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Índice
Introdução............................................................................................................................ 3
1. O Estado de Gaza ......................................................................................................... 4
1.1 Contextualização ........................................................................................................... 4
1.2 A origem e seu Desenvolvimento ................................................................................. 4
1.2.1 A organização politica – administrativa ..................................................................... 6
1.2.2 Funcionamento do Estado de Gaza ............................................................................ 7
1.2.3 A organização socioeconómica .................................................................................. 7
1.2.3.1 Fonte economica do poder dos chefes..................................................................... 8
1.2.3.2 Actividades económicas .......................................................................................... 8
1.2.4 A organização militar ................................................................................................. 8
1.2.4.1 Técnicas, tácticas e armamento ............................................................................... 9
1.2.4.2 A batalha de Magude .......................................................................................... 12
1.2.4.3 A batalha de Coolela........................................................................................... 12
1.2.4.4 As lutas do Maputo ............................................................................................. 13
1.2.4.5 Guerras de resistência de Maguiguane ............................................................... 14
1.3 Decadência .................................................................................................................. 15
Conclusão .......................................................................................................................... 16
Bibliografia........................................................................................................................ 17
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Introdução

O presente trabalho tem como tema: O Estado de Gaza. O império de Gazo era um reino
fundado por imigrantes do povo Zulu movidos pelo então avalanche do M’fecane. Dirigido
inicialmente por Soshangane sendo este o fundador teve como ultimo rei o grande Leão de
Gaza Ngungungana ou Simplesmente Gungunhana. Gungunhana era um político muito hábil
e viu imediatamente a vantagem que poderia tirar dum conflito entre duas potências
estrangeiras interessadas em subjugá-lo. Assim, embora tivesse assinado um acordo com os
portugueses, nunca recusou a proposta dos ingleses e mesmo lhes dava esperanças. Isso, mais
tarde, foi-lhe útil na luta contra os portugueses.

Para poder dominar sobre um território tão vasto, Gungunhana seguia o mesmo sistema
tradicional dos zulus, a divisão do império em províncias que eram comandadas por indunas
da sua confiança, a submissão das tribos conquistadas, a obrigação do pagamento dum
tributo.

O trabalho tem como objectivo demostrar o percurso do Estado de Gaza, apresentando a sua
origem, formação, desenvolvimento e decadência. O tema é bastante importante para o estudo
da história do povo africano em especial os povos do sul de Moçambique.

Para a execução deste trabalho usou-se a metodologia de consulta bibliográfica, onde fez-se
um levantamento de todo o material já inscrito por forma a dar suporte na elaboração do
trabalho.

No que respeita a sua estrutura esta comporta a presente introdução, O desenvolvimento onde
abordam-se assuntos relacionados ao tema, a conclusão onde se faz uma breve síntese do que
abordado durante o trabalho e por fim a bibliografia usada.
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1. O Estado de Gaza

1.1 Contextualização

Logo de início do século XIX esta região sofreu a invasão dos Nguni. Este grande movimento de
expansão levou à emergência de novas entidades políticas, restaurando a prosperidade económica
e ajudando a reconstruir o tecido social desestruturado por guerras e desastres ecológicos. É neste
contexto que emerge o Estado de Gaza, coordenado por uma monarquia centralizada, e que
arregimentou e submeteu várias chefaturas e reinos.

Os Nguni são um grupo dissidente do Estado Zulu, que migrou em várias direcções para
norte, até regiões mais centrais do continente africano. Populações Ndau, Chopi, entre muitas,
foram submetidas por este Estado. O Estado de Gaza, também conhecido como império de
Gaza, abrangia no seu apogeu toda a área costeira Entre-os-Rios Zambeze e Maputo e tinha a
sua capital em Manjacaze na actual província Moçambicana de Gaza. Foi fundado por
Sochangane, também conhecido por Manicusse (1821-1858) como resultado do M´fecane.

Havia um grande número de chefaturas e de reinos com agregados populacionais entre três e
vinte mil habitantes e cujos chefes tinham um nível de vida superior ao da população, devido
aos tributos que dela recebiam. Uma grande parte da África Austral conheceu uma estrutura
política semelhante.

