Você está na página 1de 122

ANÁLISE DO CONTEXTO

ECONÔMICO E SOCIAL
BRASILEIRO
AULA 1

Prof. Itamir Caciatori Junior


CONVERSA INICIAL

A dinâmica da conjuntura econômica brasileira

Antes de iniciar a análise dos indicadores de forma detalhada neste


estudo, é importante situarmos em qual posição econômica e política se
encontram algumas das principais economias do planeta. Baseamos a
exposição da situação dessas economias no contexto histórico-econômico pelo
qual elas atravessaram e vêm atravessando.
Com essa visão histórica, os pontos selecionados para análise desse
contexto são: (i) fatores econômicos atuais da economia brasileira; (ii) fatores
sociais do Brasil na atualidade; (iii) fatores políticos e suas implicações
econômicas no Brasil; (iv) fatores tecnológicos brasileiros; e (v) fatores da
conjuntura internacional.

CONTEXTUALIZANDO

Como um economista analisa a situação dos países para emitir seus


pareceres? Quais são as variáveis mais importantes que deve levar em
consideração? Quais foram as principais transformações recentes da economia
brasileira e suas implicações? Como estão sendo realizados os programas
sociais brasileiros na atualidade e quais suas implicações? Como anda a
situação da inovação e da tecnologia na economia brasileira?
Estas e outras perguntas são objeto de investigação no decorrer desta
etapa. A análise econômica não é vista de forma centralizada, uma vez que é
dependente de diversos critérios e fatores dos países analisados. Assim,
buscaremos interligar aspectos econômicos, sociais, políticos e da conjuntura
para fornecer um cenário útil às nossas reflexões.

2
TEMA 1 – FATORES ECONÔMICOS

Créditos: Hyejin Kang/Shutterstock.

Apesar do tempo passado, um dos principais fatores econômicos que


marca a economia atual é a estabilização obtida com o Plano Real, responsável
pela queda da inflação no país após várias tentativas fracassadas desde o início
dos anos de 1980.
Mais atualmente, os governos Michel Temer e Jair Bolsonaro adotaram
uma política ortodoxa-liberal, com a implementação de reformas e outras
medidas que atestam a adoção dessa política. A liberação de saques de até R$
500,00 nas contas ativas e inativas do FGTS e do PIS/PASEP, por exemplo,
alcançou efeitos marginais e com pouca relevância para o crescimento
econômico brasileiro.
As medidas adotadas nesses governos visam diminuir o papel do Estado
na economia e compensar essa redução com o aumento da participação da
iniciativa privada. Com isso, gerou-se a ideia de que a recessão é algo inevitável
e um remédio amargo para o passado de falta de controle fiscal e dos volumes
de gastos do Estado (Oreiro; Paula, 2021). Para os autores,

As políticas de austeridade fiscal são inspiradas na hipótese de ajuste


fiscal contracionista, segundo a qual uma contração fiscal seria capaz
de aumentar a confiança do setor privado e estimular novas decisões
de consumo e investimento por meio de um efeito de crowding in sobre
decisões privadas de gasto. (Oreiro; Paula, 2021)

Porém, esses autores ressaltam que tais iniciativas carecem de respaldo


empírico e metodológico adequados, sendo apenas um reflexo da correlação em
vez da causalidade das variáveis adotadas, o que realmente impactaria a

3
economia. Outro fator é a falta de confiança do empresariado nas perspectivas
de aumento da demanda agregada. Essa desconfiança é derivada dos planos
de ajuste fiscal do governo, o que não contribui para tal demanda e,
consequentemente, reduz as expectativas de lucros por grande parte dos
empresários.
Oreiro e Paula (2021) citam que, apesar da conclusão de algumas
reformas, estas não possuem efeito de longo prazo na economia; pelo contrário,
reformas como a da previdência podem causar efeito contracionista no curto
prazo. A reforma trabalhista, por sua vez, aumentou a precarização das relações
de trabalho, com o aumento de trabalho sendo prestado via contratos com
pessoas jurídicas, troca de trabalho formal pelo temporário e a terceirização.
Quanto à abertura comercial, esta demanda investimentos e outras iniciativas
(por exemplo, maior apoio à inovação e estímulo à P&D). De outra forma, essa
abertura pode expor a economia brasileira à agressiva competição internacional.

TEMA 2 – FATORES SOCIAIS

Créditos: Light Spring/Shutterstock.

As transformações sociais relativas ao nível de emprego no Brasil não


passam apenas pelos próprios indicadores de desemprego. A questão é mais
delicada. A precarização dos tipos de trabalho, pessoas laborando fora do
regime CLT por conta própria e abrindo empresas para prestar serviços como
pessoa jurídica (fenômeno da pejotização) constituem aspectos a serem
considerados quando analisamos os fatores sociais de forma mais ampla.
O aumento do desemprego afeta também as pessoas que estão no
mercado de trabalho, uma vez que estas auferem benefícios de programas
públicos que dependem da massa salarial de trabalhadores vinculados ao
mercado formal. Essa massa salarial é aquela contratada via carteira assinada
e que depende, por exemplo, dos benefícios da Previdência Social, a qual

4
passou a ter problemas de financiamento a partir da década de 1990 (Lacerda,
2018).
O autor afirma que os gastos crescentes com benefícios não estão sendo
suficientemente compensados pela arrecadação das contribuições de
empregados e empregadores. Por exemplo, de 1997 a 2010 ocorreram déficits
crescentes na Previdência Social, mesmo com a destinação de parte dos
recursos da seguridade social para a previdência. Esses déficits se devem a dois
fatores principais: o crescimento da despesa e o fraco desempenho da receita.
Isso implicou a necessidade de reformas e mudanças, como ocorreu em 2022,
quando foram realizadas mudanças no sistema de previdência.
Além disso, no ano de 2015 foram realizadas mudanças em substituição
ao fator previdenciário. Com elas, foi inserido o fator 85/95 Progressiva, que
considera a soma da idade com o tempo de contribuição. Assim, para que os
trabalhadores tenham direito a receber o benefício integral, a soma deve resultar
em 85 para mulheres e 95 para os homens. A alteração trazida por esse fator
fez com que os trabalhadores necessitem permanecer por mais tempo na ativa
para receber a aposentadoria integral quando completar o período exigido para
isso, mesmo sendo mais idosos e com menos condições de saúde para
trabalhar.
A pejotização, por sua vez, implica a contratação de uma pessoa jurídica
(PJ) pela empresa em seu quadro de funcionários. Em grande parte das vezes,
a inserção de empresas no quadro de trabalho visa eximir essas organizações
dos direitos trabalhistas, como FGTS, férias e horas extras. Os encargos e
custos da manutenção do contrato de trabalho são, consequentemente,
repassados ao funcionário, que fica responsável pelo pagamento dessas
obrigações via emissão de notas fiscais à empresa contratante.
Porém, apesar de a contratação nesses moldes não permitir os mesmos
requisitos de uma relação formal de trabalho, como subordinação e
pessoalidade, isso acaba ocorrendo nas empresas que adotam a pejotização.
Por isso, a legislação trabalhista visa reconhecer o vínculo a partir do momento
em que esta se torna uma relação de trabalho comum, com a cobrança de metas,
horários e desempenho do trabalhador, por exemplo.
Somada a esses fatores, em 2017 entrou em vigor a reforma trabalhista,
com alteração em mais de 200 itens em relação à Consolidação das Leis de
Trabalho que estava em vigor. As principais mudanças alcançaram os regimes

5
de contratação, que tiveram o acréscimo de novas modalidades, as quais são
marcadas pelo trabalho intermitente e pelo home office (teletrabalho). A criação
da carteira de trabalho digital e o término da obrigatoriedade da contribuição
sindical foram outras modificações trazidas por essa alteração.

TEMA 3 – FATORES POLÍTICOS

Créditos: Inamar/Shutterstock.

Neste tópico serão descritos os três últimos governos que ocorreram no


Brasil e seus pontos fortes e fracos em termos das políticas econômicas
adotadas. O tópico 3.4 é uma complementação do Tópico 1, que discutiu a
situação econômica do Brasil na atualidade.

3.1 O governo Fernando Henrique Cardoso

Antes de assumir a Presidência da República, Fernando Henrique


Cardoso (FHC) foi ministro da Fazenda no governo Itamar Franco, período
durante o qual organizou o Plano Real. Implementado em 1º de julho de 1994,
foi um plano de estabilização responsável pelo controle da inflação no Brasil
após décadas de descontrole. Outras iniciativas haviam sido realizadas durante
os anos 1980, porém sem sucesso como o Plano Real. FHC foi presidente entre
1995 e 2002.
Dessa forma, os principais méritos de seu governo foram o controle da
inflação e a eliminação da cultura inflacionária com seus múltiplos mecanismos
de indexação. Porém, em razão de desequilíbrios gerados no lado fiscal e nas

6
contas externas, o governo FHC não conseguiu gerar taxas de crescimento
adequadas quando comparadas às de países em desenvolvimento. Com isso, a
economia sofreu o impacto de altas taxas de juros, profundas incertezas e baixas
taxas de crescimento (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Junior, 2016).
Os autores também pontuam as crises internacionais do período – por
exemplo, a mexicana (1995), a asiática (1997) e a russa (1998) – como fatores
que prejudicaram o desempenho macroeconômico do governo FHC. Aliados a
essas crises, ocorreram problemas fiscais, baixas taxas de investimento e o
impacto do custo-Brasil. Como pontos positivos, apontam o processo de reforma
do Estado, o processo amplo de privatização, a reforma e fortalecimento do
sistema financeiro e a introdução de programas de transferência de renda, como
Bolsa-Escola, Vale Gás e Bolsa-Alimentação, além de melhorias nos indicadores
sociais e na distribuição de renda (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Junior,
2016). Esse último processo iria se acentuar ainda mais no governo seguinte.

3.2 O governo Lula

O governo de Luís Inácio Lula da Silva, que durou de 2003 a 2010, ocorreu
em diferentes fases (Gremaud; Vasconcellos; Toneto Junior, 2016). A primeira
foi a estabilização do quadro econômico oriundo do governo FHC e se baseou
em um tripé macroeconômico: metas de inflação, superávit primário e taxa de
câmbio flutuante. As melhorias geradas por esse tripé foram fortalecidas com o
cenário macroeconômico mundial, que ajudou a gerar crescentes superávits
externos e valorização cambial.
No primeiro governo Lula também foram realizadas diversas reformas,
como a do mercado financeiro, que propiciou o aumento do crédito e um bom
funcionamento do mercado financeiro. Além disso, esse governo também
propiciou condições para melhor distribuição de renda, fundamentada com base
nas políticas sociais adotadas nos primeiros quatro anos.
Gremaud, Vasconcellos e Tonato Junior (2016) Click or tap here to enter
text.reforçam que o segundo mandato foi baseado na ampliação das taxas de
crescimento, com políticas públicas para incrementar o investimento em
infraestrutura e a retomada de investimentos privados. O foco dos investimentos
privados foi na consolidação e crescimento de grandes grupos econômicos. Os
fatores facilitadores do crescimento foram impactados pela crise internacional
que ocorreu no período do segundo governo em 2008.
7
Porém, esse período também se caracterizou pela forte intervenção do
Estado na economia, reforçada pela ampliação da carga tributária e maior
intervencionismo no direcionamento dos investimentos (Gremaud; Vasconcellos;
Tonato Junior, 2016). As taxas de investimento permaneceram abaixo de 20%
do PIB, consideradas baixas pelos autores, ocasionadas pela perda de
dinamismo dos ganhos de produtividade que podem ter sido gerados pelo
modelo fortemente dependente do Estado. Assim, a retomada do crescimento
foi temporária, sem um crescimento sustentável, dependente das maiores taxas
de investimento e ganhos de produtividade.

3.3 O governo Dilma Rousseff

Em continuidade do segundo mandato de Lula, o governo de Dilma


Rousseff foi marcado por um baixo nível de desenvolvimento econômico, com
crescimento do PIB abaixo de 2,2% a.a. e taxas de inflação próximas do limite
superior das metas (Gremaud; Vasconcellos; Tonato Junior, 2016). Os autores
também citam as opções de política econômica adotadas durante o governo e a
frágil recuperação da crise mundial como agravantes para esse cenário.
Dessa forma, visando conter a aceleração inflacionária ocorrida no
governo anterior, o governo Dilma foi marcado, inicialmente, pelas tentativas de
controle da aceleração inflacionária. Com o tempo, ante um baixo crescimento
econômico, foram tomadas medidas para obtê-lo a qualquer custo por meio de
políticas para promoção da demanda. Aliado a isso, adotaram-se maior
intervenção cambial, política econômica mais tolerante com a inflação e maior
ativismo governamental de estímulo à demanda.
A implementação da chamada nova matriz econômica foi marcada por
vários incentivos concedidos pelo governo, elevação dos gastos públicos com
compras diretas e outras medidas. Setores-chave como energia elétrica e
combustíveis foram alvo de intervenção nos preços. Somados a isso, os gastos
e renúncias necessários à implementação de programas como o Plano Brasil
Maior e o PAC2 prejudicaram ainda mais a situação das contas públicas. Essa
deterioração foi marcada pela redução do superávit primário, minimizado por
manipulações contábeis, e elevação da dívida pública bruta (Gremaud;
Vasconcellos; Tonato Junior, 2016).
Esses estímulos auxiliaram na redução do desemprego, com aumento de
níveis salariais e consequentes pressões inflacionárias. Tais pressões foram
8
minimizadas pelo controle dos preços administrados e pela valorização cambial.
Com isso, a indústria perdeu competitividade e cedeu lugar na economia para o
setor de serviços. O conjunto dos eventos citados anteriormente resultou em um
quadro de inflação com estagnação do crescimento no fim do primeiro mandato,
a estagflação.
A implantação de um modelo de consumo de massa não foi compensada
pelos investimentos dos setores público e privado. Eventos como as
privatizações de aeroportos e rodovias foram um fator positivo para reduzir o
poder do Estado na economia e aumentar a competitividade. No lado social,
ocorreram importantes avanços, como manutenção do nível de emprego,
aumento da renda média da população e maior acesso à educação em todos os
níveis. A expansão da renda gerada por esses fatores contribuiu para sustentar
a demanda e não propiciar menores taxas de crescimento econômico (Gremaud;
Vasconcellos; Tonato Junior, 2016).

3.4 Os governos Temer e Bolsonaro

Para Oreiro e Paula (2021), a política econômica iniciada por Temer e


continuada por Bolsonaro tem elementos de um regime ortodoxo-liberal, no qual
se destacam dois aspectos: (i) realização de forte contração fiscal,
principalmente pelo lado dos gastos correntes, baseada na tese da “contração
fiscal expansionista”; e (i) um conjunto de políticas liberais que visa a “destravar”
o espírito empresarial das amarras do Estado via desregulamentação do
mercado, permitindo que a iniciativa privada comande o processo econômico.
Outras medidas que merecem destaque foram:

• aprovação da PEC 241/55 no governo Temer, estabelecendo uma


limitação ao crescimento das despesas do governo brasileiro durante 20
anos;
• reformas trabalhista e previdenciária;
• privatização de empresas estatais, iniciada pela BR Distribuidora;
• abertura comercial com redução nas tarifas alfandegárias;
• acordo de livre comércio com a União Europeia.

Oreiro e Paula (2021) analisam que essa política ortodoxo-liberal não é


capaz de sustentar um novo ciclo de crescimento para a economia brasileira.
Dessa forma, é provável que essa política mantenha uma economia estagnada.

9
Isso ocorre, na visão dos autores, porque a agenda econômica desses governos
não ataca a crônica falta de demanda, um dos problemas mais relevantes para
a economia brasileira. Essa baixa demanda requer uma agenda de ajuste fiscal,
o que abre espaço para o aumento dos investimentos públicos.
É necessário, também, um aumento da eficiência marginal do capital dos
novos projetos de investimento. Esses projetos dependem da expectativa de
longo prazo de empresários e investidores, influenciada pelas previsões da
demanda efetiva. Isso faz com que o crescimento do investimento e o consumo
das famílias permaneçam estáveis. Para finalizar, os autores advogam que a
aceleração do crescimento só é possível pelo componente autônomo da
demanda que não gera capacidade produtiva (Oreiro; Paula, 2021).

TEMA 4 – FATORES TECNOLÓGICOS

Créditos: Evan_Huang/Shutterstock.

É consenso na literatura que existe uma correlação direta entre a taxa de


crescimento de um país e sua dinâmica de inovação. A literatura econômica
também destaca, sob um viés schumpeteriano, que a economia capitalista é feita
de crises e que o progresso técnico é o impulso básico que inicia e mantém o
movimento do sistema econômico, com reformulações da base produtiva e
alterações na dinâmica de desenvolvimento para superação do estado de
recessão existente.
O abandono e sucateamento de processos de produção no decorrer do
tempo é, para Schumpeter, definido como o conceito de destruição criativa.

10
Porém, essa dinâmica é dependente do Estado, o qual deve focar políticas
oficiais para identificar prioridades e definir planos e programas para o setor de
ciência, tecnologia e inovação. Esse Estado também é responsável pelo crédito
e financiamento das inovações, uma vez que os empreendedores demandam
capital inicial e de giro para financiar seus empreendimentos.
No aspecto das tecnologias e da industrialização, o Brasil é considerado
um país de economia tardia (ou industrialização tardia). Esta se caracteriza pela
implantação de indústrias multinacionais, fazendo com que os países sejam
industrializados de fora para dentro (das economias estrangeiras para a
brasileira). Esse fenômeno carrega consigo também a característica de as
indústrias estabelecidas no país serem indústrias de bens de consumo.
Os padrões de financiamento podem ser divididos em duas vertentes na
história recente brasileira, segundo Proença, Lacerda e Antunes Júnior (2015).
O primeiro foi observado no regime militar e esteve relacionado ao modelo
induzido pela demanda no qual se intentava uma ligação direta entre a aplicação
produtiva e o conhecimento gerado. Nesse ponto, nem todos os resultados
almejados foram alcançados, pois muitas vezes os projetos científico-
tecnológicos devem amadurecer para gerar frutos. Essa maturidade, na maior
parte dos casos, não é aguardada pelo setor produtivo, o qual busca uma
aplicação direta dos conhecimentos adquiridos.
O segundo modelo é o sistema dinâmico (ou sistema vivo), segundo o
qual é necessário escolher entre diferentes opções estratégicas e apoiar
segmentos específicos que venham a se consolidar. Porém, a fixação de um
segmento estratégico para o desenvolvimento pode ser considerado algo difícil
em um país grande e diversificado como o Brasil. Esses dois modelos carregam
consigo estruturação e concepção definidas pelo Estado, sem participação de
outros agentes, como o capital privado, nacional ou internacional.
Em relação ao período mais recente, as preocupações que miram o
aumento da capacidade tecnológica são restritas ao volume de investimentos
direcionado para esse setor. Para Proença, Lacerda e Antunes Junior (2015),
isso faz com que não sejam dadas condições para a fixação por longo prazo e a
efetiva competitividade em nível nacional e internacional dos segmentos
produtivos. Além disso, as políticas públicas não exigem contrapartidas sobre os
incentivos financeiros à inovação, sem atrelá-los a metas de modernização e
desenvolvimento de longo prazo.

11
Em relação aos incentivos para P&D, estes são ocasionais e não
obedecem a um perfil sustentável, ou seja, apresentam grandes variações
temporais de volume de recursos investidos. Na visão dos autores, isso diminui
a visão de longo prazo e não prepara o país para um desenvolvimento com salto
de produtividade (Proença; Lacerda; Antunes Junior, 2015).
Sobre as práticas de financiamento, o advento dos fundos setoriais
criados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) em 1999 representou
avanços na engenharia financeira para a ciência, tecnologia e inovação.
Segundo Proença, Lacerda e Antunes Junior (2015), esses avanços podem ser
resumidos como:

• estabilidade do financiamento;
• gestão orientada para resultados;
• articulação do MCT com demais áreas do governo;
• interação entre comunidade científica e tecnológica e setor produtivo;
• aumento da indução à pesquisa e desenvolvimento.

Segundo os autores, esses fundos selecionam setores e projetos


estratégicos por meio de uma gestão compartilhada. Suas receitas são de
diversas origens, como royalties, parcela da receita das empresas beneficiárias
de incentivos fiscais, compensação financeira, licenças e autorizações, doações,
empréstimos e receitas diversas (Proença; Lacerda; Antunes Junior, 2015).
Quanto à participação do capital nacional no desenvolvimento
tecnológico, esta é pequena em relação aos setores intensivos em
conhecimento. Um exemplo disso é a dificuldade de identificação de grupos
nacionais nas empresas com maior participação no mercado do país que utilizem
nanotecnologias, tecnologias de informação, biotecnologia e tecnologias
cognitivas, por exemplo (Proença; Lacerda; Antunes Junior, 2015). Os autores
ressaltam que as escalas das empresas do país na área de software, por
exemplo, são baixas, o que faz com que a penetração dessas empresas
brasileiras nos mercados mundiais de setores dinâmicos seja pequena, sem
exportações de produtos com alto valor agregado.
Finalizando este tópico, Proença, Lacerda e Antunes Junior (2015)
salientam que os seguintes fatores são fundamentais para a reversão da
exclusão do Brasil desse cenário de estagnação tecnológica: definição de um
projeto nacional pelo Estado com a priorização da formação dos setores

12
dinâmicos e com a criação de instrumentos para essa ação; criação de uma base
de recursos humanos nos setores priorizados; investimentos em estruturas
específicas para esses setores; envolvimento do grande capital nacional com os
setores dinâmicos; efetuar um salto de escalas necessário para a
competitividade da indústria e fazer exigências ao capital nacional implantado no
Brasil.

