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Autor: Valdemiro Ângelo Nhanumbo

Tema: Objectivo, Método e Objectos de Estudo

Referencia Bibliográfica: SENGULANE, Hipólito. Das primeiras economias ao


Nascimento da economia-Mundo. Maputo, Diname, 2007.

SOUZA, Nali de Jesus de. Uma Introdução à História do Pensamento Económico.


Disponível em: http://www.academia.edu/27110173/Introdu%C3%A7%C3%A3o_%C
3%A0_Hist%C3%B3ria_do_Pensamento_Econ%C3%B4mico.pdf.

P Conteúdo OBS
g

Objectivo, Método e Objectos de Estudo

Objecto Algumas
destas teorias
A História do Pensamento Económico é o ramo da História que se
económicas
dedica ao estudo das várias teorias e teóricos económicos, desde os
são aceites
períodos primitivos à actualidade.
até os dias de

Método hoje.

Tem como método de estudo preponderante, o método comparativo A Historia do


que se baseia na análise dos vários sistemas, visando obter os pontos pensamento
comuns e as divergências. São os pontos comuns ou divergentes que económico é
explicam o processo de evolução do pensamento económico ao longo uma ciência
do tempo – ver como os homens conceberam a economia ao longo do logo tem o
tempo, as teorias sobre a economia, os meios de produção, as método
principais fontes de riqueza, assim como a natureza das trocas próprio que o
comerciais. método
comparativo
Conceitos básicos da História do Pensamento Económico

Para uma melhor percepção do pensamento económico é indispensável


Qualquer
a definição de alguns conceitos como: definição de
História é
Conjuntura
uma ameaça

A conjuntura pode ser entendida como movimentos e variações à discórdia,


cíclicas das componentes essenciais da vida económica. Estão porque todo o
relacionados com a diminuição de produção, flutuações no volume de pensador
intercâmbios e oscilação de preços. Este conceito designa também o procurou
ramo da ciência económica que estuda a previsão das flutuações definir de

económicas cíclicas, conhecidas como flutuações conjunturais. acordo com


as
A noção de conjuntura expressa um ciclo ou um movimento da vida preocupações
económica que se caracteriza pela repetição. Assim, conjuntura como e angústias
fenómeno repetido constitui-se numa estrutura, já que esta é da sua época.
constituída por conjuntos de manifestações conjunturais. Mas a
importância
Assim, podemos entender que a estrutura vai ser menos móvel, mais
do
estável e mais permanente que a conjuntura. Este conceito nasceu na
conheciment
ciência económica e foi trazido para história pelos historiadores da
o histórico
História Nova, de modo a designar acontecimentos de média duração,
reside no
cujo conjunto define uma estrutura que é de duração mais longa.
facto de
A conjuntura económica conta com uma pormenorizada classificação permitir
dos diferentes tipos de flutuações de que se serve a história económica conhecer o
para estudar fenómenos e analisar factos e desvendar os factores da sua passado que é
dinâmica. As conjunturas económicas ajudam a explicar as razões do uma
nascimento das ideologias, das crises institucionais, das cronologias ferramenta
das revoluções e das mudanças históricas. As conjunturas económicas principal para
oferecem fortes possibilidades de explicar acontecimentos de toda a compreender
ordem e de acordo com a realidade sócio-cultural onde se inserem. o presente e
perspectivar
Estrutura
o futuro.
De acordo com Labrousse, na ciência económica, o termo designa “um
conjunto de relações maioritárias” ou uma constelação de dominantes
solidários”. É a inter-relação existente entre um conjunto de
componentes, ou ainda a interdependência existente entre o todo e as
partes. Portanto, os termos maioritários, partes e componentes aqui
usados, referem-se à agricultura e à indústria, que são actividades
económicas que determinam as estruturas económicas das sociedades.

A conjuntura e a estrutura estão ligadas entre si não só pelo facto de a


estrutura ser constituída por um conjunto de acontecimentos
conjunturais, como também pela evidência de que os fenómenos
conjunturais, ligados a uma crise de subsistência, revelam as
deficiências duma estrutura sustentada na agricultura. De maneira
similar, conjunturas relacionadas com uma crise de superprodução,
revelam as deficiências de uma estrutura económica sustentada no
capitalismo.

