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FAZEI DISCÍPULOS

O discipulado como estratégia para o crescimento e fortalecimento da


Igreja.

Disse Jesus: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt


28.19).
O discipulado cristão é uma responsabilidade outorgada à igreja pelo
próprio Senhor Jesus Cristo. A questão colocada não é se queremos ou não
abraçar a tarefa do discipulado, mas se seremos ou não obedientes à ordem
dada por Jesus.
O compromisso com o discipulado, obrigatoriamente, faz parte da
agenda da Igreja. Resta-nos, então, compreender melhor o significado do
discipulado bíblico, a fim de nos dedicarmos diligentemente ao
cumprimento dessa tarefa.
Cada discípulo precisa compreender que é sua responsabilidade
tornar-se, no devido tempo, um discipulador. Para isso, é necessário haver
compromisso e dedicação. O desenvolvimento do discipulado, por vezes, se
mostra desafiador, exigindo sensibilidade, paciência e perseverança. Porém,
é tarefa extremamente gratificante, pois apresenta frutos abençoados.
Com Jesus, aprendemos a respeito da sublime missão de fazer
discípulos. Ele é, por excelência, o Mestre na arte de fazer discípulos. É
nele que devemos buscar as orientações para cumprirmos, de forma mais
intensa e responsável, nossa responsabilidade quanto ao discipulado cristão.
Esse desafio é dirigido a cada discípulo de Jesus, devendo ficar claro,
portanto, o seguinte: você já pode fazer discípulos ou ainda precisa ser
discipulado; não há uma terceira condição. O desafio é que cada membro de
igreja se esforce para enquadrar-se na primeira delas.
O propósito dos estudos bíblicos contidos nesta revista, que faz parte
da Série “Igreja e Missão”, é despertar quanto ao valor do discipulado e
desafiar a igreja toda a se envolver nesse processo. Evidentemente, é
importante haver treinamento para o desenvolvimento dessa tarefa.
Sendo assim, explore profundamente esta revista. Valorize o
programa de discipulado de sua igreja. Procure conhecer os desafios e
descubra as possibilidades. Assuma sua responsabilidade! Não se contente
em ser apenas discípulo a vida inteira. Seja um discipulador!
Juntos, a serviço do reino, prossigamos!
Rev. Eneziel Peixoto de Andrade – Editor
Prof.ª Enildes Rosa Queiroz Andrade – Diretora Comercial
01 – Entendendo o que é Discipulado

02 - Jesus: o maior exemplo de Discipulador

03 - O Discipulado na Igreja Primitiva

04 - A Vocação do Discípulo

05 - A Vida do Discípulo

06 - Graça e Discipulado

07 - Discipulado e Cruz

08 - Requisitos do Discipulado

09 - Motivações para o Discipulado

10 - Comunidade Discipuladora

11 - Evangelização e Discipulado

12 - Discipulado e Crescimento da Igreja

13 - Discipulado Relevante
01
Entendendo o que é Discipulado
Lucas 5.1 a 11

LEITURA DIÁRIA
SEG - Mateus 5.1-16
TER - Mateus 16.24-27
QUA - Lucas 5.1-11
QUI - Lucas 5.27-32
SEX - Lucas 9.57-62
SAB - Lucas 14.25-35
DOM - João 13.31-35

O que significa ser cristão?


Quem é, de fato, cristão?
Para alguns, a resposta a essas perguntas é muito simples: ser
cristão, conforme pensam, é uma questão de tradição. Basta ter nascido em
família cristã para ser identificado como cristão. Quem pensa assim,
confunde a verdadeira vivência do cristianismo com uma tradição cultural.
Há também aqueles que pensam que ser cristão significa saber de
cor formulações doutrinárias, sendo capaz de apresentá-las de maneira
precisa e correta.
O problema é que, à luz das Escrituras, ser cristão não é tão simples
assim. Conforme o ensino bíblico, não basta o indivíduo ter nascido em
ambiente de tradição cultural cristã para ser cristão. Também não basta
conhecer e defender doutrinas cristãs de maneira correta. De acordo com o
ensino bíblico, ser cristão é seguir a Jesus; é experimentar a transformação
promovida pelo evangelho; é praticar a mensagem do cristianismo.
Há uma palavra que resume a vida cristã autêntica: discipulado.
Logo, ser cristão é ser discípulo de Jesus. “Segue-me” – esse é o imperativo
que Jesus apresentou, com frequência, a diferentes pessoas, conforme se vê
nas páginas dos evangelhos. Naqueles dias, o “segue-me” de Jesus tinha
também o sentido literal. Seguir a Jesus era andar com ele pelas estradas
empoeiradas da Galileia.
O “segue-me” do Senhor ressuscitado continua ecoando através dos
tempos. Jesus, o Cristo vivo, continua chamando homens e mulheres de
todos os lugares, de todas as idades, de todas as posições econômicas e
sociais para que o sigam.
A conhecida passagem de Lucas 5.1 a 11, que narra o chamado dos
primeiros seguidores de Jesus, servirá de base para as nossas reflexões
sobre o discipulado neste estudo.

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. O discipulado cristão envolve aprendizado com o Mestre


A palavra “discípulo” significa, literalmente, “aluno”. No mundo
antigo, era comum que mestres de ideias filosóficas ou religiosas se
fizessem cercar de alunos ou aprendizes, a quem transmitiam seus
conhecimentos. Quando Jesus chamou a algumas pessoas para que o
seguissem, por um lado, não estava fazendo nada diferente do que faziam
os outros mestres do seu tempo. Porém, a proposta de Jesus é
completamente diferente, como veremos.
Juan Stam, teólogo evangélico da Costa Rica, escreveu em 1976 um
artigo intitulado “Bases bíblicas para o discipulado”. Naquele artigo, aponta
para sete diferenças básicas que distinguiam ser discípulo de Jesus de ser
discípulo dos mestres do judaísmo daqueles dias:
a) Seguir a Jesus só se faz por convite (ou chamado) dele, isto é, do
próprio Senhor;
b) Seguir a Jesus tem implicações para todas as áreas da vida. No
caso dos outros mestres, só se tinha em vista uma formação intelectual;
c) Seguir a Jesus implica em relacionamento pessoal com o Senhor,
não relacionamento apenas doutrinal, como no caso dos rabinos;
d) Seguir a Jesus é um dom da graça. Os mestres rabinos daquele
tempo cobravam pela instrução que transmitiam;
e) Seguir a Jesus implica em compromisso absoluto. Com os
mestres rabinos, tal não acontecia;
f) Seguir a Jesus implica em vivência comunitária – seus seguidores
formam uma comunidade. Isso não acontecia com os outros mestres;
g) Seguir a Jesus é algo para toda a vida.
As reflexões de Juan Stam são úteis para que entendamos o que, de
fato, significa ser discípulo de Jesus.
Segundo o especialista em discipulado, Dr. Waylon Moore,
"discipulado é o processo de tomar novos convertidos, educá-los e levá-los
a um estado de maturidade e adulta comunhão com Cristo e de serviço
eficiente na igreja. Fazer discípulo é levar a pessoa à experiência de ter
Jesus como Senhor e centro de sua vida.”
2. O discipulado cristão implica em viver o projeto de vida de Jesus
Seguir Jesus é obedecê-lo em tudo. Seguir Jesus é ter em mente seus
mandamentos para obedecê-los fielmente. Seguir Jesus é ter uma dinâmica
de vida de modo tal que os mandamentos e imperativos do Senhor sejam
colocados em prática no dia a dia. As palavras de Jesus são claras e diretas.
Quem quer segui-lo, há de obedecer a tais mandamentos.
A seguir, alistamos uma pequena amostra das palavras de Jesus, que
devem ser vivenciadas pelos seus discípulos:
Vai reconciliar-te com teu irmão antes de fazer tua oferta (Mt
5.23,24);
Dá a quem te pede e não voltes as costas ao que deseja que lhe
emprestes (Mt 5.42);
Orai pelos que vos perseguem (Mt 5.44);
Não andeis ansiosos pela vossa vida (Mt 6.25);
Acautelai-vos dos falsos profetas (Mt 7.15);
Perdoa a teu irmão até setenta vezes sete vezes (Mt 18.21,22).
Essas palavras, e tantas outras ditas pelo Senhor, com autoridade
(Mc 1.22), devem ser obedecidas pelos que pretendem ser seus seguidores.
Vê-se, portanto, que o discipulado vai além de simplesmente aprender os
ensinos de Jesus e desenvolver habilidades para instruir a outros. O
discipulado implica em viver o projeto de vida de Jesus. Discipulado é vida,
exemplo, testemunho. Os escribas e fariseus foram duramente censurados
por Jesus pela incoerência entre o que ensinavam e a sua prática: “Fazei e
guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas
obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados [e difíceis de
carregar] e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos
nem com o dedo querem movê-los.” (Mt 23.3,4). O discipulado cristão não
admite essa incoerência.

3. O discipulado cristão consiste em participar da missão de Jesus


Muitos entendem a vida cristã como um mecanismo para a obtenção
de bênçãos. Outros pensam na vida cristã apenas em termos de um “visto de
entrada” para a vida eterna. Entretanto, à luz da Escritura, a vida cristã é
muito mais que isso. Ser cristão, como já afirmado, significa ser discípulo,
isto é, seguidor de Jesus; e seguir Jesus implica em tomar parte na missão
do próprio Senhor.
Para David Kornfield, o discipulado envolve “uma relação
comprometida e pessoal em que um discípulo mais maduro ajuda outros
discípulos de Jesus Cristo a se aproximarem mais dele e assim se
reproduzirem (...) Se o discipulado perder de vista o relacionamento
comprometido e pessoal, deixa de ser um discipulado bíblico.”
Orlando Costas, teólogo evangélico de Porto Rico, levanta três
questões que devem servir de base para avaliarmos nosso exercício da
missão cristã à luz das exigências do discipulado:
Nossos programas de missão estão conduzindo homens e
mulheres a seguir Jesus através das encruzilhadas da vida?
Nossos programas de missão estão capacitando homens e
mulheres para que participem da missão de Jesus no mundo?
Nossos programas de missão estão ensinando a obedecer ao
Senhor em todas as coisas?
Essas perguntas são importantes como critérios de avaliação dos
programas de missão que realizamos. Não basta que as igrejas estejam
cheias de pessoas; é necessário que as igrejas estejam cheias de seguidores
de Jesus.
Há atualmente no Brasil, muitas igrejas com muitas pessoas. É
comum ver templos superlotados, com pessoas ávidas por receberem
bênçãos e experimentar intensa emoção, especialmente nos prolongados
momentos de louvor musical. Porém, algumas perguntas se tornam
inevitáveis:
Estão todas essas pessoas conscientes da necessidade de seguir
Jesus, e não apenas aclamá-lo e desejar suas bênçãos?
Estão todas elas conscientes das implicações vinculadas ao
discipulado cristão?
Há, da parte dos líderes que ministram a essas pessoas, a real
intenção de prepará-las para crescerem na graça e no conhecimento de
Cristo, capacitando-as a participarem da missão de Jesus, na condição
de discípulos que desejam servir, em vez de serem servidos?
E a sua comunidade, como tem lidado com essa questão? Há entre
os membros de sua igreja a compreensão sobre o que é o discipulado
cristão? Com certeza, são muitas as perguntas a serem consideradas; e é
imprescindível que haja disposição para se refletir profundamente sobre
esse tema.

DISCUSSÃO

1. Muitos pensam que discipulado se refere apenas à preparação de


pessoas para professarem sua fé. Essa compreensão é correta?
2. Quais são os prejuízos para a vivência e missão da igreja, se seus
membros não compreendem que precisam ser discípulos de Jesus?
02
Jesus: o maior exemplo de Discipulador
Lucas 4.14 a 30

LEITURA DIÁRIA
SEG - Isaías 61
TER - Mateus 10.24-34
QUA - Mateus 15. 21-28
QUI - Mateus 28.16-20
SEX - Marcos 3.13-19
SAB - Marcos 16.14-20
DOM - João 1.35-51
O acontecimento relatado em Lucas 4.16 a 30 aponta para o início
do ministério de Jesus. Ele estava na sinagoga de Nazaré, cidade onde havia
sido criado. A partir daquele momento, a mensagem de Isaías se tornou a
agenda ministerial de Jesus. Era, então, necessário desenvolver uma
estratégia que permitisse concretizar sua missão. Jesus optou pelo caminho
do discipulado. Decidiu investir em vidas, preparando pessoas para a
missão.
O objetivo deste estudo é focar a pessoa de Jesus como modelo de
discipulador. É possível afirmar que ele foi o discipulador por excelência.
Em seu ministério público, deixou evidências claras de um verdadeiro
discipulador, investindo em vidas e desafiando a igreja a fazer de forma
semelhante.

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. Jesus caminhava junto a outras pessoas


Para realizar sua missão discipuladora, Jesus constituiu uma equipe.
Investiu tempo em oração para buscar aqueles que seriam seus discípulos. É
interessante observar que, ao escolher os seus, disse que eles estariam
sempre ao seu lado. Isso mostra que os discípulos teriam a oportunidade de
conhecê-lo bem de perto, vendo-o ensinar, pregar e curar (Mc 3.14).
Jesus tornou-se conhecido pela consistência dos seus ensinamentos e
a coerência de sua prática. Ao caminhar com as pessoas, tinha o interesse
em que elas conhecessem, de fato, quem ele era (Mt 16.13-17).
Nem sempre estamos interessados em saber o que as pessoas
pensam a nosso respeito. Muitos líderes deixam de olhar para o exemplo de
Jesus, mas investem muitos recursos para construir sua própria imagem. Há
pessoas que se “vestem” de líderes desde a manhã até à noite, mas não
revelam a santidade e a humildade do Senhor Jesus.
É preciso entender que não há nenhum sinal de debilidade ou
fraqueza em mostrar o que realmente somos, pois, na realidade, o
evangelho sempre será um tesouro em vaso de barro. É importante
caminhar lado a lado com as pessoas, conhecendo-as e tornando-se
conhecido. Para alguns líderes, isso seria descer do patamar em que se
encontram, de onde apenas dão ordens e controlam as pessoas.
O discipulado cristão implica em caminhar junto.

