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CURSO DE

FACULDADE LATINO-AMERICANA DE TEOLOGIA INTEGRAL


O evangelho todo, para o homem todo, para todos os povos.

EXTENSÃO
ENSINO CRIATIVO
Jeitos diferentes de ensinar e aprender
FLAM – FACULDADE LATINO-AMERICANA DE TEOLOGIA INTEGRAL
www.flam.org.br
Diretor Geral: Ariovaldo Ramos
Diretora Acadêmica: Ivone Lima Botelho
Administrador: Jasiel Fausto Botelho

Departamento de Educação a Distância – FLAM ONLINE


www.flamonline.com.br/ead
Coordenação Geral: Prof. Enilson Elias de Castro Monteiro
Supervisão Pedagógica: Profª Adriana Torquato Resende
Tutoria: Prof. Calebe Ribeiro

Curso de Extensão Ensino Criativo


Professora Conteudista: Profª Adriana Torquato Resende
Revisão: Bruna Perrella Brito
I - OS FUNDAMENTOS

Olá! Bem-vindo ao curso de extensão Ensino Criativo.

O ministério de ensino tem um papel muito importante na igreja cristã, contribuindo


para o seu crescimento e fortalecimento na fé. Ensinar e aprender são tarefas para toda a vida e
devem envolver a igreja como um todo. Este curso é mais uma oportunidade que temos de
compartilhar nossas experiências, aprendendo uns com os outros, por meio da Palavra de Deus,
para servir ainda melhor ao Senhor.

1 – Bases Bíblicas

A Bíblia nos traz várias referências ao ministério de ensino. Em Efésios 4.11-16, vemos que
existem diversos dons; o v. 11 menciona especificamente o dom do ensino. Talvez alguém
pense: “Será que eu tenho mesmo o dom de ensinar?”.

De fato, algumas pessoas recebem um chamado especial para o ministério do ensino.


Contudo, em Mateus 28 temos a Grande Comissão que é direcionada a todos os que creem em
Jesus Cristo e o recebem como seu Senhor e Salvador. A ordem é esta: “Vão e façam discípulos
de todas as nações (...), ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” (Mt 28.19-20).
Assim, podemos concluir que realmente existem pessoas que têm o dom específico do ensino,
mas, de um modo geral, todos os cristãos são chamados a ensinar.

De acordo com Price (1988, p. 15), nos Evangelhos Jesus é chamado de mestre 45 vezes;
nunca se fala nele somente como pregador. A expressão “ensinando e pregando” aparece 11
vezes.

Em João 3.2, Nicodemos, que era um mestre da Lei, refere-se a Jesus também como
mestre, em reconhecimento ao seu ministério. Mateus 4.23 e 9.35 afirmam que Jesus ensinava,
pregava e curava, primeiramente na Galileia e depois em todas as cidades e aldeias.

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Price (1988, p. 16) também afirma que a palavra discípulo (aluno ou aprendiz) é usada
243 vezes para se referir aos seguidores de Jesus, confirmando a ideia de que o ensino era uma
das principais atividades do Senhor.

Os capítulos 5, 6 e 7 de Mateus trazem o que costumamos designar como “sermão do


monte”. Contudo, muitos autores acreditam que seria mais apropriado referir-se a esses
capítulos como “o ensino do monte”, por se tratar de ensinamentos preciosos, expostos de
maneira claramente didática. Note que o episódio se inicia com as seguintes palavras: “Vendo
as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproximaram-se dele, e ele
começou a ensiná-los” (Mt 5.1-2). No final dessa maravilhosa “aula”, lemos o seguinte:
“Quando Jesus acabou de dizer essas coisas, as multidões estavam maravilhadas com o seu
ensino, porque ele ensinava como quem tem autoridade, e não como os mestres da lei” (Mt-
7.28-29). Jesus tinha autoridade porque ele vivia o que ensinava.

