Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. O Nome da Epístola
"Hebreu" era o nome dados aos israelitas pelas nações vizinhas. Talvez tenha
derivado de Éber ou Héber, que significa "homem vindo do outro lado do rio" (Jordão
ou Eufrates) (Gn.10.21,24; 11.14-26; 14.13 Js.24.2). Abraão foi chamado de "hebreu".
3. Os Destinatários
A epístola aos hebreus nos mostra que seus destinatários eram judeus cristãos.
Ao mesmo tempo em que o autor está se dirigindo a pessoas convertidas a Cristo
(Hb.10.19), ele dá a entender que elas tinham um passado de vínculo com o judaísmo.
Tais irmãos pertenciam a uma igreja, cujos líderes são anonimamente referenciados no
capítulo 13 (versos 7, 17 e 24). A localização de tal igreja é objeto de especulação por
parte dos estudiosos e comentaristas. As sugestões mais comuns são: Roma, Jerusalém,
Antioquia, Cesaréia e Alexandria. Como se vê, as possíveis cidades eram grandes
centros. Jerusalém e Cesaréia eram cidades da Judéia. Nas outras localizavam-se
grandes colônias judaicas. Naturalmente, em todas elas havia igrejas locais que
contavam com a presença de muitos judeus cristãos.
Andreu Monteiro 3
4. Propósito da carta
5. Autoria
A epístola não apresenta o nome do seu autor. Muitos são os que atribuem a
Paulo sua escrita. Em alguns manuscritos antigos encontra-se o título: "Epístola de
Paulo aos Hebreus". Evidentemente, o título traz a conclusão de algum copista ou
autoridade religiosa, visto que não faz parte do texto. Alguns "pais da igreja" atribuíam
a autoria a Paulo sem dificuldades. Os defensores dessa hipótese, utilizam as palavras
de Pedro em sua segunda epístola (3.15). A passagem nos informa que Paulo escreveu
aos judeus. Contudo, isso não encerra a questão, pois tal escrito pode ter sido a chamada
carta aos hebreus, mas pode também ter sido outra. A referência que o autor faz a
Timóteo (Hb.13.23) também é usada como argumento. Além disso, a epístola está
dividida em dois blocos: doutrinário (capítulos 1 a 11), e prático (capítulos 12 e 13).
Isso nos lembra o método paulino. No texto prático do capítulo 13, temos uma lista de
admoestações curtas, à maneira de Paulo. A doxologia (13.20-21) e a bênção final
(13.25) também reforçam a tese.
Aqueles que propõem Barnabé como autor assinalam que ele era um levita de
Chipre (At 4.36) e, portanto, membro do grupo helenista na igreja de Jerusalém.
Durante algum tempo ele foi íntimo colaborador de Paulo (At 9.27; 11.30; 13.1-14.28).
Andreu Monteiro 4
6. Data
7. Pano de Fundo
c) Tradições primitivas: Alguns acreditam que esta epístola deve ser vista como
um desenvolvimento natural da primitiva teologia cristã. Há uma tentativa de
ligá-la com a catequese de Estevão (expansão além do templo físico). A
idéia de continuidade entre o velho e o novo concerto, o interesse pela vida
terrena de Jesus, a percepção que sua morte deve ser interpretada, e a mistura
de apelos presentes e escatológicos, são todos pontos básicos da primitiva
tradição cristã.
8. Características
- Símbolos X realidade
9. TEMA
10. ESBOÇO
4 - A glória da fé - 11.1-40.
11. Comentário
Lendo a epístola, podemos delinear o problema que deu ensejo à sua produção.
Os hebreus, a quem a carta foi destinada, eram judeus que, tendo se convertido ao
cristianismo, se sentiam tentados a recuar, retornando ao judaísmo. Estavam em uma
situação de paralisação espiritual. Viviam em um dilema e, com isso, não cresciam
espiritualmente (Hb.5.11-14). O autor escreveu para mostrar a esses irmãos que eles
estavam livres da antiga aliança. Tal propósito era de grande envergadura. Se já era
difícil provar aos gentios convertidos que eles não precisavam observar a lei, quão árdua
seria a tarefa de demonstrar o mesmo princípio para judeus cristãos! Eles estavam
presos ao passado, assim como acontece hoje com alguns cristãos que querem obedecer
a lei de Moisés. As realidades da graça já eram presentes. Contudo, ainda se
encontravam no futuro para aqueles que hesitavam em relação à apropriação das
mesmas.
Símbolos Realidades
Sombras Realidades
O visível O invisível
Andreu Monteiro 7
Aparência Essência
Material Espiritual
Transitório Permanente
Temporário Eterno
Figura Verdadeiro
Terreno Celestial
A situação dos hebreus foi ilustrada através de uma etapa de sua própria história.
O autor demonstra que, assim como seus antepassados estavam no deserto, hesitando
diante de Canaã (Hb.4.1), os hebreus estavam hesitantes diante da graça de Deus e seus
benefícios. O livro admoesta radicalmente a respeito dos riscos representados pelo
retrocesso, pela apostasia (Hb.4.1; 6.1-6; 10.38-39). O desvio encontra-se relacionado à
incredulidade, desobediência e rebelião (Hb.2.1-3; 3.12,16-19; 4.11). Em lugar do
desvio, os hebreus são aconselhados a avançar com ousadia (Hb.10,19).
utilizá-lo. Seus ministros não precisam de belas vestes para a direção do culto. A igreja
do Senhor Jesus encontra-se onde estiverem dois ou três reunidos em nome do Senhor.
É tudo tão simples que poderia parecer vazio aos olhos dos hebreus. Eles ainda estavam
apegados ao templo judaico, mas precisavam se acostumar a viver sem ele, pois sua
destruição estava bem próxima (Hb.8.13 ?).
No Velho Testamento, Deus usa recursos visíveis com restrições. Ele mandou
fazer a arca da aliança, a serpente de bronze e outros objetos, mas proibiu a fabricação
de imagens de escultura como representação de Deus ou de deuses (Dt 4.12, 15-19).
Deus pode usar o visível, mas "bem-aventurados os que não viram e creram"
(João 20.29). A experiência de Tomé, ao ver o Senhor Jesus ressuscitado, foi autêntica,
maravilhosa, importante, mas melhor seria se ele não tivesse dependido disso. Sua fé
não foi suficiente.
Em Mateus 8.5-10, temos o elogio de Jesus ao centurião que não dependia nem
da presença física do Mestre para que seu servo fosse curado. Jesus disse que nem em
Israel havia encontrado tanta fé. Quanto mais dependentes nós formos de elementos
visíveis para sermos curados ou abençoados, menor é a nossa fé. Recursos, tais como
objetos ungidos, podem até ser importantes para os neófitos na fé, mas devem ser
abandonados na medida em que vai se chegando à maturidade espiritual. Não podemos
fazer de um objeto ungido um amuleto.
O autor aos hebreus se esforçava por conduzi-los a um novo nível, em que não
dependeriam de objetos sagrados, lugares físicos ou sacerdotes terrenos.
O autor coloca em destaque: a fé. O capítulo 11, tão utilizado quando se estuda
sobre a fé, ali está com esse objetivo: mostrar aos hebreus que até mesmo seus
antepassados, os pais, juízes e profetas, viveram e serviram a Deus e venceram pela fé e
não por vista. Portanto, convinha que os hebreus seguissem tal exemplo e se
desvencilhassem de toda dependência visual contida no cerimonial judaico.
que tudo o que vemos foi feito do que não é aparente. Logo, o invisível é anterior e
superior ao visível. O visível é a aparência das coisas. É algo que impressiona as
pessoas e causa emoções e reações. Muitas religiões usam de grande pompa para
impressionar seus fiéis. Com isso, passam a idéia de uma essência que, de fato, não
existe. As pinturas, esculturas, a arquitetura e a música são alguns elementos que
ajudam a montar um cenário impressionante, mas não constituem essência espiritual
(Obs. II Tm.3.5).
O mundo espiritual é invisível para nós hoje, mas um dia poderemos vê-lo. Hoje,
podemos falar apenas de uma "visão espiritual", como acontecia com os patriarcas
(Hb.11.13,26,27). Pela fé, "vemos" o cumprimento das promessas. Um dia, porém,
Cristo aparecerá (Hb.9.28). Então, o invisível se tornará visível.
c) Terra e Céu
Utilizando os termos "terra" e "céu", o autor tenta fazer com que seus
destinatários "mudem o foco" de sua espiritualidade.
A realidade celestial
Para o escritor aos hebreus, o céu não é um lugar vazio, envolto em névoa
branca. Ele fala de uma cidade celestial, de um santuário celestial e coisas celestiais, as
quais se constituem em mistério para nós. Em destaque está o santuário celestial, o qual
foi visto por Moisés no monte e serviu de modelo para a construção do santuário
terreno. Portanto, os hebreus não deveriam ficar apegados ao terreno, mas sim ao
santuário celestial, onde Cristo entrou depois de oferecer sua própria vida como
sacrifício.
d) A Solução
O problema dos hebreus consistia no apego a algo bom. Como disse o apóstolo
Paulo em Romanos 7, "a lei é santa e o mandamento é santo, justo e bom". O apego ao
que é bom pode nos privar daquilo que é melhor. A epístola vem mostrar "o melhor"
para os hebreus. Esta é a palavra chave da carta. As expressões "superior", ou "tão
superior", ou "maior" ou "mais excelente", variando conforme a tradução, também são
freqüentes e demonstram o pensamento do autor no seu esforço por apresentar a
superioridade de Cristo e do evangelho no confronto com a lei e a velha aliança.
Melhor: Hb.1.1-4; 6.9; 7.4,19-22; 8.6; 9.23; 10.34; 11.16; 11.35; 11.40; 12.24;
As expressões "tão superior" e "mais excelente" contém uma ênfase muito forte.
Bastaria dizer que Cristo é superior ou excelente. Contudo, o autor utiliza uma
terminologia que demonstra a insuperabilidade do Senhor Jesus.
A palavra de Deus nos convida à excelência (I Cor.12.31). Não devemos, pois, ter
uma atitude comodista, mesmo que nossa situação espiritual seja boa. "Quem é santo,
seja santificado ainda." (Ap.22.11). Avance, suba, progrida. Não existem limites para a
nossa experiência com Deus.
Andreu Monteiro 11
Mostrar algo melhor para um povo que já tem um pacto com Deus é um desafio
muito grande. Contudo, o autor se saiu muito bem na produção de sua apologia. Seu
argumento central é a apresentação da pessoa de Jesus. É verdade que ele estava
escrevendo para cristãos, pessoas que já conheciam a Cristo. Porém, ainda não haviam
compreendido plenamente sua personalidade e sua obra.