TEMA 5 – FATORES DA CONJUNTURA INTERNACIONAL

Créditos: Travel Mania/Shutterstock.

Este tópico irá abordar a situação da economia dos Estados Unidos e da


China, duas das principais economias do mundo, para balizar a análise da
conjuntura internacional em que o Brasil se encontra.

5.1 Economia dos Estados Unidos

Atualmente, a principal preocupação em termos de conjuntura


internacional é com a economia americana. Em 2022, essa economia está sendo
marcada pelo crescimento negativo, com recuo de 1,6% no primeiro trimestre de
2022 e de 0,9% no segundo. O mercado de trabalho, por sua vez, contraria as
expectativas, com a criação de 528 mil empregos em julho.
Quanto à inflação, os três núcleos de inflação da economia norte-
americana apresentaram crescimento de 4,8%, 4,3% e 5,3% para o acumulado
em 12 meses com fechamento em junho. Isso deve ser equacionado com uma
meta de inflação de 2% a.a. A opinião de especialistas é de que a economia não
está em recessão. Os números que indicam isso são referentes ao primeiro
trimestre, com crescimento do consumo privado de 1,8% e investimento em
capital fixo de 7,4% (Pessoa, 2022). Note-se também que no segundo trimestre
13
de 2022 a economia estava 2% acima de sua posição no quarto trimestre de
2019.
Segundo o autor, alguns caminhos para a estabilização econômica dos
Estados Unidos são a adoção de uma política monetária mais contracionista para
controle da inflação. Quanto ao crescimento, caso os juros de mercado
continuem baixos, a economia poderá voltar a crescer na entre o fim de 2022 e
início de 2023 (Pessoa, 2022).

5.2 Economia da China

Ante os indicadores mais recentes da economia chinesa, a previsão é de


que a meta de crescimento de 5,5% em 2022 não será alcançada, pois requer
um aumento do produto de 7% no segundo semestre de 2022 (Monteiro, 2022).
Segundo a autora, dessa vez a China não demonstrará sua pujança econômica
para o ano de 2022. Além disso, passado o efeito do lockdown, o desafio é
verificar se a economia chinesa apresentará mais problemas estruturais que a
incapacitem de realizar um crescimento sustentável no futuro com base no
consumo doméstico.
Quanto ao consumo das famílias, esse indicador ainda não alcançou os
níveis registrados antes da pandemia e não existem perspectivas se esses
dados retornarão a seu nível normal. Porém, o governo chinês vem atuando em
um pacote de estímulos fiscais e monetários, os quais já chegaram a US$ 5,3
trilhões em 2022. Esses estímulos são voltados para a área de infraestrutura,
algo comum na história da economia chinesa, sem previsão de estímulos pelo
lado das famílias.
No resto do mundo, os indicadores de crescimento apontam perspectivas
de crescimento na ordem de 3,2% para o produto mundial em 2022. Parte desse
crescimento se deve aos mercados emergentes e às economias em
desenvolvimento (crescimento previsto de 3,6% para 2022). A Erro! Fonte de
referência não encontrada., resultante de levantamentos efetuados pelo Fundo
Monetário Internacional (FMI), demonstra o produto realizado em 2021 e as
previsões para as principais economias do globo entre 2022 e 2023.

14
Tabela 1 – Projeções do FMI para a economia mundial (em %)

2021 2022* 2023*


Produto mundial 6,1 3,2 2,9
Economias avançadas 5,2 2,5 1,4
Estados Unidos 5,7 2,3 1
Zona do Euro 5,4 2,6 1,2
Japão 1,7 1,7 1,7
Mercados emergentes e
economias em desenvolvimento 6,8 3,6 3,9
China 8,1 3,3 4,6
Índia 8,7 7,4 6,1
Rússia 4,7 -6 -3,5
Brasil 4,6 1,7 1,1
* Previsão

Fonte: FMI, 2022.

TROCANDO IDEIAS

Com base na situação econômica dos Estados Unidos e da China, discuta


com uma pessoa próxima como esses países podem se recuperar da situação
em que se encontram e quais podem ser os pilares econômicos dessa retomada.

NA PRÁTICA

Um bom economista deve estar antenado com os principais assuntos


referentes às economias mais importantes do globo. Para isso, uma das formas
de receber atualizações é por meio do Google Notícias. O roteiro a seguir explica
como acessar o site, procurar por assuntos e seguir as atualizações deles.

1) Acesse o site <https://news.google.com.br>.


2) No campo de pesquisa localizado na parte superior, insira um tema de
sua preferência (por exemplo, Estados Unidos).
3) Após aparecerem os resultados, clique em “Seguir” para acompanhar as
atualizações.
4) Essas atualizações aparecerão para você na aba “Seguindo” toda vez que
você acessar o Google Notícias. Você pode seguir quantos temas quiser
e excluí-los quando desejar.

15
FINALIZANDO

Conforme destacamos, um economista de qualidade deve estar


sintonizado com os assuntos do seu país e dos principais espalhados pelo
planeta. Esta etapa buscou fornecer subsídios para que você, como futuro
economista, conheça sobre os mais significativos fatores políticos, econômicos,
sociais e de conjuntura internacional para poder fazer suas análises e
contextualizar o Brasil no cenário global.
Lembramos que essa análise não é definitiva e muda a todo momento.
Para isso, uma forma de acompanhar os assuntos é por meio de notícias
recentes que podem ser encontradas dentro de fontes confiáveis no Google
Notícias, ferramenta destacada na seção “Na prática”.

16
REFERÊNCIAS

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S. D.; TONETO JUNIOR, R.


Economia brasileira contemporânea. 8. ed. São Paulo: Manole, 2016.

IMF – International Monetary Fund. World Economic Outlook Update. Gloomy


and more uncertain. Washington, DC: IMF, 2022. Disponível em:
<https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2022/07/26/world-economic-
outlook-update-july-2022#Projections>. Acesso em: 29 ago. 2022.

LACERDA, A. C. Economia brasileira. 6. ed. São Paulo: Saraiva Educação,


2018.

MONTEIRO, S. Sem fiel da balança. Conjuntura Econômica, p. 30-39, jun.


2022.

OREIRO, J. L.; PAULA, L. F. Macroeconomia da estagnação brasileira. São


Paulo: Alta Books, 2021.

PESSOA, S. Como ler a economia americana? Conjuntura Econômica, p. 10-


11, ago. 2022.

PROENÇA, A.; LACERDA, D. P.; ANTUNES JÚNIOR, J. A. V. Gestão da


inovação e competitividade no Brasil. São Paulo: Grupo A, 2015.

17
ANÁLISE DO CONTEXTO
ECONÔMICO E SOCIAL
BRASILEIRO
AULA 2

Prof. Itamir Caciatori Junior

1
CONVERSA INICIAL

Uma boa caixa de ferramentas de um economista contém muitos dados e


formas de análise. O entendimento de tabelas, gráficos, figuras e outros
elementos também são essenciais para esse profissional. Dessa forma, esta
etapa pretende expor:

1. fontes de dados;
2. metodologia para estimação de indicadores;
3. indicadores econômicos e políticos para análise de conjuntura;
4. exemplos de fontes de dados oficiais;
5. como analisar dados em tabela e gráfico.

CONTEXTUALIZANDO

Quando se busca iniciar uma pesquisa econômica, dificilmente o


economista ficará livre de capturar e analisar dados. Dados de inflação, PIB,
desemprego, entre outros, são alguns dos mais utilizados. Para isso, as fontes
de dados são repositórios importantes de informações para esse profissional. A
qualidade da exibição final das informações, bem como os métodos de análise,
também deve fazer parte do ferramental do economista.
Os próximos cinco temas irão tratar desses assuntos. A relação de fontes
de dados não é exaustiva, porém, foram incluídas as principais organizações
nacionais e internacionais que geram dados econômicos, demográficos, sociais
e financeiros. Finalmente, a forma de analisar esses dados versus gráficos e
tabelas será exposta no último tema.

2
TEMA 1 – FONTES DE DADOS

Crédito: PabloLagarto/Shutterstock.

Os dados econômicos provêm de diferentes fontes e podem ser obtidos


nas instituições responsáveis pelos dados ou em repositórios. A obtenção
desses dados via instituições ocorre nos organismos que coletam, processam e
analisam os dados, tais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), no caso do produto interno bruto (PIB) e do índice de preços ao
consumidor (IPC), medido e publicado pela Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe).
No caso dos repositórios, estes agregam dados de diferentes fontes em
um só local. Um exemplo desses repositórios é o Sistema Gerenciador de Séries
Temporais do Banco Central (Bacen). Esses repositórios têm como objetivo
permitir ao usuário consultar e relacionar dados de diferentes fontes em um só
local.
As principais fontes de dados para a economia brasileira são:

1.1 Sistema IBGE de Recuperação Automática – Sidra

Fornece acesso a estatísticas geradas pelo IBGE de forma consolidada,


além de pesquisas sobre os próprios indicadores, população, economia e meio
ambiente. Alguns exemplos de pesquisas fornecidas pelo Sidra: Pesquisa Anual
de Comércio; Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) e Pesquisa
Industrial Anual.

3
Os principais indicadores estimados pelo IBGE e disponíveis para
consulta são: PIB; contas nacionais trimestrais; Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA); Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC); Índice de
Preços ao Produtor (IPP); Pesquisa Mensal do Comércio (PMC); Pesquisa
Mensal de Serviços (PMS); Índice de Desemprego (medido na Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua); censo e estimativa da população.
O Sidra está disponível no endereço disponível a seguir:
<https://sidra.ibge.gov.br/home/ipp/brasil>. Acesso em: 27 set. 2022.

1.2 Sistema Gerenciador de Séries Temporais – SGS Bacen

O SGS é o sistema disponibilizado pelo Bacen para consulta de


indicadores internos e externos à instituição. O SGS tem o objetivo de consolidar
e tornar disponíveis informações econômico-financeiras, bem como manter
uniformidade entre os documentos produzidos com base em séries temporais
nele armazenadas. Quando se trata de pesquisas, é um bom recurso, porque
reúne fontes de dados, como IBGE, bancos centrais ao redor do mundo,
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e B3.
As séries podem ser consultadas individualmente, em grupos ou listas
personalizadas, ou de forma automática, de acordo com as instruções
constantes no menu “Ajuda”, submenu “Ajuda do sistema”, opção “Serviços
automatizados”. Divide os indicadores em 15 grupos distintos, dos quais
destacamos os mais relevantes: atividade econômica; expectativas do mercado;
indicadores monetários; setor externo; economia internacional; mercados
financeiros e de capitais e Sistema Financeiro Nacional. O link disponível em:
<https://www3.bcb.gov.br/sgspub/localizarseries/localizarSeries.do?method=pr
epararTelaLocalizarSeries>. Acesso em: 27 set. 2022.

1.3 Ipeadata – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)

O Ipeadata agrega dado divididos nos grupos macroeconômico, regional


e social. O grupo macroeconômico é uma base de dados econômicos e
financeiros, incluindo séries estatísticas da economia brasileira e dos aspectos
que lhe são mais pertinentes na economia internacional. Os dados são
atualizados e documentados de forma sistemática e apresentados na mesma

4
unidade monetária. Recursos disponíveis permitem a manipulação matemática
e a extração dos resultados em planilhas ou gráficos.
O grupo regional é uma base de dados demográficos, econômicos e
geográficos para as regiões, estados e municípios brasileiros que se iniciam no
Censo Demográfico de 1872. A busca das séries estatísticas pode ser feita por
palavras-chave na sua descrição, "Temas" ou assuntos de interesse, "Fontes"
de publicação ou pelo "Nível geográfico" para o qual é possível agregar os
dados. Em terceiro lugar, o grupo social é uma base de dados e indicadores
sociais abrangendo temas diversos, como nível de renda per capita,
desigualdade na distribuição de renda dos indivíduos e domicílios, desempenho
educacional, condições de saúde e habitação, inserção no mercado de trabalho,
situação dos direitos humanos da população, entre outros. O acesso ao ipeadata
é pelo endereço disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx>.
Acesso em: 27 set. 2022.

1.4 Outras fontes de dados

• Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe): publica índices


de preços ao consumidor, preços de imóveis e veículos. Site:
<https://www.fipe.org.br/pt-br/home>. Acesso em: 27 set. 2022.
• National Bureau of Economic Research (NBER): organização privada
que divulga pesquisas e análises sobre as principais questões
econômicas. Site: <https://www.nber.org>. Acesso em: 27 set. 2022.
• Comissão Econômica para a América Latina (Cepal): possui
estatísticas sobre os países da américa latina e do Caribe. Site:
<https://www.cepal.org/pt-br>. Acesso em: 27 set. 2022.
• Penn World Tables (PWT): banco de dados com informações sobre
níveis relativos de renda, produção, insumos e produtividade, cobrindo
183 países entre 1950 e 2019. Site:
<https://www.rug.nl/ggdc/productivity/pwt/?lang=en>. Acesso em: 27 set.
2022.
• Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese): desenvolve pesquisas para subsidiar
demandas dos trabalhadores, incluindo cesta básica e índice do custo de
vida. Site: <https://www.dieese.org.br>. Acesso em: 27 set. 2022.

5
• Bolsa de Valores de São Paulo (B3): disponibiliza índices referentes às
empresas listadas na B3, como índices de governança, índices de
segmentos e cotações. Site: <https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-
indices>. Acesso em: 27 set. 2022.
• Guia de Fundos do Valor: página com análise de mais de mil carteiras
de fundos, agrupados em 16 categorias. Site:
<https://infograficos.valor.globo.com/guia-de-fundos>. Acesso em: 27 set.
2022.
• Valor data: agrega índices de preços, câmbio, dados da B3 e outras
informações do mercado. Site: <https://valor.globo.com/valor-data>.
Acesso em: 27 set. 2022.
• Smartbrain: comparador de ativos com informações de mais de 210 mil
ativos precificados diariamente. Site:
<https://app.smartbrain.com.br:8100>. Acesso em: 27 set. 2022.

Outras fontes de dados oficiais estão disponíveis no Tema 4 – Exemplos


de fontes de dados oficiais.

TEMA 2 – METODOLOGIA DE ESTIMAÇÃO DE INDICADORES

Crédito: docstockmedia/Shutterstock.

6
Cada indicador possui uma sistemática diferente para sua obtenção,
tratamento, processamento e divulgação. Nesse tema, destacaremos os
principais dados de interesse econômico: PIB, IPCA e índice de desemprego
(PNAD contínua).

2.1 Produto interno bruto – PIB

O PIB faz parte do sistema de Contas Nacionais Trimestrais (CNT). O


CNT disponibiliza os valores correntes e os índices de volume (1995=100)
trimestralmente para o produto interno bruto a preços de mercado, impostos
sobre produtos, valor adicionado a preços básicos, consumo pessoal, consumo
do governo, formação bruta de capital fixo, variação de estoques, exportações e
importações de bens e serviços.
Os dados das CNT são apresentados em valores correntes, valores
constantes (a preço de 1995), taxas de variação e séries encadeadas de índices
de volume. Os dados são compilados pelas óticas da produção (oferta) e da
despesa (demanda) e cobrem toda a economia brasileira, bem como a sua
relação com o resto do mundo. O PIB, em valores correntes, mede a renda total
gerada pela economia no trimestre. Os dados trimestrais são ajustados para os
totais anuais (Sistema de Contas Nacionais Anuais – SCN).
Todas as transações definidas no manual mais recente das Nações
Unidas (SNA) para a produção (transações mercantis e não mercantis) são
registradas em regime de competência, exceto as receitas do governo, que são
registradas em regime de caixa. Todas as séries das CNT são divulgadas em
três grupos de atividades (agropecuária, indústria e serviços). A Indústria é
desagregada nos subgrupos a seguir: indústrias extrativas; indústrias de
transformação; construção e eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de
gestão de resíduos.
Por sua vez, os serviços são desagregados da forma a seguir: comércio;
transporte, armazenagem e correio; informação e comunicação; atividades
financeiras, de seguros e serviços relacionados; atividades imobiliárias;
administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social; e outras
atividades de serviços. Os dados da demanda final são divulgados
desagregados no consumo das famílias, consumo do governo, formação bruta
de capital fixo, importações e exportações. A cobertura geográfica compreende
todo o país. A metodologia detalhada está em IBGE (2022a).
7
2.2 Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – IBGE

O cálculo do IPCA faz parte do Sistema Nacional de Índices de Preços ao


Consumidor (SNIPC) e tem por objetivo medir a inflação de um conjunto de
produtos e serviços comercializados no varejo, referentes ao consumo pessoal
das famílias. A faixa de renda foi escolhida com o objetivo de garantir uma
cobertura de 90% das famílias pertencentes às áreas urbanas de cobertura do
Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor (SNIPC).
Esse índice de preços tem como unidade de coleta estabelecimentos
comerciais e de prestação de serviços, concessionária de serviços públicos e
internet. Sua coleta estende-se, em geral, do dia 1º a 30 do mês de referência.
Atualmente, a população-objetivo do IPCA abrange as famílias com
rendimentos de 1 a 40 salários mínimos, qualquer que seja a fonte, residentes
nas áreas urbanas das regiões de abrangência do SNIPC, as quais são: regiões
metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória,
Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos
municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.
Informações adicionais e notas metodológicas estão em IBGE (2020).

2.3 Índice de desemprego – IBGE

O índice de desemprego e de renda média faz parte do cálculo da PNAD


contínua, calculada pelo IBGE. A PNAD visa acompanhar as flutuações
trimestrais e a evolução, no curto, médio e longo prazos, da força de trabalho, e
outras informações necessárias para o estudo do desenvolvimento
socioeconômico do país.
A pesquisa produz indicadores trimestrais sobre a força de trabalho e
indicadores anuais sobre temas suplementares permanentes (como trabalho e
outras formas de trabalho, cuidados de pessoas e afazeres domésticos,
tecnologia da informação e da comunicação etc.), investigados em um trimestre
específico ou aplicados em uma parte da amostra a cada trimestre e acumulados
para gerar resultados anuais, sendo produzidos, também, com periodicidade
variável, indicadores sobre outros temas suplementares. Tem como unidade de
investigação o domicílio.
A PNAD Contínua foi implantada, experimentalmente, em outubro de
2011 e, a partir de janeiro de 2012, em caráter definitivo, em todo o território

8
nacional. Sua amostra foi planejada de modo a produzir resultados para Brasil,
grandes regiões, unidades da Federação, regiões metropolitanas que contêm
municípios das capitais, Região Integrada de Desenvolvimento (Ride) Grande
Teresina e municípios das capitais. Desde sua implantação, a pesquisa,
gradualmente, vem ampliando os indicadores investigados e divulgados.
Quanto à periodicidade de divulgação das informações, a PNAD abrange
os períodos e indicadores a seguir:

• mensal: conjunto restrito de indicadores relacionados à força de trabalho


e somente para o nível geográfico de Brasil;
• trimestral: conjunto de indicadores relacionados à força de trabalho para
todos os níveis de divulgação da pesquisa;
• anual: demais temas permanentes da pesquisa e indicadores
complementares à força de trabalho;
• variável: outros temas ou tópicos dos temas permanentes a serem
pesquisados com maior periodicidade ou ocasionalmente.

O indicador de desemprego possui diferentes classificações, conforme a


situação empregatícia, idade e potencial para trabalhar da população, como
mostra aa figura 1.

Figura 1 – As divisões do mercado de trabalho

Ocupados que trabalham


horas suficientes
trabalhar (14 anos ou mais)

Ocupados
População em idade de

Subocupados por
Pessoas na força de trabalho insuficiência de horas
trabalhadas
Desocupados

Buscaram trabalho, mas não


estavam disponíveis
Força de trabalho potencial Desalentados
Pessoas fora da força de Não buscaram trabalho, mas
trabalho estavam disponíveis
Fora da força de trabalho
Não desalentados
potencial

Legenda: Fundo vermelho = subutilização


da força de trabalho

Fonte: IBGE, 2022b.

As notas metodológicas detalhadas estão disponíveis em IBGE (2022b).


9
TEMA 3 – BOLETINS DE CONJUNTURA – FORMULAÇÃO E OBJETIVOS

Crédito: smolaw/Shutterstock.

Os boletins de conjuntura econômica podem fazer uso de indicadores


nacionais e internacionais, uma vez que, geralmente, as economias são abertas
ao resto do mundo. Indicadores para análise de conjuntura podem ser
encontrados em fontes oficiais ou junto a outros agentes de pesquisa
responsáveis por esses dados. O objetivo dos boletins de conjuntura é divulgar
os principais indicadores e, juntos destes, uma análise sobre o cenário
encontrado.
Recomendamos a adoção dos passos a seguir para elaboração de um
boletim de conjuntura:

1. escolha o assunto a ser abordado: ele envolve o setor interno, o setor


externo, os gastos do governo, a dívida interna ou qual outro delimitador?
2. pesquise quais indicadores são importantes para falar sobre esse tema;
3. busque os indicadores selecionados na etapa 2 nas fontes de dados
oficiais;
4. exponha qual é a sua hipótese para a análise. Ela parte de uma notícia
prévia ou de algo que você pensou a respeito do tema? Visa contrapor
um ponto de vista de outro economista?

10
5. descreva seus argumentos a favor de seu ponto de vista na forma de
indicadores, para provar sua opinião;
6. retome as críticas ou ponto de vista da outra parte descrita na etapa 4
para responder aos argumentos;
7. elabore a conclusão da sua análise com um fechamento retomando a área
de estudo, a motivação (exemplo: estudo ou opinião de terceiro, notícia),
um resumo de seus pontos fortes e a conclusão.

Nesta seção, adotamos a divisão estipulada pela SGS do Bacen para


demonstrar as informações mais importantes para elaboração de um boletim de
conjuntura: nome do indicador, tema, unidade, periodicidade, início da série,
último período disponível e origem.

