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Regimes de previdência
• Regime geral → trabalhadores da iniciativa privada + empregados públicos
(celetistas)
• Regime próprio → servidores. Não inclui mais os militares.
• Regime complementar →
• Novo sistema de proteção social dos militares
A EC 103 diz que o regime dos militares NÃO é regime previdenciário. Integra o
regime jurídico dos militares e não tem natureza previdenciária. Foi uma decisão política do
Congresso em conjunto com o Executivo, no sentido de beneficiar os militares. A justificativa
é que o regime dos militares tem muitas peculiaridades. Ex: atingida determinada idade, os
militares não conseguem mais desenvolver suas atividades em razão da degradação física. A
passagem à inatividade ocorre de maneira mais precoce. Ademais, a hierarquia militar exige
que o superior seja mais velho do que os seus subordinados.
Os militares foram retirados do RPPS em razão do equilíbrio atuarial → as regras dos
benefícios previdenciários dos militares naturalmente acarretavam déficit, pois eles tinham
maior para facilidade para se aposentar e obter pensão por morte, sendo impossível o
equilíbrio atuarial. Assim, não há mais exigência de equilíbrio financeiro e atuarial. A
contribuição deles é muito aquém do necessário para se chegar ao equilíbrio.
Antes da EC 103/19, a solução era o subsídio cruzado → eventual superávit do grupo
de servidores civis era carreado para o grupo dos militares.
Agora, com a EC 103/19, há um regime especial de proteção social, eles não mais
integram o RPPS. Isso é justo porque os servidores civis não precisam mais custear os
benefícios dos militares. Os servidores civis já se submetem a um regime previdenciário
rígido, bastante recrudescido pela EC 103/19, com vistas a alcançar o equilíbrio fiscal.
RPPS
1) EC 20/98
A nota distintiva é a segregação entre previdência e regime de pessoal na
Administração, estabelecendo que para previdência de servidores é um direito separado que
depende de contribuição específica. Antes, a previdência era custeada pelo Estado,
independentemente da contribuição de servidores. A preocupação era criar uma
previdência, instituir equilíbrio financeiro e atuarial, e a contributividade do sistema → para
ter direito ao benefício, é preciso contribuir.
2) EC 41/03 e 47/05
Tramitaram em conjunto no Congresso. O objetivo era consertar o déficit das
previdências. Para isso, buscou-se mais equilíbrio, bem como corrigir mais injustiças no
regime dos servidores. Apesar do esforço da EC 20/98, era impossível atingir equilíbrio
financeiro atuarial sob as suas regras, em razão da integralidade e da paridade da
aposentadoria, não havia como ter previsibilidade atuarial sobre os recursos necessários
para fazer frente àquelas despesas. Havia uma injustiça no sentido de que os servidores
contribuíam muito menos do que o necessário para ter direito ao benefício naqueles
volumes.
A partir daí, a EC 41/03 extingue a paridade e a integralidade, como regra; reduz as
pensões; institui contribuição de inativos e pensionistas, tudo com objetivo de alcançar
equilíbrio financeiro-atual, o que não era possível apenas com a EC 20/98. Havia um cenário
de desequilíbrio estrutural (e não apenas conjuntural) que precisava ser sanado.
3) EC 70
Não é uma Reforma da Previdência, busca apenas tratar da aposentadoria por
invalidez. Em regra, o regime próprio tem regras mais privilegiadas. Só que, no caso
específico da aposentadoria por invalidez, o RPPS pode ser mais gravoso do que o RGPS,
porque há possibilidade de aposentadoria por invalidez com proventos proporcionais ao
tempo de contribuição. Salvo exceções expressas, ela se dá com tempo proporcional. Assim,
um juiz homem precisava contribuir por 35 anos. Mas, com 3 anos de serviço público, ele se
torna incapacitado e precisa se aposentar por invalidez. Nesse caso, se ele não se enquadrar
nas exceções, a aposentadoria seria de 3/35 calculado sobre a média ou a última
remuneração. Isso pode resultar num valor muito baixo.
A EC 70 buscou ser menos gravosa para esses servidores, mas ela confundiu
conceitos e não atingiu esse objetivo.
4) EC 103/19
A mais recente Reforma da Previdência. Ideia é corrigir um problema conjuntural de
desequilíbrio atuarial de todos os regimes próprios do país. Há um problema conjuntural
porque, se a EC 41 tivesse sido estritamente observada, a previdência dos servidores não
seria deficitária. Ela contém regras suficientemente equilibradas, em especial o cálculo do
benefício pela média da remuneração e o fim da paridade. O
O problema é que a contributividade surgiu em 1998, mas o serviço público é muito
anterior a 1998. Com isso, em 1998, há uma massa enorme de servidores no meio do
caminho ou perto de se aposentar e que nunca contribuíram, além dos benefícios já
concedidos sem a correlata contribuição. O sistema nasce herdando um contigente de
responsabilidades sem a transposição dos recursos no momento inicial. O sistema nasceu
com déficit atuarial, porque a contribuição foi prospectiva.
Ademais, a EC 41 e a EC 47 têm regras de transição muito benéficas. Até hoje há mais
aposentadorias com base no regime anterior do que com base na EC 41. Nesse sentido, a EC
103 é conjuntural.
Ademais, a EC 103 buscou dar maior autonomia para Estados e Municípios
disciplinarem as suas regras específicas para os seus regimes próprios de previdência. Deve-
se lembrar que o valor das aposentadorias dos servidores públicos é maior porque eles
contribuem sobre uma base maior do que os trabalhadores do RGPS. Ademais, não é correto
pensar na previdência como subsídio cruzado (servidores que ganham mais custeando os
benefícios dos servidores que ganham menos) ou como assistência social. A previdência
social é uma proteção à pessoa que por razões diversas não pode mais ganhar seu próprio
sustento. Ex: idade avançada. Não é medida de redistribuição de renda.
