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O Dom da Salvação

Copyright (c) 1998 First Things 79 (January 1998): 20-23.

Traduzido por Anamim Lopes Silva, em 13/02/2001.

Na primavera de 1994, um grupo representativo de católico-romanos e protestantes


evangélicos emitiu pronunciamento conjunto bem discutido intitulado, "Evangélicos e
Católicos Juntos: Missões Cristãs no Terceiro Milênio" (FT, Maio de 1994). Tal
documento, ora chamado de "ECT - Evangelicals and Catholics Together", registrou o
crescimento em termos de "convergência e cooperação" entre evangélicos e católicos em
muitas atividades publicas, e reconheceu acordo em artigos básicos da fé cristã, além do
que enfatizou ainda a existência de importantes diferenças. Os signatários comprometeram-
se engajar em conversações acerca dessas diferenças. Pelo menos essa foi a conclusão a que
se chegou nos encontros entre teólogos promovidos pelo Sr. Charles Colson e pelo Padre
Richard John Neuhaus. Na reunião ocorrida no final de 1996, concluiu-se que o progresso
subseqüente dependeria de chegar-se a um acordo contemplando entendimento comum
acerca do significado da salvação, especialmente da doutrina da justificação. O
pronunciamento a seguir, depois de muita discussão, estudo e oração, no decurso de um
ano, foi aceito durante um encontro em Nova Iorque, em 6 e 7 de outubro de 1997. Os
convidados e participantes expressam sua gratidão ao Cardeal Edward Idris Cassidy,
Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade Cristã, pelo maior apoio
prestado durante esse processo. Em futuras conversações, pretendem ser tratadas as
questões mais salientes citadas ao final deste pronunciamento.

- Os Editores

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo,
não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
- João 3:16-17

Damos graças a Deus que nos últimos anos muitos evangélicos e católicos, por iniciativa
própria, têm sido capazes de expressar uma fé comum em Cristo e também reconhecerem-
se mutuamente como irmãos e irmãs em Cristo.

Juntos confessamos um único Deus Pai, Filho e Espírito Santo; confessamos Jesus Cristo o
Filho Incarnado de Deus; afirmamos a sólida autoridade das Sagradas Escrituras, Palavra
de Deus inspirada; e reconhecemos os Credos dos Apóstolos e Niceno como fiéis
testemunhas desta Palavra.

A efetividade de nosso testemunho de Cristo depende sobretudo da obra do Espírito Santo,


que nos chama e nos capacita para juntos confessarmos o significado da salvação prometida
e realizada em Nosso Senhor Cristo Jesus. Por meio da oração e estudo da Santa Escritura,
e ajudados pela reflexão da Igreja sobre o texto sagrado desde os tempos antigos,
descobrimos que, apesar de algumas persistentes e sérias diferenças, podemos juntos
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sustentar o testemunho do dom da salvação em Jesus Cristo. Testificamos agora este dom
salvífico, falando não como se fosse posse particular, mas como destino e procedência de
nossas várias comunidades.

Deus nos criou para manifestar a Sua glória e nos dar a vida eterna em comunhão com Ele
mesmo, mas sobreveio a nossa desobediência que nos colocou sob condenação. Como
membros da raça humana decaída, estamos envolvidos num mundo afastado de Deus e em
estado de rebeldia. Esse pecado original é composto de nosso atos pessoais de iniqüidade.
As conseqüências catastróficas do pecado são tantas que somos impotentes para nos
restaurarmos ou recuperarmos os nossos laços de união com Deus. Somente pela
iluminação de Deus é que pode ser realizada a restauração de nossa comunhão com Ele,
fazendo com que vejamos toda a extensão de nossa queda, a gravidade do nosso
comprometimento e a grandeza do amor que Deus nos tem trazido mediante a vida,
sofrimento, morte e ressurreição de Jesus Cristo. "Deus amou ao mundo de tal maneira que
deu o seu único Filho, para que todo o que nele crê não pereça mas tenha vida eterna."
(João 3:16).

