparecimento de Otávio Augusto que realizava
internamente grandes reformas de ordem financeira, judiciária, administrativa, social, moral e religiosa.

No terreno religioso Augusto procura reanimar o decadente politeísmo romano. Alguns cultos
orientais foram introduzidos. Do Egito, apesar da oposição de muitos romanos, várias divindades vieram
para a capital do império angariando muitos adoradores.

Um culto oriental que merece menção é o de Mitra. Era uma religião de luta, de esforço e de disciplina,
e como tal convinha perfeitamente ao espírito dos legionários. Era um culto exclusivo aos homens. Foi
aceito com entusiasmo pelos soldados.

Ao se falar em Roma, não se pode deixar de mencionar a presença do Cristianismo, que começou
com a data do Pentecostes (At 2.1 e ss). Tal propagação foi facilitada pela helenização e pela
romanização.

A língua do helenismo comum (Coiné) passou a ser escrita e falada em todo o mundo grego.

Enquanto na Palestina a população israelita se opunha violentamente e decididamente ao


Helenismo, as comunidades judaicas dispersas nas principais cidades foram, aos poucos, integrando-
se à nova civilização, sem contudo desvincular-se totalmente da velha prática.

Com os costumes da civilização helenística, os Judeus da diáspora adotaram a língua comum e


esqueceram o idioma pátrio. Daí, a necessidade da versão dos livros sagrados para o grego.

Os judeus da diáspora, em contato com os gentios, não se limitavam somente a uma atitude passiva
de assimilação de elementos da civilização helenística. Assim é que os judeus não descuravam do
proselitismo e conseguiram êxitos notáveis entre os gentios. Mas por seu lado, os gentios não aderiam
completamente ao judaísmo, especialmente por causa da circuncisão.

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37
O culto ao imperador era um dos meios que Roma utilizava para fomentar a unidade e a lealdade de
seu império. Negar-se a render a esse culto era visto como sinal de traição ou pelo menos de
deslealdade.

A Igreja em Roma – Quem teria fundado essa igreja? Não há


dados totalmente evidente sobre a origem e história do início do
cristianismo em Roma.

Descartando a possibilidade de Paulo ser o fundador, Donald


G. Barnhouse menciona a ocasião quando o próprio apóstolo
disse: “e desta maneira me esforcei por anunciar o
evangelho não onde Cristo houvera sido nomeado, para
não edificar sobre fundamento alheio: antes como está
escerito: Aqueles a quem não foi anunciado, o verão, e os
que não ouviram o entenderão” (Rm 15.20-21).

A maioria dos teólogos concorda. A carta aos Romanos


mostra que Paulo era desconhecido de seus leitores ao tempo
de sua escrita. Ele nunca havia estado em Roma (Rm 1.13).

Quanto à fundação da igreja em Roma por Pedro, é uma


tentativa da tradição romana que não pode ser aceita. A tradição
romana se baseia apenas em Atos 12.17 “...viajou para outro
Fonte: Pixabay - Cloister
lugar”, para dizer que esse outro lugar é Roma.

Há concordância em aceitar a fundação da igreja em Roma por crentes convertidos no Pentecostes


que, retornando a Roma, ali plantaram as bases do evangelho, estabelecendo-se em igreja.

Quais as características da igreja à época da epístola?

A tradicional opinião era de a igreja ser constituída de judeus-cristãos. Primeiramente foi abordada
por Koope em 1824, ganhou uso geral através de Baur, para em seguida alcançar uma generalização
posta a prova em 1836 sob grande escala crítica (NICOLL, Robertson. The expositor's greek
testament. Grand Rapids Michigan, Eerdmans, 1980.p.557.)

A grande massa da igreja parecia ter sido gentílico-cristã, apesar de lá ter havido, sem dúvida, uma
minoria de judeus-cristãos. Algumas passagens demonstram ser a igreja composta principalmente de
gentios (1.5,6; 1.13; 11.13; 11.28-31; 15.15,16) outras o contrário (2.17; 3.1; 4.1; 7.1-4).