Fonte: http://quandotualuavaidespertar.blogspot.com/2009/02/sermao-da-montanha.html

Em Lucas 24.13-35, vemos que Jesus, após a sua ressurreição, aparece a dois discípulos
no caminho de Emaús. Eles não reconheceram o Mestre, que caminhava com eles e lhes fazia
perguntas. O v. 27 afirma que Jesus, “começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes
o que constava a respeito dele em todas as Escrituras”.

Nesta passagem, vemos que Jesus, o Mestre por excelência, não hesitou em recapitular a
lição para seus alunos que eram lentos para aprender. Os discípulos chegaram ao seu destino e

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convidaram Jesus para ficar com eles. Somente quando Jesus partiu o pão, durante o jantar, é
que seus olhos se abriram e eles disseram: “Não estava queimando o nosso coração, enquanto
ele nos falava no caminho e nos expunha as Escrituras?” (Lc 24.32).

É justamente isso que devemos almejar: que o ensino em nossas igrejas faça os corações
queimarem de entusiasmo, alegria, fé e bom ânimo.

Em sua opinião, como tem sido o ensino nas igrejas evangélicas, em geral? E na
sua igreja?
O que você pode fazer para que o ministério de ensino em sua igreja seja
marcado por esse entusiasmo? O que faria da escola dominical algo fascinante?

O ministério do apóstolo Paulo era notadamente marcado pelo ensino: “Nós o


proclamamos [a Cristo], advertindo e ensinando a cada um com toda sabedoria, para que
apresentemos todo homem perfeito em Cristo” (Cl 1.28). Paulo ensinou em muitas igrejas e o
fazia com ousadia no Espírito Santo.

Muitas vezes, não nos sentimos capacitados para o ministério de ensinar. Às vezes,
enfrentamos oposições, críticas e falta de apoio. Nossas limitações pessoais geralmente são os
maiores obstáculos. Não foi diferente com o apóstolo Paulo. Contudo, ele tinha um segredo,
que também está revelado para nós: “Eu me esforço, lutando conforme a sua força, que atua
poderosamente em mim” (Cl 1.29).

Graças a Deus que o seu poder se aperfeiçoa na nossa fraqueza. Portanto, se o Senhor te
colocou no ministério de ensino, confie nele e jamais desanime. Ele nos capacita pelo seu poder
que opera em nós.

Finalmente, em Romanos 12.7 lemos que é necessário ter dedicação ao ensino. Isso
quer dizer que devemos sempre buscar a excelência. Para isso, existem algumas dicas preciosas
para quem deseja dedicar-se a esse ministério. Estas dicas foram baseadas no livro As Sete Leis
do Ensino, de John Milton Gregory (1987).

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Dicas para um ensino eficaz:
1) O professor precisa viver o que ensina.
2) O professor precisa ter amor e compromisso para com seus
alunos e seu ministério.
3) O professor precisa conhecer seus alunos.
4) O professor precisa conhecer o que vai ensinar.
5) O professor precisa despertar o interesse dos alunos.
6) A linguagem deve ser comum ao professor e ao aluno.
7) A lição deve partir do conhecido para o desconhecido.
8) Deve-se ajudar o aluno a pensar, refletir, participar
ativamente e aprender por si.
9) Deve-se ajudar o aluno a recapitular e aplicar na vida.
10) O professor precisa estabelecer objetivos claros.

Desafio: leia Lucas 10.25-37. Pensando na atuação de Jesus como mestre, você
consegue encontrar nesta passagem bíblica essas dicas para um ensino eficaz?

2 – Bases Teológicas

O ministério de ensino faz parte de um processo bem mais amplo, que chamamos de Educação
Cristã. É importante ter em mente que o ensino na igreja não está limitado à escola dominical.
De acordo com Sherron K. George, “Educação Cristã é um processo deliberado e intencional
pelo qual Cristo é formado nas pessoas, visando à transformação, formação e crescimento da
pessoa toda, em todo o tempo” (1993, p. 16).