O Deus Criador, que também é o Deus Redentor, oferece salvação ao mundo. "Deus deseja
que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade." (1
Timóteo 2:4). A restauração da comunhão com Deus depende absolutamente de Jesus
Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, por que Ele é "o único Mediador entre Deus e
os homens" (1 Timóteo 2:5), e "em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos" (Atos 4:12).
Jesus disse, "Ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6). Ele é o único santo e justo
que foi entregue à morte pelos nossos pecados, "o justo pelos injustos, para levar-nos a
Deus" (1 Pedro 3:18).

O Novo Testamento fala da salvação de várias maneiras. Salvação é o resgate último ou


escatológico do pecado e das suas conseqüências, o estado final de segurança e glória que
atinge tanto o corpo quanto a alma. "Logo, muito mais, sendo agora justificados pelo seu
sangue, seremos por ele salvos da ira." "A nossa salvação está agora mais perto de nós do
que quando nos tornamos crentes." (Romanos 5:9, 13:11). Salvação é também uma
realidade presente. Declaramos que "Ele nos salvou, não em virtude de nossas obras de
justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia " (Tito 3:5). A realidade
presente da salvação é a antecipação e antegozo da salvação prometida que está para ser
completada.

Sempre foi claro que a obra da redenção foi consumada pelo sacrifício expiatório de Cristo
sobre a Cruz. "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós"
(Gálatas 3:13). A Escritura descreve as conseqüências da obra redentora de Cristo de
diversas formas, a saber: justificação, reconciliação, restauração da amizade com Deus e
renascimento do alto pelo qual somos adotados como filhos de Deus e nos tornamos
herdeiros do Reino. "Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido debaixo de lei, para resgatar os que estavam debaixo de lei, a fim de
recebermos a adoção de filhos." (Gálatas 4:4-5).
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Justificação é tema central dentro do contexto da salvação escriturística e o seu significado


tem sido muito debatido entre protestantes e católicos. Concedemos que a justificação não é
conseguida por quaisquer boas obras ou por nossos méritos próprios; é inteiramente um
dom de Deus, conferida mediante a pura benevolência do Pai, completamente pelo amor
que Ele demonstrou entregando-nos o seu próprio Filho, que sofreu em nosso benefício e
ressurgiu dentre os mortos para a nossa justificação. Jesus foi "entregue por causa das
nossas transgressões, e ressuscitado para a nossa justificação." (Romanos 4:25). Na
justificação, Deus, com base na justiça de Cristo somente, declara não sermos mais seus
inimigos rebeldes, mas seus amigos perdoados e pela virtude de sua declaração é o que
somos então.

O Novo Testamento torna claro que o dom da justificação é recebido pela fé. "Porque pela
graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus". (Efésios 2:8).
Pela fé, a qual também é dom de Deus, nós nos arrependemos dos nossos pecados e
livremente aderimos ao Evangelho, as boas novas da obra salvífica de Deus por nós através
de Cristo. Pela nossa resposta da fé em Cristo, entramos nas bênçãos prometidas pelo
Evangelho. Fé não é um mero assentimento intelectual mas um ato da pessoa total
envolvendo a mente, a vontade e os sentimentos, implicando em mudança de vida.
Entendemos que o que afirmamos aqui está de acordo com o que as tradições reformadas
tem pensado como justificação pela fé somente (sola fide).

Na justificação recebemos o dom do Espírito Santo, por meio de quem o amor de Deus é
derramado em nossos corações (Romanos 5:5). A graça de Cristo e o dom do Espírito,
recebidos pela fé (Gálatas 3:14), são experimentados e expressos de diversas maneiras
pelos diferentes cristãos e nas variadas tradições cristãs, mas o dom de Deus nunca depende
da nossa experiência humana ou dos nossos meios de exprimir essa experiência.

