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G. R. S. Mead
A GNOSIS VIVADO
CRISTIANISMO PRIMITIVO
Núcleo Lux
CENTRO PISTIS SOPHIA
2
Textos editados a partir de publicações de
J. M. Watkins (entre 1902 e 1913), Londres.
SUMÁRIO
Prefácio 05
Introdução 08
O Evangelho do Cristo Vivo 10
O Significado de Gnosis 17
O Que a Sabedoria Significa para Mim 31
O Mestre 37
Herdeiros das Eras 42
Apêndice: G. R. S. Mead e a sua Obra 49
Bibliografia 52
Leituras Indicadas 53
3
O autor não deseja reavivar as antigas formas de Gnosticismo. Não temos nenhum
desejo de colocar vinho novo em odres velhos... Dizemos simplesmente - existe um campo
negligenciado do Cristianismo Primitivo, fragmentos de uma fé esquecida durante todos
estes séculos [a Gnosis]... Se pudermos obter uma visão mais ampla do Cristianismo
Primitivo, poderemos ampliar nossa percepção do atual estado de coisas.
"Qual é o propósito destas ideias gnósticas para nós, no presente?... Respondemos
que, como entre os melhores desses gnósticos se encontravam as mentes mais filosóficas e
mais bem treinadas do mundo cristão inicial, é válido ouvir o que elas têm a dizer sobre o
Cristo... Estas formas gnósticas preservam mais integralmente os elementos das tradições
dos Mistérios da antiguidade do que as que são encontradas em outras apresentações.
"No entanto, não olhamos com simpatia às tentativas de algumas pessoas em fundar
'igrejas gnósticas'... O que é desejável é estudar o passado para que possamos recuperar a
memória das lições da experiência que tem para nos ensinar... A Gnosis, como a
entendemos, nos oferece esta visão mais ampla da fé e da liberdade nos primeiros séculos.
"A ideia do Cristo vivo oferece o incentivo mais poderoso ao esforço vigoroso na vida
da cristandade.”
G. R. S. Mead
4
PREFÁCIO
Toda a autêntica tradição religiosa possui uma 'vida interna' que se mantém vibrando
mesmo quando as circunstâncias históricas criam obstáculos, como aconteceu com o
Cristianismo a partir do final do século 11 d.C. Assim, a tradição cristã certamente não era
destituída de um núcleo interior, um foco de luz central que irradiava suas pulsações,
dando impulso aos buscadores da comunhão com Christos (1).
(1). O termo Christos, já usado anteriormente pelos gregos, significa o ungido com o óleo, o
sagrado ou puro, uma emanação da Divindade.
Jesus, o Nazareno, foi a chama viva do primeiro núcleo de discípulos e a fonte das
instruções recebidas oralmente pelos primeiros gnósticos, que constituíram a base da
escola que preparava os candidatos para os 'Mistérios da Luz'. Para aqueles primeiros
discípulos do Senhor, o essencial era ter a vivência do Christos que está em nós - a
esperança de glória.
Para alcançar esta experiência é imprescindível descobrir-se a 'luz oculta' que brilha na
caverna do coração - o templo sutil que está em nosso íntimo. Dessa experiência, essencial
para todos os místicos, surge a Gnosis ou a pura cognição.
A genuína Gnosis é a compreensão direta de que a divindade, o Fogo Divino, mora no
coração do homem, sendo uma Gnosis 'Kardias' (2), como realça o Evangelho da Verdade
atribuído a Valentino (3).
(2). Gnosis Kardias é a compreensão direta que brota do interior, como 'sabedoria do
coração', como ressalta Stephan Hoeller em A Gnose de Jung (Cultrix).
(3). Famoso gnóstico, discípulo de Basílides, que atuou em Alexandria e em Roma no séc. II
d.C., tendo compilado e escrito inúmeros textos.
O Cristianismo Primitivo tinha como ponto essencial uma ênfase na comunhão com a
Luz, tornar-se a Luz, unir-se à Congregação dos Filhos da Luz (4). A Luz veio ao mundo, a Luz
brilhou e a Luz foi recolhida aos Santuários Invisíveis. No entanto, continuou existindo a via
que conduz aos Mistérios de Jesus e à Gnosis espiritual.
(4). Termo clássico entre os Essênios e também presente no Evangelho de João e em
São Paulo.
A 'vida oculta' da mística cristã é Jesus, o Vivo - como enfatiza Tomé. O Nazareno foi a
fonte de inspiração e o 'Amigo Invisível' para um grande número de buscadores da Luz.
No entanto, já a partir do final do séc. II d.C., a tradição transmitida por Jesus sofreu
uma série de modificações, perdendo-se para o público a ênfase ao foco mais interno do
ensinamento. Pequenos grupos mais reservados como os Priscilianistas, Paulicianos,
Maniqueus, Bogomilos, Albigenses, Cátaros e o núcleo interno inicial dos Templários
procuraram, com imensas dificuldades, retomar e preservar a pura linhagem do Mestre.
A partir do final do século XIX, iniciou-se um impulso de volta às origens do
Cristianismo antigo e aos textos esquecidos pela tradição ortodoxa. Essa força de
renovação do Cristianismo foi ampliada com a descoberta dos "Evangelhos Gnósticos" em
Nag Hammadi, no Egito (1945), e dos "Papiros do Mar Morto" (a partir de 1947),
5
provocando um renascimento do interesse na Gnosis de Jesus.
Isso indica um certo sincronismo entre este fluxo de textos que estão reaparecendo e
a expansão da mentalidade dos cristãos, especialmente das novas gerações, que anseiam
por compreensão e vivência e não mais pela mera crença e teologia racional.
Um grande número de pessoas passa, cada vez mais, a ter uma visão mais abrangente
da religiosidade. Para muitas, religião é essencialmente um processo de despertar interior,
de sintonia e união (yoga) com a vida que vibra em nosso íntimo. '
Nesse processo deste final de século, é necessário que as almas tenham a possibilidade
de ter contato com os ensinamentos mais puros e originais da escola de Jesus, ao mesmo
tempo que o lado místico também deve ser reavivado. A meditação (o encontro silencioso)
e a Gnosis (a percepção pura) são instrumentos para o mergulho no âmago do autêntico
Cristianismo.
***
Este livro tem por objetivo facilitar uma introdução ao estudo do idôneo Gnosticismo.
É uma reunião de cinco textos (5) de G. R. S. Mead publicados em três obras distintas no
início deste século - e já fora de circulação - mas que possuem uma linha comum e um.
enfoque que nos estimula a revisar o contexto do Cristianismo.
(5). Houve a supressão de alguns trechos para evitar repetições e dar uma sequência
mais direta aos capítulos.
A primeira parte, "O Evangelho do Cristo Vivo", é o último capítulo do livro The
Gospels and the Gospel (1902), onde é destacado que o núcleo do Cristianismo Primitivo
era a linhagem da Gnosis.
A segunda parte, "O Significado de Gnosis", é um capítulo do livro Quests Old and New
(1913), uma coletanea de artigos da revista The Quest, publicada por Mead, em Londres,
entre 1909 e 1930. E uma excelente contribuição do autor para esclarecer o que é, de
fato, a Gnosis. Nos mostra que não é um mero processo Intelectual (conhecimento) ou uma
técnica estranha, mas, sim, uma percepção espiritual, um despertar da consciência para a
Verdade, pois Gnosis é Sabedoria (Sophia), surge da vivência que vai além da mente.
As três partes seguintes, "O que a Sabedoria Significa para Mim", "O Mestre" e
"Herdeiros das Eras", são capítulos do livro Some Mystical Adventures (1910), onde fica
enfatizado que a Gnosis, a vida interna do Cristianismo original, era também a verdadeira
filosofia: o 'amor à Sabedoria'; que o Mestre da Luz é uma chave viva, o Guardião dos
Mistérios Interiores - a fonte da Gnosis cristã; e que somos herdeiros de verdades
eternas, pois podemos nos transformar, de depositários inconscientes daquela
primitiva sabedoria em 'portadores da Luz' conscientes, por meio da verdadeira Gnosis.
O autor destes textos, o inglês G. R. S. Mead (6) (1863- 1933), é um reconhecido
investigador e escritor sobre as origens do Cristianismo. Sua obra Fragments of a
Faith Forgotten (7) (Fragmentos de uma Fé Esquecida) é uma importante fonte para o
estudo das primeiras escolas gnósticas. Ele dedicou-se com energia a traduzir e
comentar inúmeros textos, como a coleção Ecos da Gnosis e o tratado gnóstico Pistis
Sophia, a obra clássica do primeiro núcleo dos discípulos de Jesus - a comunidade
6
dos Ophitas, os primeiros gnósticos.
(6). Para maiores detalhes veja o apêndice "G. R. S. Mead e sua Obra".
(7). TPS, Londres, 1906.
Trabalhou e conviveu com H. P. Blavatsky em Londres, entre 1887 e 1891. Editou
inúmeras revistas e escreveu várias obras sobre o Gnosticismo, tornando-se uma fonte
altamente idônea para os estudiosos desta área, por sua capacidade para identificar as
conexões entre os primeiros grupos cristãos e as ideias chaves de inúmeros tratados.
Lamentavelmente, a maior parte de sua obra está esgotada mesmo na Inglaterra.
Em português, há O Hino de Jesus (8), um estudo importante que mostra a ligação
entre o Atos de João e a tradição cristã gnóstica.
(8). Editora Teosófica, Brasília, 1994.
Esta edição é o primeiro livro de Mead, de uma série a ser publicada pelo Núcleo
lux, entre outros trabalhos, com o objetivo de trazer à luz textos sérios e inspiradores
para os estudantes e buscadores da tradição cristã e do Gnosticismo autêntico.
A. B. Souza
Julho de 1995
7
INTRODUÇÃO
8
Bem-aventurados os que clamam pela Verdade.
Bem-aventurados os que buscam a Luz.
Bem-aventurados os que aspiram tornar-se Filhos da Luz.
9
O EVANGELHO DO CRISTO VIVO
11
Existe uma ideia poderosa procurando imprimir-se na consciência não dogmática e
alguns poucos estão começando a entender, ainda que vagamente, que um futuro de
crescimento harmonioso está condicionado pela lei da unidade na diversidade. Enquanto
houver uma chance de tornar viva esta ideia entre as massas, não seria aconselhável tentar
outra vez confinar grande número de religiosos nas cadeias das novas fórmulas, as quais,
ainda que menos irritantes ao intelecto do que as formas antigas, seriam, no entanto,
limitações e fronteiras de divisão à medida que, em sua própria natureza, elas devem
consistir de tentativas de mostrar como os supostos princípios fundamentais do
Cristianismo diferem dos supostos princípios fundamentais de outras crenças do mundo.
Por outro lado, sem formas distintivas, as religiões cessariam de existir e, no momento,
poucos crentes poderiam viver sem elas. Como já vimos, as formas são impeditivas, quando
estão superadas; até então, elas poderão ser úteis. As formas das religiões populares não
são as que são úteis às mentes mais avançadas da época, mas as que são apropriadas às
inteligências medianas da crença. Formas demasiadamente sutis estão além da
compreensão da maioria e, portanto, são de pouca utilidade imediata para as massas dos
crentes.
Porém, existe um novo espírito no ar, uma nova vida em atividade. É inapropriado
deixar que ela se cristalize demasiadamente rápido, ainda que se molde em linhas de
grande beleza intelectual.
Como vimos, muitas das antigas formas de dogma e tradição estão sendo lançadas no
crítico caldeirão de dissolução e boa parte de sua substância está sendo perdida no
processo. A causa disto, como procuramos indicar, é o inexperiente método de teste de
alguns dos nossos mais distintos alquimistas bíblicos. Demasiado metal precioso é perdido
no processo de fusão - eles devem temperar seu fogo intelectual, ou vão reduzir em breve
tudo a uma 'causa morta'.
Há de perguntar-se: é intenção deles eliminar inteiramente o elemento místico da
religião? E é realmente científico adotar um teste puramente teológico e rejeitar uma
grande massa de material primitivo que um passado não científico decretou como sendo
herético? Isto nos leva a examinar as ideias, tradições e lendas primitivas, consideradas
como gnósticas.