O abismos que separava judeus de gentios era largo e profundo; porém, a graça atravessou o abismo
e construiu sobre ele uma ponte. Cristo derrubou a muralha que existia entre eles em Roma. O judeu e o
gentio, o escravo e o livre, o educado e o ignorante, todos eram iguais naquela sociedade cristã, a igreja
em Roma.

A Epístola – A epístola de Paulo aos romanos, denominada por Martinho Lutero de “a verdadeira
obra prima do Novo Testamento”, é a mais lógica, profunda e vital apresentação do propósito de Deus
na salvação que se encontra na Bíblia. Enquanto outros livros da Bíblia contêm discussões da doutrina
cristã, Romanos fornece a estrutura teológica para uma compreensão total da mensagem cristã.

A autoria da carta aos romanos – A autoria paulina não é somente para ser apreciada para merecer
o tema central da epístola, outros fatos evidenciam Paulo como autor. Paulo era Judeu, ele conhecia a
mente do judeu, foi perseguido pelos seus por causa do evangelho, mas essa hostilidade e perseguição
não apagou seu amor por eles e seu desejo por sua salvação (Rm 10.1). Outro fato importante, Paulo
era o apóstolo aos gentios (At. 13,47,48; 15.12; 18.6,7,22.21;26.17; Gl 2.2,8; Ef. 3.8; I Tm 2.7). Nesta
epístola nós não temos somente referência a este fato (11.13; 1.13), mas a escrita da epístola caminha
para o sentido de comissão e obrigação associada a isto. O apóstolo tinha o particular desejo de
“garantir” o cristianismo em Roma. Ele freqüentemente desejou ir lá (1.11-13; 15.22-29). Preferiu pelo

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cumprimento do seu desejo através da escrita da epístola, como extensão da sua missão apostólica.

Data, Lugar, Ocasião – Quando relacionamos com os movimentos feitos por Paulo no livro de Atos,
existem suficientes indicações nessa epístola para determinar com razoável certeza o lugar e o tempo
da escrita. Isto é claro quando ele estava na véspera de partir para Jerusalém com a contribuição tirada
em Macedônia para os pobres entre os crentes em Jerusalém (Rm 15.25-29).

Isto poderia significar que ele estava perto da Macedônia e Acaia. A referência a Cencréia (Rm 16.1),
o porto de Corinto e a recomendação a Febe, uma serva da igreja lá, quando aparentemente era seu
desejo ir a Roma, são futuras indicações do paradeiro do apóstolo quando ele escreve a carta.
Posteriormente, ele fala de Gaio, seu companheiro e hospedeiro (Rm 16.23). Em uma de suas cartas a
Corinto ele fala de Gaio um dos que ele batizou em Corinto (I Co 1.14).

Não há razão para se duvidar da identidade do seu hospedeiro, quando ele escreve Romanos,
igualmente a Gaio de Corinto.

Em Atos 20.2-3, nós somos informados de Paulo em sua terceira viagem missionária indo à Grécia e
permanecendo ali três meses. Em seguida ele parte para Jerusalém passando pela Macedônia. Zarpou
para Filipos no dia dos pães asmos (At 20.6) e foi apressadamente para estar em Jerusalém no dia de
Pentecostes. Isto quer dizer que ele saiu de Corinto não antes do fim de março desse ano. Paulo fala de
si mesmo antes de se submeter a Félix, de sua jornada a Jerusalém e diz que foi levar esmolas e ofertas
à sua nação (At 24.17). Há muito boas razoes para identificar esta apresentação de ofertas de
contribuição tirada na Macedônia e Acaia referida em Rm 15.26. A evidência quer dizer, portanto, que a
epístola foi escrita de Corinto em proximidade do fim dos três meses da estada de Paulo na Grécia ou
término da sua terceira viagem missionária. A referência ao dia dos pães asmos (At 20.6), ocasião da
viagem para Filipos em fins de março ou início de Abril de 55 ou 56 d.C. Isto significa que a epístola deve
ter sido escrita na primavera do ano.