Assim, vemos que a Educação Cristã acontece o tempo todo. Ela pode ser informal,
quando os pais ensinam seus filhos em casa, por meio das brincadeiras ou respondendo suas
perguntas; pode ser formal, quando assistimos às aulas na escola dominical, quando
participamos de um curso especial na igreja ou quando o pastor está pregando.
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A Educação Cristã pode ocorrer o tempo todo, em todos os lugares e alcança as
crianças, os adolescentes, os jovens, os adultos e os idosos. Sempre é tempo de aprender e todos
podem ter este privilégio.

Molochenco (2007, p. 16) define Educação Cristã como:

Um processo amplo e contínuo do ser humano, que envolve não só a


formação do aspecto cognitivo, mas de todo o ser, e compreende o
desenvolvimento da personalidade, sentimentos, percepções e
relacionamentos. Esse processo visa não só ao crescimento individual, mas
também ao coletivo, a fim de que o indivíduo possa interagir, relacionar-se e
participar socialmente, em benefício da comunidade a que pertence.

As duas autoras nos chamam a atenção para o fato de que a Educação Cristã é um
processo, isto é, não acontece de repente – e, na verdade, nunca termina. Esse processo leva a
vida toda, pois é preciso crescer na graça e no conhecimento do Senhor durante todos os dias
da nossa existência (2Pe 3.18).

A formação integral do aprendiz também é um fator de grande importância. Para


Molochenco (2007, p. 17), devemos nos empenhar para que o desenvolvimento das pessoas
possa abranger os aspectos físico, emocional, social e intelectual. Como educadores cristãos, não
podemos nos preocupar apenas
com a aquisição de
conhecimentos, pois isso seria
FÍSICO
privilegiar somente o aspecto
intelectual. Entretanto, não
podemos simplesmente nos deixar
ESPIRITUAL SOCIAL
levar pelas emoções. É preciso ter
equilíbrio, lembrando que nossa O SER INTEGRAL
espiritualidade é influenciada por
todos os aspectos que
mencionamos acima.
EMOCIONAL INTELECTUAL

Diante dessas colocações,


qual seria o objetivo da Educação
Cristã?

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George (1993, p. 43) afirma que se deve propor uma “Educação Cristã para o Reino de
Deus, com fundamentos e finalidades bíblicas”. O ensino na igreja deve ter como alvo o
aperfeiçoamento dos cristãos (Ef 4.11-16), reconhecendo a natureza espiritual desse ministério
(Gl 5.22; Cl. 3.12-17) e utilizando como método o discipulado (Mt 28.16-20; Mc 3.13-19; 2Tm
2.1-2).

PARA SABER MAIS:


Fundamentos da Teologia da Educação Cristã
Autor: Edson Lopes
São Paulo : Mundo Cristão, 2010

A Bíblia é o livro mais importante para a Educação Cristã. Já imaginou como seria a
nossa fé sem a Bíblia?

O cerne da fé cristã resume-se em que Deus, o Criador, agiu em Cristo para salvar a
humanidade e revelou a si e a verdade na Palavra escrita. A Bíblia é revelada e inspirada por
Deus (2Tm 3.16-17).

Se queremos crescimento espiritual verdadeiro e saudável, precisamos crer na inspiração


divina da Bíblia. Também necessitamos amar a Palavra de Deus, meditar nela e praticar seus
ensinamentos. A Bíblia é o livro excelente, que nos traz princípios valiosos para uma vida de
santidade a serviço do Reino de Deus.

Quanto tempo você investe na leitura e no estudo da Bíblia por dia?


Qual é a importância da Palavra de Deus no seu cotidiano? E no seu ministério?

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3 – Bases Pedagógicas

Quais teorias pedagógicas podem ser aplicadas ao ensino cristão? Quais são as mais adequadas?
Como aplicá-las na igreja?

