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SEMINÁRIO TEOLÓGICO CARISMA

APOSTILA COMPLEMENTAR
Disciplina: Hermenêutica
Professor: Braulio Brandão

I. Introdução: a importância das Escrituras

A Bíblia é o registro da revelação que Deus desejava que fosse preservada para o bem da
humanidade e um dos ideais centrais da fé cristã. Não podemos negar que ela desempenhou um
papel fundamental no estabelecimento dos valores sociais e causou um grande impacto em nossa
sociedade, influenciando-a na adoção de valores e virtudes básicos e essenciais para o convívio em
comunidade.

A Bíblia é, sem dúvida, uma obra de grande influência mundial. Ela influenciou a nossa cultura por
meio das artes (por exemplo: músicas, esculturas, pinturas) e obras literárias. Além disso, ela
exerceu uma influência significativa nas questões legais, ou seja, no estabelecimento daquilo que é
considerado legal ou ilegal em nossa cultura. A Bíblia também nos ensina a cuidar da família e dos
que precisam de ajuda para sobreviver como se cada um deles fossem membros de nossa família.
Em relação à educação, há registros do quão grande papel a Bíblia exerceu neste contexto. Povos de
muitas línguas puderam receber (e até hoje recebem), pela Palavra escrita, toda uma instrução não
só em relação à espiritualidade e à fé, mas também na formação do indivíduo como um todo.

II. Breve histórico das Escrituras

A Bíblia é um conjunto de 66 livros produzidos entre (aproximadamente) 1400 a.C e 90 d.C. Bíblia
significa “livros” em grego. Ela é composta de 66 livros, sendo 39 do Antigo Testamento e 27 do
Novo Testamento. O tema central (metanarrativa), desde o livro de Gênesis até o de Apocalipse, é
basicamente a redenção do homem por meio de Jesus Cristo.

Os manuscritos mais antigos que temos da Bíblia foram aqueles encontrados nas cavernas do Mar
Morto, entre os anos de 1947 e 1955. Os manuscritos originais dos livros do Antigo Testamento
perderam-se, e o que temos hoje em dia são cópias dos manuscritos originais. Os textos impressos
do AT e do NT existentes baseiam-se nos melhores e mais antigos manuscritos. Como vários desses
manuscritos foram encontrados na região de Qumran, eles são também chamados de “Manuscritos
de Qumran”.

A Bíblia foi produzida em dois idiomas principais: o AT em língua hebraica, pois essa era a língua
falada pelos judeus (hebreus), com pequenas porções em aramaico (provavelmente a língua falada
na Babilônia), e o NT em grego koiné.

As cópias dos manuscritos originais eram guardadas cuidadosamente no Templo (2Reis 22.8).
Quando alguém queria uma parte das Escrituras Sagradas, tinha de copiá-la, palavra por palavra. Os
homens que faziam esse trabalho se chamavam copistas. Já os soferim e massoretas foram escribas
zelosos que fizeram o trabalho de crítica textual.

Além dos manuscritos na língua hebraica, temos cópias e traduções em outras línguas. A
Septuaginta ou “dos Setenta” é uma tradução em língua grega. Recebeu esse nome devido ao
número de pessoas que fizeram a tradução. Essa tradução foi feita para aquela geração de judeus
que conhecia o grego, mas não conhecia o hebraico.

Vulgata é a versão feita em língua latina. No ano 382 a.C., um homem chamado Jerônimo começou
a verter para o latim o AT hebraico. Nessa época já havia outras traduções da Bíblia em latim, mas
Jerônimo fez a sua tradução em latim popular (ou vulgar). Por isso, essa tradução foi chamada
vulgata.

Cânon é o nome que se dá ao conjunto de livros inspirados e aceitos para servirem como regra de fé
e prática. Esse conjunto de livros recebeu o nome de Escrituras Sagradas ou Bíblia. A palavra
“cânon” é de origem grega e significa “vara”. Assim, temos o sentido de “vara de medir” ou
“régua”. Também significa “um modelo ou regra para julgar ou medir”.

III. Inspiração Divina

Hb 1.1-2: Deus falou muitas vezes e de várias maneiras aos nossos antepassados por meio dos
profetas
2Pe 1.16-21: nenhuma profecia da Escritura vem de interpretação pessoal ou provém de particular
elucidação, pois jamais a profecia teve origem na vontade humana. Homens falaram da parte de
Deus, impelidos pelo Espírito Santo
2Tm 3.16: toda a Escritura é inspirada por Deus
Mc 7.8-13: Jesus chama o que Moisés disse de “A Palavra de Deus”

A Bíblia é a Palavra de Deus. Ele é a fonte de inspiração por trás de todo o texto bíblico. A Bíblia
não contém liberalismo teológico e não se torna uma neo-ortodoxia. Entende-se “inspiração divina”
como a influência sobrenatural do Espírito Santo sobre os escritores da Bíblia, capacitando-os a
receber e transmitir a mensagem divina sem qualquer margem de erro. A inspiração divina é a fonte
da inerrância das Escrituras.