Recentemente colecionamos este material em um volume intitulado Fragments of a
Faith Forgotten (Fragmentos de uma Fé Esquecida), esperando que ao menos uns poucos
pudessem estar interessados neste assunto que é geralmente considerado muito alheio aos
métodos modernos de pensamento. No entanto, foi uma agradável surpresa descobrir que
o livro foi calorosamente bem recebido por muitos pensadores, homens e mulheres que
encontraram nele evidências da existência, no Cristianismo Primitivo, dos elementos que
haviam aprendido a apreciar em seus estudos das outras grandes religiões do mundo, os
quais haviam anteriormente procurado em vão no Cristianismo tradicional.
O principal propósito daquele livro foi apresentar o material e deixar os primeiros
filósofos e místicos do Cristianismo falarem por si mesmos, sem interrupções iradas ou
comentários desdenhosos. Era de se esperar, logicamente, que qualquer escritor
suficientemente audacioso a ponto de fornecer condições aos principais heréticos da
cristandade para que pudessem apresentar sua própria versão, não iria contar com a
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aprovação dos defensores da ortodoxia. Também era certo que os críticos puramente
racionalistas iriam tornar objeto de riso as ideias dos gnósticos e lamentar o trabalho
dedicado a um assunto tão sem proveito - na opinião deles.
Porém, o erro feito por estes dois extremos de opinião é a hipótese de que, de alguma
forma, o autor deseje reavivar as antigas formas de Gnosticismo. Não temos nenhum
desejo de colocar vinho novo em odres velhos, ainda que os odres velhos possam ter
contido uma parte da vindima original do 'Verdadeiro Vinho'.
Dizemos simplesmente: existe um campo negligenciado do Cristianismo Primitivo,
fragmentos de uma fé esquecida durante todos estes séculos. Vocês que falam do
Cristianismo 'primordial', como explicam a Gnosis (2)? Vocês que se dizem investigadores
científicos e imparciais da evidência, que se recusam a ser tolhidos pelas opiniões sem
critérios dos padres da Igreja e pelas decisões preconceituosas dos concílios, como explicam
um dos mais importantes fatores - se não o mais importante - no nascimento e
desenvolvimento inicial da teologia dogmática cristã? De nossa parte, procuramos mostrar
que a consideração integral dos fatores que contribuíram para formar o pano de fundo do
Gnosticismo primitivo modifica extraordinariamente a visão geralmente aceita das origens
da cristandade.
(2). Termo grego utilizado na época para definir a percepção direta, a reta compreensão
que brota do 'coração': a Sabedoria. Para este termo, veja-se os próximos capítulos. (N.E.)
Porém é lícito formularmos a pergunta: qual é o propósito destas ideias gnósticas para
nós no presente? Qual a utilidade de desenterrarmos estas relíquias do quarto de despejo
de um passado esquecido?
Existem, é lógico, algumas mentes que, quando formulam a pergunta 'qual a utilidade',
recusam-se a ser apaziguadas por qualquer resposta aquém de uma explicação do
propósito cósmico das coisas. Nos respondemos que, como os melhores destes gnósticos se
encontravam entre as mentes mais filosóficas e mais bem treinadas do mundo cristão
primitivo, é válido ouvir o que eles têm a dizer sobre o Cristo e aprender a natureza de sua
fé Nele. Se pudermos obter uma visão mais ampla do Cristianismo Primitivo, poderemos
ampliar nossa percepção do atual estado de coisas. A Gnosis, como a entendemos, oferece-
nos esta visão mais ampla da fé e da liberdade dos primeiros séculos.
Porém, alguns podem dizer que, sem dúvida, um estudo dos gnósticos é útil do ponto
de vista histórico e podemos até adotar um interesse de antiquário com relação aos
diferentes elementos incorporados nos sistemas deles. Mas qual é a utilidade de suas
estranhas especulações para nós atualmente?
A isto respondemos: as ideias da Gnosis não devem ser julgadas exclusivamente pelas
formas com que os gnósticos as revestiram, assim como as doutrinas gerais do Cristianismo
não devem ser Julgadas pelas formulas dogmáticas como foram enclausuradas pelos padres
da Igreja e pelos decretos dos concílios.
Admitimos que as formas da Gnosis que foram preservadas são, na atualidade,
primordialmente de interesse dos antiquários, do mesmo modo como o são também as
formulações dogmáticas do Cristianismo em geral para muitas pessoas. Mas, ainda assim,
elas são muito interessantes, pois verificamos que estas formas gnósticas preservam mais
integralmente os elementos das tradições dos Mistérios da antiguidade do que são
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encontrados em outras apresentações.
Porém, longe de desejarmos reavivar as formas antigas da Gnosis ou de qualquer das
velhas tradições dos Mistérios, estamos inteiramente convencidos de que nenhuma
utilidade poderá advir de tal tentativa. Portanto não olhamos com simpatia as
tentativas de alguma pessoas de fundar 'igrejas gnósticas'. O que é desejável é estudar
o passado, não para copiá-lo sem alterações, mas para que possamos recuperar a
memória das lições da experiência que ele tem para nos ensinar.
Ao encontrar uma forma de beleza na antiguidade, o esforço da humanidade em
evolução deveria ser o de moldar uma forma de beleza ainda maior. Se encontramos
no passado o registro de esforços vigorosos de aproximação ao âmago das coisas, o
esforço dos atuais amantes de Deus deveria ser o de procurar, com muito mais afinco
aproximarem-se da Sabedoria Divina em seu recôndito mais profundo.
Ora, é a doutrina do Cristo Vivo que oferece o incentivo mais poderoso ao esforço
vigoroso na vida da cristandade atual. Mas quão poucos daqueles que acreditam que
Ele vive e que esta cuidando deles, podem tolerar a ideia de que Buda, Krishna,
Zoroastro e todos os grandes Seres que viveram e trabalharam na Terra pelo bem da
humanidade, continuam a viver e a cuidar dela também!
Mais difícil ainda de aceitar é que o Cristo não só cuida da cristandade, mas que,
além de derramar Sua ajuda e bênção sobre aqueles que amam o Pai de nossa
humanidade comum, o faz também sobre todos os que lutam pela melhoria humana,
qualquer que seja a sua crença ou descrença religiosa. E, não só o Cristo faz isto como
toda a Sua Irmandade associa-se a Ele na tarefa comum. Eles não estão limitados por
nossas diferenças teológicas e raciais.
Esta alquimia espiritual, pela qual forças aparentemente antagônicas são
transmutadas para o bem comum é um mistério maravilhoso a ser contemplado.
Tomemos um único exemplo do passado. É bem conhecido que a filosofia da
Grécia foi resumida na escola Neoplatônica e que por três séculos resistiu firmemente
ao avanço vitorioso do Cristianismo oficial. Os neoplatônicos foram o último foco de
resistência em torno da antiga cultura e a luta corajosa de seus defensores, apesar da
tremenda disparidade, constitui-se uma das páginas mais interessantes em nossos
registros ocidentais. Muitos dirão, sem dúvida, que aqueles homens lutaram contra o
Cristo, que seus esforços merecidamente não resultaram em nada e que a cristandade
triunfou, o paganismo recebendo seu golpe de misericórdia. Para eles, a moral venceu
a metafísica.
Porém, estas generalizações apressadas não satisfarão o estudante imparcial da
história, pois a vida filosófica era baseada numa elevada conduta ética e os neo-
platônicos eram reconhecidamente homens de alta moralidade. O fracasso deles foi
devido à sua inabilidade em atender às multidões e de prever e prover as necessidades
das novas raças que iriam se desenvolver no mundo ocidental.
Por outro lado, dificilmente podemos acreditar que os mais altos interesses da
cristandade foram atendidos por aqueles que lutaram tão furiosamente contra toda a
cultura e desenvolvimento intelectual e muito menos podemos acreditar que nisto eles
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eram verdadeiros servidores de um Mestre de Sabedoria. Naquele tempo, os
elementos mais tolerantes da cristandade estavam sendo abafados pelo clamor
popular. Eles estavam rapidamente desaparecendo de vista para permanecerem
escondidos até um dia mais brilhante, quando a inundação tivesse diminuído e o brilho
do Sol da tolerância pudesse mais uma vez capacitá-los a germinar.
Contudo, o fenômeno mais interessante para a contemplação da mente filosófica,
em toda esta confusão, é que em ambos os lados encontramos homens que estavam
procurando viver de acordo com suas mais sinceras convicções e que estavam lutando
firmemente por aquilo que consideravam ser a verdade mais elevada - e pelo que
achavam ser os melhores meios para o bem geral.
É bem evidente, portanto, que o poder que estava atuando nestas pessoas,
aquelas imbuídas de sinceridade, era o mesmo. A diferença o antagonismo,
encontrava-se nas formas e opiniões, não na vida e nas ideias.
Aqueles que, do 'alto', observam tudo isso foram chamados, por alguns dos
gnósticos, de 'Instrumentos da Luz' e bem-aventurado é o homem merecedor de
efetuar um tal serviço.
Será que pensamos, então, que o Cristo iria rejeitar a alma de um Plotino, de um
Porfírio, ou de um Proclo simplesmente porque rejeitaram as formas que um Irineu, um
Cirilo, ou um Teodoreto reivindicaram como sendo as únicas formas em que a Sua
sabedoria poderia ser expressa?
E, se isto for assim, o que dizer de nossos tempos?
Será que imaginamos que o Cristo considera desfavoravelmente um Darwin ou um
Huxley e um Büchner (3), se comparados com os modernos campeões da ortodoxia?
Ou, por outro lado, que Ele rejeita os místicos da atualidade em favor dos críticos
'avançados'? Pensamos que não. Ele é sábio e conhece as necessidades de nossa
natureza humana.
(3). Destacados cientistas da época. (N.E.)
Porém, pensem na paciência infinita em tudo isto: a observação incansável para
que nenhuma oportunidade de ajudar seja perdida, de toda e qualquer maneira que a
mente e o coração humanos possam requerer!
Certamente não devemos julgar um Mestre de Sabedoria com um conceito inferior
ao de uma alma nobre comum! E quem de nós não daria, se pudesse, ajuda a todos
sem distinção de raça ou credo?
Se fosse possível que tais ideias pudessem permear a vida geral do mundo, que
futuro maravilhosamente glorioso não se abriria à nossa frente? Não mais iríamos
guerrear uns contra os outros, mas iríamos nos unir para superar o inimigo comum - a
ignorância - para que assim pudéssemos alcançar a verdadeira Gnosis de nossa
natureza comum e juntos colocar nossos pés no primeiro degrau da escada daquele
estado de expansão da consciência que leva até a Deidade.
Não mais estaríamos ansiosos para nos declararmos cristãos ou budistas,
vedantinos ou confucionistas, zoroastristas ou maometanos, mas nos esforçaríamos
para sermos amantes da Verdade, onde quer que ela seja encontrada e candidatos ao
batismo naquela Igreja Sagrada [e invisível] de todas as raças, regiões e idades da
15
verdadeira Comunhão dos Santos, cujos membros foram ajudantes e auxiliares de todas
as religiões, filosofias e ciências que o mundo possa ter necessitado de tempos em
tempos.
***
Jesus disse: 'Eu vos farei conhecer todos os Mistérios da Luz e toda
a Gnosis. Não cessai de procurar, nem de dia nem de noite, até que
tenhais achado os Mistérios do Reino da Luz'.
"Pistis Sophia"
16
O SIGNIFICADO DE GNOSIS (1)
(1). O título original deste capítulo é "The Meaning of Gnosis in the Higher Forms of
Hellenistic Religion". (N.E.)
Até bem recentemente o estudo do Gnosticismo era tratado exclusivamente como um
departamento de heresiologia ou, na melhor hipótese, como história da Igreja primitiva.