Para que o impasse dos hebreus se resolvesse, eles deveriam entrar na nova
realidade apresentada por Cristo: a nova aliança com Deus. A nova realidade é acessada
por meio da fé. De fato, sendo judeus convertidos, eles criam em Cristo, mas ainda não
usufruíam de todos os recursos da graça.
muitas vezes. Homens influentes acabam por convencer muitas pessoas a respeito de
uma suposta realidade espiritual. Assim, surgem muitas religiões e seitas. Outras vezes,
tal realidade é um fato, mas pertence ao domínio do mal.
Quando Pedro andou sobre as águas, seu passo de fé estava firmado na palavra
de Jesus que lhe disse: Vem! O mesmo ocorreu na pesca milagrosa. Pedro disse: "Sobre
a tua palavra lançarei as redes." (Lc.5.5).
Muitas pessoas dizem crer em algo apenas porque isso corresponde ao seu
desejo pessoal. Se tal realização estiver no âmbito das possibilidades humanas, então
pode mesmo acontecer, mas se depender de uma ação de Deus, então precisa estar
fundamentada na palavra de Deus. Além da palavra escrita na Bíblia, Deus pode nos
falar de modo específico, visando situações particulares da nossa vida.
Havendo fé na palavra dita por Deus, ainda cabe, em muitos casos, a ação
humana coerente com a palavra. É a obediência. Algumas profecias divinas são
absolutas e incondicionais. Vão acontecer de qualquer forma. Outras vêm
acompanhadas de uma ordem ou mandamento e estão condicionadas à obediência. Por
exemplo, a promessa de Deus a Abraão estava ligada a uma ordem: "Sai da tua terra e
da tua parentela." Sobre esta palavra, Abraão depositou sua fé e acrescentou a
obediência. Abraão saiu sem saber para onde ia. Desse modo, "o que se espera"
(Hb.11.1) vem. "O que há de vir virá e não tardará." (Hb.10.37). Se, por outro lado,
formos incrédulos e desobedecermos à palavra, estaremos também juntando elementos
que trarão o castigo, que também é um cumprimento da palavra de Deus. Contudo,
sempre há um tempo para o arrependimento e a retomada do rumo certo.
Seu fundamento é rocha ou areia? Jesus comparou sua palavra à rocha (Mt.7.24).
A obediência, que pressupõe fé, seria a construção sobre a palavra. A desobediência
também seria um tipo de construção, destinada a ruir sobre o seu construtor.
Muitos citam Mateus 6.33 da seguinte forma: "Buscai primeiro o reino de Deus
e a sua justiça e as outras coisas vos serão acrescentadas." Desse modo, poderíamos
esperar de Deus tudo o que pudéssemos pedir e imaginar. Essa distorção às vezes
acontece quando se fazem músicas com os versículos. Para encaixar na melodia, o
versículo é mudado. Então as pessoas aprendem dessa forma. Contudo, a Bíblia diz:
"Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão
acrescentadas." O significado é bem mais restrito do que normalmente se diz. "Estas
coisas" são as que Jesus mencionou no versículo 25: comida, bebida e vestuário. É
Andreu Monteiro 15
verdade que Deus pode nos dar infinitamente mais. Contudo, o versículo não está
prometendo isso. Não podemos ver ali casas luxuosas, carros, navios, empresas, etc.
Seria muita criatividade da nossa parte.
Palavra(s) - Hb.1.3; 2.2; 4.2,12; 5.13; 6.5; 7.28; 10.28; 11.3; 12.19,27; 13.7,22. Temos
nessas passagens, quase sempre, a palavra de Deus. Aparecem também as palavras dos
anjos, das testemunhas e do próprio autor da carta.
Creia - Hb.11.6.
Esperando - Hb.6.15
Esperando - Hb.10.13.
Esperava - Hb.11.10.
Expectação - Hb.10.27.
Incredulidade - Hb.3.12,19
Obediência - Hb.5.8.
Para os irmãos do primeiro século, a palavra escrita de Deus era apenas o Velho
Testamento. A carta aos hebreus está bem fundamentada nessa porção das Escrituras.
Afinal, não pretende negar o Velho Testamento, e sim mostrar o seu cumprimento em
Cristo e no evangelho.
1.6 ?
É digna de destaque a leitura messiânica que o autor faz dos textos citados.
Temos, portanto, sólida base, para ver Cristo no Velho Testamento. É bastante forte a
expressão do autor ao escrever: "Assim, pois, como diz o Espírito Santo." (3.7-11). As
Andreu Monteiro 18
palavras seguintes são do Salmo 95, escrito por Davi. Notamos então que o autor
reconhecia e declarava claramente que o salmo foi inspirado pelo Espírito Santo, ou
podemos até dizer, "ditado" por ele. Tal reconhecimento é óbvio, mas é bom sabermos
que o texto está mostrando isso, de modo que temos uma prova inequívoca de tal
afirmação.
f) Exortações
Aproximemo-nos - Hb.10.22
Guardemos - Hb.10.23
Consideremo-nos - Hb.10.24
Andreu Monteiro 19
Corramos - Hb.12.1
Prossigamos - Hb.6.1
Sirvamos - Hb.12.28
Ofereçamos - Hb.13.15
Conservemos - Hb.4.14
Retenhamos - Hb.12.28
Apeguemos - Hb.2.1
Seja qual for a sua situação, "não abandone a congregação", "nem endureça o
coração". Pior do que cair é desistir de caminhar. Não fique indiferente, como se nada
estivesse acontecendo. Pelo contrário, reconheça sua posição de risco e "tema" pelo mal
que pode vir. Até agora, estamos tratando com atitudes. Observadas tais admoestações,
outras atitudes devem ser tomadas. Existe um passado a ser deixado. O pecado e o
embaraço precisam ser abandonados a fim de que, livres de todo peso, possamos
avançar na direção que o Senhor nos apresenta. Os hebreus precisavam sair de uma
situação indesejável e entrar na nova realidade proposta.
A observação dos verbos mencionados, seu tempo, modo e pessoa, muito nos
ensina. A maioria dos verbos se encontra conjugada na primeira pessoa do plural. Isso
mostra que o autor se inclui em quase tudo o que diz, em quase todas as propostas que
faz. Temos aí uma nota de humildade. Ele não apenas aponta o caminho e o trabalho,
mas se coloca em posição de também fazer tudo o que está sendo comandado. É uma
atitude desejável para os que pregam, ensinam ou lideram.
EPÍSTOLA DE TIAGO
1. Autoria
Em Atos 1.13-14 os três estão presentes, mas o texto fala de um certo Judas, que
era filho de Tiago. Não fica claro se esse Tiago era um dos três já citados ou se poderia
ser um quarto personagem. As passagens dos evangelhos que citam Tiago, geralmente
estão se referindo ao irmão de João. Sua morte é mencionada em Atos 12.2, pois bebeu
o cálice predito por Jesus em Mt 10.38,39. Não sabemos o que aconteceu com o filho de
Alfeu. A partir daí, existem outras referências que citam Tiago, em Atos e nas epístolas.
Tais passagens são normalmente relacionadas à pessoa do irmão de Jesus. Em Gálatas,
Paulo fala de seus contatos com Tiago, irmão do Senhor, que estaria em Jerusalém.
Com base nesse texto, os outros também são associados, por dedução, à mesma pessoa.
Tal associação é bastante aceita pelos críticos e parece muito coerente. Quem segue essa
Andreu Monteiro 21
ligação de textos acaba por atribuir ao irmão de Jesus a autoria da epístola em epígrafe.
Alguns comentaristas preferem não seguir essa tendência e se abstêm de apontar o
autor.
Tiago não cria em Jesus antes da crucificação (João 7.5). É possível que sua
conversão tenha se dado após a ressurreição de Cristo, quando este lhe apareceu (I
Cor.15.7). Juntou-se então aos discípulos (At.1.14), tornando-se apóstolo (Gál.1.19) e
uma das "colunas" da igreja em Jerusalém (Gál.2.9). Sua liderança obteve grande
destaque, conforme se observa em Atos 12.17; 15.13-29; 21.18 e Gálatas 2.12. Tiago
veio a ser chamado "o justo", por sua integridade, e "joelho de camelo" devido as
marcas que possuía em virtude de suas constantes orações. Segundo Flávio Josefo, o
irmão de Jesus morreu em 63 d.C. Sendo pressionado pelos judeus para que negasse a
Cristo e tendo permanecido firme em suas afirmações, Tiago foi arremessado de um
lugar alto nas dependências do templo. Não tendo morrido com a queda, foi apedrejado
até a morte.
2. Data
Alguns acreditam que a carta foi escrita antes do Concilio de Jerusalém (At 15),
que provavelmente aconteceu no ano 48 à 49 d.C.. Sento assim,a data de produção da
carta se situa entre os anos 45 e 48 d.C. Alguns comentaristas sugerem um período
posterior. Aqueles que identificam Tiago, o irmão do Senhor, como o autor atribuem a
carta uma data perto do fim de sua vida, em 62 d.C.
3. Local de origem
4. Destinatários
Esta carta não foi dirigida á uma igreja específica. A carta é destinada às 12
tribos da diáspora (dispersão). Alguns acreditam que são judeus cristãos que se
encontravam dispersos entre várias nações. (Tg. 1.1; 2.2). Argumenta-se que alguns
aspectos deixam claro que os destinatários são judeus Cristãos: a) a maneira natural de
mencionar o Antigo Testamento (1.25; 2.8-13); b) a referência ao lugar onde os
Andreu Monteiro 22
Entretanto, outro teólogos, como Russell Shedd, acreditam que a expressão “às
doze tribos” provavelmente não se refere a judeus como raça mas aos crentes em Cristo,
que se tornaram o verdadeiro Israel de Deus (Gl 6.16; Fp 3.3). Em 1Pe 1.1 “dispersão”
també
5. Características
O livro tem teor prático, rigoroso, usa muitas ilustrações, é direto, tem estilo
semelhante ao sermão da montanha. Apresenta diversos preceitos morais. A carta
contém 108 versículos, entre os quais temos 54 mandamentos.
Sobre seu rigor, destacamos: Tg.1.7; 1.26; 2.9; 2.10; 2.19; 3.6; 3.8; 3.14-15; 4.1-
4; 4.8-9; 4.16; 5.1-6.
O uso de ilustrações
Tiago, como bom pregador, utiliza de forma magistral as ilustrações, como meio
de representar, de modo claro, as verdades ensinadas. Tal recurso ajuda a entender o
ensinamento e também a fixá-lo na memória.
Andreu Monteiro 23
A epístola utiliza fatos reais, eventos hipotéticos, elementos da natureza e até obras das
mãos humanas para expressar suas idéias.
Fatos reais:
Eventos hipotéticos:
Elementos da natureza:
o O enxerto - Tg.1.21.
o O espelho - Tg. 1.23.
o Os navios e o leme - Tg.3.4.
o Vestes e anel - Tg.2.2-3.
Andreu Monteiro 24
o Estrado - Tg.2.3.
Figuras de linguagem:
Em alguns textos, não é fácil saber se o autor usa determinada palavra com
sentido figurado ou literal. Por exemplo, as "guerras" em Tiago 4.1.