IV. Hermenêutica

A Hermenêutica é o ramo da Filosofia que estuda os princípios da interpretação, podendo ser


aplicada a diversas áreas do conhecimento. A Hermenêutica Bíblica estuda os princípios necessários
para a boa interpretação das Escrituras.

A Bíblia nos foi dada não somente como fonte de conhecimento. Sua utilidade vai muito além disso
e, se você quiser e se dedicar, descobrirá o poder que ela tem para transformar a sua vida e te tornar
um cristão maduro e capaz de realizar toda boa obra.

Segundo o dicionário Aurélio, interpretar significa: “explicar, explanar, aclarar o sentido, julgar,
considerar”. Estudar a Bíblia é diferente de lê-la. Quando você estuda, você tira dúvidas, lê outras
passagens que esclarecem ou explicam o texto (interpretação), consulta o dicionário e/ou
comentários bíblicos, tira dúvidas com um irmão mais experiente. Você examina mais
profundamente um tema, livro, capítulo ou ainda um versículo. Os novos convertidos da cidade de
Bereia (Atos 17.1-12) foram chamados de mais nobres, porque examinavam, conferiam todos os
dias a mensagem que o apóstolo Paulo trazia, à luz das Escrituras, para ver se de fato seu ensino
tinha base bíblica. Isso lhes dava mais segurança e certeza de que estavam fazendo a vontade de
Deus.
Com a finalidade de te ajudar a fazer uma boa interpretação bíblica, observe as seguintes
pontuações:

> Lembre-se: a Bíblia é seu intérprete, ou seja, a própria Escritura se explica

> A fé e o Espírito Santo são necessários para compreendermos bem as Escrituras

> Interprete a experiência pessoal à luz das Escrituras, e não as Escrituras à luz da experiência
pessoal

> Para uma boa compreensão de textos, descubra de forma objetiva o que diz a passagem bíblica

> Leia as notas de rodapé


> Descubra qual foi o contexto bíblico no qual o autor escreveu. Perguntas chaves podem incluir:
Quem escreveu o livro? Por que escreveu? A quem escreveu? Quando foi escrito? De quem fala?
Do que fala?
> Consulte um dicionário bíblico e também um da língua portuguesa

> Compare várias passagens sobre o mesmo assunto

> Observe o contexto: o que vem antes da passagem estudada? O que vem depois? Existem
palavras como “portanto” ou “porém” que conectam à passagem de alguma forma com o trecho
anterior?

> “Pergunte” à passagem bíblica: o ela que me fala de Deus? O que ela fala de como devo viver ou
agir?

> Interprete as palavras no sentido que tinham no tempo do autor (não tire o autor do seu contexto)

> Atenção aos gêneros textuais e às particularidades de cada um deles, por exemplo, epístola, leis,
poesia, etc.

> Ao ler um texto narrativo, atente-se aos personagens, enredo, narrador e cenário da história

> Atenção às principais partes e figuras de uma parábola, pois elas representam certas realidades.

> Atente-se às figuras de linguagem, que são formas de expressão que destoam da linguagem
comum (denotativa). Elas dão ao texto um significado que vai além do sentido literal. Alguns
exemplos:

- Metáfora: comparação implícita entre dois ou mais termos

- Metonímia: substituição de um termo por outro equivalente

- Hipérbole: exagero na declaração


- Paralelismo: sequência de expressões com uma estrutura paralela, ou seja, simétrica

- Quiasmo: um paralelo ou uma dupla antítese cujos termos se cruzam

- Antropopatia: atribuição de sentimentos humanos a Deus

> Você precisa compreender gramaticalmente a Bíblia antes de compreendê-la teologicamente. Por
isso, atente-se a pronomes, verbos, preposições, conjunções, etc.
> Atenção aos elementos de coerência e coesão textual

V. Conclusão

Para não cairmos no erro de dar à Palavra de Deus um sentido que ela não tem, é preciso procurar
esclarecer os textos bíblicos por explicações tiradas da própria Bíblia. Também não devemos nos
esquecer da aplicação, ou seja, da execução prática. Afinal, estudamos a Bíblia não somente para
encher a nossa mente de conhecimento, mas, principalmente, para nos conformarmos à mente de
Deus.

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