2. Jesus investiu na formação de vidas


Ao caminhar com os discípulos e demais pessoas, Jesus apresentava
exemplos práticos. Não apenas ensinava a orar ou a perdoar, mas orava e
perdoava (Mt 14.23; Lc 23.34); era não apenas um mestre de palavras, mas
de ações; não apenas um teórico, mas um líder que praticava seus próprios
ensinos. As pessoas tinham suas vidas transformadas ao verem as atitudes
de Jesus. Ele era um modelo vivo para os seus discípulos.
Essa formação do caráter cristão é um processo contínuo e
dinâmico. Sabemos que não é fácil caminhar com as pessoas, pois as
experiências afloram as virtudes e as misérias de cada um. Portanto, formar
vidas pode levar tempo, exigindo paciência e perseverança; e isso só se
torna possível quando o discípulo e o discipulador andam juntos.
A mera transmissão verbal de ensinamentos não é suficiente: Jesus
investiu tempo na formação dos discípulos. Hoje, a igreja carece de
exemplos de vidas transformadas, e não de religiosidade ou de técnicas para
persuadir as pessoas. Entretanto, essa carência somente será suprida quando
o exemplo de Jesus for observado corretamente por líderes e seus liderados
(I Co 11.1; Fp 3.17).

3. Jesus vislumbrava o futuro das pessoas


Jesus via as pessoas não como eram no momento, mas como
chegariam a ser. Ao escolher os Doze, disse-lhes que seriam pescadores de
homens. Jesus não os desanimou por causa de suas limitações,
características e temperamentos pessoais, tais como: timidez, imaturidade,
instabilidade, etc. Ele sempre os tratou como potenciais “pescadores de
homens”.
Na prática de Jesus, o ponto de partida para o discipulado eficaz é o
potencial de cada indivíduo. Jesus via além das deficiências apresentadas
por eles; e acreditava que podiam ser lapidados para se tornarem
testemunhas cheias de autoridade e poder.
Um dos exemplos dessa visão de Jesus se pode ver em seu encontro
com a mulher samaritana – uma mulher pecadora, fracassada, vazia. Mas
Jesus acreditou em sua transformação, tratou-a com dignidade e deu a ela
da água da vida. Como resultado, aquela mulher se tornou uma verdadeira
missionária entre os samaritanos (Jo 4.39-42).
Discipular como Jesus, implica em crer no potencial transformador
do evangelho e na ação restauradora do Espírito Santo que opera nos
corações. É muito cômodo trabalhar com pessoas que já estão “prontas”; o
desafio, porém, é vislumbrar o futuro das pessoas.

4. Jesus dialogava com as pessoas


Geralmente, o método mais utilizado nas igrejas é o de se transmitir
a mensagem por meio de uma pessoa, enquanto os demais apenas a
recebem, tornando-se meros depositários dos ensinos. Esse é um método
unidirecional, que impede a interatividade. O ministério de ensino da igreja
não pode ficar circunscrito a essa metodologia. Jesus optou pelo diálogo.
Sabemos que o diálogo implica em riscos, pois tira o outro da
passividade. A liberdade de pensar e falar é uma ameaça aos dogmáticos,
que não admitem questionamentos. Porém, é impossível ser um
discipulador eficaz sem o estabelecimento do diálogo. Jesus valorizava o
diálogo, como se pode ver já aos seus doze anos de idade, quando discutia
com os doutores no templo (Lc 2.46).
Segundo John R.W. Stott, “dialogar é também discutir ou
argumentar; ideia esta que Lucas utilizou para descrever as pregações
evangelísticas de Paulo, conforme Atos 17.2, 3 e 17; 18.4, 19; 19. 8,9; 20.7-
9; 24.25.”
Ao passar pela região de Tiro e Sidom (Mt 15.21-28), sendo
abordado por uma mulher que clamava por misericórdia pelo fato de sua
filha estar endemoninhada, Jesus ouviu seus gritos e começou a apresentar
algumas aparentes razões para não atendê-la. Ela era estrangeira, de cultura
helênica e nacionalidade siro-fenícia; mas, segundo Jesus, a sua missão
estava direcionada apenas aos da casa de Israel. Porém, em meio ao diálogo
que se travou, Jesus viu nela grande fé e a abençoou (v.28). Assim, ensinou
aos discípulos que não devemos impor doutrinas ou dogmas sobre as
pessoas, mas ouvir o seu clamor e apresentar a palavra de salvação.
Através do diálogo, aquela vida foi alcançada.

5. Jesus pagou o preço do discipulado


Falando sobre o compromisso com o discipulado, Jesus mostra que
os demais interesses devem ser subjugados; e adverte: “Ninguém que, tendo
posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.” (Lc
9.62). Os outros interesses devem ser subjugados. Ele, por exemplo, decidiu
distanciar-se da própria família para cumprir sem embaraço a missão
outorgada pelo Pai (Lc 8.21).
William MacDonald, em seu livro O Discípulo Verdadeiro, afirma:
“Quando o homem se compromete de verdade com Jesus, não lhe parece
importante viver ou morrer. Será Cristo engrandecido no meu corpo, quer
pela vida, quer pela morte (Fp 1.20).”
Infelizmente, alguns discipuladores ensinam o que as pessoas
querem ouvir, e não o que Deus diz em sua Palavra. O discipulado não é um
exercício para massagear o ego das pessoas; pelo contrário, torna-se por
vezes desconfortável, pois impõe a mudança de conceitos e
comportamentos. Há igrejas que deformam a mensagem cristã, a fim de
agradar as pessoas e atraí-las. Mas, um evangelho que não transtorna, não é
o genuíno evangelho bíblico (Hb 4.12).
O preço do discipulado não pode ser negligenciado (Mt 16.24).

6. Jesus estabeleceu uma estratégia multiplicadora


Ele formou discípulos aptos a fazerem novos discípulos; esperava
deles não apenas vidas transformadas, mas vidas frutíferas (Jo 15.16).
Segundo o ensino de Jesus, somos reconhecidos como verdadeiros
discípulos somente se produzirmos muitos frutos (Jo 15.8). O que se espera
de todo discípulo de Jesus é a frutificação (Cl 1.10).
Ao final do seu ministério terreno, Jesus ordenou aos discípulos o
compromisso com o discipulado cristão (Mt 28.18-20; At 1.8). Este é o
desafio: cada discípulo um discipulador.

DISCUSSÃO
1. Você acha relevante a igreja ter um programa continuado de
treinamento para que cada discípulo seja transformado em discipulador?
Sua igreja tem?
2. Atualmente, alguém do grupo está desenvolvendo discipulado com
novos convertidos? Se houver, é oportuno compartilhar a experiência.
03
O Discipulado na Igreja Primitiva
Atos 2.42 a 47; 4.32 a 37

LEITURA DIÁRIA
SEG - Salmo 133
TER - Atos 8.26-40
QUA - Atos 11.19-26
QUI - Atos 16.27-34
SEX - I Coríntios 11.17-34
SAB - Filipenses 2.1-11
DOM - Colossenses 1.3-12

A igreja à qual você pertence é uma igreja discipuladora?


Um dos grandes desafios da atualidade transcende o fator
evangelização. Esse desafio tem a ver com o discipulado. Há uma
infinidade de pessoas que são alcançadas pela mensagem da Palavra via TV,
rádio, literaturas, pregações, etc., mas não chegam a se filiarem a uma igreja
ou não permanecem na igreja que começaram a frequentar. A rotatividade é
um dos problemas, especialmente nas grandes cidades, onde há as mais
diferentes opções em termos de igrejas. Por que acontece essa rotatividade?
Por que essa inconstância entre pessoas que desejam viver uma nova vida
em Cristo? A resposta é: ausência de discipulado!
O discipulado cristão é indispensável; e a igreja primitiva tem muito
a nos ensinar sobre isso.
A igreja em Jerusalém teve o seu início com algumas poucas
pessoas orando em uma casa, atemorizadas após a morte de Jesus (At 1.12-
14). Aquelas pessoas aguardavam, trancadas em uma casa, o cumprimento
da promessa feita pelo Senhor Jesus, sobre a vinda do Espírito Santo.
Após a promessa se cumprir (At 2.1-4), a pequena e acanhada igreja
ganhou as ruas. Passou a proclamar o evangelho com intrepidez, tocando os
corações (At 2.37-41). Depois, mesmo sofrendo ameaças e perseguições, a
igreja não se esmoreceu, mas continuou proclamando.
O número de convertidos aumentava a cada dia. Simultaneamente,
havia um trabalho eficiente de discipulado na igreja: “perseveravam na
doutrina dos apóstolos e na comunhão... Diariamente perseveravam
unânimes no templo...” (At 2.42-47). O compromisso com o discipulado na
igreja primitiva pode ser visto, por exemplo, na atitude de Filipe para com o
oficial etíope, que estava lendo a Escritura, mas não a compreendia por si
mesmo (At 8.26-40).
Na igreja primitiva dava-se grande valor ao discipulado. Por isso, o
seu crescimento foi tão intenso e consistente. Com a prática discipuladora
da igreja primitiva aprendemos:

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. A necessidade de perseverança
O primeiro fator que o texto bíblico de Atos 2.42 evidencia é a
necessidade de perseverança. O discipulado requer perseverança, tanto da
parte do discipulador quanto do discipulando.
Muitas igrejas, hoje, se valem de estratégias de marketing para
chamar a atenção e atrair as pessoas. Aparentemente funciona, pois, muitas
delas estão transbordando de gente. Entretanto, nem sempre há um real
crescimento. Inúmeras pessoas são atraídas, mas nem todas permanecem.
Em diversos casos, são igrejas cheias de pessoas vazias. Boa parte delas, em
algum momento, sairá à procura de outras comunidades, pois não há um
trabalho consistente de discipulado.
A superficialidade está sempre em busca de “novas emoções”. As
pessoas comem, mas não se satisfazem, pois o alimento oferecido não é
substancial. Os crentes que vivem nesse contexto se tornam vulneráveis a
todo vento de doutrina e, sem que perceberem, são explorados pelos seus
líderes. Esse é um modelo que não deve ser imitado.
Conforme a orientação bíblica, é preciso crescer na graça e no
conhecimento de Cristo; e esse crescimento não acontece da noite para o
dia: é um processo que demanda esforço e tempo, exigindo, portanto,
perseverança (Ef 4.11-16).
Em Atos 11.25 e 26, vemos o relato acerca do resultado de um
discipulado bem feito, a saber: a formação de verdadeiros cristãos: “E
partiu Barnabé para Tarso à procura de Saulo; tendo-o encontrado, levou-o
para Antioquia. E, por todo um ano, se reuniram naquela igreja e ensinaram
numerosa multidão. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez,
chamados cristãos.”
2. A doutrina como fator de consolidação
O discipulado na igreja primitiva tinha um caráter fortemente
doutrinário. O seu conteúdo era a doutrina apostólica. A igreja tinha solidez
doutrinária, pois estava bem alicerçada na Palavra.
Hoje, um dos mais graves problemas das igrejas é a fraqueza
doutrinária. Boa parte dos crentes não conhece os fundamentos da sua fé.
Por isso, se deixam enganar, demonstram instabilidade, adotam práticas
absurdas e, alguns, acabam se frustrando tanto que, depois, acabam
abandonando tudo.
Paulo recomendou aos colossenses: “Habite, ricamente, em vós a
palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a
sabedoria” (Cl 3.16).
Ao jovem Timóteo, o apóstolo recomendou: “Expondo estas coisas
aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as palavras
da fé e da boa doutrina que tens seguido. (...) Ordena e ensina estas coisas.
Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-te padrão dos fiéis,
na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza. Até à minha
chegada, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Não te faças negligente
para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia,
com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas e nelas sê
diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de
ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim,
salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.” (I Tm 4.6; 11-16).
O discipulado cristão autêntico passa pelo caminho da doutrina. É
impossível a existência de uma igreja forte e saudável, se não houver
investimento sério em discipulado bíblico, bem orientado no aspecto
doutrinário. Com a igreja primitiva, aprendemos sobre a perseverança na
doutrina.

3. A comunhão como fator de integração


O texto bíblico informa-nos que os primeiros cristãos “diariamente
perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam
as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e
contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes
o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” (vv.46,47).
A escassez de tempo e o corre-corre têm roubado de forma
assustadora a experiência da comunhão vinculada ao discipulado. São
poucas as pessoas que dispõe de tempo e espaço em sua agenda para se
dedicarem ao discipulado. Quase todo mundo está sempre comprometido
com muitas atividades; mal sobra tempo para comparecer às atividades da
igreja. Muitos membros não conseguem mais participar dos trabalhos
semanais, por exemplo. Se não tomarmos cuidado, faltará tempo para ler a
Bíblia, orar, encontrar os irmãos, compartilhar as experiências de fé, chorar
com os que choram e alegrar-se com os que se alegram.
Não é difícil constatar que a consequência de tudo isso é um
cristianismo cada vez mais individualista e superficial. Num contexto
assim, como serão discipulados aqueles que estão chegando e desejam
crescer na graça e no conhecimento de Cristo?
É imperativo olhar para a igreja primitiva e redescobrir o valor da
comunhão como fator de integração dos novos convertidos. Discipulado é
comunhão. Felizmente, muitas igrejas já se conscientizaram de que os
pequenos grupos oportunizam a comunhão e o desenvolvimento do
discipulado.