O termo tem sido geralmente adotado para denominar um amplo movimento herético
- em formas muito variadas, mas de uma tendência característica - exclusivamente dentro
das fronteiras do Cristianismo nascente e em desenvolvimento. Nos últimos anos, porém,
foi demonstrado, por diferentes linhas de pesquisas convergentes (2), que a noção de
Gnosis, em seus elementos essenciais, era amplamente difundida antes do aparecimento
do Cristianismo, principalmente entre os cultos dos Mistérios helênicos e das comunidades
místicas, ou nas formas de religião pessoal em que elementos orientais e gregos eram
misturados. Movimentos desta natureza, guardando como tesouro uma Gnosis interior,
continuaram a existir em paralelo, mas inteiramente independentes da Igreja em
crescimento nos três primeiros séculos.
O Gnosticismo, então, não mais deveria ser considerado simplesmente como o nome
de um ramo dentro da Igreja nascente. A Gnosis foi um fenômeno religioso muito mais
amplamente difundido e deveria ser tratado como um elemento característico da história
geral da religião. O que foi anteriormente chamado de Gnosticismo é visto, dessa forma,
como sendo apenas um departamento, ainda que um departamento importante, da
história da Gnosis. Seria preferível que fosse referido como a Gnosis cristianizada, ou como
a Gnosis cristã, sendo que este último termo pode ser reservado especialmente para as
opiniões de Clemente de Alexandria ou de Orígenes.
(2). Veja, especialmente, de Reitzenstein, Die hellenistischen Mysterienreligionen
(Leipzig, 1910), ao qual sou muito agradecido De longe, o melhor trabalho sobre as
fontes, ou material pré-cristão da gnosis cristianizada, de um ponto de vista da história
religiosa 'é a obra de Bousset, Hauptprobleme der Gnosis (Göttingen, 1907), que foi
resumido em seu artigo sobre 'Gnosticismo' na 11ª edição da EncycIopœdia Britannica.
Com relação à influência das religiões orientais sobre o paganismo romano, veja a
obra de Cumont, Les Religions Orientales dans le Paganisme Romain (2ª Ed. Revis.,
Pris, 1909). (N.A.)
Como um todo, o Gnosticismo deve entrar para a história geral da religião, pois,
mesmo sem irmos bem mais longe, em direção ao oriente, e sem acompanharmos o
assunto além dos primeiros três séculos de nossa era, como poderíamos fazer, podemos
indicar movimentos semelhantes nas religiões egípcias, frigias, judias, cristãs e, voltando
ainda mais, nas doutrinas persas e nas coletâneas de tradições astronômicas dos caldeus ou
babilônicos mais recentes, com sua riqueza de mitologia e teologia astrais.
Então, o que é, em essência, o Gnosticismo? Qual é o mais característico significado de
17
Gnosis? Até então, na maior parte dos casos, tem sido dada uma interpretação arbitrária
para estes termos, baseada, na melhor das hipóteses, em julgamentos subjetivos de valor.
Tem sido dito: Gnosis significa conhecimento. Portanto, os gnósticos são, no máximo,
filósofos religiosos. O que não se enquadra nesta definição tem sido rejeitado como não
pertinente ao Gnosticismo.
Porém, a palavra 'Gnosis' havia se tornado, há muito tempo, um termo técnico e seu
significado deve ser estabelecido a partir de sua utilização naquela época. Longe de
significar filosofia, no sentido atual (3) em que geralmente usamos esta palavra, ou mesmo
filosofia religiosa, na verdade denotava o oposto disto. Ou seja, para usar a definiçao de
Reitzenstein:
"Conhecimento imediato dos Mistérios de Deus, recebido por meio de
relacionamento direto com a Deidade... Mistérios que devem permanecer ocultos ao
homem natural, um conhecimento que exercita, ao mesmo tempo uma reação
decidida em nosso relacionamento com Deus e também com nossa própria natureza
ou disposição."
(3). Filosofia significa 'amor à sabedoria', mas, para o senso comum da atualidade,
muitas vezes é definida como um sistema de conceitos intelectuais sobre a realidade.
(N.E.)
Os grupos e sistemas diferem entre si, e diferem muito. Entretanto, a concepção
geral de Gnosis permanece a mesma. Ela é baseada fundamentalmente na revelação ou
visão apocalíptica. Esta revelação, porém, tinha essencialmente mais um sentido vital
do que uma natureza formal, pois havia uma grande liberdade de adaptação e
Interpretação do simbolismo formal
Assim, verificamos que no Gnosticismo característico cada discípulo pode sempre
fazer complementações e transformações dos ensinamentos de seu mestre, de forma
que refinadas noções populares primitivas, juntamente com as visões fantasiosas mais
pessoais, permeiam estes ensinamentos, da mesma maneira como as crenças dos
Mistérios orientais e as concepções mágicas mudam de roupagem com a filosofia grega.
Antes de lidar em mais detalhe com o significado de Gnosis em seus aspectos mais
elevados, fora dos limites da cristandade, pode ser útil resumir o que Liechtenhan (4)
tem a dizer de seu significado entre seus partidários dentro das fronteiras do
Cristianismo. Ele menciona que, por Gnosils, usualmente compreendemos
conhecimento especulativo, no sentido de uma explicação correta do mundo - em
resumo, filosofia.
(4). Die Offenbarung in Gnosticismus (Göttingen 1901)
É verdade que a busca dos gnósticos era, essencialmente, também uma tentativa
de explicação dos processos do mundo. Porém, tal explicação não era uma
interpretação a ser descoberta simplesmente por si mesmos. Eles não a procuravam
usando o seu intelecto sem ajuda, mas por meio de competentes revelações de
natureza religiosa. De forma alguma eles se estabeleceram como filósofos em contraste
com os 'piedosos' (5) - eles também eram piedosos, religiosos. Apenas que, em geral,
procuravam sua religião em combinação com o conhecimento dos processos do
18
mundo, no sentido da "gnosis sobre quem éramos e no que nos tornamos; onde
estávamos e onde viemos parar; para onde nos dirigimos e onde somos redimidos; o
que é a geração, e o que é a regeneração", como formulam os Extratos de Theodotus,
publicados por Clemente de Alexandria (6).
(5). Piedosos são aqui denominados os cristãos ortodoxos que, criticando os gnósticos,
assim poderiam se auto-intitular. (N.E.)
(6). Theodotus foi o mestre gnóstico de Clemente. Este livro é uma coletânea de seus
ensinamentos na Síria. No Egito foi conhecido como Panteno. A obra 'Stromatas', de
Clemente de Alexandria, também contém os ensinamentos do seu instrutor. (N.E.)
Portanto, o objeto de suas buscas era não somente a Gnosis do mundo, mas
também a Gnosis da salvação, como, de fato, fica manifesto abundantemente, por
todos os lados, tanto dentro como fora da cristandade.
Eles, continua Liechtenhan, não querem filosofia além da religião, ou paralela a
ela; sua única busca era a religião em sua perfeição ou consumação. Isto significava
para eles o emprego da mente espiritual nos assuntos mais elevados correspondentes a
ela, sua ocupação com o âmago espiritual e a fonte da realidade, da atualidade, com o
puro, o eterno, o ilimitado. A característica desta religião era que seus seguidores não
esperavam entrar em comunhão com o mais elevado somente pelo esforço moral e
pela fé em Deus, mas também por meio do pensamento, conhecimento, imaginação,
sentimento. E era precisamente na Gnosis que eles viam a função mais elevada da
religião.
Porém, devemos ficar de prontidão contra a interpretação do pensamento como
sendo puramente o intelecto raciocinador. Pois, se os gnósticos se posicionaram contra
o mundo, não como filósofos, mas no duplo sentido de serem conhecedores e
espirituais, devemos nos perguntar se, como o assunto do mundo espiritual é a Gnosis, o
órgão deste modo de conhecer é precisamente o espírito. Se, além disso, o próprio espírito,
como uma substância ou essência do mundo imaterial, é o órgão para a compreensão
daquele mundo, então sua função característica de Gnosis não é nada mais do que a
compreensão das coisas daquele mundo supra-sensível. E, finalmente, se este mundo
invisível é inacessível para nós em nosso estado natural normal e só pode se abrir a nós pela
revelação, então o conhecimento espiritual ou Gnosis tem como objetivo nada mais do que
a revelação.
Segue daí que a posse da Gnosis significa a habilidade para receber e compreender a
revelação. O verdadeiro gnóstico é aquele que conhece a revelação interior ou oculta
desvelada e que também compreende a revelação exterior ou pública velada. Ele não é
alguém que descobriu a verdade a seu respeito por meio de sua própria desamparada
reflexão, mas alguém para quem as manifestações do mundo interior são mostradas e
tornaram-se inteligíveis.
Resumindo, o que Liechtenhan considera, e com razão, como a principal característica
da Gnosis cristianizada é a revelação. É verdade que a Gnosis, para a maioria, é igual à
revelação; mas o objeto desta revelação não é simplesmente o mundo espiritual, interior,
invisível, imaterial ou supra-sensível. Isto, como veremos, é o começo e não o fim da Gnosis,
19
quer seja cristianizada ou não.
Antes do Cristianismo, bem como durante o desenvolvimento da igreja dos primeiros
três séculos, a ideia da Gnosis, como já foi dito, estava bem disseminada. Esta principal
característica de religião oriental influenciou fortemente não só as religiões helenísticas
diretamente e o mundo grego indiretamente, mas também o pensamento geral do
ocidente nos primeiros séculos do Império Romano. Escrevendo sobre a influência das
religiões orientais no paganismo romano, Cumont nos diz:
"De forma geral, havia a convicção persistente de que a redenção e a salvação
dependiam da revelação de certas verdades, do conhecimento dos deuses, do mundo e
de nossa própria personalidade; a religiosidade tornou-se Gnosis."
Porém, para descobrir o que Gnosis significava para os seus melhores partidários no
mundo não-cristão, devemos voltar aos escritos dos antigos místicos e deixá-los falarem por
si mesmos. A Gnosis é necessariamente Gnosis de algo - mas do que? É idêntica a resposta
dada tanto pela grandiosa literatura trismegística como pelos populares Papiros de Magia,
bem como, de fato, pela maioria de nossas fontes: definitivamente ela é a Gnosis de Deus.
Gnosis não é conhecimento intelectual. Na verdade, é concebida como poder ou
virtude. Neste particular pode ser relevante notar que um de seus sinônimos é fé, como
este termo é usado na teologia helenista. Assim, na inscrição do místico frigio Aberkios,
lemos (V.12): "A fé foi sempre meu guia e em todos os momentos proporcionou sustento".
Também o místico de Ísis, Apuleio, nos diz que, após sua segunda iniciação, ele estava
'pleno de fé' e "constante no serviço divino e na verdadeira religião" (XI. 28).
Os Papiros de Magia personificam a fé e se referem ao 'Círculo da Verdade e da Fé',
aparentemente sendo igualado com a famosa 'Planície da Verdade' de Platão, que tipifica o
estado espiritual - tal como é explicado, realmente, tanto pelos hermetistas como por
Plotino, num sentido que possibilita compará-la ao terceiro céu de Paulo. De acordo com a
escola trismegística, a fé é a compreensão ou percepção espiritual; é a virtude ou poder da
mente espiritual, que, dizem, encontra seu suporte na 'reta fé' (7) da Gnosis.
(7). Aquela justa, clara e apropriada percepção do que realmente é 'fé' e que a
verdadeira Gnosis proporciona. (N.E.)
De fato, também na Gnosis cristianizada, antes da escola de Valentino, fé e Gnosis
parecem ter sido termos sinônimos. Mais tarde, porém, uma nítida distinção foi demarcada
entre elas devido à controvérsia teológica.
Se na literatura trismegística, ou tradição do Três-vezes-grande Hermes, a Gnosis é
chamada a 'Religião da Mente', a Mente deve ser compreendida como a Mente Divina ou
Espírito. Pois, na mesma tradição, a Gnosis é também referida como o 'único amor de
Deus', a 'verdadeira filosofia' ou 'amor à sabedoria', o que também abarca, é verdade, a
ciência da natureza e do homem, como na maior parte das formas de elevado misticismo.
