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A Economia das possessões portuguesas em África: uma abordagem

circunstancial do Nacionalismo Económico de Salazar sobre a colónia de


Moçambique (1930-1953)

Este artigo propõe-se em analisar o processo da viragem da economia[1] colonial das possessões
portuguesas em África e, em particular Moçambique. Como se sabe, Portugal sempre foi um país
imperialista atrelado aos ingleses. Contudo, a partir de 1930, a nova ordem político económico
iniciado em 1926 com o golpe de estado perpetrado pelos militares, mergulhou o país em
profundas reformas.
Assim, o ano de 1930 constituiu o marco dessa viragem da economia de Portugal na sua
relação com as colónias. Isto significa que foi a partir desta altura em que Portugal mudou a
desfavorável situação de exploração das riquezas das suas colónias pelo capital estrangeiro
através do controlo directo dos seus recursos.
De acordo com Neves (1990, p.26), “o período de 1930-1938 revelou-se como uma etapa
de transição para o estabelecimento do Nacionalismo Económico em Moçambique”. Assim, é
importante referir que foi a partir dos finais da década 30 e inícios dos anos 40 que as medidas
compulsivas tomaram forma em Moçambique com a imposição da cultura do algodão e do arroz.
O mesmo autor considera que para os camponeses, “o cultivo destas culturas mostrou-se
prejudicial devido a erosão dos solos, aos preços baixos e as práticas fraudulentas dos agentes
no acto da comercialização”. (Ibid, p.26)

1.1 Contexto externo


Segundo Martins (2000, p.70), desde finais do século XIX a burguesia portuguesa era
frágil, incipiente e sem capacidades de competir com as outras burguesias europeias. Deste
modo, como forma de fazer face aos projectos de ocupação efectiva, Potugal cedeu parte de
Mocambique ao capital estrangeiro.
A ascensão de Salazar como Primeiro-ministro português marcou um novo período na
relação entre Portugal e suas colónias. O Estado Novo enveredou pela exploração de matérias-
primas locais das colónias ao serviço directo da metrópole utilizando a mão-de-obra “indígena”
numerosa e barata que abundava localmente. (ibid, p.70)
A nova política económica de Salazar surgiu com uma forte componente agrária,
promovendo alianças com a fraca burguesia e criando condições para sua consolidação. Foi desta
forma que se acelerou a acumulação primitiva de capital em Portugal. (ibid, p.70)
Segundo Hedges (1999, p.36) um outro elemento que pressionou e precipitou a viragem
económica em referência foi a crise económica mundial de 1929-1933, conhecida por Grande
Depressão Económica que abalou o sistema capitalista mundial, em que “a produção não
ultrapassou o consumo e, como resultado, os preços das mercadorias, incluindo o de matérias-
primas começaram a baixar”. O sistema financeiro virado para aumento da produção começou a
“ressentir-se, reduzindo créditos, o que conduziu a uma recessão em cadeia no sistema
económico” mundial. Para o caso específico de Moçambique, “os preços de amendoim, copra,
açúcar e sisal”, diminuíram drasticamente. “Apenas o cajú e o algodão mantiveram-se e até
aumentaram de preço”, em consequência da demanda daquelas culturas no mercado
internacional.
Covane (1989, p.83), referindo-se às implicações da Grande Depressão na mão-de-obra
migratória no sul de Moçambique considera que, houve uma redução significativa do pagamento
deferido por causa da redução do número dos trabalhadores. Este reflexo da crise afligiu a
administração portuguesa em Moçambique diminuindo as divisas.
A introdução do Acto Colonial foi um outro factor que não trouxe benefícios palpáveis,
para a colónia pois, intensificou a exploração e pilhagem dos recursos naturais e humanos,
especificamente em Moçambique onde houve o incremento do trabalho forçado e a imposição
das culturas obrigatórias do algodão, chá, sisal, arroz e da cana-surarina.
O Acto Colonial começou por reafirmar a vocação e o direito histórico de Portugal em
relação a colonização.
Segundo Hedges (1999, p.42), o Acto Colonial implementou o proteccionismo
económico contra a concorrência desleal estrangeira nas suas colónias, limitando a importação
de produtos manufacturados fora da metrópole, aumentando as taxas alfandegárias, estreitando
desse modo as relações económicas com as suas colónias.

1.2 Contexto interno


Hedges (1999, p.29), defende que, até 1926 Moçambique não era um país unificado.
Assim, com a cessação dos poderes magestáticos da Companhia do Niassa (1891-1929) [2] e, mais
tarde da Companhia de Moçambique (1888-1942)[3] assistiu-se a unificação de todo o território
que passou a estar sujeito às mesmas leis e aos mesmos interesses coloniais, no quadro da
política nacionalista de Salazar[4]. A única companhia que continuou a operar foi “a Companhia
Colonial do Búzi, porque tinha capitais portugueses e era considerada uma empresa
verdadeiramente portuguesa”. (Ibid, p.86)
A unificação territorial da economia de Moçambique teve como repercussão o controlo
efectivo da riqueza da colónia pelas autoridades portuguesas.