4. Os meios de graça como fatores de alimentação espiritual


Na igreja primitiva tinham lugar central a Palavra, a oração, a Ceia
do Senhor.
A Palavra, a oração e os sacramentos são canais da graça de Deus ao seu
povo. A oração proporciona a experiência da intimidade com Deus. A
Palavra recebida aperfeiçoa o crente – “Toda a Escritura é inspirada por
Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (II Tm 3.16,17). Os
sacramentos promovem a comunhão com Deus e com o seu povo. Também
são os meios que efetivam a inserção do discípulo no Corpo de Cristo (Mt
28.18-20; I Co 10.16,17).
A igreja primitiva proclamava o evangelho com muita intrepidez.
Muitas pessoas eram alcançadas pela pregação. Porém, a consolidação da fé
se dava por meio do discipulado junto à comunidade. Vale ressaltar que o
discipulado não era um programa, mas um estilo de vida dos crentes.

DISCUSSÃO
1. Você tem conseguido espaço em sua agenda para, além de participar
das atividades da igreja, desenvolver o discipulado junto a amigos e
colegas de trabalho? O que você tem a compartilhar sobre isso?
2. Os fatores vinculados ao discipulado eficaz, destacados neste estudo,
têm sido considerados pela sua igreja? Há muitas pessoas em sua
igreja envolvidas em discipulado?
04
A Vocação do Discípulo
Mateus 4.18 a 25

LEITURA DA SEMANA
SEG - Mateus 10.1-15
TER - Mateus 10.16-23
QUA - Mateus 10.24-33
QUI - Mateus 10.34-42
SEX - Atos 9.1-19
SAB - Atos 9.20-31
DOM - Hebreus 12.1-3

As palavras traduzidas na Bíblia por “discípulo” transmitem a ideia


de “seguir, juntar-se, imitar”. O discípulo é aquele que se identifica com o
seu mestre, dispondo-se a segui-lo e a praticar os seus ensinos e atitudes.
Ser discípulo de Cristo é segui-lo; é viver dia a dia ao seu lado, em
obediência e submissão; é cumprir a missão dada por ele.
A experiência com Cristo não pode se limitar à conversão. A
conversão é o ponto de partida; o discipulado é a complementação.
Podemos então resumir, dizendo que a experiência do discipulado começa
com o “vinde a mim” e culmina com o “ide”.
Por trás de todo esse processo está a vocação do discípulo. Trata-se
de um processo que envolve a todos aqueles que, verdadeiramente, já se
converteram a Cristo, que reconhecem o seu senhorio e que desejam servi-
lo obedientemente.
Waylon Moore afirma que, "discipulado é o processo de tomar
novos convertidos, educá-los e levá-los a um estado de maturidade e adulta
comunhão com Cristo e de serviço eficiente na igreja."
O objetivo deste estudo é despertar em cada crente a consciência
quanto à realidade e implicações do chamado para vir a Cristo e ir ao
mundo, na condição de discípulo que se dispõe a fazer novos discípulos.

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. A vocação do discípulo está subordinada ao chamado do Senhor


O texto de Mateus 4.18 a 22 é conhecido como “a vocação dos
discípulos”. Após um momento de preparação, que envolveu seu batismo e
a vitória sobre a tentação no deserto, Jesus deu início ao seu ministério na
região da Galileia.
A primeira providência tomada por Jesus foi o investimento em
discipulado. É significativo o convite feito por ele aos dois irmãos
pescadores: Simão, chamado Pedro e André: “Vinde após mim, e eu vos
farei pescadores de homens.” (v.19).
Esse mesmo convite foi feito, em seguida, a outros dois irmãos:
Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, também pescadores. Mais tarde,
outros homens receberiam o mesmo chamado, até que o grupo idealizado
por Jesus estivesse completo.
Nesses relatos do Evangelho é possível perceber a força do chamado
do Mestre. Não há dúvidas de que aqueles homens, mesmo sem saber,
foram vocacionados pelo Espírito Santo para a obra missionária. E, a partir
do chamado de Jesus, tomaram consciência da sua vocação. Entretanto, não
imaginavam a que ponto o Espírito os levaria, pois não tinham noção da
dimensão do seu chamado.
A vocação do discípulo está subordinada ao chamado do Senhor.
Para se entregar ao discipulado é preciso tomar consciência do chamado. O
engajamento no discipulado não pode ser fruto apenas de uma solicitação
do pastor ou de uma metodologia adotada pela igreja; deve ser, antes de
tudo, uma resposta ao Senhor que vocaciona e chama.
É preciso compreender que o “ide” é precedido do “vinde”. Antes
de ir fazer discípulos é necessário vir a Cristo, atendendo o seu chamado
para ser discípulo. Vê-se, portanto, que discipulado não é simplesmente
treinamento, mas, uma caminhada na direção de Cristo, como fruto de uma
vocação.
A vocação, ao ser respondida, é chancelada com a autoridade
outorgada pelo próprio Senhor Jesus: “Jesus, aproximando-se, falou-lhes,
dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, portanto,
fazei discípulos...” (Mt 28.18,19). Essa autoridade é comunicada pelo
Espírito Santo: “recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e
sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra.” (At 1.8).

2. A vocação do discípulo se desenvolve na medida em que ele se


dispõe a seguir o Mestre
No texto tomado por base para este estudo, é notável a disposição
demonstrada por aqueles pescadores diante do chamado de Jesus: “Então,
eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram” (v.20); “... no mesmo
instante, deixando o barco e seu pai, o seguiram” (v.22).
Essa descrição quanto à atitude daqueles homens tem muito a nos
ensinar. Ela revela, entre outras coisas:
Compromisso – eles deixaram as redes, os barcos e a
família para atender ao chamado de Jesus;
Senso de urgência – eles deixaram imediatamente, no
mesmo instante; não adiaram a resposta ao chamado do Mestre;
Determinação – eles seguiram Jesus, isto é, levaram a cabo
a decisão tomada; não ficou apenas na intenção.
O período que os discípulos passaram junto a Jesus foi decisivo para
que fossem discipulados. Tiveram a oportunidade de ouvir as instruções,
ver as obras realizadas por Jesus, seguir as pegadas do Mestre.
É fundamental, no discipulado, que o discipulando se disponha a
seguir os passos daquele que o discípula, criando com ele um vínculo de
proximidade. É exatamente isso que Paulo propõe em Gálatas 6.6: “Mas
aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as
coisas boas aquele que o instrui.”
É necessário que o discipulando tome por modelo a vida daquele
que o instrui, como recomenda Paulo em diversas passagens: “Sede meus
imitadores, como também eu sou de Cristo.” (I Co 4.16; 11.1; Fp 3.17; I Ts
1.6). A responsabilidade do discipulador é muito grande, como recomenda
Paulo a Timóteo: “Ninguém despreze a tua mocidade; pelo contrário, torna-
te padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no amor, na fé, na pureza.”
(I Tm 4.12).
Jesus é o Mestre por excelência. Como já foi dito, a vocação do
discípulo se desenvolve na medida em que ele se dispõe a seguir o Mestre,
permanecendo junto a ele. Jesus declarou: “Se permanecerdes em mim, e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será
feito. Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos
tornareis meus discípulos.” (Jo 15.7,8).

3. A vocação do discípulo o transforma em discipulador


Todo aquele que é chamado por Jesus para se tornar discípulo, é
enviado a fazer novos discípulos. Conforme Mateus 10.1, “tendo chamado
os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos
para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades”. Diz,
ainda, o texto: “A estes doze enviou Jesus...” (Mt 10.5).
Em Mateus 28.18 a 20, a ordem de Jesus é muito clara, no sentido
de que os seus discípulos devem se entregar à tarefa de fazer novos
discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado.”
Paulo, um dos mais notáveis discípulos do Senhor, também
extraordinário discipulador, orientou um de seus filhos na fé, Timóteo, a
adotar essa estratégia de discipulado: “E o que de minha parte ouviste
através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e
idôneos para instruir a outros.” (II Tm 2.2). Todo discípulo é um
discipulador em potencial.
Há uma tendência entre boa parte dos crentes que é desejar apenas
ser pastoreada. Esse modelo de igreja exige que os pastores se dediquem
quase que exclusivamente ao trabalho de consolação dos crentes. A função
pastoral praticamente se reduz a um trabalho de capelania. Nesse modelo
ministerial, geralmente, pouco valor se dá ao treinamento de líderes, à
formação de discipuladores, ao envolvimento de toda a igreja no pastoreio
dos novos convertidos. Felizmente, muitas comunidades, hoje, estão
redescobrindo o modelo neotestamentário em que cada discípulo é
desafiado e preparado para fazer novos discípulos. Essas comunidades têm
experimentado crescimento e uma qualidade de vida espiritual notável.
Não há dúvidas de que a vocação para ser discípulo de Cristo inclui
o chamado para ser um discipulador. É essa mentalidade que deve se
desenvolver na igreja, se quisermos atender, de fato, à grande comissão de
Jesus. Lembre-se: a carreira cristã começa com o “vinde” de Jesus, mas
inclui também o “ide por todo o mundo”.

DISCUSSÃO

1. Em que ponto da vida cristã você se encontra: ainda é discípulo,


limitando-se a receber instrução cristã, ou já assumiu a condição de
discipulador, cuidando daqueles que estão dando os primeiros
passos na fé?
2. Talvez sua igreja seja exceção, mas, geralmente, verifica-se um
número pequeno de discipuladores nas igrejas. Se cada discípulo é,
por natureza, um discipulador, porque esse potencial não é colocado
em prática?
05
A Vida do Discípulo
Mateus 16.24 a 28

LEITURA DIÁRIA
SEG - Gênesis 12.1-9
TER - Êxodo 3
QUA - Mateus 16.13-20
QUI - João 15.8-27
SEX - João 17
SAB - I Pedro 1
DOM - I Pedro 2.11-25

Ninguém pode seguir a Cristo sem negar a si mesmo e tomar sobre


si o preço do discipulado. Após a sua ressurreição, Jesus orientou os
apóstolos quanto a uma tarefa especial e fundamental para a igreja: “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt 28.19).
Os anos se passaram na história da igreja e o que se percebe é certo
descaso para com esse tema. É fato que as igrejas hoje estão muito mais
preocupadas em ter membros, do que propriamente formar discípulos.
Muitas delas estão gerando membros de uma religião, e não discípulos do
Senhor Jesus. Talvez a explicação para isso se deva ao fato de que só pode
discipular, quem um dia foi discipulado. O fato de o discipulado não ser
estabelecido como prioridade cria um círculo vicioso.
Boa parte da liderança das igrejas, hoje, não sabe o que é
discipulado cristão. Por isso, o que se verifica dentro do cristianismo
contemporâneo se mostra tão diferente do que a igreja tinha no início da era
cristã. Há muitos religiosos cristãos, mas nem tantos discípulos de vida e
vocação.

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. A formação do discípulo é uma iniciativa do Senhor


Embora este ponto já tenha sido bastante enfatizado no estudo
anterior, não é demais reforçar a compreensão de que não há discipulado
sem um chamado. A ação inicial para um relacionamento com Deus tem
início nele próprio e se manifesta por meio do chamado para segui-lo,
conhecê-lo e amá-lo. No mundo antropocêntrico em que vivemos, a
compreensão comum é que todas as coisas emanam do homem; tudo é
prerrogativa humana, e não uma resposta ao chamado de Deus. Porém, a
teologia reformada, fortemente embasada na Bíblia, nos ensina que a
iniciativa é sempre de Deus.
Conforme Gênesis 12.1 a 9, Deus apareceu a Abrão e o chamou:
“Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de
teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção!” Deus o
vocacionou para ser bênção e, por isso, manifestou a ele o seu chamado. O
mesmo aconteceu com Moisés: Deus o chamou para retornar ao Egito e
libertar Israel (Êx 3). Foi assim também que ocorreu com alguns daqueles
que se tornariam discípulos. Estando à beira mar, foram abordados por
Jesus: “Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.” (Mc 1.17).
Levi recebeu o mesmo chamado de Jesus: “Quando ia passando, viu a Levi,
filho de Alfeu, sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e
o seguiu.” (Mc 2.14).
É o Senhor que chama pecadores para segui-lo e se tornarem seus
discípulos (Mt 4.19). É a graça de Deus que toca o coração do homem,
habilitando-o a seguir a Cristo. Não fosse essa iniciativa divina, jamais
teríamos esse desejo, pois a inclinação do homem é afastar-se de Deus. Isso
ficou claro na atitude de Adão e Eva, após o pecado. Em vez de procurarem
Deus, tentaram se esconder dele.
O apóstolo João declara: “Nisto consiste o amor: não em que nós
tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho
como propiciação pelos nossos pecados.” (I Jo 4.10). Aqui reside a base do
discipulado: a plena consciência de que há um chamado de Deus para nos
abençoar e para nos transformar em canais de bênçãos. Sobre essa iniciativa
divina, a palavra de Jesus é clara: “Não fostes vós que me escolhestes a
mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que
vades e deis fruto...” (Jo 15.16).