Existem diversas abordagens do processo de ensino e aprendizagem. Essas abordagens


fundamentam a ação docente, ou seja, como os professores vão agir e como será conduzido o
processo de ensino e aprendizagem.

Mizukami (1986) analisa cinco abordagens que servem de referencial teórico para as
principais práticas pedagógicas que encontramos atualmente. Vamos comentar brevemente
cada uma delas.

3.1 – Abordagem Tradicional

De acordo com Mizukami (1986, p. 7-18), o ensino, nessa abordagem, está centrado no
professor. É ele quem transmite ao aluno todas as informações necessárias. O objetivo do
ensino é que o aluno reproduza o mais fielmente possível aquilo que recebeu de seu mestre. O
estudante tem um papel passivo e deve acumular a maior quantidade possível de informações
que sejam úteis para o seu aprendizado.

Há ênfase na memorização e grande


valorização do conteúdo, que é apresentado como
algo pronto, acabado, que deve ser assimilado pelo
aprendiz. Paulo Freire (2005, p. 71) denomina essa
abordagem de educação bancária, pois o
conhecimento é “colocado” na cabeça do aluno
como se fosse um depósito bancário. O aluno recebe
tudo pronto, não tem participação ativa, e o
professor é o dono do conhecimento e da verdade.

A educação é entendida como instrução, e o processo de ensino e aprendizagem enfatiza


a aquisição de informações, a memorização e a imitação. Utiliza-se frequentemente o método
expositivo, no qual o professor expõe aos alunos o conteúdo que deve ser assimilado.

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3.2 – Abordagem Comportamentalista

Nessa abordagem, o ensino está centrado na experiência, que é a base do conhecimento. O


psicólogo norte-americano B. F. Skinner (1904–1990) é um dos principais representantes da
abordagem comportamentalista, também chamada de Behaviorismo (em inglês, behavior =
comportamento).

O objetivo do ensino é modelar e reforçar o comportamento por meio de recompensas,


visando ao desenvolvimento de diversas competências no aluno. Planejamento, reforço,
treinamento e controle são palavras-chave para o entendimento dessa abordagem.

De acordo com o Behaviorismo, o comportamento pode ser controlado pelo seguinte


esquema: estímulo, resposta e reforço. O papel do aluno é seguir os procedimentos designados
pelo professor e assim
aprender por meio de suas
próprias experiências.

As ideias de Skinner
nos fazem pensar sobre o
poder controlador que a
educação pode ter. Para os
behavioristas, a educação
deve transmitir conhecimentos, determinando comportamentos éticos e práticas sociais.

A aprendizagem é garantida por sua programação, isto é, se for bem planejada e bem
estruturada, alcançará os objetivos propostos. Ensinar consiste em programar situações de
aprendizagem e reforçar os comportamentos considerados adequados para que o aluno
desenvolva determinadas habilidades e adquira certos conhecimentos.

A metodologia enfatiza a programação e a individualização do ensino, isto é, o aluno


aprende no seu ritmo, de acordo com as suas necessidades e características pessoais. Trata-se da
Instrução Programada, cujas principais características são:

a) Objetivos mensuráveis (são fáceis de medir e ajudam o aluno a saber que os


alcançou, melhorando os resultados);

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b) Passos curtos (o conteúdo é apresentado aos poucos, uma coisa de cada vez);

c) Resposta ativa (por meio de exercícios, o estudante aprende fazendo);

d) Verificação imediata (conferir os resultados facilita e reforça a aprendizagem);

e) Ritmo próprio (cada um aprende no seu tempo);

f) Avaliação constante (reforço e fixação do que foi aprendido).

A proposta do Behaviorismo é que, pelo controle científico do meio, se pode favorecer e


melhorar a existência humana. Contudo, há muitos que consideram essa abordagem
mecanicista, por causa de sua ênfase no reforço e no controle do comportamento.