Propósito – Paulo não conhecia pessoalmente os crentes em Roma, então procura, através da
epístola, manter contato com eles. Pensando então na sua futura visita, sente a necessidade de iniciar
logo suas relações com aqueles irmãos em Roma, de quem vai depender como auxiliares da obra futura
que tinha em mente.

Paulo, ao dirigir-se à comunidade, não o faz para lá trabalhar como missionário, pois como ele mesmo
disse: “não edifico sobre fundamento alheio”, mas por outro lado ele se apresenta como “ministro
de Jesus Cristo para os gentios” (15,16).

O Propósito da visita seria para também fortalecer a fé dos fiéis em Roma (1.11,15), pretendia
também obter ajuda financeira deles para sua projetada missão à Espanha, depois de tê-los visitado
(15.24,28).

A epístola também é de natureza didática, pois nem tudo o que Paulo escreveu visou dar solução a
algum problema. Seus estudos sobre a doutrina da graça e da fé (1-5), seu estudo sobre a vida piedosa
sobre a graça de Deus (6), seu tratamento sobre matrimônio (7), e sua seção prática geral sobre a moral
e a conduta cristã (12-15), tem por propósito ensinar, informar e iluminar e não meramente resolver
problemas.

Recursos :

A Bíblia (AT e NT) Comentários Bíblico-teológicos

Concordâncias Bíblicas Chave Lingüística

Literatura sobre o mundo do NT Introduções Bíblicas.

Dicionários Bíblicos

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10.5.3 – Análise Teológica

Romanos 12.1.

A Compaixão ou Misericórdias? Algumas versões traduzem οἰκτιρμῶν (oiktirmôn) como


Compaixão (MT, RA, AA) em outras como Misericórdia (BJ). A palavra está grafada no plural e isto
(segundo Russel Champlin N.T.I.V.V.) se deve a hebraísmo, através da septuaginta, que penetrou no
N.T., pois no hebraico esse termo aparece regularmente no plural, provavelmente como meio de elevar
o concerto.

A forma plural é natural aqui, pois expressa a multiplicidade da graça divina. Teológicamente,
Paulo dá à exortação uma base específica. Não é uma mera instrução moral, mas dirige-se a eles
“através de” ( διὰ) Deus ou Cristo, de tal maneira que considera sua exortação administrada “pelas
misericórdias de Deus”; pode-se comparar com II Coríntios 1.3 onde Deus é chamado de “Pai das
Misericórdias”.

Assim entendemos que Paulo se utilizou das várias demonstrações das misericórdias divinas para
com os homens a fim de demonstrar-lhes a necessidade de uma vida diária moldada segundo a Sua
vontade. Pois mediante as Suas misericórdias os homens aprendem que a vontade de Deus em suas
vidas é benigna.

B Que apresenteis os vossos corpos (παραστῆσαι τὰ σώματα ὑμῶν) – O apóstolo está aqui
negando a idéia gnóstica que dizia ser o corpo a sede ou princípio do pecado, ao passo que a alma é
pura e que com a morte do corpo a alma é liberada do pecado.

Ao usar o vocábulo “corpo” (σώματα) Paulo certamente não pensava que somente o corpo e não
a alma pode ser corrompido e usado erroneamente, ou que somente o corpo pode ser oferecido a Deus
como algo apropriado. Mas, ele usa o termo para indicar o instrumento que o homem possui para ser
empregado no serviço de Deus. (Rm 6.13,19; II Cor. 5.10 e Rm 7.5,23). A nós é ordenado que
glorifiquemos a Deus “no corpo” (I Cor 6.20: Fp 1.20 e II Co 4.10). Pode haver o corpo do pecado, isto é,
o corpo controlado pelo pecado, o que torna o indivíduo inteiramente escravo do pecado (Rm 6.6; Cl
2.11). O Escravo não é dono de si, mas faz a vontade do seu senhor. A questão então é: De quem somos
escravos!