1.3 O Estado Novo e a economia colonial em Moçambique


O Estado Novo enveredou por uma política centralizadora que foi caracterizada por um
governo fascista e ditatorial. Desenvolveu os princípios já esboçados em 1926 aquando do golpe
dos militares em Portugal, nomeadamente: acabar com a autonomia formal das Províncias
Ultramarinas que passaram a designar-se de colónias depois de 1930.
Hedges (1999, p.95), sustenta que foram emitidos “as circulares 818 D/7 de 1942 e 566
de 1947”, que obrigavam todos os “indígenas” que não fossem agricultores da cultura do
algodão a trabalhar seis meses ao ano para o Estado.
As medidas coercivas motivaram fugas e emigrações dos autóctones para os territórios
vizinhos.
Sobre o mesmo assunto, Abramsson (1994, p.26), considera que, “o trabalho forçado era
gratuito”. O chibalo por exemplo, foi um método coercivo usado para a efectivação dos
objectivos já definidos pelo regime ditatorial de Salazar que consistiu na exploração e pilhagem
dos recursos da colónia a favor da metrópole. Por exemplo, “a produção do algodão no Norte de
Moçambique, a produção açucareira no Centro do país e a exportação da força de trabalho da
região Sul do país para África do Sul” era assegurada pelo trabalho forçado.
Bowen (2000), concordando com Abrahamsson argumenta da seguinte maneira:

“…The colonial system operated in the countyside in two maior ways. First, it institutionalized a system of
migrant labor to south África, Southern Rhodesia, Malawi and Tanganyica. Internally, labor flowed to the mainy
foreignowned plantations in the center of country. Second, the system forcibly transformed Mozambican peasants
into a cash-cropping peasantry. Through migratory labor, chibalo, and forced cultivation of cash crops, the
peasantry was made to fuel capital accumulation and was integrated into the world economy. Primative capital

accumulation at the expense of the peasantry was the norm…” (p. 34)
Do exposto acima podemos concluir que, de facto, o sistema colonial português,
inspirando-se da política de “dividir para melhor reinar” repartiu o país em três zonas de
exploração. A zona Norte, Centro e Sul. Deste modo, as zonas Centro e Norte estavam sob
domínio do capital estrangeiro expresso em companhias monopolistas, como é o exemplo da
companhia de Moçambique, do Niassa e da Zambézia. A zona Sul de Moçambique tinha sido
reservada para fornecer mão-de-obra às minas sul-africanas.

1.3.1 Características gerais da economia


Neste subtítulo, procura-se analisar as principais características da economia colonial em
Moçambique nos principais sectores da economia nomeadamente a agricultura (tradicional e
capitalista), indústria, transportes e vias de comunicações, comércio, mão-de-obra e no sector de
turismo.

1.3.1.1 A agricultura
A agricultura foi uma actividade que mereceu maior atenção nas colónias num conjunto
de acções desenvolvidas pelo Estado Novo. As autoridades portuguesas apostaram na
mobilização e exploração das populações para a produção de culturas de rendimento,
particularmente do algodão e do arroz.

a) A agricultura tradicional
A agricultura tradicional foi sempre praticada pela maioria da população em
Moçambique. Era caracterizada pela utilização de instrumentos de produção rudimentares tais
como a parelha (junta de bois), enxada de cabo curto, etc. Nos campos também havia, a mistura
de culturas alimentares tais como: milho, mapira e mexoeira. Este tipo de agricultura era
destinado para o consumo doméstico. Porém, a nova política do regime de Salazar introduziu
culturas de rendimento que assentavam na produção obrigatória do algodão, chá, arroz, sisal,
copra e cajú[5] pelas populações autóctones.
Para essa finalidade, Hedges (1999, p.84) considera que “em 1938 foi criada a Junta de
Exploração do Algodão Colonial (JEAC)” que mais tarde foi transformada em Instituto de
Algodão de Moçambique (IAM). Este organismo encarregou-se pela organização da produção do
algodão na colónia devido à expansão da indústria têxtil em Portugal e na Europa em geral[6].
Newitt (1997) analisando o sector de agricultura afirma:

“…em 1944 foram plantados 267.000 hectares de algodão, e cerca de 791.000 camponeses moçambicanos
estavam envolvidos no cultivo do algodão, enquanto grandes números se alistavam também noutros programas de
colheitas. As campanhas do algodão concentraram-se no Norte de Moçambique donde provinha 80% da sua
produção dos quais 48% eram da província de Nampula, e apenas duas circunscrições produziam 20% do total. Os
planos para o cultivo do algodão foram simultaneamente bem sucedidos. O êxito foi tal que a produção colonial de
culturas tropicais, em particular do algodão subiu consideravelmente. Em 1935, as colónias de Portugal produziam
apenas 2800 das 24.400 toneladas de algodão consumido anualmente em Portugal; em 1941, o país conseguia
importar praticamente toda a rama de algodão das colónias. Em 1950, só Moçambique exportava 25.290

toneladas…” (p.397).

Do exposto podemos aferir que, houve uma considerável subida da produção do algodão
no período compreendido por 1935-1950 mercê da nova aposta do governo colonial que
consistia na mobilização das populações para o cultivo desta cultura.
Covane (2001, p.177) explica ainda que, as culturas forçadas de rendimento introduzidas
no âmbito das políticas do Nacionalismo Económico de Salazar, no Sul de Moçambique
começaram a ganhar terreno depois da II Guerra Mundial. “O cultivo forçado de algodão e arroz
tornou-se uma realidade nas décadas de 1940 e 1950 respectivamente”. Este aparente atraso em
relação a estas culturas deveu-se à falta de apoio institucional para levar acabo a pesquisa,
supervisão e comercialização, pelas autoridades portuguesas pois, esta zona tinha sido projectada
como reserva para mão- de-obra migratória daí que, não se devia fomentar estas culturas.
Por outro lado, Isaac Man (1979, p.3) defende que, “para aumentar a produção, a área
mínima obrigatória de meio hectar por cultivar era muito adulterada. Homens e mulheres
trabalhavam 6-8 horas por dia. Só depois é que iriam para as suas machambas”. O mesmo autor
afirma ainda que, no período pós II Guerra Mundial, “a área total da cultura do algodão passou
de 191.000 hectares para 260.000 hectares”. O que significa que até 1947, muitas áreas
marginais foram acrescentadas às zonas de algodão.
Portanto, ao nível deste sector, a grande prioridade das autoridades coloniais era a
exploração a todos os níveis da cultura de algodão usando o campesinato local, tal como ilustra a
imagem.