6. Esboço
5 - A fé e as obras - 2.14-26.
7. Propósito da carta
Andreu Monteiro 25
O propósito de Tiago ao escrever está carta reside no fato que estava havendo
desavenças entre os cristãos, e ele queria corrigir este comportamento. Estes conflitos
eram gerados pela estratificação social. Havia entre os cristãos alguns que eram muito
ricos, e a maioria era muito pobre. Então os problemas de acepção de pessoas
começaram a existir (v.2.1-13), bem como, o fato de falarem mal uns dos outros (v.3.1-
18). Para resolver o problema os argumentos de Tiago se mostram em duas frentes
principais: a) praticar a Palavra de Deus (v.1.19-27), e b) Os obras é que autenticam se
a fé é verdadeira (v.2.14-26).
8. Comentário
a) Provas e tentações
Tiago introduz o assunto com palavras de impacto: "Tende grande gozo quando
vos forem enviadas várias provações." (Tg.1.2). Não faz parte do nosso pensamento
moderno uma idéia como essa. Em nosso tempo, procura-se o menor esforço e o maior
prazer. A epístola nos mostra que as tentações e as provações são elementos presentes e
importantes na vida cristã. Por quê essa importância? Tiago responde: "sabendo que a
prova da vossa fé produz a paciência." (Tg.1.3). Precisamos saber isso para termos uma
atitude positiva diante daquilo que Deus nos envia ou permite. Tudo o que Deus
permitir de negativo em nosso caminho terá um propósito e produzirá alguma virtude
em nós. Isso, evidentemente, se sairmos vencedores desse processo.
Prova é teste. Tentação é indução ao erro. Toda tentação pode ser vista como
prova. Contudo, nem toda prova é tentação. Por exemplo, se Deus nos permite passar
por uma situação de dificuldade financeira, isso pode ser uma prova para demonstrar se
continuaremos confiantes e fiéis ao Senhor ou não. Se, em meio a tudo isso, aparecer
uma oportunidade de ganho ilícito, isso será uma tentação. Estar no deserto é prova.
Oferta de "pedras no lugar de pães" é tentação (Mt.4.3).
b) A Religião Prática
O invisível não depende do visível, mas precisa produzir evidências visíveis, sob
pena de ser considerado inexistente. Por isso Tiago diz: "mostra-me a tua fé sem as
tuas obras." (Tg.2.18). Se a minha fé não produz obras, então tenho uma fé tão "eficaz"
quanto a própria incredulidade. Precisamos mostrar alguma coisa, pois o mundo espera
pra ver. E isso só é possível através de obras.
Tiago enfatiza o valor do caráter cristão. Seu livro não se aplica à exposição
doutrinária, mas ao apelo veemente à prática de toda a doutrina cristã que já se conhece.
O conhecimento da palavra é fundamental (Tg.1.18,21). Ouvir é bom hábito (Tg.1.19).
A fé é indispensável (Tg.1.6-7). Mas o processo não pode parar nesse estágio, pois crer,
os demônios também crêem. A insistência do autor é a fim de que seus leitores
coloquem em prática a palavra de Deus.
Sede prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar (Tg.1.19).
Orai (Tg.5.13)
A prática proposta por Tiago pode ser traduzida pela expressão "boas obras".
Isso inclui:
Normalmente nos preocupamos em não fazer mal ao próximo. Está certo, mas
além disso precisamos fazer-lhe o bem, pois, se não fizermos, estaremos pecando
(Tg.4.17).
Novo Testamento, não apenas pelos versículos mencionados, mas pelo uso que faz dos
conselhos morais práticos, da mesma forma como se vê nos livros sapienciais do Velho
Testamento, principalmente Provérbios.
Além das obras, Tiago coloca em evidência o que falamos. Se cremos na palavra
de Deus precisamos falar de acordo com essa palavra e também proceder desse modo
(Tg.2.12). As admoestações em relação à língua são diversas:
- Não falar precipitadamente. Seja tardio em falar (Tg.1.19). Uma vez falada, a
palavra não pode ser recolhida. Portanto, é bom que se reflita antes de se pronunciar
algo. Assim, evitaremos ofensas, pedidos mal feitos (Tg.4.3), planos incertos (Tg.4.13-
15) e até mesmo votos que não podemos cumprir (Obs. Ec.5.4-6).
- Não falar demais. Tiago usa a expressões "frear", "refrear" e "domar" a língua.
(Tg.1.26; 3.1-12).
- Não usar palavras vãs no lugar da ação necessária (Tg.2.16). Esse falar vão
pode até ser uma oração. Existem momentos em que não adianta orar. É preciso agir.
Lembre-se de Moisés diante do Mar Vermelho. Deus disse: "Por quê clamas a mim.
Diga ao filhos de Israel que marchem" (Êx.14.15).
- Não falar mal nem julgar os irmãos (Tg.4.11). Se existe um problema a ser
resolvido com uma pessoa, então não adianta comentar o fato com outros. Talvez, o mal
falado até seja verdade. Contudo, ainda assim trata-se de maledicência. Mesmo que o
irmão esteja errado, nós não devemos difamá-lo. Quando Noé se desnudou em sua
tenda, seu filho Cão foi logo espalhar a notícia e por isso foi amaldiçoado. Os filhos
Sem e Jafé tomaram a providência de cobrir a nudez paterna e por isso foram
abençoados.
(Manifestação da
sabedoria)
3.1-12,14 3.13-17
4.311-12,13-15 4.17
5.4,9,10,13,14,15,17,18 5.20
d) Arrependimento e Juízo
Tg.1.20; Tg.4.7-10
Tg.3.1,18
Tg.4.11,12
Tg.5.6, 9,12, 16
e) A Fé a as Obras
"Vedes então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé."
-Tiago 2.24.
Lendo estes dois versículos, podemos pensar que Tiago e Paulo estão se
contradizendo. Alguns comentaristas afirmam que a contradição existe e que é
inexplicável. O próprio reformador Martinho Lutero tinha essa posição e chegou a usar
a expressão "epístola de palha" para se referir ao livro de Tiago. Há quem diga que
Tiago tenha escrito para atacar Paulo e seus ensinamentos. Tais hipóteses atentam
contra a inspiração divina das Sagradas Escrituras. Outros teólogos apresentam a
seguinte solução:
Paulo não estava falando de boas obras, de modo geral. Ele estava se referindo
especificamente àquelas obras exigidas pela lei.
Por sua vez, Tiago está preocupado com "o outro lado da moeda". Muitos
cristãos estavam reduzindo o cristianismo a uma religião teórica, apenas espiritual, sem
efeitos visíveis. A estes, Tiago diz que as obras são importantes. Abraão é usado
novamente como exemplo. Depois de ter sua experiência pela fé, Abraão não cruzou os
braços. Abraão agiu. Ele saiu da sua terra, se dispôs a oferecer Isaque, e fez tudo aquilo
que Deus queria que ele fizesse.
Imagine que alguém entra no prédio de uma escola e queira logo apresentar
trabalhos de pesquisa, fazer provas e exercícios. Será que a direção acadêmica aceitará
tudo isso? De maneira nenhuma. Se o indivíduo não está matriculado, ainda não é aluno
da escola. Então, não tem nenhum valor qualquer trabalho apresentado por ele. O que é
necessário? A matrícula, o compromisso, o vínculo. Então, depois de matriculado,
imagine que esse novo aluno resolva ficar em casa, totalmente alheio aos seus deveres
escolares. Então a direção da escola irá procurá-lo para cobrar tudo o que ele deveria
estar fazendo. Assim, antes de sermos cristãos, de nada adiantam as nossas boas obras.
"Paulo está dispensando". Entretanto, agora que estamos salvos pela fé, precisamos
executar as obras como fruto normal de um cristianismo autêntico e sadio. "Tiago está
cobrando".
Andreu Monteiro 33
Quando escreveu a Tito, Paulo colocou nas boas obras a maior ênfase da carta
(Tito 2.7,14; 3.1,8,14). Contudo, no mesmo texto, o apóstolo deixa claro que as obras
não salvam (Tito 3.4-5).
Considerando suas epístolas de modo geral, Paulo enfatiza a fé, sem desvalorizar
as obras. Tiago enfatiza as obras, sem desvalorizar a fé. De fato, ambas as coisas são
importantes. A fé sem as obras é morta. Da mesma forma, as obras sem fé são obras
mortas (Hb.6.1).
3. Autoria
Como todo bom judeu, Pedro tinha todo o conhecimento da lei de Moisés e
demais Escrituras do Velho Testamento.
A forma do seu texto pode também ter sido influenciada pela mão de Silvano,
que foi seu amanuense (I Pd.5.12).
A autoridade do autor fica evidente. Além de ser apóstolo (I Pd.1.1), Pedro foi
"testemunha das aflições de Cristo" (I Pd. 5.1). Seu ensino estava, portanto, bem
fundamentado, sendo digno de aceitação.
Existem teorias que negam ser o apóstolo Pedro o autor da carta. Mas,
independente dos diferentes pressupostos o argumento é de que a carta foi escrita por
um grupo de homens que remonta a tradição de Pedro, era uma “escola petrina”. Estas
teorias ensinam que tal grupo utilizou o nome de Pedro na carta para dar autoridade e
credibilidade ao escrito. Esta prática, comum da época, é chamada de autoria
pseudônima.
4. Data
Andreu Monteiro 35
A data de sua morte estaria situada entre os anos 64 e 68 d.c. (Cf. BRUCE,
2003), período no qual escreveu a carta. Supõe-se que Silvano, fazendo papel de um
amanuense, escreveu a carta sendo ditada por Pedro (I Pe 5.12), Mas a autoria do autor
fica evidente. Além de ser apóstolo (I Pe 1.1), Pedro foi testemunha das aflições de
Cristo ( I Pe 5.1 ). Seu ensino estava, portanto, bem fundamentado, sendo digno de
aceitação. Os comentaristas sugerem datas entre 63 a 68 d.C. para os escritos de Pedro.
Especificamente para a primeira carta, o ano mais indicado é 64.
5. Local de escrita
6. Destinatários
Durante algum tempo, Pedro foi contrário à evangelização dos gentios. Vemos,
portanto que, por ocasião do envio dessa epístola, tal problema já tinha sido superado.
Agora Pedro já aceita os gentios e os considera tão dignos do evangelho e do reino de
Deus quanto os judeus.
A epístola foi dirigida aos irmãos que moravam em regiões por onde Paulo
passou e fundou igrejas. Por quê Pedro escreveria para eles? Isso faz com que alguns
entendam que, quando essa epístola foi produzida, Paulo já teria morrido. O fato
Silvano e Marcos, antigos companheiros de Paulo, estarem com Pedro também é usado
como argumento a favor dessa hipótese.
7. Circunstância
A carta foi escrita numa época de grande perseguição imperial contra a igreja
após o incêndio em Roma. No livro de Atos, os principais perseguidores eram os
judeus. No período em que Pedro escreveu, os perseguidores passaram a ser os gentios
(4.3,4,12).
