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Os dados mostram que a última década colonial foi e continua a ser o período de maior
crescimento económico alguma vez registado em Moçambique, regista-se o ano de 1973 como
sendo o maior de sempre na economia moçambicana, e 1993 o piorou de todos os não sapos o
alcance da independência.
A opção do estado colonial foi recorrer ao trabalho forçado, ao cultivo de culturas obrigatória
e o sistema de cadernetas para o controlo dos movimentos migratórios. De salientar que aqui
reside um dos principais factores de ruínas da economia colonial: a marginalização da maioria
da força de trabalho em benefícios do crescimento económico.
A exploração dos recursos humanos e naturais para a satisfação das necessidades das famílias
portuguesas estabelecidas em moçambique constituía a prioridade da estratégia económica da
governação colonial portuguesa, facto que constituía como base da economia colonial:
trabalho migratório, serviços e agricultura coerciva.
Mondlane no seu livro Lutar por Moçambique demostra a estratificação salarial racista:
brancos, mestiços, africanos assimilados e não assimilados.
I. 1885-1926: período dominado pelas plantações exploradas por companhias majestáticas não
portuguesas, no centro e norte do país evidenciava-se a monocultura de produtos de
exportação, com recurso a mão-de-obra barata
II. 1926-1960: este período é marcado por uma intensificação do trabalho forçado e culturas
obrigatórias com o intuito de integração crescente da economia de Moçambique numa
economia regional dominada pela África do Sul.
III. 1960-1973: este período foi influenciado pelas mudanças políticas mundiais e a crise do
regime de Salazar, facto que condicionou a diversas reformas políticas e económicas, que
conduziram, entre outras medidas, à abolição do trabalho e das culturas.
Introdução dos planos de fomento
Uma outra área importante de intervenção do estado foi o planeamento económico. Em 1937
foi publicado o primeiro plano de fomento sexenal, o qual deveria ser financiado
principalmente pelos excedentes acumulados e pelas receitas dos portos e caminhos de fero.
Até os finais da década de 50 ao planos de fomento acreditava-se que a melhor via para o
desenvolvimento natural de Moçambique seria através do melhoramento de infra/estruturas
ferroviárias, portuárias e actividade agro-industrial.
Neste período destaca-se três principais componentes: primeiro, programou-se uma serie de
estudos científicos de geologia, solos, cartografia, bem como a investigação sobre nutrição,
educação e produtividade económica. Segundo, o plano previu o desenvolvimento maciço da
agricultura de irrigação ligada as barragens de Limpopo, Incomáti e Revuê, e a expansão das
infra-estruturas dos transportes e portos. E terceiro, pela primeira vez na história de
moçambique cria-se um programa para educação e saúde.
No início da década de 1970 o PIB per capita de moçambique era de cerca de 70% do PIB
medio per capita da Africa subsaariana. Mas se o ano de 1973 foi o ano de pico do
crescimento económico, também foi o início da sua crise mais prolongada de sempre.
Em 1975 o PIB real de Moçambique representava 71% do nível atingido em 1973. Nos anos
seguintes o Governo da Frelimo fixou os níveis económicos de 1973 como meta a atingir e
ultrapassar, o que representou uma grosseira subestimação das implicações da ruptura na
estrutura económica de política que simultaneamente estava a implementar.
Nacionalização
De acordo com Bouene (2005:75), em 1977, dois anos após a independência, foi realizado o
III Congresso da Frelimo, um colóquio que determinou a construção dos alicerces do novo.
O III Congresso, foi decisivo para o processo da nossa Revolução. Foi um dos momentos mais
altos da vida do nosso Povo. Nele se tomaram decisões da máxima importância para o futuro
do nosso País, nele se definiram tarefas para todos os sectores da nossa actividade: tarefas
políticas, económicas, sociais e culturais”.
Percebe-se com o exposto, a importância do III Congresso para a História do país não só
pelas políticas de desenvolvimento económico, político assim como social de Moçambique,
mas também pelo seu valor histórico, pois, foi o primeiro congresso realizado em
Moçambique logo após a independência marcando assim um marco importante da vitória
contra o colonialismo português mediante uma luta que durou 10 anos. De realçar que, foi
ainda no III Congresso que se criou a FRELIMO como um partido Marxista-Leninista,
partido da vanguarda das classes trabalhadoras moçambicanas para a edificação do
Socialismo, definido como sendo “uma política institucionalizada de redistribuição de
títulos de propriedade caracterizado pela transferência de títulos de propriedade para uso e
pertença de um grupo designado povo” (Hopp;s/d:16), isto é, um sistema que aboli a
propriedade privada para uma propriedade colectiva.
Afirma Newitt (2012:471-472), que o desenvolvimento de Aldeias Comunais foi muito lento
com grande desconfiança pelos camponeses abrangidos, que achavam que se estavam a
adaptar mal ao esquema contínuo da agricultura familiar. Até 1984, tinham sido instituídas
cerca de 1500 Aldeias Comunais, mais da metade destas, foram criadas no período da guerra
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A Aldeia Comunal remonta na História de Moçambique aos aldeamentos, planeados em particular no norte como parte
das campanhas de cultivo de algodão (Newitt;2012:471).