• Contributividade
O servidor passa a estar vinculado ao regime mediante contribuição. Não existe
regime sem contribuição. No caso do ERJ, a aposentadoria não dependia de contribuição,
era um benefício que integrava o regime estatutário de pessoal. Já a pensão dependia de
contribuição, embora em valor insuficiente.
Contribuição inclui (i) contribuição paga pelo servidor e (ii) contribuição patronal,
paga pelo “Estado empregador”.
O que significa dizer que a aposentadoria deixou de ser um direito estatutário para
ser um direito previdenciário? É a contributividade → agora, a vinculação ao regime
pressupõe contribuição, e não simplesmente o status de servidor estatutário.
O que se discute hoje é o grau de correlação entre o grau de contribuição e benefício.
A previdência dos servidores não é com base em capitalização individual. Há um mutualismo
→ o servidor contribui para custear os demais servidores. Por isso, não se pode dizer que o
benefício do servidor será um espelho perfeito do que ele contribuiu. Mas isso não significa
que pode haver desvinculação total entre volume de contribuições e valor do benefício.
Deve haver alguma correlação → alguma referribilidade. Em diversas ocasiões, o STF decidiu
casos concretos com base nessa ideia.
Questão: é possível a incidência de contribuição previdenciária em terço
constitucional de férias ou adicional noturno? O STF entendeu que NÃO. Não há correlação
perfeita entre o valor da contribuição do servidor e o valor do benefício a ser percebido no
futuro, pois o volume arrecadado com contribuições é utilizado para arcar com os benefícios
de todos os servidores. Mas algum grau de correlação, de referibilidade deve existir.
Portanto, não é possível contribuir sobre parcelas que não poderão ser levadas em conta na
aposentadoria. O aumento de alíquota é possível, mas não é possível instituir contribuição
sobre uma base diferente da base de benefício do futuro.
Segundo o voto do relator, o caráter solidário do sistema afasta a existência de uma
simetria perfeita entre contribuição e benefício (como em um sinalagma), enquanto a
natureza contributiva impede a cobrança de contribuição previdenciária sem que se confira
ao segurado qualquer contraprestação, efetiva ou potencial.
Isso se aplica, por exemplo, ao cargo em comissão → é transitório e, como regra, não
se incorpora à aposentadoria. Só se percebe a gratificação relativa ao cargo em comissão
enquanto permanecer exercendo o cargo. Na aposentadoria, cessa. Por isso, como não se
incorpora à aposentadoria, não pode ser obrigado a contribuir sobre o valor da gratificação
do cargo em comissão.
Em suma, a base de cálculo para a incidência da contribuição previdenciária só deve
computar os ganhos habituais e os que têm reflexos para aposentadoria.
Se a EC 103 tivesse previsto o teto dos benefícios do INSS àqueles que já eram
servidores e que já vinham contribuindo, em base superior ao teto, haveria margem para
trazer essa discussão. Se eu contribuo com base em 30.000, meu benefício não pode ficar
limitado a 5.000. Não haveria referibilidade. Por sorte, a EC 103 não trouxe previsão nesse
sentido.
• Solidariedade
Repartição do custeio entre os vinculados ao RPPS. Em todo regime mutualista, em
que há subsídio cruzado, há essa característica. Ex: servidor falece em atividade e não deixa
nenhum dependente. As contribuições por ele pagas verterão para o bolo, que terá
servidores que falecem ou se invalidem antes do mínimo necessário. Um grupo subsidiará o
outro, compartilhando valores. Em outras palavras, o custeio dos benefícios é compartilhado
por contribuições pagas por todos os servidores.
Com a EC 41/03, a solidariedade ganhou importância por conta da contribuição dos
inativos. Dizia-se que não seria justo que o servidor que contribuiu por décadas e se
aposentou continuasse a contribuir mesmo sendo inativo (aposentado ou pensionista). Mas
o STF entendeu que a contribuição é, sim, possível por conta da solidariedade → não há
correlação perfeita entre tudo que o servidor contribuiu e tudo que ele aufere a título de
benefício.
Sobre a EC 103:
A EC 41/03, se tivesse sido aplicada desde sempre, faria com que o RPPS fosse
equilibrado. Assim, na verdade, a EC 103 corrige um passivo atuarial pré-EC 41, seja pelas
regras de transição muito benéficas, seja pelas aposentadorias já concedidas sem qualquer
contribuição antes da vigência da EC 41.
A EC 103 buscou aproximar o regime entre homens e mulheres no tocante à
elegibilidade de benefícios. Discute-se o menor tempo de contribuição das mulheres é de
fato socialmente justo ou se reforça o estereótipo social, ou, se a mulher vive mais do que o
homem, por que elas devem contribuir menos para ter benefício por mais tempo? A regra se
justifica pela questão cultural da dupla jornada.
Em relação aos militares, eles agora integram um regime protetivo diferenciado, de
natureza não previdenciária. Os servidores civis não precisam mais custear esse sistema
deficitário. Por outro lado, houve a manutenção do tratamento de determinadas regras
como extensão de políticas de RH → até hoje, há regras previdenciárias que só se justificam
como política de RH. Ex: aposentadoria com menos tempo para professores se justifica não
pelo maior desgaste físico, e sim pela desvalorização geral da carreira de professor na
sociedade. Como compensação, há aposentadoria com menos tempo. Professor critica
utilizar uma regra previdenciária mais favorável para compensar um regime funcional ruim,
porque a regra perde a natureza previdenciária e passa a ser política de RH.