Porém, esta sabedoria também é caracterizada como 'adoração', ainda que não no sentido
de um culto externo, mas como uma devoção interior ou louvação ao espírito. 'Devoção é
Gnosis de Deus’ (8), pois "as sementes de Deus, é verdade, são poucas, porém vastas,
corretas e boas são a virtude e o auto-controle, a devoção" (Corpus Hermeticum (9) IX. 4).
(8). Devoção como comunhão com a Divindade que está em nós. (N.E.)
(9). Corpus Hermeticum é um conjunto de textos da tradição hermética. Daqui em diante
20
será abreviado como C.H., seguido do indicador do volume do texto. (N.E.)
A Mente Divina é também chamada o Pastor de Homens, o Poimandres, e também
Amor Divino (Sermão Perfeito (10), I). Para sermos conhecedores devemos ser amantes,
devemos ter "o amor único, o amor à sabedoria-amorosa, que consiste na Gnosis da
Divindade unicamente - a prática da contemplação perpétua e da piedade sagrada"
(Sermão Perfeito, XII). A Gnosis da Mente é de uma natureza espiritual, pois é operada pelo
princípio espiritual no homem: "Esta é, meu filho, a Gnosis da Mente, a visão das coisas
divinas; ela é a Gnosis de Deus, pois a Mente é de Deus" (C.H., IV. 6).
(10). Sermão Perfeito é outro texto da tradição hermética. (N.E.)
No hermetismo, Gnosis é a mais elevada, ou melhor, a síntese das sete virtudes ou
poderes espirituais. As sete virtudes são referidas como: Gnosis, contentamento, auto-
controle (temperança), moderação, retidão, comunhão com tudo e verdade. Mais além
destas vêm a tríade de Vida, Luz e Bem, completando o dez, ou número 'perfeito' (C.H., XII.
8-9).
O 'fim' ou 'perfeição' de toda esta disciplina era 'conhecer a Deus', que é
essencialmente Aquele 'que quer ser conhecido e é conhecido pelos Seus'. Gnosis não é
conhecimento a respeito de alguma coisa, mas contato direto ou comunhão, o
conhecimento de, no sentido de familiaridade imediata com a divindade. E, dessa forma, na
louvação que apropriadamente conclui O Tratado sobre a Perfeição, lemos:
"Damos graças a Ti, Ó Ser Mais Elevado, pois por Tua graça recebemos a luz da
Gnosis. Ó Nome inefável, em lugar do qual, em nossa adoração, usamos a apelação
'Deus' e, em nosso agradecimento dirigimo-nos como 'Pai', pois Tu demonstrastes a
todos nós - homens e mulheres - uma boa vontade paternal, afeição, amor e, numa
atitude extremamente doce, por benevolência, nos dotastes de mente, razão e Gnosis -
mente para que possamos conhecer-Te, razão para que possamos estimar o Teu valor e
Gnosis para que ao Te reconhecer possamos nos regozijar.
"Tornados inteiros por Ti, agora nos regozijamos que Tu Te mostrastes
inteiramente a nós, regozijamo-nos que Tu, pela visão de Ti mesmo, tornaste-nos
deuses apesar de ainda no corpo. Conhecer a Tua grandeza é, para o homem, a bem
aventurança que leva a Deus. Alcançamos a Gnosis de Ti, Ó Luz, luz sensível somente à
inteligência; a Gnosis de Ti, Ó Vida, vida de toda a vida humana; a Gnosis de Ti, Ó Útero
fecundo de todos (que são renascidos); a Gnosis de Ti, Ó Tu eterna Permanência
daquela fecundidade inerente à geração da paternidade.
"Por este motivo, em nossa adoração a Ti, não ansiamos por nenhuma outra
recompensa de Tua bondade, a não ser que Tu condescendas a nos manter
constantemente na Gnosis de Ti mesmo, quando tiveres orado para não nos permitir
cair desta vida elevada de santidade."
É bastante evidente nestas passagens que Gnosis é uma dádiva, uma graça do espírito;
por isso, ainda que a dádiva seja de Deus, a sua luz poderia ser passada adiante, pois o
espírito vive para doar. "Preencha-me com Teu poder e com esta Tua graça, para que eu
possa dar a luz aos que vivem na ignorância" (C. H., I. 32) - assim reza o suplicante por
Gnosis.
21
Também é evidente que a mente é a mente espiritual intuitiva, a contraparte humana
daquela Mente ou Mônada (11) Divina na qual devemos ser mergulhados ou batizados, de
acordo com a doutrina do tratado chamado The Cup (O Cálice), e que a concepção inteira
de Gnosis é devida à religião e não à filosofia. A salvação pela Gnosis é tornar-se inteiro, é
um completar-se ou preencher-se espiritualmente, da natureza da apotheosis ou theiosis,
isto é, da transfiguração da vida de separação para a vida divina auto-suficiente.
(11) Para os pitagóricos, a mônada (monos) é o um indivisível. Sentido semelhante
encontramos na Monadologia de Leibniz. (N.E.)
Na literatura trismegística, 'aqueles que estão em Gnosis' são contrastados com os
homens do mundo, pelos quais dizem que são "ridicularizados, odiados e até mesmo
levados à morte" (C.H., IX. 4). Porém, em todas essas tribulações, os que são piedosos são
sustentados pela sua consciência da Gnosis. Não só isso, mas para a pessoa que está
realmente 'na Gnosis':
..."todas as coisas, ainda que sejam ruins para os outros, são boas para ele; e mais,
cada intriga contra si ele traduz para o plano da Gnosis e somente ele transmuta todos os
males em benefícios." (C.H., IX. 4)
Dizem que esta consciência espiritual é iniciada por uma iluminação, geralmente
ocorrendo em uma visão, mas de uma natureza viva e inteligível. O iluminador é o Logos, a
Luz de Deus, tanto para nossos 'Suplicantes trismegísticos', como para os terapeutas de
Philo (12), ou suplicantes, como também ele os chamava. Por exemplo, encontramos esse
místico e platonista judeu alexandrino escrevendo:
'''Pois o Senhor é a minha Luz e o meu Salvador', como é cantado nos hinos [ou seja,
nos salmos]. Ele não só é luz, mas o arquétipo de todas as outras luzes; na verdade, bem
mais antigo e sublime que o modelo arquétipo [de todas as luzes], já que este último é a
Sua Palavra (Logos). Pois o modelo universal é a Sua Palavra plena, a Luz, enquanto Ele
mesmo é como nada para as coisas criadas."(De Som.,§13).
(12). Philo, o Judeu, que viveu em Alexandria entre os séc. I a.C. e I d.C. escreveu
inúmeras obras, entre as quais A Vida Contemplativa, onde aborda os terapeutas -
nome pelo qual são designados os grupos de tradição essênica no Egito. (N.E.)
A iluminação é um preenchimento, uma conclusão, uma plenitude (pleroma), como a
frase de Filon sugere acima: 'sua Palavra plena'. E assim exclama o autor do Poimandres:
"Tu nos preenchestes, Ó Pai, com a visão do bem e do reto; com um tal espetáculo que
o olho de minha mente ficou inteiramente tomado de reverência." (C.H., X. 4)
E, dessa forma, também no tratado sobre o renascimento, o suplicante ora: "E agora
me preencha com as coisas que faltam em mim", (C.H., XIII. 1)
A visão do Bem, na forma da Beleza da Luz Imortal, sobrevém, inicialmente, em
arrebatamento, enlevo ou êxtase do senso corporal. Para absorver profundamente a visão,
o homem do mundo deve estar totalmente sereno.
"Pois tu poderás vê-la quando não puderes dizer nenhuma palavra a seu respeito.
Porque a Gnosis e a visão do Bem é o silêncio sagrado, dando descanso a todos os sentidos.
Pois aquele que a percebe não pode perceber nada mais, nem tampouco aquele que a
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contempla pode ter visão de nada mais, ou ouvir qualquer outra coisa, ou mover qualquer
parte de seu corpo. Desligado de qualquer sentido ou movimento de seu corpo, ele
permanece imóvel.
"Então, banhando toda a sua mente em luz [o batismo místico]. essa ilumina também
toda a sua alma, eleva-a através do corpo e transmuta tudo em si no ser essencial. Pois é
Impossível, meu filho, que a alma possa ser tornada divina pela visão da Beleza de Deus
quando ainda no corpo de um homem; ela deve ser separada do seu corpo e transformada,
tornando-se divina." (C.H.,X.5, 6).13
De acordo com a crença dos místicos a Gnosis era acionada por meio de uma
transformação essencial ou transmutação, levando a uma transfiguração. Primeiramente,
havia uma passagem através de si mesmo' uma morte mística e, finalmente, um
renascimento na natureza o ser espiritual de um deus.
Sem dúvida, nos círculos internos dos místicos o principal interesse era nesta apoteose
ou transfiguração efetuada por meio da Gnosis ou da visão de Deus Acreditava-se que a
alma humana separada era transmutada numa natureza ou essência que era espiritual (14)
ou angélica. Muitas passagens poderiam ser citadas de numerosa tradições para ilustrar
esta ideia central, porém considerações de espaço nos restringem a uma única citação de
Philo, que escreve em sua Vida de Moisés (III. 39):
"Ele (Moisés) estava prestes a navegar para o céu e abandonando a vida da morte,
para ser transformado na vida imortal, pois ele tinha sido chamado por Deus, o Pais, que o
estava transformando de uma díada alma e corpo natureza da mônada que transcende
todos os elementos, restaurando-o num todo através da totalidade na mente mais gloriosa
como o sol."
(14). O ‘dæman’ na tradição helenística. (N.A.)
Os iIIuminati (15) poimandristas ou trismegísticos, se referem precisamente a mesma
coisa quando dizem:
"É pela transmutação em dæmons [ou seja, espíritos ou anjos] que as almas possuem a
fonte da imortalidade e, assim, dançam outra vez no coral dos deuses (ou juntam-se à
dança do coral dos deuses)...e esta é a mais perfeita glória da alma.” (C.H., XIII. 7)
(15). Illuminati, termo que designa os filósofos do Fogo Iluminação espiritual. (N.E.)
Tudo isso estava relacionado à doutrina da união espiritual ou 'casamento sagrado',
como era chamado - um assunto que demandaria por si só um artigo para apresentar
simplesmente um esboço - e a transformação efetuada desta forma era considerada como
o nascimento de uma nova criatura. Era essa transmutação substancial num ser espiritual
que tornava possível a Gnosis, conferindo o poder de visão divina por meio do senso
unitário da inteligência. A nova consciência era concebida como resultado da impregnação
do ser interior, assim diziam eles, pelos raios, emanações, eflúvios ou influências do
esplendor divino. Num sentido ético, essas sementes eram, como já vimos, virtude, auto-
controle, devoção e, em geral, o conjunto das virtudes.
O 'final feliz' daqueles que colocavam seus pés na senda da Gnosis era, portanto,
"tornarem-se deuses" (C.H., I. 26). Este 'fim' ou 'aperfeiçoamento' é um termo técnico dos
23
mistérios, o locus classicus que Reitzenstein já encontra firmemente estabelecido no
Banquete de Platão (210 E):
"Aquele que foi instruído até este ponto nos Mistérios do Amor, pela sucessiva reta
contemplação de coisas belas, se for até o derradeiro 'final' desta iniciação, terá a visão de
uma Beleza cuja natureza maravilhosa (ou seja, Beleza absoluta, simples e duradoura, que
sem diminuir e sem aumentar e sem qualquer mudança, é concedida à beleza mutável de
todas as coisas). Aquele que ascender além destas belezas e, sob a influência do verdadeiro
Amor, começar a ter a visão daquela Beleza, quase chegou ao fim'". (211 B)
O fim supremo ou perfeição é a união com o Bem ou com Deus. O começo é a visão do
processo da criação, de como o mundo vem à existência. Tais visões podem parecer
bastante fúteis para as mentes modernas imersas na pesquisa física, para quem as noções
cosmológicas da antiguidade, sem exceção, são tidas como sonhos de criança.