A Primeira Carta de Pedro foi escrita para os cristãos que viviam em cinco
províncias romanas que ficavam numa região que hoje faz parte da Turquia. Os leitores
estão enfrentando sofrimentos e perseguições por causa da sua fé. Em sua tentativa de
animá-los a continuarem firmes na sua dedicação a Jesus Cristo, o apóstolo mostra que
os sofrimentos servem para provar que a fé que eles têm é verdadeira (1Pe 1.7).
v. 2.11, conflito interno à pessoa - “paixões carnais que fazem guerra contra a alma”.
v. 3.14 ameaças contra os cristãos – “não vos amedronteis, portanto, com suas ameaças”
v. 3.17, sofrimento pelo bem – “é melhor que sofrais por praticardes o que é bom”
v.5.9 Sofrimento coletivo – “sofrimento iguais aos vossos estão [...] em vossa irmandade”
1Pedro revela ser uma carta escrita para dentro de uma situação de conflito, isso
fica evidente desde o começo. Quando o autor utiliza-se a expressão “várias provações”,
ele está dizendo que o sofrimento acontece de varias formas. A palavra “várias” provém
de uma antigo termo grego, poikolos, que significa “diversificado”, ou “muito
Andreu Monteiro 37
8. Características
Provas - 1.7
Sangue - 1.19
Pedras - 2.4
Cristo - 2.6
1
Andreu Monteiro 38
O autor lembra aos seus leitores o que Cristo fez por eles (1.2,3,19; 2.5,21;
3.18). Nos momentos difíceis é bom lembrarmos o que Jesus fez por nós e qual é o
nosso vínculo com ele. O inimigo procura colocar tudo isso em dúvida na hora da
tentação.
10. Esboço
11. Comentário
uma promessa de Cristo para todo aquele que nele crê. Isso depende da vontade de Deus
para cada pessoa. O que ele promete a todos nós é a vida eterna, uma herança nos céus.
- Obedientes (1.14).
Após a conversão, temos um caminho pela frente: é a vida cristã prática. Pedro
menciona situações e relações do cotidiano. O pecado é mencionado como um risco
constante (2.11-12; 4.1-6; 1.13-16). Pedro, que um dia disse que não negaria a Cristo e
acabou negando três vezes, está bem consciente de que o pecado pode acontecer,
Andreu Monteiro 40
embora não deva. Diante desse risco real, o autor nos aconselha a orar e vigiar (4.7; 5.8-
9) .
Contudo, a vida cristã apresentada por Pedro não é apenas espiritual. Não se
resume à oração e à vigilância. Ele ensina o serviço cristão, exemplificado através da
hospitalidade e do ministério (4.9-11). Não basta orar; é preciso agir, trabalhar.
NEGATIVAS
Sofrimento - 5.9
Andreu Monteiro 42
Fogo - 1.7.
Provação - 4.12
Vitupério - 4.14
Padecimento - 5.10
POSITIVAS
Fé - 1.21; 5.9
Esperança - 1.21
PEDRAS VIVAS
O texto de Mateus 16.16-18 tem sido objeto de muitas discussões. Seria Pedro a
pedra fundamental da igreja? Em sua primeira epístola, o apóstolo diz que todos os
cristãos são "pedras vivas" e que Cristo é a principal pedra da construção que é a igreja.
Se é assim, então Pedro continua pedra, como é o significado do seu nome. A igreja está
firmada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas. Eles foram as pedras
fundamentais da igreja. Porém, Cristo é a pedra principal. Sem ele, a construção não
existiria.
Qual é a relação entre tais pedras e a igreja? Tal fundamento está diretamente
ligado às vidas, obras e ensinamentos desses homens, os apóstolos e profetas. Eles
foram os primeiros a compor a igreja do Senhor. O próprio Jesus, por sua vez, é a pedra
principal, pois deu sua própria vida para que a igreja existisse. Foi ele quem resgatou
com seu sangue todos aqueles que fariam parte dessa construção espiritual.
Andreu Monteiro 44
Voltando às palavras de Pedro, todos nós somos pedras vivas, fazendo parte da
igreja. Não fazemos parte do fundamento, pois a igreja já existia antes de nós. Porém,
fazemos parte da obra, estando apoiados sobre os que nos antecederam e servindo de
base para os que se inspiram em nosso testemunho e palavra ( I Pd.2.4-8; I Cor.3.11;
Ef.2.20-22).
"Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos
injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na verdade, morto na carne, mas
vivificado no espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em
prisão; os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de
Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual
poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água." (I Pd.3.18-20).
A pergunta inicial é: Jesus foi ao inferno? O texto de Pedro não está dizendo
isso, mas esta tem sido, muitas vezes, a interpretação adotada, principalmente por causa
de outros textos bíblicos, dos credos da igreja católica e dos livros apócrifos, alguns dos
quais mencionam explicitamente a descida de Cristo ao inferno entre sua morte e sua
ressurreição. Por exemplo, podemos citar o chamado "credo dos apóstolos" e os
apócrifos: "Evangelho de Bartolomeu" e "Evangelho de Nicodemos". Um paralelo entre
tais escritos e os textos bíblicos mencionados produzem a interpretação correspondente.
da época de Noé)
Dizer que Cristo foi em carne e espírito ao inferno, seria o mesmo que ele estava
vivo antes da ressurreição. Se carne e espírito estão juntos, então não estamos falando
de Cristo durante seus três dias em estado de morte.
Dizer que o Espírito Santo foi ao inferno resgatar alguém é fazer uma grande
confusão entre as funções das pessoas da trindade. Tal equívoco se dá pelo fato de que
algumas traduções usam a palavra "Espírito" com letra maiúscula em I Pd.3.18.
Andreu Monteiro 46
Aqueles que dizem que Cristo não foi ao inferno, afirmam que ele foi se
apresentar ao Pai após sua morte. Mencionam como argumento as palavras de Jesus ao
ladrão crucificado: "Hoje estarás comigo no paraíso." (Lc.23.43 e 46). Como
explicariam então o texto de Pedro? Calvino chegou a afirmar que a cruz foi o "inferno"
experimentado por Cristo. Para os anabatistas, este mundo foi o "inferno" ao qual Cristo
desceu ao encarnar.
Pelo que ficou registrado nos livros, até o século IV d.C. era plenamente aceita a
idéia de que Cristo tenha mesmo descido ao inferno, assim identificado como o "lugar
dos mortos". Somente a partir do século V é que passou-se a questionar tal sentido.
Nesse tempo, Agostinho propôs o seguinte entendimento para o texto de Pedro: o
evangelho teria sido anunciado aos mortos no tempo em que os mesmos estavam vivos.
Assim, os contemporâneos de Noé teriam ouvido a pregação antes do dilúvio. O espírito
de Cristo, mencionado em I Pd.3.18, estaria agindo através de Noé, o pregoeiro da
justiça. Tal interpretação, bastante inteligente, não explica o texto de I Pd.4.5-6, onde
todos os mortos parecem estar envolvidos. Além disso, o texto de I Pd.3.18-20 fala que
a pregação foi dirigida a "espíritos em prisão" e não a pessoas vivas.
O texto de Atos (2.27-31) talvez seja o mais claro para que se conclua que Cristo
foi ao inferno. O autor utiliza a palavra Hades. Esta palavra estaria sendo usada em
referência a um lugar espiritual? ou simplesmente à sepultura? (2.29) ou apenas ao
estado de morte? (2.31). Algumas versões usam a palavra "hades" (A.R.C.) enquanto
outras a traduzem como "morte" (Thompson e A.R.A). A versão católica dos Monges
de Maredsous menciona "região dos mortos", o que não indica um sentido estritamente
físico ou espiritual. A bíblia das Edições Loyola utiliza a expressão "mansão dos
mortos". A versão do padre Antônio Pereira de Figueiredo traduz "hades" como
"inferno".
Hades (às vezes traduzido como inferno): At.2.27,31; Mt.11.23; 16.18; Lc.10.15;
Lc.16.23; Ap.1.18; 6.8; 20.13-14.
Andreu Monteiro 47
Geena (às vezes traduzido como inferno): Mt.5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15;
23.33; Lc.12.5; Tg.3.6; Mc.9.43-48.
O Velho Testamento passa a idéia de que o Sheol é um lugar para onde vão
todos os mortos, bons e maus. É normalmente identificado com o hades do Novo
Testamento. Veja que em Atos 2, a citação do Salmo 16, troca Sheol por Hades.
É bastante antiga a idéia de que alguém pudesse descer ao hades com alguma
missão. De acordo com a mitologia grega, Hércules teria ido até lá. Histórias
semelhantes são encontradas na literatura babilônica, egípcia, e romana. Conforme
Orígenes, houve entre os judeus a crença de que os profetas do Velho Testamento
tenham ido ao Sheol, onde continuariam seu ministério de pregação. Tal suposição
aparece também no Talmude. Assim, a crença de que Cristo teria ido ao inferno não
seria de difícil aceitação. Alguns, como Clemente de Alexandria, chegaram a dizer que
os apóstolos também teriam ido ao hades após suas mortes para pregar e que também os
demais cristãos teriam essa missão. Isso seria usado por alguns para justificar mortes de
pessoas jovens (J.Paterson Smith). Afinal, segundo essa tese, essas pessoas teriam
grande trabalho a executar na região dos mortos.
Cristo foi e Cristo foi e Cristo não foi Cristo foi mas Cristo salvou
salvou os justos salvou a todos ao inferno. não salvou apenas algumas
ninguém pessoas
essa posição.
Marcion Wolf
Tertuliano Buddeus
Aretius
* Calvino
Alguns livros apócrifos afirmam que Cristo esvaziou o inferno, salvando todos
os que ali estavam. Essa idéia serve bastante aos que pregam o "universalismo", que
consiste na crença em uma salvação universal. Tais teólogos afirmam que ninguém
escapará do alcance da graça de Deus e, finalmente, todos serão salvos, até mesmo os
anjos caídos. Se assim fosse, então não precisaríamos pregar o evangelho.
Jesus teria ido pregar aos mortos para que estes se salvassem? Tal entendimento
não parece coerente com outras passagens das escrituras. Se, depois de viverem e
morrerem no pecado, todos os ímpios ainda pudessem se salvar, então de nada teria
valido a vida de justiça dos justos, já que todos acabariam no mesmo lugar e na mesma
situação: salvos.
É bem provável que Jesus tenha anunciado o evangelho aos justos do Velho
Testamento, embora o texto de I Pedro 3.18-20 não os mencione. O fato é que muitos
deles ressuscitaram após a ressurreição de Cristo, conforme está em Mateus 27.51-53.
Davi disse: "Não deixarás minha alma no hades." Além de estar profetizando sobre
Andreu Monteiro 49
Cristo, ele não poderia também estar falando sobre sua própria alma, conforme uma
interpretação literal do Salmo?
