Você está na página 1de 2

Opinião

O mito da
austeridade
Salvar

comentáriostop o

Edição Impressa
Publicado 01:15 | nov. 11, 2021 Tipo Notícia Por João Paulo Pimentel

Foto: Acervo Pessoal João Paulo Pimentel

Nos últimos anos, a palavra austeridade tem ocupado o centro do


debate político, e com ela sua encarnação prática: as "reformas".
Durante o governo Temer, foram aprovadas a reforma trabalhista
e a emenda constitucional do Teto de Gastos, que reduziram
direitos sociais e congelaram as despesas do governo por 20 anos.
Continuando essa agenda econômica, o governo Bolsonaro
conseguiu realizar, até agora, pelo menos duas grandes investidas:
a reforma da previdência - endurecendo as regras para a
aposentadoria - e um ajuste fiscal embutido na chamada PEC
Emergencial. Agora, está em jogo a Reforma Administrativa (PEC
32). Sob a justificativa de uma modernização nas relações de
trabalho no setor público, a proposta estabelece o fim do regime
jurídico único e a criação de novos vínculos para os futuros
servidores. O que espanta nessas mudanças é a presença de
dispositivos que enfraquecem a independência e a segurança para
a atuação do servidor.
Os defensores dessa reforma falam ainda em aliviar os gastos
públicos e combater privilégios, mas, ironicamente, esquecem que
ela não atinge aqueles que realmente possuem altos ganhos, como
magistrados e o alto escalão militar. Caso seja aprovada, a
qualidade e a impessoalidade no serviço público serão
comprometidas, favorecendo o patrimonialismo e a corrupção.

Após cinco anos de reformas, a desigualdade aumentou, o


desempregou e a informalidade dispararam, e o Brasil voltou ao
mapa da fome. É preciso rever esse modelo que demoniza o gasto
público e mudar o debate das despesas para as receitas, ou seja,
discutir como o país pode arrecadar mais e com justiça social. Até
mesmo o FMI tem criticado as políticas de austeridade,
defendendo maiores gastos direcionados aos mais vulneráveis. No
nosso País, entretanto, ocorre o oposto: o Estado vem sendo
reduzido tendenciosamente, penalizando os mais pobres.

Vivemos o pesadelo de uma austeridade parcial, hipócrita, que


ataca exclusivamente direitos sociais e serviços públicos, mas
mantém privilégios para políticos e garante robustas isenções
fiscais para quem já lucra bastante.

Essa notícia foi relevante pra você?


Disponível em: https://mais.opovo.com.br/jornal/opiniao/2021/11/11/o-mito-da-
austeridade.html

Você também pode gostar