Fonte: BOLEO, (1966, p. 146), A colheita de algodão


uma das importantes culturas de rendimento
Introduzidas pelas autoridades
Coloniais em Moçambique;

Deste modo, o campesinato moçambicano foi desviado das suas actividades para atender
os assuntos que visavam o bem-estar da Metrópole. Ademais, a forma usada para tornar possível
esses trabalhos circunscreveu-se na brutalidade.[7]

b) A agricultura capitalista
Esta agricultura foi caracterizada pela utilização de técnicas modernas de produção tais
como: o uso da irrigação, de tractores, adubos e de monoculturas.
De acordo com Hedges (1999, p.93), em 1942 foi criado a lei de divisão do fomento
orizicula (arroz). O cultivo obrigatório de arroz, juntamente com a produção de algodão pelas
companhias concessionárias[8] aumentou a produção de uma média de “3000 toneladas na
década de 1930, para 20.000 toneladas na década de 1944-1954”.
A este respeito Cruz (1978, 14), explica que para o caso da zona Centro especificamente
da Companhia de Moçambique, nos últimos anos do seu mandato era visível o regime de
plantação colonial das subconcessões da “Companhia Colónial de Búzi, de Luabo em várias
zonas do território de Chiloane, Neves Ferreira, Gorongosa, Gouveia e Sena, absorvendo os
principais regadios das margens do Zambeze, Púngué, Búzi e Save”. A pequena e média
plantação realizada pelos colonos residentes se encontrava “nos terrenos de aluvião do Búzi,
Pungué e nas terras altas de Chimoio onde se produzia milho e algodão”. As culturas forçadas
foram introduzidas em Chemba.
O regime de agricultura dos colonos apesar de ter sido desencorajada pelas autoridades
coloniais, em certos momentos para evitar a competição com a de plantação manteve-se numa
relativa importância, pois especializou-se na produção alimentar para abastecer os centros
urbanos. (Ibid,p.14)
Por outro lado, Alves (1973, p.15) considera que, neste período, na zona Norte do país
particularmente na Zambézia “as principais culturas eram de coqueiro, cajueiro, algodão, arroz
e chá”. Assim, o coqueiro constituía a principal cultura de rendimento e existiam na região os
maiores palmares do mundo. A maior quantidade de copra produzida pertencia às principais
empresas que exerciam a actividade agrícola. “Eram as Companhias de Boror, Sociedade
Agrícola de Pebane, Companhia da Zambézia”. Além desta cultura, o chá produzido nas terras
do Gurúe foi também outra importante cultura. Todavia, depois da II Guerra Mundial, Portugal
abriu novamente as suas colónias ao investimento estrangeiro. Este sector galvanizou-se
substancialmente mercê do investimento alocado.
Segundo Estudos Coloniais Portugueses (1975, p.71), um outro elemento que catalisou a
agricultura capitalista foi a imigração dos brancos que teve como consequência imediata a
criação de colonatos e a consequente desapropriação das terras dos agricultores autóctones.
Portanto, a agricultura capitalista era desenvolvida pelas companhias nas plantações e
pelos brancos imigrados da metrópole nos colonatos ainda em criação. Este facto, explica que a
agricultura moderna foi praticada pelas grandes companhias nas plantações para o mercado
internacional.

1.3.1.2 Os transportes e vias de comunicações


No âmbito da administração do Estado Novo, o período de 1930-1953 em Moçambique
foi caracterizado pelo início de construção e melhoramento de infra-estruturas[9] de transportes
tais como: estradas, pontes, linhas férreas e os portos. A finalidade destas infra-estruturas visava
o escoamento de riquezas dos centros de produção para a exportação.
De acordo com Hedges (1999, p.109) em 1933 iniciou a construção da ponte (Dona Ana)
[10] sobre o Zambeze e foi concluído em 1935. Um outro empreendimento erguido ainda nesta
fase foi a “linha férrea de Tete, entre Dona Ana (Mutarara) e Moatize (254 quilomentros) para
ligar a região carbonífera de Moatize ao porto da Beira, através do caminho de ferro trans-
zambeziano”. Porém, a incidência da II Guerra Mundial provocou a falta de maquinaria e
equipamento, o que fez com que, o empreendimento viesse a ser concluído em 1949. Estima-se
que a produção de carvão aumentou consideravelmente para “mais de 200. 000 toneladas em
1956 para cerca de 320.000 toneladas em 1961”. Portanto, estes exemplos mostram as infra-
estruturas construídas em Moçambique nesta fase.