Tabela 1 – Indicadores econômicos e de conjuntura selecionados


Último
Início
Indicador Tema Unidade Periodicidade período Fonte
da série
disponível
PIB em R$ Atividade
R$ Mensal/Anual Dez./62 Jul./22 IBGE
correntes econômica
Atividade
População Unidades Anual Dez./96 2021 IBGE
econômica
Economia Ba e
Produção industrial Índice Mensal Jan./02 Jun./22
regional IBGE
Empregos formais Economia
Índice Mensal Jan./97 Jul./22 MTb
gerados regional
Quantidade de
Inclusão SCR
tomadores de Unidades Trimestral Mar./12 1º tri 2022
financeira BACEN
crédito PJ
Saldo de crédito PJ
Inclusão SCR
por modalidade de Unidades Trimestral Mar./12 1º tri 2022
financeira BACEN
crédito
Taxa de Inclusão SCR
% Trimestral Mar./12 1º tri 2022
inadimplência PJ financeira BACEN
Taxa média de juros
Inclusão SCR
das operações de % a.a. Trimestral Mar./12 1º tri 2022
financeira BACEN
crédito PJ
Meta Selic definida Indicadores
% a.a. Diária Mar./99 Set./22 COPOM
pelo Copom monetários
Base monetária Indicadores Dstat
R$ mil Diária Fev./91 Jun./22
restrita monetários BACEN
Indicadores Dstat
Reservas bancárias R$ mil Mensal Jan./80 Jun./22
monetários Bacen
Multiplicador Indicadores Dstat
Índice Mensal Jan./92 Jun./22
monetário – K monetários Bacen
Títulos do Tesouro
Indicadores Dstat
Nacional-carteira do R$ mil Mensal Jul./94 Jun./22
monetários Bacen
mercado/Selic
Indicadores Dstat
M1, M2, M3 e M4 R$ mil Mensal Dez./01 Jun./22
monetários Bacen
Balanço de US$ Dstat
Setor externo Mensal Jan./95 Maio/22
pagamentos milhões Bacen
Reservas US$ Dstat
Setor externo Mensal Dez./70 Jul./22
internacionais milhões Bacen
Reservas
US$ Dstat
internacionais – Setor externo Mensal Dez./00 Jul./22
milhões Bacen
DES

11
PTAX800
Dólar comercial Setor externo US$ Diária Nov./84 Ago./22
Bacen
Total emitido em
Finanças R$ Dstat
títulos do Tesouro Mensal Jan./91 Jul./22
públicas milhões Bacen
Nacional
Saldo de crédito Indicadores de R$ Dstat
Mensal Jan./13 Fev./22
ampliado crédito milhões Bacen
Concessões de Indicadores de R$ Dstat
Mensal Mar./11 Jun./22
crédito crédito milhões Bacen
Inadimplência das
Indicadores de R$ Dstat
operações de Mensal Mar./11 Jun. /22
crédito milhões Bacen
crédito
Endividamento das Indicadores de Dstat
% Mensal Mar./05 Mar./22
famílias crédito Bacen
Saldo mensal de Mercados
R$ Dstat
depósitos de financeiros e de Mensal Jul./94 Ago./22
milhões Bacen
poupança capitais
Fonte: Caciatori Junior, 2022.

Além dos indicadores descritos na tabela 1, o Bacen também divulga


expectativas para taxa Over-Selic, taxa de câmbio, investimento estrangeiro
direto, balança comercial, saldo das transações em conta-corrente, preços,
resultados fiscais, produção industrial e PIB. Essas expectativas são incluídas
no relatório Focus, o qual será visto em etapa futura.

TEMA 4 – EXEMPLOS DE FONTES DE DADOS OFICIAIS

Crédito: Brandon Bourdages/Shutterstock.

Fontes de dados oficiais são organismos nacionais e internacionais


responsáveis pela coleta, processamento e divulgação de dados. Neste tema,

12
demonstraremos o papel de sete dessas entidades e como eles atuam nessa
tarefa.

4.1 IBGE

Principal provedor de informações geográficas e estatísticas do Brasil e


responsável pelas funções a seguir:

• produção e análise de informações estatísticas;


• coordenação e consolidação das informações estatísticas;
• produção e análise de informações geográficas;
• coordenação e consolidação das informações geográficas;
• estruturação e implantação de um sistema das informações ambientais;
• documentação e disseminação de informações;
• coordenação dos sistemas estatístico e cartográfico nacionais.
• As informações e dados estão disponíveis em: <https://www.ibge.gov.br>.
Acesso em: 27 set. 2022.

4.2 Bacen

O Bacen publica séries temporais, citadas no Tema 1, entre outros


estudos de temas referentes à economia monetária brasileira. O site do Bacen
está disponível em: <https://www.bcb.gov.br>. Acesso em: 27 set. 2022.

4.3 World bank data

Base de dados do Banco Mundial com uma série de bancos de dados


macro, financeiros e setoriais, principalmente relacionados ao desenvolvimento
econômico. Muitos dos dados vêm dos sistemas estatísticos dos países-
membros, e a qualidade dos dados globais depende do desempenho desses
sistemas nacionais. O Banco Mundial trabalha para ajudar os países em
desenvolvimento a melhorar a capacidade, eficiência e eficácia dos sistemas
estatísticos nacionais. Disponível no link:<https://data.worldbank.org>. Acesso
em: 27 set. 2022.

13
4.4 International Monetary Fund (FMI) Data

O Fundo Monetário Internacional congrega 190 países-membros e tem


como objetivo apoiar esses países para a estabilidade financeira e cooperação
monetária, visando o aumento da produtividade, a criação de emprego e o bem-
estar econômico. Os principais dados disponibilizados se referem a fluxos de
capitais, cotações de moedas e produto dos países. Disponível em:
<https://www.imf.org/en/Data>.

4.5 Bank of International Settlements (BIS)

Entidade localizada em Basileia (Suíça) que divulga dados em


cooperação com bancos centrais e outras autoridades nacionais. Os principais
dados divulgados são referentes à estabilidade financeira, situação monetária
internacional e liquidez global. Site disponível em:
<https://www.bis.org/statistics/index.htm>. Acesso em: 27 set. 2022.

4.6 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)

Organização econômica intergovernamental composta por 38 países-


membros e que tem por objetivo estimular o progresso econômico e o comércio
mundial. Os principais dados disponibilizados são referentes aos produtos dos
países e comércio internacional. Site disponível em: <https://data.oecd.org>.
Acesso em: 27 set. 2022.

4.7 Nações Unidas

Agrupamento de dados da Nações Unidas contendo 32 bases de dados


sobre diversos países do globo. Os dados disponibilizados são referentes à
população, educação, educação, mercado de trabalho e índices de preços. Site
disponível em: <http://data.un.org>. Acesso em: 27 set. 2022.

14
TEMA 5 – COMO ANALISAR DADOS EM TABELAS E GRÁFICOS

Crédito: Kubko/Shutterstock.

A diferenciação entre tabelas e quadros é o primeiro passo a ser dado


neste tema. As tabelas revelam informações estatísticas, nas quais os números
são o elemento central e podem conter informações estatísticas com
determinada ordem de classificação. Os quadros contêm informações em forma
de texto e não empregam dados estatísticos, possuindo um caráter mais
esquemático e descritivo (Campos; Loureiro, 2002).
As tabelas estatísticas de dupla ou múltipla entrada apresentam duas ou
mais séries estatísticas simples. Essas séries podem ser combinadas, tais como:
variação do tempo e do fenômeno observado; duas séries estatísticas iguais,
permanecendo fixos o tempo e o local em que foram observadas, ou combinação
histórica-geográfico-especificativa, em que todos os elementos variam. Os
quadros e tabelas apresentam elementos que devem constar quando de sua
apresentação, como topo, centro e rodapé. A figura 2 demonstra os elementos
de uma tabela:

15
Figura 2 – Distribuição dos elementos de uma tabela

Fonte: Caciatori Junior, 2022.

Dos elementos anteriores, o topo é destinado à legenda do elemento e de


seu título. No centro ficam as informações numéricas e demais informações
necessárias para sua compreensão, tais como o título das colunas e os títulos
das linhas. No rodapé ficam a fonte, nota e demais elementos considerados
necessários para a compreensão global da tabela.
Nos dados numéricos constam as informações relativas ao fato específico
e a leitura desses dados ocorre na forma de matriz. Na figura 2, por exemplo, o
PIB da indústria para 2021 teve um crescimento de 4,5%. A fonte é importante
para denominar o responsável pelas informações ou mesmo quando for
elaborada pelo autor, deve constar “Elaborado pelo autor (ano)”. As notas
específicas esclarecem aspectos do quadro, como o tipo de unidade de medida
utilizado ou eventuais abreviações da tabela.
Quanto aos gráficos, são figuras que buscam repassar ao leitor
informações contidas em outra forma de dados, como uma tabela, por exemplo.
Um dos gráficos mais utilizados na economia é o diagrama ou gráfico linear, que
corresponde a uma linha conectando pontos de uma tabela. A tabela 2 apresenta
os percentuais do IPCA brasileiro entre julho de 2021 a julho de 2022.

16
Tabela 2 – IPCA no Brasil de julho de 2021 a julho de 2022

Mês /ano IPCA (em %)


Jul./21 0,96
Ago./21 0,87
Set./21 1,16
Out./21 1,25
Nov./21 0,95
Dez./21 0,73
Jan./22 0,54
Fev./22 1,01
Mar./22 1,62
Abr./22 1,06
Maio/22 0,47
Jun./22 0,67
Jul./22 -0,68

Fonte: IBGE.

Com os dados de origem da tabela 2, construímos um gráfico linear,


conforme demonstrado na figura 3.

Figura 3 – IPCA no Brasil entre julho/2021 e julho/2022

1,62
1,5
1,16 1,25
1 0,96 1,01 1,06
0,95
0,87 0,73 0,67
0,5 0,54
0,47

0
MAI/22
AGO/21

SET/21

DEZ/21

JAN/22

MAR/22

ABR/22
JUL/21

NOV/21

FEV/22

JUN/22

JUL/22
OUT/21

-0,5
-0,68

-1

Fonte: Elaborado por Caciatori Junior, 2022, a partir dos dados do IBGE da Tabela 2.

Na construção de um gráfico com períodos de tempo, como o


demonstrado na figura 3, deve-se incluir o período de tempo no eixo X e os dados
numéricos no eixo Y. Isso ocorre porque o eixo Y, como variável dependente, é
uma variável dependente do tempo em que o evento ocorre. Assim, na figura 3,
o IPCA para setembro/2021 foi de 1,16%. Essa leitura ocorreu inicialmente com

17
a verificação do mês (setembro/2021) e, em seguida, com o ponto
correspondente no gráfico.
Algumas dicas para a construção de gráficos (Knaflic, 2019):

• remover a borda e as linhas de grade do gráfico;


• colocar as linhas e legendas dos eixos x e y em segundo plano, tornando-
as cinza;
• legendar as linhas diretamente.

TROCANDO IDEIAS

Gráficos são resumos na forma de imagem de outros tipos de transcrição.


Têm muitas vantagens, porém, alguns efeitos, cores, bordas, projeções em 3D
ou outros elementos podem prejudicar o entendimento de quem está
visualizando. No fórum, discuta com os colegas como deixar um gráfico mais
amigável para o leitor, seja ele em forma linear, de pizza, de barras, de colunas
etc.

NA PRÁTICA

Vamos aprender a utilizar o Sistema Gerenciador de Séries Temporais do


Bacen para captura do IPCA mensal de agosto/2020 a julho/2021:

1. acesse o site disponível em: <https://www3.bcb.gov.br/sgspub>. Acesso


em: 27 set. 2022;
2. na caixa de texto “Pesquisa textual”, localizada do lado esquerdo da tela,
escreva o nome da série “Índice Nacional de Preços ao Consumidor-
amplo (IPCA, código 433);
3. selecione a série na caixa “Sel.”;
4. clique em “Consultar séries”, localizado abaixo da tela;
5. em “Parâmetros para a consulta”, selecione o período de 30/08/2020 a
31/07/2022;
6. clique em “Visualizar valores”;
7. a exportação pode ser feita por meio de Arquivo CSV para utilizar em
diferentes programas. Clique em “Arquivo CSV”, do lado direito da tela, e
exporte a série para o local desejado;

18
8. você também pode visualizar o gráfico, clicando em “Visualizar gráfico” na
última tela.

FINALIZANDO

Nesta etapa, demonstramos todos os passos necessários para se


trabalhar com dados, gráficos e tabelas, desde a indicação de fontes de dados
até como realizar uma análise de qualidade. Esperamos que, após realizar o
passo a passo demonstrado em “Na prática”, você possa se sentir motivado(a)
e utilizar mais elementos para suas análises econômicas futuras do curso e da
vida profissional.

19
REFERÊNCIAS

BACEN – Banco Central do Brasil. Disponível em: <https://www.bcb.gov.br>.


Acesso em: 26 set. 2022.

BIS. Disponível em: <https://www.bis.org/statistics/index.htm>. Acesso em: 26


set. 2022.

CAMPOS, S. H.; LOUREIRO, A. B. S. Como fazer tabelas e gráficos. Técnicas


de pesquisa em economia: transformando curiosidade em conhecimento. São
Paulo: Saraiva, 2002.

CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina. Disponível em:


<https://www.cepal.org/pt-br>. Acesso em: 26 set. 2022.

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Econômicos.


Disponível em: <https://www.dieese.org.br>. Acesso em: 26 set. 2022.

FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas. Disponível em:


<https://www.fipe.org.br/pt-br/home>. Acesso em: 26 set. 2022.

GUIA de fundos. Valor Econômico, [s. d.]. Disponível em:


<https://infograficos.valor.globo.com/guia-de-fundos>. Acesso em: 26 set. 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em:


<https://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 26 set. 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa nacional por


amostra de domicílios contínua notas técnicas: versão 1.10. Rio de Janeiro:
IBGE, 2022b.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema de Contas


Nacionais Trimestrais (SCNT). Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/industria/9300-contas-
nacionais-trimestrais.html?=&t=conceitos-e-metodos>. Acesso em: 26 set.
2022a.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema Nacional de


Índices de Preços ao Consumidor: métodos de cálculo. 8. ed. Rio de Janeiro:
IGBE, 2020.

20
IMF DATA – International Monetary Fund. Disponível em:
<https://www.imf.org/en/Data>. Acesso em: 26 set. 2022.

IPEA data. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso


em: 26 set. 2022.

KNAFLIC, C. N. Storytelling com dados: um guia sobre visualização de dados


para profissionais de negócios. São Paulo: Alta Books, 2019.

MARKET data e índices. B3. Disponível em:


<https://www.b3.com.br/pt_br/market-data-e-indices>. Acesso em: 26 set. 2022.

NBER – National Bureau of Economic Research. Disponível em:


<https://www.nber.org>. Acesso em: 26 set. 2022.

OECD data. Disponível em: <https://data.oecd.org>. Acesso em: 26 set. 2022.

SMART brain. Disponível em: <https://app.smartbrain.com.br:8100>. Acesso


em: 26 set. 2022.

THE WORLD BANK data. Disponível em: <https://data.worldbank.org>. Acesso


em: 26 set. 2022.

UN data. Disponível em: <http://data.un.org>. Acesso em: 26 set. 2022.

UNIVERSITY of Groningen. Disponível em:


<https://www.rug.nl/ggdc/productivity/pwt/?lang=en>. Acesso em: 26 set. 2022.

VALOR data. Valor Econômico, [S.d.]. Disponível em:


<https://valor.globo.com/valor-data>. Acesso em: 26 set. 2022.

21
ANÁLISE DO CONTEXTO
ECONÔMICO E SOCIAL
BRASILEIRO
AULA 3

Prof. Itamir Caciatori Junior


1
CONVERSA INICIAL

Em conteúdos anteriores, abordamos a “caixa de ferramentas” que um


economista precisa ter. Nesta etapa, discutiremos parte do conteúdo a ser
analisado com esse instrumento. Assim, iremos expor:

1. Indicadores do nível de atividade e produção.


2. Indicadores de inflação.
3. Indicadores de política fiscal.
4. Indicadores de política monetária.
5. Indicadores de política externa.

CONTEXTUALIZANDO

Não há como acompanhar o dia a dia da economia de um país sem


alguns tipos de conteúdo. Ao começar qualquer análise, fazemos algumas
perguntas básicas. Qual o produto do país? Como estão evoluindo suas taxas
de inflação? Em que nível estão os gastos e receitas do governo? Como está o
comportamento da economia desse país com o resto do mundo?
São essas e outras perguntas que esta etapa pretende responder. Nela,
abordamos os indicadores necessários para se responder a essas e outras
questões semelhantes. A lista de indicadores não é exaustiva, porém,
elencamos aqui os principais indicadores referentes a cada tema.

2
TEMA 1 – INDICADORES DO NÍVEL DE ATIVIDADE E PRODUÇÃO

Crédito: Dukesn/Shutterstock.

Este tema trata do produto interno bruto (PIB), a pesquisa mensal de


serviços e a utilização da capacidade instalada, três importantes indicadores do
nível de atividade e produção no Brasil.

1.1 Produto interno bruto – PIB

O PIB brasileiro é a soma de todos os produtos e serviços finais


produzidos pela economia brasileira em determinado período de tempo. Esse
indicador é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
em bases trimestrais e anuais. O método básico para cálculo é o valor
adicionado. O valor adicionado de uma atividade econômica é a diferença entre
o valor da produção a preços básicos e o consumo intermediário a preços do
consumidor. Os bens e serviços finais são medidos no preço em que chegam
ao consumidor, levando em consideração também os impostos sobre os
produtos comercializados (IBGE, 2008).
Dessa forma, o PIB vem a ser um indicador de fluxo de novos bens e
serviços produzidos durante um período de tempo, sendo divulgado no nível de
municípios, estados e país. Algumas fontes de dados utilizadas: balanço de
pagamentos (Bacen); declaração de informações econômico-fiscais da pessoa
jurídica (Receita Federal); produção agrícola municipal (IBGE) e pesquisa
mensal de comércio (IBGE).

3
O gráfico 1 apresenta a evolução percentual do PIB desde o segundo
trimestre de 2013.

Gráfico 1 – Percentual de evolução do PIB brasileiro desde o segundo trimestre


de 2013

6
4,7
4
3,2
2 2,6
0
%

-2
-4 -3,9
-4,5
-6

A tabela 1 demonstra os valores do PIB dos últimos 12 trimestres:

Tabela 1 – Valores do PIB brasileiro dos últimos 12 trimestres

Período % Valor* Período % Valor* Período % Valor*


3º tri. 2019 1,3 1.880.632 3º tri. 2020 -3,3 1.888.242 3º tri. 2021 3,9 2.215.185
4º tri. 2019 1,2 1.920.422 4º tri. 2020 -3,9 2.011.364 4º tri. 2021 4,6 2.257.747
1º tri. 2020 0,9 1.845.561 1º tri. 2021 -3,5 2.065.955 1º tri. 2022 4,7 2.249.225
2º tri. 2020 -2,1 1.722.448 2º tri. 2021 1,9 2.140.603 2º tri. 2022 2,6 2.403.990
* Em R$ milhões

A partir da performance do PIB, pode-se fazer várias análises, tais como


IBGE (2022a): traçar a evolução do PIB no tempo, comparando seu
desempenho ano a ano; fazer comparações internacionais sobre o tamanho
das economias dos diversos países, analisar o PIB per capita (divisão do PIB
pelo número de habitantes), que mede quanto do PIB caberia a cada indivíduo
de um país se todos recebessem partes iguais, entre outros estudos.

1.2 Pesquisa Mensal De Serviços (PMS)

A PMS é realizada pelo IBGE e divulgada em bases mensais e anuais.


Abrange empresas registradas no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica
(CNPJ) com 20 ou mais pessoas ocupadas na Pesquisa Anual de Serviços
(PAS) e que desempenham atividades de serviços não financeiros, excluídos

4
os das áreas de saúde e educação. Essa pesquisa é realizada por amostragem
probabilística, em todos os estados.
A PMS divulga os índices de receita nominal e de volume, este último
como resultado da deflação dos valores nominais correntes por índices de
preços específicos para cada grupo de atividade e para cada unidade da
Federação, construídos a partir dos relativos de preços do IPCA (IBGE, 2022b).

Gráfico 2 – PMS – Variação mês/mês imediatamente anterior, com ajuste


sazonal (M/M-1) (%)

10
4 4,3
0 1,5
-2,6 Período % Período % Período %
-10 jul/21 1,8 nov/21 2,9 mar/22 2,2
-12,7 ago/21 1,1 dez/21 2,5 abr/22 0,5
-20 set/21 0,3 jan/22 -0,6 mai/22 1,8
jul19
out19
jan20

jul20
out20
abr20

jan/21
abr/21
jul/21
out/21
jan/22
abr/22

out/21 -0,1 fev/22 1,8 jun/22 1,5

A importância da PMS reside no percentual que o setor de serviços


ocupa no PIB brasileiro, sendo responsável por aproximadamente 60% do
indicador.

1.3 Utilização da Capacidade Instalada da Indústria (UCI)

A UCI é calculada mensalmente pela Confederação Nacional da


Indústria (CNI) e utilizada para monitorar a atividade da indústria de
transformação. A pesquisa abrange 12 estados, responsáveis por 93,9% do
PIB brasileiro. A unidade de investigação é o CNPJ, com dados das empresas
com mais de 20 pessoas ocupadas. A produção é calculada pelo faturamento
líquido, sem a incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (CNI,
2014).
O gráfico 3 demonstra um gráfico da UCI em % desde julho de 2019 e
uma tabela com os percentuais dos últimos 12 meses.

