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Relatórios Econômicos da OCDE

BRASIL
Resumo executivo
Dezembro 2020

• O surto de COVID-19 mergulhou a economia em uma recessão profunda


• Enfrentar os desafios fiscais requer melhorar a eficiência dos gastos
• Revitalizar a produtividade é a chave para uma forte recuperação da renda
• Políticas de capacitação profissional bem elaboradas são essenciais
2 . RELATÓRIO ECONÔMICO DO BRASIL – RESUMO EXECUTIVO

Principais recomendações
Melhorar as políticas macroeconômicas, a governança e a proteção social

• Manter as taxas de juros baixas até que as pressões inflacionárias se tornem claramente visíveis.

• Aplicar nomeações por prazo determinado para o presidente e os diretores do Banco Central e limitar a demissão antecipada a
falta grave. Salvaguardar a autonomia orçamentária do Banco Central.

• Garantir a sustentabilidade fiscal aderindo às regras fiscais atuais, incluindo o teto de gastos.

• Fortalecer a eficiência dos gastos revisando as estruturas de remuneração dos funcionários públicos, os subsídios ineficazes, os
regimes fiscais especiais e os gastos tributários.

• Reduzir a rigidez do orçamento revisando a vinculação de receitas, os pisos de gastos obrigatórios e os mecanismos de indexação.

• Indexar os benefícios da previdência social aos preços ao consumidor, e não ao salário mínimo.

• Aumentar os benefícios e acelerar as concessões de benefícios no programa Bolsa Família. Retirar os benefícios apenas
gradualmente.

• Considerar criar a base legal para a execução de sentenças a partir da segunda instância de recurso ou limitar o número de
recursos, inclusive para o Supremo Tribunal Federal.

• Implementar uma lei específica de proteção a denunciantes.

Tornar o crescimento mais verde e sustentável

• Tomando como base os sucessos do passado no combate ao desmatamento ilegal, fortalecer os esforços de fiscalização
para combater o desmatamento ilegal e garantir pessoal e orçamento adequados para as agências de fiscalização
ambiental.
• Evitar o enfraquecimento do atual marco legal de proteção, incluindo áreas protegidas, o código florestal e enfocar o uso
sustentável do potencial econômico da Amazônia.

Aumentar a produtividade

• Simplificar ainda mais os procedimentos administrativos para abrir uma empresa e aplicar a regra “silêncio significa
consentimento” e as janelas únicas para todos os pedidos de licenças sempre que possível.

• Reduzir as barreiras tarifárias e não tarifárias, começando com bens de capital e insumos intermediários.

• Consolidar os impostos sobre o consumo em um único imposto sobre valor agregado.

• Garantir o alinhamento das decisões judiciais com as decisões de precedência dos tribunais superiores, vinculando as
promoções e salários dos juízes ao cumprimento dessas regras.

Melhorar as habilidades, a educação e a capacitação profissional

• Continuar ampliando o acesso à educação infantil, priorizando o acesso a famílias de baixa renda e mães solteiras.

• Ampliar recursos para cursos de capacitação profissional, mas garantir seu alinhamento com as necessidades do mercado de trabalho
local.
RELATÓRIO ECONÔMICO DO BRASIL – RESUMO EXECUTIVO . 3

O surto de COVID-19 mergulhou a economia em


uma recessão profunda
O coronavirus causou muito sofrimento humano e desencadeou uma profunda recessão. A necessidade
de reativar a atividade econômica depois da pandemia torna mais urgente enfrentar os desafios políticos
subjacentes.

As políticas econômicas reagiram de maneira Figura 1. As mudanças demográficas reduzirão o


oportuna e decisiva à crise da COVID-19, apoiando potencial de crescimento da economia
milhões de brasileiros. Mesmo assim, a pandemia
fará com que o PIB caia em 5% (Tabela 1).