1.2 A origem e seu Desenvolvimento

Segundo (NEWITT, 1997) o Estado de Gaza e o resultado do M’fecane. O M’fecane foi o


processo de lutas e de transformações politicas, seguidas de grandes migrações de populações
Nguni para o norte, ocorridas na Zululândia (actual Africa do Sul), a partir da segunda metade
do seculo XVIII a princípios do seculo XIX.

As razões que explicam este fenómeno foram, entre outras, as seguintes:

 As lutas pelo controlo das rotas comerciais com a Baia de Lourenço Marques. Era a
partir deste ponto que os Ngunis estabeleciam o contacto com o mundo exterior,
exportando marfim e importando missangas, tecidos, lingotes de latão e armas. Dai os
conflitos entre linhagens;
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 A crise ecológica ocorrida na região nos finais do seculo XVIII e princípios do seculo
XIX. Esta crise provocou a falta de terra e pastagens, o que, de certa forma, contribui
para as lutas pelo seu controlo.

Por volta de 1770, existiam na Zululândia vinte reinos que disputavam entre si o controlo das
rotas comerciais coma baia de Lourenço Marques, bem como o domínio de terras férteis e
pastagens.

Segundo (ANDRADE, 1949) entre 1810 e 1821, estes reinos ficaram reduzidos a dois: o de
Nduandue (chefiado por Zuide); e o de Mtetua (chefiado por Dinguisuaio). Conflitos entre
dois reinos culminaram com a captura e morte de Dinguisuaio pelas forcas leais a Zuide.
Tchaka, o zulu, decide vingar a morte do seu pai adoptivo (Dinguisuaio), perseguindo Zuide e
seus amigos ate as ultimas consequências. Um do Nduandue derrotado submete-se a Tchaka,
e outra entre os que fugiram contam-se:

 Zuangedaba Nqaba Msane e Nguane Maseko, que por algum tempo se fixaram no
interior de moçambique. E assim que, por volta de 1890, estados dominados por
descendentes de Maseko e Zuangedaba incluíam territórios moçambicanos do Niassa e
Tete;
 Mzilikaze I, que se fixou no território do actual Zimbabwe;
 Sobhuza, fixado na Swazilândia;
 Sochangane (Manicusse), que se fixou no sul de moçambique, onde formou o Estado
de Gaza.

Para (NEWITT, 1997) o Estado de Gaza, com capital em Chaimite, resultou da conquista do
sul de moçambique por exércitos Nguni, chefiados por Sochangane, o Manicusse (1821 –
1858). Combinando a estratégia da guerra de conquista com a política de assimilação das
populações autóctones, Sochangane criou os alicerces de um novo território, que, na sua
extensão máxima, abrangia as regiões situada entre a Baia de Maputo e o rio Zambeze. Com a
sua morte em 1858, sucede-lhe o seu filho Maueue.

Uma vez no trono, Maueue hostiliza os seus irmãos, em particular Mzila, reinos vizinhos e
comerciantes que estavam interessados no comércio do marfim. Estes, por sua vez, dirigidos
por Mzila e contando com apoio de alguns membros da aristocracia Nguni, de comerciantes
de Lourenço Marques e do Governador de Lourenço Marques, Onofre de Andrade, organizam
uma coligação que vence Maueue (1861-64).
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Mzila, empossado como o novo Inkosi, procura novos aliados, estabelecendo relacoes com o
Natal e a Grã-Bretanha. Morre em 1884 e a sucessão do trono e disputada por três dos seus
filhos: Mafemane, Mundungawe e Como. Mundungawe leva a melhor e adopta o nome de
Ngungungana, o “invencível”, (NEWITT, 1997).

Quadro 1: Da formação ao Desenvolvimento do Gaza

1821– 1858 Sochangane forma o Estado de Gaza.