Jesus teria descido para tomar as chaves da morte e do inferno das mãos do
Diabo? Os calvinistas dizem que isso não faz sentido, já que o Diabo nunca teve tais
chaves. Por outro lado, podemos também questionar: quem disse que o Diabo mora no
inferno? Pelo que sabemos, ele habita o planeta terra e circula pelas regiões celestiais.
Muitas vezes o inferno é mencionado pelas pessoas como um lugar onde o Diabo mora
e faz suas reuniões estratégicas com os seus demônios. Em algumas dessas supostas
reuniões, eles estão eufóricos com seus planos e realizações. Não estaríamos
alimentando um folclore religioso com tudo isso? Afinal, a bíblia mostra o inferno
como um lugar de tormento e não de reuniões satânicas. Se o Diabo lá estivesse, estaria
sofrendo tormentos e não fazendo planos.
1. Autoria
Andreu Monteiro 50
6. Esboço
7. Comentário
conversão. Quem se converte não pode achar que já tem tudo o que Deus pode oferecer.
A partir do versículo 5, o autor apresenta uma lista de qualidades ou capacidades que
devem ser alcançadas pelo cristão. Aquele se converte tem fé. A fé foi alcançada (1.1),
mas ela não é um fim em si mesma. Pelo contrário, é o início de uma jornada. Com
diligência (ou zelo) (1.5), o cristão deve buscar: virtude (bondade ou bom
procedimento), conhecimento, temperança (ou domínio próprio), paciência (ou
perseverança), piedade, amor fraternal (fraternidade), amor (ágape).
No relato de toda essa experiência cristã, Pedro utiliza diversas palavras que
podem ser divididas em dois grupos: ações divinas e ações humanas. O início da nossa
caminhada se dá pela operação do "divino poder" do Senhor (1.3). A partir daí, o
homem tem muito a fazer.
Seus dons (1.3) - ele nos deu tudo. Acrescentai bondade, conhecimento,
temperança, paciência, piedade, amor fraternal,
amor ágape. (1.5)
Se Pedro estava exortando (1.12-15) os irmãos a fazerem a sua parte no que diz
respeito ao crescimento espiritual, é porque eles poderiam, depois de tudo o que Deus
fez, ter cruzado os braços e parado no meio da estrada. Nesse caso, o resultado seria: a
visão curta ou mesmo a cegueira espiritual, o esquecimento das primeiras experiências
com Deus e o tropeço que poderia levar à queda (1.9-10; 3.17).
Os tempos e modos dos verbos encontrados no texto nos ajudam a ver uma
trajetória traçada e uma ordem de avanço. Alguns verbos estão no passado, indicando o
lugar de onde saímos e aquilo que Deus já fez por nós. Alguns deles, no pretérito
perfeito, indicam ações consumadas por Deus. È algo que foi feito e não se vai se
repetir. Outros verbos estão no gerúndio e indicam uma ação constante. É presente, mas
ainda não foi encerrada. São ações contínuas de Deus a nosso favor e ações contínuas da
nossa parte em busca do alvo. Outros verbos estão no futuro e apontam para o resultado
desejado. Destacam-se também aqueles que estão no modo imperativo e indicam ordem
para que avancemos em nosso caminho com Deus.
Alcançaram fé (1.1) Nos tem dado Acrescentai (1.5) Não vos deixarão
promessas (1.4) ociosos (1.8).
Havendo escapado
da corrupção (1.4)
Andreu Monteiro 53
Enquanto que no capítulo 1, Pedro falava a respeito dos cristãos fiéis, agora ele
passa a se referir aos falsos mestres, seu caráter, suas obras e o conseqüente castigo.
Esses são os que andam pelo "caminho de Balaão" (2.15). Sabendo de sua morte
iminente (1.14), o autor está preocupado com aqueles que talvez o sucederão e aos
demais apóstolos na liderança da igreja.
Os falsos mestres:
- Apesar de todo esse conteúdo maligno, tais homens apresentam uma aparência
positiva. Afinal, são líderes, são mestres, e prometem liberdade aos seus seguidores
(2.1,2,19). São fontes... sem água. São nuvens .... também sem água (II Pd.2.17; Jd.12).
O aspecto é promissor mas não produzem nada de positivo.
Pedro encerra sua obra com um capítulo escatológico. Após ter falado sobre dois
caminhos, dois tipos de vida, o apóstolo fala sobre a segunda vinda de Cristo (3.4) e,
novamente, trás à tona o tema do juízo, comparado ao dilúvio dos dias de Noé (3.7).
Está em destaque a aparente demora da "parousia".
Pedro adverte que o tempo de Deus é diferente do nosso. "Um dia para Deus é
como mil anos e mil anos como um dia". (3.8).
Enquanto que o dilúvio foi a destruição dos ímpios e suas obras através da água,
Pedro nos diz que o fim desta nossa era se dará por meio de um "dilúvio de fogo". O
Andreu Monteiro 55
1. Autoria
João, o apóstolo. Seu nome não é mencionado em suas três epístolas. Não
obstante, sua autoria foi confirmada por Policarpo, Papias, Eusébio, Irineu, Clemente de
Alexandria e Tertuliano. O nome "João" significa "graça de Deus". Era judeu, pescador
(Mt.4.21), irmão de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé (Compare Mt.27.56 e Mc.15.40).
Foi chamado de discípulo amado - Jo.13.23; 19.26; 21.20. Foi o discípulo mais íntimo
do Mestre. Até no momento da crucificação, João estava presente. Isso mostra sua
disposição de correr risco de vida para ficar ao lado de Jesus. Apesar de ter fugido no
momento da prisão de Cristo, João voltou pouco tempo depois.
Após o exercício do seu ministério em Jerusalém, João foi pastor em Éfeso, onde
morreu entre os anos 95 e 100. Policrates (ano 190), bispo de Éfeso, escreveu: "João,
que se reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido uma testemunha e um mestre,
dormiu em Éfeso."
5. Destinatários
6. Característica literária
7. O Propósito da carta
O propósito da carta está bem definido com também vimos no evangelho (João
20.31). A epístola foi escrita:
Entendemos que o autor estava bastante preocupado com a igreja, em seu estado
presente e futuro. Os demais apóstolos já haviam morrido e falsos mestres apareciam
por toda parte. Alertando os irmãos, o apóstolo ficaria mais tranqüilo e sua alegria seria
completa (1.4). Seu alerta é contra o pecado (2.1) e contra as heresias (2.26). São duas
portas para o diabo entrar nas vidas e nas igrejas. Embora as duas coisas estejam
intrinsicamente ligadas, as heresias apresentam um elemento muito perigoso. Todo tipo
de pecado deve ser evitado, mas se, eventualmente, cometermos algum, confessaremos
e seremos perdoados (1.7,9; 2.1). A heresia entretanto, constitui-se num caminho de
afastamento de Deus. A heresia, do tipo mencionado por João, leva à apostasia. Então,
tem-se uma situação muito perniciosa em que a pessoa está errada mas pensa que está
certa. Trata-se de um estado de pecado sem reconhecimento, sem confissão, sem
arrependimento e, consequentemente, sem perdão. Aquele que passa a crer numa
doutrina contrária à cruz, como pode ser perdoado? Não é que Deus se recuse a perdoá-
lo, mas a própria pessoa não acredita na única solução divina, que é o sacrifício de
Cristo. A reversão desse quadro é possível, mas muito difícil. O melhor é a prevenção
contra as heresias e isso se faz através do conhecimento e apego à Palavra de Deus.
8. Comentário
A situação da igreja inspirava cuidados. Notamos isso pelo que se lê nas cartas
às sete igreja da Ásia (Apc.2 e 3). As heresias grassavam em muitas comunidades. Em
Apocalipse, livro escrito na mesma época, João menciona as expressões "sinagoga de
Satanás" (Ap.2.9), "nicolaítas" (Ap2.6,15), "doutrina de Balaão"(Ap.2.14), etc.
1 - "Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?" (I Jo.2.22).
2 - "Quem é o que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" (I
Jo.5.5).
Andreu Monteiro 58
Quem - 4.7,8,9,10.
É possível passar de um lado para o outro. Esse trânsito pode ser chamado
conversão ou, no sentido contrário, apostasia. João disse que "passamos da morte para a
vida." (3.14). E o seu cuidado era para que não acontecesse o processo contrário com
alguns irmãos que, envolvidos pela heresia, pudessem passar da verdade para a mentira.
A heresia é uma doutrina errada, mas isso pode não estar tão claro no início. O que
chega até nós é simplesmente uma doutrina. Esta deve ser então identificada. Por meio
dos parâmetros encontrados na epístola, o autor identifica a doutrina, o mestre e o
espírito que está por trás (2.22-23, 4.1-6). As chaves identificadoras são:
Estes são os "instrumentos" que nos farão identificar a verdade e a mentira. Tais
indicadores são complementares entre si. Se alguém negar que Cristo é o Filho de Deus,
estará reprovado. Não está na verdade. Se alguém afirma que Cristo é o Filho de Deus
mas nega sua encarnação e morte, estará reprovado. Se alguém diz ter uma fé correta a
respeito de Cristo, então o próximo teste é a relação com os irmãos. Se a pessoa odeia
os irmãos ou lhes nega auxílio nas necessidades, então estará reprovada. Se a pessoa
ama o mundo, anda segundo o mundo, vive de modo agradável ao mundo, pecando
habitualmente, então está do lado da mentira. A relações com os irmãos e com o mundo
constituem evidências visíveis do tipo de relação que temos com Cristo, uma vez que
esse vínculo é espiritual e invisível.
Podemos ter nossa posição muito bem definida. Entretanto, vamos mantê-la?
Um outro verbo muito importante para João é "permanecer". Lembre-se do capítulo 15
do evangelho de João: "Permanecei em mim e eu permanecerei em vós". "Se alguém
permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto." "Se alguém não permanecer em
mim, será lançado fora." "Se vós permanecerdes em mim e as minhas palavras
permanecerem em vós pedireis o que quiserdes e vos será feito." "Permanecei no meu
amor...", etc.
COMBATE AO GNOSTICISMO
Outro verbo similar é o "saber". Essa palavra tem um sentido muito forte, pois
não admite dúvida, insegurança, medo nem ignorância. O comentário da Bíblia
Thompson chama a primeira epístola de João de "a carta das certezas". O autor usa o
Andreu Monteiro 61
VERDADEIRO - Mandamento - 2.8. Luz - 2.8. Unção - 2.27. Jesus - 5.20. Deus
- 5.20.
O amor vem de Deus, através de Jesus. "Ele nos amou primeiro". Daí em diante,
o amor deve ter livre curso em direção aos irmãos, mas não em direção ao mundo. O
amor deve "circular como sangue" no Corpo de Cristo, que é a igreja.
COMUNHÃO - 1.3,6,7.
