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Resumo
O presente artigo emerge no contexto da reescrita da História Económica Colonial em
Moçambique. Tal como é sabido, a história escrita da economia de Moçambique, não obstante a
sua relevância, ela é também desafiadora no que concerne a equidistância dos seus proponentes
que estavam ao serviço da colonização. O trabalho tem em vista trazer novos horizontes e análises
economicistas com toda isenção possível da história económica de Moçambique. Os Planos de
Fomento foram instaurados no âmbito dos apoios dos EUA enquadrados no Plano Marshall do
pós-guerra e também da conjuntura económica do Estado Novo de Salazar. De facto, foram
teorizados dentro do processo da reabertura do investimento estrangeiro na colónia os seguintes
planos de Fomento: I Plano de Fomento (1953-1958), II Plano (1959-1964), Plano Intercalar de
Fomento (1965-1967), III Plano de Fomento (1968-1973) e o IV Plano de Fomento (1973). Os
estudos existentes sobre esta matéria exaltam dois primeiros planos I Plano de Fomento (1953-
1958), II Plano (1959-1964), como tendo sido os mais mediatizados. Porém, a análise dos
relatórios sectoriais de execução de todos os Planos de Fomento permitiram concluir que, os três
últimos Planos de Fomento, nomeadamente: Plano Intercalar de Fomento (1965-1967), III Plano
de Fomento (1968-1973) e o IV Plano de Fomento (1973) também foram importantes na economia
colonial do período.
1
Introdução
A política económica colonial de Moçambique desempenhou um papel importante na evolução da
economia do país e, constituiu um importante legado histórico do qual a sociedade moçambicana
não se pode dissociar. Assim, a economia colonial no âmbito da viragem das relações entre
Portugal e suas colónias, concretamente com a colónia de Moçambique, divide-se em dois
momentos distintos. O 1º período situa-se entre 1930-1953 caracterizado pela mudança estrutural
nas relações económicas entre Portugal e suas colónias, no qual se acelerou a exploração dos
recursos das colónias em benefício directo da metrópole. Importa referir ainda que, todo o conjunto
de medidas desenhadas para o efeito pelo Novo Governo de Salazar encontra-se expressa no Acto
Colonial. O 2º momento começa com a introdução dos Planos de Fomento em 1953 e prolonga-se
até a Independência Nacional de Moçambique em 1975. Este período, foi particularmente marcado
pela execução destes planos no âmbito do Plano Marshall e, pela Luta de Libertação Nacional
levada a cabo pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)1.
O artigo propõe-se em fazer uma discussão concernente à evolução da economia colonial no
âmbito da execução dos Planos de Fomento característicos da economia do período, enfatizando
grosso modo, as características da agricultura, transportes e vias de comunicações, indústria,
comércio e mão-de-obra migratória. Além disto, também se fará a análise do sector do turismo e
sua contribuição na capitalização de divisas para a economia colonial portuguesa em Moçambique.
A escolha do ano de 1953 como marco inicial deste estudo, explica-se pelo facto de ter sido o ano
em que iniciou o processo de implementação de uma série de reformas que passaram a orientar as
relações entre Portugal e suas as colónias marcadas pela nova ordem político-económica
outroramente aludido nas relações entre a metrópole e as colónias. Foi o ano da operacionalização
do primeiro plano de fomento. Por outro lado, 1975, justifica-se pelo facto de ser o ano da
proclamação da Independência Nacional em Moçambique, um marco que testemunha uma ruptura
nas relações económicas, políticas e sociais entre Portugal e Moçambique.
De facto, o tema é importante na medida em que, procura trazer novos subsídios em torno da
economia colonial em Moçambique, especialmente no que diz respeito a contribuição dos Planos
de Fomento no desenvolvimento da economia colonial portuguesa.
1
Ao falar-se da FRELIMO neste contexto, não pode perceber como se de um partido político se tratasse. Mas,
FRELIMO, como uma frente (movimento) que conquistou a independência fruto da coligação de (3) três partidos
políticos União Africana Nacional de Moçambique (MANU), União Nacional Africana de Moçambicana
Independente (UNAMI) e a União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO).
