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A ECONOMIA POLÍTICA DO AJUSTE FISCAL

Reflexão Crítica Pessoal

“O propósito do ajuste fiscal não é ganhar confiança


financeira. É não depender da confiança financeira.”
Roberto Mangabeira Unger, sociólogo e ex-ministro-chefe da Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil.

No questionamento do propósito do ajuste fiscal pelo governo brasileiro, é


necessário estabelecer a priori, o papel do governo no desenvolvimento do (ainda)
nosso país e seus trâmites. Conhecendo o papel do Estado no fornecimento de
serviços públicos e infraestrutura aos cidadãos, logo percebemos que há a
necessidade de custeio dos recursos para tais benefícios aos cidadãos, garantidos e
expandidos pela Constituição Cidadã, e o nosso Leviatã paralítico não consegue tal
ofício somente pelo sistema de tributação. É necessário um ambiente propício para
atrair investidores: confiança financeira.
Equilibrar as contas públicas com adoção de conjuntos de medidas visando
tanto corte gastos quanto aumento de receita. Austeros ou não, mas sempre
controversos e dolorosos. E nem sempre efetivos. Uma tentativa de obtenção ou
reestabelecimento de confiança financeira do mercado, para não precisar depender
(tanto) de confiança financeira, criando condições de investimentos para um país
melhor.
Lembrando que nosso ornitorrinco verde e amarelo conseguiu, no ano de
2020, um feito histórico de 100% da dívida pública em relação ao PIB brasileiro, o
que garante a anamnese de uma gestão fiscal nada satisfatória. Diagnóstico que
pode trazer como causas múltiplas, como programa de transferência de renda ou má
gestão do orçamento aprovado.
O que nos faz lembrar que apesar de ter sido sinalizada a necessidade da
preparação de uma sub-base para esse programa de transferência de renda, por
conta da crise econômica oriunda da pandemia do novo coronavírus, o Sars-Cov-2,
além de outras estratégicas políticas e econômicas, o governo apostava na
estratégia, não realista, da falácia da imunidade de rebanho, não adquirindo vacinas,
não vislumbrando um cenário alternativo; fatos que deram cabo a um descontrole
maior, prejudicado pelo déficit público de grande escala.
Abstraindo os motivos, a temática é altamente relevante, considerando que no
contexto brasileiro, a discussão sobre ajuste fiscal já é costumeiro a nós, desde os
anos 80, com um passado de planejamentos econômicos que renderam heranças
nada benditas. Atualmente, entre o Brasil e o resto do mundo há um consenso de
que um ajuste fiscal é inevitável, visto a crise atual do coronavírus, diferenciando-se
que a raiz não é uma crise econômica, mas provoca uma devastação econômica, e
podemos reconhecer o Leviatã, mesmo paralítico, como o único agente capaz de
enfrentar, com aumento dos gastos, inda que signifique endividamento, que não
será pequeno.
Os indicadores financeiros podem, e estão , piorando, vide a preocupação
recente norte-americana com a inflação, e dependendo da duração da epidemia,
ainda pouco conhecida, mas que já se mostra numa nova cepa, a Ômicron, surfando
na quarta onda, exigindo medidas adicionais. O que vem sinalizando que tais
medidas serão inevitáveis, já que vários países já estão sinalizando novos
lockdowns, não haverá ajuste fiscal capaz de trazer as contas dos Estados, em
geral, para os níveis que ostentavam antes dessa crise, mesmo por que a
recuperação econômica deverá ser lenta, prejudicando a arrecadação.
Há a necessidade de uma cristalização de um pacto, talvez, de medidas
claras sobre o enfrentamento sobre as dívidas/contas públicas, num esforço de
coordenar as expectativas. Sinalizando para a sociedade e ao mercado, soluções
factíveis, num ótimo de Pareto, priorizando transferência de renda e vacinas.
Necessário ressaltar que o ajuste fiscal é fruto de decisão política, sendo
passível de debates, e necessário que seja aprovado no Congresso. A agenda
política que se desenha, lenta, dolorosa e exaustiva, em torno das PEC´s , seja do
Pacto federativo, seja reformas administrativas e tributárias, num ciclo invertido e
que não irão surtir resultados para positivos em curto prazo, para que a economia
prospere. Além de pactos de coalizão para manter governabilidade, para aprovação
de emendas apocalípticas, e brigas sobre teto gastos.
Entendendo que a discussão sobre essas reformas são de debates
necessários e latentes, mas que vêm a tona por motivos errôneos, momento
desfavorável ao bem estar, e com sutilezas de maldade encrustadas.
O horizonte da prosperidade do Brasil dependerá da maneira como se dará o
enfrentamento da proporção do aumento da dívida assumida pelo governo na
pandemia para salvação da população, além do próprio sistema econômico.
Predominando a proposta neoliberal de que, vencida a pandemia, deveria ser feito
severos ajustes nas contas públicas, então a recessão será companheira por longo
tempo, com uma população paupérrima, desnutrida e desempregada,
desencadeando conflitos sociais incontornáveis. Preponderando a prudência e
ponderação, no pós Guerra da década de 30, que considerou que parte dessa dívida
seria uma riqueza financeira privada que deveria ser desvalorizada ou paga com a
cobrança de um imposto extraordinário sobre os ricos do mundo, isso promoverá um
esperançar de que a economia possa ser reconstruída com equidade e justiça
social.

Patricia Helena Barbosa Azevedo – phelena.bazevedo@gmail.com


Administração Pública – Uenf – AARE – LGP004025 Finanças Públicas

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