Você está na página 1de 118

Manual do Curso de licenciatura em Gestão Ambiental

PLANIFICAÇÃO REGIONAL DO USO DA


TERRA E DESENVOLVIMENTO
CENTRO DE
ENSINO À DISTÂNCIA

40 Ano
MÓDULO ÚNICO
12 UNIDADES

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância
Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade da Universidade Católica de Moçambique, Centro de Ensino à


Distância (CED) e contêm reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou
reprodução deste manual, no seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer
meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de
entidade editora (Universidade Católica de Moçambique  Centro de Ensino à Distância). O
não cumprimento desta advertência é passível a processos judiciais.
Universidade Católica de Moçambique Centro de Ensino à Distância - CED

Rua Correira de Brito No 613-Ponta-Gêa


Moçambique – Beira
Telefone: 23 32 64 05
Cel: 82 50 18 44 0

Fax:23 32 64 06

E-mail:ced@ucm.ac.mz
Website: www.ucm.ac.mz
Agradecimentos

A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e a autora do


presente manual, Diasmina Ismail Chande, gostariam de agradecer a colaboração dos
seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual:

Pela maquetização e revisão final

Elaborado Por: Diasmina Ismail Chande

Licenciada em Engenharia Agrícola


i

Índice

Visão geral 3
Bem vindo ao estudo da Planificação Regional Do Uso Da Terra E Desenvolvimento ... 3
Objectivos da disciplina................................................................................................. 4
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 4
Como está estruturado este módulo................................................................................ 5
Ícones de actividade ...................................................................................................... 6
Habilidades de estudo .................................................................................................... 6
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 7
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 7
Avaliação ...................................................................................................................... 8

UNIDADE I: INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS DA PLANIFICAÇÃO


REGIONAL DE USO DA TERRA 10
Introdução ................................................................................................................... 10
Sumário .............................................................................................................. 25
Exercícios .......................................................................................................... 25

UNIDADE II: INSTRUMENTOS LEGISLATIVOS DE USO DE TERRA 26


Introdução ................................................................................................................... 26
Sumário .............................................................................................................. 30
Exercícios .......................................................................................................... 30

UNIDADE III: INTRODUÇÃO AO ZONEAMENTO 31


Introdução ................................................................................................................... 31
Sumário .............................................................................................................. 36
Exercícios .......................................................................................................... 36

UNIDADE IV: O ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÓMICO (ZEE) COMO


INSTRUMENTO DE PLANEAMENTO 37
Introdução ................................................................................................................... 37
Sumário .............................................................................................................. 45
Exercícios .......................................................................................................... 45

UNIDADE V: RECURSOS NATURAIS E INFRA-ESTRUTURAS 46


Introdução ................................................................................................................... 46
Sumário .............................................................................................................. 53
Exercícios .......................................................................................................... 53

UNIDADE VI: COLECTA DE AMOSTRAGENS SOLO E ÁGUA 54


Introdução ................................................................................................................... 54
Sumário .............................................................................................................. 62
Exercícios .......................................................................................................... 62
ii

Unidade VII: TIPOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DO USO DA TERRA 63


Introdução ................................................................................................................... 63
Sumário .............................................................................................................. 70
Exercícios .......................................................................................................... 71

Unidade VIII: FACTORES LIMITANTES DO PLANEAMENTO DO USO DA


TERRA 72
Introdução ................................................................................................................... 72
Sumário .............................................................................................................. 78
Exercícios .......................................................................................................... 78

Unidade IX: ORGANIZAÇÃO EM CLASSES E SUBCLASSES DE APTIDÃO DE


USO DAS TERRAS 80
Introdução ................................................................................................................... 80
Sumário .............................................................................................................. 88
Exercícios .......................................................................................................... 88

Unidade : X: DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE CONFLITOS DE USO DA TERRA89


Introdução ................................................................................................................... 89
Sumário .............................................................................................................. 95
Exercícios .......................................................................................................... 95

Unidade XI: PLANEAMENTO PARTICIPATIVO 96


Introdução ................................................................................................................... 96
Sumário ............................................................................................................ 101
Exercícios ........................................................................................................ 102

UNIDADE XII: INTRODUÇÃO À TEORIAS DO CRESCIMENTO E


DESENVOLVIMENTO REGIONAL 103
Introdução ................................................................................................................. 103
Sumário ............................................................................................................ 110
Exercícios ........................................................................................................ 111
3

Visão geral

Bem vindo ao estudo da Planificação Regional Do Uso Da Terra E Desenvolvimento

Esta cadeira visa trazer conhecimentos sobre a planificação no seu todo com relação
uso da terra e seu respectivo desenvolvimento.
As competências que se pretendem que o estudante desenvolva são relativas à
análise da complexidade do processo de Planificação Regional do uso da Terra,
participando em equipas de trabalho que realizam actividades nessa área. Sendo
assim, o estudante:
 Revela domínio da teorização de Planificação Regional do uso da Terra,
aplicando os saberes em diferentes contextos;
 Desenvolve atitude crítica na análise de processos e técnicas de Planificação
Regional do uso da Terra, propondo formas de intervenção;
 Participa em equipas que realizam estudos de âmbito de Planificação
Regional do uso da Terra, visando a promoção do desenvolvimento das
comunidades e a melhorias da qualidade de vida em Moçambique;
 Identifica as melhores formas de Planificação Regional do uso da Terra para
cada contexto tendo em conta as potencialidades dos recursos existentes para
a promoção do desenvolvimento das comunidades baseando-se no
desenvolvimento sustentável.
 Desenvolve atitude crítica na análise de processos e técnicas de Planificação
de Projectos de Desenvolvimento I, propondo formas de intervenção;
4

Objectivos da disciplina

Quando terminar o estudo Planificação Regional Do Uso Da Terra E


Desenvolvimento, os estudantes devem ser capazes de:

 Conhecer os processos e técnicas de planificação do uso da


terra;
 Compreender os fundamentos para identificar a
problemática do uso da terra e seus impactos a nível do
Objectivos
ambiente e comunidade;
 Conhecer as técnicas e metodologias inerentes ao processo
de uso sustentável da terra para o desenvolvimento;
 Desenvolver a capacidade de análise crítica e busca de
soluções para problemas ambientais e comunitários;
 Compreender os processos e técnicas de Planificação de
Projectos de Desenvolvimento;
 Conhecer teorias sobre o desenvolvimento comunitário e de
gestão de recursos comunitário.

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para todos aqueles estudantes que queiram se formar em
Gestão Ambiental e que estão a frequentar o curso de Licenciatura em Gestão
Ambiental, no Centro de Ensino a Distância - UCM. Estendese a todos que
queiram consolidar os seus conhecimentos sobre a Planificação Regional Do Uso Da
Terra E Desenvolvimento.
5

Como está estruturado este módulo

Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade Católica de


Moçambique - Centro de Ensino a Distância encontram-se estruturados da seguinte
maneira:

Páginas introdutórias índice completo.

 Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os


aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o
estudo. Recomendamos vivamente que leia esta secção com
atenção antes de começar o seu estudo.

Conteúdo do curso / módulo

O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma


introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade
incluindo actividades de aprendizagem, um sumário da
unidade e uma ou mais actividades para auto-avaliação.

Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma


lista de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos
podem incluir livros, artigos ou sites na Internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação

Tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de


cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais
para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as
completar. Estes elementos encontram-se no final do módulo.
6

Comentários e sugestões

Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer


comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os
seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar
este curso / módulo.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas.
Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem.
Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma
mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

Durante a formação, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados,


implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados
apenas se conseguem com estratégias eficazes e por isso é importante saber como
estudar. Apresento algumas sugestões para que possa maximizar o tempo dedicado
aos estudos:
Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior. É preferível saber bem algumas partes da
matéria do que saber pouco sobre muitas partes.
Deve evitar-se estudar muitas horas seguidas antes das avaliações, porque, devido à
falta de tempo e consequentes ansiedade e insegurança, começa a ter-se dificuldades
de concentração e de memorização para organizar toda a informação estudada. Para
isso torna-se necessário que: Organize na sua agenda um horário onde define a que
horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta,
deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado
ao estudo e a outras actividades.
É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade
para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas
margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
7

partes que está a estudar e pode escrever conclusões, exemplos, vantagens,


definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários
seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é
imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado desconhece;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra situação, o material
impresso, lhe pode suscitar alguma dúvida (falta de clareza, alguns erros de natureza
frásica, prováveis erros ortográficos, falta de clareza conteudística, etc). Nestes casos,
contacte o tutor, via telefone, escreva uma carta participando a situação e se estiver
próximo do tutor, contacteo pessoalmente.

Os tutores têm por obrigação, monitorar a sua aprendizagem, dai o estudante ter a
oportunidade de interagir objectivamente com o tutor, usando para o efeito os
mecanismos apresentados acima.

Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interacção, em caso de problemas


específicos ele deve ser o primeiro a ser contactado, numa fase posterior contacte o
coordenador do curso e se o problema for de natureza geral. Contacte a direcção do
CED, pelo número 825018440.

Os contactos só se podem efectuar, nos dias úteis e nas horas normais de expediente.

As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a


oportunidade de interagir com todo o staff do CED, neste período pode apresentar
duvidas, tratar questões administrativas, entre outras.