2. A vida do discípulo se desenvolve em santidade


A palavra “santo”, na Bíblia, significa separado. Deus chamou
Abrão para ser santo – ou seja: separado (Gn 17.1). A separação consistia
em uma não identificação com o mundo de tradição politeísta dos seus dias.
John Sttot, em seu livro Contracultura Cristã, afirma que “o valor do
cristão está em sua diferença como sal e não em sua identificação com o
mundo. Quando há uma identificação, o sal perde seu sabor.”
Conforme Lucas 5.1 a 8, Jesus ministrava os valores do reino a uma
multidão à beira mar, sobre o barco de Pedro, que lavava as redes após uma
noite improdutiva. Jesus ordenou-lhe que lançasse as redes ao mar. Baseado
em sua experiência, Pedro disse que o faria sob a palavra de Jesus, pois já
haviam trabalhado a noite toda sem pegar nada. Tendo lançado as redes, ao
recolhê-las, quase se romperam de tantos peixes. Pedro lançou-se aos pés de
Jesus e reconheceu sua indignidade – “Vendo isto, Simão Pedro prostrou-se
aos pés de Jesus, dizendo: Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador.”
(Lc 5.8). Mais do que isso, reconheceu a grandeza e a santidade de Deus em
Cristo.
Sem essa percepção da indignidade humana e da santidade de Deus,
à qual somos chamados, não existe discipulado.
Em sua primeira carta escrita aos Coríntios, Paulo apresenta uma
ambiguidade que faz parte da caminhada de todo discípulo: é a
ambiguidade de ser santo e, ao mesmo tempo, chamado à santidade.
Segundo o apóstolo, a igreja de Corinto tanto era santa, como ainda não era.
Foi santificada e, ao mesmo tempo, chamada à santidade (I Co 1.1-3). Isto
ocorre com todos os que invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo: são
“santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos”.
Se, por um lado, aqueles cristãos eram a “igreja de Deus” em
Corinto, por outro lado, estavam longe da santidade que convém àqueles a
quem Deus chama a si. Naquela igreja havia disputas, orgulho,
permissividade, imoralidade, litígios e outros males. Por isso foram
exortados a corresponderem à santidade daquele os chamara.
Falando sobre a santidade da igreja, o apóstolo Pedro declara: “Vós,
porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade
exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daqueles que vos
chamou das trevas para sua maravilhosa luz...” (I Pe 2.9).
Como discípulos de Jesus, não podemos nos conformar com a nossa
inclinação para o pecado; devemos, sim, buscar a santidade pessoal.
Falando sobre a santidade do discípulo, Jesus afirma: “Todo ramo que,
estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para
que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que vos
tenho falado.” (Jo 15.2,3).
3. A vida do discípulo requer obediência
A consciência de que Deus vocaciona, tanto para a salvação quanto
para o serviço, desemboca em obediência. É como declarou Paulo: “o amor
de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo,
todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam
mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”
(II Co 5.14,15).
Não podemos ignorar o fato de que a prerrogativa inicial de todo o
processo de discipulado é de Deus. Todavia, esquecer que há um preço para
seguir no caminho do discipulado é incorrer em sério erro. Jesus afirma:
”Quem quiser vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e segue-
me.” (Mt 16.24). Negar a si mesmo e tomar a cruz são expressões que
apontam para o fato de que o discipulado tem um preço: a obediência.
Jesus nos previne dizendo: “estreita é a porta, e apertado, o caminho
que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela.” (Mt 7.14).
Atualmente, parece estar na moda declarar-se evangélico. Pessoas
famosas fazem isso e causam euforia entre muitos evangélicos. Porém, fica
evidente que nem todos os que assim procedem são, de fato, discípulos de
Jesus. Eles demonstram não ter qualquer ideia do preço do discipulado, pois
não produzem frutos dignos do arrependimento.
A Bíblia diz que obedecer é melhor que o sacrificar (I Sm 15.22). A
obediência é a marca do verdadeiro discípulo. Disse Jesus: “Aquele que tem
os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama.” (Jo 14.21,24). A
obediência no discipulado decorre de um coração humilde e desejoso de
aprender com o seu Senhor. Pedro era grande pescador, mas, sob as palavras
do Mestre, obedeceu e jogou as redes, mesmo sabendo que não havia
possibilidade de apanhar algum peixe. Em virtude da obediência, vivenciou
uma experiência maravilhosa!
O êxito do discipulado repousa na obediência à palavra do Senhor!

DISCUSSÃO

1. Você tem obedecido a palavra de Jesus e lançado as redes?


2. Na prática de sua comunidade percebe-se claramente a relação entre
discipulado e santidade?
06
Graça e Discipulado
Efésios 2.1 a 10

LEITURA DIÁRIA
SEG - Romanos 5.1-11
TER - Romanos 5.12-21
QUA - Romanos 6. 1-14
QUI - Romanos 6.15-23
SEX - Gálatas 1.6-17
SAB - Gálatas 5.1-15
DOM - Efésios 4.7-24

A fé cristã fundamenta-se na doutrina da graça: “Porque pela graça


sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.” (Ef 2.8).
Embora a salvação seja oferecida graciosamente pelo Senhor, não
são poucos os que comercializam a fé e os que se dispõem a comprar. Eles
tentam fazer a mediação entre o homem e Deus, negociando as bênçãos
divinas e, muitas vezes, impondo pesados fardos sobre aqueles que
manifestam o desejo de seguir a Cristo. Por outro lado, há aqueles que
barateiam de tal forma a graça de Deus, ao ponto de passar a ideia de que o
pecador faz um favor a Deus quando recebe a Cristo como Salvador e
Senhor, não havendo, portanto, nenhuma exigência.
Se, por um lado, a graça de Deus não pode ser comprada, por outro
lado também não pode ser barateada como se não exigisse nada. A fé é uma
experiência que nasce no coração do pecador, como fruto da maravilhosa
graça de Deus, impulsionando-o a confessar a Cristo como Salvador e a
segui-lo com dedicação e amor. Essa é a experiência do discipulado.
O discipulado movido pela graça habilita o cristão a amar a Deus de
todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento, de toda
a sua força (Mc 12.30).

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. Seguir a Cristo é uma expressão de valorização da graça


A pessoa e a mensagem de Cristo fazem parte da rotina de muitas
pessoas. Entre os livros mais vendidos, sempre estiveram alguns títulos
baseados na obra de Jesus. Um exemplo é a obra O Monge e o Executivo,
que alcançou grande vendagem, provocando impacto principalmente entre
os que atuam nos agitados ambientes corporativos. Essa obra baseia-se no
modelo de serviço proposto por Cristo. Passada a onda, o que se percebe é
que as pessoas se interessam por alguns aspectos da vida de Cristo ou da
mensagem do evangelho, mas terminam por banalizar a caminhada cristã. A
simples admiração pela pessoa e exemplo de Cristo não chega a ser
propriamente a experiência da graça e, muito menos, do discipulado.
Os Evangelhos fazem menção a muitas pessoas que admiravam
Jesus, chegando a demonstrar interesse pela sua mensagem, mas que
preferiram não se envolver com ele. O moço rico, por exemplo, aproximou-
se de Jesus, mas não se mostrou disposto a pagar o preço do discipulado
(Mt 19.16-22). Diante da pregação de Paulo, o rei Agripa admitiu que quase
se tornou cristão (At 26.28). Félix, por diversas vezes, encantou-se com a
pregação de Paulo (At 24.22-27); porém, estava preso a outros valores, para
ele, superiores à graça de Deus.
Hoje há muita gente que frequenta a igreja, lê a Bíblia, conhece os
mandamentos, discute teologia, mas não assume compromisso com Cristo.
Tornam-se meros consumidores de religião, talvez até como forma de
compensar falhas e fraquezas. Assim, acabam desprezando a graça de Deus.
Mesmo os cristãos que almejam viver na dimensão da graça, correm o risco
de barateá-la. Quando isso acontece? Quando cremos que Deus é amor e
age somente com misericórdia e tolerância. Essa compreensão leva alguns a
viver de forma relaxada, barateando a graça.
Deve ficar claro, portanto, que entregar-se a Cristo sem reservas e
segui-lo incondicionalmente é a maneira de viver daqueles que,
verdadeiramente, foram alcançados pela graça de Deus.

2. A valorização da graça produz um discipulado responsável


Quando o indivíduo abusa da misericórdia do Senhor, vivendo a fé
de forma descompromissada, sem dedicação, sem entusiasmo, ele está
desprezando a graça de Deus.
O barateamento da graça divina é algo perigoso, devendo, portanto,
ser evitado. De acordo com Bonhöeffer, “a graça barata é a pregação do
perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma
congregação, é a Ceia do Senhor sem a confissão de pecados, é a absolvição
sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça
sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo, encarnado.”
A banalização da graça tem causado muitos danos. Em muitos
lugares, a palavra “evangélico” significa muito pouco; a palavra “pastor”,
então, chega a provocar desconfiança e mal-estar. Isso, por causa da
banalização da fé promovida por aqueles que menosprezam a graça e não se
dispõem a abraçar o discipulado responsavelmente.
Mas, a exortação bíblica é muito séria; e o juízo divino é certo:
“retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com
reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor.” (Hb
12.28,29).
Em sua I Carta, o apóstolo João também faz uma oportuna
exortação: “Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus
mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto,
que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o
amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que
permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou.” (I Jo 2.4-
6).

3. O discipulado é sustentado pela graça de Deus, e não pelos


méritos do discípulo
Lamentavelmente, em nossos dias, há pessoas vendendo
indulgências, como ocorria no tempo da Reforma do séc. XVI. Em muitos
templos, as “bênçãos” divinas ainda são vendidas aos fieis. Enquanto o
Filho do Homem não tinha nem onde reclinar a cabeça, muitos pregadores
evangélicos da atualidade ostentam regalias, luxo e prosperidade material
como sinais da “benção divina”.
Seguir a Cristo, na dimensão da graça, impõe crer que Deus nos ama
e entregou o seu Filho para morrer na cruz para pagar a nossa dívida. Do
alto da cruz, antes de morrer, Jesus bradou: Tetelestai. O significado dessa
palavra grega é: “Está consumado!”, ou seja, tudo está pago! (Jo 19.30).
Sendo assim, não há mais necessidade de sacrifícios e ofertas pelo pecado.
Aqueles que estavam mortos em seus delitos e pecados foram
alcançados e salvos pela maravilhosa graça de Deus: “Porque pela graça
sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de
obras, para que ninguém se glorie.” (Ef 2.8,9). São consequências da graça
de Deus manifestada em Cristo: o perdão, a salvação, a regeneração, a
filiação, enfim... o discipulado.
Esta é a grande notícia: “a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de
serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais
não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do
homem, mas de Deus.” (Jo 1.12,13).
Que fique bem claro: o discipulado é sustentado pela graça de Deus,
e não pelos méritos do discípulo!
É bem verdade, o discípulo deve tomar a sua cruz; entretanto, só
será capaz de encarnar a mensagem da cruz através da graça, e não como
um ato de penitência. Por seus próprios esforços, o discípulo não é capaz de
suportar o peso da cruz. Mas, quando recebe o sustento da graça de Cristo,
percebe que o jugo se torna suave e o fardo se torna leve (Mt 11.28-30).
Somente pela graça, o discípulo caminha no cumprimento de sua
missão, reconhecendo o sustento que vem do Senhor: “Bendito seja Deus,
que não me rejeita a oração, nem aparta de mim a sua graça.” (Sl 66.20). O
apóstolo Paulo experimentou isso, ouvindo da parte do Senhor: “A minha
graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (II Co 12.9).
Nesse texto, o apóstolo confessa que Deus lhe impôs um espinho na carne
para que ele não se ensoberbecesse. O discípulo aprende a viver na
dependência da graça de Deus, em toda e qualquer situação: “De boa
vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse
o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas
necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque,
quando sou fraco, então, é que sou forte.” (II Co 12.9,10).
O discipulado cristão não é fruto do esforço pessoal e dos méritos
humanos; é fruto da graça. É como dizia Bonhöeffer: “Felizes aqueles que,
no conhecimento desta graça, podem viver no mundo sem para ele se
perderem, e para os quais, no discipulado de Cristo, a pátria celestial é uma
certeza tal que estão verdadeiramente livres para a vida neste mundo...
Felizes aqueles para os quais o discipulado de Cristo nada mais é senão a
vida baseada na graça, e, para os quais a graça nada mais é do que o
discipulado!”

DISCUSSÃO
1. Quais são as evidências, em sua igreja, de que a graça de Deus é
valorizada?
2. Que práticas, comuns hoje em dia, promovem o barateamento da
graça de Deus?
07
Discipulado e Cruz
Marcos 8.27 a 9.1

LEITURA DIÁRIA
SEG - Mateus 10.34-42
TER - Mateus 27.33-56
QUA - Gálatas 6
QUI - I Coríntios 1
SEX - Filipenses 3.17-4.1
SAB - Colossenses 1.13-29
DOM - II Timóteo 1.15 – 2.13

Sabemos que, no Brasil, há um intenso fervor religioso entre o povo.


É muita gente sedenta de Deus, buscando alguma experiência religiosa;
alguns sob uma correta motivação e, outros, com motivações equivocadas.
Muitos buscam na religião, não um caminho para o crescimento espiritual e
o serviço a Deus, mas um meio para resolver seus problemas e alcançar
prosperidade material.
Quando Jesus deu início ao seu ministério, sua fama se espalhou e
muitas pessoas se aproximavam dele; muitas delas, porém, interessadas
apenas em benefícios pessoais e materiais.
Como fazia parte do ministério de Jesus desafiar as pessoas, houve
momentos em que ele confrontou os seus seguidores, expondo suas reais
motivações. Jesus jamais alterou sua mensagem visando atrair mais
adeptos. Se, em alguns momentos, a caminhada com Jesus se mostrava tão
confortável e compensadora, em virtude das curas operadas, das libertações
realizadas e da provisão de alimentos para todo o povo, noutros momentos,
a caminhada com o Mestre não parecia tão animadora, pois ele falava de
renúncia, sofrimento desapego das coisas materiais, amor aos inimigos, etc.
Jesus não negociava com os pretensos seguidores, a fim de facilitar a
decisão deles. Pelo contrário, deixou claro que o discipulado inclui a cruz.
No presente estudo, será focalizada exatamente esta proposta de
Jesus: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz
e siga-me.” (v.34). O ministério é glorioso, mas impõe um alto preço.
Ao apresentar as condições para que alguém possa segui-lo, Jesus
aponta o preço do discipulado, que inclui: negar-se a si mesmo, tomar a
cruz e seguir.
O que devemos compreender acerca desse desafio?