3.3 – Abordagem Humanista

Um dos seus principais representantes é Carl R. Rogers (1902–1987). Nessa abordagem,


podemos dizer que o ensino é centrado no aluno. A ênfase é nas relações interpessoais e no
desenvolvimento da personalidade do indivíduo. O professor não transmite conteúdos – ele é
um facilitador da aprendizagem. Segundo Mizukami (1986, p. 38):

O conteúdo advém das próprias experiências dos alunos. A atividade é


considerada um processo natural que se realiza por meio da interação com o
meio. O conteúdo da educação deveria consistir em experiências que o aluno
reconstrói. O professor não ensina: apenas cria condições para que os alunos
aprendam.

O objetivo do ensino é a formação dos alunos com vista à autonomia, à iniciativa


pessoal e à integração social. A missão do professor é criar um “clima pedagógico” que permita
ao aluno desenvolver-se, amadurecer e superar seus próprios obstáculos emocionais à
aprendizagem. De acordo com Rogers (1972), esse “clima pedagógico” envolve autenticidade,
aceitação incondicional do aluno, empatia, problematização dos conteúdos e acesso às
informações relativas à matéria a ser estudada.

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A finalidade da educação é criar condições que promovam a autoaprendizagem. Os
alunos devem tornar-se livres e responsáveis. Para que a aprendizagem seja significativa, deve
haver envolvimento pessoal – o aluno precisa dirigir a si mesmo e
apropriar-se dos conteúdos (Mizukami, 1986, p. 51).

Quanto à metodologia, não há ênfase nas técnicas ou


métodos. Como facilitador da aprendizagem, o professor deve
orientar o aluno para que aprenda por si mesmo, utilizando métodos
e recursos que forem mais apropriados a cada situação. A
autoavaliação tem um papel importante, pois auxilia no
desenvolvimento da autonomia.

A abordagem humanista também é conhecida como Método de Orientação não


Diretiva. Sua ênfase está no pressuposto de que o aluno precisa ter liberdade para aprender.

3.4 – Abordagem Cognitivista ou Construtivismo Interacionista

Um dos principais representantes dessa abordagem é o filósofo, biólogo e psicólogo suíço Jean
Piaget. Sua maior preocupação era estudar o processo e a natureza do conhecimento humano,
isto é, como ocorre a cognição (aquisição de um conhecimento; percepção).

Assim, o ensino está centrado no aluno e na aprendizagem, mais especificamente na


maneira como o indivíduo constrói o conhecimento. Essa construção se dá através da interação
do indivíduo com o meio, a partir de suas estruturas cognitivas.

Segundo Faria (1989, p. 21) o construtivismo (com base nas idéias de Piaget) pressupõe
que a criança passa por diferentes estágios de desenvolvimento mental:

0 a 2 anos – Estágio sensório-motor: a criança aprende principalmente por meio de


ações motoras como pegar, colocar objetos na boca, movimentar-se, etc.

2 a 7 anos – Estágio pré-operacional: a fala tem um desenvolvimento extraordinário


nessa fase, também conhecida como estágio simbólico; é quando a criança é capaz de

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representar a realidade por meio de símbolos (linguagem, imagens mentais, gestos,
etc.).

7 a 12 anos – Estágio operatório-concreto: a criança consegue raciocinar logicamente


e compreender relações de causa e efeito. Também é capaz de prever situações e
desenvolve noções de conservação de substâncias, peso e volume. Contudo, seu
raciocínio ainda está ligado a fatores concretos.

12 anos em diante – Estágio lógico-formal: somente agora a criança consegue, de


fato, “pensar sobre o pensamento”, isto é, raciocinar sobre questões e conceitos
abstratos.

Desafio: compare os estágios de desenvolvimento descritos acima com o


desenvolvimento de uma criança que você conheça bem. Quais são as
semelhanças e as diferenças? Você acredita que o desenvolvimento infantil
esteja se “acelerando” ultimamente? Por quê?