Conquanto a fé seja inerentemente pessoal, ela não é puramente uma possessão privada mas
envolve participação no Corpo de Cristo. Pelo batismo somos visivelmente incorporados na
comunidade da fé e comissionados à uma vida de discipulado. "Fomos, pois, sepultados
com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos
pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida." (Romanos 6:4).

Por sua fé e batismo os cristãos são obrigados a viver em conformidade com a lei do amor,
em obediência ao Senhor Jesus Cristo. A Escritura os chama para a vida de santidade ou de
santificação. "Ora, amados, visto que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a
imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus" (2 Coríntios
7:1). Santificação não é totalmente consumada no início de nossa vida em Cristo, mas é
progressivamente continuada na medida que lutamos, com a graça e ajuda de Deus, contra a
adversidade e tentação. Nesta luta somos garantidos pela graça de Cristo que será suficiente
para nós, habilitando-nos a perseverar até o fim. Quando falhamos, podemos voltar para
Deus em humilde arrependimento para confiantemente pedir, e receber, Seu perdão.

Podemos então ter segura esperança de vida eterna prometida para nós em Cristo. Como
temos participação nos Seus sofrimentos, participaremos da Sua glória final. "Seremos
semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos." (1 João 3:2). Conquanto não ousamos
presumir-nos acima da graça de Deus, a promessa de Deus em Cristo é absolutamente
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confiável e a fé nessa promessa supera a incerteza acerca do nosso futuro eterno. Somos
obrigados por meio dessa mesma fé a ter firme esperança, encorajar uns aos outros nesta
esperança e nesta mesma esperança nos regozijar. Razão por que cremos "que pelo poder
de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que está preparada para se revelar
no último tempo" (1 Pedro 1:5).

Então, isso é o que justifica os pecadores, fomos salvos, estamos sendo salvos e seremos
salvos. Tudo isso é o dom de Deus. Fé implica numa confiante esperança num novo céu e
nova terra em que os propósitos, criador e redentivo, de Deus são gloriosamente
completados. "Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é
sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e
na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de
Deus Pai." (Filipenses 2:9-11).

Como crentes somos enviados ao mundo e comissionados para ser portadores das boas
novas, para servir uns aos outros em amor, para fazer o bem a todos e evangelizar a todos
em qualquer lugar. Essa é a nossa responsabilidade e firme determinação, levar ao mundo
inteiro as notícias do amor Deus e de salvação completa na crucificação, ressurreição e
volta do Nosso Senhor. Muitos estão em grave perigo de ser eternamente perdidos por que
não conhecem o meio de salvação.

Em obediência à Grande Comissão de Nosso Senhor, nos impomos a cada um de nós a


tarefa da evangelização. Precisamos compartilhar com todos a completa verdade salvífica
de Deus, incluindo membros de nossas várias comunidades. Os evangélicos precisam
pregar o Evangelho aos católicos e os católicos aos evangélicos, sempre falando a verdade
em amor, então "procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da
paz... para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do
pleno conhecimento do Filho de Deus" (Efésios 4:3, 12-13).

Acima de tudo, defendemos a liberdade religiosa para todos. Uma vez que a liberdade é
fundamento para a dignidade da pessoa humana criada à imagem de Deus, e precisa ser
protegida pela lei civil.

