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Unilúrio Business School Economia de Moçambique- 4º ano

Economia e Gestão Empresarial Assistente: Ana Cristina

Docente: Alice Martins Estudante: Eribelto Matemate

Política Fiscal

Moçambique está a emergir do recente episódio de volatilidade macroeconómica, com


uma capacidade de crescimento reduzida. O crescimento do PIB caiu para uma média de
3,8% entre 2016 e 2017. A procura privada principalmente por serviços, que constituiu o
maior factor de impulso do crescimento nos anos que precederam a crise económica,
diminuiu significativamente.

Este fenómeno reflete a extensão da redução do poder de compra dos consumidores,


principalmente das famílias, que enfrentaram uma subida dos custos sem que os seus
rendimentos tivessem aumentado ao mesmo ritmo.

A gestão fiscal tem sido, em geral, prudente, apesar dos repetidos choques, mas os défices
de financiamento são significativos e cada vez mais financiados por dispendiosas
emissões de divida interna.

De acordo com FAO (2018) afirma que:

“Os esforços de consolidação fiscal são dificultados pelas persistentes necessidades de


financiamento do sector público e pela subida dos níveis de endividamento interno. O
orçamento de Moçambique tem vindo a debater-se com o problema da margem fiscal
reduzida desde o início da crise da dívida, em 2016, na medida em que os níveis de
financiamento externo foram caindo e os custos do serviço de dívida foram aumentando”.

A resposta fiscal resulta das autoridades que ajudaram a resistir aos choques recentes, mas
as pressões fiscais permanecem. Apesar das pressões da pressão de despesa resultante da
pandemia e da situação humanitária e de segurança no Norte, a gestão fiscal tem
permanecido geralmente prudente. Estima-se que o défice orçamental global tenha
diminuído para 4,5% do PIB em 2021, contra 5,7% em 2020.

A despesa publica total diminuiu significativamente, de 33,5% do PIB em 2020 para


30,6% em 2021. As receitas totais mantiveram-se em cerca de 25,3% do PIB, refletindo
o aumento de receitas dos impostos sobre o rendimento e da receita não fiscal.

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Com este desempenho da receita e a lenta execução da despesa de investimento, os saldos
fiscais (excluindo donativos) melhoraram um pouco em 2021. Estima-se que os
diferimentos do serviço da divida ao abrigo da iniciativa de suspensão do serviço da
divida (DSSI) em 2021 tenham atingido 1,1% do PIB. No entanto, os donativos dos
doadores diminuíram para 2,2% do PIB (de 3,6% em 2020), com os défices cobertos por
levantamentos dos depósitos de mais-valias passadas e pelo aumento das emissões de
divida interna.

A 25,3% do PIB, as receitas registaram um desempenho sólido em 2021, impulsionado


pela recuperação do crescimento e permanecendo num nível comparável ao de 2020. As
receitas dos impostos sobre o rendimento permaneceram estáveis em cerca de 10% do
PIB (Figura 12), refletindo a recuperação do crescimento económico e medidas de
execução fiscal, como o reforço da retenção na fonte para pessoas singulares. As receitas
não fiscais aumentaram de 4% para 4,2% do PIB entre 2020 e 2021, impulsionadas por
maiores dividendos da empresa ferroviária estatal e da concessão da central hidroelétrica
de Cahora Bassa.

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Refletindo uma recuperação parcial no sector mineiro e o crescimento do volume de
eletricidade, a contribuição dos megaprojetos nos sectores extrativo e energético
aumentou 40 por cento em termos nominais, expandindo a sua parte nas receitas totais
em 2 pontos percentuais, atingindo 10,6% das receitas totais.

Segundo o Banco Mundial (2018) refere que “os atrasos devidos a fornecedores do sector
privado também continuam a constituir um desafio”.

A dívida pública doméstica tem continuado a aumentar à medida que as autoridades


recorrem ao dispendioso mercado interno para responder às necessidades de
financiamento. Estima-se que o stock da dívida interna tenha atingido 22% do PIB em
2021, contra 16% em 2019 e em 3,8 do PIB em 2016, equivalente ao orçamento publico
alocado ao sector de saúde em 2018 e cerca de 12% do valor total concedido ao sector
privado ate junho de 2018

A dívida pública total diminuiu para cerca de 104% do PIB em 2021, a partir de 120%
em 2020, mas principalmente devido à apreciação da moeda. Para além das pressões
colocadas pela COVID-19, os níveis elevados da dívida interna refletem as necessidades
de gastos na defesa para enfrentar a situação de segurança e humanitária em Cabo
Delgado, as necessidades de financiamento a curto prazo das empresas públicas com mau
desempenho, e o serviço da dívida em obrigações do tesouro.

O serviço da dívida continua elevado, e o perfil da dívida interna apresenta uma


concentração considerável de maturidade. Quase 75% do stock de obrigações do tesouro
é devido entre 2021 e 2023, o que aumenta os riscos de renovação da dívida. O
financiamento da dívida interna tem um custo elevado, com a taxa de juro dos bilhetes do
Tesouro com um prazo de vencimento superior a dois meses a atingir uma média superior
a 13% durante 2021. As taxas de juro efetivas das emissões de dívida interna (excluindo
empréstimos do Banco Central) foram de 10% em 2021, em comparação com 5% em
2015.

