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Alguns munícipes da cidade de Nampula, Norte de Moçambique, consideram que o

desempenho do Conselho Municipal está a baixar no que diz respeito à melhoria das
vias de acesso, do saneamento do meio ambiente, da recolha do lixo, dentre outros
serviços.

Estevão Ramiro, residente da zona do Piloto, periferia desta urbe, disse que o edil
Castro Namuaca estava, no primeiro mandato, comprometido com o desenvolvimento
da autarquia, mas, actualmente, as pessoas queixam-se, frequentemente, de vários
problemas relacionados com a gestão municipal.

“As estradas encontram-se em péssimas condições de transitabilidade e a edilidade


justifica que no mercado nacional não existe  asfalto à venda”, lamentou o nosso
entrevistado.

Aquele munícipe mostrou-se igualmente indignado as acções dos técnicos da vereação,


que trabalham em coordenação com as autoridades comunitárias na sensibilização da
população para participar no processo de governação através das boas práticas,
alegadamente porque não surte os efeitos desejados.

Cabo Mutruma, líder comunitário da Unidade Comunal Palmeiras 2, no bairro de


Namicopo, questionou: “será que há exiguidade de fundos destinados às actividades de
melhoria das condições de vida das comunidades?”.

Enquanto isso, os jovens queixam-se do mesmo problema de sempre, a exclusão no


processo de financiamento dos seus projectos de geração de rendimentos por parte do
Pro-Jovem e do Fundo de Desenvolvimento Urbano.

Os secretários dos bairros e das unidades comunais da cidade de Nampula, província


com o mesmo nome, com acima de 35 anos de idade, estão a beneficiar do Fundo de
Desenvolvimento Urbano, vulgo “sete milhões” em detrimento dos jovens. Estes
queixam-se de ser arbitrariamente excluídos do processo, não obstante, nos discursos do
Governo do dia, serem considerados a maior aposta para o alcance do progresso
nacional.

O problema confirma, em parte, as frequentes reclamações de um número signifi cativo


de singulares e associações lideradas por jovens, a quem se tem vedado o acesso aos
montantes desembolsados sob o pretexto de financiar projectos de geração de renda
como forma de ultrapassar as difi culdades relacionadas com a falta do emprego.

Os secretários dos bairros, as associações lideradas por mulheres e os jovens que


militam no partido no poder, que se apresentam em encontros não propriamente
políticos vergando camisetas com as estampas e as cores das suas formações políticas,
têm prioridade na concessão do Fundo de Desenvol vimento Urbano – porque recorrem
a influências partidárias para alcançar os seus desideratos – em prejuízo de uma maioria
que, apesar de ter projectos para espevitar o apregoado desenvolvimento nacional, os
seus pedidos de financiamento são frequentemente diferidos e acabam por desistir de
tais solicitações.

O Conselho Municipal da Cidade de Nampula realizou recentemente um curso


destinado aos mutuários dos “sete milhões” em matérias de gestão de fundos, com o
objectivo de dotá-los de conhecimentos que lhes permitam administrar melhor os
negócios por si desenvolvidos e criar novos postos de trabalho.

Entretanto, a Reportagem do @Verdade, que esteve no local, constatou que a maior


parte dos beneficiários da tal capacitação sobre a gerência dos valores disponibilizados
pelo Governo Central para a erradicação da pobreza urbana tem mais de 35 anos de
idade. Os outros, para além de terem ultrapassado a faixa etária da juventude,
desempenham funções de liderança nas comunidades da autarquia sob direcção de
Castro Namuaca.

De acordo com a lista dos formandos, divulgada na altura da atribuição de certificados


de participação, apenas duas associações estiveram presentes, das quais uma composta
por jovens aparentemente membros do partido Frelimo, uma vez que estavam trajados
de camisetas desta formação política com os respectivos slogans.