5
Gráfico 3 – UCI em % desde julho de 2019 (gráfico) e nos últimos 12 meses
(tabela)

80 74
70 71
60 Período % Período % Período %
50 49 ago/21 72 dez/21 68 abr/22 69
40
set/21 72 jan/22 67 mai/22 70
30
20 out/21 71 fev/22 68 jun/22 70
10 nov/21 72 mar/22 69 jul/22 71
0
jul19
out19
jan20

jul20
out20
abr20

jan/21
abr/21
jul/21
out/21
jan/22
abr/22
jul/22
O principal objetivo da UCI é conhecer a evolução da produção da
indústria brasileira no curto prazo. Com isso, os formuladores de políticas
públicas podem conhecer os efeitos das políticas econômicas e direcionar as
futuras decisões para essas políticas. Outro fator importante nesse indicador é
que, considerando a importância da indústria no PIB (19%), também ajuda a
analisar esse indicador agregado.

TEMA 2 – INDICADORES DE INFLAÇÃO

Crédito: Perfectlab/Shutterstock.

6
Os índices de inflação medem o aumento nos preços dos produtos e
serviços e são conhecidos como índices de preços. Nesta seção, iremos
demonstrar aspectos do Índice de Preços ao Consumidor Amplo e Índice
Nacional de Preços ao Consumidor, calculados pelo IBGE, e do Índice Geral de
Preços – Mercado, calculado pela Fundação Getúlio Vargas (IBGE-Ibre).

2.1 Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)

O IPCA demonstra a variação do custo de vida médio de famílias com


renda mensal de 1 a 40 salários mínimos. O IPCA é calculado via levantamento
mensal em 13 áreas urbanas, analisando aproximadamente 430 mil preços em
30 mil locais. Além da variação de preços, o índice também leva em
consideração o peso que ele tem no orçamento das famílias.
A coleta padrão do IPCA vai do dia 1º ao dia 31 de cada mês. Porém,
existe também o IPCA-15, que é uma prévia do IPCA e é calculado do dia 16
do mês anterior ao dia 15 do mês de referência. No gráfico 4, demonstramos
os percentuais mensais do IPCA desde julho de 2019 até julho de 2022.

Gráfico 4 – Percentual mensal do IPCA desde julho/2019 (gráfico) e dos


últimos 12 meses (tabela)

2
1,54% Período % Período % Período %
1,5 1,27%
1,09% ago/21 0,94 dez/21 0,64 abr/22 1,03
1
0,5 set/21 1,18 jan/22 0,47 mai/22 0,52
0 out/21 1,22 fev/22 1,02 jun/22 0,73
-0,5 -0,36% nov/21 0,87 mar/22 1,54 jul/22 -0,61
-0,61%
-1
jul19

jul20
out19
jan20
abr20

out20

abr/21
jul/21

abr/22
jul/22
jan/21

out/21
jan/22

O IPCA é considerado o índice de inflação mais importante do Brasil


porque ele serve como referência para a Política de Metas de Inflação, a qual
serve para controlar os níveis de preços no Brasil. As metas de inflação são
definidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e controladas pelo Bacen.
Essas metas possuem um percentual com um intervalo de tolerância,
habitualmente de 1,5 pontos para cima e para baixo. A meta para inflação de
2022 é de 3,5% a.a.

7
2.2 Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC)

Assim como o IPCA, o INPC também é calculado pelo IBGE e a


diferença entre os dois está na amplitude. O INPC calcula o rendimento médio
das famílias que ganham de 1 a 5 salários mínimos. Esse grupo é mais
sensível às variações de preços, pois grande parte de seu consumo é
direcionada para itens básicos.
O cálculo do INPC é dividido em duas etapas. Na primeira, são
calculados os índices regionais. No segundo passo, é calculado o INPC do
mês, obtido por meio da média aritmética ponderada dos 13 índices. A
ponderação leva em conta a população urbana residente em cada estado e
parte da população não coberta pelo Sistema Nacional de Índices de Preços ao
Consumidor (SNIPC) (IBGE, 2016). O INPC mensal registrado desde julho de
2019 e dos últimos 12 meses está descrito no gráfico 5.

Gráfico 5 – INPC desde julho de 2019 (gráfico) e dos últimos 12 meses (tabela)

2 Período % Período % Período %


1,71%
1,5 1,46% ago/21 0,88 dez/21 0,73 abr/22 1,04
1,22%
1 set/21 1,2 jan/22 0,67 mai/22 0,45
0,5 out/21 1,16 fev/22 1 jun/22 0,62
0 nov/21 0,84 mar/22 1,71 jul/22 -0,6
-0,5 -0,25%
-0,6%
-1
jul19
out19
jan20

jul20
out20
abr20

jan/21
abr/21
jul/21
out/21
jan/22
abr/22
jul/22

Dessa forma, a principal utilidade do IBGE está na mensuração da


inflação para as pessoas com renda mais baixa, ao contrário do IPCA, que
mede a população com renda de 1 a 40 salários mínimos.

2.3 Índice Geral de Preços – Mercado (IGPM)

O IGPM é calculado mensalmente pela FGV e é um índice geral de


preços. A diferença entre um índice comum e um índice geral de preços é que
este último é composto por outros índices de inflação. No caso do IGPM, este é
composto por 60% do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPC), 30% do
Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e 10% do Índice Nacional de Custo da

8
Construção (INCC-M). A FGV justifica a escolha desses três componentes em
razão de refletirem adequadamente a evolução de preços de atividades
produtivas passíveis de serem sistematicamente pesquisadas (operações de
comercialização em nível de produtor, no varejo e na construção civil) (FGV–
Ibre, 2016).
Para efeito da coleta de preços, são apurados os valores entre o dia 21
do mês anterior ao de referência e o dia 20 do mês de referência. O gráfico 6
demonstra a evolução mensal do IGP-M desde julho de 2019 de forma gráfica
e uma tabela com os percentuais dos últimos 12 meses.

Gráfico 6 – IGPM desde julho/2019 (gráfico) e dos últimos 12 meses (tabela)

5
4,34% 4,1%
4 Período % Período % Período %
3 ago/21 0,66 dez/21 0,87 abr/22 1,41
2
set/21 -0,64 jan/22 1,82 mai/22 0,52
1
out/21 0,64 fev/22 1,83 jun/22 0,59
0 0,21% nov/21 0,02 mar/22 1,74 jul/22 0,21
-1 -0,67% -0,64%
jul19
out19
jan20

jul20
out20
abr20

jan/21
abr/21
jul/21
out/21
jan/22
abr/22
jul/22

A principal utilidade do IGP-M é o reajuste dos contratos de aluguel,


índice também conhecido como “inflação do aluguel”.

9
TEMA 3 – INDICADORES DE POLÍTICA FISCAL

Crédito: kate3155/Shutterstock.

Os indicadores de política fiscal representam a atividade e o


endividamento do governo central. Neste tema, demonstramos o resultado do
governo central, a dívida bruta do governo central e a Dívida Líquida do Setor
Público (DLSP).

3.1 Resultado do governo central

A conceituação de resultado primário do governo central engloba a


apuração das receitas e as despesas do governo. Entende-se por governo
órgãos e entidades da administração pública federal, abrangendo os órgãos da
administração direta, cuja arrecadação é administrada pela Secretaria da
Receita Federal (SRF) e as entidades da administração indireta, autarquias,
fundações, empresas dependentes e os fundos que compõem os orçamentos
fiscal e da seguridade social, cujas receitas são classificadas como diretamente
arrecadadas (Secretaria do Tesouro Nacional, 2016).
O resultado primário (acima da linha) é o resultado nominal menos a
parcela dos juros nominais (juros reais e atualização monetária) incidentes
sobre a dívida pública. Por ser o resultado acima da linha, não contempla a

10
variação da dívida total (interna e externa). Quando o resultado é positivo,
dizemos que ocorreu um superávit primário, sendo considerado déficit em caso
de resultado negativo. O gráfico 7 demonstra o resultado primário do governo
central de julho de 2019 a julho de 2020 e a porcentagem do PIB da receita e
da despesa do governo.

Gráfico 7 – Resultado anual do governo central e % do PIB

2.500.000,00 4,0%
2.000.000,00 2,0%

1.500.000,00 0,0%
-2,0%
1.000.000,00
-4,0%
500.000,00
-6,0%
- -8,0%
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
(500.000,00) -10,0%
(1.000.000,00) -12,0%

Receita total Despesa total


Resultado Primário Resultado primário como % do PIB

A tabela 2 demonstra os valores do resultado primário de 1998 a 2021.

Tabela 2 – Resultados anuais de 1998 e 2021 do resultado primário (acima da


linha) do governo central

Ano Valor* Ano Valor* Ano Valor* Ano Valor*


1998 7.577 2004 49.341 2010 77.891 2016 -161.276
1999 20.164 2005 52.673 2011 91.891 2017 -124.261
2000 20.982 2006 48.748 2012 84.988 2018 -120.221
2001 21.737 2007 57.650 2013 72.159 2019 -95.065
2002 31.577 2008 71.438 2014 -23.482 2020 -743.255
2003 39.080 2009 39.436 2015 -120.502 2021 -35.068
*Em R$ mil

O resultado primário relaciona o esforço fiscal do período e a variação


da dívida líquida, já que as despesas líquidas com juros refletem déficits
primários do passado. Se o governo gasta menos do que arrecada,
desconsiderando a apropriação de juros sobre a dívida líquida existente, há
superávit primário. Esse superávit pode contribuir para uma redução dos
passivos, uma elevação dos ativos ou uma combinação de ambos.

11
3.2 Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG)

A Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) abrange o total dos débitos de


responsabilidade do governo federal, dos governos estaduais e dos governos
municipais, junto aos setores privado, e público-financeiro e ao resto do mundo.
São incluídas também as operações compromissadas realizadas pelo Banco
Central com títulos públicos. O gráfico 8 demonstra a evolução da DBGG em
valores e como percentual do PIB.

Gráfico 8 – Dívida Bruta do Governo Geral em milhões de R$ e em % do PIB

9.000.000,00 105
8.000.000,00
100
7.000.000,00
6.000.000,00 95
5.000.000,00
90
4.000.000,00 DBGG
3.000.000,00 85 % do PIB
2.000.000,00
80
1.000.000,00
0,00 75
set/19

jan/20

set/20

jan/21

set/21

jan/22
jul/19

nov/19

mar/20
mai/20
jul/20

nov/20

mar/21
mai/21
jul/21

nov/21

mar/22
mai/22
jul/22

Os valores da DBGG dos últimos 12 meses estão descritos na tabela 3.

Tabela 3 – Valores da DBGG dos últimos 12 meses

Período % do PIB Valor* Período % do PIB Valor* Período % do PIB Valor*


ago/21 93,65 7.806.344 dez/21 92,34 8.014.883 abr/22 89,41 8.013.026
set/21 92,31 7.784.670 jan/22 91,58 7.994.833 mai/22 89,48 8.127.142
out/21 90,98 7.745.154 fev/22 92,36 8.111.834 jun/22 90,34 8.307.536
nov/21 91,59 7.878.607 mar/22 89,83 7.961.559 jul/22 88,71 8.249.437
* Em R$ milhões

A importância da dívida bruta é diretamente proporcional às diferenças


entre o passivo e o ativo, não apenas em termos de tamanho, mas também de
características, como taxa de juros, vencimento, liquidez, risco de
inadimplência, moeda em que estão denominados, índice de preços a que
estão indexados etc. (Pellegrini, 2013).

12
3.3 Dívida Líquida do Setor Público (DLSP)

A DSLP é a mensuração da dívida do setor público não financeiro mais o


Bacen. Considera-se como setor público não financeiro as administrações
diretas federal, estaduais e municipais, as administrações indiretas, o sistema
público de previdência social e as empresas estatais não financeiras federais,
estaduais e municipais, exceto as empresas do Grupo Petrobras e do Grupo
Eletrobras. Considera-se também a empresa Itaipu Binacional. A DLSP é
definida como o balanceamento entre as dívidas e os créditos do setor público
não financeiro e do Banco Central.
A DLSP como proporção do PIB é considerada o principal indicador do
desempenho fiscal do setor público no Brasil. Porém, esse indicador precisa
ser analisado com outros fatores para se ter uma situação geral da dívida
pública brasileira. O gráfico 9 demonstra a evolução da DLSP desde julho de
2019 até julho de 2022 e o percentual do PIB equivalente a essa dívida.

Gráfico 9 – DLSP e seu % do PIB desde julho de 2019

5.000.000,00 60
4.500.000,00
4.000.000,00 50
3.500.000,00 40
3.000.000,00
2.500.000,00 30
DLSP
2.000.000,00
1.500.000,00 20 % do PIB
1.000.000,00 10
500.000,00
0,00 0
set/19

jan/20

set/20

jan/21

set/21

jan/22
jul/19

nov/19

mar/20
mai/20
jul/20

nov/20

mar/21
mai/21
jul/21

nov/21

mar/22
mai/22
jul/22

A tabela 4 demonstra os valores da DLSP e o percentual do PIB de


agosto de 2021 a julho de 2022.

Tabela 4 – Valores da DLSP e % do PIB desde agosto/2021

Período % do PIB Valor* Período % do PIB Valor* Período % do PIB Valor*


ago/21 47,93 3.995.522 dez/21 46,43 4.029.713 abr/22 48,74 4.367.678
set/21 47,07 3.969.447 jan/22 46,47 4.056.585 mai/22 49,4 4.486.943
out/21 46,27 3.938.553 fev/22 47,46 4.167.981 jun/22 48,27 4.438.375
nov/21 46,34 3.986.580 mar/22 48,99 4.341.515 jul/22 47,87 4.451.428
* Em R$ milhões

13
Diferentemente da DBGG, esse indicador de endividamento líquido
contabiliza passivos e ativos financeiros dos órgãos de governo (administração
direta, fundações e autarquias, incluindo o Banco Central) e empresas estatais
não financeiras federais, estaduais e municipais.

TEMA 4 – INDICADORES DE POLÍTICA MONETÁRIA

Crédito: Jo Galvao/Shutterstock.

Neste tema, analisaremos dois instrumentos de política monetária


utilizados pelo Bacen para controlar os níveis de preços no país: a taxa Selic,
estudada com o IPCA e a base monetária. Esses instrumentos são os dois
principais utilizados pelo Bacen para controle da inflação.

4.1 Taxa Selic

A taxa Selic é a taxa básica de juros da economia e o principal


instrumento de política monetária utilizado pelo Bacen para controlar a inflação.
A taxa Selic apresenta duas denominações, meta e over. A Selic meta é a taxa
de juros básica da economia definida na reunião do Comitê de Política
Monetária do Bacen (Copom). Essas reuniões acontecem a cada 45 dias.
Uma vez que a taxa Selic possui ligação com o controle da inflação, o
gráfico 10 demonstra o histórico da Selic de agosto de 2005 a julho de 2022 e o
histórico mensal da taxa IPCA para o mesmo período.

14
Gráfico 10 – Taxa Selic mensal × Taxa IPCA mensal de agosto de 2005 a julho
de 2022

25,00% 12,13%14,00%
20,00%
10,36% 12,00%
Taxa Selic definida nas reuniões
10,00%
15,00% 8,00% Período % Período % Período %
10,00% 6,00%
fev/21 2,00% ago/21 5,25% fev/22 10,75%
4,00%
5,00%
2,99% 2,00% mar/21 2,75% set/21 6,25% mar/22 11,75%
0,00% 2,00% 0,00%
mai/21 3,50% out/21 7,75% jun/22 13,25%
dez/11

set/16

nov/19
mar/07

mai/10

jun/21
abr/18
out/08

jul/13
fev/15
ago/05

jun/21 4,25% dez/21 9,25% mai/22 12,75%

SELIC IPCA

A Selic influencia todas as demais taxas de juros do país, como as taxas


de juros dos empréstimos, dos financiamentos e das aplicações financeiras.
Porém, sua maior importância reside em ser um dos principais instrumentos de
controle da inflação, medida pelo IPCA.

4.2 Base monetária

A base monetária é a soma do papel-moeda emitido em poder do


público com as reservas totais dos bancos comerciais, sendo igual ao total de
moeda colocado em circulação. Esse indicador representa a função de emissor
de papel-moeda pelo Bacen e um passivo dessa instituição junto ao público e
aos bancos comerciais, pois o Bacen fica “devendo” esses valores para o
mercado. O gráfico 11 demonstra o histórico dos valores do papel-moeda
emitido (PME) e das reservas bancárias, sendo que a soma dos dois é igual à
base monetária.

Gráfico 11 – PME + Reservas bancárias = total da base monetária

500.000.000

400.000.000

300.000.000

200.000.000

100.000.000

0
jan/13
jun/13

set/14

dez/15

jan/18
jun/18

set/19

dez/20
nov/13

fev/15

mai/16

nov/18

fev/20
abr/14

jul/15

out/16
mar/17

abr/19

jul/20

mai/21
out/21
mar/22
ago/12

ago/17

Reservas bancárias (média nos dias úteis do mês) - (R$ mil)


Papel moeda emitido (média nos dias úteis do mês) - R$ (mil)
15
Os valores de papel-moeda emitido e o total de reservas estão descritos
na tabela 6.

Tabela 6 – PME e Reservas Bancárias de julho de 2021 a junho de 2022

Período PME* Reservas* Período PME* Reservas*


jul/21 334.082.283 74.603.544 jan/22 343.717.311 66.102.481
ago/21 327.696.582 66.314.197 fev/22 343.093.591 69.595.736
set/21 323.793.178 67.262.094 mar/22 339.173.505 70.299.091
out/21 321.185.179 66.779.791 abr/22 334.297.469 69.295.502
nov/21 325.068.233 67.112.485 mai/22 330.908.399 68.555.222
dez/21 330.460.453 66.123.445 jun/22 336.170.515 70.827.427
*Em R$ mil

Em uma economia com bancos centrais, a demanda pela base


monetária é realizada pelo público e pelos bancos. Os bancos demandam base
pela necessidade de manter reservas (encaixes). O público demanda base
para transformá-la em meios de pagamento. A questão relevante é que a
quantidade total de meios de pagamento é um múltiplo da base monetária. Isso
ocorre porque os bancos, ao aceitarem depósitos de clientes, também criam
meios de pagamentos pelo mecanismo da multiplicação monetária (Carvalho et
al., 2015).

TEMA 5 – INDICADORES DE POLÍTICA EXTERNA

Crédito: WILLIAM POTTER/Shutterstock.

16
Neste tema, apresentaremos o saldo em transações correntes e seus
componentes, bem como o saldo em reservas internacionais.

5.1 Saldo em transações correntes e balança comercial

O saldo em transações correntes é a soma da balança comercial e a


balança de serviços (transportes, seguros, remessas e recebimento de juros e
lucros, rendas e transações unilaterais). A balança comercial, por sua vez,
representa o saldo das exportações menos as importações realizadas pela
economia do país em determinado período. Demonstramos no gráfico 12 os
saldos em transações correntes e seus componentes de junho de 2020 a maio
de2022.

Gráfico 12 – Saldo em transações correntes e seus componentes de


junho/2020 a maio de 2022

10.000,00 6.000,00
8.000,00
4.000,00
6.000,00
4.000,00 2.000,00

2.000,00 0,00
0,00
-2.000,00
-2.000,00
-4.000,00 -4.000,00

-6.000,00 -6.000,00
-8.000,00
-8.000,00
-10.000,00
-12.000,00 -10.000,00
jun/20

set/20

dez/20
jan/21

jun/21

set/21

dez/21
jan/22
jul/20

nov/20

fev/21

nov/21

fev/22
out/20

mar/21

mai/21
abr/21

jul/21

out/21

mar/22

mai/22
abr/22
ago/20

ago/21

Balança comercial Balança de Serviços


Rendas primárias Renda secundária e transaferências unilaterais
Transações correntes

Na tabela 7, demonstramos os valores para os últimos 12 meses desses


indicadores.

17
Tabela 7 – Saldo em transações correntes e seus componentes de junho de
2021 a maio de 2022

Transações Balança Renda Renda


Data Serviços*
correntes* comercial * primária* secundária*
jun/21 2.035 7.452 -1.608 -4.044 235
jul/21 -1.175 6.262 -1.333 -6.356 252
ago/21 318 5.670 -1.572 -3.993 213
set/21 -1.921 2.551 -1.352 -3.391 270
out/21 -4.368 1.367 -1.444 -4.590 298
nov/21 -6.389 -2.333 -1.588 -2.675 207
dez/21 -5.813 2.749 -1.927 -6.913 278
jan/22 -7.973 -1.316 -1.494 -5.432 268
fev/22 -2.373 3.565 -1.774 -4.429 265
mar/22 -2.778 6.095 -2.188 -6.953 268
abr/22 1.088 6.838 -2.239 -3.784 274
mai/22 -3.506 3.446 -2.376 -4.928 352
*Valores em R$ milhões

O saldo em transações correntes demonstra as transações da economia


aberta com o resto do mundo. Um saldo deficitário em transações correntes
indica que o país não produziu uma quantidade suficiente de divisas para pagar
as despesas com o resto do mundo no mesmo período.

5.2 Reservas Internacionais

As reservas internacionais são as divisas (moeda estrangeira) que o


país tem em determinado período de tempo. No Brasil, esse indicador é
mensurado em dólares norte-americanos (US$). No gráfico 13, demonstramos
o histórico dos valores das reservas internacionais brasileiras desde o início do
Plano Real (julho de 1994 a agosto de 2022).