MANDAMENTOS DE NEGAÇÃO
Andreu Monteiro 62
4. Palavra-chave: verdade.
5. Destinatária
A segunda epístola é dirigida a uma senhora e seus filhos. Tal mulher não é
identificada pelas escrituras. Há quem defenda a tese de que a "senhora eleita" seja
Maria, irmã de Marta, a qual estaria mencionada no versículo 13. Há quem tome o
termo "senhora" em grego, ”kuria”, considerando-o como nome próprio. Outras
hipóteses sugerem que João estivesse chamando de "senhora eleita" a uma igreja
específica ou à igreja em geral. Nada disso se comprova. Seguindo a mais rigorosa
interpretação, não podemos afirmar qual tenha sido essa mulher. Apenas entendemos
tratar-se de uma senhora que, provavelmente era viúva. Caso tivesse marido, não seria
natural que o apóstolo lhe dirigisse diretamente uma carta. O texto parece indicar que
Andreu Monteiro 63
em sua casa aconteciam reuniões da igreja (vs.10). De qualquer forma, trata-se de uma
mulher amada e respeitada por todos os irmãos que a conheciam (vs.1).
6. Esboço
1 - Saudações - 1-3.
4 - Saudações - 12-13.
7. Comentário
O autor não menciona seu próprio nome. Apresenta-se como "presbítero", que
significa "ancião", conforme já consta em algumas versões bíblicas. Os anciãos, desde
os tempos do Velho Testamento, eram os homens mais velhos, mais experientes, e, por
conseqüência, líderes do povo (Êx.3.16,18; 4.29; 12.21 etc.). Ao escrever seu evangelho
e epístolas, o apóstolo João já era idoso.
TEMA CENTRAL
Cristo veio e nos deu sua doutrina, seu mandamento, que consiste no amor a
Deus e ao próximo. O amor determina nosso vínculo com Deus e com os irmãos. Já
recebemos a sua doutrina. A questão agora é: vamos andar nesse mandamento? O verbo
"andar" é muito utilizado por João e também por Paulo, indicando nosso modo de vida,
nossas decisões, nossos rumos, nossas ações. Se praticamos a vontade de Deus, então
estamos andando em espírito (Gál. 5.16), andando com Deus (Gn.5.22,24), no caminho
que é Cristo (Jo.14.6). Contudo, de nada adianta estarmos no caminho por algum tempo
se sairmos dele antes de chegarmos ao lugar onde ele nos levaria. Portanto, precisamos
permanecer no caminho, por mais difícil que isso possa ser. Aos que permanecerem,
Deus dará a devida recompensa.
Os enganadores ameaçam o êxito desse processo (vs.7 a 10). Isso ocorre com
aqueles que abandonam o caminho da verdade e do amor, não permanecendo na
doutrina de Cristo (vs.9). Os que se desviam perdem a recompensa, perdem o fruto do
seu trabalho e fazem perder-se o fruto do trabalho daqueles que os conduziram a Cristo
(vs.8). João disse que alguns "vão além" da doutrina. Esta é uma forma sutil da heresia:
Esperar mais do que aquilo que Deus prometeu pode ser uma atitude inofensiva ou
não, dependendo da situação. Se alguém espera que Deus lhe dê uma casa na praia, isso
não é pecado. Contudo, não sabemos se Deus fará isso. Pode ser que sim e pode ser que
Andreu Monteiro 65
não, uma vez que a bíblia nunca nos prometeu esse tipo de coisa. Então, se Deus não
der, qual será a reação daquele que pediu e esperou? O problema se agrava quando esse
tipo de expectativa é alimentada por formas doutrinárias, como as que temos ouvido
hoje em dia, e que estão destituídas de fundamento bíblico. Esta é uma das formas de "ir
além" da doutrina de Cristo. A palavra do Senhor nos ensina que ele atende aos nossos
pedidos desde que estejam coerentes com a sua vontade (I Jo.5.14; Tg.4.3).
A doutrina gnóstica, tão influente nos dias de João, negava a humanidade de Cristo,
atribuindo-lhe apenas caráter espiritual. Era então um ensinamento espiritualista, o que,
aparentemente, demonstrava elevação, desapego em relação à matéria. Estavam indo
muito além da espiritualidade bíblica, a qual não nos nega o provimento às nossas
legítimas necessidades físicas (I Tm.4.1-3; Col.2.16-23). O cristianismo mostra o
espiritual se encontrando com a matéria. "O verbo se fez carne e habitou entre nós"
(João 1.14). E este era o principal ponto negado pelos enganadores a quem João
combatia (II João 7). O próprio batismo e a ceia do Senhor fazem com que os nossos
corpos participem das nossas experiências com Deus. Palavras de João: "vimos com os
nossos olhos... e as nossas mãos tocaram..." (I João 1.1). Era uma experiência física com
o verbo encarnado.
Uma espiritualidade exagerada, que vai além dos parâmetros bíblicos, é algo que
deve ser questionado. Como exemplo pode-se mencionar certas abstinências alimentares
ou o celibato. Tudo isso pode ser praticado, desde que seja voluntário. Se for obrigatório
será doutrina humana.
Sobre os enganadores, aqueles que não trazem a doutrina de Cristo, João diz: "Não
os recebais em casa nem tampouco os saudeis." Está estabelecido o limite para a
hospitalidade cristã, tão valorizada pelos escritores do Novo Testamento. Não devemos
ser tão bons ao ponto de acolher os lobos que vêm para ameaçar nossa firmeza na fé. O
apóstolo não está nos aconselhando a sermos rigorosos contra os fracos na fé, mas sim
contra aqueles que nos procuram com o objetivo de corromper a doutrina que
recebemos do Senhor. Não trate bem uma serpente. Ela te matará na primeira
oportunidade.
Deduzimos que a "senhora eleita" era uma viúva. Seria mais um motivo para que ela
ficasse atenta em relação àqueles que desejassem entrar em sua casa. Muitos
exploradores, disfarçados de mensageiros de Deus, "devoravam as casas das viúvas"
(Mt.23.14; II Tm.3.6).
PALAVRAS EM DESTAQUE
4. Palavra-chave: verdade.
5. Esboço
1 - Saudações - 1-4.
Andreu Monteiro 67
7. Destinatário
Não temos muitas informações sobre Gaio, a quem João escreve. Entendemos
que ele não era o líder de sua igreja local. O versículo 9 indica que o líder é outro.
Entretanto, parece que era bispo em Pergamo, e era uma pessoa proeminente que
andava na verdade (vs. 3,4).
8. Comentário
A QUESTÃO DA PROSPERIDADE
Andreu Monteiro 68
O verso 2 diz: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas
saúde, assim como bem vai à tua alma." Este talvez seja o versículo mais conhecido
dessa pequena carta, o qual é muitas vezes utilizado como apoio para a doutrina da
prosperidade. Devemos observar que a única certeza do texto está relacionada à alma do
destinatário, ou seja, seu bom estado interior. No mais, o verso expressa apenas o desejo
de João no sentido de que Gaio tivesse boa saúde e fosse próspero em todas as coisas.
Não temos ali uma promessa nem uma doutrina sobre prosperidade material. Tal êxito
depende do propósito de Deus para cada pessoa.
Tal expressão, tão importante para João, significa praticar, viver de acordo com
a verdade. O verbo andar foi também muito utilizado pelo apóstolo Paulo em seus
ensinamentos sobre a vida cristã (Gál. 5.16,25; Ef.4.1; 5.15; etc.). Trata-se do
"procedimento" mencionado no verso 5.
João se alegrou pelo testemunho dado pelos irmãos a respeito de Gaio. Contudo,
os estranhos também dão testemunho. Nesse contexto, os "estranhos" são irmãos vindos
de outros lugares. No verso 12, todos dão testemunho, inclusive o próprio apóstolo e a
própria verdade. Parece que a verdade, nesse contexto, está relacionada à doutrina, a
qual serviria como parâmetro para confirmar determinado testemunho.
Vemos portanto, que as nossas obras geram testemunhos a nosso respeito e essas
mensagens circulam rapidamente e estruturam ou derrubam nossa reputação.
ser líder, contudo não era vocacionado para aquele trabalho. Seu caráter se manifesta
por suas palavras e ações:
Gaio, que já andava na verdade, deveria se inspirar nos bons exemplos (v.11).
EPÍSTOLA DE JUDAS
1. Autor:
2. Data: entre 64 e 70 d.C.. Entretanto alguns sugerem que foi após a queda de
Jerusalém (v. 17)
4. Palavra-chave: Guardar.
6. Esboço
1 - Saudações - 1-2.
5 - Doxologia - 24-25.
7.Comentário
O problema central apresentado pela epístola de Judas é o caso daqueles que não
guardaram suas posições e se perderam, tornando-se exemplos do juízo divino (v.6). O
Andreu Monteiro 71
autor cita como exemplos: o povo de Israel no deserto, os anjos, Sodoma, Gomorra,
Caim, Balaão e Coré. Ele fala de experiências coletivas e individuais. Menciona desde
pessoas que conheciam bem pouco sobre Deus, passando por aquelas que conheciam
muito e chegando a mencionar os anjos, que viam a Deus face a face. O que todos
tiveram em comum foi a corrupção e a conseqüente destruição. É impressionante
observarmos que o povo de Israel, por sua rebelião e incredulidade, entra para uma lista
de exemplos ao lado de Sodoma e Gomorra. Da mesma forma, um profeta ganancioso,
Balaão, é listado juntamente com Caim, o irmão homicida. Isso mostra que, seja qual
for a nossa posição, devemos ser cuidadosos para não entrarmos nas listas daqueles que
não guardaram sua condição original e se corromperam. "Guarda o que tens, para que
ninguém tome a tua coroa" (Apc.3.11).
Por quê alguém deixaria sua posição de obediência a Deus para se tornar um
infiel? Tal pergunta fica muito difícil de ser respondida se indagarmos a respeito da
queda de Satanás. Daí em diante, um dos meios mais utilizados foi a persuasão. Assim,
os anjos foram levados, e também Adão e Eva. O infiel vai propagando a infidelidade.
Judas estava preocupado com essa prática, pois os hereges se manifestavam dentro da
igreja e ameaçavam a firmeza dos irmãos através de doutrinas erradas.
OS MENSAGEIROS DO MAL
Tais elementos são muito perigosos porque entram nas igrejas (v.12) e
conseguem posições de liderança e ensino (v.8,12). A sua aparência não é ameaçadora.
Pode até ser agradável. Contudo, seu procedimento denuncia seu caráter. O autor utiliza
muitas figuras de linguagem para mostrar tal realidade.
APARÊNCIA CARÁTER
Ondas bravias
Estrelas errantes
Rochas submersas
A aparência pode ser muito boa, mas o conteúdo deixa a desejar. Apresentam
um potencial muito grande, mas não utilizado como deveria. Por exemplo, a rocha, que
poderia servir como base em uma construção, encontra-se submersa, representando um
perigo oculto e fatal.