Por fim, foram mantidas regras de transição excessivamente benéficas. Ainda há
manutenção de regras de paridade e integralidade extintas na EC 41/03. Para os servidores
que ingressaram antes da EC 41/03, aplica-se a paridade e a integralidade normalmente.
Esse grande número de pessoas que passaram incólumes por terem ingressado no serviço
público antes da EC 41/03 acaba fazendo com que aqueles que ingressaram posteriormente
tenham que arcar com um regime mais oneroso do que o necessário. A EC 103/19 manteve
a regra de transição da EC 41/03, o que é objeto de críticas.
Normas da EC 103 que dependem de lei estadual para serem aplicadas nos Estados:
• Art. 149 → progressividade de alíquota + contribuições extraordinárias
• Novas regras de elegibilidade e cálculo de benefícios → ao contrário dos servidores
federais, em que a própria emenda já define essas regras, para E e M valem as suas
leis locais. Enquanto elas não forem editadas, vale o regramento constitucional e
infraconstitucional anterior, numa clara hipótese de ultratividade. Assim, a redação
anterior do art. 40 da CF continua a ser aplicada na íntegra ao ERJ até que haja
mudança na lei estadual.
• Inatividade e pensões militares → há necessidade de edição de lei local. Por outro
lado, já existe regramento nacional sobre o tema. Quando o Estado editar sua
legislação, ela deverá se adequar à Lei 13.954. Algumas disposições são específicas
para Forças Armadas;
• Todas as aposentadorias especiais com redução de tempo dependem de lei posterior
do Estado. Até a mudança na legislação local, continuam valendo as regras
constitucionais e infraconstitucionais anteriores (CF, Lei 10.887, lei estadual 5.260,
Constituição estadual, …). Há 2 casos em que não havia regulamentação e a pessoa
deveria ingressar com Mandado de Injunção → isso continua valendo aos E.
• Aposentadoria por invalidez → dependem de alteração no âmbito estadual.
• Déficit atuarial
Todos os regimes próprios nasceram deficitários, o que gera desequilíbrios fiscais.
Por isso, a legislação de 99 estabeleceu obrigatoriedade de o Estado criar um plano para
sanar o déficit em até 35 anos. Como “solução”, os Estados poderiam adotar a segregação
de massa ou a previdência complementar, que efetivamente reduz o gasto previdenciário do
Estado. A segregação de massa é um cálculo, é contábil, e consiste numa segregação dentro
do plano em dois grupos: (i) financeiro; (ii) previdenciário. Há uma data de corte. No ERJ, a
data de corte foi a data de instituição da previdência complementar.
Para todos os servidores anteriores, há obrigação pelo passivo pretérito (plano
financeiro). Dali para frente, há o plano previdenciário, formado pelos novos ingressantes,
sem pagamento inicial de benefícios. Há uma fase só de arrecadação. Conforme esse grupo
for se aposentando e morrendo, aí os benefícios serão pagos. Mas durante um bom tempo
haverá apenas acumulação de recursos muito maior do que o pagamento de despesas. Com
isso, obtém-se a capitalização coletiva do plano, com a acumulação do bolo para pagamento
futuro de benefícios. Esse grupo novo é todo pós EC 41/03, ele é todo equilibrado. O déficit
fica restrito ao grupo anterior. A alíquota de contribuição de ambos os grupos é a mesma,
pois não pode haver tratamento anti isonômico entre servidores. O que vai acontecer é que
o grupo novo formará um excesso de recursos.
No plano anterior ao marco temporal (plano financeiro), se os recursos não forem
suficientes para custear as despesas, o Estado deverá complementar a diferença. A
segregação de massa não muda a quantidade de recursos que o Estado deverá aportar para
cobrir o déficit, ela apenas faz com que os novos servidores não ingressem no grupo
deficitário. Assim, ela melhor identifica o grupo deficitário e prevê quando o déficit acaba.
Em outras palavras, cria uma limitação temporal ao déficit, já que o grupo novo é
superavitário. Como há um excesso novo do grupo novo, é possível encurtar a vida do grupo
antigo.
Caso concreto do ERJ → em 2016, o ERJ enfrentou uma grave crise financeira,
faltando recursos para pagar salários e benefícios previdenciários dos servidores. Uma das
liminares determinou o arresto de contas do RioPrevidência para pagar servidores ativos,
tendo como objeto a capitalização do grupo de novos servidores, integrantes do grupo
previdenciário. Ocorre que esse dinheiro é apenas para o grupo novo, ele deve ficar
segregado, sob pena de perder a sua finalidade. Não se pode misturar.
Obs.: vale ressaltar que os E e M têm apenas duas opções: (i) ou aderem à EC 103/19
ou (ii) permanecem no regime anterior. Não há meio termo.
• Contribuição patronal
No mínimo, equivalente à contribuição dos servidores (14%) e, no máximo, o dobro
da contribuição dos servidores (28%). No ERJ, está na alíquota máxima de 28%.
É despesa de pessoal e, portanto, entra no limite de gastos de pessoal da LRF. Art. 18,
LRF.
Servidor de licença sem remuneração → tem o dever de pagar a sua contribuição + a
contribuição patronal. Esse tempo é computado como tempo de contribuição para fins de
aposentadoria. A ideia é que, como esse tempo está sendo considerado para aposentadoria,
é necessário que haja contribuição cheia durante esse período. Não seria justo que o Estado
pagasse a parte patronal de um servidor que não está trabalhando. Por isso, o servidor que
não trabalha, mas tem esse tempo de contribuição computado para fins de aposentadoria,
deve contribuir de forma cheia (a sua + Estado).