1.3.1.3 A Indústria
O estabelecimento da indústria nas colónias foi uma questão acesamente debatida na
década de 1930 porque, os interesses têxteis portugueses constituíam uma forte barreira[11] à
implantação dessa indústria em Moçambique.
Telo (1994, p.258) considera que, “depois da II Guerra Mundial foram instaladas
indústrias ligeiras em Moçambique e Angola com capitais portuguesas”. Para Moçambique por
exemplo, o governo colonial português só permitia que se criasse uma fábrica têxtil de algodão
para o seu descaroçamento na zona Centro do país como foi por exemplo a fábrica de Marromeu.
A razão desta situação tinha a ver com o proteccionismo das indústrias têxteis portuguesas para
não entrarem em concorrência com as instaladas nas colónias, reforçando desse modo, a
dependência.
Segundo Newitt (1997, p.406), em Moçambique a industrialização iniciou-se na década
de 1930 com um programa restrito de substituição das importações. Algumas das indústrias que
surgiram em Moçambique são de bebidas minerais, “xaropes, massas, óleo vegetal, velas, sabão,
sal, cimento, cerâmica, perfume, mobiliário, fogo-de-artifício, recipientes de alumínio e
carroçarias de autocarros”. Estas indústrias localizam-se preferencialmente nos centros urbanos
de Lourenço Marques e Beira e Nacala.
Em suma, pode-se concluir que, neste período a indústria encontrava-se numa fase
precoce e não se pode falar de uma industrialização porque o seu fomento só se verificou a partir
da década de 60. As poucas unidades industriais existentes neste período serviam os interesses da
população branca sedeada nos centros urbanos.
1.3.1.4 O Comércio
O comércio foi uma actividade muito importante para a economia colonial portuguesa em
Moçambique. O comércio rural era caracterizado pela existência das chamadas cantinas rurais no
interior da colónia.
Covane (2001, p.170), defende que “a convenção de 1928[12] trouxe uma nova dinâmica
no comércio rural. Os cantineiros das diferentes aldeias do Sul de Moçambique reconheciam
que a sua prosperidade dependia dos migrantes”. Os comerciantes rurais dirigiram-se por várias
vezes junto das autoridades portuguesas para que, os mineiros passassem a gastar os seus salários
nas cantinas.[13]
As cantinas rurais eram pequenas lojas que asseguravam a troca de produtos entre
comerciantes de origem portuguesa e indiana (cantineiros) e as populações autóctones. O
campesinato local, trocava excedentes da sua produção agrícola como por exemplo: o algodão e
o arroz.
Por outro lado, Hedges (1999, p.151) explica que, os cantineiros adquiriam produtos
básicos como por exemplo: “sal, tecidos, vestuários, enxadas, tabaco, fósforos, sabão, vinho e
bicicletas”, a fim de abastecer as suas lojas nas zonas rurais. Quer dizer que, estes produtos eram
vendidos aos camponeses.
First (1998, p.17) afirma que, o comércio externo nesta fase, mesmo quando o capital
português se fortalecia, a ameaça era de perda da metrópole do seu mercado de exportação para a
colónia de Moçambique. “Enquanto em 1947, 31.7% das exportações totais de Moçambique
foram para Portugal, em 1960 aumentaram para 40.03 %. As importações moçambicanas de
Portugal baixaram neste período de 35.22 % para 28% respectivamente”.

1.3.1.5 A Mão-de-obra migratória


No que diz respeito a mão-de-obra migratória, durante o período de 1926 -1964, houve
uma série de acordos e convenções que as autoridades portuguesas assinaram com a África do
Sul e as Rodésias em relação a mão-de-obra migratório. Destes acordos os mais importantes
foram as convenções de 1928, 1934,1940 e 1964.
De acordo com First (1998, p.17), a economia moçambicana no que concerne a mão-de-
obra, esteve integrada nos interesses da economia da África do Sul e das Rodésias.
Covane (1989), discutindo a problemática da mão-de-obra dá-nos o seguinte comentário:

“…o novo ministro das colónias, João Belo [14], estava preocupado no desenvolvimento económico do sul
do Save e da criação de condições para a redução contínua da dependência em relação ao governo da África do
sul. Uma das medidas tomadas foi o decreto de 21 de Maio de 1927, que consistia na residência obrigatória de 12
meses (repouso dos mineiros). Contudo, este decreto não viria a ser executado devido a fortes pressões do capital
mineiro sul-africano e britânico sobre as autoridades portuguesas, bloqueando praticamente todas as

possibilidades de obtenção dos (empréstimos) para projectos de desenvolvimento do sul de Moçambique…” (p.79)

Do exposto acima, pode-se depreender que, antes do acordo de 1928, os pagamentos


eram efectuados numa base voluntária. Assim, os mineiros moçambicanos gastavam quase na
totalidade os seus salários e voltavam para Moçambique sem dinheiro. Porém, depois deste
acordo, a situação mudou e o pagamento diferido passou a ser obrigatório[15].
Neves (1990, p.27), estudando os acordos de mão-de-obra migratória explica que, em
Junho de 1934 teve início a revisão do acordo de 1928, pois estava caduco e precisava de ser
reajustada”. Entretanto, a revisão deste acordo para os sul-africanos visava a formalização de
uma situação que retiraria em absoluto a Portugal quaisquer possibilidades para “protestar
contra as práticas que viessem a colocar o Porto e caminhos-de-ferro de Lourenço Marques na
posição de vítima da política proteccionista, dispensando os portos de Natal e Cabo”. A partir
de 1934, até aos 1ºs anos da II Guerra Mundial, o desenvolvimento económico da união usou o
Porto de Lourenço Marques e aumentou a força de trabalho migrante moçambicana. Contudo, “a
mão-de-obra migratória, só começou a recuperar em 1936 e 1937 altura em que atingiu 93.510
e 98.755 respectivamente”.
Por outro lado, Covane (1989, p.90) diz que, a neutralidade de Portugal no conflito
significou em Moçambique a não utilização sustentável do porto de Lourenço Marques a favor
do Cabo e do Natal, pois faltava a segurança oferecida na África do Sul. Para minimizar os
desequilíbrios, os dois governos assinaram o acordo de 1940. O mesmo autor afirma ainda que,
“o novo acordo, foi criado na esperança de reduzir os efeitos negativos de falta de mão-de-obra,
elevando de 80.000 para 100.000 homens a recrutar em Moçambique”. (Ibid.p.90)
De acordo com Neves (1990, p.26), na década 40, o avanço da cultura de algodão,
também provocou uma situação conflituosa pela absorção da mão-de-obra, particularmente “em
Tete e no vale do Zambeze, entre o Estado Colonial e o capital estrangeiro com extensas
culturas de plantação de cana-de-açúcar (Sena Sugar States), de Chã (Gurué) e de copra e sisal
na Companhia de Boror”.
Portanto, a política colonial sobre a mão-de-obra não incidiu apenas para o Sul de
Moçambique, mas também para as zonas Centro e Norte do país.