Não podemos permitir que o nosso testemunho de cristão seja comprometido pelo
discipulado indiferente ou por disputas sectárias sem necessidade. Enquanto nos alegramos
na unidade, descobrimos e estamos confiantes dessa verdades fundamentais acerca do dom
da salvação, afirmamos que é reconhecida a existência de questões necessariamente
interrelacionadas que requerem futura e urgente exploração. Entre essas questões
encontram-se: o significado da regeneração batismal, a Eucaristia, e graça sacramental; a
utilização histórica da linguagem da justificação como se relacionada com a imputação e
justiça transformadora; o status normativo da justificação em relação ao todo do Doutrina
Cristã; a assertiva de que ainda que a justificação é pela fé somente, a fé que recebe a
salvação nunca é sozinha; entendimento divergente sobre mérito, recompensa, purgatório e
indulgências; devoção mariana e a assistência dos santos na vida de salvação; e a
possibilidade de salvação daqueles que não foram evangelizados.
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Nessas e noutras questões, reconhecemos e que existem também algumas divergências até
entre as próprias comunidades evangélicas e católicas. Estamos impelidos a examinar essas
questões em nossas contínuas conversações. Todos que verdadeiramente crêem em Jesus
Cristo são irmãos e irmãs no Senhor e não podem deixar que suas diferenças, por mais
importantes que sejam, empanem essa grande verdade, ou nos desvie dessa atitude de
testemunho conjunto do dom da salvação de Deus em Cristo. "Rogo-vos, irmãos, em nome
do Nosso Senhor Jesus Cristo, que sejais concordes no falar, e que não haja dissensões
entre vós; antes sejais unidos no mesmo pensamento e no mesmo parecer." (1 Coríntios
1:10).

Os evangélicos agradecem a Deus pela sua herança reformada e afirmam com convicção
suas confissões clássicas, os católicos são conscientemente fiéis aos ensinamento da Igreja
Católica, mas, todos juntos, como condiscípulos do Senhor Jesus Cristo, reconhecem-se
devedores aos seus ancestrais cristãos, bem como as suas obrigações para como os nossos
contemporâneos e com os que virão depois de nós. Afirmamos a nossa unidade no
Evangelho que aqui professamos. Na continuidade de nossas discussões, de maneira
alguma procuramos outra unidade que não seja a unidade na verdade. Somente a unidade
na verdade pode agradar ao Senhor e Salvador a quem servimos juntos, pois Ele é "o
caminho, a verdade, e a vida" (João 14:6).

PROTESTANTS EVANGÉLICOS

Dr. Gerald L. Bray


Beeson Divinity School

Dr. Bill Bright


Campus Crusade for Chist

Dr. Harold O. J. Brown


Trinity Evangelical Divinity School

Mr. Charles Colson


Prison Fellowship

Bishop William C. Frey


Episcopal Churchja

Dr. Timothy George


Beeson Divinity School

Dr. Os Guinness
Trinity Forum

Dr. Kent R. Hill


Eastern Nazarene College

Rev. Max Lucado


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Oak Hills Church de Cristo San Antonio, TX

Dr. T. M. Moore
Chesapeake Theological Seminary

Dr. Richard Mouw


Fuller Theological Seminary

Dr. Mark A. Noll


Wheaton College

Mr. Brian F. O'Connell


Interdev

Dr. Thomas Oden


Drew University

Dr. James J. I. Packer


Regent College, British Columbia

Dr. Timothy R. Phillips


Wheaton College

Dr. John Rodgers


Trinity Episcopal School for Ministry

Dr. Robert A. Seiple


World Vision U.S.

Dr. John Woodbridge


Trinity Evangelical Divinity School

CATÓLICOS ROMANOS
Padre James J. Buckley
Loyola College em Maryland

Padre J. A. Di Noia, O.P.


Dominican House de Studies

Padre Avery Dulles, S.J.


Fordham University

Sr. Keith Fournier


Catholic Alliance

Padre Thomas Guarino


Seton Hall University
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Dr. Peter Kreeft


Boston College

Padre Matthew L. Lamb


Boston College

Padre Eugene LaVerdiere, S.S.S.


Emmanuel

Padre Francis Martin


John Paul II Institute for Studies on Marriage e Family

Sr. Ralph Martin


Renewal Ministries

Padre Richard John Neuhaus


Religion e Public Life

Sr. Michael Novak


American Enterprise Institute

Padre Edward Oakes, S.J.


Regis University

Padre Thomas P. Rausch, S.J.


Loyola Marymount University

Sr. George Weigel


Ethics e Public Policy Center

Dr. Robert Louis Wilken


University de Virginia

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