2
Procedimentos metodológicos
A pesquisa recorreu ao método qualitativo na sua vertente dialéctica. Este método defende a
inexistência de algo acabado, quer dizer, o fim de um processo é sempre o início de uma nova fase.
A escolha deste método deveu-se ao facto deste estudo procurar discutir o desempenho dos Planos
de Fomento no período auge da colonização em Moçambique. No que concerne a metodologia, a
pesquisa desenvolveu-se em duas fases: na primeira, fez-se um estudo bibliográfico e documental
existente sobre o tema, como também, leitura de monografias, dissertações e relatórios sectoriais
de execução. Estes estudos inserem-se na problemática do desempenho dos Planos de Fomento
em Moçambique, fundamentalmente a análise dos relatórios sectoriais de execução. A segunda e,
última fase foi, obviamente, de discussão dos dados, seguida da sistematização da informação e,
por fim, a elaboração do texto final.
3
1.OS PLANOS DE FOMENTOS E A ECONOMIA COLONIAL (1953-1975)
2
Recordar que Portugal e suas colónias optaram pela economia capitalista.
3
Recordar que, a neutralidade de Portugal na II Guerra Mundial, colocou a metrópole e suas colónias num circuito
de prosperidade económica.
4
Plano Intercalar de Fomento (1965-1967), III Plano de Fomento (1968-1973) e o IV Plano de
Fomento (1973).
De acordo com Newitt (1997, p. 405) em Moçambique, “o início da década de 50 foi marcado
pelo desenvolvimento dos colonatos”, motivada pela imigração da população branca vindo da
metrópole. Trata-se de famílias brancas oriundas da metrópole que tinham perdido suas terras em
consequência do advento da industrialização. Estas famílias receberam subsídios do governo
colonial para iniciarem a nova vida em Moçambique.
Mondlane (1995, p. 98) no campo político-social afirma que, a integração dos assimilados negros
na administração constituiu uma mais-valia para os autóctones pois, pouco a pouco foram
conquistando o seu espaço. “Como corolário, surgiram os sindicatos, os nacionalistas, bem como
os intelectuais fundadores do Núcleo dos Estudantes Secundários de Moçambique (NESAM)”.
Igualmente há que enaltecer a Luta Armada de Libertação Nacional entre a FRELIMO e o governo
colonial português.
No cômputo geral, este foi o contexto interno que marcou a economia colonial em Moçambique
deste período.
5
Por outro lado, Hedges (1999, p. 211) afirma que, no período de 1953-1975 os camponeses
começaram a travaram uma luta silenciosa com as autoridades portuguesas. Este facto devia-se ao
trabalho forçado e o chibalo que o campesinato sofria. Os camponeses coziam as sementes de
algodão antes de semear como forma de contestar.
Portanto, a política colonial portuguesa baseada na expropriação de terras férteis dos camponeses
trouxe imensas dificuldades ao campesinato rural na medida em que, teve que abandonar as suas
terras aráveis para permitir a fixação de colonos portugueses oriundos da metrópole. Contudo, os
camponeses resistiram contra a exploração e trabalho forçado.
O primeiro Plano de Fomento (1953-1958) foi caracterizado pela fixação dos colonos portugueses
a fim de desenvolver actividades agrícolas na colónia. De acordo com Mulhanga (2002, p. 24),
relacionando a questão da ocupação da terra, demonstra que, para sistematizar a ocupação foi
promulgado o Decreto Lei no 43894/1961 de 6 de Setembro4. Por outro lado Lopes (1968)
escreveu:
Do extracto acima pode-se depreender que, este processo de investimentos culminou com a criação
do Colonato de Limpopo em 1954 e com a fixação das primeiras dez (10) famílias5 oriundas de
Portugal com objectivo de desenvolver a agricultura. Hedges (1999, p. 166)
Lopes ( 1968, p. 34) avança ainda que foram igualmente criados outros colonatos na colónia: são
os exemplos dos “colonatos do Vale de Incomati (Sábie), Revué e Sussundenga em Manica e, no
início dos anos sessenta, o colonato de Nova Madeira no Niassa”.