C Sacrifício “vivo” (θυσίαν ζῶσαν – thusian zosan). Ao exortar os cristãos em Roma a


oferecerem a Deus seus corpos como sacrifício, Paulo usa a linguagem sacrificial metaforicamente,
para que houvesse perfeito entendimento por parte dos seus leitores.

Paulo vê a vida cristã como um sacrifício. Algo que é oferecido a Deus como reconhecimento da
sua misericórdia. A dedicação a Deus tinha que ser total.

O termo pode ser traduzido também como “sacrifício de vida”.

Como o corpo pode tornar-se um sacrifício vivo? Aqui Paulo introduz algo novo, em contraste aos
sacrifícios mortos do judaísmo. A nova ordem tem também seus sacrifícios, que consistem nas vidas de
outrem (Hb 13.15ss; I Pe 2.5). Mas podem também significar a vida nova que o crente possui em Cristo
(Rm 6.1-4; 2 Co 5.17; Gl. 6.15). Uma vez que o homem velho que estava sob o pecado foi crucificado
com Cristo (Rm 6.6) já não há mais sentido oferecer-se a Deus um sacrifício morto (Rm 6.23). Este
sacrifício vivo deve ser prestado pelos membros do corpo e por todo o corpo.

É provável que Paulo estivesse pensando nos cultos pagãos, onde as orgias sexuais (Rm 6.13)
eram uma depravação do corpo, uma corrupção do que Paulo chama de “templo do Espírito Santo” (I
Co 6.15,19).

O corpo, aqui, não é apresentado para ser morto, uma vez que já o foi, (Rm 6.2; 7.4,6). Agora o
corpo é um sacrifício de vida apresentado a Deus.

40 ETEBES
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D Santo e “agradável” a Deus (ἁγίαν εὐάρεστον τῷ Θεῷ) – Como em o Novo Testamento o
sagrado já não está mais preso a coisas ou lugares, o cristão é convocado a ser sacerdote de si mesmo,
e assim “oferecer a Deus um sacrifício vivo, santo e agradável”.

A santidade do sacrifício é uma condição indispensável para ser aceito por Deus (sem mancha)
como Cristo (sem pecado). Em sentido mais amplo, “santidade” dá a entender um relacionamento com
Deus que não se expressa principalmente através do culto, mas sim, através do fato dos crentes serem
guiados pelo Espírito Santo (Rm 8.14).

O apóstolo Pedro parece ampliar mais o pensamento de Paulo (I Pe 2.5) e novamente a idéia do
sacerdócio cristão. A maneira como se oferece o sacrifício “santo”, não profano ou indigno a Deus.
Santidade é contrastada com a corrupção que caracteriza o corpo do pecado e com o desejo sensual.

O sacrifício precisa ser (εὐάρεστον - euareston) “aceitável”, “agradável” a Deus. Este vocábulo
traduz o termo hebraico (hãlak) “andar” com Deus. (Gn5.24) Enoque andava com Deus ou Enoque
agradava a Deus.

É uma referência ao tipo de sacrifício oferecido a Deus. Isto significa que não é todo sacrifício que
Deus aceita. É preciso que seja “vivo” (de vida), “santo” e “satisfatório”. Cabe lembrar que em II
Coríntios 5.10 Paulo diz: “onde os remidos serão julgados acerca do uso do corpo, para efeito de
recebimento dos galardões, e não para efeito da salvação”.

A totalidade da existência do cristão deve ser oferecida a Deus (II Co 5.9). Qualquer pessoa que
serve a Cristo retamente, agrada a Deus e é reconhecido por Ele (Rm 14.18). Devemos portanto orar
para que Deus opere em nós por meio de Cristo, aquilo que é agradável aos olhos d'Ele (Hb 13.21).