O estudo em grupo com os colegas é uma forma a ter em conta, busque apoio com
os colegas, discutam juntos, apoiemse mutuamente, reflictam sobre estratégias de
superação, mas produza de forma independente o seu próprio saber e desenvolva
suas competências.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)


8

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação),


contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As
tarefas devem ser entregues antes do período presencial.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos
prazos de entrega, implica a não classificação do estudante.

Os trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser dirigidos ao


tutor\docentes.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos


devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor.

O plagiarismo deve ser evitado, a transcrição fiel de mais de 8 (oito) palavras de um


autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o
respeito pelos direitos autoriais devem marcar a realização dos trabalhos.

Avaliação

Você será avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e o período


presencial (20%). A avaliação do estudante é regulamentada com base no chamado
regulamento de avaliação.

Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos, durante o estudo individual, concorrem


para os 25% do cálculo da média de frequência da cadeira.

Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões presenciais, eles


representam 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência, determinam a
nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar 2 (dois) trabalhos, 1 (um) teste e 1 (exame).

Algumas actividades praticam, relatórios e reflexões serão utilizados como


ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a


apresentação, a coerência textual, o grau científico, a forma de conclusão dos
9

assuntos, as recomendações, a identificação das referências utilizadas, o respeito


pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual. Consulte-os.


10

UNIDADE I: INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS DA PLANIFICAÇÃO


REGIONAL DE USO DA TERRA

Introdução
Tem havido uma revolução na administração desde da década de 1980,
principalmente porque o resultado da sua aplicação produz um efeito cascata,
partindo da alta administração de uma organização, atingindo seus fornecedores,
além de todos os seus níveis internos e, de alguma forma, seus concorrentes.
Posteriormente, no meio da década de 1990, surge a preocupação com o ambiente,
tendo no planeamento um de seus requisitos para desenvolvimento de sistemas de
gestão ambiental.
Nesta unidade iremos definir e caracterizar o Planeamento/planificação Ambiental e
descrever uma metodologia para sua elaboração, far-se-á menção aos conceitos, a
importância, aos princípios da planificação bem como, a função da terra.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer os conceitos de terra, uso de terra e a planificação do seu uso;

Objectivos  Conhecer as funções da terra;

 Compreender a necessidade de fazer-se a planificação de uso da terra;

 Conhecer o processo de planificação do uso da terra.

Conceitos
A terra, ou mais especificamente, o conceito de terra, pode ser interpretada de
diferentes formas, conforme o enfoque adoptado. Uma definição tradicional
considera uma unidade de terra como “uma área da superfície terrestre cujas
características abrangem todos os atributos estáveis ou de ciclo previsível da
biosfera, verticalmente acima ou abaixo desta área, incluindo a atmosfera, o solo e a
11

rocha matriz, a hidrologia, as populações animais e vegetais, e os resultados de


actividades humanas passadas e correntes, na medida em que tais atributos
influenciam o uso actual e futuro da terra pelo homem” (Bohrer, 2000).
Contudo, o uso da terra pode ser entendido como sendo a forma pela qual esta área
está sendo ocupada pelo Homem.
De acordo com Santos (2004), o planeamento ambiental é compreendido como um
planeamento de uma região, visando integrar informações, diagnosticar ambientes,
prever acções e normalizar seu uso através de uma linha ética de desenvolvimento.
Isso significa que para alcançar o desenvolvimento sustentável, o planeamento
ambiental se faz necessário, pois analisa sistematicamente as potencialidades e
riscos inerentes a utilização dos recursos naturais para o desenvolvimento da
sociedade.

Importância da terra

A terra, incluindo atributos como água, solo, litologia e vegetação, pode ser
considerada talvez como o principal recurso disponível para o desenvolvimento
económico em regiões tropicais, (Monteiro, 2000). Porem, a terra é um recurso
finito, enquanto os recursos naturais que ela sustenta podem variar com o tempo e de
acordo com as condições de gestão e os usos a eles atribuídos

As mudanças de uso da terra estão directamente relacionadas a questões de mudança


do clima também. Por exemplo, as queimadas afectam o clima. Por outro lado, as
práticas de reflorestamento podem contribuir para o aumento de estoque de carbono.

Com a génese geológica implementada, a terra submete-se a um processo contínuo e


lento de mudança. Entretanto, vale ressaltar que se a Terra muda sobre factos
naturais, também muda e de forma bem mais rápida com factos mais amplos
protagonizados pelo homem.

No planeamento do uso da terra, os diversos atributos são analisados e avaliados


com vistas a um uso óptimo e sustentável. As principais informações requeridas
sobre esses atributos são a sua distribuição espacial, os padrões (forma e arranjo das
12

unidades de recursos) e o tipo de recurso. A análise dos padrões actuais de uso do


solo e dos factores económicos e sociais que afectam o uso do solo também é
importante no processo de planeamento.

Importância do planeamento ambiental

Planificar é, talvez, a principal característica que distingue as actividades humanas


das dos outros animais. Por ser racional, o Homem pode analisar o que ocorreu em
situações semelhantes para prever o que é necessário fazer no futuro, repetindo o que
deu certo e evitando os erros do passado; a este processo de organizar previamente
as actividades futuras com base no conhecimento do passado chama-se planeamento,
(Floriano, 2004).
Planeamento é uma ferramenta de gestão. É um processo de organização de tarefas
para se chegar a um fim, com fases características e sequenciais que, em geral, estão
na seguinte ordem: identificar o objecto do planeamento, criar uma visão sobre o
assunto, definir o objectivo do planeamento, determinar uma missão ou
compromisso para se atingir o objectivo do planeamento, definir políticas e critérios
de trabalho, estabelecer metas, desenvolver um plano de acções necessárias para se
atingir as metas e cumprir a missão e objectivos, estabelecer um sistema de
monitoramento, controle e análise das acções planejadas, definir um sistema de
avaliação sobre os dados controlados e, finalmente, prever a tomada de medidas para
prevenção e correcção quanto aos desvios que poderão ocorrer em relação ao plano.
Práticas de gestão da terra e formas de uso da terra têm grande impacto sobre os
ecossistemas e os recursos naturais incluindo a água e o solo. A informação sobre o
uso da terra pode ser usada para desenvolver soluções para a gestão de problemas
relacionados a recursos naturais como por exemplo qualidade da água. O
levantamento do uso da terra é de grande importância, na medida em que a ocupação
desordenada do solo causa a deterioração do meio ambiente. Os processos de erosão
intensos, as inundações, os assoreamentos de reservatórios e cursos de água são
consequências do mau uso do solo, segundo (Ribeiro, 2007).
13

Geralmente onde não há adequado planeamento do uso da terra ou sua execução não
segue o planificado, ocorre degradação exacerbada do solo e dos demais recursos
naturais. Como consequência muitas vezes há miséria em regiões onde houve
esgotamento dos recursos naturais.

Os diversos aspectos sociais, culturais, económicos e políticos, bem como a


participação das comunidades envolvidas e da sociedade nas diferentes etapas do
processo, são igualmente importantes para o planeamento visando o uso sustentável
da terra. Entretanto, é necessário ampliar a discussão e reavaliar ampla e
continuamente os diversos procedimentos técnicos utilizados na análise e avaliação
dos possíveis potenciais ou aptidões das terras para diferentes tipos de uso.

Características do Planeamento

Algumas características de um plano são implícitas, mas devem estar bem definidas
e ser do conhecimento de quem participar da sua elaboração, outras estarão
explícitas em algum capítulo do plano; as principais são:
 Grau de complexidade – Refere-se ao nível de detalhamento (estratégico,
táctico ou operacional) e inter-relações necessárias paras e atingir os
objectivos do planeamento. Tem relação com os níveis e áreas
organizacionais atingidos;
 Qualidade – Refere-se à qualidade que se pretende atingir quanto ao
propósito do planeamento. Diz respeito, principalmente, à identidade das
organizações ou ao objecto do planeamento; refere-se também às relações
internas e externas das organizações;
 Quantidade – Refere-se à quantidade que se pretende realizar ou produzir.
Relaciona-se, principalmente, aos recursos e processos para a execução do
planeamento.

Geralmente o planeamento tem elementos explícitos a seguir durante a planificação


como:
 Propósitos – O que fazer?
14

 Objectivos – Porque fazer?


 Prazos – Em quanto tempo?
 Políticas – Que regras seguir?
 Critérios – Como julgar?
 Procedimentos – Como fazer? que passos seguir (plano de acção)?
 Recursos (tecnológicos e financeiros) – O que utilizar?
 Monitoramento – O que medir?
 Controle – Como analisar e revisar o que se fez?
Em alguns casos, podem ser agrupados, em um mesmo capítulo do plano, dois ou
mais elementos semelhantes, como políticas e critérios.

Metodologia Usada Na Planificação Ambiental


Diversas metodologias e procedimentos vêm sendo desenvolvidos e aplicados na
análise dos recursos naturais, permitindo diversos níveis de enfoque, de acordo com
as necessidades dos responsáveis pela tomada de decisões. Em geral, estes métodos
possibilitam comparar diversas alternativas de uso dos recursos naturais com base na
análise de diferentes cenários, advindos da adopção de cada uma das possíveis
alternativas.