4
Este instrumento regulamentava a ocupação de terras nas Províncias Ultramarinas e visava a garantia da ocupação
e exploração da terra pelos colonos, pois, segundo as autoridades coloniais, em Moçambique existia muita terra que
poderia ser melhor aproveitada pela população excedentária existente em Portugal. Mulhanga (2002, p. 24)
5
Em 1957 viviam no colonato do Limpopo 204 famílias portuguesas. Hedges (1999, p. 166)
6
Filipe (2000, p. 16) no seu trabalho sobre o colonato de Sábie, considera que a “legislação
promulgada nos princípios da década 60 abriu completamente as colónias ao investimento
estrangeiro na chamada Política de Portas Abertas” e, com ela deu-se um novo impulso na política
colonial, não só em relação a fixação dos colonos devido as novas condições criadas, como
também encorajou os aumentos de investimentos estrangeiros que passaram a ter isenções de
impostos por 10 anos, garantias de repatriação de capital e passaram a estar isentos das matérias-
primas.
Com esta política surgiram alguns empreendimentos industriais tais como, “a Açucareira Agrícola
de Marracuene (MARAGRA) fundada em 1963 com base em empréstimos do Banco de Fomento
Nacional e a Industrial Development Corporation of South África” e, em 1964 foi fundada a
Açucareira de Moçambique financiada por companhias francesas (ibid, p. 16).
Portanto, os exemplos acima ilustram a nova posição tomada por Portugal ao permitir a entrada de
investimentos estrangeiros nas suas colónias, um processo que se prolongou até princípios da
década de 70.
O 2º Plano de Fomento (1959-1964) não trouxe muitas novidades senão o prosseguimento da
política de povoamento,6 especialmente no Vale do Limpopo que consistia na “ocupação de zonas
estratégicas para a prática da agricultura pela pequena comunidade portuguesa” e, por outro lado,
pretendia-se estabelecer zonas que deviam constituir barreiras ao avanço de qualquer movimento
nacionalista que, na altura emergia por toda África e em Moçambique dava os seus primeiros
passos. (Ibid, p. 16)
A Comissão Técnica de Integração Económica no seu relatório sectorial do II Plano de Fomento
(1963, p. 144) testemunha por outro lado, a realização “em 1963 da primeira fase da colonização
do Revué através do projecto de colonização dirigida com um custo total de 16.966.666.20
escudos”. Uma outra acção notável deste plano foi o povoamento baseado na “cultura do chá do
Gurué, a assistência técnica e financeira ao Colonato de Nova Madeira em Vila Cabral onde se
impulsionou o cultivo do tabaco no distrito de Moçambique”. O aproveitamento de novas zonas
para a expansão da cultura do chá com a fixação de novos agricultores foi uma outra acção que
produziu benefícios para a economia da província. Este projecto teve uma “dotação inicial de
5.000.000.00 escudos e foram realmente aplicados 4.616.666.70 escudos”.
6
De acordo com as autoridades portuguesas em Moçambique existia muita terra que poderia ser melhor aproveitada
pela mão-de-obra excedentária existente em Portugal. FILIPE, (2000, p. 16)
7
Estes foram alguns dos grandes empreendimentos do II Plano de Fomento. É importante realçar
que todos estes projectos foram implementados numa relação directa com a fixação de colonos em
Moçambique. Pois, eram eles que deviam materializar a iniciativa colonial de desenvolvimento do
ultramar.
A Comissão Técnica de Integração Económica dos Estudos de Planos de Fomento (1965. p. 65)
indica que, “o Plano Intercalar (1965-1967) previa um investimento no valor de 49.18 milhões de
contos”. Assim, na área da agricultura previa-se um esforço de intervenção estadual no sentido de
fomentar a produção agrícola tradicional, apoiar a iniciativa privada do sector empresarial e na
reorganização do crédito agrícola.