18
Gráfico 13 – Reservas internacionais: total mensal (em US$ mil)

450.000
400.000
350.000
300.000
250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
0
set/96

dez/99
jan/01

jun/06

set/09

dez/12
jan/14

jun/19
jul/94

nov/98

fev/02
out/97

mar/03

mai/05

nov/11

fev/15
abr/04

jul/07

out/10

mar/16

mai/18
abr/17

jul/20
ago/95

ago/08

ago/21
O saldo em reservas internacionais é um importante indicador porque é
o resultado do balanço de pagamentos. Caso o resultado do balanço de
pagamentos seja positivo, esse indicador também é positivo, indicando
acúmulo de reservas no período via conta ativos de reservas.

TROCANDO IDEIAS

Quais as principais conclusões que podemos tirar dos dados desta etapa
com relação à economia brasileira? Como está a evolução da economia?
Utilizando seu conhecimento da teoria econômica, exercite essa discussão com
alguém da sua comunidade.

NA PRÁTICA

A política de metas de inflação é a principal ferramenta do Bacen para o


controle dos preços. Vamos propor a leitura da última carta justificando o não
cumprimento das metas e sugerir algumas questões para resposta. Baixe o
arquivo disponível em:
<https://www.bcb.gov.br/content/controleinflacao/controleinflacao_docs/carta_a
berta/OF_CIO_823_2022_BCB_SECRE_01.pdf>. Acesso em: 29 set. 2022 e
responda:

19
1. Quais os principais motivos que levaram a inflação a superar o limite
superior de tolerância?
2. Entre os preços livres e administrados, qual teve o maior impacto no
IPCA? De quanto foi seu peso para a inflação de 10,06% em 2021?
3. Quais foram as mudanças na taxa Selic adotadas pelo Copom para
tentar controlar a inflação?

FINALIZANDO

Inflação, PIB, crescimento, controle dos gastos do governo e a relação


econômica do país com o resto do mundo são preocupações frequentes da
economia. Esta etapa buscou fornecer dados e as metodologias utilizadas para
o cálculo dos principais indicadores referentes a esses dados. Estimulamos
os(as) leitores(as) a buscarem, por meio das técnicas, outros dados
semelhantes para realizar suas análises.

20
REFERÊNCIAS

CARVALHO, F. et al. Economia monetária e financeira: teoria e política. 3.


ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.

CNI – CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Metodologia:


indicadores industriais. 25. ed. Brasília: CNI, 2014.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS – IBRE. IGP-M: Índice Geral de Preços:


mercado. São Paulo: FGV, 2016.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas


nacionais trimestrais: Série relatórios metodológicos. 2. ed. Rio de Janeiro:
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2008.

______. Para compreender o INPC (um texto simplificado). 7. ed. Rio de


Janeiro: IBGE, 2016.

______. PMS – Pesquisa Mensal de Serviços. Disponível em:


<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/servicos/9229-pesquisa-
mensal-de-servicos.html?=&t=destaques>. Acesso em: 28 set. 2022.

PELLEGRINI, J. A. Indicadores de dívida pública e política fiscal recente.


Brasília, DF, 2013.

STN – SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL. Manual de estatísticas


fiscais do boletim resultado do Tesouro Nacional. Brasília, DF, 2016.

21
ANÁLISE DO CONTEXTO
ECONÔMICO E SOCIAL
BRASILEIRO
AULA 4

Prof. Itamir Caciatori Junior


CONVERSA INICIAL

Nesta etapa, iniciaremos o detalhamento dos dados de crescimento e


desenvolvimento expostos em capítulos anteriores. Para isso, dividimos o
conteúdo nos seguintes tópicos: indicadores de desenvolvimento; indicadores do
mercado financeiro e classificação de risco; as contas públicas e as políticas de
gastos públicos; indicadores setoriais – agronegócio, indústria, comércio e
serviços e; indicadores regionais de atividade econômica.

CONTEXTUALIZANDO

Diariamente somos atingidos por notícias sobre os principais dados


econômicos brasileiros. Porém, como ocorre em outros campos do
conhecimento, é necessário um detalhamento maior para que possamos tirar
nossas conclusões a respeito dos números que nos são demonstrados.
Isso nos leva a algumas questões, tais como: como os indicadores de
desenvolvimento de um país são trabalhados? Como está o mercado financeiro
nacional e sua classificação de risco? Qual a estratificação das contas públicas
sob responsabilidade da União? De que forma o PIB é dividido em agronegócio,
indústria, comércio e serviços? Como está o comportamento dos principais
indicadores regionais de atividade econômica?

TEMA 1 – INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO

Crédito: Daniela Barreto/Shutterstock.

2
Antes da exposição dos índices de desenvolvimento, é necessário
diferenciar crescimento e desenvolvimento econômico. Para Giambiagi (2012),
enquanto o crescimento econômico tenta entender o fenômeno do crescimento
de modo geral, o desenvolvimento econômico busca entender as diferenças
entre os países.
Outra polêmica envolvendo esses conceitos é o uso do PIB como
indicador de desenvolvimento. Para o autor, considerando a média de períodos
mais longos, o PIB por habitante não é um índice que possa ser desprezado
quando se trata de analisar o desenvolvimento. Neste tópico, apresentaremos o
PIB per capita e o Índice de Gini.

1.1 PIB per capita

O PIB per capita é um indicador calculado pelo Banco Mundial e está


disponível no banco de dados World Bank Data. O PIB per capita é o produto
interno bruto dividido pela população no meio do ano. O PIB é a soma do valor
bruto agregado por todos os produtores residentes na economia mais quaisquer
impostos sobre os produtos.
É calculado sem fazer deduções por depreciação de bens fabricados ou
por esgotamento e degradação de recursos naturais. Os dados desse indicador
são demonstrados em dólares americanos atuais e o período de cálculo é anual.
A figura 1 demonstra a distribuição do PIB per capita pelo planeta, incluindo as
variações de acordo com cada país analisado.

3
Figura 1 – Distribuição do PIB per capita pelo mundo para o ano de 2021 (em
US$ dólares)

$0 $ 1.000 $ 2.000 $ 5.000 $ 10.000 $ 20.000 $ 50.000 $ 100.000 $ 200.000

Fonte: World Bank Data, 2021.

Para o caso do Brasil, o país possui um histórico de crescimento nesse


indicador a partir do ano de 1960. Porém, após atingir um pico no ano de 2011,
o Brasil vem experimentando quedas consecutivas no PIB per capita. A figura 2
demonstra a evolução desse indicador de 1960 a 2021 em nosso país.

Figura 2 – Evolução do PIB per capita brasileiro de 1960 a 2021 (em US$)

14.000 13.245

12.000

10.000

8.000

6.000 7.519

4.000
2.839
2.000
236
-
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
2000
2002
2004
2006
2008
2010
2012
2014
2016
2018
2020

Fonte: elaborado por Caciatori, 2022, com base em World Bank Data, 2022.

4
1.2 Índice de Gini

O Índice de Gini é um indicador de concentração calculado a partir da


curva de Lorenz. No caso da distribuição pessoal de renda, essa curva considera
as faixas da população acumulada (dos mais pobres aos mais ricos), com a
participação acumulada dessas faixas (Gremaud et al., 2016). A figura 3
demonstra um exemplo da Curva de Lorenz.

Figura 3 – Curva de Lorenz


% da renda acumulada

D
Curva de Lorenz
45%

A C
4%

20% 80%

% da população acumulada

Crédito: Itamir Caciatori Junior, 2022.

Explicando a figura 3, o ponto C demonstra que os 20% da população


mais pobre possuem 4% da renda e o ponto D indica que 80% da população
possui 45% da renda. Quando a renda é perfeitamente distribuída, por exemplo,
quando 40% da população possui 40% da renda, a Curva de Lorenz é
exatamente a reta que liga os pontos A e B. Dessa forma, quanto mais próxima
essa reta estiver da Curva de Lorenz, mais bem distribuída é a renda do país, e
quanto mais essa curva se aproxima da curva AOB, mais mal distribuída é a
renda do país. Quanto mais próximo de 1, maior é a área da curva e,
consequentemente, maior é a concentração de renda no país.

5
Para o caso brasileiro, a figura 4 demonstra a evolução desse indicador
de 1981 a 2020.

Figura 4 – Índice de Gini para o Brasil entre 1981 e 2020

0,65

0,63

0,61

0,59

0,57

0,55

0,53

0,51

0,49

0,47

0,45

*Observação: os períodos em branco não tiveram medição do indicador


Fonte: World Bank Data, 2022.

Em comparação com os 169 países analisados e que tiveram seus dados


mais recentes publicados pelo Banco Mundial, o Brasil ocupou a 17ª posição
dentre os países com as piores distribuições de renda. A figura 5 demonstra a
distribuição desse indicador pelo globo (quanto mais vermelho o país, pior o
índice).

6
Figura 5 – Distribuição do Índice de Gini pelo mundo no ano de 2018

0, 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,5 0,55 0,6 0,65

Fonte: Our World in Data /Banco Mundial

TEMA 2 – INDICADORES DO MERCADO FINANCEIRO E CLASSIFICAÇÃO DE


RISCO

Crédito: MarcosRony/Shutterstock.

7
Tendo como base os principais indicadores do mercado financeiro, este
tópico apresenta três desses indicadores: concentração bancária; índice de
Basileia e; inclusão financeira.

2.1 Concentração Bancária

Para mensurar a concentração bancária no Brasil, o BACEN utiliza o


Índice Herfindahl-Hirschman Normalizado (IHHn) e a Razão de Concentração
dos Cinco Maiores (RC5) nos agregados contábeis relativos aos ativos totais, às
operações de crédito e aos depósitos totais no Brasil. O IHHn é obtido pelo
somatório do quadrado da participação de mercado, na forma décima, de cada
instituição financeira, resultando em um número entre 0 e 1. O BACEN considera
a concentração pelo IHHn nos seguintes patamares (Banco Central do Brasil,
2020).

 Entre 0 e 0,10 = baixa concentração;


 Acima de 0,10 até 0,18 = moderada concentração;
 Acima de 0,18 e até 1 = elevada concentração.

De acordo com os dados da instituição, os dados históricos desses dois


indicadores estão apresentados na tabela 1.
Tabela 1 – Indicadores de concentração do segmento bancário e não bancário
brasileiro por ativos totais

Indicadores Dez 2018 Dez 2019 Dez 2020


IHHn 0,1090 0,1071 0,0983
RC5 (%) 69,3 69,8 67,0
Fonte: Banco Central do Brasil, 2020.

Esses resultados indicam que, considerando o IHHn, o mercado bancário


brasileiro apresentou um nível de concentração moderada nos períodos
analisados.

2.2 Índice da Basileia

O índice da Basileia faz parte dos Acordos de Basileia, um conjunto de


regras e metodologias estabelecidas pelo Comitê de Supervisão Bancária da
Basileia para análise do risco de crédito bancário (Galvão et al., 2018). Esse
Comitê estabelece regras de capitalização mínimas às quais os bancos dos
países signatários do acordo devem estar de acordo.
8
Esse índice busca medir a solvência das instituições financeiras, ou seja,
quanto de capital próprio o banco possui no passivo com outros agentes
econômicos. O acordo da Basileia está em sua terceira versão, em resposta à
crise financeira de 2008 e o índice atual exigido no Brasil está em 11%. Ou seja,
dos ativos ponderados ao risco, cada instituição deve possuir, no mínimo, 11%
desses valores em seu patrimônio de referência. De forma mais simplificada,
isso significa que, para cada R$ 100,00 emprestados para pessoas físicas e
empresas, o banco possui R$ 11,00 de patrimônio do banco para resguardar
essas operações.
No Brasil, a composição dos cinco maiores bancos para o Índice da
Basileia em dezembro de 2021 está demonstrada na Tabela 2.

Tabela 2 – Índice de Basileia para os cinco maiores bancos brasileiros em


dezembro de 2021

Banco Índice
B1 14,72%
B2 15,76%
B3 17,76%
B4 19,27%
B5 14,91%
Fonte: Bacen, 2022.

Considerando os cinco maiores bancos brasileiros, podemos verificar que


esse indicador apresenta adequado grau de solvência, indo de 14,72% para
19,27%.

2.3 Inclusão financeira

A inclusão financeira, também definida como cidadania financeira,


representa a participação dos bancos na vida das pessoas por meio de
indicadores como grau de bancarização, percentual de utilização de produtos e
serviços financeiros e quantidade de agências bancárias instaladas. Com base
no fechamento de 2020, o Relatório de Cidadania Financeira, elaborado pelo
Bacen, apresenta que o percentual de adultos com relacionamento com
instituições financeiras no Brasil está acima de 85%. A figura 6 detalha as
quantidades por tipo de instituição.

9
Figura 6 – Relacionamentos de pessoas físicas com o Sistema Financeiro
Nacional (SFN) por segmento

300

250

200
Milhões

150

100

50

-
2018 2019 2020

Bancos Instituições Pagamento Cooperativas


Instituições Crédito Mercado Capitais Bancos Especializados

Fonte: Relatório de Cidadania Financeira, Bacen, 2021.

Um destaque desses números é a quantidade de clientes atendidos por


instituições de pagamento. Essas instituições são conhecidas como bancos
digitais e, via de regra, não possuem agências físicas para atendimento ao
público. Dessa forma, além de apresentar o aumento da bancarização, esses
números também indicam aumento no uso de dispositivos móveis para acesso
a serviços financeiros.
Dos novos relacionamentos entre 2018 e 2020, grande parte deles se
deve à pandemia de COVID-19, durante a qual os bancos restringiram parcial ou
totalmente o atendimento e houve a criação do auxílio emergencial. Esse auxílio
demandou a abertura de milhões de novas contas para o seu recebimento e,
durante o ano de 2020, aproximadamente 14 milhões de cidadãos iniciarem
relacionamento com o SFN. A figura 7 detalha esses números.

10
Figura 7 – Novos relacionamentos de pessoas físicas com o SFN por segmento

16
14
12
10
Milhões

8
6
4
2
0

jan-20
jan-19

mar-20
jan-18

mar-19

mai-20

nov-20
jan-17

mar-18

mai-19

nov-19

jul-20
set-20
mar-17

mai-18

nov-18

jul-19
set-19
mai-17

nov-17

jul-18
set-18
jul-17
set-17

Bancos Instituição de Pagamento


Cooperativas Instituição de Crédito
Mercado de Capitais Bancos especializados

Fonte: Relatório de Cidadania Financeira, Bacen, 2021.

TEMA 3 – AS CONTAS PÚBLICAS E AS POLÍTICAS DE GASTOS PÚBLICOS

Crédito: Rafastockbr/Shutterstock.

As contas públicas são definidas pelo orçamento da União. Nesse tópico,


apresentaremos as principais políticas de gastos públicos, o orçamento da União
e a divisão dos gastos pelos ministérios e setores do governo.

11
3.1 Políticas de Gastos Públicos

A arrecadação de um país se dá por meio dos impostos que, totalizados,


representam a carga tributária bruta. A carga tributária líquida representa a carga
tributária bruta menos as transferências governamentais (juros da dívida pública,
subsídios e gastos com assistência e previdência social). Os gastos correntes
do governo são financiados com a carga líquida e a diferença entre a receita
líquida e o consumo do governo é caracterizada como poupança do governo em
conta corrente (Lopes, 2018). Outro conceito importante na política fiscal é o
déficit público, definido como a diferença entre o investimento público e a
poupança do governo em conta corrente.
Quando o déficit é negativo, indicamos que há um superávit e uma política
fiscal contracionista, ou seja, com restrição na demanda. Quanto o déficit é
positivo, dizemos que o governo está com uma política fiscal expansionista, ou
seja, gastando mais do que arrecadando. Quanto esse déficit ocorre, ele deve
ser financiado com a venda de títulos públicos ao setor privado ou internamente
com a venda de títulos públicos ao Banco Central.
Nessa segunda opção, a compra de títulos pelo Banco Central é feita com
a emissão de moeda e as duas causam o endividamento do setor público. Esse
endividamento é uma nova categoria de gastos, ou seja, com a rolagem e o
pagamento dos serviços dessa dívida. Os juros da dívida são caracterizados
como gastos com transferências (Lopes, 2018).

3.2 Legislação do Orçamento Público

O orçamento do Governo Federal é estipulado pela Lei Orçamentária


Anual (LOA). Essa lei apresenta um planejamento que indica o quanto e onde
gastar o dinheiro público no período de um ano, com base no valor arrecadado
pelos impostos. O Poder Executivo elabora a LOA e o Poder Legislativo a
transforma em lei. Os 26 Estados e o Distrito Federal também elaboram seus
orçamentos, prevendo a arrecadação e os gastos a serem realizados no
exercício.
Existem outras duas leis orçamentárias que balizam esse processo. A
primeira delas é o Plano Plurianual (PPA), responsável pelo planejamento de um
período de quatro anos. Essa lei é encaminhada pelo Executivo ao Congresso
até o dia 31 de agosto do primeiro ano de cada governo e começa a valer no ano

12
seguinte. Ou seja, o presidente que a encaminhou irá obedecê-la por três anos
e restará um ano ao presidente seguinte, o que auxilia a manutenção da
continuidade administrativa.
Com a PPA aprovada, o Executivo envia ao Congresso a Lei de Diretrizes
Orçamentárias (LDO), a qual, após aprovada pelo Legislativo, irá definir as
diretrizes da LOA. Os projetos do PPA, LDO e LOA são realizados pelo
Presidente da República e alterados/votados pelo Legislativo. Após o projeto de
Orçamento ser aprovado, ele volta ao Executivo para a sanção pelo presidente
da República, sendo transformado em lei. Daí em diante inicia-se a fase da
execução, que é a liberação das verbas.

3.3 Orçamento ministerial

A distribuição do orçamento da União é realizada por ministérios e setores


(ex. Economia, Trabalho e Presidência da República). O orçamento de despesas
previstas para o ano de 2021 foi de R$ 4,33 trilhões, enquanto o de receitas foi
R$ 4,18 trilhões. Desse valor, foram executados R$ 4,08 em receitas e R$ 3,66
trilhões em despesas, equivalente a 84,53% do total das despesas orçadas. No
momento da elaboração da LOA, os gastos previstos devem ter sua fonte de
origem definida para não gerar déficit nas contas públicas. A tabela 3 demonstra
os valores referentes aos 10 maiores orçamentos ministeriais em termos de
valores orçados (previstos) e realizados.

Tabela 3 – Orçamento previsto e realizado por ministérios para o ano de 2021

Receitas Despesas
Órgão %
Previsto Realizado % realizado Previsto Realizado
executado
2021* 2021* e previsto 2021* 2021*
e previsto
Ministério da Economia 3.114.400 3.445.687 110.64% 2.661.457 2.322.905 87.28%

Ministério do Trabalho 765.863 516.386 67.43% 809.003 722.818 89.35%

38.69% 153.505 123.429 80.41%


Ministério da Educação 87.428 33.828
22.79% 117.058 84.33%
Ministério da Defesa 68.519 15.614 98.718
35.21% 81.99%
Ministério de Minas e Energia 43.184 15.204 71.653 58.746
12.36% 40.67%
Ministério do Desenvolvimento Regional 19.544 2.416 37.883 15.408
43.03% 62.00%
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abast. 15.303 6.586 24.891 15.433
147.26% 27.04%
Ministério da Infraestrutura 15.071 22.193 24.788 6.703
43.62% 78.16%
Ministério da Justiça e Segurança Pública 10.191 4.445 18.347 14.340
46.55% 45.21%
Ministério da Ciência, Tec., Inov. e Com. 9.861 4.591 12.782 5.779

Demais órgãos 31.351 13.282 42,37% 402.868 273.846 67,97%


Total 4.180.716 4.080.232 97,60% 4.334.236 3.658.125 84,40%
* Valores em R$ milhões
Fonte: Portal da Transparência
13
Destacam-se as arrecadações do Ministério da Economia, as quais
superaram em 10,64% o valor previsto na LOA e o fato de que o orçamento total
das despesas foi equivalente a 84,40% do valor orçado. Ou seja, houve um
superávit de receitas superiores às despesas em R$ 422 bilhões.

TEMA 4 – INDICADORES SETORIAIS: AGRONEGÓCIO, INDÚSTRIA,


COMÉRCIO E SERVIÇOS

Crédito: VectorMine/Shutterstock.

Este tópico demonstra a participação dos segmentos do agronegócio,


indústria, comércio e serviços no percentual do PIB. Além disso, apresentamos
a estratificação por segmentos de cada um desses setores.

4.1 Agricultura

O agronegócio é caracterizado como a soma de quatro segmentos:


insumo para a agropecuária, produção agropecuária básica, ou primária,
agroindústria (processamento) e agrosserviços. A análise desse conjunto de
segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao
serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do
agronegócio (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) -
ESALQ USP, 2022).
O Cepea/Esalq-USP, responsável pelo cálculo do PIB do agronegócio
brasileiro, mede o PIB do agronegócio pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor

14
Adicionado (VA) total deste setor na economia, avaliado a preços de mercado
(considera impostos indiretos menos subsídios). O PIB do agronegócio brasileiro
se refere, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de
insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas
as atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda,
por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e
trabalho). A figura 8 demonstra a divisão do ramo agrícola entre os anos de 2012
e 2021.

Figura 8 – PIB da agricultura brasileira entre os anos de 2012 e 2021 (em R$


milhões)

2.000.000

1.800.000

1.600.000

1.400.000

1.200.000

1.000.000

800.000

600.000

400.000

200.000

-
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Insumos Agropecuária Indústria Serviços

Fonte: Cepea/Confederação Nacional da Agricultura (CNA).

A figura 8 demonstra que a o ramo de serviços agrícolas representa,


historicamente, o maior percentual da série histórica. Para exemplificar, em 2021
esse segmento representou 43,12% do total do PIB do ramo agrícola.
Em relação ao ramo pecuário, demonstrado na figura 9, o segmento de
serviços também se destaca, equivalente a 42,12% do total da pecuária para o
ano de 2021.