No entanto, até 2017, havia uma “colher de chá'. O servidor poderia não computar
para aposentadoria por até 1 ano e, assim, não precisaria contribuir de forma cheia durante
esse período. Após 1 ano, obrigatoriamente computaria como tempo de contribuição e teria
que recolher de forma cheia. Uma lei de 2017 acabou com essa possibilidade. Esse tempo
sempre valerá para aposentadoria e tem que haver contribuição cheia.
Alguns servidores questionaram a alteração de 2017. O professor entende que é
inconveniente. O Estado não sofria prejuízo ao oferecer essa faculdade. Mas não há
inconstitucionalidade. Primeiro porque o Estado não é obrigado a conceder licença sem
vencimentos, é uma benesse. Ademais, não há violação alguma à CF. A lei de 2017 se
justifica porque o servidor em licença sem remuneração impede que o Estado preencha o
cargo porque não há vacância. Ao mesmo tempo, a pessoa não está trabalhando. Isso
acarretava falta de pessoal na Administração.
Serventuários não remunerados pelos cofres públicos (ex: cartórios extrajudiciais),
muitos ainda estão no RPPS porque são anteriores à Lei de 94 que promoveu a alteração.
Para esses, quem paga a contribuição patronal? TJ ou delegatário da serventia? É o
delegatário da serventia. Lei federal sobre cartórios + Lei estadual 3350/99.
Contribuição do servidor extraquadros e do servidor em estágio experimental → o
extraquadros (ocupa exclusivamente cargo em comissão) era vinculado ao RPPS. Uma
alteração constitucional previu que o RPPS se aplicava apenas ao servidor efetivo. O ERJ
impetrou MS por entender que a emenda era inconstitucional por violar a autonomia
federativa. O ERJ obteve uma liminar e, na sua vigência, o estado recolheu ao
RioPrevidência, e não ao INSS.
Já o servidor em estágio experimental – figura que não mais existe no ERJ – não se
confunde com o estágio probatório da CF. Era uma fase do concurso. Após uma avaliação, o
servidor poderia ou não tomar posse efetivamente como servidor, antes do que era
concursando. Por isso, como ainda não era servidor, deveria recolher ao RGPS. Mas o estado
erroneamente recolheu ao RioPrevidência, e não ao INSS.
Isso fez com que as pessoas não lograssem obter certidão de tempo de contribuição
(CTC), uma vez que essa certidão só pode ser emitida em razão de tempo de efetivo serviço
público de servidor efetivo. E, no caso, ele ainda não era servidor nesse período. A CTC não
pode ser emitida quando há erro de contribuição. Com isso, os interessados ficaram sem a
certidão de tempo de contribuição, porque o Estado estava legalmente impedido de
concedê-la, e sem o tempo de contribuição, porque o Estado não recolheu ao INSS. Isso
estava impossibilitando a aposentadoria dessas pessoas.
A solução correta, então, é a devolução da contribuição previdenciária recolhida
indevidamente ao RioPrevidência, e o Estado faz o acerto da contribuição atrasada ao INSS
com juros e multa, sem qualquer prejuízo ao servidor. Quem arcará com juros e multa é o
Estado, que deu causa ao destempo, e não o servidor.
Todo esse raciocínio se aplica também ao caso do servidor extraquadros.
AULA 2 – APOSENTADORIA
Obs.: numa prova de 1a fase da PGE-RJ, até onde enfeitar a questão, mostrando
conhecimento correlato, embora não indispensável à resposta? É sempre positivo mostrar
conhecimento mais aprofundado, desde que dentro do contexto. E não se pode esquecer de
mencionar o que é mais importante.
Professor destaca também que na 1a fase não é interessante gastar 3 ou 4 linhas
para conceituar instituto de forma muito básica numa pergunta sobre a qual a questão
tratará mais a frente. Essas linhas podem ser preciosas. Um conceito muito básico não
acrescentará muito à nota final.
É interessante mencionar, por exemplo, o que motivou o legislador a editar a lei X, a
controvérsia, o entendimento jurisprudencial anterior, …
Beneficiários
(i) o que deve ser pago no momento inicial da pensão → é o regime de fixação do
valor inicial do benefício. Há 2 regras diferentes:
(a) até a EC 41/03 → integralidade → última remuneração em atividade, o que
naturalmente gerava desequilíbrio nos regimes próprios, pois ele contribuía sobre uma base
de cálculo menor;
(b) após a EC 41/03 → média → média de todo o período contributivo do servidor
para extrair o valor inicial do benefício.Mas isso é mitigado (b.1) pela vigência do Plano Real
→ as bases de contribuição só são computadas de 94 para frente, sendo desprezado o
período anterior, e (b.2) não era a média de todas as contribuições, pois eram desprezadas
20% das menores contribuições.
(ii) definição do valor do benefício ao longo do tempo, tendo em vista a inflação
(a) até a EC 41/03 → paridade → toda vez que os servidores ativos recebessem
aumento da remuneração, esse mesmo aumento era repassado a inativos e pensionistas.
Isso gerava desequilíbrio e imprevisibilidade para fins de equilíbrio atuarial. Não há como
projetar os gastos com benefícios previdenciários no tempo.
(b) após a EC 41/03 → índices de correção definidos em lei (INPC, IPCA-E) → permite
projetar com alguma previsibilidade os valores dos benefícios ao longo do tempo.
1) Voluntária
Na redação atual da CF, há apenas uma modalidade: tempo de contribuição + idade.
Mas a redação antiga tinha uma modalidade de aposentadoria só por idade, sem tempo de
contribuição mínimo.