Maueue, filho de Sochangane, herda o poder de seu pai, mas entra
1858– 1854
em conflito com outros membros de aristocracia Nguni.
Coligação formada por parte da aristocracia Nguni, por Magudzu
Khosa, chefes tsonga, populações (principalmente do vale do
1861– 1864
Incomáti) e alguns comerciantes de marfim que apoiam Mzila na
guerra com o seu irmão Maueue.
A capital de Gaza e transferida no decurso destes conflitos para o
1862
Mossurize (Manica).
Mzila e chefe do Estado de Gaza. Durante o seu governo,
importantes transformações económicas ocorreram: os Elefantes
1864– 1884 começaram a rarear, a principal forca de trabalho procura emprego
na Africa do sul e o Estado de Gaza integra-se na economia
monetária.
Ngungunhana, filho de Mzila, herda o trono do pai, tornando-se no
1884– 1895
último chefe do Estado de Gaza.
A capital e novamente transferida para Manjacaze: o vale do
Limpopo e as zonas vizinhas tinham todos os recursos que
1889 escasseavam em Mossurize e procurava-se evitar pressões de
Manica, onde Britânicos e portugueses desejavam começar a
mineração do ouro.

Fonte: (NEWITT, 1997).

1.2.1 A organização politica – administrativa

Para (PÉLISSIER, 1988) a conquista e administração de um território tao vasto como este
foram possibilitadas por uma política de assimilação praticada pelos Nguni, através da qual
alguns elementos das populações conquistadas foram integrados em regimentos Nguni e, mais
tarde, serviam como funcionários no exército e na administração territorial. Populações do
vale do Limpopo e os Cossas de Magude foram integrados como assimilados em bloco, razão
pela qual são ate hoje conhecidos como changana (súbditos de Sochangane).
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1.2.2 Funcionamento do Estado de Gaza

Segundo (PÉLISSIER, 1988) a capital, onde residia o monarca Inkosi, acumulava funções
políticas, militares, judiciais, económicas e religiosas. Além da capital suprema onde vivia o
Inkosi, tinham também importância administrativa e, sobretudo, ritual as capitais sagradas
onde viviam as rainhas – viúvas ligadas ao culto nacional dos falecidos monarcas. O império
subdividia-se em reinos, a frente dos quais estava o Hossana, responsável pela cobrança dos
tributos, distribuição de terras, resolucao de litígios, mobilização de regimentos, etc.

Os reinos subdividiam-se em povoações, dirigidas por um Induna. As províncias, por seu


turno, subdividiam-se em povoações, dirigidas por um Mununusana. A administração
territorial do Estado de Gaza fazia-se através do “sistemas de casas”, como eram chamadas as
áreas tributárias em que foi dividido o Estado.

Quadro 2: Esquema da organização político-administrativa no Estado de Gaza

IMPERIO

Reinos

Províncias

Povoações

Fonte: (GERHARD, 1986).

1.2.3 A organização socioeconómica

Para (SANTOS e MENESES, 2006) várias camadas são identificadas neste Estado. No topo
da hierarquia social estava a alta aristocracia (reis e seus familiares); logo a seguir, a média
aristocracia (outros Nguni que não fossem da linhagem real). Estes constituíam a classe
dominante aliada aos «assimilados» (elementos da população dominada já integrados na
estrutura social Nguni). Em baixo estavam as populações denominadas que,
independentemente do seu grupo etnolinguístico eram designadas Tonga.
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1.2.3.1 Fonte economica do poder dos chefes

Segundo (SANTOS e MENESES, 2006) além do pagamento de tributos em géneros


agrícolas, as populações dominadas entregavam aos Nguni outros tributos em marfim e em
dinheiro (libras), ganhos na africa do sul com o início do trabalho migratório para aquela
região. Os cativos também constituíam outra fonte de riqueza para os Nguni: trabalhavam nas
unidades domésticas destes. Soldados e mensageiros Nguni eram alimentados pelas
populações.

Como podes verificar, existira uma grande diferenciação social: no topo estavam os membros
de linhagem real; a seguir, os Mabulundlela, os Ndau, os tongas, os Tinhloko e, por fim, os
membros das chefaturas subjugadas.

1.2.3.2 Actividades económicas

As principais actividades produtivas no Estado de Gaza eram a agricultura (cultivo da mapira,


mexoeira, naxemim e milho grosso), a caca e a pesca, que eram realizadas pelas populações
dominadas, tanto para o seu sustento como para o pagamento de tributo a classe dominante.