Margarida António, de 40 anos de idade, residente no bairro de Mutauanha, periferia da


cidade de Nampula, faz parte de uma associação de mulheres daquela zona. Em
conversa com a nossa Reportagem revelou que a sua agremiação foi criada por um
grupo de senhoras pertencentes à Organização da Mulher Moçambicana (OMM) na
mesma zona onde mora.

Segundo a nossa entrevistada, em 2011, as mulheres daquela grupo desenharam um


projecto de venda de ração para a alimentação de frangos, o qual foi aprovado pelo
Fórum Consultivo Municipal e recebeu um financiamento de 200 mil meticais.
Desde esse ano, ainda não reembolsaram nenhum tostão sequer do montante concedido,
alegadamente porque a edilidade nunca exigiu a amortização da dívida. Aliás, apesar da
não restituição do valor e do fracasso a que o plano está votado, a associação já pensa
em pedir outro empréstimo.

O @Verdade apurou que na organização de Margarida António nenhuma agremiada


tem idade inferior ou igual a 35 anos. Todas já ultrapassaram aquela faixa etária.
“Gostaríamos de construir um aviário para criar frangos e posteriormente revender, mas
os rendimentos dos nossos projectos são insuficientes para o efeito. Não estamos a
render nada. Precisamos de mais financiamentos”, disse a fonte.

Em 2009, a Associação Samora Machel, sita no bairro de Muatala, desenhou um


projecto orientado para a comercialização de diversos produtos, orçado em 74 mil
meticais. Contudo, só em 2012, quando já não contava com o fundo, é que beneficiou
de financiamento.

Fino Leonardo, secretário de um dos quarteirões do bairro de Namicopo, disse-nos que


o seu plano de construção de uma carpintaria, orçado em 200 mil meticais, foi
submetido ao Fórum Consultivo Municipal no mês de Abril de 2012, e, quatro meses
depois, recebeu o montante por si solicitado.

A mesma sorte teve a cidadã Margarida António, que por ser membro da OMM, no
bairro de Mutauanha, o seu programa agrícola, orçado em 190 mil meticais, submetido
em Janeiro de 2012, só esperou cerca de dois meses para ter aval e receber o valor.

Licana Cândido, de 37 anos de idade, mora no bairro de Natikiri, arredores da urbe da


província mais populosa de Moçambique. O Fórum Consultivo Municipal de Nampula
também financiou o seu projecto de criação de frangos orçado em 100 mil meticais, mas
só recebeu 75 mil.

Estes são somente alguns exemplos dos mutuários com uma idade acima dos 35 anos,
mas que beneficiam dos “sete milhões”, em detrimento dos jovens, alguns dos quais
quando não restituem os montantes dentro dos prazos previstos nos contratos são
cadastrados na lista dos que, em ocasiões futuras, ficarão privados de direito ao crédito.

Todavia, na prática pode-se contar a dedo, nos bairros de Nampula, os programas de


geração de renda desenvolvidos pelos líderes dos bairros e das unidades comunais a
nível das suas zonas de jurisdição, não obstante estarem a solicitar um financiamento
avançado, sempre com a desculpa de estarem a implementar planos que criem novos
postos de trabalho. O Executivo pode não ter a noção da dimensão do problema, porque
há falta de fiscalização e o acompanhamento dos reais beneficiários é ineficiente.

O conselho municipal da cidade de Nampula, pretende fortalecer a capacidade


interventiva das micro e pequenas empresas locais, no exercício das suas actividades,
através da criação, recentemente, do serviço municipal de apoio aos operadores
económicos emergentes, em técnicas de gestão dos negócios.

Segundo o edil de Nampula, Mahamudo Amurane, através daquela “janela” de


oportunidade, os empreendedores interessados, terão a oportunidade de receber apoios
gratuitos directos em matérias de formulação e desenho dos seus projectos de negócio.

“Os serviços municipais de apoio a micro empresas agro-negócios (SMAMPE), é uma


iniciativa que visa incentivar e potenciar os empreendedores ao nível da nossa cidade”-
explicou Amurane.

Para Amurane, o sucesso dos empreendedores local passa pela complementaridade entre
as iniciativas do Município, que já dispõe de um Fundo de Combate a Pobreza Urbana.