1.3.1.6 O turismo
Segundo os Estudos Coloniais (1975, p.80) o período de 1930-1953, foi caracterizado
pela existência de poucas unidades turísticas na colónia de Moçambique na medida em que neste
período só existiam pequenos hotéis e restaurantes, na sua maioria concentrados nos principais
centros urbanos, como em Lourenço Marques, Beira e Ilha de Moçambique.
Por outro lado, Newitt (1997, p.407) explica que, “a economia diversificou-se também no
sector turístico. As cidades de Lourenço Marques e Beira começaram a prestar mais serviço
turístico”.
Depois da II Guerra Mundial, a cidade da Beira atraía a população branca vinda do
hiterland. Assim, começaram a surgir “hotéis, restaurantes, clubes de iates e desportos
náuticos”. De igual modo, o mesmo autor considera que, a Cidade Lourenço Marques também
conheceu uma certa prosperidade turística graças “ao movimento dos sul-africanos brancos que
vinham a procura de prostitutas negras e das belas praias de Inhambane nos fins de anos”.
(ibid,p.407)
Não obstante estas evidências, o período de 1930-1953 é considerado como um momento
morto do turismo[16] na Província Ultramarina de Moçambique. Por isso, não houve realizações
de vulto a destacar.

Bibliografia

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www.iceucarlos.blogspot.com Docente das Cadeiras de Economia de Mocambique, Historia do


Pensamento economico, Historia de Africa dos Primordios ao seculo XV, do seculo XVI-XVIII,
Didactica de Historia IV, Estratificacao e Mobilidade Social da Universidade Pedagogica,
Delegacao de Massinga. Licenciado em Ensino de Historia, Mestrando em Ciências Politicas e
estudos Africanos

[1] Entende-se por “viragem da economia” o momento da “promulgação de medidas que tinham
como objectivo estruturar o comércio externo das colónias em benefício de Portugal”. Hedges
(1999, p.42)
[2] Recordar que, a Companhia do Niassa ocupava as províncias nortenhas de Cabo Delgado e
Niassa.
[3] A Companhia de Moçambique controlava os territórios centrais das províncias de Manica e
Sofala.
[4] De referir que em Moçambique, todos os investimentos do capital estrangeiro, quer dizer, as
empresas que tinham acções em Moçambique deviam fixar as suas respectivas sedes em Lisboa
(metrópole).
[5] Lembrar que esta cultura, quando o mundo conheceu Depressão Económica dos anos 29, 30,
em Moçambique, o cajú não ficou afectado devido a maior demanda do produto no mercado
mundial.
[6] “Em 1940 chegou a Moçambique um novo Governador-Geral: José Tristão de Bettencourt Homem da máxima
confiança da administração Salazar. Bettencourt teve o papel de dinamizar o aparelho de Estado colonial no sentido
de coordenar, de uma maneira mais rigoroso do que anteriormente, a produção das culturas obrigatórias nas zonas
rurais em Moçambique”. Hedges (1999, p.86)

[7]Ao campesinato moçambicano, a brutalidade reflectia-se no sofrimento expressa por métodos


coercivos usados pelas autoridades portuguesas na captura das populações para as jornadas de
trabalho nas plantações. (As longas horas de trabalho, as desumanas condições de trabalho, o
agravamento dos impostos para os prevaricadores, etc.)
[8] Porém, As Companhias do Niassa e de Moçambique quando os prazos de exploração terminaram, não viram
renovadas as suas cartas concessionárias em 1929, e em 1942 respectivamente. Hedges (1999, p.93)
[9]Estas intra-estruturas eram construídas de forma horizontal para permitir o manuseamento das
riquezas para os locais de exportação.
[10] O capital usado para construir este empreendimento era de origem britânica. Isto significa
porém que, as medidas tomadas em 1930 sobre o bloqueio do capital estrangeiro nas colónias
tiveram excepções.
[11] As barreiras se deviam ao proteccionismo da indústria metropolitana em franca expansão.
[12] No diz que respeito ao trabalho, o governo colonial português, publicou em 1928 o Código
de Trabalho dos “Indígenas” (CTI) transformado em 1930 em Regulamento de Trabalho dos
“Indígenas” (TRI). Este era o instrumento legal de trabalho para os moçambicanos. Covane
(2001, p.170)
[13] De referir que numa primeira fase a actividade comercial em Moçambique era monopólio de
comerciantes de origem asiática. Contudo, a instalação de comerciantes portugueses nas zonas
rurais e protegidos pelo Estado colonial, afastou os comerciantes asiáticos no controlo do
comércio rural.
[14] No entanto, Joõo Belo, viria a morrer em Janeiro de 1928, ano em que foi assinado a
convenção referente ao pagamento diferido dos mineiros das minas do RAND na África do Sul.
Referir que, este acordo começou a funcionar a partir de 1929. Covane (1989, p.79)
[15] Ver o artigo XIII do acordo da convenção. A implementação deste acordo constituiu uma mais valia para a
administração portuguesa na medida em que, o dinheiro que os mineiros recebiam quando regressassem ao país,
passaram a comprar os produtos moçambicanos. Ainda sobre o pagamento diferido, o artigo XXVI instituía que,
todas as quantias em dinheiro devidas nos termos da convenção (taxas, emolumentos, salários e outros) seriam pagas
e liquidadas em ouro. Covane (1989, p.79)
[16] Para mais subsídios veja o Artigo referente a economia colonial no âmbito dos Planos de
Fomento (1953-1975)
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quinta-feira, 3 de abril de 2014