Também praticavam a criação de gado e o comércio exportação de marfim e escravos,


importação de tecidos, artigos de ferro e cobre, (SANTOS e MENESES, 2006).

1.2.4 A organização militar

Segundo (RITA FERREIRA, 1974) os Vátuas tinham uma organização militar inspirada pela
prática Zulu. A população masculina, como era tradição, desde tenra idade era treinada para a
guerra. O Exército do Império Vátua era basicamente constituído pelos Nguni, elementos com
uma arte militar bastante reconhecida, resultante da experiência adquirida nas constantes
guerras que estes tiveram contra os Zulus em consequência das quais, emigraram para o norte
onde vieram fundar o Império de Gaza.

“O exército de Gaza era caracterizado por uma forte disciplina militar, coragem e
agressividade excepcionais. Estes valores, segundo e tradição oral, vieram a perder-se
em resultado da incorporação no exército de elementos sem nenhuma tradição militar.
Mais ainda, o consumo exagerado de bebidas alcoólicas contribuiu bastante para o
enfraquecimento da disciplina militar dos Ngunis”.
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O Exército de Gaza tinha como papel político principal o seguinte como afirma (RITA
FERREIRA, 1974):

 Defender e expandir as fronteiras do Estado, conquistando vizinhos (em particular os


régulos do sul, Tsongas e, principalmente, Vacopi) e alimentar o Estado, o monarca e
os Nguni por meio da cobrança de tributo no interior do Império;
 Os soldados e mensageiros do rei vivam à custa da população dos territórios por onde
eles passavam, exigindo delas tudo aquilo de que necessitavam. O Exército não
dispunha de um sistema próprio de abastecimento e o sustento feito pelas populações
ser considerado como uma forma de tributação que lhes era imposta;
 Os soldados, que eram treinados dentro de uma educação guerreira e de uma filosofia
ofensiva, eram organizados em Regimentos baseados em grupos de idade, os
Mabutho, tendo como organização de base as manguas (ou mangas, como eram
normalmente chamadas), sendo que, o número de guerreiros variava entre os mil e
dois mil homens.

Por sua vez, a manga era constituída por de três mabanjes, que era o conjunto de forças de
quatrocentos aos quinhentos homens aguerridos e fortemente armados, com uma frente que
variava entre cem a duzentos guerreiros e uma profundidade que rondava nove homens. No
combate de Marracuene, como se pôde constatar, a manga compunha-se por três corpos
destinados a atacar por três lados, mas que em marcha seguem-se uns aos outros, tendo cada
corpo uma profundidade de mais ou menos nove homens, presumindo-se que tinha uma frente
de cerca de oitenta homens, atendendo a extrema densidade das suas formações e que se devia
compor de pouco mais de três mil homens (RITA FERREIRA, 1974).

A organização militar obedecia à seguinte hierarquia: O grande chefe guerreiro (Induna


Mukhulu wa nyimphi), cargo este que no reinado de Ngungunhana era ocupado por
Magigwani Khosa, o grande chefe militar e conselheiro do rei, secundado pelos seus cabos de
guerra (os ímpis) (Idem, 1974).

1.2.4.1 Técnicas, tácticas e armamento

Para (GERHARD, 1986) as técnicas e tácticas do Exército Vátua derivavam


fundamentalmente do Império Zulu, sem nenhuma real adaptação à evolução das tácticas e
armas de fogo que se verificaram nos Exércitos europeus. Os guerreiros vátuas procuravam
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em regra o contacto e a luta corpo a corpo, para o qual estavam bem treinados e onde eram
considerados excelentes, tendo em vista a destruição das forças inimigas em batalhas campais.
Os Vátuas eram guerreiros leais e desassombrados, a emboscada não lhes servia nem sequer a
defensiva, o que implicava, frente ao moderno armamento português sofrer inúmeras baixas
apesar de estarem em vantagem numérica, por exemplo, em Magul os Portugueses só
registraram cinco mortos e vinte e seis feridos, contra mais de quatrocentas baixais.

