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O.INTRODUÇÃO

Moçambique é um país da África Austral, que enfrenta problemas de pobreza que se reflecte nas
áreas saúde, acesso à água e saneamento, à educação, habitação, acesso a informação e
formação, tal como outros países africanos, e não só, e tem estado a buscar mecanismos através
dos quais procura minimiza este mal convista alcançar o crescimento económico e deste modo
entrar na corrida ao desejado desenvolvimento, a partir do desenvolvimento endógeno, o qual
segundo AMARAL, F. (1991:2), é entendido como um processo de crescimento econômico que
implica uma contínua ampliação da capacidade de agregação de valor sobre a produção, bem
como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente
econômico gerado na economia local, e esse processo tem como resultado a ampliação do
emprego, do produto e da renda do local ou da região.

De acordo com SILVA, M. (1962:6), desenvolvimento comunitário refere-se ao conjunto dos


processos pelos quais uma população une os seus esforços aos dos poderes públicos como fim de
melhorar a sua situação económica, cultural e social e bem assim integrar-se na vida da nação e
contribuir para o progresso nacional geral.

Para a mesma autora, em favor do desenvolvimento comunitário diz-se ainda que,se o


desenvolvimento opera sempre uma transformação profundados indivíduos e dos grupos
humanos, devem ser estes os autores dessa transformação — tomando consciência dela,
escolhendo-a,assumindo-a, realizando-a, que o mesmo é dizer que o desenvolvimento deve
processar-se por iniciativa, com a participação e soba responsabilidade daqueles a quem vai
beneficiar, como é vcaracteristica do desenvolvimento comunitário SILVA, M. (1962:7).

Actualmente, o sucesso de uma comunidade depende da sua habilidade em se adaptar à dinâmica


local, nacional e internacional da economia de mercado. Estrategicamente planejado, o
desenvolvimento economico local está sendo cada vez mais usado para fortalecer a capacidade
local das comunidades de uma região, melhorar o ambiente para investimentos e aumentar a
produtividade e a competitividade dos negócios locais, dos empreendedores e dos trabalhadores.
A capacidade das comunidades para melhorar a qualidade de vida, criar novas oportunidades
econômicas e lutar contra a pobreza, depende dessas serem capazes de compreender os processos
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de desenvolvimento comunitário e agirem estrategicamente no mercado que muda


constantemente e que é cada vez mais competitivo. MURPHY, F. et all (2006:9)

O desenvolvimento comunitário parte da basedas necessidades sentidas pela população e sobre


elas constrói oplano de acção contando, desde o começo, com a iniciativa, a responsabilidadee
liberdade de escolha por parte dos interessados. SILVA, M. (1962:7)

O presente trabalho é da disciplina de Desenvolvimeneto Comunitário e pretende compreender


a implementação dos modelos de desenvolvimento comunitário em Moçambique. Na primeira
abordagem procura-se trazer os modelos de desenvolvimento comunitário segundo HERMANO
(Coord.), e no momento posterior explicar os modelos de desenvolvimento comunitário
implementados em Moçambique.
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O.1.Objectivos

A realização deste trabalho pretende alcançar os seguintes objectivos:

Objectivo Geral:

 Compreender os modelos de desenvolvimento comunitário implementados em


Moçambique;

Objectivos específicos:

 Apresentar os modelos de desenvolvimento comunitário segundo ROTHMAN (1995);


 Identificar os modelos de desenvolvimento comunitário implementados em Moçambique;
 Explicar a implementação dos modelos de desenvolvimento comunitário em
Moçambique.

O.2.Técnica de Pesquisa

A realização deste trabalho resultou de consulta bibliográfica em obras que abordam os


conteúdos que fazem corpo do mesmo.
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1.MODELOS DE INTERVENÇÃO E DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

1.1.Tipologia de modelos de intervenção /desenvolvimento comunitário de ROTHMAN

De acordo com ROTHMAN (1995:311-324), citado por HERMANO (2015 :82), existem três
modelos de intervenção:

 Modelo de Desenvolvimento Local: Caracterizado por uma intervenção muito


localizada (perspectiva social), orientada para o processo de criação de grupos de
entreajuda em que o interventor assume um papel facilitador com forte componente sócio
educativa;
 Modelo de Planeamento Social: Caracterizado por uma intervenção de componente
meso e macro mais evidente, voltada para a resolução de problemas concretos em que o
interventor assume um papel de gestor de programas sociais;
 Modelo de Acção Social: Caracterizado por uma intervenção de perspectiva integrada,
orientada para para alteração dos sistemas de poder em presença em que o interventor
assume um papel de activista, advogado do sistema interventor, aproximando-se da figura
do militante.