No entanto, deve ser lembrado que esses místicos acreditavam que a própria
substância de seu ser devia ser transmutada ou 'tornada cósmica' e que,
consequentemente, ela tinha que passar por estágios de reforma semelhantes aos estados
pelos quais eles imaginavam que a matéria do mundo, ou a alma do mundo, havia passado
em sua formação ou ato de tornar-se. E que aquilo que estava se passando neles lhes era
mostrado em visão, como uma projeção na tela cósmica, como se fora a formação de um
mundo. O interesse deles na cosmogonia era, portanto, pessoal. Conforme suas noções,
tinha de haver uma 'formação de acordo com a substância', antes que a 'formação de
acordo com a Gnosis' pudesse ocorrer. Por isso, verificamos que, no primeiro tratado do
Corpus Hermeticum, no famoso documento Poimandres ou Pastor de Homens, a exigência
do iniciante era:
"Gostaria de aprender a respeito das coisas existentes e compreender sua natureza [ou
seja, a origem e desenvolvimento do mundo] e de conhecer a Deus." (C.H., I. 3)
E após ter sido mostrada a visão da ordem do mundo e do processo do mundo, o
Iniciador, a Mente Divina, informa ao contemplador: "Foi-te ensinada a natureza do
universo, sim, a maior visão" (ibid. 27).
Perceber a natureza do mundo, no entanto, não é o fim, mas o começo da senda de
perfeição; e é bem natural, pois esta tem a ver com inícios e não com finais. Isto é visto
muito claramente na assim chamada liturgia de Mitra, em que o 'corpo perfeito' tem
primeiramente que ser 'formado' de elementos puros, antes que os místicos possam
ascender à visão.
Porém, se falamos de inícios com relação ao processo universal, não devemos nos
esquecer que estes são somente inícios para nós e não da própria realidade, que não tem
princípio nem fim. Isto é admiravelmente indicado na tradição de Trismegisto, a seguir:
"Pois para o Bem não há outra margem, não há limites, ele não tem fim e, por si
mesmo, também não tem princípio, ainda que para nós pareça ter um - a Gnosis. "Portanto,
para ele a Gnosis não é o começo, porem ela permite a nós o primeiro princípio a ser
conhecido." (C.H., IV. 8,9)
A visão da natureza do mundo é geralmente referida simbolicamente como a
contemplação do típico imaginário Makroanthropos ou Homem Cósmico, de quem o
homem era tido como sendo essencialmente uma imagem.
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"Se tu O vistes através das coisas que passam pela morte tanto na terra como na
profundidade, pensas a respeito de um homem sendo fabricado num útero, meu filho
escrutinizes estritamente a arte Daquele que o fabricou e aprendas quem fabricou esta
justa e boa imagem do Homem." (C.H., V. 6)
Esta doutrina do começo e do fim da Gnosis é bem indicada na famosa fórmula do
Documento Naasseno (16) cristianizado, citado por Hipólito (17): “O início da Perfeição é a
Gnosis do Homem, porém a Gnosis de Deus é a Perfeição aperfeiçoada."
(16). Os Naassenos são os mesmos Ophitas, os primeiros gnósticos. (N.E.)
(17). Refutation, V. 8. (N.A.)
Aperfeiçoamento é um termo técnico para o desenvolvimento na Gnosis, sendo o
gnóstico realizado conhecido como o 'perfeito'. O início, ou a iniciação nesta supra-
consciência, era dito como sendo dado numa visão cósmica do Homem Celestial, isto é, não
do Supremo como absoluto, mas do Corpo Universal; somente o fim ou consumação era a
união com a Deidade.
Porém, a visão do que o mundo é somente podia ser desfrutada se o iniciante já se
tivesse purificado para ter, dentro dele, como se fora um núcleo de elementos puros para
começar ou iniciar a formação de seu novo 'corpo perfeito', como é tão bem descrito na
assim chamada liturgia de Mitra. Após isto, segue-se simplesmente o 'reconhecimento de si
mesmo como imune a morte ou imortal, de acordo com a afirmação trismegística: "Aquele
que sabe que retornou a Deus".
Neste particular pode ser de interesse citar, do capítulo que conclui o grande trabalho
de Hipólito contra os gnósticos, uma passagem negligenciada que mostra como o Pai da
Igreja, apesar de detestar seus ensinamentos gerais, foi fortemente influenciado por esta
doutrina central da Gnosis. Em seu "Epílogo", enquanto estabelecia o que chamou de a
'Doutrina da Verdade' contrastada com o que considerava como as 'Doutrinas do Erro',
Hipólito escreve:
"E terás teu corpo imortal e livre de toda corrupção juntamente com tua alma...;
te unirás com Deus... Pois agora te tornastes um deus... E todas as coisas que assistem
a Deus, estas Deus prometeu conferir a ti; pois te tornastes deus, nascestes imortal.
Isto significa 'Conheça-te a ti mesmo' - conhecendo Aquele que te tornou num deus."
Quanto a este corpo imortal ou espiritual, a crença geral de todos os místicos era a de
que no corpo humano havia, por assim dizer, a potencialidade de um corpo cósmico, um
corpo de totalidade. Por isso, numa das preces dos mistérios trismegísticos, encontramos a
petição: "O tudo em nós, Ó Vida, torne-o íntegro; Ó Luz, ilumine-o; Ó Deus, inspire-o" (C.H.,
XIII. 19).
Esse 'tudo' é o novo corpo imortal, o corpo da ressurreição. Vida, Luz e Deus são a
Alma, a Mente e o Espírito Divinos que devem completá-lo na Gnosis. A expansão da Gnosis
deve operar uma transformação no ser - vivificação, iluminação, inspiração. Deus, como
Espírito, transmuta-nos em espírito; como Luz, Ele nos glorifica, irradia-nos para que nos
tornemos gloriosos; e, como Vida, confere-nos imortalidade. A consumação deve ser uma
totalidade ou ser eônico de esplendor imortal espiritual.
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Ainda que seja verdade que exista algo de uma natureza absoluta a respeito desta 'luz
da Gnosis', pois ela é essencialmente espiritual e imediata, a Gnosis também é
frequentemente descrita como uma 'senda', uma 'ascensão' gradual. Em suas concepções
mais elevadas, no entanto, esta senda não é uma 'jornada celestial psíquica; ao contrário, é
um caminho espiritual Imediato que se abre em qualquer aspecto da vida. Não é necessário
'deixar o mundo' para encontrá-lo, exceto no sentido de jogar fora de nós o 'supremo vício'
ou o maior mal que, em contraste com a suprema virtude da Gnosis, e chamado de
ignorância de Deus, no sentido de um força positiva de negligência proposital do divino. É
uma questão de 'arrependimento', mas no sentido espiritual de um voltar de toda a
natureza, isto é, de toda a vontade ser colocada em direção ao Bem.
"Porém, para ser capaz de conhecer o Bem: desejar, aspirar, é um caminho direto
à senda do próprio Bem, levando facilmente até lá. Se tu simplesmente colocares teu
pé neste caminho, ele te encontrará em toda parte, será visto em toda parte, onde e
quando não o esperares - acordado, dormindo, navegando, viajando, de noite, de dia,
falando ou nada dizendo. Pois não ha nada que não seja a Imagem do Bem." (C.H., XI.
21).
Este caminho de retorno é simbolizado indiferentemente como uma senda, uma
viagem: ou a subida de uma montanha. Que a Gnosis era essencialmente religiosa ou
espiritual e não intelectual, já foi plenamente estabelecido, mas pode ser confirmado com
autoridade pela seguinte declaração categórica com referência a visão do Belo e do Bem:
"Só há uma forma que leva a ele: devoção juntamente com Gnosis" (C.H., VI. 5).
A entrada na senda da Gnosis é chamada 'voltar para casa'. Como vimos, é um retorno,
um virar as costas ao mundo, um arrependimento de toda natureza: Devemos nos voltar
para o velho, velho caminho" (C.H., IV. 9).
Ingressar na Gnosis é um despertar o sono e a ignorância de Deus, da embriaguez do
mundo para a temperança virtuosa.
"Pois o mal [ilusão] do não conhecimento está inundando toda a terra e trazendo
total ruína à alma aprisionada dentro do corpo, impedindo-a de navegar para os portos
da salvação." (C.H., XII. 1)
A única salvação é a Gnosis - Gnosis de Deus pois:
"Deus não ignora o homem; ao contrário, Ele o conhece inteiramente e Sua
vontade é que Ele [por Sua vez] seja bem conhecido [pelo homem]. Este é o único meio
de segurança para o homem - sua Gnosis de seu Deus. Esse é o Caminho que leva ao
alto da Montanha (Olimpo). E é somente por esta [ascensão] que a alma do homem
torna-se boa." (C.H., X. 15)
A subida da montanha é a ascensão (anodos, anabasis) da alma a altura da
contemplação, ou o seu mergulho em sua natureza espiritual. E o caminho de subida, bem
como do retorno.
Observada do ponto de vista humano, a Gnosis é o 'teste da devoção' (C. H., X. 19), a
'virtude da alma' e também o 'fim da ciência' (C.H., X. 9). Diz-se que aquele que conhece a si
mesmo' é "bom e piedoso e ainda na terra é divino (C.H., X. 9). No entanto, considerado do
26
ponto de vista soteriológico (18), ou em relação à teoria da salvação, a senda não surge a
partir da própria pessoa, mas pela descida do Salvador, tanto nas formas de Gnosis pré-
cristãs como nas formas cristianizadas. Desse modo, na conclusão do bem referido hino
Naasseno, baseado em material pagão e oriental, Jesus é descrito como dizendo (19):
"Com brasões em minhas mãos descerei; ao longo de todos os eons do universo eu
construirei um caminho: revelarei todos os mistérios e manifestarei as formas que os
deuses apresentam. Aos segredos da sagrada senda darei o nome de Gnosis e os
transmitirei."
(18). Soteriologia: parte da teologia que trata da salvação da alma. (N.E.)
(19). Hipólito, Refutation, V. 10. (N.A.)
A ascensão para o alto da montanha é mencionada diversas vezes, como o é por quase
todo o misticismo e não deve ser atribuída à lenda de Moisés; ela é puramente pagã. Por
isso, Juliano (20) diz que Hermes, como guia ou instrutor místico, encontra-se com os
místicos na base da montanha, enquanto nos Papiros de Magia (Pap. Lug., V.) lemos: "Sou
aquele a quem tu encontrastes no sopé do monte sagrado". E no tratado trismegístico
chamado de O Sermão Secreto na Montanha, a senda probatória é chamada a 'subida da
montanha' (C.H., XIII. 1), no topo da qual ocorrem a transfiguração e a visão. Nos mesmos
sermões iniciáticos, em outra passagem, o neófito é exortado:
"Procura um guia para levar-te aos portais da Gnosis, onde brilha a clara luz, isenta
de toda escuridão, onde nem uma única alma está embriagada, mas todas estão
sóbrias, acordadas de seu sono embriagado, com os olhos do coração fixos Nele que
quer ser visto" (C.H., VII. 2).
(20). Oração, VII, de Juliano. o Imperador romano, séc. IV d.C. (N.E.)
Isto é descrito de forma ainda mais elegante na passagem:
"Porém, no caso da alma piedosa a Mente, na verdade, a eleva e guia para a luz da
Gnosis. E esta alma nunca se cansa de cantar louvores a Deus, de verter bênçãos a
todos os homens e de fazer o bem em palavras e ações para todos, imitando o seu pai."
(C.H., X. 21)
Portanto, o conhecimento de Deus é um conhecimento ou 'visão' com os 'olhos do
coração'. Tais olhos são chamados 'espirituais', 'abençoados', 'imortais'. Os olhos do corpo
não são os órgãos da visão verdadeira, como lamentam as almas quando inicialmente
encarceradas no corpo: "Janelas estas são - não olhos!" O corpo é o 'véu da ignorância', o
'invólucro da escuridão', o 'envoltório da personalidade', pois: "Nenhum ouvido pode ouvi-
Lo, nem o olho pode vê-Lo, mas só a mente e o coração" (C.H.,VII. 2).