Para além do pedido de apoio feito pelo município à banca no sentido de “apostar” nos
empreendedores locais, Amurane instou igualmente as agências que operam em
Nampula a expandirem as suas actividades para as áreas periféricas, através da
instalação de balcões ou máquinas de pagamento automáticas (ATM).

A expansão da banca não é somente preocupação do município, mas também do


Governo provincial.

Os “7 milhões” alocados pelo Governo para financiamento de projectos de


desenvolvimento dos distritos, já estão a produzir os efeitos, nomeadamente o
empoderamento dos camponeses.

Dados tornados públicos pelo Governo de Nampula dão conta de que em toda a
extensão territorial da província funcionam pouco mais de 40 balcões bancários e 74
ATM, maior parte delas na cidade de Nampula e Nacala-porto.
Agência Britânica distingue Município de Nampula como modelo de Governação
Participativa e Inclusiva no país.

Os representantes do Governo Britânico através do Departamento de Desenvolvimento


Internacional (DFID em inglês) em parceria com as organizações da sociedade civil,
visitou na passada terça-feira (21), o Município de Nampula, para, dentre várias tarefas,
auscultar e avaliar o nível da governação participativa das comunidades, na componente
da participação da sociedade na limpeza dos bairros e sua aproximação dos gestores
municipais. Desde 2014 a parceria entre Sociedade Civil e o Município contribuiu para
a consolidação da democracia e possibilitou a construção de marcos históricos na vida
dos Nampulenses, que participam na melhoria de qualidade de vida dos habitantes (mais
mercados, saneamento, estradas, pontes, água, salas de aulas, carteiras escolares),
orientados pelo grupo de monitoria, representantes da comunidade nos bairros.

Esta organização Britânica percorreu pelas artérias dos bairros onde visitou associações
residentes no município, iniciativas e soluções locais da comunidade municipal
contentores de depósito de lixo, sanitários públicos, mercados e obras construídas pelo
Município no âmbito da governação participativa da população.

“Há evidencias e marcos de participação da população em todas as instâncias onde


visitamos e na administração municipal. Gostaria de saber porque somente no município
de Nampula? Porque e como o Município de Nampula a nível nacional se distingue
dentre os outros e consegue ter êxito na participação do cidadão e materialização dos
projetos escolhidos pela comunidade?” Questionou a representante da agência britânica
DFID durante o balanço das visita.

“É que deve-se ao facto ao empenho do Presidente do Município de Nampula,


Mahamudo Amurane, na formulação e implementação de políticas de participação do
cidadão na Governação Municipal de forma envolvente e transparente. No início do seu
mandato em 2014, Mahamudo Amurane se empenhou em buscar parcerias para
contratação de consultores com experiência internacionais para desenhar um guião e
manuais orientativos com finalidade de implantar uma nova dinâmica administrativa de
participação da sociedade civil nas decisões da governação Municipal que foi vital para
Nampula. A exemplo disso são o Orçamento e a Planificação Participativo que envolve
os cidadãos, em que os residentes nos bairros participam na formulação de políticas
públicas do município. Um outro instrumento é o Observatório Municipal de Nampula
em que a sociedade civil reunida com o Município de forma organizada fiscaliza e
interagi o planificado e o executado de forma aberta, participativa e transparente” disse
Carlos Langa, Vereador da área de Educação, Cultura, Juventude e Desporto, junto a
equipe de Coordenação Participativa do Município.

Por seu turno os representantes do Programa de Apoio à Governação Democrática,


DIÁLOGO – Diálogo Local Para a Boa Governação, se mostraram satisfeitos com o
nível de participação dos cidadãos e a capacidade de resposta a nível municipal.

DFID avaliou os cinco municípios prioritários identificados (Maputo, Beira, Nampula,


Quelimane e Tete) que são municípios caracterizados por implementar uma vida cívica
cada vez mais vibrante, onde os cidadãos, mídia e governo estão bem conectados e um
ao outro.

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