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REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA

De acordo com a Constituição Federal promulgada em 1988 (CF/88), a previdência


social é organizada por meio do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Nada obstante,
aos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) é possibilitado criar seu
próprio regime previdenciário para os servidores públicos titulares de cargo efetivo, os
concursados admitidos pelo regime estatutário, o chamado Regime Próprio de Previdência
Social (RPPS).

A reforma da previdência proposta pelo Governo Federal possui diversos objetivos. O


mais claro deles, talvez, fundamenta-se em aproximar o regime jurídico dos servidores públicos
ao regime jurídico dos trabalhadores da iniciativa privada.

Buscando alavancar a Reforma da Previdência, o Governo Federal expõe os servidores


públicos como privilegiados, insinuando que eles teriam vantagens indevidas e excessivas em
relação aos demais trabalhadores, para apontar que tais “privilégios” seriam a principal causa
do déficit da previdência social.

Contudo, será que esse diagnóstico está correto, sendo os servidores públicos
indistintamente os “grandes vilões”, responsáveis pelo déficit da previdência?

Em verdade, os Regimes Próprios de Previdência Social costumam ter regras mais


favoráveis do que as dos trabalhadores da iniciativa privada, que são filiados ao Regime Geral
de Previdência Social.

De qualquer forma, a reforma da previdência do servidor público é tendência verificada


nas últimas décadas.

Em 1993, a Emenda Constitucional 03 permitiu a adoção do paradigma contributivo, o


que ocorreu efetivamente a partir do ano de 1997 para os servidores federais, ou seja, para ter
direito à aposentadoria, os servidores deveriam pagar as respectivas contribuições
previdenciárias. Até então, era um regime que não possuía caráter contributivo, não havia
qualquer contrapartida.

Em 1998, a Emenda Constitucional 20 definiu a idade mínima em sessenta anos de idade


para os homens e cinquenta e cinco para as mulheres, além de substituir o tempo de serviço por
tempo de contribuição como critério para a aposentadoria.
No ano de 2003, através da Emenda Constitucional 41, a aposentadoria de valor igual à
última remuneração foi retirada do texto constitucional. Dessa forma, a partir de 2004, a lei
ordinária dispôs um novo cálculo das aposentadorias para os servidores ingressados após 2003
(o valor do benefício é calculado sobre as remunerações incididas durante o desempenho da
função).

Finalmente, em 2013, com a entrada em funcionamento do Regime de Previdência


Complementar do servidor federal, se extinguiu o tratamento previdenciário diferenciado dos
servidores civis e dos trabalhadores da iniciativa privada no que diz respeito ao cálculo do valor
do benefício de aposentadoria, salvo os que possuíam direitos adquiridos, bem como os que se
enquadravam nas regras de transição.

Entretanto, essa convergência não abarcou os militares, os quais passaram ilesos pelas
reformas previdenciárias até então realizadas, em verdade, o regime dos militares passou por
pequenas mudanças, por meio de legislação infraconstitucional.

Nessa esteira, cabe então demonstrar que enquanto o custo dos servidores civis vem
diminuindo, o dos militares vai em sentindo oposto, conforme se verifica “Entre 1995 e 2002,
o crescimento real do gasto público federal com pessoal ativo foi de apenas 2,1% a.a.,
enquanto o gasto com inativos cresceu 2,4%. Ao desagregar esse número, constata-se, porém,
que os gastos com inativos civis e militares cresceram a taxas muito diferenciadas entre si,
de 0,9% a.a e 5,6% a.a., respectivamente”1.

Ademais, segundo dados atuais da revista Exame, ano a ano o déficit na previdência dos
militares vem aumentando, até novembro de 2018 subiu 12,85% em relação ao mesmo período
de 2017, passando de R$ 35,9 bilhões para R$ 40,5 bilhões. Nesse período, as receitas somaram
R$ 2,1 bilhões, enquanto as despesas, alcançaram R$ 42,614 bilhões. Enquanto isso, o déficit
dos servidores civis da União somou R$ 43 bilhões até novembro de 2018, alta de 5,22% em
relação a igual período de 2017. Já o rombo no INSS subiu 7,4% na mesma base de
comparação.2

Portanto, frente ao exposto, se observa que os servidores federais que realmente mantêm
um tratamento diferenciado são os militares, bem como foi a categoria que mais ajudou a inflar

1
GIAMBIAGI, F. & CASTRO, Lavinia B. Previdência Social: Diagnóstico e Propostas de Reforma. In:
Revista do BNDES, v.10, nº 19. Rio de Janeiro: BNDES, jun. 2003.
2
Ver “Rombo da previdência de militares cresce mais que déficit do INSS”. Disponível em
https://exame.abril.com.br/economia/rombo-da-previdencia-de-militares-cresce-mais-que-deficit-do-inss/ Acesso
em 28/06/2018.
o déficit da previdência, nada obstante, os quais são poupados dos ajustes na nova reforma da
previdência proposta pelo Governo Federal.

Para os militares, foi enviado um texto em separado, o projeto de lei 1.645, de 2019, o
qual altera o sistema de aposentadoria e pensão de militares, policiais militares e bombeiros,
em contrapartida, reestrutura a carreira das Forças Armadas.

De tudo, têm-se que nosso atual sistema de previdência é repleto de erros, injustiças e
privilégios, contudo, o servidor público civil não é o “grande vilão” dessa história, conforme
alguns setores tentam estigmatizar. Muitos erros e privilégios já foram corrigidos com as
reformas realizadas, de qualquer maneira, muito ainda resta a fazer.

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