“QUANDO AS PROVAS PROVINCIAIS NÃO RESPONDEM OS DESAFIOS DO


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA”

Uma reflexão sobre os testes provinciais realizados na Escola Secundária 28 de Janeiro de


Massinga 1º semestre 2012

A partir do ano lectivo 2012, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) introduziu


nas escolas públicas, os testes provinciais a fim de preparar não só os alunos ao exame como
também, consciencializar os estudantes das classes sem exame para se habilitarem em
capacidades e competências em relação aos testes externos.
Assim, foi no cumprimento deste objectivo que de 20-28 de Junho de 2012, decorreu na
província de Inhambane, o processo de avaliação das chamadas “provas provinciais”[1] de todas
disciplinas do subsistema de Ensino Secundário Geral. Trata-se de testes produzidos ao nível da
província com o objectivo último, de radiografar o pulsar do PEA[2] das escolas secundárias
públicas no país. Quer dizer, por um lado, o trabalho dos professores e por outro, o
desempenho dos alunos na sala de aula. Neste estabelecimento de ensino, os testes provinciais
realizaram-se num clima de apreensão e dicotómico em quase todas as disciplinas. Esta situação
levou a que alguns testes ficassem mesmo anulados dado as disparidades dos planos usados na
elaboração dos mesmos, contra os planos analíticos peculiares de cada disciplina na escola.
Assim, para o caso específico da disciplina de História, as provas da 10ª classe curso diurno e
8ªclasse curso nocturno foram substituídas por outras elaboradas localmente. Ao nível da 9ª
classe, as últimas perguntas dos testes foram igualmente alteradas por outras propostas pelos
professores da escola. No cômputo geral, os testes apresentam graves problemas tais como:
 Prevalência do mesmo domínio taxonómico em muitas perguntas;
 Os testes não espelham os conteúdos das classes do ciclo;
 Os testes apresentam inadmissíveis erros ortográficos;
 Os testes não reflectem a linguagem técnica da disciplina;
 Os testes não tratam assuntos contemporâneos relacionados com a disciplina (cultura geral); etc…
 Os testes são demasiados curtos;
Portanto, com estes testes, para o caso particular 10ª classe por exemplo, os alunos
poderão enfrentar inúmeras dificuldades no acto da realização dos exames nacionais pois, os
mesmos são uma coisa e os exames nacionais são outra coisa.
Afinal qual é o propósito deste tipo de testes?

Bibliografia
DIAS, HiIdizina Norberto, et all. Manual de Práticas Pedagógicas. Universidade Pedagógica.
Maputo, editora escolar. 2008. 178 p referencia teórica
DUARTE, Stela Cristina Mitha. A avaliação da aprendizagem em Geografia. Desvendando a
produção do fracasso escolar. Maputo, Imprensa Universitária, 2007, 218 p
PROENÇA, Maria Cândida. Didáctica de História. Universidade Aberta..Lisboa.1989.207p.
A Conjuntura Política e Económica e os Marcos de Viragem
Durante a primeira fase do colonialismo em Moçambique, desde cerca de 1890 até
1930, as relações económicas entre Portugal e Moçambique eram muito fracas. Neste
período era o capital internacional, representado pelas companhias e pelo capital
mineiro sul africano controlava quase totalmente a economia de Moçambique. Neste
contexto, o período de 1930 a 1937 foi marcado pelo lançamento das bases do
“Nacionalismo Económico” tendo por finalidade alterar esta situação, colocando a
economia moçambicana verdadeiramente ao serviço de Portugal. Veja, então ao longo
da lição como se operou a alteração da política colonial em Moçambique a partir de
1930.

O Colonial – Fascismo em Moçambique

A Exploração Colonial Entre 1885 e 1930 – Síntese

Em capítulos anteriores ficou saliente que a dominação e exploração colonial de


Moçambique no período de 1885 a 1930 foi em larga medida realizada no interesse da
burguesia internacional, servindo Portugal como intermediário e tirando desse papel
uma parte dos lucros da exploração.

Devido a fraqueza da burguesia portuguesa foram pouco significativos os investimentos


portugueses em Moçambique e por consequência as relações da colónia com a
metrópole eram apenas de natureza comercial.

O Golpe de Estado de 1926

Fruto da política portuguesa do princípio do século XX a situação económica era


autêntica bancarrota financeira e naturalmente faziam-se sentir várias manifestações
de protesto. Vários ministérios sucederam-se no Governo português quando da
vigência da República até que um golpe de Estado a 28 de Maio de 1926 marcou o
advento do "Estado Novo" e, com a ascensão de Salazar ao poder, do fascismo em
Portugal.
Até cerca de 1930 as relações económicas entre Portugal e Moçambique eram muito
fracas. O Estado novo saído do golpe de Estado de 1926 tinha como objectivo alterar
esta situação.