As autoridades concluíram a reestruturação do Eurobond MOZAM 2023 em finais de


2019 e estão a contestar outras dívidas ocultas. Concluíram as negociações dos 727
milhões de dólares com os credores do MOZAM 2023, resultando numa troca por um
título de 900 milhões de dólares. Nos termos do acordo, o vencimento foi prolongado de
2023 para 2031, e a taxa anual de cupão foi reduzida de 10,5% para 5% até 2023 e 9% a
partir de 2023. A reestruturação aliviou o fluxo de caixa.
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Moçambique também tomou medidas para contestar legalmente os dois outros
empréstimos não declarados, Proindicus e MAM, iniciando processos legais para
contestar a sua validade. Paralelamente, em Maio de 2020, o Tribunal Constitucional de
Moçambique decidiu que estas dívidas tinham sido contraídas ilegalmente. Com base
nestes desenvolvimentos, a ASD de Moçambique não inclui as dívidas da Proindicus e da
MAM na sua base, tratando-as em vez disso como passivos contingentes. Em Outubro de
2021, o Credit Suisse foi multado pela Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido
pelo seu papel no escândalo da dívida de longo prazo e foi obrigado a cancelar 200
milhões de dólares da dívida de Moçambique.

“A agenda de reformas remanescente é substancial. Com riscos fiscais significativos à


vista, as reformas no sentido de alargar a margem fiscal e aumentar a eficiência das
despesas públicas continuam a ser urgentes”. (Ministério da Economia e Finanças 2022,
pag.15)

As reformas sectoriais para aumentar a qualidade e equidade dos gastos, principalmente


no que toca à melhoria da prestação de serviços e das infraestruturas rurais, também são
vitais para alcançar os objetivos de desenvolvimento nacional no âmbito de um contexto
fiscal de austeridade.

“O fortalecimento da gestão das receitas é cada vez mais urgente. Embora sujeito aos
constrangimentos de uma economia mais fraca, o esforço de receitas tem demonstrado
um certo nível de robustez, ajudando a manter Moçambique entre os países com maior
rácio de receitas/PIB na região. No entanto, ainda há espaço para melhorar e simplificar
o regime de tributação, bem como para aumentar o esforço de receitas” (FMI, 2018).

Referente as medidas de política fiscal, no medio prazo, estas serão orientadas para
garantir a sustentabilidade fiscal com a implementação de medidas que visam,
incrementar os níveis de arrecadação de receitas; assegurar maior controlo dos gastos
correntes; e garantir melhorias na gestão da divida publica.

Como resultado da implementação de medidas de reformas, no período entre 2023-2025,


prevê-se um ganho medio do espaço fiscal em cerca de 1,8% do PIB por ano.

A medida fiscal no âmbito da política tributaria, esta estará voltada para a melhoria dos
processos, trazendo mais eficiência, equidade e justiça social na arrecadação das receitas
do Estado de modo a reduzir o gap de financiamento as despesas do Estado e permitir

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desta forma melhorias na provisão de serviços sociais bem como reduzir o nível de
endividamento público.

Também, no período entre 2022-25 a política tributaria terá o seu enfoque na melhoria da
eficiência e eficácia na cobrança de receitas através da continuidade na implementação
das medidas de reformas de políticas reformas administrativas, que incluem, a reforma
do IVA; alargamento da base tributaria do IRPS com a TSU; e medidas administrativas.

Já as medidas no âmbito da política orçamental, estará presente no aprofundamento da


consolidação fiscal através de mecanismos de gestão das finanças publicas mais eficazes
e eficientes com foco na gestão da divida publica.

Fora das medidas no âmbito da política orçamental e tribuária, também é urgente resolver
o problema do desempenho insatisfatório no sector das EPs, o que irá envolver a
reestruturação da carteira de empresas que se encontram em situação precária e a sua
concentração num número mais pequeno de empresas estratégicas com bons
desempenhos.

Em forma de síntese, o aumento da atividade económica pode ter um impacto positivo na


mobilização de recursos internos. No entanto, num cenário desta natureza, o compromisso
de usar o aumento do espaço fiscal para investimentos será importante para a obtenção
dos resultados almejados.

A melhoria da administração do IVA pode ter um impacto significativamente positivo na


mobilização de recursos internos. Além disso, outros aspetos da política fiscal e da
administração que não puderam ser modelados também são discutidos, já que se pode
esperar que tenham um impacto significativo na mobilização de recursos internos.

Banco Mundial, (2018), "Strong but not broadly shared growth. Mozambique Poverty
Assessment", Banco Mundial: Washington DC.

FAO (2018), "Global Information and Early Warning System on Food and Agriculture
Country Brief– Mozambique", Maputo, Moçambique.

FMI, (2018), "World Economic Outlook: Cyclical Upswing, Structural Change", FMI:
Washington DC.

Ministério da Economia e Finanças (2022): Cenário Fiscal do Medio Prazo. Maputo

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