Na abordagem cognitivista, o objetivo do ensino é provocar desequilíbrio, ou seja,


colocar problemas ou situações desafiadoras que surpreendam, abalem ou contrariem os
conhecimentos que os estudantes já possuem. Estes problemas ou situações devem ser
resolvidos pelos próprios alunos, usando o raciocínio. Essa atividade constante e dialética de
busca de equilíbrio é o que faz o aluno aprender.

Então, papel do estudante é pesquisar, solucionar problemas e vencer desafios. A missão


do professor é dirigir o processo de conhecimento, de forma que os alunos aprendam por si
mesmos. A meta principal da educação é formar pessoas autônomas, criativas, descobridoras; é
formar mentes críticas, que não aceitem tudo o que lhes for dado sem reflexão.

Os métodos precisam ser ativos, precisam “forçar” a reflexão para que o aluno aprenda
mediante uma descoberta ativa da realidade.

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Curiosidade: Segundo Piaget e outros autores, uma
das características do pensamento infantil é o
animismo, isto é, atribuição de sentimentos e/ou
intenções a objetos, movimentos físicos ou animais.
Por exemplo, a criança pode afirmar que o copo quis
cair, uma vez que ela não teve a intenção de
derrubá-lo ao encostar a mão nele. Você já observou
essa característica do pensamento em alguma
criança?

3.5 – Abordagem Sociointeracionista

Como o próprio nome diz, nessa abordagem o ensino está centrado nas interações sociais. Um
de seus principais representantes é Lev S. Vygotsky (1896–1934). Segundo Marta Kohl (In: La
Taille, 1992, p. 78), os pontos fundamentais do pensamento de Vygotsky são:

O fundamento sócio-histórico do funcionamento psicológico do homem;

A importância dos processos de mediação;

A ideia de que a organização dos processos psicológicos é dinâmica e que as


conexões interfuncionais não são permanentes.

A mesma autora afirma que a ideia central de Vygotsky é a de que as funções psicológicas
superiores (ações conscientes e controladas, intenções e processos voluntários) são mediadas por
sistemas simbólicos, especialmente a linguagem (Kohl, in: La Taille, 1992, p. 80).

O ponto fundamental do Sociointeracionismo é o conceito de zona de desenvolvimento


proximal, que é a distância existente entre o que o aluno já sabe e o que ele tem potencial para

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aprender. O conhecimento real é aquilo que o aluno é capaz de fazer sozinho e o conhecimento
potencial é aquilo que consegue fazer com a ajuda de outras pessoas.

O objetivo do ensino é partir daquilo que o aluno já sabe (conhecimento real) e criar
condições para que seu conhecimento se amplie, de acordo com suas potencialidades.

Fonte: http://community.univille.edu.br/colegio_univille/o_colegio/perfil_do_aluno.html

A aprendizagem é algo que ocorre por meio da interação com outras pessoas, sejam
professores, pais, colegas, etc. O papel do professor é ampliar os conhecimentos do estudante,
visando a sua integração histórica e social. Sendo assim, o professor tem um papel ativo,
sistematizando conhecimentos, atuando de maneira direta na zona de desenvolvimento
proximal. O processo de ensino e aprendizagem baseia-se na reflexão sobre a realidade, que
deve ser feita de maneira crítica e autônoma.

O grande educador Paulo Freire (1921 –1997) também é


representante da abordagem sociointeracionista. Brasileiro, nascido
em Recife (PE), desenvolveu uma pedagogia crítico-libertadora, na
qual a cultura do educando é a base do seu conhecimento. O
educando aprende a “ler o mundo”, compreendendo-se como
Paulo Freire
sujeito da História (Brandão, 1981, p. 44-46).

Paulo Freire criou um método de alfabetização de adultos fundamentado em aspectos


sociais, políticos e culturais. Com esse método, em 1963, 300 adultos aprenderam a ler e
escrever em 45 dias. Com o golpe militar em 1964, esse método foi considerado subversivo e
Paulo Freire foi exilado, retornando ao Brasil somente em 1980 (Brandão, 1981, p. 20).

