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Série de mensagens sobre os 10 mandamentos

Recapitulação

Como dissemos há alguns domingos atrás, os mandamentos foram dados no contexto em que
Deus estava fazendo um pacto, uma aliança com o seu povo. Ele disse no vs. 1, eu tirei vocês
do Egito, e agora vocês me pertencem como meu povo, por isso, vocês não podem adorar
qualquer outro Deus além de mim, nem poderão fazer imagem de escultura, nem tomar o
meu nome em vão, e assim por diante.

Falamos no último culto, que o segundo mandamento envolve a questão do culto que
prestamos, pois Deus não está preocupado não somente que Ele seja adorado, mas que Ele
seja adorado da maneira que Ele quer, ou seja, por meio da Sua Palavra.

O Terceiro Mandamento (Ex 20. 7)

Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não terá por inocente o
que tomar o seu nome em vão.

Intro

Milan, chamado Malanildo Carneiro Aguiar.

Eu conto essa história porque a realidade é que nomes importam. O nome de uma pessoa
importa porque o nosso nome está intimamente associado a quem nós somos, ou seja, o
nosso nome remete a quem nós somos. Mesmo que na nossa cultura esse ideia tenha se
perdido, já que nós não damos o mesmo valor aos nomes como nas culturas antigas (poucos
escolhem os nomes dos seus filhos por alguma razão especial) na Antiguidade os nomes eram
mais significativos que nos nossos dias. Antes de entrar no texto propriamente dito,
lembremo-nos que os 10 Mandamento foram dados em uma cultura diferente da nossa. A
cultura hebraica antiga, considerava que os nomes eram importantes, pois estavam associados
ao caráter da pessoa. Lembrem-se, por exemplo, que Deus muda o nome de Abrão, para
Abraão. Aquele que antes era chamado de “Pai ilustre”, foi chamado por Deus de Abraão, que
significa “Pai de muitos”, por causa da aliança que Deus faz com ele. Da mesma forma que
Jacó, “Agarrado ao calcanhar”, virou “Israel”, isto é, “Aquele que luta com Deus”. Por isso o
nome de alguém na antiguidade comunicava muito a respeito de uma pessoa. Por isso saber o
nome, era em tese ser íntimo dela (interessante como essa tradição permaneceu na cultura
alemã).

1. O conceito negativo: Não tomarás o nome de YHWH de maneira pecaminosa.

Essa é a razão pela qual Deus se importa tanto com o seu nome, porque Ele não quer que
associem o seu caráter, às coisas que são más, que são enganosas. Aliás, é exatamente esse o
significado da Palavra “vão”, aquilo que é enganoso. Não é simplesmente algo vazio, que não
tem valor. Na verdade outro mandamento usa esta mesma palavra. O penúltimo mandamento
ao dizer “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Ex 20.16), usa a mesma palavra
que foi traduzida como vão. Ou seja, Deus está dizendo que não quer seu nome associado ao
engano, à mentira, aquilo que é falso. Essa na realidade é a essência do Mandamento: Que o
nome de Deus nunca seja associado aquilo que é pecaminoso.

Deus leva tão a sério o seu nome, que dos dez, esse é o terceiro mandamento. Além disso, veja
que Ele associou uma ameaça, uma maldição àquele que usar seu nome de maneira enganosa:
Ele diz que não tomará por inocente. Lembrem-se que a primeira petição que Jesus faz na
oração que ele nos ensinou é: santificado seja o teu nome.

Agora que sabemos que o nome de Deus é valioso, e que Ele não quer seu nome associado
com aquilo que é mau, afinal, como nós corremos o risco de tomar o nome de Deus em vão?
Isto é, como eu quebro o mandamento? Eu particularmente gosto da maneira como os autores
do Catecismo de Heidelberg responderam a essa pergunta:

99. O que Deus exige no terceiro mandamento?

R. Não devemos blasfemar ou profanar o santo nome de Deus por maldições ou


juramentos falsos nem por juramentos desnecessários. Também não devemos tomar
parte em pecados tão horríveis, ficando calados quando os ouvimos. Em resumo,
devemos usar o santo nome de Deus somente com temor e reverência a fim de que
Ele, por nós, seja devidamente confessado, invocado e glorificado por todas as nossas
palavras e obras.

