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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS


CIÊNCIAS CONTÁBEIS EAD 2017.2
DISCIPLINA: ECONOMIA I
PROFESSOR:
ALUNO:

ATIVIDADE PRESENCIAL II

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA SOCIAL: LIÇÕES DO PLANO REAL

O Governo brasileiro quer aprovar através da PEC 287/2016, uma reforma na


Previdência Social que, além de outras mudanças, aumenta para 65 anos a idade
mínima para aposentadoria dos trabalhadores e nivela o tempo de contribuição entre
os homens e mulheres, o que é uma tendência mundial (EUA, Itália e França são
exemplos de países que adotaram esse nivelamento). Outra mudança prevista é no
tempo mínimo de contribuição que passa de 15 anos para 25 anos, o que, segundo
alguns especialistas, excluirá 8 em cada 10 trabalhadores no Brasil.
Com o argumento de que essa reforma é necessária devido ao rombo que,
segundo o Ministério da Fazenda, aumenta ano após ano, o governo diz que só assim
será possível garantir a aposentadoria dos trabalhadores das próximas gerações,
sabendo que para um direito existir não basta estar escrito no papel, é necessário que
haja condições de prover esse direito. O advogado Anderson de Tomasi Ribeiro,
especialista em Direito Previdenciário, diz que o governo explica esse suposto rombo
com base nos três regimes (Regime Próprio, Regime dos militares e no Regime Geral
da Previdência), que têm fontes de custeios diferentes e aponta um déficit em torno
de R$ 150 bilhões, quando a Constituição manda analisá-los de formas diferentes, que
se fosse dessa forma veriam que o Regime Geral da Previdência é superavitário. A
contadora Liêda Amaral enfoca a necessidade de um exame mais aprofundado das
fontes de financiamento para a seguridade social no País: “Antes de assumir uma
posição a favor ou contra a proposta em tramitação, é necessário que se observem os
trabalhos técnicos que deram suporte à elaboração do texto e às isenções concedidas”.
Sem uma análise patrimonial aprofundada é difícil tomar uma posição firma sobre o
setor previdenciário.
Segundo a professora de economia da UFRJ, Denise Gentil, “essa proposta de
reforma vem em um momento de profunda recessão na economia do país e que existe
muita manipulação de informações, seja de quem é favor, seja de quem é contra e não
há debate, o que provoca muitas dúvidas na população”. Ao contextualizar a tentativa
do Governo de Michel Temer de mudar as regras da Previdência com o famoso Plano

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Real, vemos que na PEC 287/2016 há vulnerabilidade, pois o Plano orientou-se
gradualmente e de forma transparente, incluindo as empresas e a população buscando
defender os interesses de ambos. Diferente dessa reforma, na elaboração do Plano
Real, cada etapa era comunicada à população através de propagandas, o que levou à
compreensão mesmo com tantos receios do que essa mudança poderia trazer. Vemos
esse apoio de forma gradativa à medida que o Plano ia sendo explicado à população,
através da aprovação que ele teve: 28% de aprovação até julho de 1994 e 62% após
esse período. Claro que na época em que era criada essa nova moeda o Brasil passava
por uma das piores crises de sua história, a dívida externa estava em US$ 100 bilhões e
a inflação de 1992 passou dos 1000%, mas hoje o país passa por crises em vários
setores: político, econômico, da segurança, dentre outros, o que pode causar um
grande impacto social.
Alguns economistas, a favor da reforma, dizem que não faz sentido o
trabalhador se aposentar aos 55 anos e viver até aos 85 anos, considerando a taxa de
sobrevida. Então para eles, esse ajuste é necessário devido à nova realidade
demográfica de expectativa vida no Brasil, o que mostra que a reforma também tem
uma dimensão microeconômica para que os trabalhadores sejam produtivos por mais
tempo. Para que algo tenha sucesso na economia são necessários ajustes, com o
advento do Plano Real foram necessários cortes no orçamento – em média US$ 22
bilhões, criação de um fundo de emergência reservando 15% dos impostos e aumento
de 5% nas alíquotas dos impostos, somente assim foi possível a divulgação da URV
(Unidade Real de Valor) pelo Banco Central e toda economia foi atrelada ao novo
índice sendo possível mudar de moeda, um dinheiro forte e estável. A equipe
econômica criada por FHC desenvolveu o Plano Real com base na política cambial,
igualando o valor do Real ao Dólar e monetária, usada nas questões dos juros.
No caso da PEC 287/16, um item bastante questionável é a idade proposta para
a concessão do benefício voluntário – 65 anos para homens e mulheres, a injustiça da
nova regra de transição apresentada é mais do que evidente: atualmente as mulheres
se aposentam, em média, aos 63 anos com tempo de contribuição de 18 anos, com a
reforma, passará mais 7 anos trabalhando para completar os 25 anos exigidos, ou seja,
se aposentarão com 25 anos. Pessoas que contribuíram por 15, 20 ou 25 anos recebem
o mesmo tratamento daquelas cujo ingresso no mercado de trabalho é recente. Se
nada for alterado, os trabalhadores que contarem com menos de 50 anos de idade, se
forem homens, ou menos de 45, no caso das mulheres serão afetados de forma
drástica. Se estivermos tratando de um servidor público com 25 anos de contribuição e
que tenha 45 de idade, ele teria de continuar exercendo a sua atividade por mais 20
anos para pode postular o benefício. E neste caso, tendo um tempo total de serviço de
45 anos de contribuição, ainda não teria direito de receber um benefício com 100% da
média de suas contribuições.

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Acredito que a mudança precisa ser feita, mas dentro da realidade brasileira, se
aprofundando em fatos demográficos, estudando se realmente existe esse déficit na
Previdência, quem financia a Seguridade Social e se esse dinheiro está sendo aplicado
realmente onde deveria ser aplicado e senão, apontar os responsáveis pela má gestão.
Não adianta fazer estudos tomando como base os países da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico - OCDE, que tem como exemplo de
integrantes: Bélgica, Dinamarca, Alemanha, França, EUA, Noruega, Japão, dentre
outros que são bem mais desenvolvidos que o nosso país. A ideia é tornar o sistema
mais justo, mas sem prejudicar a população, sobretudo os mais carentes e de
preferência incluindo todos, sem formar grupos de privilégios, entendendo que às
vezes é preciso “cortar a própria carne”, rever esse monte de privilégios que existe em
todas as esferas no governo e apresentar à sociedade uma análise dos impactos sociais
da reforma da Previdência e não apenas os econômicos.

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