Segundo (GERHARD, 1986) o Exército Vátua normalmente combatia a peito descoberto, em


planícies abertas que lhes proporcionavam velocidade e ímpeto no ataque, actuando em
maciço e sempre em acção ofensiva. O ataque normalmente era feito por vagas de mangas,
como se comprovou no combate de Magul, onde foram três as vagas dos guerreiros vátuas
que atacaram o quadrado português, tendo mesmo um dos chefes de guerra, o corajoso Tope,
conseguido chegar a uns cinquenta metros da face do quadrado.

“A formação normal de ataque era conhecida como a ‘cabeça de búfalo’: uma das
mangas formava a testa e atacava o inimigo frontalmente, procurando fixa-lo; duas
outras formavam os cornos do búfalo, procurando envolver o inimigo por ambos os
flancos; a quarta manga, quando existia, formava a reserva, pronta para explorar a
vitória ou auxiliar no ponto mais sensível”.

Segundo (ENNES, 1898) no combate de Magul as forças vátuas fizeram uma marcha de
flanco pela esquerda do inimigo, em boa ordem, compassadamente, sempre metidos no
capim, e estenderam-se em arco de círculo, ameaçando a retirada para o Incoluana. Operado
este movimento envolvente, pararam.

Relativamente ao armamento, os guerreiros vátuas usavam adornos e ostentavam um


armamento típico e tradicional, que descendia dos Zulus. Na cabeça usavam capacetes
ondulantes com penas de diferentes aves (Xingungu), e na mão esquerda, levavam azagaia
curta de arremesso (Xitlango), azagaia de mão, lanças ou machado (Bêmbe). Também
levavam, na mão esquerda, um escudo oblongo (Chissango) de pele de boi ou búfalo,
endurecida e esticada sobre uma armação de madeira.

Para (ENNES, 1898) na mão direita, traziam um forte cacete ou arma de fogo de tiro simples,
normalmente Martini ou Snider, e nas pernas e nos braços ostentavam rabos de bois ou de
búfalo suspensos que serviam de amuleto e de camuflagem já que se confundiam com a
vegetação. Era normal, também, alguns guerreiros levarem azagais mais longas, que eram
lançadas a algumas dezenas de metros.
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As armas de fogo eram muito procuradas, visto que, em número razoável era possível formar
grupos de atiradores, que normalmente avançavam à frente das mangas, formando uma linha
de atiradores que apoiava a manobra. Todavia, o grande problema das armas de fogo era
conseguir munições, porque não haviam ninguém que as fornecesse, e o arsenal existente era
muito diversificado.

A maioria dessas espingardas era de sílex, sendo algumas fabricadas ou modificadas


localmente de forma improvisada e com alcances úteis até aos cem metros. As espingardas de
tiro simples eram normalmente adquiridas através do comércio feito com agentes europeus da
British South African Company, por exemplo Ngungunhana recebeu mil espingardas Martini
da companhia de Cecil Rhodes, ou eram capturadas a emboscadas feitas a pequenos grupos de
soldados portugueses.

Factores que constituíram fortaleza, habilidade que fez com este Estado se mantivesse
independente segundo (GERHARD, 1986) foram:

 A existência de maior número de habitantes nos finais do século XIX, criando


obstáculo para os portugueses;
 O centralismo do Estado e o reforço do poder local, pois que este Estado elegia
indivíduos da confiança do rei para administrar os Estados distantes;
 A mobilização constante dos súbditos num exército permanente, constituído por
indivíduos da mesma idade designados regimentos (Butakas) que aprendiam as
tácticas de guerra e os usos e costumes dos Ngunis. Esta aprendizagem ia até aos seus
50 anos.

Debilidades do Estado:

 O Estado de Gaza foi um estado que resultou de uma conquista militar e era
contestado com os grupos étnicos submetidos no estado;
 A irritação do clã real por causa do intenso favoritismo de Ngungunhana em relação a
muitos grupos não Ngunis, que passaram a ocupar cargos importantes o que era
contestado. Isto criou um certo descontentamento dos grupos Angunis;
 Esclerose da táctica militar, visto que Ngungunhana mantinha-se a carga com o seu
exército empenhando a zagaias, enquanto do outro lado, estavam homens armados.
Estes foram alguns aspectos que contribuíram para a decadência do Estado de Gaza.
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1.2.4.2 A batalha de Magude

De acordo com (VILHENA, 1996) Maazul e Matibejana tinham ido refugiar-se sob a
protecção de Gungunhana no Incomate, perto de Magude. Os portugueses enviaram ao
Gungunhana um ultimato em que exigiam a entrega desses dois chefes. Gungunhana recusou
fazê-lo. Este foi o pretexto oficial para o ataque que os portugueses prepararam
cuidadosamente.