E Culto Espiritual (λογικὴν λατρείαν – logiken latreian) – O culto prestado por vidas obedientes é
a única resposta “racional”, “lógica” à graça de Deus.

Vários sentidos podem ser dados à palavra λογικὴν (logikén) 1. Racional, 2. Razoável, 3.
Espiritual. O termo “Culto Espiritual” é o que melhor se aplica, uma vez que o termo “racional” pode
dar a idéia de que tudo o que Paulo contemplava era de acordo com a razão.

O culto espiritual, pois, é nossa adoração apropriada. É verdade que o culto cristão também é
“razoável” e “racional”. Não é algo mecânico e simbólico apenas.

Uma vez, estando já sob a era do Espírito Santo, é de se esperar um sacrifício espiritual, vivo,
agradável a Deus. Pois é a tais que o Pai procura, disse Jesus: Adores que o adorem em Espírito e em
verdade.

Romanos 12.2.

A E não tomeis a forma deste mundo, pelo contrário, transformai-vos (καὶ μὴ συσχηματίζεσθε
τῷ αἰῶνι τούτῳ ἀλλὰ μεταμορφοῦσθε) – O presente século impõe uma pressão muito grande sobre
os cristãos, para que tomem a forma de suas maneiras e valores decadentes. Assim Paulo exorta aos
cristãos em Roma a resistirem aos ataques do presente século (I Pe 1.14). Pois só assim, pelo poder do
Espírito em cada um, como penhor, a herança no século vindouro será assegurada (II Cr. 5.17).

Provavelmente a igreja em Roma estava exibindo um comportamento mundano, através de: Modas
mundanas (roupas sensuais-coloridas – isto porque o comum era roupa simples, incolor), e outros. Ou
até mesmo foi uma advertência quanto a um possível envolvimento com o mundo em que viviam.

μεταμορφοῦσθε (metamorfúste) – (transformai-vos). Não se trata de uma mera mudança de opinião


ou de adoção de um novo ponto de vista moral. É uma transformação e mudança completa, uma
renovação total do homem interior e exterior.

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Este verbo é usado em Mateus 17.2 e Mc. 9.2 para descrever a transfiguração de Jesus. Fala da
mudança de sua aparência humana em uma de glória.

Em II Co 3.18 descreve-se a mudança dos crentes na imagem de Cristo “de glória em glória”.
Uma das ameaças mais persistentes contra a vida consagrada é a atração exercida pelo meio-
ambiente em que vivemos.

B Pela renovação da vossa mente (τῇ ἀνακαινώσει τοῦ νοός) (tê anakainósei tu noos)) – (νοός)
“mente”, “razão”, “entendimento”. A partir de Kant, a razão tem significado a gama total dos poderes
intelectuais do homem, colocando numa só unidade as faculdades individuais do pensamento, do
conhecimento e do entendimento.

O termo grego noos é capaz de abranger todos os instrumentos da percepção sensorial. A


faculdade intelectual, capaz de perceber coisas divinas, de reconhecer o bem e o mal.

Noos, (νοός ) no sentido de “entendimento correto” leva a uma atitude mental correta. Os
pagãos têm uma atitude mental incorreta, porque falta-lhes o conhecimento de Cristo (Ef 4.17).

Os cristãos, por outro lado, devem ser renovados no Espírito da sua mente (Ef 4.23). Essa
renovação é de caráter espiritual. A mente renovada pela novidade do Espírito.

Na realidade, é a própria alma ou espírito que terá de passar por essa renovação do Espírito (Rm
7.23). O Espírito sustenta e enche a mente do cristão. A transformação se opera pela renovação da
mente.

Hoje, este processo é chamado de Santificação e Regeneração. Quando o crente vai se despindo
do poder do pecado, e vai adquirindo as virtudes espirituais positivas de Deus. Tal homem vai
caminhando pelo novo caminho, compartilhando da mente de Cristo, ao invés de ser dominado pela
mente carnal (I Co 2.16).