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Observe as seguintes frases de Paulo Freire:

“Alfabetização, portanto, é toda a pedagogia: aprender a ler é aprender a dizer a


sua palavra. E a palavra humana imita a palavra divina: é criadora” (Freire, 2005,
p. 21).

“Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os


homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo” (Idem, p. 79).

“Não há diálogo, porém, se não há um profundo amor ao mundo e aos homens”


(Idem, p. 91).

Embora Paulo Freire seja humanista, acreditando que o homem é o salvador e


libertador de si mesmo, você encontra paralelos do pensamento dele com o
cristianismo? Quais seriam?

FÓRUM: Observando as abordagens do processo de ensino e


aprendizagem, discuta com seus colegas:
a) Qual delas é mais utilizada em nossas igrejas, de modo geral?
b) Qual delas mais se aproxima da pedagogia de Jesus?
c) É possível utilizar alguns elementos de cada uma dessas
abordagens e construir uma prática pedagógica cristã
diferenciada?

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Recapitulando

Você se lembra de quais são as cinco abordagens do processo de ensino e aprendizagem?


Vejamos quais são e quais palavras-chave podem nos ajudar a lembrar os pontos centrais de
cada uma delas:

Abordagem tradicional: memorização, imitação, valorização do conteúdo;

Abordagem comportamentalista ou Behaviorismo: planejamento, reforço, controle,


treinamento, instrução programada;

Abordagem Humanista: liberdade, responsabilidade, empatia, autoaprendizagem,


autoavaliação;

Abordagem Cognitivista: construção do conhecimento, desequilíbrio, estágios de


desenvolvimento, métodos ativos, reflexão, autonomia;

Abordagem Sociointeracionista: interações sociais, zona de desenvolvimento


proximal, linguagem, pedagogia crítico-libertadora, integração histórica e social.

Seguindo uma ótica construtivista, Telma Weisz coloca que ensino e aprendizagem são
dois processos distintos, embora intensamente relacionados. O processo de ensino é
desenvolvido pelo professor, enquanto o processo de aprendizagem é desenvolvido pelo aluno.
Ela afirma que o processo de ensino deve adaptar-se ao da aprendizagem (Weisz, 2009, p. 65).

A mesma autora ainda coloca que os conteúdos a serem trabalhados devem ser
significativos para os alunos, mantendo a característica de “objeto sociocultural real” (Idem, p.
66), e que o papel do professor é organizar situações de aprendizagem nas quais os alunos se
deparem com problemas interessantes e desafiadores, ao mesmo tempo difíceis e possíveis de
serem solucionados, de acordo com o potencial dos estudantes.

O que você pensa das colocações de Weisz? Como poderíamos aplicá-las ao


ensino cristão?

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Referências da Unidade

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. São Paulo: Brasiliense, s.d.

FARIA, Anália Rodrigues de. O desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget.


São Paulo: Ática, 1989.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 41. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.

GEORGE, Sherron K. Igreja Ensinadora: fundamentos bíblico-teológicos e pedagógicos da


Educação Cristã. Campinas, SP: Luz Para o Caminho, 1993.

GREGORY, John M. As sete leis do ensino. Rio de Janeiro: Juerp, 1987.

LA TAILLE, Yves de. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo:
Summus, 1992.

MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: As abordagens do processo. São Paulo: EPU,
1986 (Temas básicos de educação e ensino).

MOLOCHENCO, Madalena de Oliveira. Curso vida nova de teologia básica: educação cristã.
v. 8. São Paulo: Vida Nova, 2007.

PRICE, J. M. A Pedagogia de Jesus. 6 ed. Rio de Janeiro: Juerp, 1988.

ROGERS, C. R. Liberdade de aprender em nossa década. Porto Alegre: Artes Médicas, 1985.

WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. 2 ed. São Paulo: Ática, 2009
(Palavra de Professor).

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