Antes da EC 103 (art. 40, III), a exigência constitucional era por idade (60 anos H e 55
anos M) + tempo de contribuição (35 H e 30 anos M) + 10 anos de serviço público + 5 anos
no cargo em que se dará a aposentadoria, para evitar que o servidor fique poucos anos no
cargo e logo se aposente.
A alínea “b” traz uma hipótese em que o servidor não precisa de todo esse tempo de
contribuição, desde que tenha uma idade maior (65 anos e 60 anos).
Há uma controvérsia entre a PGE e o TCE. O TCE faz o registro dos atos de
aposentadoria e, por vezes, discorda do órgão de origem. Os “proventos proporcionais ao
tempo de contribuição”, para a PGE, significam a aplicação do referido fator em relação a
todas as parcelas remuneratórias do servidor. Já o TCE entendia só sobre o vencimento base
do servidor. Em relação a todas as parcelas remuneratórias adicionais, o TCE não fazia a
proporcionalidade ao tempo de contribuição, aplicando fator 1.
Ocorre que o servidor não recebe só o vencimento base, ele recebe triênios, verbas
de representação, GEE-Led, … a proporcionalidade ao tempo de contribuição deve levar em
conta todas essas parcelas, e não só o vencimento base. Esse é o melhor entendimento por
diversos motivos: (i) origem da ideia da proporcionalidade ao tempo de contribuição →
objetivo era penalizar o servidor com aposentadoria com menos tempo do que o necessário,
estimulando que continue contribuindo por mais tempo. Essa finalidade não seria alcançada
mediante a proporcionalidade apenas com o vencimento base, que muitas vezes é uma
parcela pouco expressiva no total de remuneração do servidor; (ii) a CF fala em “proventos
proporcionais ao tempo de contribuição”, no plural, o que significa que o índice deve ser
aplicado na totalidade da remuneração do aposentado. É diferente de “provento” no
singular.
O reajuste é feito por índice de correção, não há mais a paridade com os servidores
da ativa.
A redação original da Lei 10.887 tinha escolhido o mesmo índice do RGPS para todos
os regimes próprios do país, qual seja: o INPC, a fim de uniformizar a matéria. O Estado do
RS impugnou em ADI a previsão em lei federal do índice de correção monetária a ser
aplicado aos Estados, tendo em vista a autonomia federativa. Não cabe à União escolher o
índice no regime próprio dos Estados, pois ela estaria afetando as contas públicas de outros
entes. O STF concedeu a liminar e suspendeu a eficácia do dispositivo.
Diante disso, o ERJ editou lei escolhendo o INPC. Já o Estado do RS queria manter a
sua legislação anterior → a Constituição Estadual do RS ainda tinha a paridade com os
servidores da ativa. A intenção não era manter o desequilíbrio. O Estado do RS não vinha
concedendo aumento aos servidores há muito tempo e, com isso, os inativos também não
teriam aumento. Melhor não conceder nada do que aplicar anualmente algum reajuste.
2) Compulsória
(ii) policiais civis → estavam no agente risco, hoje há um dispositivo específico para
eles. Há uma LC federal específica (LC 51/85) para aposentadoria de policiais civis servidores.
Os requisitos de idade e tempo de serviço (após a EC 20, de contribuição) são reduzidos. Há
uma aposentadoria compulsória específica para policiais civis. O STF decidiu que essa LC
federal foi recepcionada pela CF.
No ERJ, outras categorias, como agentes penitenciários e socioeducativos, queriam
aplicar a eles a LC 51/85 por analogia. Mas sempre se entendeu que isso não seria possível,
porque eles são regidos por lei própria.
Ademais, em relação aos servidores civis, a redução constitucional do tempo também
se aplica às regras de transição (ex: EC 47)? NÃO. O servidor tem a faculdade de se
aposentar mais cedo. Se exercer a faculdade, tem o benefício da redução de tempo. Mas as
regras de cálculo e atualização, não. São as do corpo permanente. Se quiser se beneficiar das
regras de transição, deverá observar os requisitos específicos da regra de transição, para os
quais não há qualquer redução, seja para professor, seja para policial.
4.3. Servidores expostos a agentes que reduzam sua saúde e integridade física
Majoritariamente pessoal da secretaria de saúde. Discussão sobre se poderia haver
LC estadual ou apenas LC federal. Até 2014, não havia LC federal. Em 2014, o ERJ editou a LC
estadual 161/14. O mesmo entendimento do Parecer 1/2012 GSK se aplica aqui → Estado
exercendo competência legislativa plena. Não há necessidade de se aplicar o RGPS por
analogia, porque aqui há lei estadual.
Por outro lado, o STF editou a SV 33, no sentido de se aplicar ao servidor, no que
couber, as normas do RGPS. A SV se aplica aos Estados que não têm lei própria até hoje de
servidores expostos à saúde e à integridade física. O ERJ tem LC própria no exercício da
competência legislativa plena, não se justificando a aplicação da Lei 8.213.
Questões:
Não é possível a contagem de tempo fictício desde a EC 20/98 (ex: servidores que
não saem de férias por necessidade de serviço não pode mais computar em dobro), por
meio do art. 40, p. 10, CF. Mas a PGE entende que para o período aquisitivo de férias não
gozadas até a EC 20/98 continua a valer a possibilidade de contagem em dobro do tempo
fictício, ainda que o servidor permaneça em atividade e ainda tenha como usufruí-las.
Proteção do direito adquirido.