Tabela 1. A economia está em recessão


2020 2021 2022
Crescimento real do PIB -5.0 2.6 2.2
Consumo privado -6.2 2.7 2.2
Consumo governamental -4.8 0.5 0.0
Formação bruta de capital -5.1 4.4 5.6
Exportações -2.0 -0.6 4.0
Importações -14.3 -4.4 4.6 Fonte: OECD (2017), OECD Economic Outlook (database).
Taxa de desemprego 13.6 16.0 15.0
Inflação (média anual) 3.1 3.6 3.2 A intermediação financeira ainda é limitada,
Inflação (Dezembro-Dezembro) 3.8 2.9 3.4 com o crédito total ao redor de 50% do PIB,
Resultado fiscal (% do PIB) -15.6 -7.2 -6.3 mas a estrutura dos mercados financeiros está
Resultado primário (% do PIB) -10.7 -2.8 -2.3 melhorando. O crédito direcionado, que estava
Dívida pública (bruta, % do PIB) 91.4 94.3 96.6 durante muito tempo no mesmo nível que o crédito
Conta corrente (% do PIB) -0.3 -0.5 -0.9 livre, está recuando com a redução dos subsídios
financeiros. Isso está permitindo que bancos privados
Fonte: Projeções da OCDE. e mercados de títulos corporativos aumentem sua
participação nos mercados financeiros. Os spreads
bancários ainda são altos e sugerem que há espaço
Uma forte recuperação da economia exigirá
para fortalecer a concorrência no setor financeiro,
melhoras duradouras nas políticas econômicas.
mas uma agenda ambiciosa de políticas com o
A expansão da força de trabalho e os preços
objetivo de reduzir os custos de financiamento está
das commodities não poderão mais sustentar o
sendo implementada.
crescimento e as receitas públicas. Pelo contrário, o
impulso demográfico para o crescimento desde o ano
2000 será totalmente revertido nos próximos 25 anos O desmatamento é uma importante fonte de
(Figura 1). A produtividade, que em última instância emissões de gases de efeito estufa e voltou a subir
impulsiona a prosperidade, precisará se tornar o recentemente. As leis e proteções atuais provaram
motor do crescimento, após décadas de estagnação ser capazes de reduzir o desmatamento no passado
virtual. Sem profundas reformas estruturais para e devem ser preservadas. Mas elas só serão eficazes
aumentar a produtividade, a recuperação será quando combinadas com esforços de fiscalização
lenta e decepcionante. Os riscos de inflação estão mais fortes para combater o desmatamento ilegal, o
contidos há algum tempo, mas a formalização da que exigirá recursos adicionais.
independência de fato do Banco Central poderia
cimentar esse progresso.
4 . RELATÓRIO ECONÔMICO DO BRASIL – RESUMO EXECUTIVO

Enfrentar os desafios fiscais requer melhorar a


eficiência dos gastos
Melhorar os resultados fiscais continua sendo um dos principais desafios do Brasil, dada a alta carga
de dívida, à qual a pandemia adicionou 15 pontos percentuais do PIB (Figura 2).

O ajuste fiscal deve ser retomado após a Uma reforma dos gastos obrigatórios e das regras
crise, mas pode ser alcançado melhorando de indexação é inevitável para alcançar o ajuste
a eficiência dos gastos, sem necessidade fiscal necessário e não quebrar as regras fiscais,
de aumentar impostos via alíquotas mais o que provocaria perdas de confiança e poderia
altas ou novos impostos, e sem prejudicar inviabilizar a recuperação.
o crescimento ou a inclusão. Existe muito Figura 2. A dívida bruta aumentou fortemente
espaço para revisar os gastos tributários,
incluindo os subsídios ineficazes para atividades
específicas e os regimes tributários especiais.
Ao mesmo tempo, uma reforma administrativa
poderia gerar economias e melhorar a qualidade
da administração pública. Muitas despesas
correntes têm aumentado devido à vinculação de
receitas, gastos obrigatórios ou mecanismos de
indexação. Isso desviou recursos de onde são mais
necessários, incluindo do investimento.

Fonte: Projeções OCDE, BCB, Tesouro Nacional.


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Aumentar a eficiência dos gastos não será A revisão dos arranjos de indexação atuais poderia
possível sem tirar partido dos notáveis liberar recursos para transferências mais eficientes
progressos alcançados na luta contra a e gerar reduções significativas da pobreza a um
corrupção e os crimes económicos. Órgãos de baixo custo fiscal.
fiscalização fortes e autônomos podem garantir
isso, desde que a lei forneça uma ameaça crível. As transferências condicionadas, que são
bem direcionadas, poderiam ser expandidas
Grandes desigualdades em várias dimensões e convertidas em uma verdadeira rede de
afetam o bem-estar. Os 10% mais ricos da proteção social. Isso exige acelerar as concessões
população ganham quatro vezes mais que os de benefícios em caso de demissão do trabalhador
40% mais pobres. A desigualdade e a pobreza e retirar-os de maneira mais gradual para fortalecer
diminuíram nas últimas duas décadas devido ao os incentivos à busca de emprego. Isso daria
forte crescimento, às melhorias na educação e às mais proteção aos trabalhadores informais, que
transferências sociais. Os benefícios sociais chegam respondem por um terço do emprego e não
a mais de 15% do PIB e são caracterizados por um são cobertos por esquemas de proteção ao
direcionamento inadequado, com quase metade trabalhador, e poderia reverter o recente aumento
das transferências atingindo o quintil de renda das taxas de pobreza e desigualdade (Figura 4).
mais alto (Figura 3).

Figura 3. Os benefícios sociais não são bem Figura 4. A pobreza e a desigualdade acrescentaram
direcionados
Distribuição do gasto em benefícios sociais por quintil da
distribuição de renda (1= quintil com menor renda)

Fonte: IBGE.