1.2.Tipologia/modelo conceptual de Manuela Silva

Segundo SILVA, M. (1962 ) , citada por HERMANO, C. (2015:82), de acordo com a


complexidade do sistema-cliente, distingue os seguintes tipos modelos de desenvolvimento
comunitário:

 Tipo integrante: Caracterizado pela aplicação de técnicas de Desenvolvimento


Comunitário à escala nacional;
 Tipo adaptado: Sempre que o projecto tenha escala regional;
 Tipo projecto-piloto: Quando a escala de intervencao e mais restrita.
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2.IMPLEMENTAÇÃO DE MODELOS DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO EM


MOÇAMBIQUE

2.1.O DEL ( Desenvolvimento Económico Local ) em Moçambique

Devido à ausência de um sector produtivo que ocupe muitas pessoas e uma taxa de desemprego
elevada, o Governo moçambicano pretende dinamizar o crescimento da economia em todo país.
Para o conseguir, o Governo promove uma estratégia de desenvolvimento económico a nível
local, chamada DEL. HAGEDORN, M. (2007:11)

A ideia principal do DEL é criar um mecanismo de promoção da economia local que integre a
identificação de potencialidades económicas. Os objectivos do DEL estão ligados aos objectivos
do combate à pobreza e da melhoria das condições de vida, sobretudo da população rural. As
actividades promovidas no âmbito do DEL relacionam-se directamente com a criação de postos
de trabalho e a geração de rendimento. Para alcançar estes objectivos, o DEL promove
actividades produtivas no distrito. De acordo com as informações oficiais disponíveis, as linhas
estratégicas do DEL visam o melhoramento do ambiente empresarial através da promoção do
desenvolvimento de micro,pequenas e médias empresas e da criação de um sistema financeiro
através de instituições financeiras a nível provincial e distrital.HAGEDORN, M. (2007:11)

Combinadas com exemplos de medidas concretas, são identificadas e discutidas no âmbito do


DEL as seguintes áreas típicas de intervenção (PNUD 2004):

 Criação de um ambiente económico favorável: a criação de uma atitude e de


políticas favoráveis aos actores económicos, tendo como resultados, entre outros, a
regulação, inspecção e autorização de actividades económicas, de uma forma simples e
eficaz;
 Infra-estruturas:estradas, rede de electricidade, rede de abastecimento de água;
Serviço de negócios (apoio às actividades económicas): extensão, informações sobre
mercados, tecnologias e transportes;
 Serviços financeiros: instituições de crédito e microcrédito com esquemas de
crédito especialmente orientados para as necessidades das pequenas e médias empresas,
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actuando em áreas com potencialidade para gerar rendimento e emprego, de uma


forma social e ecologicamente sustentável.
 Desenvolvimento de capacidades:treinamento e acompanhamento na área de
gestão para pequenas e médias empresas. Treinamento e acompanhamento para que
produtores familiares possam entrar no mercado. HAGEDORN, M. (2007:12)

A lista de possíveis áreas de intervenção mostra existirem diferentes opções de promoção


económica a nível local. Ou seja, a lista de medidas concretas de promoção pode ser
diferente de um distrito para outro, já que cada distrito pode decidir o seu caminho de
desenvolvimento económico com base nas suas potencialidades e num processo de
planificação participativa. Isto significa que o Desenvolvimento Económico Local é um
processo de desenvolvimento participativo que estimula parcerias entre as principais partes
interessadas do sector privado e público num determinado território. HAGEDORN, M. (2007:12)

Para VILLALOBOS, E. et all (2006:6),a introdução das ADEL ( Agências de


DesenvolvimentoEconómico Local ) nas comunidades como instrumentos de desenvolvimento
local permite abordar os problemas que as autoridades locais enfrentam em Moçambique.