Art. 40, p. 2º, CF.. A CF fala na limitação ao teto de benefícios do RGPS. Mas a
redação anterior, ainda vigente no ERJ, é que os proventos de inatividade não poderiam
exceder a do cargo em que se deu a aposentadoria. Ninguém poderia ganhar mais
aposentado do que em atividade. Lembrando que o servidor pode optar por contribuir sobre
uma base de cálculo maior, de modo a elevar a média. Se a média acabar ficando maior do
que a remuneração no cargo em que se deu a aposentadoria, ele não poderá pedir a
restituição das contribuições já pagas.
Essa previsão vale para os militares? O militar, quando sobe para uma determinada
patente, vai para inatividade com proventos maiores. Isso não viola o art. 40, p. 2º? Antes da
EC 103, a CF tratava dos militares em área própria com algumas remissões ao art. 40 como
um todo. Por isso, sempre se defendeu que apenas os dispositivos do art. 40 expressamente
mencionados valeriam para os militares. Os demais não se aplicariam. Mas a jurisprudência
era casuística. Ex: contribuição inativos e pensionistas. É um dispositivo que não está
expressamente referido na parte da CF sobre militares.
Mas o STF em ADI determinou a incidência desse dispositivo que trata da
contribuição de inativos e pensionistas, a despeito da inexistência de referência expressa na
parte da CF que trata de militares. Com base nisso, o ERJ sustentou que outros dispositivos
do art. 40 também deveriam ser aplicados aos militares, como aquele que veda a contagem
de tempo fictício, o que acabou prevalecendo. Por outro lado, a vedação do art. 40, p. 2o,
em geral não tem sido aplicada pela jurisprudência aos militares.
Sobre a EC 103:
A EC 103 perdeu a oportunidade de expurgar da previdência tudo que não é
previdência, mas sim matéria de recuros humanos. Ex: aposentadoria dos professores com
tempo reduzido não tem justificativa previdenciária. Não há mais desgaste físico em razão
do uso de giz, os quadros de escrever são diferentes.
Também não se corrigiu a distinção entre homem e mulher. Não há justificativa
previdenciária para a mulher se aposentar mais cedo. Na verdade, sob o ponto de vista
atuarial, as mulheres deveriam contribuir mais porque vivem mais.
Regras de transição excessivamente benéficas.
Leis Federais
• Possibilidade de a pensão por morte ser inferior ao salário mínimo (art. 40, p. 7o).
Só há exigência de ser no mínimo igual ao salário mínimo se for a única fonte formal
de renda;
• Estado-membro tem o dever de tratar de forma diferente a morte do policial em
razão do exercício do serviço;
• LC sobre organização e funcionamento regime próprio (art. 40, p. 22);
• Art. 3º, EC 103 → direito adquirido → preenchimento anterior à EC 103 dos
requisitos para o gozo do benefício de acordo com o regramento anterior. É o
tempus regit actum. Súmula 340, STJ. Aplica-se a lei vigente ao tempo do fato
gerador, ou seja, do preenchimento de TODOS os requisitos.
Obs.: até 1999, existia a previsão de pensão para filhas maiores de idade enquanto
permanecessem solteiras. Já para os homens, o benefício cessava uma vez atingida
determinada idade. A pensão subsiste para os óbitos ocorridos até 1999. Imagine-se um
óbito em 1995, quando a filha era menor de idade. Ela vira maior de idade quando o
benefício já tinha sido revogado. Pode o RioPrevidência cortar o benefício ao fundamento de
que ela tinha pensão enquanto era menor e, como passou a ser maior, não tem mais direito
ao benefício desde 1999?
A jurisprudência entendeu que NÃO, tendo em vista o tempus regit actum, no
sentido de que a lei que rege o benefício é aquela vigente ao tempo do óbito. A lei que rege
o benefício trata todos os aspectos do benefício. No caso, o falecimento ocorreu em 1995,
época em que havia previsão de que haverá pagamento a filha maior. O que importa é a
data da ocorrência do fator gerador. O fato gerador não é a maioridade, e sim o óbito.
Aplica-se todo o regramento vigente ao tempo do óbito, inclusive a perpetuidade do
pagamento à filha solteira.
Regramento infraconstitucional
Regras de cálculo
Regras de fixação do valor inicial → 100% da última remuneração do servidor ativo
ou dos proventos do servidor inativo, ou 100% da última remuneração até o limite do RGPS
e, sobre o excedente, receberá 70%. Note-se que aqui não há cálculo de média. Mas a
média pode ter um impacto indireto no valor da pensão, no caso dos servidores inativos,
pois aí a pensão será calculada a partir dos proventos, que por sua vez são calculados por
contribuição. Mas isso é um impacto apenas indireto. A média não entra diretamente no
cálculo da pensão.
Critérios de reajuste → paridade com os servidores ativos ou correção de acordo com
índice. O ERJ por muitos anos não observou o dever de paridade para com os pensionistas.
3 grupos de fatos geradores:
• Fato gerador antes da EC 41 (servidores que faleceram antes da EC 41) → aplica-se o
regime anterior→ reajuste por paridade com os servidores da ativa e cálculo inicial
100% da remuneração.
• Servidores que faleceram após a EC 41 → aplica-se o regime da EC 41 → 100% da
remuneração até o teto do RGPS + 70% do que recebeu. O reajuste é via índice
aplicado em lei (no caso do ERJ, é o INPC).
• Servidores que ingressaram no serviço público após a instituição da previdência
complementar, a pensão estará limitada ao teto do RGPS. Todo regime de
previdência complementar se dá após a EC 41. Se o servidor ingressou na previdência
complementar, ele obviamente ingressou após a EC 41. O parâmetro aqui é a data do
ingresso no serviço público, pois ele passa a estar sujeito a um regime novo. Ele não
tem o mesmo RPPS puro do servidor que ingressou antes da criação da previdência
complementar.