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. O discipulado proporciona a compreensão da mensagem da cruz


Desde o Éden, por meio do chamado “protoevangelho” (Gn 3.15),
foi assegurada a vinda daquele que esmagaria a cabeça da serpente. Essa
profecia e tantas outras no Antigo Testamento apontavam para a morte
expiatória de Cristo. Isaías 53, por exemplo, narra com detalhes o
sofrimento e morte do enviado do Senhor. Conforme revelado na Escritura,
antes da fundação do mundo já estava determinado que Cristo haveria de
entregar a sua vida em sacrifício para abrir uma nova página na história da
humanidade (At 2.22,23; I Pe 1.19,20).
Como parte do plano eterno da redenção, Jesus morreu numa cruz,
sacrificando o seu precioso sangue! E, como ensinam as Escrituras,
especialmente Levítico e Hebreus, “sem derramamento de sangue não há
remissão.” (Hb 9.22). Na plenitude do tempo, Cristo se encarnou, viveu
entre os homens, sofreu toda sorte de afrontas e foi pregado na cruz. Por
meio da morte na cruz foi selada a redenção. Como escreveu Paulo aos
colossenses, “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que
constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente,
encravando-o na cruz; e, despojando os principados e as potestades,
publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.” (Cl 2.14,15).
A mensagem da cruz é amor, perdão, salvação, vida eterna! “Porque
Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (Jo 3.16).
O teólogo Jürgen Moltmann afirma que, na cruz, se encontra a
identidade cristã; e foi por não colocar a cruz no centro do cristianismo que
a igreja tentou encontrar sua identidade nos ritos, nos dogmas e nas
tradições.
Este era o tema central da mensagem de Paulo: “pregamos a Cristo
crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios.” (I Co 1.23).
2. O discipulado impõe a responsabilidade de carregar a cada dia a
cruz
O discipulado não se limita a confessar a Cristo como Senhor e
Salvador; impõe renúncia, obediência e abnegação; enfim, impõe a
responsabilidade de carregar a cada dia a cruz. Mas, o que isso significa?
Para o teólogo Dietrich Bonhöeffer, podem-se considerar estes dois
primeiros significados: a) Tomar a cruz significa dispor-se a romper
ligações com o mundo; b) Tomar a cruz significa oferecer-se em favor dos
outros.
A partir dessas compreensões, percebe-se que, quando foi à cruz,
Cristo se dispôs a pagar o preço, sabendo que passaria pela morte. Nesse
aspecto, o cristão sempre anda no “vale da sombra da morte”. Expõe-se à
morte e compartilha os sofrimentos de Cristo, desvinculando-se e, ao
mesmo tempo, transcendendo o mundo onde vive. O seu compromisso é
com o Pai, com a missão, com a vida. É como diz a Palavra: “Por amor de
ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas
para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que
vencedores, por meio daquele que nos amou.” (Rm 8.36,37).
Também convém observar que Cristo tomou a cruz em nosso lugar.
Ele carregou a nossa cruz e pagou o preço pelos nossos pecados. Nesse
sentido, tomar a cruz implica identificar-se com os pecadores, amá-los,
assisti-los, solidarizar-se com as suas necessidades (Mt 25.31-46). Tomar a
cruz pode significar, à semelhança de Cristo, levar as cargas uns dos outros,
como recomenda a Palavra de Deus: “Levai as cargas uns dos outros e,
assim, cumprireis a lei de Cristo.” (Gl 6.2).
No contexto do discipulado, a cruz é, portanto, sofrimento por amor
a Cristo, ao próximo e ao mundo. Quantas vezes sofremos por saber ou ver
desgraças que atingem nossos irmãos pelo mundo afora! É gente que, à
semelhança de Cristo, sofre e morre devido à maldade humana. As páginas
da História estão manchadas pelo sangue de inúmeros mártires. É gente que
morreu carregando a cruz; gente por quem deveríamos também carregar a
cruz, sofrendo junto: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por
Cristo e não somente de crerdes nele, pois tendes o mesmo combate que
vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o meu.” (Fp 1.29,30).

3. O discipulado prepara o discípulo para as consequências da


cruz
Viver em Cristo implica assumir as consequências da cruz. A cruz é
motivo de escândalo, mas, é, sobretudo, motivo de glória. Disse o apóstolo:
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus
Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo.”
(Gl 6:14).
Nos dias do apóstolo Paulo, viver em Cristo, muitas vezes,
significava assinar o próprio atestado de óbito. Muitos cristãos foram
crucificados, serrados ao meio, decapitados, queimados, apedrejados,
devorados por feras, pelo fato de confessar a fé no Cristo ressurreto. A
Carta aos Hebreus faz referências a heróis da fé que sofreram torturas
horrendas por causa de sua fé: “homens dos quais o mundo não era digno.”
(Hb 11.38).
Passam-se séculos e milênios, o mundo passa por transformações,
mas o preço do discipulado é o mesmo: somos desafiados a carregar a cruz,
estando preparados para as consequências dessa opção. Paulo preveniu a
Timóteo quanto a isso: “Tu, porém, tens seguido, de perto, o meu ensino,
procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor, perseverança, as minhas
perseguições e os meus sofrimentos, quais me aconteceram em Antioquia,
Icônio e Listra, – que variadas perseguições tenho suportado! De todas,
entretanto, me livrou o Senhor. Ora, todos quantos querem viver
piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (II Tm 3.10-12).
Encorajando os cristãos diante das perseguições iminentes, Pedro
escreveu: “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua
eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de
aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar.” (I Pe 5.10).
A cruz é símbolo da vitória de Cristo e do seu povo. Como afirma
Paulo, “em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio
daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem
a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem
do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer
outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo
Jesus, nosso Senhor.” (Rm 8.26-28).

DISCUSSÃO

1. Por que muitas igrejas não ensinam que o discipulado cristão inclui a
cruz?
2. Você poderia apresentar alguns exemplos práticos sobre o
significado de “a si mesmo se negar e, dia a dia, tomar a cruz”?
08
Requisitos do Discipulado
Lucas 9.57 a 62

LEITURA DIÁRIA
SEG - I Reis 19.19-21
TER - Isaías 6
QUA - Mateus 4.18-22
QUI - Mateus 10.1-23
SEX - Mateus 10.24-33
SAB - Mateus 10.34-42
DOM - Lucas 14.25-33

No dia a dia, nos mais diversos desafios da vida, sempre deparamos


com a necessidade de preenchimento de requisitos. Por exemplo, se alguém
pleiteia uma vaga em alguma empresa, terá que preencher os requisitos
exigidos pela mesma. Quando é o caso de uma matrícula em algum
estabelecimento de ensino, é a mesma coisa: o aluno terá de cumprir os
requisitos. O não preenchimento de um só dos requisitos pode se tornar
fator de eliminação do candidato. No mundo dos negócios e nas relações
jurídicas essa é a regra básica.
No discipulado cristão, algo semelhante acontece. O Senhor Jesus
Cristo estabeleceu alguns requisitos para aqueles que querem segui-lo. São
requisitos que, se não forem preenchidos a contento, comprometem o
discipulado.
No texto tomado como base para esta reflexão, isso está bem claro.
Enquanto caminhava para Jerusalém, Jesus apresentou os requisitos do
discipulado. Logo no início da caminhada, ele deixou claro quais são esses
requisitos. Assim, colocou à prova aqueles que se propuseram a segui-lo.
O propósito de presente estudo é mostrar que, no discipulado, a
agenda e os interesses de Deus devem subordinar nossas agendas e
interesses pessoais.
Vejamos, a seguir, quais são alguns dos requisitos exigidos para o
discipulado cristão.
TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. Consciência das dificuldades


Jesus nunca falou do discipulado como se fosse algo fácil e
compensador do ponto de vista humano. Sempre deixou claro que o
discipulado é uma experiência desafiadora, envolvendo perdas, renúncia,
desconforto, resignação e perseverança. Alguns se mostraram afoitos para
seguir Jesus, mas foram desencorajados. Aquele que disse: “Seguir-te-ei
para onde quer que fores”, não recebeu elogio ou aplauso de Jesus. Pelo
contrário, ouviu a seguinte palavra do Mestre: “As raposas têm seus covis e
as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a
cabeça.” (vv.57,58).
Quem se apresenta para ser discípulo de Cristo deve refletir se está
mesmo disposto a segui-lo. Uma profissão de fé movida apenas por
empolgação não se sustenta. É honesto de nossa parte dizer àqueles que se
mostram inclinados a caminhar com Cristo, que a caminhada cristã é bem
diferente do que costuma ser prometido por alguns líderes. Eles prometem
somente alegria, vitória e prosperidade. Mas, olhando a vida de Cristo, de
seus apóstolos, de Estêvão (primeiro mártir do Cristianismo), dos cristãos
em diversos lugares e momentos da história da igreja, vemos que a vida
cristã é, muitas vezes, sofrimento e morte. Isso, porque o cristão não segue
o curso deste mundo.
Jesus não amenizou essa questão; pelo contrário, afirmou: “Se vós
fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois
do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.”
(Jo 15.19).
Ainda nessa mesma caminhada rumo a Jerusalém, Jesus falou da
abnegação exigida pelo discipulado: “Grandes multidões o acompanhavam,
e ele, voltando-se, lhes disse: Se alguém vem a mim e não aborrece a seu
pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs e ainda a sua própria vida,
não pode ser meu discípulo. E qualquer que não tomar a sua cruz e vier
após mim não pode ser meu discípulo. (...) Assim, pois, todo aquele que
dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo.” (Lc
14.25-27, 33).
A chamada “teologia” da prosperidade esconde a verdade bíblica de
que as dificuldades também fazem parte da experiência do discipulado
cristão.
Ao usar Ananias para introduzir Paulo no caminho do discipulado, o
Senhor lhe disse: “Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido
para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os
filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu
nome.” (At 9.15,16). Posteriormente, escrevendo aos filipenses, o próprio
apóstolo declarou: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por
Cristo, e não somente de crerdes nele...” (Fp 1.29). No discipulado
desenvolvido com Timóteo, Paulo o preveniu, dizendo: “Ora, todos quantos
querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (II Tm
3.12).
Jesus não engana a ninguém acerca das dificuldades associadas ao
discipulado (Mt 10.34-39).
A vida cristã não é um mar de rosas; tem espinhos e, às vezes,
bastante doloridos. Tenhamos consciência das dificuldades do discipulado.

2. Prioridade aos interesses do Reino de Deus


O segundo candidato ao discipulado foi chamado por Jesus, mas
impôs condições: queria primeiro sepultar seu pai. Jesus não permitiu, pois
o reino de Deus exige prioridade e urgência (vv.59,60). Prioridade aos
interesses do reino é um requisito inegociável (Mt 6.33).
Muita gente, hoje, certamente se sente desencorajada a assumir o
compromisso com Cristo, pelo fato de estar muito absorvida pela sua
agenda pessoal. Há pessoas que têm tantos projetos de vida, tantos
compromissos, tantas metas a serem alcançadas que, de fato, não têm tempo
para se envolver com as coisas do reino de Deus. Precisamos tomar cuidado
com a nossa agenda e com os nossos projetos de vida. Jesus adverte: “onde
está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mt 6.21); e mais: “Que
aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar
dano a si mesmo?” (Lc 9.25).
O jovem rico, ao ser confrontado por Jesus quanto às exigências do
discipulado, saiu cabisbaixo e triste. Não passou no teste, pois não
preencheu o requisito que exige prioridade aos interesses do reino de Deus.
Estava muito absorvido pelos interesses materiais e temporais (Mt 19.16-
22).
É imperativo que o discípulo reavalie sua escala de valores. O
compromisso mais importante que o discípulo do Senhor Jesus tem é com o
reino de Deus. Nossas igrejas necessitam, cada vez mais, de pessoas
dispostas a cumprir o requisito da prioridade às coisas de Deus. Há muita
gente hoje com o coração dividido.

3. Consagração total
O texto apresenta, ainda, um terceiro candidato ao discipulado:
“Outro lhe disse: Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me
dos de casa.” (v.61). A este, disse Jesus: “Ninguém que, tendo posto a mão
no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus.” (v.62). O discipulado
deve ser iniciado e concluído com a mesma disposição. Não se pode ficar
preso a questões que foram deixadas para trás. É preciso romper com os
outros interesses.
O discípulo do Senhor Jesus é chamado a compreender que Deus
deve ser amado e servido de todo o coração, de toda a alma, com toda a
força, de todo o entendimento (Lc 10.27). Se não for assim, não servimos
para o discipulado.
Com certeza, esse requisito também tem sido fator de impedimento
para que muitos sigam a Cristo hoje. Jesus foi claro ao dizer: “Ninguém
pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um, e amar ao
outro; ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus
e às riquezas.” (Mt 6.24).
O apóstolo Paulo entendeu muito bem esse requisito do discipulado;
por isso, entregou-se de corpo e alma ao serviço do reino de Deus, como
testemunha em Atos 20.17 a 35. A consagração de sua vida foi tal, que
chegou a escrever: “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”! (Gl
2.20).
Escrevendo aos coríntios, Paulo falou sobre a plena consagração que
determina a caminhada cristã: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes,
inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no
Senhor, o vosso trabalho não é vão.” (I Co 15.58).
O discipulado cristão pode incluir dificuldades, mas a recompensa
prometida por Jesus supera todas as perdas e sofrimentos que possam
atingir o discípulo nesta vida: “Em verdade vos digo que vós, os que me
seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono
da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze
tribos de Israel. E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs,
ou pai, ou mãe [ou mulher], ou filhos, ou campos, por causa do meu nome,
receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna.” (Mt 19.28,29).