1. Por meio das nossas palavras: A Confissão em primeiro lugar revela a interpretação
tradicional do 3º mandamento. Os judeus tinham tanto receio de somente pronunciar o nome
de Deus, que eles não escreviam o nome de Deus como era (YHWH), mas misturavam com
vogais de outra palavra. Essa tradição chegou até mesmo às nossas traduções, pois quando
aparece o nome SENHOR escrito em letras maiúsculas, está escrito o nome de Deus, que no
português é Jeová, ou Javé. Ou seja, o texto diz literalmente: Não tomarás o nome de JAVÉ, teu
Deus, em vão. Por isso, o primeiro mau uso do nome de Deus tem a ver com aquilo que
falamos. Aqui vão alguns exemplos:

1a. Blasfemar o nome do Senhor: Em Lv 24.16 sabemos que qualquer um que


amaldiçoasse o nome de Deus seria punido com apedrejamento.

2b. Jurar falsamente em nome do Senhor era proibido: perceba que não era proibido
jurar, nem mesmo jurar em nome de Deus, mas sim o jurar em nome do Senhor
sabendo que determinada coisa era mentira. (Lv 19.12). Isso também se aplica em
nossos dias, quando juramos falsamente por alguma coisa.

3b. Falar em nome do Senhor de maneira falsa: todos aqueles que usavam o nome do
Senhor, mas ensinavam doutrina falsa (Jr 23.31). Aqui é que a coisa fica realmente séria,
porque usar o nome do Senhor também implica em ensinar aquilo que é falso em nome
de Deus. Não só o Brasil, mas em toda parte desde os tempos mais antigos, os falsos
profetas falam falsamente em nome do Senhor.

2. Por meio das nossas obras: Mas eu creio que você deve estar pensando: bom, pastor, eu
entendi que nós não devemos pronunciar o nome de Deus dessa maneira, mas se for o caso,
até que eu não estou tão mal assim... eu nunca blasfemei com o nome de Deus, eu evito até
fazer juramentos, e eu não sigo nem apoio nenhum falso profeta...

O problema é que, como eu disse, geralmente associamos o esse mandamento somente ao


ato de falar; mas nós precisamos lembrar que o verbo “tomar”, em hebraico (‫ )נָסָ ה‬nassah, tem
uma infinidade de significados. Você pode tomar um caminho, você pode tomar água, você
pode tomar alguém de assalto, você pode tomar alguma coisa, etc.

Na língua hebraica a palavra (tomar) nassah também tem muitos significados, e um deles é
levar, carregar. Eu gostaria que lêssemos alguns capítulos mais adiante, em Ex 28.36-38 nós
veremos que lá Deus ordenou que fosse feita uma roupa para Arão, pois ele era o sumo-
sacerdote da nação de Israel. Nesta roupa havia uma mitra, uma espécie de turbante, e nesse
turbante havia uma plaqueta de ouro (LER O TEXTO). O trecho que nós lemos nos diz que
Arão, o sumo sacerdote de Israel, literalmente carregava o nome de Deus escrito em sua testa,
apontando para o fato de que aquele sacerdote era santo, assim como o Senhor é. O texto
continua dizendo que esse nome serviria para LEVAR, ou seja TOMAR a iniqüidade das coisas
santas. Essa era uma parte importante dos rituais do AT. Quando alguma pessoa ou alguma
coisa tivesse sido contaminada por contato com um cadáver, ou com uma mulher no seu
período menstrual, ou um leproso, essa pessoa ia a presença do sacerdote para ser purificada
por intermédio do contato. O judeu impuro era tocado pelo sacerdote, mas por causa do
nome que o sacerdote tomava, ele não ficava impuro, mas a pessoa era purificada. Lembram-
se, por exemplo, quando Jesus em Mt 8.1-3 encontra um leproso, e Jesus propositadamente
encosta nele, o que acontece? Jesus se torna impuro? Não! O leproso é purificado. Guarde
essa informação.

Mas eu quero citar ainda outro texto, Disse o SENHOR a Moisés: Fala a Arão e a seus filhos,
dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel e dir-lhes-eis: O SENHOR te abençoe e te guarde;
o SENHOR faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti
levante o rosto e te dê a paz. Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os
abençoarei. (Num 6.22-27)

Você pode estar se perguntando: que raios tem a ver Arão e o sacerdócio de Israel comigo?
Ora irmãos, o fato é que nós, sendo o povo de Deus, o povo de YHWH já recebemos o nome do
SENHOR. No momento em que nós fizemos uma aliança com Ele em Cristo Jesus, nós
passamos a ser sacerdotes, é isso que diz 1Pe 2.9 (Vós porém...). Nós temos um nome a zelar,
o nome do Senhor que foi colocado sobre nós, e que nós tomamos, e que não podemos
associar esse nome com aquilo que é pecaminoso.