O conhecimento gnóstico é a intuição da mente verdadeira ou espiritual, a apreensão
imediata ou a clara percepção da realidade viva. Ainda que geralmente referido
metaforicamente como olhar, visão ou contemplação, porque a vista e o mais aguçado dos
sentidos diferenciados e, preferivelmente, percepção instantânea (21); na verdade, é
chamado o sentido único, o sentido simples, o sentido unitário, o sentido da inteligência'. É
tato ou contato espiritual, um tornar-se imediato um estado além do sujeito e objeto, assim
como Plotino o descreve, um único sentido sintético, para o qual ele também usa o termo
técnico de tato ou toque.
(21). Isto é refendo no Budismo Mahayana como Prajna, a reta percepção ou cognição pura
27
- direta e não conceituai (N E )
"Só a intuição vê o imanifestado, visto que ela mesma e imanifestada. Se és capaz [de
percebê-lo], manifestado será aos olhos de tua mente... Ilimitada é a natureza generosa do
Senhor; ela se manifesta por todo o mundo. Tu podes conhecê-la - não podes vê-la, tomá-la
em tuas próprias mãos e observar a imagem de Deus." (C.H., V. 3)
Aqui a mente ou coração, como foi chamada é o ser espiritual ou mônada do homem,
como para os sufis maometanos e a maioria dos místicos elevados. Não é a denominada
mente-cérebro ou mesmo o intelecto raciocinador. Seu conhecimento ou visão é de uma
natureza imediata. É a Imagem de Deus no homem e é por meio dela que a Imagem de
Deus no universo ou a Beleza da Vida é contemplada. Este conhecimento é chamado o
'poder da visão divina’ que não é ver mas um tornar-se, como pode ser exemplificado num
dos Extratos Herméticos preservados por John Stobaeus (Ek. I, XXI. 9):
"Aquele que não ignora estas coisas, pode conhecer a Deus no sentido acurado do
termo; na verdade, se a pessoa ousar dizer isso, pode vê-Lo tornando-se a própria corsa que
vê e vendo torna-se então Imortal."
A Gnosis, além disso, confere liberdade, soberania, realeza. O reino da Gnosis é, assim,
estabelecido em contraste com o reino do destino ou do mundo sensível e portanto, é
concebido como a ordem supra-sensível ou imaterial, o mundo da liberdade espiritual
contrastado com o mundo mecânico de causa e efeito. A Gnosis torna livre. A mente
espiritual é livre, pois:
"Senhor de todas as coisas é a Mente, a Alma de Deus; sim, Senhor do destino e da lei
e de todas as coisas também. Nada é Impossível para Ela, nem elevar uma alma humana
acima do controle do destino, nem colocar abaixo da influência do destino uma alma que a
tenha negligenciado." (C.H., XII. 9)
Por isso, Zózimo, o hermetista e alquimista (22), no final do século III d.C., citando
escritos trismegísticos que não mais existem, fala-nos que o Três-vezes-grande Hermes
refere-se aos homens naturais - isso é, aos 'psíquicos', como eram chamados, ou aqueles
que ainda eram incapazes de contatar conscientemente, em si mesmos, o imaterial ou
espiritual - como os 'sem mente' e joguetes, brinquedos ou cortejos do destino. No entanto,
aqueles que têm a mente espiritual ativa são chamados de filósofos ou aqueles que amam a
sabedoria; eles são superiores ao destino e reis de si mesmos, porque se conhecem da
forma gnóstica. Assim, também em O Sermão Perfeito (XII.), somos informados de que a
Gnosis e a Filosofia são idênticas, no sentido de amor à sabedoria, pois lemos da "filosofia
que consiste somente em conhecer a divindade - uma visão amiúde renovada, o culto da
santidade" .
(22). Veja Berthelot, Les Alchemistes grecs, pp. 229 ff. (N.A.)
Algumas pessoas argumentam que a Gnosis era principalmente mágica, sendo seu
significado característico essencialmente o conhecimento de fórmulas mágicas; e é verdade
que, em algumas das tradições, encontramos, no meio do material, uma riqueza de tais
fórmulas - sons místicos, permutações de vogais e combinações (talvez para serem
consideradas, às vezes, como uma notação musical esquecida), o detritus antigo e,
28
portanto, sagrado, línguas e o resto. Mas isso certamente não pode ser dito de um bom
número das principais escolas e, muito menos, da tradição trismegística. Realmente, do
tratado perdido Sobre o Portal Interior, Zózimo cita Hermes declarando:
"O homem espiritual, o homem que conhece a si mesmo, não deve realizar coisa
alguma por meio da mágica, nem mesmo se acreditar que a coisa é boa; tampouco
deveria forçar o destino, mas aceitar o seu curso natural. Ele deveria seguir adiante,
buscando somente o seu próprio ser e, ao alcançar a Gnosis da divindade, deveria
obter os 'três' que não têm nome na terra e deixar o destino levar a cabo sua vontade
em sua própria argila - isto é, sobre o corpo. E, se ele compreender isso desta forma e
assim organizar sua vida, deverá obter a visão do Filho de Deus, tornando-se todas as
coisas por causa das almas santas, para que possa retirar cada alma da região do
destino, para o reino em que ela é livre do corpo."
Os 'três' ou 'tríada' são presumivelmente Luz, Vida e o Bem, como já vimos
anteriormente. O Filho de Deus é a Mente, o Pastor de Homens, o Guia Divino para a
Luz, que ilumina a mente de cada alma, assim mantendo-a elevada, ou tornando-a livre
do destino. Como alcançar a Gnosis denota a ideia de liberdade e salvação, assim
também sugere a noção de poder, de conquista e de controle. A posse da Gnosis,
portanto, confere 'autoridade', um termo intercambiável com 'poder' num sentido
gnóstico.
Abundantes evidências adicionais poderiam ser adiantadas, mas já foi dado o
suficiente para demonstrar que a ideia fundamental da Gnosis é a transmutação num
ser espiritual e isso é fundamentalmente uma ideia religiosa oriental, a antípoda da
filosofia em seu significado moderno comum visto como a elaboração de um sistema
intelectual. A Gnosis é, portanto, acompanhada de visão e revelação no sentido que as
citações anteriores já deveriam ter tornado claro. Além disso, seria fácil demonstrar
que estas são também as características gerais da Gnosis nos sistemas cristianizados,
mas isso iria demandar um estudo separado. Basta citar aqui um único pronunciamento
de um pequeno fragmento pouco conhecido de um apocalipse valentiniano preservado
por Epifânio (XXXI. 5):
"Saudações da Mente que nunca se cansa, para mentes que nada pode fazê-las
cansar! Agora despertarei em vocês novamente a memória dos mistérios acima dos
próprios céus, os mistérios para os quais nenhum nome pode ser dado os quais
nenhuma língua pode expressar - os mistérios que nenhuma soberania ou autoridade,
que nenhum sujeito ou natureza mista tem poder para compreender mas que foram
tornados simples para a compreensão da consciência que está acima de toda
mudança.
As indicações anteriores do significado de Gnosis nas formas mais elevadas do
misticismo helenístico podem ser de interesse para um público mais geral do que
número dos que já estão inteirados do assunto. Existe atualmente uma renovação de
interesse em assuntos místicos e foram publicados recentemente livros tratando da
experiência religiosa desta natureza. Porém, na maior parte das vezes, a investigação é
devotada quase que exclusivamente ao místico cristão medieval e mais recente. A
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riqueza da literatura mística oriental é praticamente ignorada, enquanto sobre as
tradições ocidentais fora da Igreja, além de uma referência ou outra de Plotino,
praticamente não ouvimos nada dos muitos movimentos místicos dos tempos antigos,
que são, pelo menos alguns deles, de grande interesse e importância (23).
(23). Veja-se, por exemplo, os textos de Isabel Cooper-Oakley (Ed.Pensamento). (N.E.)
***
30
O QUE A SABEDORIA SIGNIFICA PARA MIM
36
O MESTRE
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como o Verbo tornada carne.
(1). No sentido gnóstico, os corpos daqueles que não estão 'vivos', ou seja, despertos
para a Gnosis. (N.E.)
Algumas pessoas dirão, contudo, que isso coloca o ideal do Mestre inteiramente fora
de toda possibilidade de compreensão pelo comum das mentes. Isto certamente é verdade,
pois a 'compreensão' do Mistério Crístico está além da percepção da mente comum - a
mente dependente da opinião corrente. A compreensão desse Mistério está reservada
somente ao verdadeiro homem, à mente liberada, e não mais ao simples curso de destino.
Porém a fé precede o conhecimento e a fé pode ser gradualmente purificada da
escória das opiniões falsas e finalmente transformada no ouro puro do conhecimento. Dito
de outra maneira, para cada homem existe uma ascensão gradual em direção à luz da
compreensão e é por isso que encontramos o termo Mestre usado com vários significados
por 'aqueles que estão na fé' e não ainda 'na Gnosis', por aqueles que conhecem a
aparência e não como o Mestre realmente é.
É ao ensinamento, transmitido pelo sábio budista Ashvaghosha, relacionado com os
três kayas (vestes) que o Mestre, o Buda, dá vida. O termo sânscrito trikayam é geralmente
traduzido como as 'três vestes', ou 'corpo tríplice' do Buda; mas em páli, kayo significa
frequentemente 'proezas', 'ação' e também 'faculdade'. Trikayam, então, poderia ser mais
corretamente traduzido como o trabalho tríplice, atividade ou energia do Buda.
Estas atividades de Buda são tecnicamente chamadas em sânscrito como
Nirmanakaya, Sambhogakaya e Dharmakaya, que são frequentemente traduzidas como a
veste de transformação (nirmana), a veste de bem-aventurança (sambhoga) e a veste da Lei
(dharma).
Na realidade só existe uma única veste, pela qual a Mente de Buda vitaliza
perpetuamente. Porém esta veste aparece de maneira diferente aos discípulos, de acordo
com os vários estágios de sua iluminação.
No início o discípulo está ainda, com amor, naturalmente ligado à forma e à pessoa do
Mestre e, assim, ele adora e procura unir-se a esta forma que, dentre todas as que conhece,
representa para ele seu maior amor, a fonte de sua mais alta inspiração e profundo
conhecimento.
É fenômeno religioso comum, neste modo de fé e devoção, que o amante preste culto
ao Mistério numa forma. Mesmo quando o sol da Gnosis começa e brilhar para ele, o hábito
de amar a força, que o governou até então, é ainda tão forte que ele não pode fazer nada
mais a não ser continuar a procurar a união pela veneração de alguma pessoa que é tudo
para ele.
E isso é muito natural, pois é pelo amor que o homem evolui. As paixões animais são
sacrificadas no altar da afeição familiar e, assim, o mistério da trindade é perpetuamente
revelado no casamento de variadas formas - da imperfeição grosseira de pouco mais do que
a união animal, até o que o homem chama uma perfeita união de amor.
Porém, existem outras modalidades de mistério ocultas do conhecimento comum. A
perfeita união de amor entre o homem e a mulher não é a que o homem deve conhecer
quando ele passa da satisfação de tudo o que os sexos separados podem oferecer para a
câmara interna do Mistério, na qual ele é preparado para entrar naquela inefável união
39
com sua contraparte divina que é conhecida pelos místicos como o 'casamento
sagrado' (unia mystica).
Pelo fato de o instrutor verdadeiramente gnóstico ter realizado esta natureza mais
elevada em si mesmo é que o discípulo o ama com um amor bem mais doce do que o
de um homem por uma mulher, com um novo amor que é como o melhor que havia no
antigo, mas que o transcende infinitamente. O primeiro contato consciente com esta
natureza faz despertar no homem uma profundidade que nunca antes havia sido
tocada; ele nada pode fazer a não ser amar, devotar-se e adorar, pois a profundidade
clama pela profundidade por meio da natureza do conhecimento que foi, para ele, o
meio de construir, pela primeira vez, a ponte por sobre o abismo de sua dualidade de
longas eras.