DISCUSSÃO

1. No contexto atual, quais são as principais dificuldades enfrentadas


por aqueles que querem seguir fielmente a Cristo?
2. Você acha que o discipulado tem exigências gerais, que dizem
respeito a todos os discípulos de Cristo, bem como exigências
específicas, de acordo com a vocação e o chamado de cada um?
09
Motivações para o Discipulado
Mateus 28.18 a 20; Lucas 10.1 a 20

LEITURA DIÁRIA
SEG - Mateus 5.1-12
TER - Mateus 5.13-16
QUA - Marcos 8.34-38
QUI - Lucas 6.20-23
SEX - II Timóteo 2.1-13
SAB - II Timóteo 3.10-17
DOM - Tito 1
Geralmente, no mundo do futebol, um dos maiores desafios do
técnico é a motivação de seus jogadores. Um técnico capaz de motivar seus
liderados é considerado um ótimo técnico no mundo dos esportes. Uma
equipe motivada adequadamente dificilmente será derrotada; e, mesmo que
sofra alguma derrota, saberá assimilar o golpe e se reerguer. Maior
motivação é igual a maior capacidade de vitória; menor motivação é igual a
menor capacidade de superação. Nenhuma motivação, nenhuma vitória.
Assim é o mundo do futebol e dos esportes em geral.
No discipulado cristão aplica-se uma regra semelhante. Discípulos
motivados são discípulos dispostos a assumir compromissos com o Senhor
do reino; são cheios de entusiasmo; mostram-se prontos e dispostos a
cumprir os requisitos do discipulado. Foi por isso que Jesus sempre
motivou e inspirou seus discípulos na caminhada da vida cristã.
Este estudo tem como objetivo apontar quais são algumas motivações
do discipulado cristão. Mais do que isso, também tem como objetivo
motivar aqueles que são discípulos do Senhor Jesus Cristo e labutam no
reino de Deus.
TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. A motivação para o discipulado fundamenta-se na autoridade


daquele que comissiona
É o Senhor Jesus quem comissiona. É na sua autoridade e poder que
o discípulo responde ao chamado (Lc 10.19).
Quando ordenou aos seus primeiros discípulos que fizessem
discípulos de todas as nações, Jesus deixou bem claro que é sob a sua
autoridade que a missão é levada a cabo: “Jesus, aproximando-se, falou-
lhes, dizendo: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações...” (Mt 28.18,19).
Somente o Senhor Jesus é senhor absoluto sobre todas as coisas.
Somente ele é a única autoridade entre Deus e os homens. Sua autoridade
abrange os céus e também a terra. Céu e terra são duas extremidades,
incluindo todas as realidades existentes nelas. Nada escapa ao domínio do
Senhor Jesus Cristo. O seu nome está acima de todo nome: “Deus o exaltou
sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e
toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”
(Fp 2.5-11).
Cristo é o Senhor absoluto do universo e da História: “Todas as
coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se
fez.” (Jo 1.3). Acerca dessa autoridade, Paulo escreveu: “Este é a imagem
do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas
todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam
tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado
por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre
os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus
que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue
da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas,
quer sobre a terra, quer nos céus.” (Cl 1.15-20).
A motivação para o discipulado repousa exatamente nessa autoridade.
Por ser ele o Senhor, somos capacitados, em seu nome, a desafiar todos os
homens, em todas as nações, a viverem de acordo com os seus
ensinamentos.
O discípulo reconhece o senhorio de Cristo sobre sua vida; vive
debaixo da autoridade do Senhor Jesus e é habilitado por ela a fazer novos
discípulos (II Tm 2.1,2).

2. A motivação para o discipulado é fortalecida quando se vê a


transformação de vidas
Lawrence O. Richards diz que “o discipulado envolve a
reformulação da vida do cristão em direção à obediência, a fim de que
possa tornar-se como Jesus.” Nosso Mestre é Jesus Cristo; e o propósito do
discipulado cristão é preparar pessoas a fim de que possam ser como seu
Mestre (Lc 6.40). Este é o alvo do discipulado: transformar vidas, a fim de
que possam ser como Jesus Cristo. A motivação para essa tarefa é
fortalecida quando se vê a transformação que o Senhor Jesus opera nas
pessoas. A obra de Cristo é anunciada como uma obra de libertação do
homem de todos os jugos (Lc 4.18,19).
Segundo o teólogo Dietrich Bonhöeffer, “no discipulado, o ser
humano sai do duro jugo das suas próprias leis e passa para o jugo brando
de Jesus Cristo.” O encontro com Cristo promove uma transformação radica
na vida do homem. Quando chamou seus primeiros discípulos, Jesus
apontou para a transformação que iria realizar em suas vidas: “Não temas;
doravante serás pescador de homens.” (Lc 5.10).
Quando a igreja desenvolve a missão, entregando-se ao discipulado,
vê a transformação operada na vida das pessoas; e, quando isso acontece,
com certeza a motivação é revigorada.

3. A motivação para o discipulado é nutrida pelo conteúdo da


mensagem ensinada
Qual é o conteúdo do discipulado cristão? É Jesus e a sua palavra
(Lc 10.21-24); ou, como relata Mateus, todas as coisas ordenadas pelo
Senhor (Mt 28.20).
Em João 15, Jesus fala sobre o poder revitalizador da sua presença e
da sua palavra na vida do discípulo: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai
é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e
todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós já estais
limpos pela palavra que vos tenho falado; permanecei em mim, e eu
permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo,
se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não
permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece
em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis
fazer.” (Jo 15.1-5).
A tarefa de ensinar, no discipulado cristão, é algo permanente.
Sempre seremos discípulos, sempre estaremos a aprender, sempre
poderemos crescer. No discipulado cristão, o que se ensina é a mensagem
transformadora do evangelho, que determina a maneira de pensar, sentir,
falar e agir. O discipulado não é a transmissão e absorção de conceitos,
simplesmente: é vida, é evangelho encarnado.
No discipulado, todos são desafiados a participar da nova
comunidade, através do batismo e a prática dos ensinamentos de Jesus. É
precisamente isso que é ensinado no chamado “Sermão da Montanha”,
registrado nos capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus.

4. A motivação para o discipulado é garantida pela companhia de


Cristo e do Espírito
A certeza da companhia do Senhor é um forte fator de motivação
para o cumprimento da missão. Jesus prometeu: “E eis que estou convosco
todos os dias até à consumação do século.” (Mt 28.20). Em meio às lutas do
ministério, Paulo experimentou o alento da companhia prometida pelo
Senhor Jesus: “Teve Paulo durante a noite uma visão em que o Senhor lhe
disse: Não temas; pelo contrário, fala e não te cales; porquanto eu estou
contigo, e ninguém ousará fazer-te mal, pois tenho muito povo nesta
cidade.” (At 18.9,10).
Antes de subir ao céu, Jesus prometeu aos discípulos o envio do
Espírito Santo para assisti-los na missão (At 1.8). Ele assegurou que o
Espírito seria enviado e estaria para sempre conosco: “E eu rogarei ao Pai, e
ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o
Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o
conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.” (Jo
14.16,17).
A igreja tem a responsabilidade de cumprir diligentemente a sua
missão que é fazer discípulos. Ela é revestida de autoridade pelo próprio
Senhor para cumprir essa missão; por isso, os resultados se fazem notórios
por meio da transformação de vidas. O engajamento no discipulado produz
crescimento e maturidade espiritual para o crente. O Senhor Jesus Cristo e o
Espírito Santo proveem assistência espiritual para o desenvolvimento da
missão.
Estar envolvido em tudo isso, pela graça de Deus, é um privilégio
que não pode ser negligenciado. Por isso, devemos renovar dia a dia o
nosso compromisso, sob as fortes motivações aqui explanadas, a fim de
combatermos o bom combate, completarmos a carreira e guardarmos a fé
até o fim.
DISCUSSÃO

1. Qual é o seu nível de motivação, atualmente, no desenvolvimento da


missão?
2. A sua igreja, de forma geral, tem se mostrado motivada em relação
ao discipulado cristão?
10
Comunidade Discipuladora
Atos 18.24 a 28

LEITURA DIÁRIA
SEG - Mateus 5.1-12
TER - João 15.1-8
QUA - Atos 9.26-31
QUI - Atos 14.19-28
SEX - Filipenses 2.12-18
SAB - Colossenses 1.24-29
DOM - II Timóteo 2.1-13
Não é difícil constatar que há hoje na igreja evangélica problema
quanto ao cumprimento da missão ordenada pelo Senhor Jesus. Há uma
busca frenética pelo crescimento numérico, muitas vezes, abrindo-se mão
de princípios inegociáveis da Palavra de Deus. Esse vale tudo pelo
crescimento tem um impacto sobre a comunidade e pode estar conduzindo a
um “estresse espiritual”, à diluição da fé e ao enfraquecimento qualitativo
dos crentes.
A igreja evangélica brasileira está sofrendo porque não acata o
discipulado como o estilo de vida do cristão. Nem sempre os crentes são
devidamente discipulados; consequentemente, não são desafiados a fazer
discípulos. Em muitos casos, eles são simplesmente condicionados a
alimentar o sistema eclesiástico em que estão inseridos, sendo convencidos
de que a sua dedicação à igreja lhes garantirá vantagens pessoais, felicidade
e a aprovação do Senhor. Nem sempre são desafiados e preparados para
encarar o discipulado cristão com todas as implicações até aqui explanadas
nesta série de estudos bíblicos.
Waylon B. Moore, em seu livro Integração segundo o Novo
Testamento, afirma que “fazer discípulo de uma pessoa é levá-la à
experiência de ter Jesus como Senhor e Centro de sua vida. Ser discípulo
implica num ato de entrega e num processo de obediência. Um homem é
discípulo de Cristo, quando permanece em sua palavra, glorifica ao Pai e dá
frutos. (Jo 8.31; 15.8).”
A igreja do primeiro século era uma comunidade discipuladora. Lá,
esse princípio era uma prioridade. O ensino estava presente e o crescimento
se consolidava a cada dia.
O trabalho realizado por Paulo e seus companheiros, em suas
viagens missionárias, consistia em proclamar toda a verdade de Deus e
educar os crentes no caminho do discipulado (At 20.27). O exemplo
apresentado no texto básico deste estudo, envolvendo os missionários
Áquila e Priscila, confirma isso. O tratamento dispensado por esse casal a
Apolo é inspirador e exemplifica bem o que significa ser uma comunidade
discipuladora.
O objetivo deste estudo é mostrar quão importante e necessário é o
discipulado como recurso para o fortalecimento e o desenvolvimento
saudável da igreja. É também mostrar que essa responsabilidade tem a ver
com cada membro da igreja.

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. O discipulado deve ser reconhecido como a consistente


modalidade de ensino da igreja
Discipular tem tudo a ver com o relacionamento entre o mestre que
ensina e o aluno que aprende. Isso está também relacionado com a proteção
e a doutrinação.
Jesus, o Cabeça da igreja, teve não apenas um relacionamento com
multidões; ao se afastar das multidões, dedicava-se ao treinamento dos
discípulos, de um modo bem particular. O Sermão do Monte, por exemplo,
é um reflexo disso.
Durante cerca de três anos, Jesus discipulou pessoalmente aqueles
que teriam a incumbência de dar continuidade ao seu ministério. Nesse
tempo de preparação, mostrou a eles que o ensino cristão é apresentando
por palavras, mas, acima de tudo, por atitudes. O que mais impacta a vida
do discipulando é o exemplo de vida do discipulador. O princípio aqui é: a
gente discípula é com a vida. O ensino bíblico é exatamente este: “O
discípulo não está acima de seu mestre; todo aquele, porém, que for bem
instruído será como o seu mestre.” (Lc 6.40). Esse conceito de ensino foi
abraçado também pelo apóstolo Paulo. Aos colossenses, ele escreveu:
“anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda
a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo.”
(Cl 1.28). O discipulado cristão é o processo de forjar homens e mulheres
conforme o modelo de Cristo.
Áquila e Priscila também devem ser tomados como um exemplo
precioso de dedicação ao discipulado na igreja. Embora fosse um casal
muito envolvido com a evangelização, dedicaram tempo a Apolo, a fim de
lapidá-lo e fazer dele um pregador ainda muito mais aperfeiçoado do que
era antes de se conhecerem. “Priscila e Áquila, tomaram-no consigo e, com
mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus.” (v.26). E qual foi o
resultado desse investimento? Apolo, “com grande poder, convencia
publicamente os judeus, provando, por meio das Escrituras, que o Cristo é
Jesus.” (v.28). O discipulado consistente sempre produz resultados
semelhantes a esse.
2. O discipulado deve ser abraçado pela igreja como algo essencial
e prioritário
Já foi dito nesta série de estudos bíblicos que o discipulado não é um
programa; não é mais um método para ser aplicado na vida da igreja, em
meio a tantos outros. Na verdade, o discipulado é um modo de vida. A
igreja deve tomar consciência de que ela é, por natureza, uma comunidade
discipuladora. Jesus é o Mestre por excelência; e cada um de nós é seu
discípulo, convocado a fazer novos discípulos. Somos seguidores de Jesus.
Ele mudou a nossa vida, deu sentido a ela e nos impulsiona a levar a
mensagem a outras pessoas. Há, agora, um vínculo muito estreito entre nós
e o nosso Mestre Jesus. É um relacionamento de aluno e professor, em que
a cada dia o aluno quer se tornar mais e mais parecido com o seu Mestre.
O discipulado é algo essencial à vitalidade da igreja; por isso, deve
ser tratado sempre como prioridade. Larry Richards, em seu livro Teologia
do Ministério Pessoal (Vida Nova), comenta que “o discipulado envolve a
reformulação da vida do cristão em direção à obediência, a fim de que
possa tornar-se como Jesus. (...) A missão da igreja não é simplesmente
conseguir conversões, mas completar o processo da vida cristã fazendo
discípulos.”