Um dos maiores temores dos brasileiros é entrar na lista do SPC. Como vocês devem saber,
aqueles que foram cadastrados neste serviço estão impossibilitados de conseguir créditos para
compras. Em tempos passados nós diríamos que “a pessoa está com o nome sujo na praça”. É
justamente essa ideia. Tomar o nome de Deus é ter a responsabilidade de viver em integridade
e santidade, já que nós somos representantes do SENHOR. O nosso modo de viver está
intimamente ligado ao modo como as pessoas verão a Deus.

Lembro-me que um pastor certa vez me contou que foi comprar um carro, e pra isso foi pedir
um financiamento. Na concessionária ao ser recebido pelo vendedor, começou a preencher os
papéis: nome, endereço, estado civil, profissão: quando ele disse que era pastor, o vendedor
parou de preencher e disse: “senhor, infelizmente são ordens da diretoria que nós não
vendamos mais carros para pastores.” Esse é o retrato do evangelicalismo brasileiro, e na
Alemanha não é nada diferente.

É interessante, e ao mesmo tempo trágico, perceber como muitas pessoas se dizem cristãs,
dizem carregar o nome de Cristo, o nome de Deus, mas suas vidas não mudaram em
absolutamente nada. Continuam dando um péssimo testemunho, fazendo fofocas, odiando o
próximo, sendo gananciosas, praticando todo o tipo de pecado quem envergonha o nome do
Senhor.

2. O conceito positivo: Devemos honrar o nome do Senhor com nossas palavras e obras.
É importante lembrar que o mandamento não proíbe tomar o nome de Deus. O mandamento
não diz: não tomarás o nome de YHWH. Na verdade, nós não temos qualquer opção de tomar
ou não tomar o nome de Deus, nós que somos o povo de Deus, já temos o nome do SENHOR
associado a nós. A tarefa que temos então é de tomar o nome de Deus de maneira que Ele seja
honrado.

1. Por meio das nossas palavras: Ou seja, que em nossos lábios o nome de Deus seja invocado
da maneira correta, por exemplo, clamar pelo Senhor em tempos de aflição. Que juremos
apenas pelo nome do Senhor, obviamente quando o juramento for baseado na verdade, e que
nos esforcemos para conhecer o Senhor, e proclamar a doutrina verdadeira, baseada nas
Escrituras.

2. Por meio das nossas obras: Se nós não podemos associar o nome de Deus com aquilo que é
pecaminoso, qual o oposto disso? Ora, devemos honrar o nome que carregamos, e levar uma
vida de santidade, a fim de que aqueles que estão ao nosso redor vejam as nossas obras e
glorifiquem a Deus (Mt 5.16).

O texto que me vem à mente quando eu falo sobre isso é Cl 3.17, quando o apóstolo Paulo diz:
E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando
por ele graças a Deus Pai. (Cl 3.17). Paulo deixa claro, que nossas palavras e nossas ações
devem ser feitas EM NOME DE JESUS. Na maioria das vezes que usamos essa expressão “em
nome de Jesus” fazemos de forma impensada. Mas veja o que ela significa: tudo o que
fizermos, fazemos com se Jesus estivesse fazendo, pois nós levamos o seu nome. Eu faço o
meu trabalho levando o nome de Jesus. Eu cuido dos meus filhos, e da minha casa levando o
nome de Jesus. Eu lavo o meu carro levando o nome de Jesus, enfim, tudo o que fizermos,
façamos em nome de Jesus.

Isso me trás à mente um conceito muito importante no período da Reforma, chamado Coram
Deo, que significa literalmente diante de Deus. Para os reformadores o Coram Deo é
perspectiva que a nossa vida por completo está diante de Deus. Não apenas as coisas que
acreditamos serem religiosas, mas tudo o que fazemos está diante de Deus.

3. O Modelo final: Jesus cumpriu o Terceiro Mandamento


Eu quero encerrar lembrando a todos vocês que, como você já deve ter percebido, esse
mandamento, assim como todos os outros, é impossível de ser cumprido por nós. Você
inevitavelmente vai desonrar o nome do Senhor, tomando o seu nome de maneira falsa e
enganosa. Por isso eu quero trazer duas palavras de esperança, quando você estiver
desanimado pelas suas falhas:

1. Apegue-se à certeza de que Jesus cumpriu este mandamento em favor do seu povo. Jesus
disse “As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito.” (Jo 10.25)

2. Lembram-se quando eu falei que o sacerdote tornava puro aquele que ele tocava? Lembre-
se também, que Jesus fez exatamente isso conosco, purificando a nossa vida quando ele
tomou o nosso pecado. É exatamente isso que o profeta Isaías disse que ele faria: Certamente,
ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. (Is 53.4)

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