O plano de ataque dos portugueses contra Gungunhana e de penetração no interior utilizava


largamente as vias fluviais dos rios Incomate, Limpopo e Inharrime. As tropas portuguesas
deviam avançar em três colunas: uma ao longo do Incomate, outra pelo rio Limpopo e uma
terceira descendo de Inhambane pelo rio Inharrime.

Ainda para (VILHENA, 1996) o ponto de encontro destas três colunas era na região de
Manjacaze onde residia o Gungunhana. A coluna mais forte era a de Inhambane. A coluna de
Incomate foi a primeira a dar batalha. Era comandada por Freire de Andrade. Foi em 7 de
Setembro de 1895 que a coluna portuguesa se encontrou com as tropas de Matibejane e de
Maazul na planície de Magule. A táctica dos portugueses era de formar um quadrado com os
soldados virados para as 4 frentes e com a artilharia nos ângulos. Os portugueses costumavam
pôr nas filas da frente os soldados africanos do seu exército, especialmente os angolanos. As
tropas de Matibejane e Maazul cercaram o quadrado mas não conseguiram penetrar nele,
Depois de duas horas de combate tiveram que recuar abandonando muitos mortos. Foi uma
grande derrota para Matibejane e Maazul. Depois de Magule os portugueses incendiaram
todas as povoações circunvizinhas, espalhando o terror e intimidando todos os chefes da
região, muitos dos quais vieram realmente prestar vassalagem aos portugueses.

1.2.4.3 A batalha de Coolela

Para (GERHARD, 1986) a coluna saída do norte, Inhambane, era comandada pelo Coronel
Galhardo e compunha-se de infantaria e artilharia, e era comandada por Mouzinho de
Albuquerque. Foi a 15 de Setembro que essa coluna se pôs em marcha. Gungunhana mandou
emissários aos portugueses tentando com várias propostas afrouxar o andamento da coluna.
Os portugueses exigiam a entrega do Matibejane e Maazul, um pagamento anual de 10.000
libras em ouro, autorizar a cobrança de impostos e outras facilidades comerciais e militares.
Claro que Gungunhana não podia aceitar tais condições que significavam a perda completa
dos seus direitos e a submissão do seu povo. Por isso reuniu todas as suas mangas num
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exército sob o comando de Maguiguana. Muitos chefes de tribo no entanto recusaram-se a


enviar os seus homens para combater os portugueses. Mesmo assim o exército de
Maguiguana conseguiu reunir cerca de 10.000 homens e cerca de 2.000 espingardas.

Ainda segundo (GERHARD, 1986) no dia 7 de Novembro de 1895 os dois exércitos


encontraram-se no vale de Coolela. A batalha que se travou foi de curta duração mas trágica
em consequências para Gungunhana que dela saiu derrotado. Os portugueses continuaram a
espalhar o terror, incendiando aldeias e devastando as culturas. No dia 11 os portugueses
incendiaram Manjacaze (Mandlakaze), o lugar sagrado. Muitos chefes das tribos entre o Save,
Chengane e o Limpopo vieram prestar vassalagem aos portugueses e aceitar as imposições
destes.

Gungunhana ficou muito desmoralizado com a derrota de Coolela e retirou-se para Chaimite.
Gungunhana estava disposto a aceitar a submissão aos portugueses em Chaimite onde nos fins
de Dezembro foi aprisionado e deportado para Cabo Verde. Maguiguane continuou a lutar
contra os portugueses.