Necessidade Económica

Pode ser entendida como sendo um estado psicológico de insatisfação,


perante certa carência, associado a um sentimento consciente da
existência de um meio adequado e acessível de fazer cessar esse
estado, através da sua satisfação. Pode ser definida ainda como sendo o
desejo de alcançar o meio de fazer cessar uma certa privação. Nesta
definição há que considerar: i) a insatisfação psicológica, ii) o
conhecimento da existência de um meio de fazer cessar a insatisfação,
iii) a necessidade ao meio e a determinação de obtê-lo.

Entende-se que toda a necessidade humana (fome, frio, calor, sede,


ambição intelectual, ambição estética e outras) seja ela individual ou
colectiva, constitui causa de toda a actividade económica.

As necessidades classificam-se em:

 Essenciais ou primárias – são fundamentais e indispensáveis


para garantir a existência. Exemplo: comer, beber ou vestir,
cuja insatisfação cria graves perturbações ou até a morte.
 Secundárias ou de civilização – surgem da evolução. É caso
da energia eléctrica, vestuário de moda, televisor, aparelhagem
sonora, entre outras coisas.

Em termos de características, as necessidades económicas são


ilimitadas, o que quer dizer que se sucedem umas às outras, e são
saciáveis, o que quer dizer que podem ser satisfeitas. As necessidades
são também substituíveis, o que significa que uma mesma necessidade
pode ser satisfeita usando meios diversos. Por exemplo, a necessidade
de beber pode ser satisfeita pelo consumo de líquidos variados; a
necessidade de distracção satisfaz-se pela leitura, assistência a
espectáculos de diversa natureza, prática de desporto, etc.

Valor económico

É o juízo que um indivíduo ou grupo social faz sobre um determinado


bem, dependendo do seu custo (esforço) e utilidade.

Existem dois tipos de valores económicos: valor de uso e valor de


troca.

 O valor de uso é a apreciação de um indivíduo sobre o


interesse que para ele um certo bem oferece. Exemplo: um bem
de estimação que pode ter um elevado valor de uso e pouco ou
nenhum valor de troca.
 O valor de troca diz respeito a uma apreciação mais comum
de um grupo de indivíduos, sobre o interesse que um bem
poderá ter para cada um deles e para todos.

Uma vez o bem interessar a muitos, aquele que o tem pode trocá-
lo. Não há consenso sobre o que determina o valor de um bem
económico, onde uns defendem o valor pela utilidade e outros pela
raridade de obtenção do referido bem. Para os defensores da
raridade, se o valor de um bem fosse determinado pela utilidade, o
pão e a água seriam mais valiosos e mais caros que o ouro e
diamantes. Nesta linha de pensamento, o economista Martínez
(1998) afirma que “um objecto custa a obter porque tem valor. Se o
não tivesse, ninguém estaria disposto a realizar esforços, a suportar
custos, para adquirir esse objecto”.

As antigas civilizações e as primeiras manifestações de um


pensamento económico

Antiguidade e Idade Média

As primeiras manifestações de um pensamento económico aparecem


em textos legais e religiosos. Alguns autores consideram que já o
Velho Testamento revelava nítidas preocupações de ordem económica,
mas as primeiras tentativas doutrinárias ocorreram na Grécia.
Inicialmente nos textos legislativos, como a constituição de Sólon (VI
A.C.), que testemunha o conflito entre a classe comercial ascendente e
a aristocracia agrária. Mais tarde em livros dedicados, destacando-se o
"Económico" de Xenofonte. Este refere-se à economia doméstica,
contendo uma definição de riqueza, concretizando a ideia de utilidade e
sublinhando as vantagens da divisão do trabalho.

Segundo Xenofonte, "a ciência do senhor reduz-se a saber utilizar o


seu escravo". Em "Eryxias", Xenofonte vai mais longe, mas mantém a
discussão económica subordinada à moral e à política.

O pensamento grego desprezava o trabalho material produtivo e a


actividade comercial. Era considerada indesejável a posse de ouro e
prata. Nenhum cidadão podia possuir mais de quatro lotes de terra.
Platão escreveu "O ouro e a virtude são como pesos colocados nos dois
pratos de uma balança, de tal maneira que um não pode subir sem que
desça o outro."