Lei estadual de Benefícios, em seu art. 8º, diz que a soma de todos os benefícios
previdenciários não poderá ultrapassar o teto constitucional.
Regras de elegibilidade
Definição de quem é beneficiário. Aplica-se o art. 5º da Lei 9.717/98? NÃO. Os
beneficiários são aqueles definidos pelo Estado, e não pelo RGPS.
Os beneficiários estão no art. 14 da Lei estadual 5.260, com alteração da Lei 7628,
inspirada numa alteração no RGPS, com vistas ao equilíbrio atuarial. Basicamente, os
beneficiários são os mesmos. Antes, havia previsão no art. 14, I, de filhos até 21 anos ou até
24, se universitários, mas agora o inciso I só prevê até 21 anos. É o inciso IV que traz os filhos
de até 24 anos.
Essa mudança topográfica é relevante, porque (i) a existência de uma classe mais
alta exclui os da classe mais baixa (p. 1º). Assim, havendo dependente em uma classe, o da
classe subsequente não tem direito à pensão; (ii) os postulantes devem comprovar a
dependência econômica em relação ao servidor falecido, mas no inciso I a dependência é
presumida (tecnicamente, presunção relativa, mas pela jurisprudência é presunção
absoluta).
Há, ainda, uma possível outra classe → menor tutelado, menor sob guarda enteado,
menor tutelado equiparam-se a filho mediante prova documental. Há uma controvérsia
quanto ao menor sob guarda, porque o filho pode receber a pensão até 21 ou 24, enquanto
a guarda cessa aos 18 anos. Por isso, o ERJ passou a entender que a pensão cessa aos 18 (e
não aos 21), porque é quando cessam todos os efeitos da guarda judicial. Hoje, com a nova
redação dada pela lei de 2017, ficou expresso que a pensão cessa aos 18 anos.
Casos controvertidos
Até 1999, havia pensão para filhas solteiras independentemente da idade. Isso é
constitucional, considerando o princípio da isonomia? Há quem entenda que NÃO, pois a CF
trouxe a igualdade completa entre filhos homens e filhas mulheres. A PGE-RJ sustentou em
defesa que, em razão da equiparação entre casamento e união estável, a união estável
também deveria acarretar a perda do benefício. Uma vez casada ou contraída a união
estável, cessa a dependência econômica. A ideia é que a união estável se equipara ao
casamento para todos os fins, inclusive corte de benefício.
Filha maior trans → filha foi habilitada como mulher e fez transição como homem. As
Forças Armadas cortaram o benefício, mas ela argumentou que, para esse fim específico,
deveria prevalecer o sexo biológico. O juízo concluiu que deve prevalecer o gênero com o
qual o filho se identifica, tendo em vista a dignidade da pessoa humana. Portanto, o
benefício deveria ser afastado.
E o filho que faz a transição para filha? Imagine-se que o filho fez a transição antes de
completar 18 anos. O mesmo raciocínio vale aqui.
Servidor ingressou no concurso como homem e fez a transição para mulher. Pediu a
aposentadoria seguindo os requisitos para mulheres. Qual a solução? Havendo mudança de
registro, sendo considerado oficialmente indivíduo do sexo feminino, deve ser tratado
como mulher. Isso ganha ainda mais importância com o entendimento recente do STF de
que basta a manifestação volitiva para a pessoa mudar de sexo. Professor entende que não
deveria bastar a manifestação, deve haver um procedimento formal mais sério, a fim de
evitar fraudes.
Legado → o servidor sabe que não tem dependentes e quer deixar a pensão com
alguém do seu apreço. O ERJ ajuizou ADI no STF questionando a constitucionalidade das leis
estaduais que permitiam ao servidor escolher livremente a quem se destinaria a pensão,
como se fosse direito patrimonial, o que não é o caso. O ERJ teve sucesso e os dispositivos
foram julgados inconstitucionais. O STF entendeu que a CF prevê a pensão aos dependentes
econômicos, e não a qualquer pessoa. O ERJ cortou as pensões já concedidas há mais de 5
anos da decisão do STF. O ERJ argumentou que vício de inconstitucionalidade não
convalesce pelo tempo. A lei nasce inconstitucional. O ERJ não pode ser obrigado a manter o
pagamento de benefícios inconstitucionais.
Obs.: O professor critica decisões judiciais criativas que criam direitos previdenciários
não previstos em lei, pois geram desequilíbrio atuarial com impactos desconhecidos ao
erário. Há que se observar os impactos financeiros das decisões, numa abordagem
pragmática. Nesse sentido, é de se criticar a possibilidade de mudança de sexo e o
reconhecimento da multiparentalidade por mera declaração, independentemente de
registro público. Criticam-se, ainda, os juízes que afastam regras previdenciárias com base na
dignidade da pessoa humana.
Patrocinador
Benefício programado
Regime contratualizado
• CRFB/88
Art. 40, p. 14-16, CF → a EC 103 agora estabelece que a previdência complementar é
um dever, uma obrigação do ente. Até então, era uma faculdade. Para os que quisessem,
poderiam limitar os benefícios ao teto do RGPS. A EC 103 dá o prazo de 2 anos para efetivar
instituição de previdência complementar, sob pena de sofrer as sanções do art. 167, CF.
EC 20 estabelecia que cabia a cada Poder a iniciativa de instituição de previdência
complementar a seus servidores. Com a EC 41, a iniciativa passou a ser do Poder Executivo.