1.2.4.4 As lutas do Maputo

Segundo (SANTOS e MENESES, 2006) a região do Maputo era governada por uma rainha
de nome Zâmbia que era amiga dos portugueses a quem pagava tributos anuais. Um dos seus
filhos, Anguanasse (Ungwanaze) encorajado pelas lutas de resistência de Gungunhana, quis
acabar com a amizade dos portugueses e conseguiu apoderar-se da chefia, desterrando sua
mãe. Os portugueses em vão tentaram opor-lhe um irmão, Macofoque que tal como a mãe,
estava disposto a aceitar a soberania portuguesa.

Anguanasse começou a expulsar todos os comerciantes indianos que se encontravam no


Maputo e todos os missionários que por lá se arriscavam a não pagar os tributos e a impedir a
cobrança dos impostos. Os portugueses então resolveram enviar Mouzinho de Albuquerque
para conquistar a região com o seu batalhão de cavalaria.

Para (SANTOS e MENESES, 2006) uma campanha sangrenta se realizou de Janeiro a Março
de 1896 em que Anguanasse resistiu heroicamente às tropas de Mouzinho. Mas em Março de
1896 foi totalmente derrotado na batalha de Macassene e foi obrigado a exilar-se Desta
maneira toda a região ao sul de Lourenço Marques passou a ser dominada pelos portugueses.
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1.2.4.5 Guerras de resistência de Maguiguane

Segundo (GERHARD, 1986) depois de terem vencido em Coolela, os portugueses criaram


vários postos militares entre os quais dois muito bem guarnecidos em Chibuto e Palule.
Maguiguane começou a atacar sistematicamente todos os pequenos postos, destruindo-os e
lançando dessa maneira a desmoralização nas tropas portuguesas. A maior parte da guarnição
militar portuguesa foi atacada e os poucos que escaparam, na sua fuga para Chibuto, foram
completamente aniquilados na lagoa Nafucue. Depois deste sucesso, Maguiguane começou a
fazer planos de atacar o posto de Chibuto onde se encontrava uma grande guarnição militar.
Os sucessos de Maguiguane encorajaram o povo e muitos chefes de tribo começaram a
acreditar de novo na possibilidade da resistência contra os portugueses.

Estes começaram a verificar que a sua vitória contra Gungunhana não lhes tinha dado
tanto poder como pensaram e, por isso, resolveram atacar de novo com uma grande
força. Mouzinho de Albuquerque, que era então o comissário-régio, encontrava-se no
Norte de Moçambique a lutar contra o Namarral. Imediatamente embarcou para
Lourenço Marques com toda a sua cavalaria.

Segundo (PÉLISSIER, 1988) no mês de Julho de 1897 embarcou com mais tropas de reforço
pelo rio Limpopo até à foz do rio Chengane donde se dirigiram para Chibuto. Aqui souberam
que Maguiguane tinha concentrado as suas forças em Macontene, disposto a atacar Chibuto.
Mouzinho sabia que se a fortaleza fosse cercada a sua cavalaria de nada serviria e por essa
razão resolveu ir ao encontro de Maguiguane. No dia 20 de Julho os dois exércitos estavam
frente a frente nas colinas de Macontene. Na batalha de Macontene as tropas de Maguiguane
foram derrotadas devido à superioridade do armamento português e sobretudo à cavalaria que
desorientava as mangas de Maguiguane com a sua mobilidade.

A derrota de Maguiguane provocou uma desmoralização nas tribos que lhe eram fiéis.
Maguiguane ficou quase isolado, sem homens e rodeado de inimigos. Resolveu ir refugiar-se
no território dos Matabeles. Mouzinho enviou a sua cavalaria perseguir Maguiguane. Este
conseguiu escapar à perseguição mas em Mapulanguene, perto dos Montes Libombos,
quando já se preparava para atravessar a fronteira, foi cercado pelos portugueses. Apesar de
se encontrar com uma dezena de homens preferiu lutar a render-se. Ainda matou muitos
soldados portugueses mas finalmente foi morto. Lutou como um herói até ao fim, lutando
energicamente contra a penetração portuguesa em Moçambique. Depois de vencerem
Maguiguane os portugueses passaram a dominar efectivamente o Sul do Save, (PÉLISSIER,
1988).
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1.3 Decadência

Para (GERHARD, 1986) numa altura em que as potências políticas europeias disputavam
entre si a ‘partilha de África’ durante a Conferência de Berlim, a presença de espaços
independentes, como era o caso do Estado de Gaza representava um obstáculo à afirmação da
presença e do controlo Português na região. É neste contexto que na década de 1890 têm lugar
uma série de campanhas militares levadas a cabo por tropas portuguesas na região sul de
Moçambique, que terminaram com a derrota do exército de Ngungunhana, o senhor de Gaza.
Vencido, o último ‘Leão’ de Gaza foi forçado ao desterro nos Açores, de onde não voltaria.