C Bούλημα ou θέλημα – Boulema ou thelema? – Nos escritos paulinos, θέλώ e θέλημα são
frequentemente usados para descrever a vontade de Deus. A thelema tou theou denota a vontade
salvífica de Deus, eterna e providencial. É exclusivamente a esta vontade de Deus que Paulo deve seu
apostolado (I Co 1.1; 2 Co 2.1; Ef. 1.1,2; 2 Tm 1.1).

A liberdade de ação divina não depende do esforço humano e de igual modo a resistência humana
não impede a ação divina (Rm 9.17). Esta é a vontade irresistível de Deus.

Isto significa que Deus está no controle. Ele realiza sua vontade na história: Faz tanto os
obedientes quanto os desobedientes servirem ao seu plano salvífico (Rm 9.18).

Em Romanos 2.17 e seguintes o escriba pensa que conhece a vontade de Deus a partir da Lei,
mas a própria contradição entre seu ensino e seu próprio comportamento trai o fato de que a vontade de
Deus ainda não foi compreendida.

Bούλημα (Boulema) – Geralmente denota a volição humana (I Tm 2.8; 5.14) “a minha vontade é
que faças”, uma exigência do apóstolo sem qualquer relevância teológica.

No N.T. resulta na vontade mais como “orientação mental” e portanto deve ser traduzida por
“intenção”, “pretensão”. Denota as decisões intencionais de Deus. Já thelema a vontade como
intento e poder de realizar.

Então, quando falamos de “vontade de Deus”, podemos ter duas idéias:

A Podemos estar aludindo àquilo que Ele quer que façamos Bούλημα (Boulema).

B Podemos estar aludindo àquilo que Ele decidiu que faremos θέλημα – (thelema).

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Isto significa que, embora Deus decida fazer tudo com base na sua vontade, ele nem sempre verá
esse querer satisfeito.

Por exemplo: Deus gostaria que todos fossem salvos (2 Pe 3.9), mas não irá coagir ninguém a
aceitar sua oferta (boulómenos).

Por outro lado, quando decidiu sobre o sacrifício de Jesus na cruz (Mt 26.42) a sua vontade é
irresistível (thelema).

Deus gostaria que todos os crentes colocassem em prática os seus desejos para a vida deles,
descobrissem e seguissem o seu plano, e algumas vezes parece que arranja nossas circunstâncias de
forma a ajudar-nos a procurar fazer a sua vontade, mas Ele jamais força sobre nós a sua vontade. A
decisão continua nossa.

Recursos :

Como subsídios para este passo exegético são indicados:

Comparar conteúdo com outros textos com ajuda de chaves ou concordâncias bíblicas;

Teologias bíblicas

Teologias do Novo Testamento

Dicionários bíblico-teológicos;

Manuais de Teologia

Comentários Bíblicos.

10.5.4 Nova Tradução de Romanos 12.1.2

v.1

Exorto-vos, portanto, irmãos, fundamentado nas misericórdias de Deus, que ofereçais os vossos
corpos a Deus, como sacrifício vivo, santo e agradável que é o vosso culto espiritual.

v.2

E não sejais conformados ao padrão deste século mau, pelo contrário, mudai completamente de
forma, pela renovação da vossa mente, para poderdes experimentar a vontade de Deus que é boa,
agradável e completa.

Esta tradução pode ser justificada com os seguintes comentários:

V.1

Por se coadunar melhor com o estilo e característica do apóstolo Paulo, foi preferível optar pela
palavra “exorto-vos” em vez de “rogo-vos”.