O p. 14 prevê que os benefícios do RPPS devem ficar limitados ao teto do RGPS, a fim
de que não haja aumento de gastos de previdência. O objetivo da previdência
complementar é diminuir gastos. A EC 103 trouxe isso muito claramente na nova redação do
p. 15.
p. 15 diz que o plano de benefícios será obrigatoriamente na modalidade
contribuição definida. A CF fez essa escolha. Na redação anterior, a previdência
complementar deveria ser gerenciada por entidade pública. Agora, pode ser por entidade
fechada ou aberta.
O objetivo da previdência complementar era reduzir o déficit previdenciário. O
modelo de contribuição definida pode ter déficit, mesmo porque é similar ao regime
próprio. O objetivo do constituinte reformador ao optar pelo modelo de contribuição
definida era eliminar a responsabilidade do Estado por cobrir o déficit, de modo que o
Estado não mais contribuísse. É uma opção de prudência fiscal.
Mas para atender às forças antagônicas do Parlamento, criou-se um modelo em que
uma entidade pública gerenciaria a previdência complementar. “Era uma entidade fechada
de natureza pública” . As entidades fechadas de previdência complementar somente
poderiam ser fundações ou sociedades civis, figura esta que não mais existe no CC/02. Logo,
só poderia ser fundação. No caso da entidade pública gestora da previdência fechada, essa
entidade deveria ser fundação pública PJ de direito público ou poderia ser fundação pública
PJ de direito privado?
Entendeu-se que o regramento da previdência complementar era incompatível com
a de uma fundação PJ de direito público, que é muito similar a uma autarquia. O sistema da
previdência complementar é fiscalizado por uma entidade federal e pode ser liquidado por
essa entidade. Não há como compatibilizar essas características com a personalidade jurídica
de direito público. Por outro lado, não há como submeter a uma PJ totalmente de direito
privado porque a CF exige natureza pública. Assim, deve-se adotar modelo de fundação
pública PJ de direito privado e, para conciliar com a natureza pública, os três primeiros entes
a criarem previdência complementar previam (i) controle por Tribunais de Contas; (ii)
exigência de concurso público para ingresso de pessoal; (iii) necessidade de fazer licitação.
Essa exigência de se ter uma entidade pública de previdência complementar foi
superada pela EC 103. A previdência complementar pode ser regida por entidade aberta ou
fechada. A entidade aberta é aquela que existe, por exemplo, nas instituições financeiras,
sendo de livre acesso a qualquer um. Já a entidade fechada administra a previdência
complementar somente de um grupo (ex: empregados do BNDES, empregados da Coca-
Cola). A entidade aberta poderá administrar planos específicos para um grupo determinado
de pessoas (ex: servidores do BNDES).
Obs.: o art. 33 da EC 103 exige a edição de lei que regulamente a relação entre
entidade aberta e a Adm Pública para que os entes possam se valer da previdência
complementar aberta. Por ora, continua a valer a obrigatoriedade de entidade fechada.
p. 16 → Em relação ao “servidor antigo”, é necessária a sua prévia e expressa opção
para que se submeta à previdência complementar,. Existia uma diferença entre o ERJ e a
União no tocante à conceituação do termo “servidor antigo”, o que será visto mais à frente.
• Leis Complementares
Há alíquota básica (8,5%) podendo o participante optar por uma alíquota maior para
receber um benefício maior no futuro. Pode também contribuir menos, mas aí o Estado
contribuirá na mesma proporção do participante, porque o Estado não pode contribuir mais
do que o participante.
Plano de benefícios
Arts. 20ss. Não há obrigatoriedade de todos os servidores do Estado terem o mesmo
plano de benefícios. Podem existir planos específicos, considerando as peculiaridades de
cada carreira, observados os direitos mínimos previstos em lei. O plano pode trazer uma
regra de custeio diferente para o benefício não programado ou para o fundo de cobertura da
longevidade, por exemplo.
No caso do RJ, existe uma pré-definição tanto para os benefícios de pensão quanto
para os benefícios de aposentadoria (programada ou não programada) → exige-se a
aposentadoria pelo RPPS anteriormente. Para pensão isso resolve um problema, na medida
em que define quais são os beneficiários da pensão. Os beneficiários da pensão no regime
complementar precisam ser os mesmos da pensão no regime próprio?
NÃO. O plano pode definir um grupo diferente de beneficiários. Isso impactará um
custeio, porque, a depender do rol de beneficiários, acabará por aumentar o custo do
benefício não programado. A consequência será a diminuição do valor do benefício
programado. O ERJ optou por vincular sob a forma de existência de prévio benefício no
RPPS. Quem não é beneficiário no regime próprio também não pode ser incluído no regime
de previdência complementar. O mesmo vale para a aposentadoria complementar. Só se
poderá aposentar na previdência complementar quando se aposentar no RPPS.
E se o participante for cedido a outro ente da federação? Quem pagará a
contribuição do patrocinador? DEPENDE. A cessão pode se dar com ônus para a origem ou
com destino, de modo que o pagamento da contribuição do patrocinador seguirá essa regra
geral. Caberá, então, ao ente que arcar com o ônus da cessão.
E se o participante estiver de licença? Dependerá do tipo de licença. Nas licenças sem
remuneração (ex: interesse particular do servidor), o servidor arcará com a sua contribuição
e, quanto a do patrocinador, há a opção do autopatrocínio ou de se tornar um participante
sem patrocínio. Qualquer participante sem vínculo presente com a Administração não terá a
contrapartida do Estado, porque o Estado não terá a prestação do serviço por esse servidor.
No caso da licença gestante, por outro lado, trata-se de licença remunerada, de
modo que o Estado permanece responsável pela contribuição do patrocinador.