Neste contexto, o período de 1930 a 1937 foi marcado pelo lançamento das bases do
“Nacionalismo Económico” – a tentativa de pôr a economia moçambicana
verdadeiramente ao serviço de Portugal.

As principais acções levadas a cabo nesse sentido foram:

a) Centralização administrativa e política;

b) Redução dos direitos das Companhias;

c) Estabelecimento de uma Zona de Escudo;

d) Promoção da cultura do Algodão.

A Crise Económica e a Produção em Moçambique

A crise económica mundial originou, em todas as colónias, uma redução da produção


de matérias-primas cujos preços baixaram para cerca de metade em relação a 1928.
Em Moçambique a baixa de preços atingiu especialmente o amendoim, milho, copra,
açúcar e sisal. Apenas os preços do caju e o algodão mantiveram-se.

Em Moçambique, face a crise, os proprietários das plantações decidiram:

 Reduzir os custos (abandono das actividades dispendiosas, despedimentos de


trabalhadores, encerramento de fábricas menos rentáveis;
 Compra de certos produtos aos camponeses a preços baixos (em vez de
produzi-los);
 Reduções salariais;
 Introdução de novos métodos de produção (uso da tracção animal, do estrume,
etc.).

A migração de mão-de-obra para África do sul e rodésia do sul também diminuiu, pois a
crise provocou um declínio na economia destes países.
O Nacionalismo Económico de Salazar

O estado de ditadura fascista emergente do golpe de estado de 1926 e consolidado em


1930 com a ascensão do então ministro das finanças António de Oliveira Salazar para
o cargo de Primeiro-ministro tomou de imediato medidas para impulsionar o
desenvolvimento do capitalismo português através de uma política nacionalista que
protegia tanto na metrópole como nas colónias a fraca burguesia portuguesa ante a
competição do grande capital internacional.

O Governo de Salazar instalou-se como um governo de compromisso e de arbitragem,


e também como um governo bloqueador da luta de classes.

As suas funções, como escreveu um historiador, consistiam, por um lado, em


coordenar os interesses divergentes das fracas camadas da burguesia de modo a
defender a sua posição contra possíveis ataques das classes não privilegiadas
(operários e camponeses) e, por outro lado, em proteger os interesses da burguesia
contra o capital estrangeiro. Por outras palavras: o fascismo português foi o molde para
criar e consolidar o capitalismo português, através de uma feroz repressão do
proletariado metropolitano e dos povos das colónias.

O "Estado Novo" corporativista nem era o governo dos monopólios nem o governo de
todas as fracções da burguesia, mas sim o governo de maioria da burguesia em nome
da qual se exercia a ditadura sobre o proletariado. Em defesa do seu papel de
medianeiro e de árbrito "acima" das várias facções, impedia a concorrência, destruía os
partidos políticos, protegia a pequena e média indústrias e aliava-se com os
proprietários rurais – uma aliança que não significava a hegemonia dos capitalistas
fundiários do bloco no poder, mas que era, porém, um considerável travão à
industrialização portuguesa.

Ao fascismo português, forma de Estado de excepção da ditadura da burguesia,


competiu acelerar a acumulação de capital. Para isso, além de destroçar as
organizações do proletariado (redução dos sindicatos, supressão dos direitos de grave,
etc.) e de o tentar integrar no sistema corporativo, intensificou a exploração colonial,
protegeu-se dos investimentos estrangeiros e utilizou o intervencionismo estatal na
economia, garantindo a sobre-exploração da mão-de-obra.

O resultado desta política foi a formação e consolidação lenta mas contínua de um


capitalismo português. A grande dependência de países estrangeiros foi largamente
superada através de dificuldades impostas ao capital estrangeiro e da diversicação de
fontes externas da capital em vez da hegemonia de uma única como acontecia com a
posição da Inglaterra.

O Acto Colonial

Com o fascismo português apareceu o controlo estreito das colónias e o primeiro


esforço sistemático para oferecer a burguesia portuguesa uma fatia mais substancial
do grande bolo colonial.

Nas colónias o nacionalismo salazarista encontrou expressão legal no Acto Colonial - a


magna carta da burguesia portuguesa.

No acto colonial definia-se uma nova política colonial na base da ideia de que nos
territórios coloniais se vinha verificando uma cada vez maior submissão a interesses do
capital internacional não português e que era preciso inverter esse estado de coisas. A
política do estado fascista até a segunda metade dos anos 1950 e de evitar a entrada
de capital estrangeiro tanto na metrópole como nas colónias.

Como escreveu Salazar, "os territórios ultramarinos eram uma solução lógica para o
problema da superpopulação de Portugal, para estabelecer nacionais portugueses nas
colónias e para que as colónias produzam matérias-primas para vender a Mãe-Pátria
em troca de produtos manufacturados. Por isso, a Mãe-Pátria e as Colónias deveriam
estar preparadas para sacrifícios mútuos".

O Estado fascista português começou por restringir o controlo político e administrativo


das companhias, reduzindo-as à sua base produtiva. Em 1942 cessaram os poderes
majestáticos da Companhia de Moçambique dando lugar a unificação da administração
de todo o território, passando a estar sujeito às mesmas leis e aos mesmos interesses
coloniais no quadro da política nacionalista de Salazar.