Na maior parte dos casos, as autoridades locais carecem de meios e de capacidade técnica
necessários para responder às suas novas responsabilidades. As ADEL facilitam as ligações entre
as autoridades aos diferentes níveis e as complexas estruturas administrativas; permitem a
inclusão democrática da sociedade civil e providenciam as perícias técnicas necessárias. Por
exemplo, as ADEL financiam e providenciaram assistênca técnica na formulação dos planos
provinciais e distritais de desenvolvimento.VILLALOBOS, E. et all (2006:6).

Segundo VILLALOBOS, E. et all (2006:7),o êxito do Desenvolvimento Economico Local


depende da capacidade de integração das iniciativas produtivas de pequenaescala na economia
informal num ambiente económico mais alargado, facilitando ocrescimento e o desenvolvimento
inclusivo. Neste sentido, as infra-estruturas produtivas, osinstrumentos financeiros específicos e
o marketing territorial são elementos estratégicos quegarantem uma melhor utilização do

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potencial local.É importante assegurar que os programas de investimento em infra-estrutura
beneficiem as empresas e a economia local.

Para estes autores, o envolvimento dascomunidades no processo de tomada de decisão assegura


que os investimentoscorrespondam às prioridades e às necessidades locais. As comunidades
podem tornar-separceiros contratantes na provisão de serviços ou na manutenção das novas
infraestruturas.Isto proporciona oportunidades de geração de emprego e ajuda a
melhorarcondições de vida das populações. (Ibid. p.8)

2.1.1.Sustentabilidade das Agências de Desenvolvimento Econômico Local

De acordo com VILLALOBOS, E. et all (2006:8), a sustentabilidade das Agências de


Desenvolvimento Económico Local depende de vários factores:

Reconhecimento político e social

As ADEL são reconhecidas como organizações representativas, que funcionam nointeresse da


província e os seus habitantes depositam confiança nelas.

Capacidade técnica

São dotadas de conhecimentos necessários para providenciarem serviços com basena procura a
uma vasta gama de clientes dos sectores público e privado.

Autonomia financeira

As ADEL não dependem dos doadores, nem estão orientadas para estes. Podemgerar
rendimentos através da cobrança pelos serviços que fornecem aos clientes,através da gestão de
fundos de crédito, de mecanismos de contratação comorganizações internacionais ou estruturas
governamentais, através das contribuiçõesdos membros, de empreendimentos conjuntos e de
parcerias custo-eficazes. Dado oseu estatuto jurídico-legal, as ADEL permanecem organizações
sem fins lucrativos,investindo os seus rendimentos excedentários em projectos de
desenvolvimento.

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2.1.2.Os serviços de assistência técnica das Agências de Desenvolvimento Econômico Local

Segundo VILLALOBOS, E. et all (2006:9), as Agências de Desenvolvimento Econômico Local


prestam os seguintes serviços às comunidades:

 Serviços comunitários: geralmente, providenciados a pequenos empreendedores


privados, visando actividades micro de assistência técnica nas áreas administrativa,
financeira e de identificação de oportunidades de negócio; o objectivo é melhorar a
organização e a participação comunitária. Estes são projectos de capacitação, concebidos
para transformar as comunidades locais em verdadeiros actores de desenvolvimento,
capazes de gerir as iniciativas de DEL.
 Serviços de marketing: estes são projectos de média dimensão (orçamentados entre
USD 10.000 e USD 30.000) dirigidos a associações, organizações e a algumas partes
interessadas privadas, nos casos em que o serviço inclua o estudo de mercado, a análise
de custo-benefício, a avaliação do retorno sobre o investimento, além da formulação
técnica de projectos. Estes projectos demonstram as actividades concretas das ADEL e
têm um impacto imediato nos beneficiários e no território.
 Serviços estratégicos: estes têm um potencial importante de interligação com os
sistemas produtivos (produção/comercialização). Estes projectos, com forte impacto ao
nível local, providenciam apoio aos grupos vulneráveis. Geralmente, são projectos de
médio e longo prazo requerendo mais recursos orçamentais do que as ADEL podem
providenciar. Por conseguinte, o papel destas limita-se à identificação de projectos e a
procura de recursos de investimento. VILLALOBOS, E. et all (2006:9),

Nota: Um exemplo do Serviço das ADEL à comunidade: Promoção das organizações


femininas

A ADEL de Manica iniciou um programa de micro-poupança dirigido às mulheres rurais.