Nas suas obras, Platão ocupou-se da organização da sociedade, da sua


origem e da sociedade ideal. É o primeiro pensador que se refere
largamente à divisão social do trabalho e à origem e organização real, e
ideal, da cidade estado. Os cidadãos estarão divididos em três classes: a
dos "guardiões filósofos". a dos "guerreiros" e a dos "produtores".
Estas classes representam, respectivamente, as três funções essenciais
de qualquer sociedade: a administração, a defesa e a produção. Os
guardiões e os guerreiros viveriam em regime de absoluto comunismo:
de mulheres, filhos e bens.

Platão expõe um pensamento dirigido à repartição dos bens e à


distribuição de propriedade da terra. Foi um reformador social,
enquanto Aristóteles foi um economista analítico.

Aristóteles discutiu a organização de um estado ideal e criticou os


aspectos comunitários da República ideal de Platão, mas os aspectos
fundamentais da sua doutrina económica são: a análise da troca, a
teoria da moeda e a definição do objecto da economia como ciência. A
ciência económica dividia-se em duas partes: a economia, ou seja, a
economia doméstica, a produção para consumo e a troca directa; e a
crematística, ou seja, a troca monetária, a ciência de adquirir riqueza. A
crematística dividia-se em "necessária" e "pura", consoante se referia a
uma troca (compra-venda) ou a uma compra para fins comerciais (para
revenda).

Aristóteles critica a crematística por ela desviar a moeda da sua função


de medida comum dos valores. Acumular moeda permitia adquirir
quaisquer bens em qualquer momento. Ao ganhar a categoria de
"capital", a moeda abandonava a sua função "natural". Com o mesmo
argumento, condena o empréstimo sem juros.

O desenvolvimento da ciência económica por parte dos romanos é


consequência do sistema jurídico: sistema de contratos, afirmação da
propriedade individual, garantia jurídica do direito de testar, distinção
ente direito público e privado, ente o regime jurídico das pessoas e os
direitos reais, a instituição da propriedade individual, perpétua e
absoluta, a liberdade contratual.

Entre os Romanos, tal como entre os Gregos, o progresso económico


foi considerado culpado das dificuldades políticas e sociais que
surgiam.
Apareceram, então, muitos apologistas da vida rural, que ficaram
conhecidos por "scriptores de re rustica". Neles se incluem Cícero e
Séneca, Plínio, Horácio e Virgílio. Defendem o ideal do pequeno
agricultor autónomo, que vive na terra que cultiva e que observa os
austeros e sóbrios costumes dos seus antepassados, livre da atracção do
luxo e dos vícios. "Nada melhor, nada mais digno do homem livre, do
que a agricultura." Afirmava Cícero. Além de elogiarem a agricultura,
condenam o empréstimo a juros e o comércio em geral.

Nos dez séculos de Idade Média, o pensamento económico foi,


evidentemente, dominado pelo clero. Considera-se que o homem, para
viver, necessita de trabalhar, mas que não se deve absorver na procura
de riqueza. O lucro ilimitado é considerado ilícito e prejudicial. O
produtor não deve aproveitar-se das necessidades do consumidor.
Determina-se o preço justo para cada mercadoria e o salário justo para
cada trabalhador. É condenado o lucro ilícito, a exploração e a
desigualdade.

Com São Tomás de Aquino, aparece uma noção de propriedade que


não é imposta pelo direito natural, mas sim "conforme" ao direito
natural. A propriedade foi criada para utilidade da espécie humana, e
não para utilidade de qualquer homem em particular. Mas é o próprio
interesse geral dos homens a exigir que a propriedade esteja confiada a
detentores individuais. A propriedade não é absoluta. O proprietário
desempenha uma função social, não tendo apenas direitos, mas
também deveres.

Os primitivos padres condenaram o comércio, e Santo Agostinho


receava que o comércio desviasse os homens do caminho de Deus.
Mas era impossível impedir o comércio, e a diligência consistiu em
regulamentá-lo. A noção de preço justo, segundo Santo Agostinho, não
pode ser explicada por considerações de ordem económica, pois
corresponde a uma convenção moral. Um comprador honesto, mesmo
que o vendedor ignorasse o valor da mercadoria, deveria pagar o preço
justo.

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