15
Figura 9 – PIB do ramo pecuário entre os anos de 2012 e 2021 (em R$ milhões)

2.000.000

1.800.000

1.600.000

1.400.000

1.200.000

1.000.000

800.000

600.000

400.000

200.000

-
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Insumos Agropecuária Indústria Serviços

Fonte: Cepea/CNA.

Considerando sua participação no PIB, dados do Cepea/CNA para o ano


2021 demonstram que o setor de agronegócio teve uma participação de 24,7%
no PIB brasileiro.

4.2 Indústria

A mudança no perfil da economia brasileira desde os anos 1980 é refletida


também na participação da indústria no PIB. O setor industrial, que já alcançou
48% de participação no total do PIB, em 2021 encerrou o ano com uma
participação equivalente a 22,2% desse indicador (Confederação Nacional da
Indústria). A figura 10 demonstra a participação dos segmentos no total da
indústria.

16
Figura 10 – Participação trimestral dos segmentos na indústria brasileira

500.000
450.000
400.000
350.000
300.000
250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
-
3º trimestre 4º trimestre 1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre 4º trimestre 1º trimestre 2º trimestre
2020 2020 2021 2021 2021 2021 2022 2022

Indústrias extrativas Indústrias de transformação Eletricidade e gás, água, esgoto Construção

Fonte: IBGE, 2022.

4.3 Comércio e serviços

O setor de comércio e serviços apresentou participação de 69,75% no PIB


brasileiro para o ano de 2021. A literatura demonstra que, quanto maior a
participação desse setor na economia, mais desenvolvido tende a ser o país. A
figura 11 demonstra a divisão do setor de serviços por segmento em bases
trimestrais.

Figura 11 – Total trimestral do setor de serviços e seus segmentos

1.600.000
1.400.000
1.200.000
1.000.000
800.000
600.000
400.000
200.000
-
3º trimestre 4º trimestre 1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre 4º trimestre 1º trimestre 2º trimestre
2020 2020 2021 2021 2021 2021 2022 2022

Comércio Transp., armazenagem e correio


Informação e comunic. Atividades financ., de seguros
Atividades imobiliárias Outras atividades de serviços
Adm., saúde e ed. pub. e seg. social

Fonte: IBGE, 2022.

17
TEMA 5 – INDICADORES REGIONAIS DE ATIVIDADE ECONÔMICA

Crédito: Timyee/Shutterstock.

As duas medidas mais importantes de atividade econômica por região são


o PIB Regional e a arrecadação de impostos federais. Neste tópico, trataremos
desses assuntos e das particularidades que eles apresentam.

5.1 PIB Regional

A demonstração dos valores do PIB brasileiro por regiões demonstra uma


distribuição desigual desse indicador dentre os Estados. A região que apresenta
o maior PIB é a Sudeste, com 53%. Esse resultado equivale a mais da metade
do PIB brasileiro sendo dividido entre três estados. A região que possui o menor
PIB é a Norte, com 6% do total. A tabela 4 demonstra o PIB estadual para o ano
de 2019, período com última disponibilização de dados do IBGE.

18
Tabela 4 – PIB por Estados brasileiros e regiões para o ano de 2019

Unidades da PIB em 2019 PIB per % PIB por


Região Estado
Federação (1.000.000 R$) capita Região
Distrito Federal 273.614 90.743 3,70%
Goiás 208.672 29.732 2,82%
Centro Oeste 10%
Mato Grosso 142.122 40.787 1,92%
Mato Grosso do Sul 106.943 38.483 1,45%
Alagoas 58.964 17.668 0,80%
Bahia 293.241 19.716 3,97%
Ceará 163.575 17.912 2,21%
Maranhão 97.340 13.758 1,32%
Paraíba 67.986 16.920 Nordeste 0,92% 14%
Pernambuco 197.853 20.702 2,68%
Piauí 52.781 16.125 0,71%
Rio Grande do Norte 71.337 20.342 0,97%
Sergipe 44.689 19.441 0,60%
Acre 15.630 17.722 0,21%
Amapá 17.497 20.688 0,24%
Amazonas 108.181 26.102 1,46%
Pará 178.377 20.734 Norte 2,41% 6%
Rondônia 47.091 26.497 0,64%
Roraima 14.292 23.594 0,19%
Tocantins 39.356 25.021 0,53%
Espírito Santo 137.346 34.177 1,86%
Minas Gerais 651.873 30.794 8,82%
Sudeste 53%
Rio de Janeiro 779.928 45.174 10,56%
São Paulo 2.348.338 51.140 31,78%
Paraná 466.377 40.789 6,31%
Rio Grande do Sul 482.464 42.406 Sul 6,53% 17%
Santa Catarina 323.264 45.118 4,37%

Pela Tabela 4 podemos verificar que São Paulo é o Estado com o maior
PIB nacional, enquanto que Roraima é o que apresenta o menor PIB, com 0,19%
do total. Em relação ao PIB per capita, este varia de R$ 13,8 mil (Maranhão) até
o valor de R$ 90,7 mil per capita. A figura 12 demonstra um mapa de calor com
o detalhamento desses valores.

19
Figura 12 – PIB per capita no ano de 2019 por Estados brasileiros

Fonte: IBGE, 2020.


Crédito: Mghstars/Shutterstock.

5.2 Arrecadação de Receitas Federais

As receitas federais incluem os impostos sob responsabilidade da União,


tais como: Imposto sobre Importação; Imposto de Renda; Imposto sobre
Operações Financeiras e; Cofins. No ano de 2021, esses impostos totalizaram
uma arrecadação bruta de R$ 1,878 trilhão, divididos conforme demonstrado na
Tabela 5.

Tabela 5 – Arrecadação de impostos federais no ano de 2021 (em R$ milhões)

UF Valor UF Valor
São Paulo 715.682 Pará 17.874
Rio de Janeiro 329.313 Mato Grosso do Sul 12.722
Distrito Federal 137.541 Maranhão 11.616
Minas Gerais 125.754 Paraíba 9.075
Santa Catarina 97.167 Rio Grande do Norte 8.521
Paraná 91.884 Alagoas 6.341
Rio Grande do Sul 88.409 Piauí 5.921
Bahia 40.660 Sergipe 5.877
Pernambuco 32.126 Rondônia 5.317
Espírito Santo 30.445 Tocantins 3.863
Ceará 30.135 Acre 1.768
Goiás 28.171 Roraima 1.583
Amazonas 20.444 Amapá 1.484
Mato Grosso 19.123
Fonte: Receita Federal do Brasil.
20
TROCANDO IDEIAS
Quais dos indicadores tratados você considera mais relevantes ou mais
interessantes? Como é a participação do nosso país ou do seu Estado nesse
indicador? Quais as relações que podem ser feitas a partir dessas mensurações?

NA PRÁTICA

Com o objetivo de trazer maior participação popular para os assuntos do


país, estados e municípios, o Governo Federal criou o Portal da Transparência.
Esse recurso fornece informações detalhadas sobre a execução orçamentária e
financeira da União de forma clara e acessível para o público. Os dados contidos
nesse portal abrangem informações do Poder Executivo e da esfera federal.
Alguns exemplos de informações tratadas nesse recurso são: Auxílio
Brasil; benefícios ao cidadão; notas fiscais; viagens a serviço e; estados e
municípios. O endereço para acesso disponível em:
<https://www.portaltransparencia.gov.br/>. Acesso em: 11 nov. 2022.

FINALIZANDO

Nesta etapa, iniciamos uma análise mais detalhada dos indicadores da


economia brasileira, do nível da União para os estados da federação. Para isso,
foram tratados assuntos referentes aos principais indicadores de
desenvolvimento, do mercado financeiro, dados das contas públicas, indicadores
setoriais e regionais de atividade econômica.

21
REFERÊNCIAS

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Economia Bancária - 2020.


Brasília, 2020.

CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA - ESALQ


USP. PIB do agronegócio brasileiro. Disponível em:
<https://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx>.
Acesso em: 11 nov. 2022.

GALVÃO, A. M.; OLIVEIRA, V. I. D.; FLEURIET, M. Gestão de riscos no


mercado financeiro. São Paulo: Saraiva, 2018.

GIAMBIAGI, F. Desenvolvimento econômico - uma perspectiva brasileira.


São Paulo: Grupo GEN, 2012.

GREMAUD, A. P.; VASCONCELLOS, M. A. S. D.; JR, R. T. Economia


Brasileira Contemporânea. 8. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2016.

LOPES, L. M. Macroeconomia - teoria e aplicações de política econômica.


4. ed. São Paulo: Grupo GEN, 2018.

22
ANÁLISE DO CONTEXTO
ECONÔMICO E SOCIAL
BRASILEIRO
AULA 5

Prof. Itamir Caciatori Junior


CONVERSA INICIAL

Esta etapa pretende tratar da demonstração e da análise de alguns dos


principais indicadores socioeconômicos do Brasil. Para isso, ela está dividida nos
seguintes tópicos:

a. O mercado de trabalho e a força de trabalho;


b. Indicadores de educação;
c. Indicadores de população e pobreza;
d. Índice de desenvolvimento humano; e
e. Indicadores de políticas sociais.

CONTEXTUALIZANDO

Quando analisamos a economia, devemos ter uma visão ampla sobre os


seus dados e ligações com outras áreas da ciência, dentre as quais, a social é
uma das que possui maior interligação com a economia. Algumas perguntas que
podem surgir em relação às ligações com essas áreas são as seguintes:

• Como se comportam os indicadores da força de trabalho?


• Qual o impacto do ambiente econômico sobre esses indicadores?
• Qual é o papel da educação no desenvolvimento econômico?
• Como medir a pobreza?
• Quais os níveis atuais de pobreza no Brasil de acordo com os diferentes
indicadores nacionais e internacionais?
• Como está o Brasil no ranking de desenvolvimento humano global?
• Quais são as principais políticas sociais existentes no Brasil e quais são
os seus principais dados?

A presente etapa visa responder a essas e outras dúvidas.

2
TEMA 1 – MERCADO DE TRABALHO E FORÇA DE TRABALHO

Crédito: Victoria Labadie/Shutterstock.

O presente tópico demonstra a taxa de desemprego no Brasil, bem como


a estratificação por rendimento médio real e a distribuição das pessoas ocupadas
por idade. Os dados são trimestrais e coletados na PNAD contínua do IBGE.

1.1 Taxa de desemprego

Segundo o IBGE, o desemprego se refere às pessoas com idade para


trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas que estão
disponíveis e tentam encontrar trabalho. Dessa forma, para alguém ser
considerado desempregado, não basta não possuir um emprego.
Como exemplos de pessoas que não são desempregados, pode-se citar:
um universitário que dedica seu tempo somente aos estudos; uma dona de casa
que não trabalha fora ou uma empreendedora que possui seu próprio negócio.
No Brasil, os indicadores de desemprego são medidos pela PNAD Contínua. No
tópico 2, demonstraremos maiores detalhes sobre a metodologia do mercado de
trabalho (IBGE, 2022).
No segundo trimestre de 2022 (abril-junho), o Brasil apresentou um
estoque de 10,1 milhões de desempregados. Essa quantidade de pessoas

3
procurando trabalho equivale a uma taxa de desemprego de 9,3%. A Figura 1
demonstra o comportamento da taxa de desemprego de 2012 a 2022.

Figura 1 – Taxa trimestral de desemprego no Brasil entre o primeiro


trimestre/2012 ao segundo trimestre/2022 (em %)

16
14,9
13,9
14

12

10
7,8
8 8,9

6 6,3
4

Fonte: IBGE, 2022.

Verificamos que a menor taxa apresentada foi de 6,3%, no ano de 2013,


e a maior taxa registrada foi de 14,9% durante o pico da Covid-19 (3º trimestre
de 2020). Vale lembrar que outras situações de trabalho precário não se
enquadram como desemprego, porém também afetam o tipo de ocupação da
população. Exemplos desses tipos de trabalho são a pejotização e a
subutilização da força de trabalho. No segundo trimestre de 2022, por exemplo,
a taxa de subutilização da força de trabalho atingiu 21,2%.

1.2 Rendimento médio real

Quanto ao rendimento médio real para os habitantes com idade superior


a 14 anos, a Figura demonstra as estatísticas trimestrais de 2012 a 2022.

4
Figura 2 – Rendimento médio real habitual de todos os trabalhos entre o 1º
trimestre de 2012 e o 2º trimestre de 2022 (em R$)

2.800 2.771
2.739
2.750
2.695
2.700

2.650

2.600 2.621

2.550 2.578 2.575

2.500

2.450

Fonte: IBGE, 2022.

Pelos dados da Figura 2, podemos verificar um pico no 1º trimestre de


2020 no valor de R$ 2.771,00. Porém, a esse pico segue-se a menor taxa
histórica registrada desde 2012, no valor de R$ 2.575,00.

1.3 Desemprego por idades de pessoas desocupadas

Em relação às faixas etárias de pessoas desocupadas, a Figura estratifica


os dados em cinco grupos distintos.

5
Figura 3 – Distribuição de pessoas desocupadas por idade entre o 1º trimestre
de 2012 e o 2º trimestre de 2022 (em mil)

60.000
54.743

50.000
51.129

40.000
32.239
30.000
22.827
20.000
12.130
10.000

14 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos 60 anos ou mais

Fonte: IBGE, 2022.

Verifica-se uma concentração nas faixas de 25-39 anos e de 40-59 anos.


Apesar disso, lembramos que, uma vez que a taxa de desocupação se refere às
pessoas procurando emprego, estamos trabalhando com quantidade de
desempregados. Dessa forma, a pirâmide etária do país é um fator a ser
considerado.

6
TEMA 2 – INDICADORES DE EDUCAÇÃO

Crédito: Esb Professional/Shutterstock.

Dentre os principais indicadores de educação, destacam-se a taxa de


analfabetismo e o nível de instrução que, em conjunto com os indicadores da
OCDE e do Orçamento da Educação, serão apresentados neste tópico.

2.1 Taxa de analfabetismo

A taxa de analfabetismo demonstra o percentual de pessoas analfabetas


de 15 ou mais anos de idade, em relação ao total de pessoas de 15 anos ou
mais de idade. Esse indicador é mensurado na Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo IBGE. Entre os anos
de 2016 e 2019, essa taxa variou de 7,2% a 6,6% para o Brasil. A Figura 4
apresenta a distribuição da taxa de analfabetismo por Unidades da Federação.

7
Figura 4 – Taxa de analfabetismo por Unidades da Federação

Fonte: IBGE, 2019.

A erradicação do analfabetismo é uma das 20 das metas do Plano


Nacional de Educação (PNE), sancionado no Congresso em 2014 e com prazo
para ser cumprido até o ano de 2024. A meta para erradicação do analfabetismo
era que 93,5% dos brasileiros acima de 15 anos estivessem alfabetizados até
2015; erradicação do analfabetismo absoluto e redução em 50% do
analfabetismo funcional até 2024. Porém, a meta de 2015 foi atingida somente
em 2020. Além disso, além de o quadro de analfabetismo não ter sido reduzido,
ele aumentou, modificando-se de 27% da população de 15 a 64 anos com
analfabetismo funcional em 2015 para 29% em 2018. A meta era reduzir a esse
indicador para 13,5% até 2024 (Oliveira, 2021).

2.2 Nível de instrução

O nível de instrução é outro componente importante para avaliação da


situação educacional de um país. Para o Brasil, esse indicador registrou, em
2019, 29% da população com ensino fundamental incompleto. A Figura 5
demonstra os demais dados segundo o nível de instrução.

8
Figura 5 – Pessoas de 14 anos ou mais de idade por nível de instrução por
quantidade e percentual (em milhares)

8.107 ;
5%
24.248 ; 14%

9.456 ; 6%
48.763 ; 29%

48.389 ; 29%

15.394 ; 9%

13.770 ; 8%

Sem instrução Ensino fundamental incompleto ou equivalente


Ensino fundamental completo ou equivalente Ensino médio incompleto ou equivalente
Ensino médio completo ou equivalente Ensino superior incompleto ou equivalente
Superior completo

Fonte: IBGE, 2019.

2.3 Indicadores da OCDE

Um dos indicadores mais importantes da educação é o Programa da


OCDE de Avaliação Internacional do Aluno (PISA). Esse indicador se concentra
nas habilidades dos alunos em leitura, matemática e ciência, campos que
ajudam a criar prognósticos mais confiáveis do bem-estar econômico e social do
que a quantidade de anos passados na escola. Em 2018, o Brasil atingiu a
pontuação de 400 em leitura, matemática e ciências no PISA. Esse valor está
abaixo da média dos países da OCDE, que é de 488 pontos.
A taxa de anos de estudo demonstra quantos anos os brasileiros de 5 a
39 anos de idade passam estudando, em média. No Brasil, essa taxa é de 16,2
anos, abaixo da média da OCDE, que é de 18 anos.
Quanto à taxa de conclusão do ensino médio, esta demonstra o
percentual dos adultos entre 25 e 64 anos que concluíram o ensino médio. No
9
Brasil, esse percentual é de 57%, muito abaixo da média da OCDE, que é de
79% (OCDE, S.d.).

2.4 Orçamento da Educação

Em 2021, o gasto público com educação realizado pelo Governo Federal


atingiu o menor nível desde 2012. Em 2021, o valor das despesas autorizadas
em educação (R$ 129,8 bilhões) foi cerca de R$ 3 bilhões superior ao de 2020
(R$ 126,9 bilhões). Porém, a execução financeira foi menor (R$ 118,4 bilhões).
Entre 2019 e 2021, a execução diminuiu R$ 8 bilhões em termos reais (de
R$ 126,6 bilhões para R$ 118,4 bilhões), conforme dados do Instituto de Estudos
Socioeconômicos (Martello, 2022). Em relação à destinação dos gastos, o
Governo Federal atua principalmente no ensino superior. Os estados e
municípios são responsáveis por ações no ensino fundamental e médio. Estados
e municípios, além da arrecadação própria, também recebem repasses de
recursos do Governo Federal.

TEMA 3 – INDICADORES DE POPULAÇÃO E POBREZA

Crédito: Joe MoJo,/Shutterstock.

A pobreza possui diversos indicadores para sua mensuração e não há um


consenso sobre qual desses indicadores é o mais apropriado para medi-la. O
10
presente tópico busca apresentar alguns conceitos relacionados à pobreza,
programas de renda e indicadores de desigualdade para elucidar os principais
tópicos referentes ao assunto.

3.1 Pobreza monetária e populações consideradas pobres

De forma geral, um cidadão pobre é aquele que não possui rendimentos


suficientes para manutenção de sua subsistência. Os indicadores de pobreza
variam conforme a origem da mensuração, as quais contêm as linhas de
pobreza. As pessoas são consideradas pobres abaixo dessas linhas.
No Brasil, existem duas linhas básicas de pobreza, referentes a ¼ e ½ de
salário mínimo. Esses critérios são adotados para o Benefício de Prestação
Continuada e para o Cadastro Único do Governo Federal – CadÚnico. Para o
Bolsa Família, são consideradas pobres pessoas com renda familiar per capita
de até R$ 178, sendo consideradas extremamente pobres aquelas com renda
per capita até R$ 89.
O Banco Mundial utiliza três linhas de pobreza. A primeira, de US$ 1,90
dia, é considerada para os países mais pobres do mundo. A segunda linha
recomenda o valor de US$ 3,20 para os países de renda média-baixa e US$ 5,50
para os países de renda média-alta, aos quais pertence o Brasil. A Tabela 1
demonstra as principais linhas de pobreza para o Brasil no ano de 2020.

Tabela 1 – Linhas de pobreza com respectivos usos e proporção de pessoas


consideradas pobres – Brasil 2020

Pobres
Valor nominal Total
Proporção
Linha de pobreza Referência/uso mensal per capita (1000
(%)
em 2020 (R$) pessoas)
Extrema Pobreza
Linha para concessão do benefício básico do
Bolsa Família (EP) 89 7.353 4
programa Bolsa Família
US$ 1,90 PPC Linha do Banco Mundial para países de
155 12.046 6
2011/dia renda baixa
¼ salário mínimo Linha de concessão do BPC 261 22.064 11
Pobreza
Linha de elegibilidade ao programa Bolsa
Bolsa Família 178 13.630 7
Família
US$ 3,20 PPC Linha do Banco Mundial para países de renda
262 22.465 11
2011/dia média-baixa
Medida de pobreza relativa utilizada pela
50% da mediana 418 46.828 22
OCDE
US$ 5,50 PPC Linha do Banco Mundial para países de renda
450 50.953 24
2011/dia média-alta
½ salário mínimo CadÚnico 523 61.452 29

Fonte: IBGE, 2022.

11
3.2 Programas de renda e rendimento per capita

Caracterizam-se como transferências de renda os instrumentos de política


sociais com objetivo de garantia de renda e acesso a um padrão de vida mínimo
definido socialmente. Esses instrumentos podem ou não exigir um histórico de
contribuições prévias de seus beneficiários ou algum tipo de condicionalidade,
como crianças frequentarem escola e adultos frequentarem programas de
qualificação profissional.
O Benefício de Proteção Continuada (BPC), por sua vez, é a garantia de
um salário mínimo por mês ao idoso com idade igual ou superior a 65 anos ou à
pessoa com deficiência de qualquer idade (mediante critérios específicos). Os
programas de transferência de renda e de BPC foram responsáveis por cerca de
90% de todos os benefícios ao longo da PNAD contínua, que iniciou em 2012.
Auxílios emergenciais também são uma forma de transferência de renda. Essas
transferências, que eram de 5,5% do total de rendimentos provenientes de
programas sociais em 2019, passaram para 79,4% em 2020 (IBGE, 2021). A
Tabela 1 demonstra a evolução desses benefícios por tipo por grandes regiões
no Brasil.