Noventa mulheres do distrito de Manica foram treinadas na gestão de fundos e de pequenos
investimentos e estão agora a administrar o “Banco Comunitário de Manica”. O banco foi
inteiramente criado com base em contribuições voluntárias de mulheres, sem nenhum capital

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externo. Os membros do banco estão actualmente a formar maismulheres com vista a aumentar
seu capital bem como o seu alcance.VILLALOBOS, E. et all (2006:9)

2.2.Modelo de participação cidadã

Em face de abertura sócio-política ocorrida, com aprovação da Constituição da República de


1990, em Moçambique, estabelece-se expressamente a participação dos cidadãos na resolução
dos problemas das comunidades rurais, através dos “órgãos representativos e executivos”, por
um lado e por outro lado, inicia o processo de descentralização política, através da criação de
novas entidades jurídicas com territórios e população, as Autarquias e/ou Municípios,
considerados de Órgãos de Poder Local e por outro, através da descentralização administrativa, a
qual passa-se a atribuir competências aos Distritos, que constituem os Órgãos Locais do Estado e
a outros órgãos hierarquicamente subordinados, tornando-os em mera extensão e mecanismos
administrativo visando aproximar a prestação de serviços dos seus beneficiários. NGUIRAZE,
A. (2010:13)

No entanto, vários ensaios de experiências participativas são introduzidas, através de diferentes


programas e projectos com objectivos de dotar de capacidades aos mediadores externos e as
comunidades rurais. Contudo, nota-se o papel activo dos mediadores locais na criação da
“Comunidade” como uma unidade política frente a instâncias externas, sejam elas estatais ou
não, como ONGs, Igrejas. Por exemplo, a “Comunidade” é assim entendida, como uma unidade
política relevante na relação com estes agentes externos capazes de proporcionar bens públicos,
como escola, furo de água e posto de saúde, além de outros serviços de interesse colectivo. (Ibid,
p.14)

De acordo com NGUIRAZE, A. (2010:13), participação cidadã é a acção comunitária, um


encontro das acções na direcção daquele que demanda ou é estimulado ademandar. Cria-se,
inclusive, os canais para receber as demandas. Sob diferentes concepções, a comunidade ora
surge como o de mandante, ora é evocada como uma alternativa para colectivizar os pedidos ou,
ainda, é empregada como um termo substituto para referir-se à população carente. São
estabelecidos mecanismos para ouvir a população, encaminhar os pedidos ao governo, articular,

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promover a solidariedade, interagir asinstâncias de participação: as Autoridades Tradicionais
locais (Régulo)se transformam na voz que o cidadão não tem.

2.3.Modelo de industrialização

De acordo com AESTRATÉGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO /


MOCAMBIQUE (2015-2035), aindustrialização através da criação de pólos de
desenvolvimento para a criação de zonas de concentração industrial ou parques industriais
constitui o modelo através do qual será possível fornecer de forma regular e com qualidade infra-
estruturas e serviços públicos que reduzirão os custos operacionais e de capital, bem como,
incentivarão investimentos privados em diversos ramos de actividade. (2014:16)

Contudo, para atingir este objectivo será necessário melhorar o ambiente de negócios através
do desenvolvimento de infra-estruturas, acesso a financiamento, aumento da eficiência da
administração pública, e estabilidade macroeconómica do País.