Algumas versões traduzem οἰκτιρμῶν (oiktirmôn) como Compaixão (MT, RA, AA) em outras como
Misericórdia (BJ). A palavra está grafada no plural. A forma plural é natural aqui, pois expressa a
multiplicidade da graça divina. Ao aceitar a forma plural “As misericórdias de Deus” entendemos que
Paulo estivesse se referindo a algumas “misericórdias” já mencionadas nos capítulos anteriores
como: A misericórdia da Justificação (Rm 3.24,28); A Misericórdia da Identificação nos crentes em Cristo
pelo batismo (Rm 6.3); A Misericórdia da Reconciliação (Rm 5.10); A Misericórdia da Graça Super

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abundante (Rm 5.20,21); A Misericórdia da permanência do Espírito Santo em cada um dos remidos
(Rm 8.9); A Misericórdia da Eleição Divina (Rm 8.28,29).; A Misericórdia da Segurança Eterna (Rm
8.39); A Misericórdia da Glorificação Final (Rm 8.29,30); A Misericórdia da Herança que possuímos em
Cristo (Rm 8.17).

Optou-se por traduzir λογικὴν λατρείαν (logikén latreían) = culto racional , por culto espiritual, por
entender que culto racional faria o leitor pensar em algo mecânico, prestado somente com o raciocínio
e não com a presença e ação do Espírito Santo que é largamente explicitado pelo apóstolo. Enquanto
que culto espiritual assimila o fato de ser ele “um culto inteligente”.

V.2

Para ser fiel ao texto, a expressão: καὶ μὴ συσχηματίζεσθε (kaí mé suskematízesthe) = verbo
imperativo na vós média ou passiva = e não sejais conformados, foi escolhida. Pois se trata de uma
atitude de não se deixar dominar por uma ação que vem de fora. E não uma ação que parte do sujeito.

A expressão τῷ αἰῶνι τούτῳ (tô aiôni touto) = o presente século. O termo αἰῶνι (aiôni) indica
“era”ou “época” foi escolhido pelo fato de haver vários sentidos para a palavra αἰῶνι: 1.Um tempo
extremamente longo, a eternidade, tanto a passada como a futura (Gn 6.4 e At 15.18); 2. A era presente,
simplesmente como idéia temporal, o estado de coisas que envolve o período (Mt.13.22 e Romanos
12.2); 3. O mundo material (Hebreus 1.2); 4. As condições naturais do homem, o mundo e o seu caráter
(1 Cor 1.20); 5. Algumas vezes é utilizada para referir-se à era vindoura, no sentido do “período
messiânico” (Mc 10.30, Lc. 18.30).

O termo usado por Paulo se aplica mais ao segundo sentido “a era presente”. Por trás da palavra
αἰῶνι (aiôni) está o conceito judaico de um “presente século mau” (Gl 1.4).

ἀλλὰ μεταμορφοῦσθε (allá metamorfústhe) = pelo contrário, mudai de forma. Esta foi a expressão
mais apropriada, pois o termo transformai-vos, poderia significar simplesmente uma mudança
superficial. Enquanto que mudar de forma deixa claro que precisa haver uma transformação completa
no indivíduo. Também o termo ἀλλὰ (allá) = pelo contrário, que invariavelmente vem sendo traduzido
por mas, porém, deixa claro que o que se quer é um estado completamente oposto ao que se está
vivendo.

Algumas versões traduzem τῇ ἀνακαινώσει τοῦ νοός (tê anakainósei tu noos) = Pela renovação do
vosso entendimento. Preferiu-se por: renovação da vossa mente. Uma vez que nos escritos
paulinos: Efésios, Colossenses e Pastorais, tem significado de “mente”, “capacidade de julgar”,
“entendimento” (2 Ts 2.12). É colocado lado a lado com a consciência (Tt 1.15).

εἰς τὸ δοκιμάζειν (eis to dokimázein) = para por à prova. τί τὸ θέλημα τοῦ Θεοῦ (ti to thélema tu theú)
= qual a vontade do Deus. τὸ ἀγαθὸν καὶ εὐάρεστον καὶ τέλειον (to agatón kaí euáreston kaí téleion) =
a boa, e bem aprazível/agradável, e completa/perfeita.

Optou-se por traduzir para que experimenteis a vontade de Deus que é boa, agradável e
completa, pois assim exige a coerência exegética.

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