É importante realçar aqui, que tais aldeias, contaram com uma forte oposição sobretudo
porque envolviam mudança forçada dos camponeses da terra que tradicionalmente
trabalhavam, e que era controlada pela sua própria linhagem, para grandes aglomerados semi-
urbanos onde dependiam da comuna da aldeia para o acesso a terra. Não é novidade afirmar
que muitos camponeses alojados em Aldeias Comunais regressaram para as suas antigas
casas, deixando os novos aglomerados vazios e quem os encorajou a fazê-lo foram os chefes
das suas linhagens, os quais por sua vez, tinham sido destituídos por funcionários dos
partidos e adjuntos eleitos. Apesar de as Aldeias Comunais terem apresentado muitas
vantagens no papel, representavam o que um observador francês descreveu como une
violence culturalle (uma violência cultural) (Newitt;2012:472).
Entendidas como a produção agrícola moderna sob o controlo directo do estado, constituíram
a resposta necessária face aos problemas criados pelo abandono das propriedades em
Moçambique, por parte dos colonos e empresas portuguesas, e pela ameaça de escassez
alimentar generalizada, conjugada com o rápido declino das exportações (Newitt;2012:475).
O PPI era definido como guia de acção e instrumento fundamental para a construção de uma
economia socialista relativamente desenvolvida. Para esse objectivo eram defendidos três
eixos centrais na materialização do PPI:
Ironicamente afirma Matsinhe (2011:27), que “depois da bonança veio a tempestade”. A seca
e guerra de desestabilização provocaram uma crise que levou ao decrescimento da economia
inviabilizando de forma clara o PPI. O desequilíbrio ecológico que assolou a região da África
Austral entre 1982 e 1983, que provocou a seca e a guerra de desestabilização política e
económica movida primeiro pela Rodésia do Sul, depois pela África do Sul e mais tarde pela
RENAMO, foram responsáveis pela crise económica.
Em 1983, o IV Congresso da Frelimo reuniu-se para analisar a crise económica e social que o
país vivia e decidiu adoptar novas Directivas Económicas e Sociais para contrariar o declínio.
O IV Congresso reconheceu que a vitória sobre o subdesenvolvimento assentava no apoio
concentrado e integrado do sector de produção familiar, em especial na actividade agro-
pecuária, assegurando os recursos necessários em instrumentos de trabalho, meios de
produção e bens essenciais para a troca no campo. Por outro lado, recomendava uma forte
combinação dos pequenos e grandes projectos para o combate à fome e o aumento de receitas
em divisas para o país (Liesegang;2009:16).
De acordo com Buene (2005:79) a adesão às instituições de Bretton Woods permitiu ao país
beneficiar de um programa de recuperação e transformação económica. Em Janeiro de 1987,
iniciava em Moçambique a implementação do Programa de Reabilitação Económica (PRE),
que em 1989 integrou também a componente social (PRES 4). O PRE, que era inspirado e
condicionado pelas políticas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, tinha
como objectivos principais os seguintes:
Para que isso acontecesse, era imprescindível que medidas políticas ao nível financeiro,
monetário e comercial fossem tomadas. As empresas estatais deviam ser reestruturadas e,
tanto quanto possível, privatizadas. Deviam ser introduzidos
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Programa de reabilitação económica e social (PRES), foi outro programa que segui ao PRE mas, que devido ao insucesso
do PRE acabou introduzido a componente Social, introduzido em consequência de inúmeras manifestações de
descontentamentos (greves e mobilização de cidadãos e trabalhadores), acontecidas nas principais cidades, que aconteceu em
1989, a transição do PRE em PRES.
critérios rígidos de rentabilidade em toda a gestão económica. Deviam ser depositados mais
esforços na agricultura privada, de pequena escala e familiar, através de melhores termos de
troca e de um aumento de oferta de bens. O comércio devia ser liberalizado e o sistema de
preços fixos abolido (Liesegang;2009:17).
De acordo com Roesch, (s/d:15), a introdução do PRE teve, na realidade, um efeito marcante
no nível de vida de todos os moçambicanos, na medida em que, não significou apenas um
aumento acentuado da disponibilidade de alimentos e bens de consumo em muitas zonas do
país (particularmente nas zonas urbanas), mas também subidas drásticas dos preços que
conduziram a uma queda significativa do poder de compra do cidadão médio.
O aumento salarial generalizado que foi introduzido no âmbito do PRE não acompanhou de
forma alguma, os aumentos dos preços dos alimentos e bem de consumo. Uma medida
adoptada pelas famílias que residiam nas zonas urbanas era, portanto, a procura de terras
aráveis com vista a ultrapassar a alta dos preços sobretudo dos alimentos que não conseguiam
comprar. Este aspecto, foi reforçado, primeiro devido a falta de comunicação, ou melhor, o
isolamento entre as cidades e os campos consequência da desestabilização criada pela
Renamo. Importa salientar ainda que, as subidas de preços limitaram drasticamente a procura
real, e com isso, o crescimento do mercado doméstico (urbano), impondo, portanto, um
grande constrangimento “do lado da procura” ao crescimento agrícola que constituía o
centro de acção do PRE.