A prisão e o desterro para Portugal de Ngungunhana em 1895 devem ser lidos de diferentes
ângulos. Se para os portugueses significou o fim da resistência no sul de Moçambique e a
implantação da moderna autoridade colonial, para outras entidades políticas africanas na
região significava o fim dos desmandos Nguni (SANTOS e MENESES, 2006).

Esta leitura divergente sobre o significado simbólico da campanha militar colonial de


1895, ao que se acrescenta um profundo desconhecimento, pela liderança político-
administrativa portuguesa sobre a situação, levou a que esta administração assumisse a
derrota de Ngungunhana e o seu desterro simbolizando a pacificação do território, o
fim do Estado de Gaza. O Estado de Gaza havia sido administrado através de um
sistema político hierarquizado, onde alguns portugueses detinham um estatuto de
conselheiros, (VILHENA, 1996).

Contudo chega-se a ideia central de que a necessidade de “ocupação efectiva do território”,


determinada pela conferência de Berlim, o único facto que, a partir dai, legitimaria a posse
dos territórios em Africa, levou Portugal a iniciar as campanhas de pacificação no sul de
Moçambique a partir de 1895, tendo como alvo principal o Estado de Gaza. A superioridade
dos portugueses e a falta de unidade entre os chefes do sul de Moçambique contribuíram para
a decadência do Estado de Gaza. Mouzinho de Albuquerque, governador do distrito militar de
Gaza, foi o responsável pela prisão de Ngungungana este morre exilado nos acores, em 1906,
(VILHENA, 1996).
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Conclusão

Durante a execução deste breve trabalho, deparou-se com varias informações em torno do
surgimento e desenvolvimento do Estado de Gaza que nos fez chegar as seguintes conclusões:

Durante o período da penetração portuguesa no sul de Moçambique, estes tiveram que


enfrentar varias resistências a sua penetração, mas devida a falta de união entre os reinados
tais resistências viriam a falhar e os Moçambicanos naquela parte sul do país viriam a ser
escravizados pelos portugueses.

Gungunhana foi um rei destacado nessa resistência, sendo que teria sido derrotado em 1869
depois de inúmeras batalhas vitoriosas. Este rei teria entrado em contacto tanto com os
portugueses assim como com os Ingleses como forma de formar uma aliança de moda aqui
houvesse uma convivência de paz. Devidas as inúmeras traições entre os reinos, o seu reino
acabou entrando em decadência.

Depois da captura de Gungunhana pelos portugueses este teria sido transferido para Açores
onde nunca mais regressou com vida sendo que os seus restos mortais foram mais tarde
transladados ao seu país. Contudo, o reino de Gaza foi um império muito importante para a
história das resistências contra a penetração portuguesa em Moçambique.

Portanto, fica claro que a Historia colonial moçambicana é enriquecida pelos contos gloriosos
das batalhas de resistência apesar dos fracassos devido a falta de união entre os povos.
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Bibliografia

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Imprensa Nacional de Moçambique, 1949.

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GERHARD, J. Liesegang – Ngungunhana: A figura de Ngungunhana Nqumayo, Rei de Gaza


1884 – 1895 e o desaparecimento do seu Estado, Maputo, Colecção Embondeiro nº8, 1986.

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PÉLISSIER, René. História de Moçambique: Formação e Oposição (1854-1918). Lisboa:


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Lourenço Marques: Memórias do Instituto de Investigações Cientificas de Moçambique,
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Colonizadores: Portugal e Moçambique. Relatório final do Projecto POCTI/41280/
SOC/2001. Coimbra: CES, 2006.

VILHENA, Maria da Conceição. Gungunhana no seu reino. Lisboa: Edições Colibri, 1996.

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