Segundo a Comissão Técnica de Integração Económica do III Plano de Fomento (1972, p. 63) até
1973 os grandes empreendimentos privilegiaram a agricultura, onde se destacou “a implantação
de esquemas de regadio e povoamento nos Vales dos rios Maputo, Incomáti, Limpopo, Save, Búzi,
Púngué e nas zonas sub-planálticas de Manica e Sofala”.
Por exemplo, a imagem acima apresenta “a primeira fase de construção da barragem de Massingir
que ocorreu a partir de 1971 e veio a beneficiar particularmente o Colonato de Limpopo” no que
diz respeito a irrigação das suas terras.
Mulhanga (2002, p. 27) na sua Monografia Científica conclui que, “o IV Plano de Fomento mudou
a estratégia de terras adoptada nos anos 50/60”. A política de colonatos e de povoamentos rurais
8
foi abandonada, pois notou-se que, as iniciativas de desenvolvimento através de colonatos e de
povoamentos representavam um investimento demasiado elevado sem possibilidades de retorno
dentro dos períodos anteriormente estabelecidos que se situavam entre os 10-15 anos depois.
Na prática, os colonatos resultaram em altos custos de transporte de colonos portugueses da Europa
para Moçambique, altos custos de habitação e infra-estruturas.
Como se pode constatar, os relatórios sectoriais no âmbito da actividade agrária descrevem uma
série de acções concretas realizadas. Vejamos a seguir a influência dos Planos de Fomento no
sector dos transportes e vias de comunicações.
Lopes (1968, p. 165) defende que, o I Plano de Fomento tinha a preocupação de fomentar o
povoamento e a construção de infra-estruturas sócio-económicas. Assim, “foram construídos cerca
de 300 Km da linha férrea de Lourenço Marques a Malvérnia, na fronteira com a Rodésia do Sul”7.
Este foi um dos grandes projectos em termos de infra-estruturas sócio-económicas, cujo objectivo
era aproveitar o crescente do tráfego da nova Federação Central Africana, a Confederação das
Colónias: de Rodésia do Sul (Zimbabwe), Rodésia do Norte (Zâmbia) e Niassalândia (Malâwi).
Esta via de acordo com os planos britânicos, facultaria um crescimento económico e acumulação
rápida de capitais, particularmente na Rodésia do Sul.
Por outro lado, essa linha férrea foi construída contra os planos regionais das autoridades sul-
africanas que “pretendiam dominar todo o tráfego ferroviário ao Sul do Equador após a II Guerra
Mundial”. Contudo, com a ajuda diplomática britânica, Portugal obteve um empréstimo de “17
milhões de dólares do Banco de Importações e Exportações, sedeado nos Estados Unidos da
América (EUA) que pagava cerca de 80% das despesas de construção e, constituiu cerca de 36%
do total das despesas do I Plano de Fomento” (Ibid, p. 164).
7
A linha férrea foi concluída em 1956, para além de servir os interesses capitalistas da Rodésia do Sul em termos de
tráfego ferroviário, beneficiou consideravelmente o orçamento colonial de Moçambique onde, nos três anos após a
sua conclusão, as receitas dos Caminhos de Ferro e Portos de Moçambique aumentaram 25% relativamente aos três
anos anteriores (de uma média de cerca de 750,000 contos para mais de 1,050,000 contos), e o acréscimo no
rendimento foi, teoricamente, suficiente para reembolsar o empréstimo em apenas 3 anos. Lopes, (1968, p. 165)
9
ainda a construção da EN1 entre o troço Maxixe e o Rio Save de cerca de 348 Km com um custo
total orçado em 55.000.000.00 escudos”8.
Por seu turno, a Comissão Técnica de Integração Económica no seu relatório sectorial do Plano de
Fomento II (1964, p. 110) ilustra por exemplo na rede ferroviária, “o Porto de Lourenço Marques
que foi dotado de uma instalação mecânica de carregamento de minérios que viria responder ao
tráfego de minérios da Suazilândia e do Transvaal do Norte”. O custo destas obras foi de cerca de
56.400 contos. “Este apetrechamento elevara a capacidade do porto para um total de 12.500.000
toneladas”9. Para além destes projectos foram realizadas notáveis melhorias principalmente nos
aeroportos de Nampula, Quelimane, Lourenço Marques e Beira que viriam posteriormente
desempenhar um importante papel na vida do território.