Assim, Judas apresenta o caráter dos falsos mestres, o perigo de sua mensagem e
o destino que lhes cabe, a exemplo do que aconteceu com os rebeldes israelitas do
deserto, e Sodoma, Gomorra, etc.
Não devemos olhar para os fracos na fé e vê-los como falsos na fé. Por isso,
Judas adverte que devemos ter compaixão daqueles que estão em dúvida (v.22).
Devemos salvá-los (v.23), tomando cuidado para não sermos contaminados com seus
erros práticos ou doutrinários.
Judas adverte a respeito dos falsos, mas tem uma expetativa positiva em relação
aos verdadeiros irmãos. "Mas vós, amados, lembrai-vos das palavras que foram preditas
pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; " (v.17). "Mas vós, amados, edificando-
vos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de
Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna". (v.20-
21). A conjunção "mas" introduz um texto com teor contrário ao anterior. Depois de
falar sobre a mensagem, a vida e o destino dos falsos mestres, o autor exorta que os
destinatários se firmassem na palavra ensinada pelos apóstolos de Cristo. Desse modo,
Andreu Monteiro 73
O APOCALIPSE
O GÊNERO APOCALÍPTICO
Esse foi um estilo literário que se destacou principalmente entre os anos 210 a.C.
e 200 d.C. Seu ambiente de origem era uma época de tribulação para povo de Deus.
Diante de circunstâncias que incluíam opressão, perseguição, exílio ou domínio
estrangeiro, os escritos apocalípticos traziam uma mensagem de esperança através de
uma linguagem enigmática. Seu objetivo era reanimar judeus ou cristãos, trazendo-lhes
profecias a respeito da futura intervenção divina para libertar o seu povo, restituindo-lhe
a glória usurpada.
Andreu Monteiro 75
Muitos "apocalipses" surgiram, tendo como principal modelo o livro de Daniel. Este foi
escrito durante o exílio Babilônico e trazia uma mensagem sobre o Reino de Deus que
viria destruindo todos os reinos opressores. Daí em diante, muitos livros apocalípticos
foram produzidos. Um dos momentos de opressão vividos por Israel foi o domínio
romano, produzindo assim mais uma ocasião propícia a esse tipo de literatura, que
muitas vezes incluía profecias messiânicas. Diversos escritos desse tipo não foram
reconhecidos como canônicos. Como exemplos podemos citar o Apocalipse de
Baruque, Apocalipse de Pedro, O Pastor de Hermas, A Assunção de Moisés, A
Ascensão de Isaías, O livro de Jubileus, Os Salmos de Salomão, Os Testamentos dos
Doze Patriarcas, I Livro de Enoque, II Livro de Enoque, II Esdras e IV Esdras.
Alguns detalhes do livro reforçam a crença na autoria joanina. Jesus é apresentado como
o Verbo de Deus e o Cordeiro (Ap.19.7,13), exatamente como acontece no evangelho
de João (1.1,29). A palavra "testemunho" se destaca assim como acontece no evangelho
e na primeira e terceira epístolas. Notamos assim "a mão" de João no Apocalipse.
O QUE É APOCALIPSE?
revelação. O livro revela que Deus tem um plano, cujo desfecho é a vitória de Cristo.
Podemos não saber o que é a besta, mas sabemos que ela será vencida pelo poder de
Deus. Esta revelação está clara e evidente no Apocalipse.
DADOS GERAIS
Data - 95 ou 96 d.C.
Versículo-chave - Apc.1.7.
Versículo-esboço - Apc.1.19.
GÊNESIS X APOCALIPSE
GÊNESIS APOCALIPSE
Início Fim
Adão Cristo
CIRCUNSTÂNCIAS E OBJETIVO
Na época em que o Apocalipse foi escrito, a igreja estava sofrendo muito por
causa da perseguição do Império Romano. João estava preso em Patmos e todos os
outros apóstolos do primeiro grupo haviam morrido. Seria natural que muitos
começassem a questionar se aquele não seria o fim do cristianismo. Será que a igreja
resistiria àquela fúria das forças do mal?
O livro de João vem mostrar o futuro: o castigo dos ímpios, a volta de Cristo,
seu triunfo juntamente com a igreja e o estabelecimento do Reino de Deus. O Império
Romano não prevaleceria contra os desígnios divinos.
A LINGUAGEM SIMBÓLICA
modo compreensível. Como podemos explicar a um cego de nascença o que seja cor?
Qualquer explicação, por mais correta e científica que seja, não lhe dará nenhuma idéia
a respeito do assunto.
Por exemplo, quando Jesus disse que era o "pão da vida" (Jo.6.35), ele buscou
um elemento do cotidiano dos seus ouvintes para mostrar que ele vinha suprir a
necessidade espiritual do homem. Quando a bíblia fala em "reino de Deus", está
buscando na monarquia, sistema de governo comum naquela época, uma série de
princípios existentes na relação rei-súdito que deveriam existir na nossa relação com
Deus. A linguagem simbólica traz muito conteúdo em poucas palavras. Assim, se
usamos o leão como símbolo, logo nos vem a mente sua ferocidade, sua coragem, sua
força, sua fome, sua beleza, sua "majestade", etc. Se falamos em cordeiro, estamos
destacando sua cor e sua índole como símbolos de pureza, inocência, docilidade,
submissão, etc.
QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO
Este é um dos maiores dilemas que envolvem o estudo bíblico. O que é literal e
o que é simbólico? Encontramos ambos os casos dentro das Escrituras. Então o
problema se torna maior: como discernir o literal do simbólico? Tal tarefa nem sempre é
fácil. Muitas vezes é difícil e, em algumas situações, parece impossível, a não ser que
tenhamos uma iluminação divina.
Muitas vezes, é a falta de fé que faz com que algumas pessoas considerem como
simbólico um texto literal. Por exemplo, a ressurreição de Cristo pode ser tão
inacreditável para alguns, que podem acabar considerando-a um símbolo.
Texto literal
Texto simbólico
Uma palavra pode ser usada literalmente em uma passagem bíblica e como
símbolo em outra. Por exemplo, as estrelas no Salmo 8.3 são literais. Em Apocalipse
Andreu Monteiro 80
O SIMBOLISMO NO APOCALIPSE
João viu realidades espirituais indescritíveis. Notamos seu esforço para explicar
o que estava vendo, ouvindo e sentindo. Ele faz diversas comparações na tentativa de
transmitir aos leitores suas impressões. Assim, os termos "como", "semelhante" e o
verbo "parecer" são utilizados para dar uma idéia das extraordinárias visões do autor.
Em outros momentos ele não faz comparações explícitas mas usa as figuras de forma
direta, fazendo comparações implícitas.
Andreu Monteiro 81
Os símbolos usados pelo autor eram bem familiares para os seus destinatários.
Livros selados, trombetas, carros puxados por cavalos, letras gregas, tudo isso era do
conhecimento das pessoas que receberiam o Apocalipse. Ao lermos, precisamos saber o
que cada coisa significa e qual era o seu sentido naquela época. Talvez não consigamos
isso para todos os itens envolvidos, mas este é o caminho a ser trilhado pelo intérprete.
trovões, relâmpagos,
saraiva)
Verde Esperança
NUMEROLOGIA
números e ter seu valor totalizado. Isso ocorreu, por exemplo, com algumas letras do
alfabeto romano e também com o hebraico. O fato de se obter um valor para um nome
não nos diz nada, a não ser que os números representem algum valor moral ou
espiritual, uma bênção ou uma maldição.
1 Unidade
2 Fortaleza, confirmação
3 Divindade
4 Mundo físico
5 Perfeição humana
7 Perfeição, plenitude
40 Provação
70 Sagrado
Para entender um livro, precisamos lê-lo por completo. Assim, teremos uma
visão geral do mesmo. Perceberemos a intenção do autor e a sua mensagem geral. Caso
contrário, se lermos um verso aqui e outro lá de modo desordenado, terminaremos com
uma coleção de retalhos desconexos. Lendo todo o livro, vamos descobrir que ele é
auto-explicativo em alguns pontos, como se vê em Apocalipse 1.20.
Podemos ler o capítulo 12, verso 5, onde o autor menciona o "filho varão",
aquele que "regerá as nações com vara de ferro". A comparação com 19.13 a 16 nos fará
compreender que aquele que "regerá as nações com vara de ferro" chama-se "Verbo de
Deus", "Rei dos reis" e "Senhor dos Senhores". Logo, o próprio texto já nos mostrou
quem é o "filho varão": o próprio Senhor Jesus. Tal conclusão também se utiliza do
conhecimento geral que temos da bíblia. O Salmo 2 chama de "Filho" aquele que
"regerá as nações com vara de ferro". O livro de Hebreus, no capítulo 1, nos informa
que esse "Filho" é o Senhor Jesus. Além disso, o evangelho de João (1) nos diz que
Cristo é o Verbo que se fez carne.
É conclusivo também que, se alguém não conhece a bíblia de modo geral, não
deve se arriscar no terreno das interpretações apocalípticas. Precisa começar por
Gênesis.
Outros exemplos:
Andreu Monteiro 85
1 – Preterísmo
Este é o ensino que nos afirma que tudo que é profetizado no livro do
Apocalipse já aconteceu; que de fato tudo já acontecera antes do início do quarto século
da era cristã. O ponto de vista consiste em que o livro é uma profecia do que a igreja
estava para suportar, primeiro dos judeus, e então do Império Romano
O ponto de vista preterista foi pela primeira vez proposto por volta de 1614, por
um sacerdote jesuíta, cujo nome era Alcazar. Esta teoria foi elaborada em reação ao
ensino dos pais protestantes que diziam ser o papado o anticristo, a segunda besta
descrita em Apocalipse, capítulo 13, e o pequeno chifre de Daniel, capítulo 7. Ora aqui
estava a tentativa de Roma de negar aquela crítica e desviar a atenção do papado e de
tudo que é verdade a respeito dela.
Assim, para eles, o Apocalipse trata inteiramente apenas dos três primeiros
séculos. Com esta idéia o papado deixou de ser a besta para ser a concretização gloriosa
do Apocalipse.
2 - Futurismo
É importante observar que este ensino tinha como ponto de partida outro
sacerdote jesuíta, um homem chamado Ribera, que o propôs cerca de 1603 d.C.. o que
inspirou Ribera foi desviar do papado e de Roma o enfoque do livro, e o direcionar
Andreu Monteiro 86
O ponto de vista futurista foi adotado após a 1830, quando foi ensinado por
certos membros das conferências proféticas, especialmente J. N. Darby. Posteriormente
este ensino foi mais popularizado pelas notas da Bíblia Schofield. Foi a partir da teoria
futurista que surgiu o Dispensacionalismo.
Cap 1 – Apresenta o relato da visão que fora dada a João (Ap 1.19).