Fonte: SEAE, Ministério da Economia


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Revitalizar a produtividade é a chave para uma


forte recuperação da renda
Alcançar o potencial do Brasil e melhorar o bem-estar e os padrões de vida só será possível por meio
de reformas estruturais ambiciosas que aumentem a produtividade.

Com grande parte da economia protegida Disposições legais complexas dão origem a
da concorrência, as empresas enfrentam litígios excessivos e ao congestionamento dos
incentivos limitados para se tornarem mais tribunais. As decisões judiciais são lentas e as
produtivas. Os mecanismos de realocação de empresas podem ter dificuldade em prevê-as,
recursos, como entrada e saída de empresas, aumentando a incerteza e o custo de execução dos
parecem mais fracos do que em outros lugares, contratos.
deixando muitos empregos amarrados em
empresas e atividades com pouco potencial para A concorrência externa é prejudicada por
melhorar a produtividade e os salários. As cargas altas barreiras comerciais que isolaram
regulatórias domésticas e as barreiras à entrada o Brasil das oportunidades de comércio
no mercado estão entre as mais altas do mundo internacional (Figura 6). As barreiras comerciais
(Figura 5). são ainda maiores para bens de capital e insumos
intermediários, elevando os custos de produção no
Um sistema tributário fragmentado dá origem a Brasil.
um dos custos fiscais mais elevados do mundo.
Uma ampla gama de isenções e regimes especiais Figura 6. As tarifas de importação são elevadas
reduzem a justiça e o efeito de redistribuição de
impostos. O investimento em infraestrutura está
aquém da depreciação há anos, o que torna a
logística desafiadora e cara.

Figura 5. A regulamentação do mercado de produtos


prejudica a competição
Indicador da regulação no mercado de produtos

Fonte: Wits, Banco Mundial.

Fonte: OECD base de dados PMR.


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Políticas de capacitação profissional bem


elaboradas são essenciais
Uma integração mais profunda na economia global e o aumento da concorrência doméstica
aumentariam a produtividade, inclusive ao facilitar a transferência de empregos em direção a
empresas e atividades mais produtivas. Mas essas mudanças estruturais criam desafios para os
trabalhadores. Políticas de capacitação profissional e educação bem elaboradas podem ajudar os
trabalhadores a fazerem essa transição com sucesso.

Melhores oportunidades para o reforço de Fortalecer os incentivos das instituições de


competências facilitarão a transição para formação para aumentar a empregabilidade dos
empregos novos e com melhores salários e, ao participantes pode ajudar a alcançar um melhor
mesmo tempo, fortalecerão a produtividade. alinhamento com a demanda do mercado. Facilitar
Ampliar as políticas de capacitação profissional uma melhor adoção de conteúdo vocacional no
pode ser uma forma altamente eficaz de mitigar os ensino médio também pode ajudar a preparar
efeitos sobre o emprego local em regiões expostas os jovens de maneira eficaz para um ambiente
ao comércio, sempre que o conteúdo do curso econômico em mudança. Juntamente com a
estiver alinhado com as demandas de qualificação expansão da educação infantil, isso poderia reduzir
nos mercados de trabalho locais. as taxas de evasão escolar precoce e promover a
inclusão.
Relatórios Econômicos da OCDE
BRASIL
A pandemia COVID-19 causou muito sofrimento humano e desencadeou uma profunda recessão no
Brasil. As políticas econômicas reagiram de maneira oportuna e decisiva à crise, apoiando milhões de
brasileiros. Mas uma recuperação forte e inclusiva da recessão exigirá melhorias duradouras nas políticas
econômicas. Melhorar os resultados fiscais continua sendo um dos principais desafios do Brasil, dado o
nível da dívida pública, à qual a pandemia aumentou significativamente. Os gastos públicos terão de se
tornar mais eficientes, inclusive com base nos progressos anteriores na luta contra a corrupção e os crimes
econômicos. A proteção social pode ser fortalecida por meio de um enfoque melhor nos benefícios mais
eficazes, o que poderia permitir reduções significativas na desigualdade e na pobreza. Um crescimento
mais forte dependerá do aumento da produtividade, que está virtualmente estagnada há décadas. Isso
requer enfrentar os desafios políticos subjacentes, incluindo melhoras no âmbito da regulação, uma
reforma tributária, um sistema judiciário mais eficiente e uma integração mais forte na economia global.
Fortalecer a produtividade implica realocações e mudanças estruturais na economia, que devem ser
acompanhadas de políticas de formação e educação bem desenhadas. A capacitação profissional, focada
nas necessidades do mercado laboral local, pode ajudar os trabalhadores a fazer essa transição com
sucesso e aproveitar novas oportunidades para conseguir empregos melhores.

RECURSOS ESPECIAIS: AUMENTAR A PRODUTIVIDADE; POLÍTICAS DE CAPACITACAO


PROFISSIONAL PARA FACILITAR AS MUDANÇAS ESTRUTURAIS

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