Do exposto acima, pode-se deduzir que os efeitos imediatos deste conflito foram as múltiplas
explosões provocadas pelas minas, com perdas muito grandes para o exército português e para o
comércio colonial. Por essa razão o governo colonial tomou medidas drásticas para o planeamento
de uma enorme rede rodoviária asfaltada. Os estudos deste projecto iniciaram em 1965 e foram
postos em prática a partir de 1968.
A Comissão Técnica de Planeamento e Integração Económica do Plano Intercalar (1967) dá-nos
por exemplo a seguinte contribuição:
8
Na vertente de estradas, foram realizados outros empreendimentos de importante realce como são os casos das pontes
sobre os Rios Mecuti, Tzangamo e a ponte entre o Vila Gouveia e Rio Púngue e, ainda a reabilitação de estradas
Inchope-Rio Save. Relatório sectorial de (1963, p. 144)
9
Foram contemplados ainda, os projectos de ampliação no Porto de Nacala por se tratar do único na costa de
Moçambique que permite o acesso de maiores navios sem quaisquer restrições de marés e dragagem.
10
“…a construção do Rio Save com o custo de cerca de (22.000.000 escudos), a construção
das pontes sobre os Rios Búzi e Révue (5.319.000.00 escudos) a construção das estradas
Mocuba-Nampevo (3.500.000.00 escudos) e Rio-Save Inchope (3.900.000.00 escudos)…”
(p. 171)
Do exposto podemos concluir que, ao nível deste plano foram construídos importantes infra-
estruturas tais como pontes e estradas nas zonas Sul, Centro e Norte do país. Ainda sobre as infra-
estruturas, a Comissão Técnica de Integração Económica do III Plano de Fomento no seu relatório
sectorial (1972, p. 63) explica por outro lado que, houve um ligeiro avanço nos transportes
rodoviários através da ampliação da rede de estradas asfaltadas e não asfaltadas. Este plano de
desenvolvimento pôs em andamento a construção dos troços de Nacala no Norte do país e, o outro
foi o prolongamento da linha férrea de Lourenço Marques, no Sul. Este plano previa um terço das
despesas totais que deveriam ser utilizadas para os transportes e comunicações. Isto é, “1.545.4
milhões de escudos deveriam ser empregues na construção de estradas e pontes”. Foi neste
contexto que a partir de 1972, através de um empréstimo concedido pelo Banco Nacional
Ultramarino, foi contemplado o Projecto da Construção da Ponte sobre o Rio Zambeze, a
empreitada da estrada Centro-Nordeste. “O custo total destas obras estava avaliado em
1.282.061.084.40 escudos para estradas e mais de 100 milhões de escudos para as pontes”. (Ibid,
p. 71)
O IV Plano de Fomento (1973) não teve grandes realizações neste sector e não chegou a se
efectivar na íntegra pois, em 1975 o país alcançou a independência e muitos dos programas
concebidos foram abandonados por causa da mudança dos governos.
1.3.4 A Indústria
11
Beira. “São indústrias de refinação de petróleo, química, cimento, panelas chapéus-de-chuva,
tijolos rádios, cabos eléctricos, colchões e bicicletas”.
Cardoso (1991, p. 113) considera que, o sector industrial especialmente o de transformação, na
década 60 e 70 conseguiu empregar 100 mil assalariados. Esta situação ficou a dever-se ao
desenvolvimento da indústria têxtil do vestuário, calçado, bem como dos ramos de alimentação e
bebidas.
Por outro lado Boleo (1966, p. 134) defende que, além das indústrias atrás aludidas, pode-se
destacar a “indústria de refinaria de petróleos, especialmente na Matola, tintas, química, vidro,
insecticidas, sabões, fundições, siderurgia, etc”.