O modelo de desenvolvimento assente na Estratégia Nacional de Desenvolvimento preconiza a


transformação estrutural da economia. A transformação da actividade agrária é elemento
constitutivo e fundamental da estratégia de industrialização. Por um lado, porque a incorporação
da população rural à economia de mercado e o aumento do rendimento dos trabalhadores
agrícolas é condição necessária à ampliação do mercado doméstico. Por outro, porque o
crescimento e a competitividade da indústria depende da expansão da oferta e da redução dos
preços dos produtos agrícolas, seja daqueles utilizados como insumos que afectarão directamente
os custos industriais, seja dos produtos alimentares que afectarão o custo de vida, bem como, o
custo da mão-de-obra exigida pela actividade industrial.(Ibid.17)

A Estratégia Nacional de Desenvolvimento aposta na industrialização como principal via para


alcançar a visão de prosperidade e competitividade, assentes num modelo de crescimento
inclusivo e sustentável. Pressupõe-se assim que a industrialização deve desempenhar um papel
fundamental na dinamização da economia, no emprego e na capitalização dos moçambicanos,
envolvendo todos os segmentos sociais no processo produtivo, de modo a garantir que a

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exploração dos recursos naturais contribua para um desenvolvimento económico e social
sustentável. (Ibid.19)

Deste modo, a Estratégia Nacional de Desenvolvimento vem conferir maior ênfase a abordagem
integrada de actuação do Governo através da criação de zonas económicas especiais em função
das potencialidades agro-ecológicas e de parques industriais ao longo dos corredores de
desenvolvimento, que vão agregar diferentes indústrias a montante e a jusante da cadeia de
produção e valor dos recursos existentes no País.(Ibid.21)

A superação destes desafios passa pela realização de investimentos e intervenções nas áreas de
Educação, Saúde, Habitação, Abastecimento de àgua e saneamento do meio e na Protecção
Social aos grupos populacionais vulneráveis como forma de assegurar condições básicas de vida
aos cidadãos. (Ibid.pg 25)

A saúde e bem-estar das pessoas são elementos basilares do processo de desenvolvimento. O


principal desafio na área da saúde é a redução da morbilidade entre a população. Este objectivo
passa pela expansão e melhoria dos programas e acções com vista a erradicação das grandes
endemias e principais causas de morte por doença, principalmente o HIV e SIDA, tuberculose e
a malária, e pelo melhoramento das condições do saneamento do meio. (Ibid. pg.26)

Abastecimento de Água e Saneamento

Aumentar a cobertura, que actualmente é de cerca de 53% da população, para atingir o acesso
universal em 2035 Para Moçambique alcançar estes objectivos requer fortes parcerias entre o
sector público, privado, comunitário e as organizações não-governamentais bem como o melhor
aproveitamento dos fundos disponibilizados pela comunidade internacional; (Ibid. pg.26)

2.4.Descentralização e reforma política

Segundo NGUIRAZE, A. (2010:44), oprincipal objectivo do processo de descentralização é


imprimir maior dinamismo ecapacidade aos governos provincial e distrital para poderem levar a
cabo a indispensável interacção com outros actores sociais na abordagem aos desafios de
combate à pobreza e promoção do crescimento económico. As autoridades provinciais e distritais

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formularam Planos Quinquenais Provinciais e Distritais de Desenvolvimento, envolvendo
representantes da sociedade civil e do sector privado. Estes planos definem as estratégias de
desenvolvimento através da priorização das necessidades locais, em coordenação com a
abordagem nacional. A novidade de processo do cenário de descentralização chamado “Distrito
polo de panificação e desenvolvimento”, em Moçambique, deve ser entendida como lutas
culturais sobre o significado das nações recebidas de cidadania, direitos humanos, fórum,
conselhos consultivos. NGUIRAZE, A. (2010:44).

2.4.1.A Descentralização e o Desenvolvimento Economico Local

Segundo NGUIRAZE, A. (2010), a descentralização é o ambiente político ideal para o DEL. A


redução sustentável da pobreza em Moçambique está estreitamente relacionada com o
crescimento económico local no país, bem como com a criação de instituições com
empenhamento e capacidade e para promover a participação da sociedade civil e das
comunidades locais.