O acto colonial de 1930 havia definido como competência exclusiva do Estado a


Administração, a cobrança de imposto e mesmo a exploração de portos. Outro
elemento importante foi a definição de um estatuto especial dos indígenas - base para
o recrutamento de força de trabalho para as empresas capitalistas e dos colonos.

Porém, se esse controlo passou a ser monopólio do Estado colonial, a base produtiva
das companhias, não foi, em sua essência afectada, se bem que os administradores
portugueses tivessem penetrado nelas.

Por outro lado, a preocupação de Salazar com o equilíbrio orçamental de cada colonial,
bem como com a sua balança de pagamentos, não revestia, como mostrou um
economista, um interesse meramente "financeiro". A consolidação de uma burguesia
portuguesa forte far-se-ia não com a intervenção de fundos nas colónias mas com uma
acumulação rápida na metrópole.

É deste ponto de vista que se compreende o facto, aparentemente contraditório, de, no


mesmo ano (de 1928) terem sido regulamentados o Código de trabalho Rural e a
Covenção com a áfrica do Sul. O código sistematizava o princípio do trabalho forçado e
alimentou directamente a cultura forçada do algodão. Por sua vez a cultura algodoeira
fortaleceu a burguesia industrial portuguesa. A convenção significava o aparecimento
externo (África do Sul) de uma riqueza considerável (mão de obra de Moçambique).

A política de Salazar ao manter os laços com a África do Sul cingia-se de perto com o
seu princípio de "economia de esforço" e o corte desses laços implicaria o
estancamento de uma importante fonte de riqueza. Por isso, Salazar preferiu manter o
envio de mão-de-obra a África do sul, e escutar

Nas colónias o nacionalismo salazarista encontrou expressão legal no Acto Colonial - a


magna carta da burguesia portuguesa.
No acto colonial definia-se uma nova política colonial na base da ideia de que nos
territórios coloniais se vinha verificando uma cada vez maior submissão a interesses do
capital internacional não português e que era preciso inverter esse estado de coisas. A
política do estado fascista até a segunda metade dos anos 1950 e de evitar a entrada
de capital estrangeiro tanto na metrópole como nas colónias.

Como escreveu Salazar, "os territórios ultramarinos eram uma solução lógica para o
problema da superpopulação de Portugal, para estabelecer nacionais portugueses nas
colónias e para que as colónias produzam matérias-primas para vender a Mãe-Pátria
em troca de produtos manufacturados. Por isso, a Mãe-Pátria e as Colónias deveriam
estar preparadas para sacrifícios mútuos".

O Estado fascista português começou por restringir o controlo político e administrativo


das companhias, reduzindo-as à sua base produtiva. Em 1942 cessaram os poderes
majestáticos da Companhia de Moçambique dando lugar a unificação da administração
de todo o território, passando a estar sujeito às mesmas leis e aos mesmos interesses
coloniais no quadro da política nacionalista de Salazar.

O acto colonial de 1930 havia definido como competência exclusiva do Estado a


Administração, a cobrança de imposto e mesmo a exploração de portos. Outro
elemento importante foi a definição de um estatuto especial dos indígenas - base para
o recrutamento de força de trabalho para as empresas capitalistas e dos colonos.

Porém, se esse controlo passou a ser monopólio do Estado colonial, a base produtiva
das companhias, não foi, em sua essência afectada, se bem que os administradores
portugueses tivessem penetrado nelas.

Por outro lado, a preocupação de Salazar com o equilíbrio orçamental de cada colónia,
bem como com a sua balança de pagamentos, não revestia, como mostrou um
economista, um interesse meramente "financeiro". A consolidação de uma burguesia
portuguesa forte far-se-ia não com a intervenção de fundos nas colónias mas com uma
acumulação rápida na metrópole.
É deste ponto de vista que se compreende o facto, aparentemente contraditório, de, no
mesmo ano (de 1928) terem sido regulamentados o Código de trabalho Rural e a
Covenção com a África do Sul. O código sistematizava o princípio do trabalho forçado e
alimentou directamente a cultura forçada do algodão. Por sua vez a cultura algodoeira
fortaleceu a burguesia industrial portuguesa. A convenção significava o aparecimento
externo (África do Sul) de uma riqueza considerável (mão de obra de Moçambique).

A política de Salazar ao manter os laços com a África do Sul cingia-se de perto com o
seu princípio de "economia de esforço" e o corte desses laços implicaria o
estancamento de uma importante fonte de riqueza. Por isso, Salazar preferiu manter o
envio de mão-de-obra a África do sul, e escutar os protestos dos colonos, que
reclamavam a falta de trabalhadores para as duas herdades.

A verdadeira "pedra de toque" do nacionalismo económico foi a introdução da cultura


forçada do algodão em Angola e em Moçambique.

Diferentemente das companhias que se serviam da venda forçada de força de trabalho,


Portugal usaria a venda forçada de uma cultura de mercado, o algodão.

Em resumo a política colonial deste período baseou-se no princípio de que as colónias


deviam ser fonte de matérias-primas para a metrópole e mercados das manufacturas
portuguesas bem como recipientes dos desempregados portugueses. Desta forma
Moçambique torna-se um importante fornecedor de algodão para a indústria
portuguesa, consumidor de vinho e têxteis portugueses e albergue de camponeses
empobrecidos em Portugal tanto em regime de colonatos como nas cidades.

Referências bibliográficas

MINEDH. Módulo 8 de História: O Colonialismo Português a Partir de 1930.


Instituto De Educação Aberta e à Distância (IEDA), Moçambique, s/d

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