No desenvolvimento de um plano, inicialmente, identifica-se o assunto ou objeto do


planeamento, depois é necessário levantar todas as informações sobre o assunto e
prever como serão as quatro etapas do ciclo de Deming (Mirshawka, 1990), o
conhecido PDCA (Plan, Do, Control, Act), ou seja: Planificar, Executar, Avaliar e
Agir/corrigir; é necessário, também, seguir a sequência do processo decisório, de
acordo com a análise de situação que é obrigatória e é a primeira fase, sendo que as
demais serão realizadas, ou não, dependendo desta. As fases do processo decisório
são: Análise de Situação (AS); Análise de Problema (AP); Análise de Decisão (AD);
e Análise de Problemas Potenciais (APP). Depois deste procedimento, pode-se
passar à elaboração do plano, que é o documento resultante do planeamento. Estas
fases têm, cada uma, sua própria metodologia de desenvolvimento e se relacionam
com as etapas do PDCA conforme a tabela 1, a seguir. Fazendo a fusão das duas
15

metodologias: PDCA e Processo Decisório, temos o procedimento básico para a


elaboração de um plano.

Tabela 1: Sequência de planeamento (etapas do PDCA e fases do processo


decisório)
Fases do processo decisório
Análise da Análise de Análise de Análise de
Etapas situação Problema decisão problemas
potenciais
Identificação e
levantamento X X
de informação

P 1ª Planificar X X
D 2ª Executar X
C 3ª Avaliar X X
A 4ª Corrigir X X
Fonte: (adaptado de Floriano, 2004)
A planificação é a 1ª etapa do PDCA e inclui a identificação e levantamento de
informações no método Deming e que foram separadas aqui para fazer o cruzamento
com as etapas do processo decisório. Durante a planificação são realizadas, também,
previsões de como serão executadas as outras três fases (Do, Control, Act) que
devem constar de qualquer plano que pretenda ser completo.

1) Identificação e levantamento de informações


O tema central de um planeamento é o seu propósito maior, é o objecto do
planeamento ou assunto principal. Assim, se o propósito é o planeamento de uma
unidade de conservação, a unidade de conservação envolvida é o tema. Se o
propósito é a redução de resíduos gerados em um processo de fabricação, o tema é
os resíduos gerados no processo considerado.
Contudo, o objectivo de um planeamento é relacionado ao que se pretende fazer com
relação ao tema central. O objectivo é sempre uma acção sobre o objecto do
planeamento. Por exemplo, para os seguintes temas:
16

Tema 1: Unidade de conservação

O objectivo pode ser o planeamento do seu maneio e gerarmos um plano de maneio


da unidade de conservação, ou pode ser a conservação dos recursos genéticos
naturais existentes na unidade e então criaremos um plano de conservação dos
recursos genéticos naturais da unidade de conservação, ou ambos objectivos ao
mesmo tempo e, então, o planeamento resultará em um plano de maneio e de
conservação dos recursos genéticos naturais da unidade de conservação.

Tema 2: Resíduos gerados em processo de fabricação


O objectivo pode ser a redução dos resíduos gerados e, do seu planeamento,
resultará um plano de redução dos resíduos gerados no processo de fabricação; ou
pode ser o tratamento de efluentes gerados no mesmo processo, além da redução de
resíduos, então teremos como resultado do planeamento um plano conjunto de
tratamento de efluentes e redução de resíduos gerados no processo de fabricação
considerado; ou dois planos separados, um para cada objectivo, o que parece mais
adequado devido ao facto de que são objectivos bastante distintos. Estando definidos
o tema e o objectivo do planeamento, pode-se passar à busca de informações sobre
eles na literatura, assim como estudar e visitar casos semelhantes, buscando
conhecer o assunto para possibilitar e facilitar o desenvolvimento do planeamento.
De posse de informações, com o tema e objectivo definidos, vai-se para a fase de
análise da situação.

2) Análise de situação
Reconhecimento da situação: A primeira análise a fazer é definir se o assunto
merece ou deve ser objecto de planeamento. Procure responder às seguintes
perguntas: Existem normas que obrigam, ou a legislação exige que o assunto seja
objecto de planeamento? A gestão sobre o assunto exige? As directrizes da
organização exigem? Não há alternativas para o planeamento, por exemplo: uma
instrução normativa de um órgão ou outro documento que substitua um plano para o
assunto? O assunto é tão importante que deve ser objecto de planeamento? O
impacto ambiental é significativo? Se o planeamento não for realizado, as
17

consequências podem ser grandes o suficiente para que a alternativa de não realizá-
lo seja rejeitada?
Afinal, é realmente, necessário realizar o planeamento? Se a resposta para esta
última pergunta for “sim”, então responda a próxima questão da análise de situação,
caso contrário, o assunto acaba aqui.

Desmembramento da situação: O segundo questionamento trata de definir se a


situação, ou assunto, é um problema. Se qualquer das perguntas a seguir for positiva,
temos uma situação problema: a) Existe um padrão e a situação está abaixo do
padrão exigido? b) A situação é um desvio de algo esperado? c) A situação é inferior
ao que se desejava? – Para essas perguntas há quatro possibilidades de resposta:
 Sim, a situação é um problema, mas não se conhecem as causas, então, a
próxima fase é a análise de problemas.
 Sim, a situação é um problema, as causas são conhecidas, mas não se sabe que
acção é necessária para sua correcção, a próxima fase é a análise de decisão.
 Não, a situação não é um problema, mas não se definiu o que se deve fazer, a
próxima fase é a análise de decisão.
 Não, a situação não é um problema e já está definido o que se deve realizar, a
próxima fase é a análise de problemas potenciais.

Determinação da sequência de análise: Reconhecida qual é a situação, inicia-se a


sua análise. Na análise de problemas identificam-se as suas causas; conhecidas as
causas, a fase seguinte passa a ser a análise de decisão, onde se prioriza e define o
que se deve fazer, ou seja, as assoes a serem realizadas; definindo-se as acções, a
próxima fase passa a ser a análise de problemas potenciais. Veja a Figura 1 a seguir:
18

Figura 1: Fluxograma de análise de situação

Procedem-se as análises de planeamento necessárias conforme o fluxo de análise de


situação e inicia-se a escolha de indicadores, independentemente, para cada acção,
com o objectivo de monitorar a execução do plano. Depois, define-se como serão
analisados os dados do monitoramento e de que formas serão aplicadas as medidas
mitigadoras, preventivas ou correctivas, que se fizerem necessárias.

3) Análise de problemas

Problemas ambientais são os impactos negativos que as actividades antrópicas


causam ao ambiente. Os factores de impacto (rejeitos ou modificações) são
classificados quanto ao meio físico impactado, ou quanto aos efeitos causados no
ambiente.

Enunciado do problema: São o objecto e o problema (defeito, ou desvio que o


mesmo apresenta. Ao responder as duas perguntas seguintes, estará definido o
enunciado do problema: 1) Qual é o objecto? (meio físico, processo, tarefa ou
efeito); 2) Qual é o problema? (desvio do padrão normal, ou defeito que o objecto
apresenta).
19

Especificação do problema: Para especificar correctamente o problema, responda o


questionário: Quê, Onde, Quando e Quanto está acontecendo?

Verificação das mudanças: É realizada através do cruzamento das informações do


questionário de especificação do problema com listas de verificação, fluxograma de
processo, etc. Neste momento vale a experiência da equipe envolvida. Ás vezes é
necessário recorrer a reuniões com “chuva de ideias” até que se consiga definir o
que, onde, quando e quanto mudou.

Identificação das causas potenciais das mudanças: Uma das ferramentas mais
utilizadas para encontrar causas potenciais é o diagrama de causa e efeito. Ao ser
comparado com as mudanças ocorridas, é possível determinar as principais causas
dos problemas. O indicador das causas potenciais é o momento em houve mudança
frente à especificação do problema. Se as mudanças aconteceram no mesmo instante
em que alguma causa possível entrou em acção e esta causa não é eliminada frente
às especificações do problema, então temos uma causa potencial.

Teste das causas – A verificação das causas pode ser factual através dos dados
disponíveis; real através de testes ou exames de laboratório; ou de resultados, através
da implantação de medidas correctivas e verificando o resultado.

Encontradas as causas potenciais e testando-as, temos as causas verdadeiras e, então,


é necessário passar para a próxima fase e decidir qual a melhor ação a ser tomada
para resolver o problema, é a fase de análise de decisão.

4) Análise De Decisão

Enunciado da decisão: É formulado por uma acção referente a um objecto e a uma


ou mais limitações quanto à decisão. O propósito da decisão ou tema central é o
nosso objecto, é o foco da decisão. A acção estimula o objecto. As limitações
restringem a decisão e a identificam. Os componentes do enunciado devem permitir
que se produza um grupo de alternativas comparáveis através de directrizes
obrigatórias ou desejáveis. A acção ou verbo que estimula o objecto da decisão
20

indicará como serão abordadas as alternativas. O enunciado identifica o grupo de


alternativas a considerar, enquanto as limitações restringem o grupo de alternativas,
apuram o enunciado e justificam a necessidade de se tomar uma decisão.