Podem haver muitas aparências para este fato sendo forjado num homem, de
modo indireto, por aquele que sentiu, o mistério e começou a busca (a primeira
iniciação) e esta ainda procurando consumação ou a verdadeira auto-realização. Mas,
possibilitar o nascimento dessa mudança gnóstica em outra pessoa só é possível
quando o Instrutor e um verdadeiro conhecedor do mistério nele próprio; somente
uma tal pessoa pode ser chamada de Mestre num sentido apropriado. Mesmo então,
apenas quando o instrutor é, de forma ininterrupta, um canal auto-realizado consciente
do MESTRE, é que o nome 'Mestre' pode ser usado para ele nesse sentido pleno. A não
ser neste caso, ele pode às vezes falar como Mestre, porém, com mais frequência,
como homem.
No caso de um contato não físico com tal Instrutor a situação é muito diferente,
pois há plena segurança da reta recepção da corrente que vitaliza e isso somente se o
canal é perfeito naquele plano. Sonhos, visões e sensações psíquicas são da alma e do
mundo das imagens. Muitos e grandes perigos envolvem o aventureiro neste mar de
águas turbulentas, especialmente aquele que é curioso na busca do conhecimento. Ele
poderá encontrar muitos instrutores, mas não a sabedoria.
Somente o poder do Mestre poderá acalmar as ondas deste mar. Mas se ele
tranquilizá-las a pedido do discípulo, de que forma o discípulo verá o Mestre
caminhando sobre as águas? Poderá vê-lo em sua verdadeira forma ou o verá a partir
de uma imagem presente nele próprio?
A limitação está no discípulo e não no Mestre. Uma tal visão nem sempre é uma
experiência desejável, como geralmente se supõe, devido aos seus fortes efeitos. Isso
pode cegá-lo para o poder maior do Mestre e ele, então, só vê a imagem de sua
majestade.
A bem aventurança foi sentida, o sentimento de grandeza foi percebido. O
discípulo pode agora começar a aprender gradualmente a reconhecer a Presença
quando ele não vê nenhuma forma. Com frequência ocorre uma longa provação antes
que o candidato possa estar satisfeito em sentir e não ver, pois a vista é o mais
poderoso fascinador de todos os sentidos e, para a maioria, quando não se vê não se
acredita. E assim também em menor grau com os demais sentidos. Porém, quando se
renuncia aos sentidos que atuam separadamente, a real Presença poderá nascer. Então
terá início a verdadeira consciência do contato com a 'veste de bem aventurança' do
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Mestre.
Quando este estágio é alcançado e a 'ausência da forma' do Mestre pode não só
ser tolerada, mas intensamente experimentada com deleite como suficiente em si
mesma, quando não mais existe qualquer anseio, pela forma do ser amado, então
nasce algo novo. Pois, a medida que o homem cresce em sabedoria e poder, nutrido
pela substância de sua alegria, ele aprende que esta Vida muito abençoada flui para ele
por outras formas alem da que ele mais ama. O Mestre pode usar muitas formas pelas
quais manifesta o seu amor e verte a plenitude da sua bem aventurança.
Mas, mesmo isso ainda é uma limitação imposta sobre si mesmo pela natureza ainda
desconhecida do discípulo. A verdadeira veste do Mestre, o dharmakaya, requer todas as
formas de todos os tipos para a sua plena revelação. Isso é o mistério final que vela a
Perfeita Gnosis de todo o estado de Mestre.
Nenhum Mestre pode retirar este véu para ninguém a não ser para si mesmo, pois
aquele que entra por trás deste véu torna-se o Véu, ao retirar, por sua própria vontade,
tudo o que ele colocava antes entre ele e o Véu.
E somente por meio da veste dharmakaya que a Mente Divina pode revelar seus
maiores mistérios aos homens; todas as revelações por meio de corpos menores e de
mentes menores devem necessariamente ser incompletas, ficando aquém da perfeição.
Portanto, ousamos acreditar que O MESTRE se revela perpetuamente em tudo, desde
as coisas mais insignificantes até nas mais elevadas e puras, seja como for que estas possam
parecer a nós quando julgadas somente por nossas pequenas mentes.
***
Buscai a Luz.
Segui a Luz.
Vós sois a Luz.
A Luz é a vida dos homens.
Contemplai os Mistérios da Luz.
Christos é a Luz que veio ao mundo.
Deixai brilhar a Luz dos Filhos da Luz.
41
HERDEIROS DAS ERAS
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representar solução real para o grande mistério que os cercava por todos os lados.
Para esses amantes da Sabedoria, os provérbios mais atraentes eram os da Gnosis
Espiritual resumidos na máxima tão genericamente mal compreendida: "Conhece a ti
mesmo e serás Rei".
Conhece, então, a ti mesmo e, graças a este autoconhecimento espiritual,
recuperarás a memória de teu estado Divino. Serás Rei, uma alma régia, régio
companheiro nas alturas e profundezas da Realidade viva, juntamente com os teus
irmãos, os Filhos de Deus conscientes.
Então, neste ponto, através de sucessivas camadas de incompreensões, finalmente
estamos chegando ao coração do ensinamento e instrução. Isso é uma questão de
conhecer e compreender espiritualmente, de consciência e ser.
Não se trata de um reino a herdar, em qualquer sentido de coisas materiais ou
semi-materiais, embora todas essas coisas possam ser acrescentadas; nem de uma
região situada em algum mundo celestial, em contraste com um reino ou pedaço de
solo aqui na Terra. Antes, trata-se de poder e soberania, conhecimento e aptidão, vida
e liberdade em todas as regiões, em todos os planos - quer este último termo seja
entendido como extensão espacial de crescentes graus de sutileza de existência ou
como estados cada vez mais intensos de ser - de poder e aptidão, liberdade e realização
em todas as naturezas e condições, estados e existências.
De fato, sempre foi prometido àqueles que alcançaram o primeiro estágio de
consciência, assim colocando conscientemente seus pés no caminho para a autocon-
quista e a autognosis, que eles seriam os herdeiros dos tesouros guardados das eras.
"Sereis Reis comigo, no Meu Reino", disse o Triunfante àqueles que estavam se
lançando à Busca.
Esse Reinado verdadeiro é o estado de Mestre e para um tal Rei todo o Tesouro
Real está aberto - inclusive as coisas que se mantinham ocultas desde a fundação do
mundo, os sagrados mistérios da cidade Divina, da cidade dos Portais de Ouro; pois, a
entrada nessa cidade se faz pelos caminhos do 'Sol' e seus portais são os mistérios de
estrelas flamejantes que vemos no mais alto firmamento.
Herdeiros das eras! Tal é o sublime destino da verdadeira condição de ser humano,
porque cada filho do homem que alcança esse destino se apercebe de si mesmo como
consciente Filho de Deus e, como tal, e herdeiro de todas as coisas - "tudo em tudo,
além de todos os poderes composto", como diz Hermes, o Três-vezes-grande.
Mas, porque aqueles que ousam acreditar nestas coisas que gostariam de ser
verdadeiros amantes da Sabedoria e esforçados batalhadores pela Gnosis Espiritual,
protelam a luta pela realização dessa grande expectativa para outras vidas, outros
estados, considerando estas coisas elevadas demais para eles? Por que estão sempre
'procurando no futuro' por 'aquilo-que-é', como se isto fosse uma coisa da posteridade
ao invés de uma Realidade eterna, sempre-presente?
Este desespero faz-nos sempre escravos do momento e tímidos renunciadores da
herança da eternidade.
O Reinado, o estado de Mestre sobre o qual falavam as Boas Novas, não deve ser
entendido como domínio sobre eras passadas, nem como o direito de armazenar
45
posses dos tempos pretéritos, nem ainda como alguma realização futura de grandezas
que ainda não existam, mas como a efetiva auto-realização do ser, na qual o homem
'sabiamente é' o imortal e eterno Eon dos eons (4) - não somente de eons no sentido de
longos períodos de tempo, simplesmente de eras, nem como vastidões espaciais, e sim
de eons como realidades perenes que nem o total dos tempos, nem a soma de todos os
espaços podem manifestar como eles realmente são.
(4) Eon, para os gnósticos, tem o sentido de uma Inteligência criadora emanada da Causa
desconhecida, Era ou eternidade - um longo 'período de tempo, que parece interminável,
mas contudo tem limites. (N.E.)
Vejam a estonteante verdade que nos apresenta o incrível Evangelho: somos,
espiritualmente, agora e sempre, esse supremo Eon dos eons, esse Mistério de todos
os mistérios e apenas acontece, como diz Trismegistus, que não sabemos disto.
Herdeiros das eras, herdeiros dos eons! Que promessa mais arrebatadora poderia
ser feita ao homem em seu sofrimento? Este é um verdadeiro Evangelho, a melhor das
Boas Novas, uma proclamação da Divindade que é e sabe, para o Divino que é e não
sabe.
Mas, essa, que é a mais sublime de todas as instruções, o mais transcendente de
todos os ideais deve inevitavelmente parecer tão inacessível à maioria das pessoas, que
elas não hesitarão em acusar os transmissores desse ensinamento de blasfêmia. Mas,
aqueles que tiverem a sorte de conhecer o ensinamento, que não perderem a coragem
e que não ficarem intimidados, mas, de bom grado, seguirem em frente para aprender
mais, devem fazer tudo para não se atrasar, no anseio de colher a Gnosis Espiritual.
Para aquele que começa a colocar os pés nos caminhos desta Sabedoria, novos
meios se apresentam por todos os lados, novas possibilidades, novos estados, novas
naturezas. Por toda parte ele ouve falar das maravilhas da natureza interior, reveladas
em visões; e finalmente ele próprio se torna um vidente. Gradativamente ele
compreende.
Mas, no Dia do 'Esteja conosco (5), teremos de nos apresentar nus ante a
Verdade nua. Então, bem podemos acreditar, teremos de enfrentar a pura e simples
Verdade, não somente de uma vida, mas sim, de todas as que vivemos - não como
espectadores à parte, olhando para cenas que pouco pareçam ter a ver conosco, porém
como, em realidade, tudo aquilo que tenhamos sido.
(5). Ver Pistis Sophia. É o momento da união total, do alcançar da plena Sabedoria, de
saber-se uno com todas as potências do universo (N.E)
E se não estivermos então na posse do Mistério, se o Grande Iniciador não nos
envolver na plenitude de sua Sagrada Presença, como nos portaremos nesse dia?
Assim, não é de lamentar impensadamente que não consigamos antecipar, deste
modo, o momento de nossa consecução; que sejamos incapazes de nos tornarmos
'herdeiros das eras' no sentido puramente literal de recordarmos cenas da sucessão de
eventos passados. Todos os nossos esforços devem, antes, ser concentrados em
recuperarmos as experiências que esses eventos passados implantaram em nosso
âmago.
E, se a princípio não conseguirmos atingir as profundezas dessa experiência em
46
primeira mão, por nos mesmos, então procuremos revivê-las através do diligente
estudo da sabedoria acumulada pelas grandes almas que o conseguiram antes de nós.
Nisto alguns são mais abençoados do que outros, à medida que ousam, no tocante
a esta sabedoria, aspirar aos privilégios de cidadãos do mundo. São homens, e ousam
pensar que podem dispor da experiência da Humanidade, sem qualquer obstáculo,
desde que tenham a coragem de estender corretamente a mão para recebê-la.
Pois, não dispomos de escrituras no mundo nas quais a mais alta sabedoria
registrada pelo homem esta preservada, para ler e ponderar? Não somos, agora, neste
exato momento os 'herdeiros das eras' neste particular?
A mais preciosa dádiva que o homem concedeu ao homem é o registro da natureza de
sua experiência mais profunda. E isto só pode ser encontrado nas 'escrituras' do mundo que
encerram o tesouro das Palavras dos Sábios - fórmulas, por assim dizer, do somatório da
série infinita de eventos que perpetuamente caracterizam as existências dos mortais.