A dimensão territorial

O enfoque nas regiões com uma massa crítica de seres humanos e outrosrecursos facilita a
análise multidimensional das questões de pobreza e emprego, incluindoas ligações
rurais/urbanas. Promove acções de desenvolvimento abrangentes, coerentes eintegradas, o que é
especialmente importante numa situação de escassez de recursos. Acoordenação do investimento
público e privado evita a duplicação de esforços e osconsequentes efeitos contraproducentes. No
contexto territorial, pode-se prestar atençãoespecial aos grupos mais necessitados, tais como as
mulheres que operam na economia informal, os jovens desempregados, os produtores rurais,
etc. . VILLALOBOS, E. et all (2006:11)

Os recursos e o potencial de desenvolvimento territoriais definem a dimensão “local”


daestratégia de DEL. O território torna-se um espaço de implementação e tem quecorresponder a
uma entidade administrativa, pois, isso possibilita as ligações entre asnecessidades locais
(associações, grupos organizados, administrações locais, etc.) e asestratégias nacionais (políticas,
programas e projectos).

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Em Moçambique, as Províncias são dimensões territoriais apropriadas para o DEL. Ao
nívelprovincial é possível avaliar a capacidade técnica dos actores locais, promover e organizar
odesenvolvimento económico e criar mecanismos operacionais para a implementação
daspolíticas nacionais e das estratégias locais de desenvolvimento. Estas estratégias cobrem
aprovíncia e o seu objectivo é desenvolver o potencial endógeno. Outro objectivo dasestratégias
de DEL é melhorar a capacidade administrativa e organizacional dos actoreslocais - no sector
público e no sector privado - e promover o investimento através daidentificação do potencial de
crescimento económico a curto, médio e longo prazos. VILLALOBOS, E. et all (2006:12)

2.5.Orçamento de Investimento de Iniciativa Local (OIIL)/ 7 milhões

De acordo com FRANCISCO, A. (2010:37), no contexto das reformas de descentralização


administrativa, particularmente nadefinição do distrito como base de planificação e
orcamentação e o da colocação dos conselhoslocais no centro da governação local participativa,
a atribuição dos 7 milhões aos distritosrepresenta uma grande esperança e oportunidade para os
principais actores do processo degovernação local, nomeadamente as administrações locais, as
populações e as organizaçõesda sociedade civil. Esperança e oportunidade no sentido de que os 7
milhões representavamum valor acrescentado para a materialização dos planos anuais distritais.

2.5.1.O Orçamento de Investimento de Iniciativa Local e a questão político-partidária

Para FRANCISCO, A. (2010:43), no processo de execução do OIIL, uma das questões que
tem sido abordadas com pouca frequência é o perfil dos mutuários: quem são as pessoas que
recebem financiamento para osprojectos apresentados?

O autor explica que uma análise a partir do posto administrativo de Vunduzi, no distrito de
Gorongosa,mostra que grande parte dos mutuários tem ligações com o partido Frelimo,
representando68% para 2007..

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2.5.2.Constrangimentos na implementação dos 7 milhões

A implementação dos 7milhoes tem também os seus constrangimentos e desafios a seguir


sintetizados:

 A não formalização dos procedimentos para a implementação do orçamento é apontada


por quase todos os intervenientes como um dos principais constrangimentos deste
processo;
 A ausência de acções de monotorização e acompanhamento sistemático de projectos
financiados, um pouco por todo o país, pelo nível central, provincial e mesmo distrital;
 Falta de experiência dos beneficiários na gestão de negócios, aliado ao deficiente desenho
e viabilidade dos projectos submetidos para aprovação;
 Limitada capacidade dos órgãos envolvidos no processo de selecção e aprovação dos
projectos;
 Ausência de contratos, por parte dos distritos, com os mutuários, que resulta na ausência
de um plano de reembolso e a disparidade na fixação de taxas de juros e, onde os haja,
não é clara quanto às obrigações dos mutuários;
 Dificuldades nos desembolsos em geral, considerando o carácter (inédito e inovador) do
OIIL aliado ao pouco domínio e prática de actividades que envolvem sistemas de crédito
porparte das autoridades locais;
 Falta de observância de elementos de ligação, sinergias e consistência entre projectos,
resultando numa frágil cadeia de valor da produção e consequente subaproveitamento do
potencial existente;
 Pouco ou nenhum envolvimento dos Conselhos Locais nas acções de monotorização nas
respectivas áreas de jurisdição. FRANCISCO, A. (2010:39-40)