Directrizes para decisão: São as restrições que fazemos, ou seja, são os pré-
requisitos que utilizamos na escolha das alternativas para a decisão que temos de
tomar. Podem ser:

 Directrizes obrigatórias: São eliminatórias e indispensáveis;


 Directrizes desejáveis: São classificatórias, negociáveis e de importância
relactiva (recebem pesos diferentes quanto à sua importância).

O enunciado estando formulado, deve-se constituir um conjunto de alternativas para


decisão. Estas alternativas, de acordo com o conceito, são as opções de escolha na
tomada de decisão. Por exemplo, as áreas para implantação de um aterro sanitário,
os materiais para produção de uma embalagem, os processos para eliminação de
resíduos, etc.
A geração de alternativas dependem da experiência da equipe e devem basear-se,
principalmente, no enunciado da decisão, no desdobramento do enunciado, nas
directrizes e nas consequências adversas da decisão (riscos da decisão). O grupo de
directrizes deve levar em conta os efeitos causados pela decisão. Deve-se listar todas
as directrizes possíveis e imagináveis e depois seleccionar as que apresentam coesão
e que não apresentam redundância, classificando-as como obrigatórias e ou
desejáveis.

Directrizes obrigatórias: As directrizes obrigatórias podem ser de atributos cuja


presença ou ausência, ou cujo tipo determina que se elimine ou não uma alternativa.
Para as directrizes paramétricas, são atribuídos limites superiores e/ou inferiores a
partir dos quais a alternativa passa a ser desejável ou indesejável frente à directriz.

Directrizes desejáveis: As directrizes desejáveis devem receber pesos de acordo


com sua ordem de importância. Os pesos para cada uma das directrizes desejáveis
21

devem ser multiplicados por uma nota atribuída para cada alternativa com relação ao
atendimento ou não de cada directriz.

Comparação das alternativas frente às directrizes: Qualquer alternativa que não


atenda a uma das meretrizes obrigatórias deve ser eliminada. Alternativas não
eliminadas pelas directrizes obrigatórias são comparadas frente às directrizes
desejáveis; devem ter calculado a sua média ponderada frente aos pesos das
directrizes desejáveis para comparação entre si. As melhores alternativas são as que
atingem maior soma de pontos calculados pela soma do resultado da nota alcançada
pela alternativa referente a cada directriz multiplicada pelo peso da meretriz.

Avaliação dos riscos potenciais das decisões: Os riscos de qualquer decisão dizem
respeito à possibilidade de acontecer algo errado em função da decisão tomada e da
gravidade no caso de acontecer. Pode-se utilizar uma escala de risco de 0 a 10,
correspondente às probabilidades de 0% a 100% de acontecer algo errado com
relação à decisão tomada, o que deve se basear em dados históricos e na experiência
das pessoas envolvidas. A gravidade, ou importância do fato adverso, caso ocorra, é
calculado em relação ao todo considerado, procurando-se valorizá-lo
financeiramente. Uma ocorrência adversa será tanto maior, quanto maior o prejuízo
causado em relação ao todo;

É possível que todas as alternativas impliquem em alto ou altíssimo risco. Nesse


caso, não há conforto para a tomada de decisão e então se deve procurar novas
alternativas, ou mudar os critérios de decisão para que alternativas eliminadas
passem a fazer parte do grupo seleccionado. Pode-se, também, passar a considerar
alternativas com menor pontuação. Pode ser que seja possível adoptar alguma
medida em relação à alternativa para redução dos riscos envolvidos.

Para as alternativas com baixíssimo índice de risco, em geral, não há necessidade de


se prever acções preventivas ou protectoras. Enquanto que, as alternativas com
médio índice de risco sempre implicam em assoes para aumento do grau de conforto
em relação às mesmas e deve-se considerar como alternativas que necessitam
cuidados especiais para serem escolhidas. Contudo, é bom ressaltar que, as
22

alternativas com alto índice de risco, para serem escolhidas, necessitam de


justificativa e de medidas mitigadoras, protectoras ou preventivas sobre os riscos, de
forma a aumentar o grau de conforto quanto à decisão e permitir que sejam
escolhidas. Alternativas com altíssimo índice de risco devem ser eliminadas, excepto
no caso de que alguma medida possa ser adoptada para eliminar o risco.

5) Análise de problemas potenciais

A previsão de possíveis problemas futuros implica em formação, ou determinação de


padrões. Toda a possibilidade de ocorrência de desvio do padrão estabelecido ou
desejado é um problema potencial a ser considerado na análise.

Identificação do processo: Problemas potenciais referem-se à processos e para


identificação dos desvios que podem sofrer, é necessário a elaboração do fluxograma
do processo a ser analisado. O uso de diagramas de causa e efeito, quando cruzados
com fluxogramas de processos, auxiliam na identificação de problemas potenciais e
de suas causas e, também, auxiliam na avaliação de riscos e de identificação de
medidas a serem adoptadas para reduzi-los.

A identificação de processos é iniciada respondendo-se às cinco questões básicas


quanto ao processo a executar:

 Que temos de fazer ou realizar? (Qual é o processo);


 Onde? (Que ambiente e instalações estão envolvidos no processo);
 Quando? (Que prazos, datas e horários estão envolvidos);
 Quanto? (Quais são as metas do processo);
 Como? (De que maneira o processo é executado em cada fase).

A seguir, é necessário desenhar o fluxograma do processo e identificar nele os


pontos de mudança, ou seja de início do trabalho de outra pessoa, do início de outra
etapa, início do processamento em outra instalação, ou outra máquina, etc,
separando o processo em etapas bem definidas por atividade, local, operador,
equipamento, etc.
23

Identificação de problemas potenciais: Concluída a identificação do processo,


estaremos prontos para identificar o que pode dar errado devido ao: objeto do
processo, instalações, prazos, metas e forma de execução. Deve-se listar tudo o que
pode ser desvio ou erro no processo e como consequência dele, identificando cada
etapa crítica.

Riscos dos problemas potenciais: É utilizado o mesmo procedimento descrito na


“avaliação dos riscos potenciais das decisões” na secção “Análise de Decisão”.

Identificação das causas dos problemas potenciais: é realizada de forma idêntica


ao procedimento usado para identificação das causas na secção “Análise de
Problemas”.

Determinação de medidas mitigadoras, protectoras e preventivas: Utiliza-se o


mesmo procedimento adoptado na secção “Análise de Decisão”.

Concluída a análise de problemas potenciais, inicia-se a elaboração do plano.

6) Elaboração do plano

A primeira etapa de elaboração do plano vai da identificação do objecto do


planeamento até o desenvolvimento do plano de acções. Na segunda etapa da
elaboração do plano são desenvolvidos os sistemas de monitoramento e de controle
para o plano de ações e do próprio plano global. A sua apresentação deve seguir a
seguinte estrutura:

 Propósito do planeamento: É o tema ou assunto central;


 Revisão de literatura (informações): Dados e informações encontrados na
literatura que formem um histórico sobre o assunto, auxiliem a justificar o
planeamento, esclareçam o assunto;
 Visão sobre o tema (prognose): Perspectivas em relação ao assunto abordado no
planeamento;
24

 Objectivos: Descrever o que se pretende fazer em relação ao assunto abordado. É


onde se quer chegar, ou o que se quer ser em relação ao assunto;
 Missão: Expressar o compromisso dos responsáveis pela execução do plano
(organização ou equipe) com relação ao assunto do planeamento. É a razão de
ser do objecto ou do objectivo do planeamento. A missão deve visar a satisfação
de alguma necessidade externa;
 Políticas: Expressar as políticas para se atingir os objectivos e cumprir a missão;
 Classe do planeamento: Deixar claro o nível e tipo de planeamento e descrever
suas características principais. São as dimensões do planeamento.
 Problemas ocorridos, existentes e potenciais sobre o assunto: podem ser
abordados na revisão de literatura;
 Alternativas: Resumir a análise de decisão e listar as alternativas escolhidas
neste capítulo do plano;
 Directrizes (obrigatórias e desejáveis): Descrever as directrizes para escolha de
alternativas;
 Metas: Quantificar os objectivos para formar as metas a serem atingidas;
 Acções: Listar as acções necessárias para atingir os objectivas e metas de acordo
com as directrizes e prioridades estabelecidas (da análise de decisão);
 A l v o s a a t i n g i r: Priorizar e determinar prazos para atingir as metas. Definir
a qualidade a ser atingida em cada caso;
 Plano de acções para atingir os alvos/metas;
 Sistema de monitoramento: Quando se chega a esta fase do planeamento é
necessário ter em mãos um rascunho do plano para se identificar os parâmetros e
os atributos que devem ser monitorados, os quais serão os indicadores de que o
plano está sendo executado dentro dos critérios e padrões estabelecidos, ou não;
 Sistema de controlo: é a análise e interpretação dos dados do monitoramento e o
estabelecimento de acções ou medidas mitigadoras, preventivas e correctivas
com o objectivo de manter o que foi planificado dentro do padrão, ou para
melhorá-lo.
Nesta fase é necessário estabelecer as directrizes e a metodologia para análise do que
foi planejado e as responsabilidades com relação ao estabelecimento de medidas de
25

prevenção e correcção de desvios. O controle tem como função, também, a revisão


dos critérios para avaliação de desempenho na execução do plano de ações. É parte
do planeamento do sistema de controle a programação da análise crítica e das
auditorias, quando for o caso.