Os Estudos Coloniais Portugueses (1975, p. 72) explicam que, a indústria de refinação ocupava o
1º lugar. Assim, destacam-se “as indústrias de petróleos de Matola, cobrindo o mercado interno e
externo, a fabricação e refinação de açúcar, descaroçamento de algodão, descasque de arroz,
indústrias de transformação de copra, tabaco e girassol”. Entre 1963-1970, este sector investiu em
média 350 milhões de escudos anuais.
O segundo grupo provinha do consumo interno, cimento e cerveja. Em 1970 este grupo de
indústrias contaram com um investimento na ordem dos 826 milhões escudos. (Ibid. 72)
Ainda sobre a indústria, particularmente a indústria transformadora, os Estudos Coloniais
Portugueses (1975, p. 84) mostram que, o III Plano de Fomento teve o seu contributo no produto
interno da colónia, apesar do baixo grau de industrialização que ainda se verificava mesmo depois
da adopção da política de “Portas Abertas” pela metrópole. “O predomínio de certos sectores
industriais tais como da alimentação, de bebidas, de tabaco, de têxteis e do calçado davam um total
de 71% do valor global da indústria transformadora”. Algumas indústrias construídas dentro deste
plano foram a Fábrica Associada de Óleo, SARL (FASOL), Saboeiras Reunidas SARL
(SABOREL) e a Companhia Industrial da Matola. Estas indústrias encontravam-se bem
representadas em Lourenço Marques e Beira.
Para o sector energético, o destaque foi para o início da construção da Barragem de Cahora Bassa.
Os Estudos Coloniais Portuguesas (1975), escvreveram:
“…Um outro grande elemento que marcou este plano de desenvolvimento foi a
criação em 1970 do Gabinete do Plano da Zambézia pelo Decreto-Lei N°. 68/70
de 20 de Fevereiro de 1970, que iria substituir a Missão do Fomento e Povoamento
da Zambézia, criado em 1957. O Gabinete tinha como objectivo principal
promover, estimular e orientar, com a cooperação das outras autoridades e
12
serviços competentes da metrópole e Moçambique, o desenvolvimento
económico e social da região da Zambézia…” (p. 84)
Do exposto acima pode-se perceber que, dos vários projectos estruturados pelo Gabinte do Plano
de Zambeze (GPZ), destacou-se a Barragem de Cahora Bassa.10
Os Estudos Coloniais Portuguesas (1975, p. 85), explicam ainda que, “a barragem de Cahora Bassa
deveria ser construída sobre o rio Zambeze, num projecto avaliado em 750 milhões de dólares,
cerca de 1950 milhões de escudos”. Este projecto de grande envergadura foi planeado numa
estreita colaboração e aliança entre o capital internacional e a política fascista e colonial
portuguesa.
1.3.5 O Comércio
A tabela 2, estabelece a comparação dos produtos exportados de Moçambique para Portugal entre
1953-1956 e 1967-1970 consecutivamente. Como podemos notar, houve um aumento considerável
da exportação destes produtos da colónia para metrópole no período em estudo. Este facto deveu-
se a maior procura dos mesmos para alimentar as indústrias portuguesas em franco
desenvolvimento.
Algodão 38 39
Açúcar 79 120
Copra 39 40
Sisal 25 30
10
Os Estudos Coloniais Portuguesas (1975, p. 85) consideram que, a sua construção começou em 1969. É administrada
pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa, uma empresa que desde a independência foi detida conjuntamente pelo Estado
de Moçambique, com uma participação de 18%, e pelo estado português, com uma participação de 82%. No entanto,
em 2006 o país começou a assumir a maior parte das acções deste empreendimento.
13
No que diz respeito ao comércio rural, Hedges (1999, p. 151) afirma que, o comércio rural
aumentou no Norte do rio Zambeze, onde estima-se que o número de catinas, “fora das principais
cidades cresceu de 1000 para 2000 entre 1942 a 1960”. O aumento dos rendimentos obtidos pela
população estava na origem da expansão dessas cantinas rurais.
11
Entende-se como zona de influência da moeda na metrópole e nas colónias.