Os reembolsos constituem outro aspecto das dificuldades ligadas a execução do OIIL. Na


perspectiva do Governo, o dinheiro atribuído aos distritos funciona numa lógica de crédito, em
que os mutuários têm a obrigação de devolver o dinheiro ao Estado, de modo a permitir que estes
recursos financeiros beneficiem mais “empreendedores” rurais. (Ibid, pg.40)

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2.6.Resposta de emergência à extrema vulnerabilidade transitória e adequação da resposta
actual

O governo tem uma abordagem principalmente vertical para grupos específicos de pessoas
vulneráveis, frequentemente com assistência a curto prazo: ajuda alimentar dirigida as vitimas
das cheias, secas e ciclones tratadas através do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades
(INGC), que está encarregado de recolher e avaliar informações sobre o potencial de catástrofe
natural (informações hidrométricas, por exemplo) e de risco de vulnerabilidade (informações
sobre a actual situação de segurança alimentar em áreas propensas a desastre, por exemplo).
FRANCISCO, A. (2010:111)

O HIV/SIDA, a insegurança alimentar e a igualdade de género foram definidas como questões


transversais que exigem uma resposta multissectorial (PARPA II). Um certo número de
organismos e fóruns foram criados para assegurar a liderança e coordenação com variados graus
de sucesso.

É responsável pela coordenação de operações de emergência, principalmente de insumos


financiados por doadores, tais como alimentos e produtos básicos. por exemplo. Existem
algumas iniciativas destinadas a enfrentar a pobreza crónica, nomeadamente o Programa de
Subvenção Alimentar no âmbito do Instituto Nacional de Acção Social (principalmente um
subsidio em dinheiro para os idosos), mas estes programas são muito limitados na cobertura e,
simultaneamente, a coordenação intersectorial para enfrentar a vulnerabilidade e fraca. Uma
análise mais abrangente das múltiplas dimensões da vulnerabilidade e uma abordagem evolutiva
a longo prazo para enfrentar as suas causas e consequências continua ainda ausente.
(Ibid.pg.111)

A assistência social é tratada no âmbito do pilar do capital humano. As prioridades incluem


assistência a redes sociais de apoio aos grupos mais vulneráveis, tais como órfãos, idosos e
pessoas com deficiência. O sector de Acção Social (tutelado pelo Ministério da Mulher Saúde e
Acção Social) destina-se a prestar e coordenar apoio a grupos-alvo vulneráveis com base em
critérios demográficos tais como idade, deficiência e orfandade, geralmente combinados com
critérios económicos relacionados com a pobreza. FRANCISCO, A. (2010:112)

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Os programas públicos tendem actualmente a analisar as diferentes causas da vulnerabilidadede
forma linear, dirigidos a pessoas de acordo com um tipo específico de vulnerabilidade. Até muito
recentemente, houve pouco diálogo sobre a forma de abordar vários aspectos da vulnerabilidade
que pode afectar o mesmo individuo ou agregado familiar de uma forma coordenada. Um
exemplo ilustrativo desta situação é o Certificado de Pobreza, um documento oficial do
governo comprovativo da falta de capacidade pecuniária de um individuo, mas que outorga a
essa pessoa apenas o direito a um determinado benefício social, declarado no Certificado – a
isenção do pagamento de propinas escolares, por exemplo, ou a dispensa de pagamento de
despesas hospitalares. Num extremo do espectro de respostas a vulnerabilidade, as acções de
emergência a

Os programas do Ministério da Mulher e Acção Social, a cargo do Instituto Nacional de Acção


Social, incluem:

•O Programa de Subvenção Alimentar– uma pequena transferência mensal em dinheiro para


pessoas absolutamente pobres incapazes para o trabalho, principalmente pessoas idosas.

Benefícios Sociais para o Trabalho, provendo pagamentos mensais em dinheiro condicionados


pelo trabalho.