Sumário

A terra e um recurso infinito, porem alberga alguns recursos limitados. A gestão do


seu uso, pode permitir o adiamento dessa limitante ou ainda garantir a sua
existência para gerações futuras. Diversas metodologias e procedimentos vêm sendo
desenvolvidos e aplicados na análise dos recursos naturais, em geral, estes métodos
possibilitam comparar diversas alternativas de uso dos recursos naturais com base
na análise de diferentes cenários, advindos da adopção de cada uma das possíveis
alternativas. Algumas características de um plano são implícitas, mas devem estar
bem definidas e ser do conhecimento de quem participar da sua elaboração.

Exercícios
1. Qual a importância da terra?

2. Porquê planificar o uso da terra?

3. O que se deve ter em conta planificar o uso da terra?

4. Quais são as bases técnicas para a planificação de uso da terra?

5. Explica como a planificação contribui para a sustentabilidade do uso da terra.


26

UNIDADE II: INSTRUMENTOS LEGISLATIVOS DE USO DE TERRA

Introdução
Moçambique tem uma constituição, que rege regras e princípios á sociedade para que
possam conviver em harmonia. Nesta unidade iremos falar das políticas existentes que
pautam pelo uso e aproveitamento de terra em Moçambique, no tocante aos seus
princípios, prós e contra.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer os instrumentos legais que regem o uso e aproveitamento da terra;

 Conhecer os princípios da política nacional de terras;


Objectivos  Conhecer o impacto da política nacional de terras.

Instrumentos legais sobre terra


Existem instrumentos legais complementares à lei de terra nº 19/97 de 1 de Outubro
que tem como objectivo garantir o acesso e a segurança de posse de terra, tanto dos
camponeses moçambicanos, como dos investidores nacionais e estrangeiros como:
 Decreto do Conselho de Ministro nº15/2000, que aprova as Formas de
articulação dos órgãos locais do Estado com as autoridades comunitárias;
 A Resolução do Conselho de Ministros nº 7/95 de 8 Agosto, que Política
Nacional de Águas;
 A Lei nº 16/91, de 3 de Agosto, que aprova a Lei das Águas;
 A Lei nº 4/96, de 4 de Janeiro, que aprova a Lei do Mar;
 A Resolução do Conselho de Ministros nº 11/95 de 31 de Outubro, aprova a
Politica Agrária;
 A Lei n°21/97, de 01 de Outubro, aprova a Lei da Energia Eléctrica;
 A Lei n°3/2001, de 21 de Fevereiro, aprova a Lei dos Petróleos;
 A Resolução do Conselho de Ministros nº 5/95 de 3 de Agosto, aprova a
Politica Nacional do Ambiente;
 A Lei nº 20/97 de 1 de Outubro, aprova a Lei do Ambiente;
27

 O Decreto do Conselho de Ministros nº76/98, de 29 de Dezembro, aprova o


Regulamento de Avaliação de Impacto Ambiental;
 A Resolução do Conselho de Ministros nº8/97 de 01 de Abril, aprova a
Politica e Estratégia de Florestas e Fauna Bravia;
 A Lei nº10/99, de 7 de Julho, aprova a Lei de Florestas e Fauna Bravia;
 O Decreto do Conselho de Ministros nº 12/2002, de 06 de Junho, aprova o
Regulamento de Florestas e Fauna Bravia;
 Resolução do Conselho de Ministros nº 2/95, de 30 de Maio, aprova a
Política Nacional do Turismo;
 A Lei n°4/2004, aprova a Lei do Turismo;
 O Decreto do Conselho de Ministros nº 5/76, de 5 de Fevereiro, aprova o
Regulamento de nacionalização dos prédios;
 Decreto do Conselho de Ministros nº60/2006, de 26 de Dezembro, aprova o
Regulamento do Solo Urbano.

Os diplomas acima referidos compõem, em conjunto, a figura da “legislação


sobre terra”,

Importância Da Política Nacional De Terras (PNT)


A PNT toma em conta os principais usos da terra, incluindo o uso agrário, urbano,
mineiro, turístico e para infra-estruturas produtivas e sociais, tendo em conta a
protecção ambiental. A base da PNT é consensual e estabelece os mecanismos pelos
quais os recursos naturais podem ser explorados duma maneira equitativa e
sustentável, que seja:
 Recuperar a produção de alimentos e garantir a segurança alimentar;
 Criar condições para que a agricultura do sector familiar se desenvolva e
cresça, tanto em volume de produção como em índices de produtividade, sem
que lhes falte o seu recurso principal, a terra;
 Promover o investimento privado, utilizando de uma forma sustentável e
rentável a terra e outros recursos naturais, sem prejudicar os interesses locais;
28

 Conservar as áreas de interesse ecológico e gerir os recursos naturais de uma


forma sustentável, de forma a garantir a qualidade de vida da presente e
futuras gerações;
 Actualizar e aperfeiçoar um sistema tributário baseado na ocupação e no uso
de terra que possa apoiar os orçamentos públicos nos diversos níveis.

Princípios da PNT
 Manutenção da terra como propriedade do Estado, princípio consagrado na
Constituição da República;
 Garantia de acesso e uso da terra à população, bem como aos investidores.
Neste contexto, reconhecem-se os direitos costumeiros de acesso e gestão
das terras das populações rurais residentes, promovendo justiça social e
económica no campo;
 Garantia do direito de acesso e uso da terra pela mulher;
 Promoção do investimento privado nacional e estrangeiro, sem prejudicar a
população residente e assegurando benefícios esta e para o erário público
nacional;
 Participação activa dos nacionais com parceiros em empreendimentos
privados;
 Definição e regulamentação de princípios básicos orientadores para a
transferência dos direitos de uso e aproveitamento da terra, entre cidadãos ou
empresas nacionais, sempre que tiverem sido feitos investimentos no terreno;
 Uso sustentável dos recursos naturais de forma a garantir a qualidade de vida
para as presentes e futuras gerações, assegurando que as zonas de protecção
total e parcial mantenham a qualidade ambiental e os fins especiais para que
foram constituídas. Incluem-se aqui zonas costeiras, zonas de alta
biodiversidade e faixas de terrenos ao longo das águas interiores.
Estes princípios norteadores e os objectivos da PNT são resumidos na seguinte
declaração:
29

“Assegurar os direitos do povo moçambicano sobre a terra e outros recursos


naturais, assim como promover o investimento e o uso sustentável e equitativo
destes recursos.”

Inovações da Política Nacional de Terras

A PNT contém algumas inovações relativamente ao quadro legal vigente em 1995.


As principais inovações são:
 O reconhecimento dos direitos costumeiros sobre aterra;
 A necessidade de flexibilidade da lei;
 A formalização do informal.
Segundo a PNT, os sistemas costumeiros são já um recurso inquestionável e oferece
um serviço “público” a um custo quase zero para o Orçamento Geral do Estado, na
administração e gestão de terras nas zonas rurais, (Chiziane, 2007). Por exemplo,
estes sistemas funcionam eficazmente na reintegração da população deslocada no
interior do país e dos regressados dos países vizinhos. A PNT salientou a
necessidade de ter uma lei flexível, que não especificasse o que fazer em cada
situação cultural diferente, mas admitisse o princípio de que em cada região pudesse
funcionar o respectivo sistema de direitos consuetudinários, de acordo com a
realidade local.
Esta flexibilidade deveria permitir igualmente a sua actualização ao longo do tempo,
sem recorrer a revisões periódicas. Neste contexto, principalmente no que respeita
ao cadastro do sector familiar.

Principais constrangimentos jurídicos da PNT


As principais lacunas, insuficiências e contradições que resultam da aplicação
prática da referida Legislação são:
 Alta de critérios claros sobre a representação das comunidades locais e
transparência dos processos de consulta comunitária no âmbito da atribuição
do DUAT;
30

 Deficiente contribuição da legislação sobre terras para promover o


investimento privado estrangeiro, e assegurar benefícios para a população e
para o erário público nacional;
 Uso insustentável dos recursos naturais de forma a garantir a qualidade de
vida para as presentes e futuras gerações;
 Deficiente conhecimento e aplicação da legislação sobre terras pela
Administração Publica.

Sumário
A PNT e um conjunto de ferramentas legais que regem pelo uso da terra. Estas
ferramentas estabelecem os mecanismos pelos quais os recursos naturais podem ser
explorados duma maneira equitativa e sustentável. A falta de transparência na
atribuição de DUAT, deficiência da legislatura em beneficio as populações locais,
uso irracional da terra e deficiente conhecimento e aplicação da lei por parte da
função publica mostram ser principais lacunas e contradições desta politica.

Exercícios

1. Enuncie a essência da PNT.


2. De que forma a PNT contribui para o uso de terra sustentável?
3. De que forma pode flexibilizar-se a aplicação de lei de terra?
4. Como gerir o conflito entre o direito á terra adquirido pela população local e
o uso racional da terra?
5. Tendo em conta os princípios da PNT, de que forma podem ser ultrapassados
os constrangimentos desta?
31

UNIDADE III: INTRODUÇÃO AO ZONEAMENTO

Introdução
O zoneamento é o planeamento da ocupação espacial de forma ordenada e de acordo
com suas características e potencialidades, para se proceder a classificação de áreas
para ocupação e para monitoramento das acções antrópicas. em determinadas
situações, são considerados como instrumentos do planeamento, pois é um produto
que subsidia a elaboração de normas além de fornecer melhores critérios à gestão do
território. Desta maneira, nesta unidade iremos falar dos diferentes tipos de
zoneamento e sua aplicação no planeamento.