3.3 O nível mais baixo de sempre da crise económica: O ano de 1993
Em 1987 o PIB em volume e per capita, baixou para menos de 10% dos níveis de 1973. No
período 1987-89 o crescimento negativo foi substituído por um crescimento medio anual de
cerca de 5%, para voltar a ser negativo ate atingir em 1993-95 os níveis mais baixos de
sempre em cinco décadas: 5,4% em volume e 3,6% no padrão de vida relativamente a 1973,
facto confirmado por diversos autores (Abrahamsson e Nilsson 1994; Gobe 1994:7-10; Serra
1993).
A dependência externa que moçambique nos apresenta não é de hoje, trata-se de uma
deficiência que moçambique adoptou logo pós-independência e perpetua-se ate aos nossos
dias. Moçambique tem e continua sendo beneficado de um forte apoio sob forma de avultados
donativos estrangeiros e de financiamentos em condições altamente concessionais durante o
período pós-conflito, durante essa década o Governo conseguiu atrair IDE e parcerias
público-privadas para financiar investimentos em prol da restruturação económica junto dos
seus principais parceros FMI e o Banco Mundial.
Em toda a década 80 e ate meados da década 90 a poupança nacional foi negativa, chagando
a atingir -11,4% do PIB em 1993, o ano em que o PIB foi o mais baixo de sempre. Por sua
vez, o investimento interno bruto manteve-se abaixo de 10% do PIB ate meados da década de
80 tendo-se recuperando a partir de 1987 para os níveis de 30% do PIB nos anos 1995-97.
Dez anos depois a divida rondava entre 5.5 e 6 biliões, respetivamente em 1995 e 1996, esse
endividamento promoveu que o serviço da divida passasse de 32% de
exportações de bens e serviços, no início da década 80, para 250% em 1986. Isso significa
que em apenas uma década e meia a divida externa de Moçambique aumentou cerca de 120
vezes: de 49 milhões de dólares em 1980 para 5.877,6 milhoes em 1997, ou seja, mais de
400% do valor do produto nacional bruto (Banco Mundial 1999ª:231).
Analisando a restruturação económica nas últimas cinco décadas logo apos a independência,
evidenciava-se que Moçambique possui três activos públicos preciosos: um crescimento
económico positivo, elevado optimismo do mercado, paz e instabilidade política. Por seu
turno, Moçambique possui também três passivos extremamente pesados: mais de metade da
população com uma incidência de pobreza absoluta, um endividamento externo que a dois
anos era quatro vezes maior que o PIB e um do índice de desenvolvimento mais baixo do
mundo.
Unidade 3 – Texto de Apoio
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Moçambique ganhou uma nova vida quando lhe foi concedida uma redução da dívida ao
abrigo das iniciativas HIPC e MDRI, que reduziu o serviço da dívida e criou uma folga
orçamental de 12% do PIB no período 2001– 10.
O desempenho económico global foi vigoroso durante ambos esses períodos, embora nos dez
primeiros anos o crescimento tenha sido mais volátil, com quebras consideráveis do
desempenho económico em 1995 e em 2000 devido a choques associados às condições
meteorológicas (cheias). O desempenho económico resultou em grande medida da
liberalização do mercado e das políticas de privatização levadas a cabo. No segundo período,
o crescimento foi impulsionado em maior medida pelos investimentos feitos em
megaprojetos. De igual modo, os doadores proporcionaram um elevado nível de apoio
durante todo esse período.
O seu impressionante crescimento económico per capita, que atingiu uma média de 8% nos
últimos três anos, é três vezes superior ao dos quatro anos anteriores. Os factores principais
na recuperação do pais foram a estabilidade social e o empenho nas reformas
macroeconómicas e estruturais, os quais criaram um ambiente mais seguro e encorajaram o
investimento (BAD 1998:8)
Abrahamson, H.& Nilsson, A. (1995) Mozambique, the troubled transition. From socialist
construction to free market capitalism. London: Zed Books
Adam, Yussuf (1997) ‘Evolução das estratégias para o desenvolvimento no Moçambique pós
colonial’. In: SOGGE, D.(1997), ed. Moçambique: perspectivas sobre a ajuda e o sector
civil. Amsterdam: Frans Beijaard, pp. 1- 14.
First,R., Manghezi, A., at al (1983) Black Gold: the Mozambican miner, proletarian and
peasant. Brighton: Harvester Press.
Matsinhe, Leví Salomão. Moçambique: uma longa caminhada para um futuro incerto?
Dissertação de Mestrado, UFRGS – IFCH, Porto Alegre, 2011.
Mosca, João. Economia de Moçambique sec. XX. Instituto Piaget, Lisboa, 2005.
Silva, Edna Lúcia da, e Menezes, Estera Muszkat. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de
Dissertação. UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina, 3ª ed. Florianópolis,
2001.