Nos inspirados provérbios dos Sábios estão as maiores aproximações da linguagem
humana para os mistérios 'eônicos' da natureza humana. Nesses ensinamentos quando
verdadeiramente inspirados, encontramos a natureza das eternidades veiculada em
palavras temporais, ordenadas por uma inteligência maior do que a da razão formal.
Pois Escritura não é Escritura se não provém dos deuses que escrevem com canetas
humanas. Esses deuses são eons e, assim, a Escritura que fazem está em consciente
harmonia com o plano da Natureza maior que está sendo perenemente escrita, de modo
espontâneo, através de todos os homens.
Se, então, pensamos nos tesouros de instrução que serão nossos se apenas os
pedirmos, ficamos quase estupefatos. Assim, notemos como as diferentes nações e os
devotos das diversas religiões do mundo consideram inestimavelmente preciosas suas
várias 'bíblias' especiais. E pensemos depois que, se nos decidirmos a ler ponderar,
aprender e assimilar interiormente essas escrituras, teremos esses tesouros sem preço, de
outrem, à nossa inteira disposição! Assim, somos verdadeiramente 'herdeiros das eras' - os
tesouros das bíblias do mundo já estão abertos para nós.
Mas, se consideramos essas Escrituras como velhas, como coisas do passado, sem
interesse imediato adaptadas a pessoas em outras condições e inadequadas para nós,
caímos na ilusão do tempo. Pois por Escritura propriamente não nos referimos à história, ou
geografia, ou astronomia, ou às artes e ciências da época, que estão, com frequência,
misturadas aos escritos sagrados. Esses elementos puramente humanos são acréscimos e
devem ser removidos para que a voz do espírito possa ser ouvida de suas profundezas.
É somente nas inspiradas afirmações do espírito que há virtude nas Escrituras; e esta
virtude é 'eônica' e não do passado ou do futuro - pertence a todas as épocas e a cada
instante.
Portanto, aqueles que desejam se realizar como 'herdeiros das eras' devem ler as
bíblias do mundo; não por mil e uma razões diferentes, mas, pelos grandes provérbios, as
palavras vitais que elas contem.
Essas palavras, esses Logoi, têm a natueza dos próprios 'eons', pois são instiladas pela
inteligência eônica que é o grande escriba do próprio Deus. Estas são as verdadeiras Boas
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Novas de Sabedoria que, em muitas vozes, falam de um único Mistério.
Elas fazem para nós, seres humanos, em nossa ignorância e degradação, a grande
proclamação, que e também a grande revelação:
"Sois Deuses, 'Herdeiros dos Eons'; das eras que passaram e das que virão, porque sois,
em vos mesmos, eternidades imortais, se apenas voltardes para Casa.”
***
48
APÊNDICE
G. R. S. MEAD E A SUA OBRA
A. B. Souza
Seu nome completo é George Robert Stowe Mead mas tornou-se conhecido como G.
R. S. Mead. Nasceu em 22 de março de 1863, em Nuneaton, Inglaterra. Estudou no St.
John's College, em Cambridge, onde bacharelou-se em 1884, no curso de letras, tendo
conhecimento de grego, latim, francês e alemão - o que foi de grande utilidade para as
traduções que realizou.
Em 1884, começou a atuar como professor. A partir desse período, estudou filosofia
em Oxford e, durante um certo tempo, em Clermont-Ferrand, na França. Após ler o livro
Budismo Esotérico, de A. P. Sinnett, fez contato com B. Keightleye com Mohini Chatterji e,
através deste último interessou-se pelo Hinduísmo e pelos Upanishads os textos clássicos
da metafísica da Índia.
Encontrou-se com H. P. Blavatsky em 1887, aos 24 anos, tornando-se, logo após, seu
'secretário particular'. Auxiliou sua amiga e instrutora no trabalho de reorganizar em
Londres uma 'nova' Sociedade Teosófica, retomando o espírito original. Participou da
edição de A Doutrina Secreta (1888), A Voz do Silêncio (1889), dos estudos do 'grupo
interno' e foi o Secretário Geral da Seção Europeia da Sociedade Teosófica, criada por
Blavatsky em 9 de julho de 1890.
Após a morte de Blavatsky, em 8 de maio de 1891 continuou como editor da revista
"Lúcifer" ('O Portador da Luz'), depois transformada em "The Theosophical Review", que
existiu até 1909. A partir de 1891, teve discordâncias com A. Besant, especialmente em
relação ao seu modo de atuação 'política' na Sociedade Teosófica.
Escreveu vários artigos e publicou seu primeiro livro em 1892: um estudo sobre Simão,
o Mago, um dos primeiros gnósticos. Dois dias antes da morte de Blavatsky ele
comprometera-se com ela no sentido de dedicar suas energias para recuperar os estudos
do cristianismo antigo e do gnosticismo.
Em 1896, publicou a primeira tradução do tratado gnóstico Pistis Sophia, um texto
clássico na área e, a seguir, realizou pesquisas sobre os discípulos de Jesus, a origem do
Evangelho de João e os neoplatônicos. Casou em 1899 com Laura Cooper, irmã de Isabel
Cooper-Oakley, que é conhecida por seus trabalhos sobre o misticismo cristão e sobre Saint
Germain.
No ano de 1900 publicou um valioso trabalho para os estudos do gnosticismo, um
apanhado desta tradição, com o título de Fragmentos de uma Fé Esquecida. Nesta fase da
sua vida dedicava a maior parte do seu tempo aos estudos, cursos, traduções e a escrever
seus livros sobre Apolônio de Tyana, a origem dos Evangelhos e o fato de Jesus ter vivido no
século I a.C. (texto baseado no Talmud).
Em 1906, editou o importante estudo sobre o hermetismo, a obra Thrice Greatest
Hermes, em 3 volumes. O primeiro volume é um excelente estudo introdutório à tradição
49
de Hermes e os outros dois são traduções do Corpus Hermeticum, a coleção de textos do
hermetísmo gnóstico. Também neste ano iniciou uma série de pequenos textos
denominados Ecos da Gnosis.
Após uma série de dificuldades relacionadas com Leadbeater em 1906, com a morte de
Olcott em 1907 e com a sucessão por Besant no cargo de presidente, surgiu uma nova crise
na Sociedade Teosófica em 1908, tendo como centro o Conselho da S. T. (Adyar) e a partir
da qual 700 membros da Seção Britânica se afastaram. No último número da revista que era
editada por Mead em Londres, em fevereiro de 1909, ele afirma que havia perdido a
confiança em Besant e no Conselho.
Diz ele, em um artigo da revista Quest (abril, 1926), que após deixar esse movimento,
no qual atuou com energia por vários anos, não tinha motivos para alterar a sua linha de
trabalho e estudos - "eu estava determinado a tentar fazer todo o possível para criar uma
'clean society', uma associação genuinamente sem dogmas, nem clamando revelações. E
verdadeiramente honesta." Assim, com a presença de 250 pessoas, foi fundada em março
de 1909 a Sociedade da Busca (Quest Society). E foi criada a revista Quest, que permaneceu
até 1930, tendo sido, pela qualidade dos seus artigos, uma valiosa contribuição aos sérios
estudantes.
Com o apoio do seu amigo e livreiro John Watkins, publica, em 1910, o livro Some
Mystical Adventures onde, no capítulo final, há uma apresentação da Sociedade da Busca,
com seu espírito de livre investigação e pesquisa e com o lema: "Buscai e encontrareis".
No período após guerra houve uma menor atividade de publicações, mas continuaram
os estudos e artigos na revista. Em 1924, publicou seu último livro, The Gnostic John the
Baptizer, sobre os Mandeanos - a tradição dos Nazarenos.
No ano seguinte foi publicada a edição revisada de Pistis Sophia, a melhor tradução
acessível para o texto dos Ophitas, os primeiros gnósticos.
A seguir, destacamos a lista de suas obras, nas quais está presente especialmente o
objetivo de trazer à luz o contexto no qual surgiu o Cristianismo.
- Simão, o Mago (1892)
- Plotino (1895): uma introdução às 'Eneadas'
- O Mundo-Mistério (1895): um estudo cosmológico
- Os Upanishads (1896): uma tradução dos principais
- Pistis Sophia (1896): primeira tradução
- Orpheus (1896): completo estudo sobre o Orfismo
- Fragmentos de uma Fé Esquecida (1900)
- Apolônio de Tyana (1901): a vida e suas viagens
- O Evangelho e os Evangelhos (1902)
- Viveu Jesus 100 anos a.C.? (1902): dados do 'Talmud
- Hermes Trismegisto (1906): o 'Corpus Hermeticum'
- 'Ecos da Gnosis' (uma coleção composta de 12 textos publicados entre 1906 e 1910):
A Gnosis da Mente
Os Hinos de Hermes
A Visão de Arideus
O Hino de Jesus
50
Os Mistérios de Mithra
Um Ritual Mitraico
A Crucificação Gnóstica
Os Oráculos Caldeus
O Hino da Veste de Glória
A Canção-Nupcial da Sabedoria
As Palavras de Heráclito
- Algumas Aventuras Místicas (1910)
- Novas e Antigas Buscas (1913)
- A Doutrina do Corpo Sutil na Tradição Ocidental (1919)
- O Gnóstico João Batista (1924): textos dos Mandeanos
- Pistis Sophia (1925): 2ª edição revisada.
Durante seus vários anos de pesquisa e trabalho publicou uma grande quantidade de
artigos em diferentes revistas, entre as quais: "Revista Lúcifer" (18 artigos), "Theosophical
Review" (45 artigos), Revista "The Vahan" (respostas a questões em todos os números),
Revista "The Quest" (uma série de textos publicados entre os anos 1909-1930).
Ele também colaborou na redação de alguns artigos de H. P. Blavatsky, como as "Notas
sobre o Evangelho de João" e os "Comentários a Pistis Sophia", e foi o editor de algumas de
suas obras, entre as quais:
- Theosophical Glossary (1892)
- Five Years of Theosophy (1894 - seleção de textos)
- A Modem Panarion (1895 - uma coleção de artigos)
- The Secret Doctrine (edição de 1897)
Através de várias décadas, desde o seu contato com as ideias teosóficas até o ano de
sua morte, dedicou-se incansavelmente à tarefa de editar, traduzir, escrever, publicar
textos. Na época da Quest Society conseguiu a participação de destacados pesquisadores
que deram ainda mais qualidade às publicações de sua revista.
Sua última conferência pública foi sobre os Mandeanos, em um encontro da The Royal
Asiatic Society. Sobre este tema, inúmeros artigos de vários autores apareceram na revista
"Quest".
Mead morreu em 29 de setembro de 1933. Seu amigo James Pryse, que atuou com ele
em Londres, logo após a sua morte escreveu: "A inexorável morte levou outro dos que
atuaram na equipe de Blavatsky, em Londres - e, entre eles, nenhum trabalhou mais
fervorosamente, enérgica e eficientemente que George Mead. A ele H. P. Blavatsky
submeteu todos os seus manuscritos para serem revisados antes da publicação. "(1)
(1). The Canadian Theosophist, novembro de 1933
***
"Andai com os Filhos da Luz, pois o fruto da Luz consiste em toda a bondade, justiça e
verdade. "
São Paulo
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BIBLIOGRAFIA
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LEITURAS INDICADAS
BLAVATSKY, H.P. Ísis sem Véu (vol. III). São Paulo, Pensamento, 1991.
CRÉPON, Pierre. Los Evangelios Apócrifos. Madrid, EDAF, 1993.
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HOELLER, Stephan. A Gnosis de Jung e Os Sete Sermões aos Mortos. São Paulo,
Cultrix, 1990.
HOELLER, Stephan. Jung e os Evangelhos Perdidos. São Paulo, Cultrix, 1993.
KUNTZMANN - DUBOIS (ed.). O Evangelho de Tomé e a Biblioteca de Nag Hammadi.
São Paulo, Paulinas, 1990.
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MEAD, G. R. S. O Hino de Jesus. Brasília, Teosófica, 1994.
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WAUTIER, André. Palabras Gnósticas de Jesús el Cristo. Madrid, EOAF, 1993.
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