Zoneamento vem sendo utilizado desde quando as sociedades foram formadas, pois
os homens sentiram a necessidade de “esquadrinhar” seus territórios para distribuir
suas actividades de maneira organizada (Del Prette & Matteo, 2006).

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer a essência do zoneamento;

 Conhecer a importância do zoneamento;

Objectivos  Saber identificar os diferentes tipos de zoneamento.

Importancia do zoneamento

Zonear é a compartimentação de uma região em porções territoriais, obtida pela


avaliação dos atributos mais relevantes e de suas dinâmicas. Cada compartimento é
apresentado como uma “área homogênea”, ou seja, uma zona (ou unidade de
zoneamento) delimitada no espaço, com estrutura e funcionamento uniforme. Cada
unidade possui alto grau de associação dentre si, com variáveis solidamente ligadas,
mas significativa diferença ente ela e os outros compartimentos (Santos, 2004).
32

Antes de tudo, zoneamento é um trabalho interdisciplinar predominantemente


qualitativo, mas que lança mão do uso de análise quantitativa, dentro de enfoques
analítico e sistêmico. O enfoque analítico refere-se aos critérios adoptados a partir
do inventário dos principais temas, enquanto que o enfoque sistêmico refere-se á
estrutura proposta para a integração dos temas e aplicação dos critérios, resultando
em síntese do conjunto de informações (Santos, 2004).

A realização do zoneamento consiste no levantamento das informações geográficas,


que por sua vez vão formar um banco de dados geográficos sobre o referido
território que deve ser continuamente atualizado (Medeiros, 1999). Como esta
identificação das informações e potencialidades deve ser atualizada
permanentemente e em tempo real, Becker & Egler (2006) afirmam que actualmente
só é possível com o desenvolvimento de técnicas de colecta, tratamento e análise de
informações por meio de Sistemas de Informações Geográficas, que permitem o
estabelecimento de relações espaciais entre informações temáticas
georreferenciadas.

Após levantamento das informações e estruturação de um banco de dados, esses são


espacializados e/ou modelados. A partir da modelagem dos dados contidos nesse
banco de dados geográficos e da combinação adequada (agrupamento em zonas
homogêneas) das informações geradas a partir destes dados, são produzidas análises,
diagnósticos e prognósticos ambientais que servirão de base para o zoneamento e
fornecerão os subsídios à gestão do território. Tais produtos caracterizam-se por
conterem informações integradas do território, expressando as potencialidades,
vocações, fragilidades, susceptibilidades, acertos e conflitos. O resultado do
zoneamento pode ser apresentado na forma de mapa, matriz ou índice (Santos,2004).

Tipos De Zoneamento

Com o grande desenvolvimento em tecnologias, principalmente com o avanço no


que se diz respeito aos sistemas de informações geográficos e técnicas de
zoneamento, houve o aperfeiçoamento da criação de zonas homogéneas e
33

disseminação do zoneamento em outras áreas do conhecimento. Desta forma, a


seguir serão apresentados alguns tipos de zoneamentos:

1) Zoneamento Urbano

O Zoneamento urbano é o instrumento legal que o planeamento urbano tem para a


implantação de planos de uso do solo, assegurando a distribuição adequada dos usos
do solo em uma área urbana, com padrões urbanísticos que garantam condições
mínimas de habitabilidade e sustentação de necessidades básicas.

2) Zoneamento econômico ecológico (ZEE)

O ZEE que tem como objectivo diagnosticar vulnerabilidades e potencialidades


naturais e socioeconômicas, bem como fazer o arranjo jurídico-institucional,
prognosticar uso do território e tendências futuras e propor diretrizes de proteção,
recuperação e de desenvolvimento com conservação.

3) Zoneamento Ambiental

É o zoneamento que leva em consideração, inicialmente, apenas o aspecto


preservacionista. O termo, posteriormente, evolui para Zoneamento Ecológico-
Econômico, com a prerrogativa de englobar as questões social e econômica à
ambiental.

4) Zoneamento Geoambiental
É um tipo de zoneamento voltado para os elementos e aspectos naturais do meio
físico e biótico, de forma a se obter zonas que apresentam as potencialidades de
suporte do meio físico de acordo com os condicionadores naturais, em função dos
modificadores socioeconômicos. Estas informações permitem a adequação das
necessidades socioeconômicas às possibilidades físicas e ecológicas da região,
resultando na ocupação ordenada e sustentável do território. Ohara et al (2003) em
um zoneamento geoambiental para determinar a aptidão física da implantação de
obras viárias, concluiu que o zoneamento geoambiental mostrou-se bastante
34

adequado para os diversos planificadores que buscam subsídios técnicos para a


definição e prioridades nos estudos de obras de engenharia, recursos hídricos, uso
agrícola direcionado, planejamento territorial, proteção ambiental, dentre outras
aplicações relacionadas com o meio físico.

5) Zoneamento agroclimático, ecológico, agrícola e agroecológico


A determinação da aptidão climática de áreas para o cultivo de espécies de interesse
agrícola é a base do zoneamento agroclimático. Como o solo é o outro componente
do meio físico que é mais utilizado na agricultura, pode-se fazer a delimitação da
aptidão de áreas sob o aspecto edáfico e juntá-las à climática, formando o
zoneamento edafoclimático ou ecológico das culturas. O denominado zoneamento
agrícola envolve o zoneamento ecológico e o levantamento das condições
socioeconômicas das regiões, para delimitar a vocação agrícola das terras (Pereira et
al, 2002).

Zoneamento agroecológico envolve o estudo do uso do solo para a agricultura,


pecuária, silvicultura, extrativismo, conservação e preservação ambiental, a partir da
elaboração de mapas com informações sobre caracterização climática, solos, aptidão
agrícola, cobertura vegetal e uso das terras, potencial para uso de máquinas,
sustentabilidade à erosão, e potencial social para diferentes actividades. Com estas
formas de zoneamento é possível determinar o que e onde será possível plantar;
quais as limitações de uso do solo, em atividades agropecuárias; quais as causas da
poluição ambiental e da erosão do solo, o que pode ser feito para combater esses
problemas; e como reduzir os gastos com insumos agrícolas, aumentando a
produtividade e mantendo a qualidade da produção, facilitando o rendimento da
mão-de-obra.

6) Zoneamentos na área da saúde


A utilização de mapas e a preocupação com a distribuição geográfica de diversas
doenças é bem antiga, porém vem sendo aplicado mais intensamente nos últimos
anos devido ao advento de Sistemas de Informação Geográficas, e com isso, houve a
grande melhoria nos serviços de Saúde Pública (Carvalho et al, 2000).
35

7) Zoneamento Linguístico
Este zoneamento aplica-se na identificação e distinção das diversas línguas falantes
em determinada região e culmina com elaboração de atlas linguísticos regionais.

Possíveis Erros Do Zoneamento

Para tentar amenizar possíveis erros ou dificuldades encontradas em zoneamentos, a


seguir será descrito alguns tipos de erros que didacticamente foram divididos em
erros conceituais, erros metodológicos, erros inerentes ao processo.
1) O erro conceitual: é quando um zoneamento no qual determinadas zonas são
demarcadas por uma única actividade ou processo dominante e não pela
integração de dados comuns a todas as zonas. Sem integração, o resultado não é
representativo do meio.
Outro erro conceitual é adoptar como sinónimos planeamento e zoneamento. O
zoneamento é uma estratégia metodológica que representa uma etapa do
planeamento, enquanto o planeamento estabelece directrizes e metas a serem
alcançadas dentro de um cenário temporal para esses espaços desenhados. Quando o
zoneamento está finalizado, há todo um trabalho adiante de definição de directrizes,
programas, participação pública, consenso entre cenários e definição de premissas
gerenciais.
2) Erro metodológico: a metodologia empregada deve ser criteriosamente
observada de acordo com o objectivo do zoneamento. Dependendo da
metodologia aplicada á geração de dados espaciais e determinações de zonas
homogéneas são inferidas mudanças abruptas nos limites entre superfícies contínuas
e características primárias (como por exemplo: temperatura, relevo, precipitação,
entre outros), como por exemplo, quando existe diferenciação entre relevo suave e
íngreme, percebe-se uma mudança gradual de uma característica para outra, e não
uma mudança brusca como quando utiliza lógica, criando-se áreas ambíguas.
3) Outros erros: Outro erro bem comum quando se trabalha com dados
espacializados é a questão da escala de trabalho, onde em escalas com menor
nível de detalhamento (escalas pequenas. Ex: 1:200.000) os dados de
características pontuais não serão significativos dentro do seu zoneamento.
36

Cabe ressaltar que ao se utilizar escalas diferentes podem ocorrer deslocamentos de


informações entre uma característica e outras. Deve ser lembrado que no próprio
processo de zoneamento existe o erro inerente a este instrumento, pois como o
resultado é oriundo através da sobreposição de outras informações a fim de se obter
zonas homogéneas, e para obtenção de cada parâmetro deste existe um tipo de erro,
o resultado obtido no final do processo terá um erro embutido, ou então o
planificador tenta afunilar ao máximo o nível de informações que acabará não
obtendo resultados significativos tornando o projecto de zonear muito trabalhoso.
Assim cabe o planificador verificar a confiabilidade do resultado final obtido.