•Programas para a geração de rendimentos e de desenvolvimento da comunidade, suprindo


entradas de capital para agregados familiares (o primeiro programa) ou comunidades (o último
programa) (Johnson et al 2006), citado por FRANCISCO, A. (2010:114)

O Programa de Desenvolvimento Comunitário financia projectos comunitário em pequena


escala, tais como a melhoria de infra-estruturas, o acesso a serviços sociais e de geração de
rendimentos. (Ibid,pg.114)

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CONCLUSÃO

De acordo com os modelos de desenvolvimento comunitário apresentados por HERMANO


(2015), e criando relação com os modelos implementados em Moçambique pode-se tirar as
seguintes conclusões:

O modelo de desenvolvimento económico local, criado para promover a economia local que
integre a identificação de potencialidades económicas, com objectivos ligados ao combate à
pobreza e da melhoria das condições de vida, sobretudo da população rural, integra actividades
convista criar postos de trabalho e a geração de rendimento, e enquadra-se no modelo piloto
quando se restringe a um determinado local de acordo com suas necessidades e potencial.

O Modelo de participação cidadã, criado em face de abertura sócio-política ocorrida, com


aprovação da Constituição da República de 1990, em Moçambique, estabelecendo a participação
dos cidadãos na resolução dos problemas das comunidades rurais, através dos “órgãos
representativos e executivos”, por um lado e por outro lado, inicia o processo de descentralização
política, através da criação de novas entidades jurídicas com territórios e população, as
Autarquias e/ou Municípios, e um modelo do tipo integrado quando aplicado em escala nacional.

Os Modelos de industrialização, descentralizaçãoe do orçamento de investimento de iniciativa


local (OIIL)/ 7 milhões são modelos do tipo integrado, na medida em que são aplicados em
escala nacional, sendo que de acordo com o potencial da região ou do local o de industrialização
pode ser do tipo piloto quando implemantado num local restrito. A resposta de emergência à
extrema vulnerabilidade transitória e adequação da resposta actual pode se considerar modelo de
acção social.

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BIBLIOGRAFIA

AMARAL, F. A endogenização do desenvolvimento económico local. Ceará. Universidade


Federal do Ceará. 2001.

CARMO, H. (Coordenação). Desenvolvimento Comunitário. Lisboa. Instituto Superior de


Ciências Sociais e Políticas. 2015.

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VILLALOBOS, E. et al. Formulação da plataforma nacional de desenvolvimento económico


local. O caso de Moçambique. Genebra. OIT. 2006.
Índice-----------------------------------------------------------------------------------------------------Página
O.INTRODUÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------3
O.1.Objectivos------------------------------------------------------------------------------------------------5
O.2.Tecnicas de pesquisa-----------------------------------------------------------------------------------5
1.MODELOS DE INTERVENÇÃO E DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO---------------6
1.1.Tipologia de modelos de intervenção /desenvolvimento comunitário de ROTHMAN-------6
1.2.Tipologia/modelo conceptual de Manuela Silva---------------------------------------------------6
2.IMPLEMENTAÇÃO DE MODELOS DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO EM
MOÇAMBIQUE---------------------------------------------------------------------------------------------7
2.1.O DEL (Desenvolvimento Económico Local ) em Moçambique-------------------------------7
2.2.Modelo de participação cidadã-----------------------------------------------------------------------11
2.3.Modelo de industrialização---------------------------------------------------------------------------12
2.4.Descentralização e reforma política-----------------------------------------------------------------13
2.5.Orçamento de Investimento de Iniciativa Local (OIIL)/ 7 milhões-----------------------------15
2.5.1.O Orçamento de Investimento de Iniciativa Local e a questão político-partidária--------15
2.5.2.Constrangimentos na implementação dos 7 milhões-------------------------------------------16
2.6.Resposta de emergência à extrema vulnerabilidade transitória --------------------------------17
CONCLUSÃO----------------------------------------------------------------------------------------------19
BIBLIOGRAFIA-------------------------------------------------------------------------------------------20
David Chichango

Implementação de modelos de desenvolvimento comunitário em Moçambique


Licenciatura em Ensino de Greografia
4º Ano

Universidade Pedagógica
Maputo
2018
David Chichango

Implementação de modelos de desenvolvimento comunitário em Moçambique


Licenciatura em Ensino de Geografia
4º Ano
Trabalho para efeitos de
avaliação da disciplina de
Desenvolvimento
Comunitário a ser entregue
ao Docente:

Mestre Josué Tembe

Universidade Pedagógica
Maputo
2018

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