3. O discipulado deve ser utilizado como uma eficaz estratégia na


plantação de novas igrejas
O princípio fundamental utilizado no Novo Testamento para a
criação de novas igrejas era o discipulado. David Hesselgrave, em seu livro
Plantar Igrejas - Um guia para missões nacionais e transculturais (Vida
Nova), usa o chamado “Ciclo Paulino” para identificar a plantação de
igrejas como princípio inarredável na Escritura. Uma das partes desse ciclo
é o denominado “Discípulos Confirmados”, focalizando que o discipulado é
parte integrante e essencial para a plantação de novas comunidades. Isso é o
que podemos ver em Atos 14.21 a 23. Nesse texto, o evangelista Lucas
narra que Paulo e Barnabé, tendo feito muitos discípulos, retornaram à
região de Listra para confirmá-los e fortalecê-los. O plantio de igrejas bem
estruturadas está estreitamente ligado ao discipulado consistente.
A visão de Paulo é o cuidado em fazer discípulos, treiná-los e
equipá-los para que possam contribuir com a expansão do reino de Deus.
Este cuidado passa pelo aconselhamento, pela alimentação e pela proteção.
Realmente, o discipulado é o caminho para a plantação de igrejas, pois os
verdadeiros discípulos estarão resplandecendo como luzeiros no mundo.
Isso que dizer que, através do estilo de vida do discípulo, novas pessoas
serão alcançadas para Jesus, haverá crescimento espiritual e numérico, e
novas igrejas serão organizadas (Fp 2.15,16; II Tm 2.2).
É preciso afirmar, ainda, que todos os membros da igreja são
responsabilizados pelo crescimento e plantio de novas igrejas. Isso não é
tarefa só dos pastores, missionários, evangelistas e outros líderes, mas de
cada membro da igreja. Quando todos compreenderem isso e assumirem
sua responsabilidade, a igreja plantará inúmeras outras igrejas rapidamente.
Lembremo-nos de que os primeiros cristãos atingiram boa parte do
mundo pagão com o evangelho, mesmo sem dispor dos recursos de
comunicação e outros mais que temos hoje. O segredo era a visão de que
todos os crentes deviam se tornar bons discípulos para que, por sua vez,
também pudessem fazer outros discípulos. Em pouco mais de dez anos,
Paulo estabeleceu a igreja em quatro províncias do Império: Galácia,
Macedônia, Acaia e Ásia. Dali, o apóstolo partiu para o Ocidente, a fim de
plantar novas igrejas. Essas igrejas sobreviviam, fortaleciam-se e se
expandiam porque eram comunidades discipuladoras.

DISCUSSÃO

1. De que maneira as igrejas podem se tornar mais eficazes no papel de


“comunidades discipuladoras”?
2. Que benefícios a igreja experimenta, a partir do momento em que
assume sua condição de comunidade discipuladora?
11
Evangelização e Discipulado
Atos 11.19 a 26

LEITURA DIÁRIA
SEG - Mateus 5.1-16
TER - Marcos 16.14-18
QUA - Lucas 9.23-27
QUI - Lucas 9.57-62
SEX - Lucas 14.25-35
SAB - Atos 11.19-26
DOM - Atos 14.19-28

Um dos temas preferidos da igreja evangélica brasileira é a


evangelização. Por evangelização, se entende a comunicação do evangelho,
a “boa notícia” da parte de Deus que anuncia o perdão dos pecados e uma
vida nova pela fé em Cristo Jesus. É comum que igrejas ou entidades
evangélicas realizem campanhas evangelísticas, quase sempre tendo como
pregador um evangelista, isto é, alguém com um dom especial da parte de
Deus para evangelizar.
Muito material para evangelização tem sido produzido, como:
filmes, folhetos, dramatizações, músicas, cursos que pretendem ensinar
como evangelizar, e outros mais.
A igreja evangélica tem testemunhado o trabalho de evangelistas
notáveis ao longo dos séculos. Em nossa época, com certeza, o evangelista
mais famoso é o norte-americano Billy Graham, que, por décadas, pregou o
evangelho de Cristo em cruzadas em diversos países mundo afora.
O Brasil decerto é um sucesso em termos de evangelização, levando-
se em conta o percentual considerável de evangélicos na população do país.
Novas igrejas surgem a cada dia em toda a extensão do território nacional.
O que nem sempre se comenta é que, biblicamente falando, não há
evangelização completa sem discipulado. A evangelização não se limita a
simplesmente entregar um folheto a uma pessoa na rua ou convidar alguém
para ir a algum culto no qual será pregada uma mensagem evangelística. À
luz das Escrituras, a evangelização só será completa com um trabalho sério
de discipulado.
De que maneira o discipulado completa a evangelização?
TÓPICOS PARA REFLEXÃO
1. O discipulado corrige noções distorcidas quanto à evangelização
A igreja evangélica brasileira (incluindo crentes tradicionais,
pentecostais e neopentecostais) tem, como já afirmado, uma história bem
sucedida de evangelização. Caso contrário, o Brasil não teria uma das
maiores populações evangélicas do planeta. Todavia, é no mínimo irônico,
ou até mesmo contraditório, que haja uma visão distorcida da
evangelização. Para muita gente, basta entregar um folheto a uma pessoa na
rua ou convidar alguém para ir a algum culto de cunho evangelístico.
Muitos pensam que basta ao não crente participar de um culto
evangelístico, atender a um apelo para “aceitar a Jesus”, e a pessoa estará
automaticamente salva. Nessa perspectiva, é muito comum que se peça a
quem quer “aceitar a Jesus” que levante uma de suas mãos ou venha à
frente para receber uma oração especial.
Há problemas com essa compreensão. A Bíblia aborda essa situação
de várias maneiras. A começar pela fórmula “aceitar a Jesus” – ainda que
popular e bastante repetida, tal fórmula não aparece nem uma vez nas
Escrituras. A Bíblia não apresenta pecadores aceitando Jesus, mas, Jesus
aceitando pecadores arrependidos.
As Escrituras também não ensinam que qualquer pessoa estará
automaticamente salva se alguém repetir uma fórmula de oração após ter
atendido a algum apelo. O que encontramos nas Escrituras é a apresentação
de pessoas sendo instruídas na prática sobre o que significa ser cristão. A
isso se dá o nome de discipulado.
O discipulado ajudará a corrigir compreensões distorcidas quanto à
evangelização. Evangelização não é algo mecânico, que possa ser reduzido
a fórmulas do tipo: “três passos” ou “quatro leis”. Tais métodos
evangelísticos foram idealizados, com certeza, com a melhor das intenções;
no entanto, não se pode reduzir a evangelização a fórmulas, uma vez que
elas são apenas uma forma didática e inicial de conduzir alguém a Cristo.
Uma teologia saudável e bem fundamentada biblicamente deverá
entender a evangelização em uma perspectiva dinâmica. É iniciada pela
comunicação da mensagem das boas-novas, mas se completa com o
discipulado. Afinal, o Senhor Jesus Cristo ordenou: “fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo, ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado.”
(Mt 28.19,20).

2. O discipulado completa a evangelização ao ensinar o que significa ser


cristão
Ser cristão é todo um projeto de vida. É um modo diferente de ver o
mundo, a vida e a morte, a partir evidentemente da perspectiva de Jesus
conforme aprendemos nos evangelhos.
Daí a necessidade urgente de que a igreja seja uma comunidade
evangelizadora, mas de igual forma, uma comunidade discipuladora,
conforme enfatizado no estudo anterior. Vale ressaltar que não há
evangelização autêntica sem discipulado.
A leitura do Novo Testamento nos mostra que os primeiros seguidores
de Jesus eram conhecidos como discípulos, isto é, aprendizes do Mestre.
Mais tarde, na cidade síria de Antioquia, eles foram, pela primeira vez,
chamados de “cristãos” (At 11.26).
Sem dúvida, grande é a responsabilidade dos seguidores de Jesus,
pois são conhecidos pelo nome do seu Senhor. Daí a necessidade urgente de
que surjam não apenas evangelistas, mas também discipuladores; pessoas
que façam como fez Barnabé, que no relato do livro de Atos, foi um líder
extremamente ativo na importante tarefa de ensinar aos novos crentes o que
significa ser um seguidor de Jesus (At 11.22,23).
Muitas igrejas têm o que chamam de “classe de discipulado”,
“classe nova vida”, “classe de catecúmenos”, etc. São, geralmente, de curta
duração e visam tão somente preparar pessoas para o batismo e/ou pública
profissão de fé. Isso é importante; contudo, o programa de ensino de tais
classes não deve partir do pressuposto de que basta aprender teoricamente
algumas doutrinas para ser cristão. Em outras palavras: seguir a Cristo não é
apenas e somente uma questão intelectual e doutrinária; é uma questão que
envolve toda a complexidade da vida. Além disso, seguir um programa que
tem a duração de no máximo alguns meses não é suficiente, pois durante
toda a nossa vida estamos aprendendo a seguir Jesus.

3. O discipulado é a única forma de eliminar expectativas


equivocadas quanto ao que significa seguir a Cristo e ser
igreja
Já foi afirmado neste estudo, sobre o extraordinário crescimento da
igreja evangélica brasileira. No entanto, observa-se com tristeza um grande
número de pessoas que abandonam as igrejas evangélicas. Alguns ficam de
igreja em igreja, enquanto outros acabam se tornando vacinados contra
igreja.
Há alguns anos, o pastor congregacional Idauro de Oliveira Campos
Jr. fez um estudo interessantíssimo sobre o tema: “Desigrejados: teoria,
história e contradições do niilismo eclesiástico.” Nesse estudo, ele apresenta
os seguintes números sobre os desigrejados no Brasil:
4 milhões são os brasileiros que se declaram evangélicos, mas
não têm vinculação eclesiástica; o percentual de evangélicos
nesta situação é de 10%;
62% dos desigrejados são egressos de denominações
neopentecostais, cuja ênfase é a teologia da prosperidade;
63% dos respondentes declararam que voltariam a se vincular a
uma comunidade que não apresentasse os vícios e malversações
que os afastaram da comunhão;
29% dizem que não pretendem manter vínculo com outra igreja
novamente;
5,6 anos é o tempo médio de conversão dos desigrejados.
As principais causas levantadas por ele para essa deserção,
basicamente são estas: a) decepção quanto ao que foi prometido e o que, de
fato, encontraram na igreja; b) resistência ao modelo de igreja
institucionalizada.
A sua igreja tem prestado atenção no problema da deserção de
membros? Tem procurado identificar e tratar os fatores que têm
desestimulado alguns a continuar na igreja? Como enfrentar esse problema
e amenizá-lo? Com certeza, muitas frustrações serão evitadas e o número de
deserções será diminuído se houver da parte das igrejas um esforço sério
em discipular corretamente os novos crentes, ensinando-os o que significa
ser um seguidor de Jesus e ser membro da sua igreja.

DISCUSSÃO
1. Por que, geralmente, evangelização e discipulado estão
desassociados na igreja evangélica brasileira?
2. Como articular um trabalho que integre evangelização e discipulado
e assim criar uma nova realidade?
12
Discipulado e Crescimento da Igreja
Atos 1.1 a 14

LEITURA DA SEMANA
SEG - Marcos 3.13-19
TER - João 17
QUA - Atos 2.37-46
QUI - Atos 8
SEX - II Timóteo 2
SAB - Tito 1
DOM - I Pedro 2

A relação entre o discipulado e o crescimento integral da igreja não


pode, de maneira alguma, ser ignorada; não pode ser tratada com descaso
como se fosse irrelevante.
Sobre essa questão, Luiz Augusto Corrêa Bueno faz a seguinte
observação: “O grande problema das igrejas é o que podemos chamar de
orfandade espiritual. Os recém-convertidos são simplesmente deixados de
lado e os que permanecem na igreja tornam-se órfãos espirituais. A resposta
para isto é a realidade do ministério paulino. O apóstolo Paulo se
considerava pai de todos os discípulos de Cristo (I Co 4.15; Gl 4.19; I Ts
2.11). O discipulado chama a igreja a se responsabilizar pelo seu membro.
Não apenas fazê-lo um bom conhecedor de doutrinas, mas, na convivência
do discipulado, torná-lo alguém extremamente comprometido com a sua
comunidade.”
O presente estudo pretende considerar a relação existente entre o
discipulado e o crescimento da igreja, apresentado as implicações disso,
sobretudo a necessidade de valorização do elemento leigo e o treinamento
de líderes para que a tarefa seja levada a cabo com eficácia.
TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. O discipulado por meio de pequenos grupos é essencial para o


crescimento integral da igreja
Inspirados no modelo do Novo Testamento, percebemos que o
discipulado desenvolvido por meio de grupos pequenos é, de fato, essencial
para o crescimento integral da igreja (At 2.42-46). Esse modelo foi decisivo
para a expansão e o fortalecimento da igreja neotestamentária.
Os grupos pequenos são uma estratégia comprovadamente viável
para o crescimento integral da igreja também nos dias atuais. Templos
superlotados não são tudo o que as pessoas precisam hoje. O homem de
hoje já se cansou de ser apenas mais um no meio da multidão. Todos estão
carentes de afetividade, de convívio, de companheirismo (Sl 133). A ênfase
no crescimento numérico não pode desprezar o fortalecimento da
comunhão; e é através dos grupos pequenos que a igreja se descobre como
corpo e aprofunda a comunhão; é através dos grupos que se compartilha,
que se desenvolve o discipulado, que se cresce mutuamente.
Igrejas que buscam o crescimento integral não podem prescindir do
discipulado realizado através dos grupos pequenos. Uma igreja não pode
subsistir apenas na forma de auditórios superlotados, transformando-se em
plateia consumidora de porções de regalo espiritual.
Mais do que a igreja da concorrida concentração dominical (sonho
de muitos pastores), devemos desejar a igreja silenciosa dos demais dias da
semana, infiltrada em toda a cidade, presente nos lares, nos espaços de
trabalho, enfim, em todos os lugares possíveis.
Os grupos de comunhão e discipulado devem acontecer nas casas,
nas empresas, nas fábricas, nos espaços escolares, nas instituições, enfim,
onde houver uma porta aberta para a pregação e o ensino da Palavra de
Deus.