Tabela 2 – Distribuição percentual do rendimento total dos arranjos domiciliares,


por fonte de rendimento – 2019-2020

Distribuição percentual do rendimento total dos arranjos domiciliares (%)


Total
Fonte dos rendimentos
Grandes Regiões
Benefícios de
Aposentadoria e
Trabalho programas sociais Outras fontes
pensão
governamentais

2019 2020 2019 2020 2019 2020 2019 2020


Brasil 74,4 72,8 18,7 17,6 1,7 5,9 5,3 3,6
Norte 76,8 73,3 15,3 12,7 4,1 11,6 3,8 2,3
Nordeste 67,7 63,4 23,5 21,0 4,4 12,8 4,4 2,9
Sudeste 75,2 74,5 18 17,4 0,9 4,0 5 4,1
Sul 75,6 75,2 18,5 17,9 0,8 3,0 5,2 3,8
Centro-Oeste 78 77,7 15,9 14,8 1,3 4,6 4,7 2,9

Fonte: IBGE, 2022.

O rendimento domiciliar per capita de 2020 foi de R$1.349 para o total da


população brasileira. As Regiões Sudeste (R$1.623), Sul (R$1.597) e Centro-

12
Oeste (R$1.504) apresentaram os rendimentos mais elevados, enquanto os
menores estavam nas Regiões Norte (R$896) e Nordeste (R$891) (IBGE, 2021).

3.3 Indicadores de desigualdade

A distribuição de rendimentos tem como característica maiores variações


nos extremos, com valores medianos no meio da distribuição. O índice de Gini é
o primeiro indicador que tratamos nesse tópico e utiliza toda a informação
disponível sobre rendimentos de uma população, considerando a distribuição
como um todo e sintetizando-a em um único valor que varia de 0 a 1. O 0
representa a situação de perfeita igualdade, enquanto que o 1 representa que o
rendimento estaria concentrado nas mãos de uma única pessoa. No Brasil, esse
indicador registrou o valor de 0,555 em 2012 e 0,573 em 2020, ou seja,
apresentando leve aumento na concentração. Na série analisada, o índice de
Gini apresentou os menores valores para a Região Sul, com 0,477 em 2012 e
0,496 em 2020, e os maiores na Região Nordeste, com 0,546 em 2012 e 0,526
em 2020.
Outro indicador de mensuração de desigualdade econômica é o índice de
Palma, que utiliza as razões entre décimos. Esse indicador também considera o
meio das distribuições com rendimentos mais uniformes e menos dinâmicos. O
indicador histórico demonstra que as mudanças nas parcelas de desigualdade
são determinadas pelas mudanças na renda dos 10% mais ricos e dos 40% mais
pobres.
Em 2020, esse índice atingiu o valor de 3,71 no Brasil. Isso indica que a
renda dos 10% com os maiores rendimentos foi 3,71 vezes superior à dos 40%
mais pobres. Para o ano de 2012, o índice de Palma atingiu o parâmetro de 4,08,
demonstrando uma evolução semelhante ao índice de Gini para o mesmo
período. A Tabela 2 demonstra o índice de Palma para o ano de 2020 em dois
contextos, com e sem o recebimento dos benefícios de programas sociais pela
população.

13
Tabela 3 – Índice de Palma, por condição de recebimento de benefícios de
programas sociais – 2020

10,00
9,00
8,00
7,00
6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
-
Santa Catarina

Goiás

São Paulo
Tocantins
Pará

Rio de Janeiro
Rondônia

Piauí

Maranhão

Bahia
Mato Grosso

Minas Gerais

Espírito Santo

Brasil

Amapá

Rio Grande do Norte


Roraima

Amazonas
Acre

Pernambuco
Paraíba
Ceará
Paraná

Rio Grande do Sul

Distrito Federal
Mato Grosso do Sul

Sergipe

Alagoas
Sem benefício de programas sociais Com benefício de programas sociais

Fonte: IBGE, 2022.

A maior diferença entre a população com ou sem recebimento de


programas sociais está nos estados da Região Nordeste, com destaque para a
Bahia. Nesse Estado, o índice sem recebimento de programas sociais seria de
9,17, enquanto que o pagamento de benefícios sociais à população abrangida
reduziu o valor para 3,95.

TEMA 4 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

Crédito: Daniela Barreto/Shutterstock.

14
O desenvolvimento econômico é um fenômeno que abrange mais de uma
área econômica e social. Trata-se do enriquecimento dos países e dos seus
habitantes por meio da acumulação de recursos econômicos. Esses recursos
podem ser ativos individuais ou de infraestrutura social. O desenvolvimento
econômico também se caracteriza como um crescimento da produção nacional
e das remunerações pelos que participam da atividade econômica, não se
restringindo ao campo da Economia (Fonseca, 2006).
Segundo a ONU (2022), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é
uma medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas
do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O objetivo da criação
do IDH foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o
Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão
econômica do desenvolvimento.
O cálculo do IDH é realizado anualmente e envolve três pilares (saúde,
educação e renda), os quais são mensurados da seguinte forma:

• Uma vida longa e saudável (saúde) é medida pela expectativa de vida;


• O acesso ao conhecimento (educação) é medido por:

o Média de anos de educação de adultos, que é o número médio de


anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de
25 anos; e
o A expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de
iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade
que uma criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar
receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas
específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da
criança;

• O padrão de vida (renda), terceiro pilar, é medido pela Renda Nacional


Bruta (RNB) per capita expressa em poder de paridade de compra (PPP)
constante, em dólar, tendo 2005 como ano de referência.

Esse indicador demonstra uma situação particular nos últimos tempos.


Pela primeira vez nos últimos 32 anos, o IDH caiu globalmente por dois anos
consecutivos. Esse fato fez com que o indicador voltasse aos níveis de 2016. As
regiões geográficas em que esse evento ocorreu de forma mais grave foram a

15
América Latina, o Caribe, a África Subsaariana e o sul da Ásia. A Tabela 4
demonstra a posição de alguns países no IDH para o ano encerrado de 2021.

Tabela 4 – Posição do IDH de países selecionados para o ano de 2021

Ranking País IDH


1 Noruega 0,957
2 Suíça 0,955
2 Irlanda 0,955
4 Hong Kong (China) 0,949
4 Islândia 0,949
17 Estados Unidos 0,926
46 Argentina 0,845
84 Brasil 0,765

Quanto à situação do Brasil, desde 1990 o país apresenta crescimento no


indicador, partindo de 0,61 para 0,754 em 2021, conforme demonstra a Tabela
5.

Tabela 5 – IDH brasileiro de 1990 a 2021

0,8
0,766
0,75
0,754
0,7
0,692

0,65

0,6 0,61

0,55

0,5

IDH

Fonte: ONU, [S.d.].

16
TEMA 5 – INDICADORES DE POLÍTICAS SOCIAIS

Crédito: Bamsgraphic/Shutterstock

Além dos dados tratados em tópicos anteriores, a presenta seção visa


tratar de três programas de políticas sociais: Farmácia Popular, Programa
Nacional de Imunizações e o Auxílio Brasil.

5.1 Saúde

O Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB) é um programa do


Governo Federal que visa complementar a disponibilização de medicamentos
utilizados na Atenção Primária à Saúde (APS), por meio de parceria com
farmácias e drogarias da rede privada. Dessa forma, além das Unidades Básicas
de Saúde e/ou farmácias municipais, o cidadão poderá obter medicamentos nas
farmácias e drogarias credenciadas ao PFPB.
O orçamento para o programa para o ano de 2023 sofreu redução em
relação aos anos anteriores. Para 2023, o valor orçado é de R$ 1,018 bilhão, um
terço dos recursos do que o programa tinha em 2018, quando o valor orçado foi
de R$ 3,047 bilhões para a iniciativa. O orçamento voltado para remédios 100%
gratuitos sofreu redução de R$ 2 bilhões, para R$ 841 milhões. Quanto à
modalidade que oferece remédios com até 90% de desconto, foi reduzida de R$
444,9 milhões para R$ 176,7 milhões. O programa atende mais de 20 milhões
de brasileiros (Verba..., 2022).

17
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferta 45 diferentes
imunobiológicos para toda a população. Há vacinas destinadas a todas as faixas-
etárias e campanhas anuais para atualização da caderneta de vacinação. O
Calendário Nacional de Vacinação do Brasil contempla não só as crianças, mas
também adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas. No total,
são disponibilizadas na rotina de imunização 19 vacinas cuja proteção inicia
ainda nos recém-nascidos, podendo se estender por toda a vida. A Tabela 6
demonstra as doses aplicadas entre os anos de 2019 e 2022.

Tabela 6 – PNI: vacinas e reforços aplicados entre os anos de 2019 e 2022 (em
milhares de doses)

1ª-4ª
Dose Dose Dose Reforço e
Região Total Dose Tratamento dose e
Adicional Inicial única Revacinação
reforços
Total 337.605 13.963 166 14.391 16.709 19.524 160 272.692
1 Região Norte 33.304 1.391 10 1.006 2.017 1.811 20 27.049
2 Região Nordeste 87.673 3.097 17 2.816 3.942 4.019 59 73.724
3 Região Sudeste 135.353 6.364 101 4.781 6.486 8.304 58 109.259
4 Região Sul 53.541 2.032 28 4.985 2.780 3.488 9 40.219
5 Região Centro-Oeste 27.733 1.079 11 802 1.484 1.902 14 22.442

Fonte: Brasil, [S.d.].

5.2 Securidade social

O Auxílio Brasil é um programa sucessor do Bolsa Família, extinto em


outubro de 2021. Trata-se de um programa de transferência direta e indireta de
renda, destinado às famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em
todo o país, de modo que consigam superar a situação de vulnerabilidade social.
O Programa é gerido pelo Ministério da Cidadania, responsável pelo envio dos
recursos para pagamento para a Caixa. O valor dos benefícios é de R$ 600,00.
Em agosto de 2022, o programa totalizou 20,2 milhões de beneficiários,
com a inclusão de 2,2 milhões de famílias entre os meses de julho a agosto. O
investimento total do Ministério da Cidadania para o Auxílio Brasil em
agosto/2022 foi de R$ 12,1 bilhões.

TROCANDO IDEIAS

Qual o impacto da educação no desenvolvimento econômico? Uma


população mais instruída realmente possui maior potencial para participar do

18
processo de desenvolvimento de uma nação? Como a educação pode então
facilitar esse processo de desenvolvimento?
Na presente etapa, propomos essas questões para serem respondidas no
fórum em formato de discussão com os demais colegas.

NA PRÁTICA

O mercado de trabalho é um ambiente que deve ser tratado de forma


constante, com a análise de especialistas sobre o tópico. Dessa forma, vamos
ouvir um episódio do podcast Stock Pickers publicado em 7 de setembro de
2022. Para ouvi-lo, acesse o link a seguir:
MERCADO de trabalho – desemprego segue em queda livre ou esconde
desafios? (Macro Pikers). Spotify, 7 set. 2022. Disponível em:
<https://open.spotify.com/episode/3OWLssYuY3lMt7321hPZBv?si=1edc4e2eaa
0a4f8e&nd=1>. Acesso em: 24 out. 2022.
Esse episódio demonstra a variação dos indicadores do mercado de
trabalho por segmentos e está disponível para ser ouvido nos principais
agregadores de podcast.

FINALIZANDO

Nesta etapa, vocês viram como a economia necessita de uma análise


global sobre seu comportamento. Medidas tomadas no campo econômico não
devem ficar restritas à essa área e devem prever como será o seu impacto nos
demais campos do desenvolvimento.
Dessa forma, o que pretendemos nessa etapa foi evidenciar quais são os
principais campos que podem ser afetados e beneficiados com ações no campo
econômico, incluindo o mercado de trabalho, as políticas sociais, a educação e
a redução das desigualdades sociais.

19
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informação do Programa Nacional de


Imunizações. Sistema de Informações do PNI. Ministério da Saúde, S.d.
Disponível em: <http://pni.datasus.gov.br/>. Acesso em: 24 out. 2022.

FONSECA, M. A. R. Planejamento e desenvolvimento econômica. São Paulo:


Cengage Learning Brasil, 2006.

IBGE – Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística. Síntese de indicadores


sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Rio de
Janeiro: IBGE, 2021.

_____. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php>.


Acesso em: 24 out. 2022.

_____. PNAD Contínua - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios


Contínua. IBGE, 2019. Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9171-pesquisa-nacional-
por-amostra-de-domicilios-continua-mensal.html?edicao=20652&t=o-que-e>.
Acesso em: 24 out. 2022.

MARTELLO, A. Gasto com educação recua pelo 5o ano consecutivo e é o menor


em dez anos, mostra levantamento. G1, 24. abr. 2022. Disponível em:
<https://g1.globo.com/politica/noticia/2022/04/24/gasto-com-educacao-recua-
pelo-5o-ano-consecutivo-e-e-o-menor-em-dez-anos-mostra-
levantamento.ghtml>. Acesso em: 24 out. 2022.

OCDE. OECD Better Life Index. Educação. OCDE, S.d. Disponível em:
<https://www.oecdbetterlifeindex.org/pt/quesitos/education-pt/>. Acesso em: 24
out. 2022.

OLIVEIRA, E. Brasil regride em meta para acabar com o analfabetismo e não


alcança objetivo de investir mais na educação, diz relatório. G1, 24. jun. 2021.
Disponível em: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/06/24/brasil-
regride-em-meta-para-acabar-com-o-analfabetismo-e-nao-alcanca-objetivo-de-
investir-mais-na-educacao-diz-relatorio.ghtml>. Acesso em: 24 out. 2022.

ONU. Desenvolvimento humano e IDH. ONU. S.d. Disponível em:


<https://www.undp.org/pt/brazil/idh>. Acesso em: 24 out. 2022.

20
VERBA do programa Farmácia Popular cai a 33% do que era em 2018. Revista
Exame, 16. set. 2022. São Paulo. Disponível em:
<https://exame.com/economia/verba-do-programa-farmacia-popular-cai-a-33-
do-que-era-em-2018/>. Acesso em: 24 out. 2022.

21
ANÁLISE DO CONTEXTO
ECONÔMICO E SOCIAL
BRASILEIRO
AULA 6

Prof. Itamir Caciatori Junior


CONVERSA INICIAL

Nesta etapa, vamos abordar aspectos multidisciplinares da economia, os quais dizem respeito à

atuação dessa ciência com outras áreas do conhecimento, principalmente por meio da análise de

indicadores. Para isso, vamos abordar os seguintes tópicos:

a. Combinação de indicadores econômicos, sociais e ambientais;

b. Potencialidades do uso de indicadores econômicos;

c. Pressupostos e influências: PECs, PL e Leis;

d. Análise do cenário macroeconômico e;

e. Considerações e análise de riscos.

CONTEXTUALIZANDO

Você considera a economia uma ciência fechada? Quais são as principais relações dessa

ciência com os demais campos do conhecimento? Qual é a influência das decisões políticas, tais

como PECs, PLs e leis sobre a economia? Como estão se comportando os principais aspectos do

cenário macroeconômico? O que são riscos e quais são suas subdivisões? Esses e outros assuntos

que pretendemos trabalhar nesta etapa.

TEMA 1 – COMBINAÇÃO DE INDICADORES ECONÔMICOS, SOCIAIS E


AMBIENTAIS
Crédito: Dzhulbee/Shutterstock.

A análise de indicadores que envolvem diferentes fenômenos requer evidências de causalidade

entre esses eventos. Ou seja, devem existir análises prévias que determinem que um dos fenômenos

é responsável pelas variações no outro para que eles sejam considerados interligados.

1.1 INFLAÇÃO E DESEMPREGO

Os impactos da inflação sobre a taxa de desemprego são tratados por A. W. Phillips em um

estudo de 1958 que envolveu dados da economia britânica entre 1861 e 1957. O título do estudo era

The Relation between Unemployment and the Rate of Change of Money Wage Rates in the United

Kingdon – 1861-1913. Posteriormente, os economistas Paul Samuelson e Robert Solow utilizaram

dados da economia americana e confirmaram os estudos de Phillips, batizando a descoberta anterior

como a Curva de Phillips.

A Curva de Phillips representa que, caso o governo queira reduzir a taxa de desemprego, pode

fazer uso de políticas fiscal e monetária expansionista, as quais geram aumento da inflação. O

formato da Curva de Phillips está descrito na Figura 1.

Figura 1 – Curva de Phillips


Fonte: Carvalho et al., 2015.

Para o caso brasileiro, Mendonça, Sachsida e Medrano (2012) realizaram estudo econométrico

no ano de 2012 e verificaram que a Curva de Phillips tem dificuldades em representar a dinâmica

inflacionária brasileira, ou seja, apresenta uma relação negativa, mas com baixa sensibilidade. Como

conclusões adicionais, os autores verificaram que a expectativa futura de inflação e a inflação

passada têm relevância na dinâmica do processo inflacionário.

1.2 CRESCIMENTO ECONÔMICO E MEIO AMBIENTE

A análise entre crescimento econômico e os índices de degradação ambiental é exposta pela

Curva de Kuznets Ambiental (CKA). A CKA representa que algumas medidas de degradação

ambiental aumentariam nos momentos iniciais do crescimento econômico, porém eventualmente

diminuiriam quando certo nível de renda fosse alcançado (Carvalho; Almeida, 2010).

De forma ampliada, a CKA sugere que, quando um país pobre passa pela experiência de

crescimento econômico, possui controle limitado da degradação ambiental em razão do seu nível de

pobreza. Ou seja, quando está crescendo esse país não tem grandes preocupações com a

degradação ambiental. À medida que experimenta o crescimento e, junto dele, a riqueza, esse país

passa a se preocupar com a qualidade ambiental e passa a priorizar a redução da poluição.

Dessa forma, o impacto ambiental é uma função de U invertido na renda per capita, conforme

demonstrado na Figura 2.
Figura 2 – Curva de Kuznets Ambiental

Crédito: Carvalho; Almeida, 2010.

Após a análise entre a renda per capita e as emissões de CO2 por 187 países para o ano de 2004,

Carvalho e Almeida (2010) verificaram que a hipótese da CKA sugere inicialmente que a poluição

segue uma trajetória na forma de U invertida. Isso demonstra que os indicadores de degradação

ambiental aumentam com o crescimento da renda até atingir um nível no qual o crescimento desta

passa a reduzir esses indicadores.

TEMA 2 – POTENCIALIDADES DO USO DE INDICADORES


SOCIOECONÔMICOS
Crédito: Ruslan Sitarchuk/Shutterstock.

Os indicadores socioeconômicos são utilizados na literatura em pesquisas sobre diferentes

temas. Dessa forma, a presente seção pretende elucidar algumas dessas relações entre esses

indicadores e temas relevantes do cotidiano.

2.1 INDICADORES SOCIOECONÔMICOS E GOVERNANÇA MUNDIAL

O trabalho de Marino et al. (2016) analisou a relação entre os indicadores de governança

mundial do Banco Mundial e os índices de desenvolvimento socioeconômico dos países dos Brics

(Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Os indicadores de desenvolvimento socioeconômico

foram representados pelo PIB e pelo IDH, enquanto a governança foi mensurada por seis dimensões

estipuladas pelo Banco Mundial: voz e responsabilização; estabilidade política; eficácia do Governo;

qualidade regulatória; Estado de Direito e; controle da corrupção. Os dados compreendem o período

de 2005 a 2012.

A governança foi definida pelos autores como

as tradições e instituições pelas quais a autoridade de um país é exercida, incluindo o processo


pelo qual os governos são selecionados, monitorados e substituídos, a capacidade do governo para
formular e implementar políticas sólidas de forma eficaz e o respeito dos cidadãos e do Estado às
instituições que governam suas interações econômicas e sociais (Marino et al., 2016, p. 726).

Como resultado, os autores verificaram que:


O controle da corrupção impacta significativamente e de modo positivo a taxa de crescimento

do PIB e o IDH, ou seja, o combate à corrupção nos países dos Brics melhora seus índices de

desenvolvimento econômico;

A eficácia do Governo impacta significativamente o IDH;

As variáveis estabilidade política e voz e responsabilização também impactam a taxa de

crescimento do PIB.

2.2 INDICADORES SOCIOECONÔMICOS E MORTALIDADE CARDIOVASCULAR

Na área da saúde, Soares et al. (2013) correlacionaram as taxas de mortalidade por doenças do

aparelho circulatório nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, e em suas capitais

com indicadores socioeconômicos.

No estudo, os autores verificaram que, quando da redução da mortalidade nos três estados, essa

ocorreu especialmente por queda de mortalidade por doenças cardiovasculares, em especial das

doenças cerebrovasculares. A queda da mortalidade por doenças do aparelho circulatório foi

precedida por redução da mortalidade infantil, elevação do produto interno bruto per capita e

aumento na escolaridade, com forte correlação entre indicadores e taxas de mortalidade.

Dessa forma, o estudo de Soares et al. (2013) verificou que a variação evolutiva dos indicadores

demonstrou alta correlação com a redução na mortalidade por doenças cardiovasculares, o que

representa a importância nas condições de vida da população para reduzir a mortalidade

cardiovascular.

2.3 ABANDONO E ATRASO ESCOLAR E DADOS SOCIOECONÔMICOS

No campo da educação, Pontili, Staduto e Henrique (2018) buscaram analisar se a proporção de

adolescentes que optaram por não estudar tem relação com indicadores sociais e econômicos do

município ou região em que esses adolescentes estão inseridos. Para isso, analisaram a média

municipal de abandono e atraso escolar, relacionando-a com alguns indicadores socioeconômicos

dos 1.188 municípios da região Sul do Brasil.