3 - Historicismo
Não devemos tomar uma postura extremista nessa questão, mas buscar uma
visão equilibrada, que pode levar em conta todas as quatro correntes de
interpretação. Cremos em um cumprimento histórico que, automaticamente,
engloba a visão pretérita e a futurista. Por exemplo, as cartas às 7 igrejas se
referiam a problemas existentes nos dias de João. Está cumprido. Entretanto, os
princípios espirituais ali presentes são perfeitamente aplicáveis aos nossos dias.
Pela sua infinita sabedoria, Deus nos deixou uma Palavra que não perde sua
validade.
Devemos nos lembrar que um relato sobre fatos ocorridos nos dias de João pode
também ser uma profecia para outra época. Por exemplo, quando escreveu o
Salmo 22, o autor estava falando de suas próprias experiências e, ao mesmo
tempo, estava profetizando sobre os sofrimentos de Cristo. Vistas sob este
ângulo, várias profecias apocalípticas podem ter se cumprido na queda do
Império Romano e terem ainda outro cumprimento mais amplo nos últimos dias.
A profecia de Jesus em Mateus 24 parece estar ligada à destruição de Jerusalém
e também aos últimos dias. "Os que estiverem na Judéia fujam para os montes...
Não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam." (Mt.24,16,34).
ESBOÇO DO APOCALIPSE
COMENTÁRIO GERAL
Este comentário não tem como objetivo seguir ou defender uma única linha de leitura
do apocalipse (preterista, futurista, historicista, idealista), mas simplesmente
abordarmos os principais temas da carta com uma visão mais generalizada e apresentar
a diversidade de opiniões nos assuntos em que for necessário. É tarefa do leitor e do
estudante se aprofundar mais nos tipos de leitura da carta, e posteriormente montar um
esboço de acordo com seu pressuposto de análise.
1.5 - Fiel testemunha, primogênito dentre os mortos, soberano dos reis da terra.
5.6 - Cordeiro
CARTAS ÀS 7 IGREJAS
A igreja de Filadélfia não foi repreendida. A de Laodicéia não recebeu nenhum elogio.
Curiosamente, um sínodo realizado em Laodicéia no século IV negou reconhecimento
ao Apocalipse como livro canônico [Champlin].
Em algumas das cartas, percebemos uma relação direta entre a apresentação que o
Senhor faz de si mesmo e o conteúdo da mensagem.
Nas outras cartas, essa relação não está tão clara. Talvez, tenhamos perdido um pouco
das características originais quando o texto foi traduzido.
A ADORAÇÃO NO APOCALIPSE
TEXTO ADORAÇÃO A
Andreu Monteiro 91
Apc.4.10 Deus
Apc.11.1,16 Deus
Apc.13.12 A besta
Apc.14.2 Deus
Apc.19.4 Deus
Em Apocalipse 8.1 verificamos que houve silêncio no céu durante meia hora. Isso nos
faz deduzir que existe um som de louvor e adoração constante no céu. João viu os 24
anciãos e os seres viventes que adoravam a Deus e ao Cordeiro. As impressionantes
profecias do livro estão intercaladas com manifestações de adoração e cânticos. Em sua
visão do céu, João viu um santuário e peças que nos lembram o tabernáculo e o templo
do Velho Testamento. Existe no céu um lugar de culto utilizado pelas hostes celestiais.
Ali também adoraremos a Deus e ao Cordeiro pelos séculos dos séculos.
Andreu Monteiro 92
AMOR E JUÍZO
João, o discípulo amado, fez do amor um de seus principais temas, seja no seu
evangelho ou em suas epístolas. Em Apocalipse, porém, o amor de Jesus e da igreja é
mencionado apenas até o capítulo 3. Ao falar à igreja de Filadélfia, Jesus declara: "Eu te
amo." (Apc.3.9). Filadélfia significa "amor fraternal".
Sabemos, porém, que o amor de Deus é eterno e sua manifestação ocorre através das
bodas do Cordeiro e da recepção dos salvos na glória.
De acordo com esta hipótese, que é muito aceita e essencialmente futurista, a abertura
do primeiro selo seria o início da Grande Tribulação (Ap.7.14), que incluiria os selos, as
trombetas, as taças e todos os flagelos destinados aos ímpios e às forças do mal. No
meio da cena encontram-se o dragão e as duas bestas tentando usurpar a glória que é
devida ao Cordeiro. O dragão é Satanás. As duas bestas são o Anticristo e o Falso
Profeta.
Durante a Grande Tribulação muitos seriam salvos e morreriam por sua fé. Enquanto
isso, estaria acontecendo no céu as bodas do Cordeiro. Ao fim desse período, Cristo
desceria do céu para aniquilar a besta e o falso profeta. O dragão seria preso por mil
anos e nesse período Cristo reinaria com todos os santos sobre a terra. Estaria encerrada
a Grande Tribulação e inaugurado o milênio, ao fim do qual, Satanás seria solto e
tentaria novamente uma reação contra Cristo. Entretanto, seus agentes seriam
consumidos antes de iniciarem a batalha.
Andreu Monteiro 93
Na seqüência ocorre o juízo final, que será o julgamento de todos os homens. Aqueles
cujos nomes não se encontram no livro da vida serão lançados no lago de fogo, onde
serão atormentados eternamente. Em seguida, João vê a Nova Jerusalém. Essa passagem
é vista como uma descrição do estado eterno dos salvos. A cidade seria o lugar onde
viveremos para sempre com Cristo.
QUESTIONAMENTOS E OBSERVAÇÕES
Algumas dessas afirmações são amplamente aceitas. Tal arranjo escatológico pode
parecer bastante apegado ao texto. Contudo, observamos que essa interpretação contém
alguns pontos questionáveis e incertos. Outros parecem perfeitos.
céu. Não obstante, cremos no arrebatamento da igreja, o qual ser encontra de forma
mais clara em I Tessalonicenses 4.17. Sobre o Anticristo falaremos de modo mais
específico.
Todo esse questionamento, feito por comentaristas e teólogos, cria uma série de
correntes de interpretação designadas como: milenistas, pré-milenistas, amilenistas, pré-
tribulacionistas, pós-tribulacionistas, etc.
O único autor bíblico que usa a palavra "anticristo" é João, mas não no Apocalipse. A
citação é nas epístolas. Tal personagem escatológico é normalmente entendido como
sendo o "iníquo" ou "homem do pecado" ou "filho da perdição" mencionado por Paulo
(II Tss.2.3,8). Da mesma forma, a besta que sobe do mar, em Apc.13, é identificada
pelos intérpretes como o Anticristo. Embora o texto não diga isso, o modo de agir da
besta parece dize-lo. Sua ação é sobretudo anti-cristã. A besta quer para si a adoração
que é devida ao Cordeiro. Então, encaixa-se no perfil traçado por Paulo.
Quem é o Anticristo? Alguns dizem que é um sistema político, mas a maioria dos
estudiosos o vêem com sendo um homem. Isto é bastante coerente com as citadas
palavras de Paulo. O texto de II Tessalonicenses não é essencialmente simbólico. Então,
quando o apóstolo diz que é um homem, devemos entender literalmente. Afinal, aquela
igreja já estava com muitos problemas de entendimento escatológico e Paulo precisava
ser o mais claro possível.
O próprio João disse que muitos "anticristos" tinham se levantado (I João 2.18,22; 4.3;
II João 7). Contudo, é bastante aceita a crença numa personificação do mal através de
um Anticristo escatológico, aquele que estará no mundo no dia da segunda vinda de
Cristo (II Tss.2.8). Hitler, alguns líderes religiosos e outros malfeitores da história
foram apontados como sendo o Anticristo. Porém, Jesus não voltou em suas épocas e o
"cargo" ficou para outra pessoa.
Em todas as épocas da história, o poder político teve alguma ligação com o poder
religioso. Os déspotas eram avalizados pelo clero. Assim, o povo reconhecia o origem
divina da autoridade absoluta e permanecia submisso. Da mesma forma, o Anticristo
precisará do Falso profeta, que é a besta que sobe da terra. O Falso Profeta parece
representar o poder religioso que fará parceria com o Anticristo, talvez numa
manifestação ecumênica.
O comércio, prática tão comum na vida humana, toma aspectos malignos quando se
comercializa o que não deveria ser vendido. Por exemplo, podemos mencionar o
episódio quando Esaú vendeu seu direito de primogenitura. Assim, o comércio da
grande Babilônia inclui uma abominável troca de valores. O ápice de tal negociação é
expresso através do comércio de almas humanas (Apc.18.13). A mais clara forma de
comércio de almas é através de uma falsa religião que se pratica apenas por motivos
financeiros.
O que será a Grande Babilônia? Uma hipótese é que a cidade com esse nome, às
margens do Rio Eufrates, hoje reduzida a ruínas, venha a ser reconstruída e volte a ter
projeção mundial. Outra teoria associa a cidade a uma religião de alcance mundial.
Como religião mundial, alternativa plausível, a Grande Babilônia poderia ser vista como
uma falsa igreja, em contraposição à Nova Jerusalém, que desce do céu. João viu as
duas cidades e seus destinos. A Nova Jerusalém é a noiva. Babilônia é meretriz. A
Andreu Monteiro 96
Grande Babilônia será destruída pelos juízos divinos, enquanto que a cidade santa será a
morada de Deus e do Cordeiro.
A Nova Jerusalém muitas vezes é tomada de forma literal. É vista como uma cidade
onde os salvos vão morar. Contudo, o texto é carregado de símbolos, levando a crer que
própria cidade é apenas um símbolo da igreja triunfante. Veja o paralelo.
OS PARÊNTESES DO APOCALIPSE
O relato de João parece apresentar uma série de fatos que vão ocorrendo de modo
consecutivo, embora exista uma hipótese de que as várias visões apocalípticas se
refiram aos mesmos fatos históricos. Assim, as 7 trombetas, as 7 taças e os 7 selos
seriam diferentes versões dos mesmos juízos. Uma base para esse tipo de visão está em
Gênesis 41, onde "vacas" e "espigas" eram dois símbolos para um só fato.
- Comer o livrinho significa tomar conhecimento das profecias acerca dos últimos dias.
O livro é doce na boca mas amargo no ventre. A mensagem apocalíptica fala de
esperança e glória, mas também de grande tribulação.
Alguns eruditos se recusam a ver as duas testemunhas como dois homens. Daí surgem
outras hipóteses. Seriam elas o Velho e o Novo Testamento? Tal sugestão não parece
razoável. Há quem entenda que as testemunhas sejam apenas um símbolo da igreja em
seu papel de evangelização.
Andreu Monteiro 97
CONCLUSÃO
O Apocalipse trata dos últimos lances da guerra histórica entre o bem e o mal. Satanás
usa suas últimas armas durante o tempo que lhe resta. Contudo, a vitória divina é
inevitável. Em meio a todo esse combate estão os homens, servindo a um dos lados.
"O Espírito e a noiva dizem: Vem. Quem ouve diga: Vem. Quem tem sede, venha; e
quem quiser, tome de graça da água da vida." (Ap.22.17).
Andreu Monteiro 98
BIBLIOGRAFIA BÁSICA