2. O discipulado deve ser abraçado pelos membros da igreja como


um estilo de vida
Essa afirmação está sendo propositalmente repetida neste série de
estudos, pois desafia a uma mudança radical no modelo de ministério
vigente em grande parte das igrejas. Seria a substituição de um ministério
centrado no clero, pelo ministério centrado no leigo. A atuação dos leigos
deve ser mais e mais promovida; o discipulado bíblico requer exatamente
isso. A base bíblica para esse modelo de ministério é a sublime doutrina
reformada do sacerdócio universal dos crentes (I Pe 2.9).
John Han Hum Oak, pastor de uma grande igreja sul-coreana, a
Sarang Church, fundada com forte ênfase em discipulado, faz uma pergunta
inquietante e dá um testemunho vibrante sobre a lógica do discipulado
como caminho para uma igreja forte: “Que igreja colherá mais: a que
apenas o pastor está trabalhando, ou a que 50 leigos trabalham juntos? Não
há outro meio de criar líderes leigos a não ser por meio do treinamento de
discipulado. (...) Eu me lembro, vendo o título de um artigo em uma revista,
introduzida em Los Angeles... Era uma igreja com 900 pastores ativos.
Quão invejável era que eles pudessem se gloriar de tal modo quando havia
apenas um clérigo ordenado naquela igreja!” (Chamado para Acordar o
Leigo, Cultura Cristã).
O discipulado não é, portanto, uma prerrogativa dos ministros
ordenados, mas um privilégio de toda a igreja; não é mero treinamento, mas
um estilo de vida; não é também uma estratégia inovadora, mas a
redescoberta da infalível estratégia utilizada por Jesus.
O já citado Luiz Augusto Corrêa Bueno faz a seguinte pertinente
afirmação: “Carecemos de pessoas fiéis e idôneas, que possam transmitir a
outras o caráter de Cristo, não apenas pela verbalização, mas também com a
vida. A igreja necessita de um arrependimento verdadeiro e mudança de
vida. Deve tornar a vida mais simples e menos rebuscada, mais cheia de
frutos de vida e menos ativista, mais cristã e menos institucionalizada. Se
acreditarmos no discipulado, seremos os primeiros a mudar; e se isto
acontecer de fato, cumpriremos cabalmente a Grande Comissão, não como
um programa a mais, mas como um estilo de vida, para a glória e honra de
Nosso Senhor Jesus Cristo.”

3. O discipulado requer treinamento de líderes


Como já foi dito, o investimento no elemento leigo é o caminho para
o desenvolvimento de um projeto de discipulado eficaz. A estratégia
utilizada por Jesus deve chamar nossa atenção e nos inspirar a levar a cabo
um plano de discipulado eficaz para o crescimento e fortalecimento da
igreja. Embora o discipulado tenha a ver com todos os crentes, é importante
que indivíduos que possuem maior potencial recebam treinamento
avançado para um discipulado de resultados cada vez mais eficazes.
A esse respeito, o já citado Rev. John H. H. Oak faz a seguinte
observação: “Os doze foram especialmente escolhidos entre muitos outros
discípulos (Lc 6.13). Jesus os escolheu com cuidado. Ele passou uma noite
inteira em oração nesta tarefa (Lc 6.12). Jesus deu aos doze o privilégio de
sempre estar com ele e aprender sobre ele (Mc 3.14). Eles precisavam
conhecê-lo e se tornar seus homens antes de poder fazer coisas para ele.
Eles foram dados a Jesus pelo Pai (Jo 17.6). Todas as palavras de verdade
que eles receberam procediam do Pai (Jo 17.14). Pela Palavra, eles foram
santificados (Jo 17.19). Jesus explicou claramente aos discípulos os
mistérios do reino dos céus que ele contou às multidões por parábolas (Mt
13.10b). Ele se revelou como o Messias aos doze e exigiu sua confissão de
fé, enquanto escondeu a sua identidade do público. Ficou satisfeito com a
sua confissão e prometeu que a sua igreja seria edificada sobre a sua
confissão (Mt 16.16-20). Como o seu fim se aproximava, Jesus se devotou
completamente aos doze. Evitou as multidões a fim de examinar e orar
pelos seus discípulos assim como um grande artista dá o toque final à sua
pintura antes da exibição (Jo 13.17). Embora os discípulos fossem na
maioria pescadores da Galileia, e viessem de várias origens e experiências,
Jesus tinha uma visão penetrante para o potencial infinito que estava oculto
em suas vidas simples. Ele não hesitou em nutrir o sonho radiante do reino
do céu nesses homens comuns.” (op. cit.).
O potencial leigo existente em nossas igrejas precisa ser avaliado
com sensibilidade. O treinamento adequado, oferecido às pessoas certas,
resultará, com certeza, em um estilo de discipulado altamente eficaz. O Rev.
John H. H. Oak, que é um especialista em treinamento de discípulos, faz
ainda a seguinte afirmação: “Quando o número de líderes leigos aumenta e
os membros da igreja estão sendo nutridos continuamente mediante o
treinamento de discipulado, um ímpeto de reavivamento na igreja é
gerado.” (op. cit.).
Conclui-se, portanto, que discipulado e crescimento integral da
igreja são realidades coexistentes. É esse o caminho a seguir.

DISCUSSÃO
1. Quais são algumas das dificuldades encontradas para envolver os
leigos no trabalho de discipulado? O que pode ser feito a fim de
superar essas dificuldades?
2. Alguém pode alegar que não precisa de discipulado para alcançar o
crescimento da igreja, pois a igreja está cheia, mesmo sem
discipulado. Como você analisa esse ponto de vista?
13
Discipulado Relevante
Atos 9.20 a 31

LEITURA DIÁRIA
SEG - Atos 4.32-37
TER - Romanos 15.1-13
QUA - Romanos 16.1-16
QUI - Colossenses 2.1-6
SEX - I Tessalonicenses 2.1-12
SAB - II Timóteo 1
DOM - II Timóteo 2.1-13

Estamos chegando ao final desta série de estudos bíblicos.


Esperamos que ela tenha contribuído para conscientizá-lo (a) sobre a
natureza bíblica do discipulado, sua viabilidade e necessidade nos dias
atuais. Mais do que isso, esperamos que você se sinta desafiado (a) e
motivado (a) a crescer ainda mais como discípulo (a) de Jesus,
demonstrando isso, entre outras coisas, na capacidade e no compromisso de
fazer novos discípulos.
Aqueles que desejam desenvolver o discipulado de forma relevante
devem olhar sempre para a vida e o ministério de Jesus. Devem imitar o
exemplo inspirador de homens e mulheres que, nas páginas das Escrituras e
nas páginas da história igreja, tornaram-se verdadeiros exemplos para a
nossa caminhada de fé como membros do Corpo de Cristo. Se desejamos,
sinceramente, viver a autenticidade do discipulado, devemos observar o que
diz Hebreus 13.7: “Lembrem-se dos seus líderes que lhe falaram a palavra
de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua
fé.”
Muitos servos de Deus poderiam ser aqui citados, mas, um notável
exemplo de discipulado relevante pode ser observado na pessoa e na vida
de Barnabé. Não apenas no texto que está sendo analisado, mas em outros
que fazem referência a ele, é possível destacar algumas atitudes que devem
se fazer presentes na prática de todos os discípulos de Jesus, também nos
dias de hoje.
Partindo do exemplo de Barnabé, quais são algumas dessas atitudes
que contribuem para um discipulado relevante?

TÓPICOS PARA REFLEXÃO

1. O discipulado relevante assume riscos para encorajar e


sustentar os novos convertidos
Em Atos 4.36, lemos que Barnabé recebera este nome dos apóstolos.
O significado do seu nome é muito forte, pois quer dizer “encorajador” ou
“filho do encorajamento”. Não há nenhuma dúvida de que o verdadeiro
discípulo de Cristo é um encorajador de vidas.
Após sua conversão, Saulo foi a Jerusalém e fez uma tentativa de se
juntar ao grupo dos discípulos. Porém, conforme Atos 9.26, as pessoas
estavam com medo dele, pois não acreditavam que ele fosse um discípulo.
Com exceção de Barnabé, ninguém mais quis assumir os riscos em relação
a Saulo. Enquanto todos estavam com medo dele, não acreditando na sua
conversão, esse homem, um verdadeiro encorajador, colocou-se ao seu lado,
acreditando nele e dando-lhe apoio e sustentação. “Mas Barnabé, tomando-
o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele vira o Senhor no
caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente
em nome de Jesus.” (v.27)
A atitude de Barnabé, colocando-se ao lado de Paulo, trouxe um
resultado extraordinário: a igreja de Jerusalém o aceitou e o seu ministério
floresceu naquela cidade.
Assim, a primeira marca de um discipulado relevante, com base
nesse texto, é apresentar-se voluntariamente com disposição para correr
riscos em favor dos novos convertidos. Barnabé acreditou na conversão de
Saulo; não teve medo dele e corajosamente apresentou o novo discípulo ao
grupo dos discípulos mais antigos. A atenção e cuidado dispensados por ele
foram decisivos na integração do novo discípulo.
Muitos novos convertidos não acham o seu lugar na igreja, devido à
falta desse elemento integrador, que envolve o novo irmão e abre caminho
para que ele se sinta integrado à comunidade.

2. O discipulado relevante implica ter um coração alegre e olhar


com bons olhos o potencial da graça de Deus
Em Atos 11.23, lemos que Barnabé se alegrou em ver a graça de
Deus em Antioquia. Ele foi capaz de olhar com bons olhos e com um
coração alegre para o potencial da graça. A igreja de Antioquia era uma
comunidade nova e imperfeita, mas esse encorajador de vidas foi capaz de
perceber como a graça de Deus estava trabalhando na vida de todos aqueles
que ali haviam sido chamados para serem discípulos de Jesus. Ele notou os
ventos da graça soprando sobre aqueles gentios, aperfeiçoando-os como
discípulos.
Aqueles que desejam ver a igreja crescer e se empenham em ser
discípulos que façam a diferença, precisam vencer todo tipo de legalismo,
preconceito e desconfiança em relação aos novos convertidos, abrindo o
coração e olhando com os olhos do amor e da fé o que a graça de Deus faz
na vida das pessoas.
Não há nenhuma dúvida de que Barnabé tenha se alegrado em Deus
com a conversão de Saulo. Ele se alegrou ao ver a graça de Deus
trabalhando na vida daquele homem que viria a ser um dos maiores líderes
cristãos de todos os tempos.

3. O discipulado relevante é marcado por humildade e altruísmo


Quando Barnabé foi enviado a Antioquia pela igreja de Jerusalém,
muitas conversões acontecem naquela cidade. Muitos foram feitos
discípulos de Jesus (At 11.22-24). Com isso, Barnabé não se envaideceu
nem desejou assumir o poder eclesiástico sobre eles. Ele não quis se firmar
como um líder proeminente naquela região da Síria. O que ele fez? Foi a
Tarso em busca de Paulo. Ele entendeu que precisava de alguém ao seu lado
para fortalecer a vida dos novos discípulos. Durante um ano, eles estiveram
ensinando naquela cidade. A partir daí, Paulo foi se destacando e crescendo;
Barnabé foi ficando à sua sombra, numa demonstração de verdadeira
humildade. Daí em diante, percebe-se que Barnabé não se preocupava em
ser reconhecido ou aclamado como um líder competente e famoso. Ele não
buscou os holofotes para si, mas lançou Paulo no ministério.
Paulo tornou-se um gigante da fé. Escreveu 13 epístolas do Novo
Testamento, enquanto Barnabé não escreveu nenhuma. No entanto, o
discipulado de Barnabé foi extremamente relevante e decisivo na história da
igreja. Foi um trabalho marcado pela humildade e pelo altruísmo.
4. O discipulado relevante revela desapego às coisas materiais e
manifesta amor às pessoas
Em Atos 4.36, Lucas registra que Barnabé vendera uma propriedade
e colocara o valor correspondente à disposição dos apóstolos. Barnabé fez
aquilo para socorrer aos necessitados da igreja de Jerusalém. A sua
preocupação era investir em vidas. Ele demonstra que vidas são mais
importantes do que bens materiais. O seu coração não estava subjugado ao
dinheiro e às coisas materiais; ele amava mais as pessoas do que
propriedades.
Ao colocar-se ao lado de Paulo, Barnabé demonstrou um amor
desinteressado. Isso é essencial para promover um discipulado relevante.
Vinte anos depois, escrevendo aos Coríntios (I Co 9.4-6), Paulo fez uma
pergunta que revela o desapego material, tanto por parte dele quanto de
Barnabé. É uma pergunta que nos faz entender que eles não trabalhavam na
obra do Senhor pensando em recompensa material. Essa pergunta mostra
que eles trabalhavam com as próprias mãos para ter o seu sustento. Ele
pergunta: “... somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de
trabalhar?” (v.6).
Com pesar, observa-se hoje, em muitas igrejas, que a motivação em
relação ao discipulado está completamente desvirtuada. Não são poucos
aqueles que exercem o discipulado cristão sonhando com o enriquecimento
da igreja. Muitas vezes, a evangelização é focada em uma elite de alto
poder aquisitivo; e, para que eles permaneçam na igreja, são discipulados
sem a confrontação com algumas verdades que exigirão deles renúncia e
generosidade para com os mais necessitados (I Tm 6.17-19).
A igreja, presente no mundo como a comunidade dos discípulos de
Jesus, para ser relevante não pode ter medo de investir nos novos
convertidos. Não pode deixar de assumir os riscos que envolvem a
aceitação e inclusão de novos membros. Ela precisa se alegrar e olhar com
bons olhos o agir de Deus na vida das pessoas, manifestando a sua graça e
misericórdia. Com toda humildade e paciência, diante das falhas dos outros,
é necessário discipular pessoas, estando livre do materialismo. Porém, isso
só é possível se cada discípulo for como Barnabé: ele “era homem bom,
cheio do Espírito Santo e de fé.” (At 11.24).

DISCUSSÃO
1. Você acha que a sua igreja tem demonstrado sensibilidade para
receber com alegria, indistintamente, todos os que dela se
aproximam, crendo no potencial transformador da graça de Deus?
2. Em sua igreja há muitos elementos que cumprem o papel que
Barnabé cumpriu, no sentido de facilitar a integração dos novos
convertidos? O que pode ser feito para melhor ainda mais esse
trabalho?

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