A suposição dos autores era de que o adolescente em idade para cursar o Ensino Médio toma

sua decisão de estudar (ou não), ou atrasa-se nos estudos, influenciado pelas características tanto

do mercado de trabalho, quanto da realidade social e econômica do ambiente em que está inserido.
Dado que o município representa a realidade mais visível do adolescente, os autores acreditavam

que, em municípios com possibilidades mais promissoras para o mundo do trabalho, o interesse em

ingressar na escola e concluir o Ensino Médio fosse maior.

Os resultados do estudo indicaram a existência autocorrelação espacial positiva do abandono e

atraso escolar de agrupamentos significativos em que municípios com um alto valor para o indicador

analisados estão rodeados por municípios em igual situação e vice-versa. Ou seja, o trabalho

identificou que os municípios se agrupam conforme as taxas de abandono e atraso escolar, o que é

definido de forma estatística como autocorrelação espacial. Assim, localizaram agrupamentos de

municípios com altos índices de evasão e atraso escolar e, por outro lado, agrupamentos de

unidades espaciais com reduzidos índices para esses dois indicadores educacionais.

Outra descoberta foi que a instabilidade no mercado de trabalho, representada pela taxa de

rotatividade e pela taxa de desemprego, afeta positivamente a taxa de abandono e atraso escolar em

municípios vizinhos. Além disso, os autores verificaram que, quanto maior o crescimento econômico

e a melhoria do desenvolvimento humano, em determinados municípios, menor a taxa de abandono e

atraso escolar em municípios vizinhos.

TEMA 3 – PRESSUPOSTOS E INFLUÊNCIAS: PECS, PLS E LEIS

Crédito: Alexandre Siqueira/Shutterstock.


Propostas de Emenda à Constituição (PECs) e Projetos de Lei (PLs) são mecanismos capazes

de alterar dispositivos constitucionais, porém sem modificar estruturalmente cláusulas importantes

da Carta Magna. Neste tema, estudaremos esses conceitos e as principais PECs e PLs recentes no

Brasil.

3.1 PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO – PEC

A PEC é um instrumento capaz de alterar aspectos pontuais da Constituição Federal, ou seja,

uma emenda. A aprovação de uma PEC requer um processo legislativo trabalhoso e rigoroso. As

cláusulas pétreas da Constituição (forma federativa de Estado; voto direto, secreto, universal e

periódico; separação dos poderes e direitos e garantias individuais) não podem ser objetos de PEC.

Uma PEC pode ser apresentada pelo presidente da República ou por um terço dos deputados

federais ou dos senadores, ou ainda por mais da metade das assembleias legislativas. A aprovação

de uma PEC depende de uma votação em dois turnos na Câmara dos Deputados e no Senado

Federal, por três quintos dos votos dos deputados e dos senadores.

3.1.1 PEC n. 95/2016 – Teto de Gastos

Essa Emenda Constitucional estabeleceu um limite para os gastos federais, equivalente à

despesa de 2016, corrigida, em cada ano, pela inflação. Esse limite se aplicaria por dez anos, quando

o objetivo é que o ajuste estivesse completo, com um corte da despesa primária de 4 a 5 pontos do

PIB em uma década. A partir de 2027, o Poder Executivo poderá reavaliar a metodologia de correção

do teto de gastos a cada quatro anos, sempre no primeiro ano de mandato do Presidente da

República. O regime se encerra ao final do exercício de 2036. Essa duração estendida permite que o

mecanismo funcione de forma independente dos mandatos do Poder Executivo.

A origem do teto de gastos foi o desequilíbrio fiscal crônico das finanças brasileiras, decorrente

do crescimento acelerado da despesa pública desde os anos 1990, o que levou a um aumento do

déficit, da dívida pública e à expansão da carga tributária. Em 2016, a situação era um déficit nominal

do setor público consolidado de 9% do PIB, déficit primário de 2,5% do PIB e dívida bruta do governo

geral de 70% do PIB, em franco crescimento. Na ocasião, os especialistas acreditavam que, se o

Brasil não executasse uma política de ajuste fiscal, chegaria em uma situação de insustentabilidade

da dívida ao ponto do risco de não pagamento (Ministério da Fazenda, 2018).


Porém, o mecanismo do teto de gastos não foi respeitado pelo Governo posterior,

principalmente após o estabelecimento da PEC n. 1/2022, assunto do próximo tópico.

3.1.2 PEC n. 1/2022 – PEC das Bondades

Aprovada em 13 de julho de 2022, amplia o Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00, dobra o

valor do vale gás (de R$ 66,00 para R$ 112,00) e institui uma ajuda mensal para taxistas e

caminhoneiros autônomos de julho a dezembro de 2022 no valor de R$ 1 mil. A PEC visa abranger

cerca de 21 milhões de famílias e o custo será de R$ 41,2 bilhões em 2022.

Junto com a PEC das bondades foi aprovado o Estado de Emergência. Esse dispositivo blinda o

governo de eventuais acusações sobre a violação da legislação que proíbe a criação de novos

benefícios à população em um ano eleitoral e permite a ampliação dos auxílios prestados à

população sem que a lei de responsabilidade financeira seja desrespeitada. Essa regra está disposta

na Lei n. 9.504 (1997). Essa lei diz que, no ano em que se realizar eleição, fica proibida a distribuição

gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da Administração Pública, exceto nos casos de

calamidade pública, de estado de emergência ou de programas sociais autorizados em lei e já em

execução orçamentária no exercício anterior (Julião, 2022). Na prática, o estado de emergência

ocorre na iminência de danos à saúde e aos serviços públicos, requerendo recursos públicos

emergenciais.

Na ocasião da aprovação, as despesas primárias fora do teto de gastos alcançavam 1,5% do PIB

no acumulado de 12 meses, conforme números apurados pela Instituição Fiscal Independente (IFI).

Segundo o IFI, o efeito colateral da PEC é fragilizar a principal âncora fiscal do país, com

consequentes efeitos sobre a sustentabilidade das contas públicas. Além disso, a aprovação da PEC

aumenta o risco para as contas públicas no médio prazo e sinaliza falta de compromisso com a

disciplina fiscal (Taiar, 2022).

3.2 PROJETO DE LEI

Um projeto de lei pode ser apresentado por qualquer deputado ou senador, comissão da Câmara,

do Senado ou do Congresso, pelo presidente da República, pelo procurador-geral da República, pelo

Supremo Tribunal Federal, por tribunais superiores e cidadãos. Os projetos começam a tramitar na

Câmara, à exceção dos apresentados por senadores, que começam no Senado. O Senado funciona

como Casa revisora para os projetos iniciados na Câmara e vice-versa.


Os projetos são distribuídos às comissões conforme os assuntos de que tratam. Além das

comissões de mérito, existem duas que podem analisar mérito e/ou admissibilidade, que são as

comissões de finanças e tributação (análise de adequação financeira e orçamentária) e de

Constituição e Justiça (análise de constitucionalidade). Um projeto de lei pode passar a tramitar em

regime de urgência se o Plenário aprovar requerimento com esse fim. Geralmente, a aprovação de

urgência depende de acordo de líderes. O projeto em regime de urgência pode ser votado

rapidamente no Plenário, sem necessidade de passar pelas comissões. Os relatores da proposta nas

comissões dão parecer oral durante a sessão, permitindo a votação imediata.

Os projetos de lei ordinária são aprovados com maioria de votos (maioria simples), desde que

esteja presente no Plenário a maioria absoluta dos deputados (257). Os projetos de lei aprovados

nas duas Casas são enviados ao presidente da República para sanção. O presidente tem 15 dias

úteis para sancionar ou vetar. O veto pode ser total ou parcial. Todos os vetos têm de ser votados

pelo Congresso. Para rejeitar um veto, é preciso o voto da maioria absoluta de deputados (257) e

senadores (41) (Saiba..., 2019).

Dentre os principais projetos de lei em tramitação nos últimos tempos (já foi aprovado no

Senado) de relevância econômica, está o que trata da regulação dos Criptoativos, denominado

Projeto de Lei n. 4.401.

Esse projeto de lei atende à principal demanda por regulação das criptomoedas, que é a

estruturação do mercado dessas moedas, que devem ser consideradas como ativos. Além disso,

foram excluídos do projeto outros tipos de ativos e a utilização de criptoativos como valores

mobiliários, uma vez que estes estão sujeitos à regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários

(CVM). Dessa forma, o projeto de lei contempla as funções de criptoativos como a realização de

pagamentos ou com o propósito de investimentos.

Os agentes negociadores desses ativos também são alvo do projeto de lei, o qual disciplina a

sua atuação. Esses agentes efetuam a troca entre ativos virtuais e moeda nacional ou moeda

estrangeira e outras negociações com esses tipos de ativos. Outro ponto de atenção é a proteção à

negociação com moedas digitais, em razão do histórico observado de prejuízos ao público causados

por esse tipo de transação no passado (Fernandes, 2022).

TEMA 4 – ANÁLISE DO CENÁRIO MACROECONÔMICO


Crédito: Brenda Rocha – Blossom/Shutterstock.

Dada a importância recente do assunto, o presente tema irá abordar a política monetária como

ponto focal de análise macroeconômica, principalmente a recente escalada da inflação e seus

componentes.

O cenário macroeconômico durante a crise da Covid-19 forçou os bancos centrais a tomarem

medidas para reestabelecerem o pleno funcionamento das economias. Assim, a Taxa Selic foi

reduzida até o patamar de 2% na reunião de agosto de 2020 do Comitê de Política Monetária do

Bacen (Copom), permanecendo nesse patamar até a reunião de março de 2021.

Com o risco de inflação, o Copom iniciou um movimento de alta nos juros, culminando com uma

taxa de 13,75% na reunião de agosto de 2022. De janeiro a setembro de 2022 o Índice de Preços ao

Consumidor Amplo registrou alta de 4,09%, dividido entre as categorias demonstradas na Figura 3.

Figura 3 – Divisão do IPCA de janeiro a setembro de 2022 por categorias


Fonte: IBGE, 2022.

Verifica-se uma concentração em dois indicadores, alimentação/bebidas e transportes. O item

de alimentação é sazonal e a categoria de transportes vem sendo fortemente afetada pelos preços

dos combustíveis, os quais são reajustados frequentemente pela Petrobrás para acompanhar os

valores do Petróleo no mercado internacional. Essas duas categorias também são influenciadas pelo

conflito entre Rússia e Ucrânia, que causaram problemas nas cadeias de fornecimento global de

alimentos e petróleo. Ressalte-se que os dois países representam aproximadamente 15% da oferta

global de milho e 25% de trigo.

Dessa forma, isso faz com que o fenômeno da inflação não seja apenas restrito ao Brasil, mas

aos demais países do globo. Os Estados Unidos, por exemplo, encerraram o ano de 2021 com uma

inflação de 7% (índice CPI), índice 5,5% superior ao registrado no ano de 2020. No mesmo período, o

IPCA brasileiro saiu de 4,52% para 10,06%. Além disso, para os países da OCDE, essa variação

percentual ficou na casa dos 4 pontos percentuais (Monteiro, 2022).

A queda no preço dos commodities esperada até o ano de 2023 alimenta a esperança dos

analistas de que a meta de inflação do Brasil (3,25%) será atingida no próximo ano. Isso decorre do

fato de que, atualmente o cenário atual está com um grau de incerteza acima do comum,

principalmente relacionado aos preços internacionais do petróleo. O câmbio é outro componente que

pode influenciar nesse cenário. Segundo Monteiro (2022), o Bacen estima que uma combinação do
câmbio a R$ 5,00 e o barril do petróleo se mantendo estável na casa dos US$ 100 garantiriam a

inflação de 2023 abaixo da meta.

Além das commodities e do câmbio, a redução no nível da atividade econômica é outro fator

apontado pela autora como um possível influenciador na redução da inflação. A expectativa para o

aumento do PIB para 2023, que já foi de 2,5%, está em 1%, o que colabora para o cenário de baixa

inflação porque distancia o Brasil de uma situação de pleno emprego.

Porém, fatores que fogem ao controle do mercado e que estão na mão do governo também vêm

afetando a taxa de inflação brasileira. Recentemente, a Petrobrás tem segurado o repasse das altas

dos preços internacionais dos combustíveis para os preços domésticos. Dessa forma, a mediana das

expectativas do boletim Focus para o IPCA encontra-se em 5,7%, com a previsão mínima em 5% e em

trajetória decrescente. Isso possibilita uma esperança de que a meta de inflação para 2022, que é de

3,5%, com tolerância de 1,5% para mais ou para menos, seja cumprida.

Outros itens que têm demonstrado deflação são os preços das matérias primas, o que se reflete

nos Índices Gerais de Preços (IGPs), os quais estão desacelerando. Além disso, os núcleos da

inflação – as medidas que tentam suavizar o efeito dos itens mais voláteis – estão desacelerando

(Rezende; Fernandes, 2022).

Esses eventos demonstram como o cenário macroeconômico, principalmente o conflito entre

Rússia e Ucrânia, afetaram o preço dos commodities e, com isso, a inflação pelo mundo. Porém, a

desaceleração nesses preços e alguns fatores internos, como a retenção dos reajustes nos preços

internacionais dos combustíveis pela Petrobrás, podem fazer com que a inflação se mantenha dentro

da meta para o ano de 2022.

TEMA 5 – CONSIDERAÇÕES E ANÁLISE DE RISCOS


Crédito: Modvector/Shutterstock.

Neste tema demonstraremos o conceito e quais são os principais riscos, além de realizar o

fechamento de nosso estudo.

5.1 CONCEITO E ELEMENTOS DE RISCOS

O risco é algo que deve ser calculado e administrado para se ter maior confiabilidade nas

decisões cotidianas. O conceito de risco está relacionado com a variabilidade de um evento, com a

possibilidade de algo ocorrer de forma diferente do esperado. Porém, de onde ele vem?

O risco pode vir da possibilidade de desastres naturais, de crises nos mercados financeiros, da

inflação, da probabilidade de sermos enganados em transações de negócios ou mesmo por meio de

decisões financeiras. Ele existe porque o ser humano não tem como prever todas as variáveis de um

evento, ou seja, em razão do princípio da racionalidade limitada. Dessa forma, quando tomamos

decisões não temos todos os meios de nos assegurarmos que estamos completamente seguros

dessas decisões porque também não conseguimos mapear todas as possibilidades de ocorrências

futuras.

Os riscos podem ser classificados como sistemáticos ou não sistemáticos. Os riscos

sistemáticos são aqueles que afetam todas as pessoas de forma geral, como uma crise econômica.

Dessa forma, mesmo que você não tenha tomado decisões para participar desse risco, você está

correndo o risco sistemático. O risco não sistemático é um risco específico. Um exemplo é quando
uma pessoa vai fazer uma viagem de motocicleta. O risco de essa pessoa se acidentar é um risco

não sistemático que ela corre.

A análise de riscos é a forma como as exposições ao risco são diagnosticadas, calculadas e

analisadas, gerando controles para decisões financeiras nas condições de riscos expostas (Lima,

2018).

Os riscos podem ser classificados em três grandes categorias: riscos estratégicos, riscos não

estratégicos e riscos financeiros. A partir disso, os riscos se dividem a partir do tipo de risco

associado. A Figura 4 demonstra os principais tipos de riscos e suas divisões.

Figura 4 – Taxonomia do risco

Fonte: Lima, 2018.

Dos riscos demonstrados na Figura 4, os riscos estratégicos são aqueles assumidos por

vontade própria para promover ganhos no mercado e criar valor aos acionistas. Esse risco está

relacionado às decisões do setor econômico de atuação de uma empresa sendo, dessa forma,

assumidos pelo posicionamento de mercado. Exemplos desse tipo de risco são os riscos relativos a

preços praticados, promoções de venda, campanhas de marketing e inovações tecnológicas.

Os riscos não estratégicos são aqueles sob os quais a empresa não tem controle, pois envolvem

a conjuntura econômica, social e política do ambiente em que a organização está inserida. Por isso,
esses riscos são os mais difíceis de serem mitigados.

Os riscos financeiros estão associados a possíveis perdas nos mercados financeiros e decorrem

de flutuações nas variáveis desses mercados. Apresentam como subclassificação risco de mercado,

risco de crédito, risco de liquidez, risco operacional e risco legal (Lima, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos tópicos que estudamos até aqui tivemos como objetivo demonstrar a vocês as principais

variáveis e a sua forma de funcionamento em relação à economia brasileira. Essas variáveis não se

restringiram ao campo econômico porque essa área depende e impacta outros segmentos da

sociedade devendo, dessa forma, ser analisada em conjunto.

Esperamos que as bases de dados e as formas de análise descritas no decorrer das etapas seja

utilizada por vocês como forma de analisar outras variáveis econômicas, sociais, ambientais,

demográficas etc., o que será essencial em sua posição de economista.

TROCANDO IDEIAS

A inflação é um mal que sempre ronda a economia brasileira em razão dos prejuízos que ela

causou ao nosso país no passado. Os índices de inflação medem o aumento de preços de forma

generalizada, ou seja, via cestas de consumo. Assim, pode ser que nem todos os aumentos sejam

captados da mesma forma.

Dessa forma, propomos uma discussão: quais os principais preços que você sentiu maior alta

nos últimos tempos? Esses produtos são nacionais ou importados? A qual das famílias descritas na

Figura 3 esse produto pertence?

NA PRÁTICA

Saiba mais

Você gostaria de saber, em uma economia transparente, como pensa um Banco Central a

respeito da Política Monetária? Pois isso é possível. Nesta seção, incluímos uma entrevista
coletiva do Bacen sobre a condução da Política Monetária com as principais análises e ações

que essa instituição vem adotando sobre o assunto. Acesse o link a seguir:

ENTREVISTA coletiva à imprensa sobre a condução da política monetária. Banco Central do

Brasil, 23 jun. 2022. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=nnt_q_XQ2vg>. Acesso

em: 31 out. 2022.

FINALIZANDO

Nesta etapa demonstramos como a economia se relaciona com outras áreas do conhecimento

utilizando indicadores e outras ferramentas. Além disso, apresentamos a influência das decisões

políticas e realizamos uma análise da conjuntura econômica brasileira, com foco na política

monetária. Uma demonstração dos tipos de riscos também foi apresentada. Esperamos que você

possa aproveitar essa etapa e ampliar seus conhecimentos sobre o assunto.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, F. et al. Economia monetária e financeira – Teoria e política. 3. ed. Rio de Janeiro:

Elsevier, 2015.

CARVALHO, T. S.; ALMEIDA, E. A hipótese da Curva de Kuznets Ambiental Global: uma

perspectiva econométrico-espacial. Estudos Econômicos, v. 40, n. 3, p. 587-615, 2010.

FERNANDES, E. O que está sendo regulado sobre criptomoedas. Valor, 29. abr. 2022. Disponível

em: <https://valor.globo.com/legislacao/fio-da-meada/post/2022/04/o-que-esta-sendo-regulado-

sobre-criptomoedas.ghtml>. Acesso em: 31 out. 2022.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPCA – Índice Nacional de Preços ao

Consumidor Amplo. IBGE, 2022. Disponível em:

<https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-

ao-consumidor-amplo.html?=&t=destaques>. Acesso em: 31 out. 2022.

JULIÃO, F. Entenda o que um decreto de estado de emergência muda na PEC dos Benefícios.

CNN Brasil, 5. jul. 2022. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/business/entenda-o-que-um-


decreto-de-estado-de-emergencia-muda-na-pec-dos-beneficios/>. Acesso em: 31 out. 2022.

LIMA, F. G. Análise de riscos. 2. ed. São Paulo: Grupo Gen, 2018.

MARINO, P. DE B. L. P. et al. Indicadores de governança mundial: relação com os indicadores

socioeconômicos dos países do Brics. Revista de Administração Pública, v. 50, n. 5, p. 721-743,

2016.

MENDONÇA, M. J. C. DE; SACHSIDA, A.; MEDRANO, L. A. T. Inflação versus desemprego: novas

evidências para o Brasil. Economia Aplicada, v. 16, n. 3, p. 475–500, 2012.

MINISTÉRIO DA FAZENDA. Teto de gastos: o gradual ajuste para o crescimento do país. Brasília:

Ministério da Fazenda, 2018.

MONTEIRO, S. Horizonte incerto. Conjuntura Econômica, v. 76, n. 4, p. 22–34, abr. 2022.

PONTILI, R. M.; STADUTO, J. A. R.; HENRIQUE, J. DA S. Abandono e atraso escolar e sua relação

com indicadores socioeconômicos: uma análise para a região sul do Brasil. Gestão & Regionalidade,

v. 34, n. 101, 2018.

REZENDE, V.; FERNANDES, A. IPCA mais próximo do teto da meta neste ano entra no radar.

Valor, 12. out. 2022. Disponível em: <https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/10/12/ipca-mais-

proximo-do-teto-da-meta-neste-ano-entra-no-radar.ghtml>. Acesso em: 31 out. 2022.

SAIBA mais sobre a tramitação de projetos de lei. Câmara dos Deputados, 20 ago. 2019.

Disponível em: <https://www.camara.leg.br/noticias/573454-SAIBA-MAIS-SOBRE-A-TRAMITACAO-DE-

PROJETOS-DE-LEI>. Acesso em: 31 out. 2022.

SOARES, G. P. et al. Evolução de indicadores socioeconômicos e da mortalidade cardiovascular

em três Estados do Brasil. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 100, n. 2, p. 147-156, 2013.

TAIAR, E. IFI Vê PEC das Bondades como ameaça a teto de gastos. Valor, 7. jul. 2022. Disponível

em: <https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/07/07/ifi-ve-pec-das-bondades-como-ameaca-a-

teto-de-gastos.ghtml>. Acesso em: 31 out. 2022.

Você também pode gostar