Sumário
Zoneamento exige uma série de entendimentos prévios. Sua aplicação ou utilização
em relação a um determinado espaço geográfico exige método, reflexão e
estratégias próprias. Não existe qualquer possibilidade de dar à questão um
tratamento empírico ou endereçar a ela uma abordagem linear. Desta maneira, os
princípios de um verdadeiro zoneamento não têm condições de serem aplicados a
todo e qualquer tipo de região geográfica e social. Por sua vez, quando aplicável a
uma determinada área ou espaço, requer uma multidisciplinaridade plena, pelo
facto de pretender identificar as potencialidades específicas ou preferenciais de
cada um dos subespaços ou subáreas do território em estudo.

Exercícios
1. Fale da importância de se fazer o zoneamento de uma região.
2. Qual o enquadramento de cada um dos tipos de zoneamento que estudaste?
3. Quando ocorre o erro conceitual e como ultrapassa-lo?
37

UNIDADE IV: O ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÓMICO (ZEE) COMO


INSTRUMENTO DE PLANEAMENTO

Introdução
A presente unidade tem como objectivo fazer uma análise da importância do
Zoneamento Ecológico Económico (ZEE) como instrumento a ser utilizado na
planificação ambiental. Isso significa especificamente sublinhar a sua função de
ordenação da ocupação do solo no sentido de evitar ou, pelo menos, contribuir para
as acções correctivas e preventivas contra possíveis problemas ambientais,
proporcionando o desenvolvimento sustentável.
Contudo, a sustentabilidade ambiental abrange o campo das políticas públicas
estratégicas, capazes de actuar adequadamente no presente e de planejar o futuro.
Nesse sentido, entendemos que o ZEE envolve além do aspecto técnico, o aspecto
político do planeamento ambiental, colocando em relevo a participação democrática
com responsabilidades entre as administrações públicas e sociedade civil.
É ligado à concepção de desenvolvimento sustentável que se pode definir o ZEE
como sendo um instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente
utilizado na implantação de planos, de obras e actividades públicas e privadas. Desse
modo, ele estabelece medidas e padrões de protecção ambiental destinados a
assegurar a qualidade ambiental dos recursos hídricos e do solo e a conservação da
biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das
condições de vida da população (BRASIL, 2002).
Contudo, o ZEE está relacionado com um dos objectivos do planeamento ambiental
que consiste em identificar as fragilidades e as potencialidades do local de estudo
favorecendo a natureza. Tal meta visa principalmente à recuperação daquilo que foi
degradado na natureza e assim preservar e conservar o cenário ecológico existente.
38

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer os princípios do ZEE;


Objectivos  Conhecer a importância do ZEE;

 Conhecer os princípios da cartografia das unidades paisagísticas;

Princípios do ZEE
 Participativo: Os actores sociais devem intervir durante as diversas fases dos
trabalhos, desde a concepção até a gestão, com vistas à construção de seus
interesses próprios e colectivos, para que o ZEE seja autêntico, legítimo e
realizável;
 Equitativo: Igualdade de oportunidade de desenvolvimento para todos os grupos
sociais e para as diferentes regiões;
 Sustentável: O uso dos recursos naturais e do meio ambiente deve ser
equilibrado, buscando a satisfação das necessidades presentes sem comprometer
os recursos para as próximas gerações;
 Holístico: Abordagem interdisciplinar para a integração de factores e processos,
considerando a estrutura e a dinâmica ambiental e económica, bem como o
factor histórico evolutivo do património biológico e natural.
 Sistémico: Visão sistémica que propicie a análise de causa e efeito,
permitindo estabelecer as relações de interdependência entre os subsistemas
físico-biótico e sócio-económico.

A Importância Do ZEE Para Planeamento Ambiental


O Zoneamento é uma estratégia metodológica que representa uma etapa do
planeamento porque ocorre uma classificação específica das zonas. Segundo Santos
(2004), o Zoneamento Ecológico Económico serve de subsídio para a formulação de
políticas territoriais voltadas para a protecção ambiental, a melhoria das condições
de vida da população e a redução dos riscos de perda de capital natural. Esse
39

instrumento estabelece zonas de planeamento a partir de uma avaliação sistémica


dos elementos naturais e socioeconómicos, no qual o resultado é a elaboração de
normas de uso e ocupação da terra e de maneio de recursos naturais sob uma
perspectiva conservacionista e de desenvolvimento económico e social.
Portanto quando se busca a sustentabilidade de uma região, o ZEE é importante. Tal
importância se refere aos conhecimentos sobre as características sociais, culturais,
económicas e ambientais e a implementação de políticas públicas por meio desse
zoneamento. A relação de dependência entre o desenvolvimento económico e a
preservação ambiental põe de modo explícito a necessidade do planeamento
ambiental, destacando o uso do ZEE. Isso significa que os processos de
industrialização, de urbanização e crescimento demográfico, degradação e poluição
ambiental ao disputar o espaço limitado da terra e da natureza entram muitas vezes
em confronto com o desenvolvimento sustentável, tornando mais necessário ainda a
realização do planeamento ambiental aliado ao ZEE.
O Zoneamento ecológico económico compreende duas actividades: uma técnica
(que formula um bom banco de dados e informa sobre o território, definindo áreas
prioritárias e prognósticas) e outra, política (que propicia interacção entre governo e
sociedade civil para estabelecer áreas prioritárias no planeamento).
O ZEE tem como propósito determinar a capacidade de suporte de uma determinada
área para uma determinada acção atrófica independentemente de sua implementação,
sempre associando a ela os factores ambientais pertinentes.
Contudo, o ZEE deve ser considerado um instrumento importante na organização do
território, no que se refere à óptica da sustentabilidade dos recursos naturais.
Portanto se faz necessário atentar para fazer o planeamento ambiental com vistas ao
desenvolvimento sustentável para possibilitar o bem-estar da população tanto no
presente como no futuro.

O ZEE Na Óptica Da Sustentabilidade


A sustentabilidade ambiental necessita de uma organização do território para haver
prevenção contra os problemas ambientais causados pela ocupação desordenada da
cidade. Nesse caso, o ZEE aparece como a premissa básica para identificar
40

potencialidades e limitações ecológicas, económicas e sociais, considerando os


impactos directos e indirectos para a sociedade, caso não esteja preparada para
enfrentar possíveis problemas ambientais.
A perspectiva da sustentabilidade satisfaz as necessidades da sociedade e demandas,
trazendo eficiência económica, com a maximização dos benefícios derivados do uso
dos recursos naturais para todos os cidadãos e tenta conservar as funções ecológicas,
significando a garantia das condições de evolução natural dos ecossistemas.
Na óptica da sustentabilidade, o instrumento de ordenação de território orienta a
conservação dos recursos naturais com critérios, garantindo a oferta destes para as
gerações futuras, após ser submetido à ampla participação e negociação com os
diversos atores envolvidos no processo.
Steinberg e Romero (2003) acredita que o desenvolvimento sustentável foi
redefinido como um modelo que visa a conciliar conflito relativo à ocupação
territorial. A regulação do território passou a ser abordada segundo três princípios
básicos - eficácia, valorização da diferença e descentralização. O autor também
considera que a ferramenta ZEE foi considerada como instrumento de gestão
territorial técnico (provê informação integrada em uma base geográfica e classifica o
território segundo suas potencialidades e vulnerabilidades) e político (permite
integrar políticas públicas e é instrumento de negociação entre esferas do governo,
sector privado e a sociedade civil).
Contudo, surge a necessidade da existência de um prévio ZEE elaborado sob
criteriosos parâmetros, subsidiado pelos profissionais multidisciplinares dos órgãos
ambientais, participação da sociedade, entre outros, para que possam realizar essa
actividade com efeito positivo, com vista à sustentabilidade da região, em beneficio
das presentes e futuras gerações.