12
Recordar que as migrações eram para as Rodésias e preferencialmente a África do Sul. As migrações e os complexos
ferro-portuários não se tornaram somente como elementos essenciais da integração e subordinação como também
dinamizaram o crescimento dos principais pólos urbanos, ao mesmo tempo passaram a representar principais fontes
14
De acordo com Mondlane (1975, p. 79) “além das relações comerciais entre a metrópole - colónia
e vice-versa, as autoridades portuguesas apostaram muito na exportação de mão-de-obra para os
países vizinhos”. Assim, em 1960 havia mais de “400.000 trabalhadores moçambicanos na África
do Sul e Rodésia do Sul”, constituindo uma das principais fontes de receitas e divisas para colónia.
“O orçamento de 1961 previa uma receita total de 6.300.000 milhares de escudos cerca (90milhões
de libras), e deste montante, 1.200.000 milhares” seriam provenientes da exportação de mão-de-
obra.
Covane (2001, p. 170) analisa outros acordos de entendimento entre as autoridades portuguesas e
o governo sul-africano que, foram assinados nos anos de 1952 e 1964. Entretanto, o acordo de
1964 conferiu aos portugueses o incremento de divisas resultantes do pagamento da parte dos
salários dos mineiros moçambicanos. Os pagamentos em deferido conferiram aos portugueses uma
grande capacidade financeira de incentivar a modernização da economia moçambicana. Por
exemplo: “em 1968, o preço de ouro no mercado livre subira para 120 por onça 1972 e 187 em
1973”.
de capitação de receitas da balança de pagamentos, financiando os défices crónicos da balança comercial. Cardoso
(1991, p. 107)
13
Recordar que, o recrutamento da mão-de-obra tinha sido restrita, nas áreas do sul da latitude 22º sul.
15
O Estado colonial em Moçambique, retirava lucros de envio de mão-de-obra para as minas através
da sua venda. Este papel de prestador de serviços do Estado, tornou Moçambique susceptível às
crises da economia sul-africana.
Em suma, a mão-de-obra migratória contribuiu muito para a capitalização de receitas para a
economia colonial.
1.7 O turismo
16
Portanto, os dados acima referidos mostram nesta fase a importância do sector do turismo na
capitalização de divisas para a economia colonial portuguesa. Os investimentos efectuados
trouxeram uma mais-valia na modernização dos espaços turísticos existentes, bem como da criação
de novos.
17
Considerações Finais
À luz da investigação feita e, em função dos objectivos previamente teorizados, pode-se concluir
de facto, a nova conjuntura política-económico iniciada com o advento do salazarismo a partir de
1930, altura em que a economia de Moçambique começou a canalizar de forma directa e exclusiva
as suas riquezas para a metrópole foi determinante na implementação e operacionalização dos
Planos de Fomento. A viragem da economia colonial em Moçambique reajustou a outrora política
económica baseada na concessão de parte das regiões Centro e Norte de Moçambique para a
actuação das companhias majestáticas e arrendatárias. A partir de 1930, Portugal assumiu-se como
uma potência, promulgando um conjunto de disposições e medidas proteccionistas a seu favor,
visando alterar o quadro negativo que pesava a sua economia. Os Planos de Fomentos foram uma
resposta da economia do Estado Novo na relação com as colónias que fortemente, privilegiou o
sector agrário. Contudo, apesar deste facto, os outros sectores tais como: a indústria, o turismo,
transportes e comunicação também foram importantes na economia colonial. Por exemplo, no
sector de turismo as estatísticas de 1973 indicam que o país acolheu cerca de 400 000 turistas
vindos de diversos pontos do mundo, resultando uma receita de 510.000 contos.
A análise feita nos relatórios sectoriais de execução dos Planos de Fomento permitiu concluir que,
os programas de desenvolvimento desempenharam um papel crucial na economia colonial pois, as
suas políticas influenciaram a dinâmica dos principais sectores da economia. Os três últimos
Planos de Fomento foram igualmente incisivas. Para testemunhar tal facto, a pesquisa aferiu que
houve a construção e ampliação de vias-férreas, aeroportos, construção de escolas, barragens
hidroeléctricas, indústrias transformadoras.
18
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