Metodologia Do ZEE
Considerando os objectivos do ZEE e os seus princípios norteadores, as directrizes
metodológicas para elaboração do Zoneamento Ecológico-Económico são divididas
em quatro etapas principais, a saber: planeamento, diagnóstico, prognóstico e
subsídios à implementação, cada qual com suas subdivisões.
41

Em uma visão generalizada, o ZEE parte de uma abordagem ampla de detecção de


problemas e métodos a serem aplicados na busca de solução desses problemas. Do
ponto de vista operacional, os resultados obtidos deverão ser considerados para a
elaboração de estratégias e políticas, buscando encontrar os meios exactos para
integrar variáveis ambientais, sociais e económicas envolvidas nos projectos.
1) Planeamento: são identificadas as demandas técnicas, financeiras, institucionais
e sociais, além de mobilizados os recursos financeiros e humanos necessários à
execução do projecto. Geralmente os projectos de ZEE demandam de um
diagnóstico sócio-económico e ambiental abrangente, o que requer uma grande
diversidade de profissionais, estudiosos e pesquisadores de diversas áreas. O
grande desafio, contudo, é a conciliação de todos estes profissionais a um ponto
de vista e objectivos comuns, sem que nenhuma das subáreas fique renegada ao
segundo plano e, ao mesmo tempo, gerir e administrar as divergências.
2) Diagnóstico: é onde ocorre o levantamento dos dados e a elaboração de uma
base de informações. Nesta etapa são levantadas todas as características
ambientais e sócio-económicas da região, além dos factores jurídicos e
institucionais que de alguma forma influenciem na dinâmica e planeamento
local. Cabe ressaltar que o diagnóstico não consiste em um levantamento
aleatório e exaustivo de dados, mas sim em um procedimento específico de
correlação e síntese de informações viabilizada pela utilização de modernas
técnicas de geoprocessamento e interpretação de imagens de satélite. O objectivo
central desta etapa é a caracterização, a mais detalhada possível, da situação
actual a fim de embaçar a construção dos cenários e a formulação de propostas
para a elucidação dos problemas encontrados nas etapas subsequentes.
3) Prognóstico consiste exactamente na prospecção de cenários a partir da
correlação das informações levantadas com a situação actual. Tendo, assim, o
objectivo de simular possíveis situações a fim de orientar o planificador e o
gestor público na identificação de problemas e na escolha de possíveis
alternativas e soluções mais adequadas ao desenvolvimento sustentável. Estes
cenários devem ser construídos considerando sempre a participação efectiva de
todos os actores envolvidos no processo.
42

4) Subsidiar e auxiliar a implementação das propostas balizadas no ZEE e o apoio


à gestão ambiental local. Uma das ferramentas, para tal, consiste na estruturação
de um Sistema de Informação, com a finalidade de organizar e concentrar as
informações e ao mesmo tempo descentralizar o seu acesso contando com ampla
divulgação à todos os agentes envolvidos. Segue abaixo um organograma
representativo das etapas metodológicas de elaboração do ZEE.

Figura 2: Etapas metodológicas de elaboração do ZEE (Ferreira, 2011)

Cartografia das unidades paisagísticas

A cartografia é um instrumento importante no adequado desenvolvimento dos


procedimentos de planeamento e de ordenamento do território, pois permite a partir
de mapas e bases cartográficas, visualizar o arranjo espacial tradicional e colectivo
da terra, demonstrando os seus diversos usos.

A unidade de paisagem é reconhecida como resultado da conjunção de factores


distintos como a história geológica, a morfogênese do relevo, o clima em seu
movimento, a dinâmica biológica e a participação da acção humana em sua evolução
histórica.
43

Um aspecto importante sobre a elaboração dos mapas, segundo Acselrad (2013), é


saber quem mapeia quem. Muitas vezes são actores externos como ONGs, entidades
ambientalistas, antropólogos que convidam os ocupantes de um determinado
território para participar da elaboração de seus mapas.
Os actores, cada vez mais, entendem que eles próprios devem conduzir o processo
de mapeamento de seus territórios. A participação pode ser entendida como o direito
de participar na tomada de decisões e o direito à liberdade de expressão, o acesso à
informação e a liberdade de associação.
Visto desta perspectiva, a participação implica ir além e acima do nível local de
processo de consulta para garantir a participação dos agentes sociais nos mais
amplos sistemas de tomada de decisão formais e informais. Isso inclui ampliar e
representar as vozes, interesses e necessidades e fortalecê-los para que reivindiquem
seus direitos e mantenham suas instituições responsáveis nas decisões que afectam
seus modos de vida (Plessman, 2013).
O raciocínio para elaboração da cartografia das unidades de paisagem segue um
fluxo de referencia metodológica que parte da conscientização sobre os
questionamentos que são feitos sobre o ambiente, que devem ser dirigidos tanto a
natureza bem como a sociedade.
Para se efectivar a cartografia tem que se considerar fundamental o conhecimento
lito-geomorfológico, em nível dinâmico da realidade que deverá ser colocada sobre
o mapa. Assim, a superfície terrestre modelada em formas esculturais do relevo deve
ser relacionada não só as rochas e aos arranjos estruturais de diferentes idades e
origens que as sustentam, bem como as formações superficiais e aos solos
decorrentes que as recobrem. Não menos importante é a actuação combinada dos
fluxos climáticos e do relevo da litosfera, considerados em constante estado de
evolução.
No estágio seguinte, a reflexão deve avaliar a vegetação real e respectivas tendências
dinâmicas de suas associações no espaço produzido pelas relações sociais
dinamizadas pela sucessão dos modos de produção anteriores e actuais da
humanidade. Nessa operação poderão emergir conjuntos espaciais que delineariam
44

um esboço preliminar voltado para a articulação das unidades paisagísticas que


estruturam o espaço geográfico.
O ultimo momento dessa elaboração metodológica considerada um raciocínio de
síntese, o qual confirma a delimitação dos agrupamentos de elementos espaciais
caracterizados por agrupamentos de atributos. Estes por sua vez, exibirão
combinações características, podendo ou não corresponder, a um fragmento de serie
de vegetação, ou vários fragmentos de diferentes series, em conformidade com a sua
extensão territorial e funcionalidade paisagística, nos quais, alem da dinâmica da
natureza, estaria presentes também os movimento das actividades da sociedade
humana que lhes confirmaria particularidades vitais específicas.
Esses conjuntos espaciais assim determinados e transportados sobre o mapa
encontrarão referência na composição da legenda mediante aspectos concisos que
definiriam as respectivas unidades de paisagem.
A legenda, assim concebida, estará em condições de fornecer total transparência a
estrutura resultante da metodologia empreendida na realização do mapa, desde a
tomada de uma posição para a interpretação e compreensão da realidade, ata a
formalização de sua exposição mediante estruturas abstractas, mobilizando, para
tanto, o emprego racional e correcto das directrizes para uma adequada sintaxe da
linguagem da representação gráfica.
A legenda é um construto obrigatório; veicula o significado dos signos adoptados na
representação gráfica, na qual a verbalização é indispensável para suprir as
limitações da visualização. Ela diz o que exige uma tradução verbal e aparece onde
termina a linguagem gráfica visual, onde seria ininteligível sem recorrer a
transcrição verbal. Torna-se assim, chave de leitura indispensável à análise e
interpretação do conteúdo do mapa.
Nesse sentido, a legenda comporta uma organização numa sequência progressiva de
divisões e subdivisões do tema em três níveis. No primeiro desenvolve-se três
grandes agregados de unidades de paisagem escalonadas das mais naturais,
paisagens semi-naturais e produzidas pela sociedade.
No segundo nível, tem o arranjo de amplos complexos eminentemente
geomorfológicos ancorados em coesas origens estruturais. No terceiro nível, conta-
45

se com a individualização das unidades de paisagem; cada uma delas, será definida
com as principais características, contemplando assim, a coordenação dos blocos que
a legenda estrutura.

Sumário
É de considerar o ZEE como fundamental a sustentabilidade dos recursos naturais,
permitindo a sua utilização sem exaustão. Nesse contexto, considera-se o
Zoneamento Ecológico Económico (ZEE) como um instrumento necessário a
planificação ambiental, contribuindo não só para assegurar a qualidade ambiental
dos recursos naturais como também para a ocupação ordenada do território. Dessa
forma, pode-se concluir que o uso do ZEE no planeamento ambiental contribui
enormemente para mitigar a degradação dos recursos naturais, favorecendo o bem-
estar da população. A cartografia é uma ferramenta fundamental para
concretização do ZEE, consiste basicamente em etapas sucessivas de raciocínio
analíticos que consideram a vegetação e sua dinâmica, vegetacao real e as
respectivas tendências evolutivas no espaço produzido pelas relações sociais; e
culmina com um raciocínio de síntese que confirma a delimitação de conjuntos
espaciais, que são agrupamentos de lugares caracterizados por agrupamentos de
atributos (unidades de paisagem) que se mostram traçados sobre um mapa com o
apoio da base topográfica.

Exercícios
1. Caracterize o ZEE.
2. Fale da importância do ZEE como instrumento de planeamento.
3. De que forma o ZEE instrumentaliza-se para o planeamento?
4. Como o ZEE contribui para a sustentabilidade dos recursos naturais?
5. Qual a etapa primordial na realização do ZEE?
46

UNIDADE V: RECURSOS NATURAIS E INFRA-ESTRUTURAS

Introdução
A terra, incluindo atributos como água, solo, litologia e vegetação, pode ser
considerada talvez como o principal recurso disponível para o desenvolvimento
económico em regiões tropicais. No planeamento do uso do solo, os diversos
atributos da terra são analisados e avaliados com vistas a um uso óptimo e
sustentável. As principais informações requeridas sobre esses atributos são a sua
distribuição espacial, os padrões (forma e arranjo das unidades de recursos) e o tipo
de recurso. A análise dos padrões actuais de uso do solo e dos factores económicos e
sociais que afectam o uso do solo também é importante no processo de planeamento.
Diversas metodologias e procedimentos vêm sendo desenvolvidos e aplicados na
análise dos recursos naturais, permitindo diversos níveis de enfoque, de acordo com
as necessidades dos responsáveis pela tomada de decisões. Em geral, estes métodos
possibilitam comparar diversas alternativas de uso dos recursos naturais com base na
análise de diferentes cenários, advindos da adopção de cada uma das possíveis
alternativas.
Nesta unidade iremos falar das condições para o levantamento do meio físico em
relação aos recursos naturais, dando ênfase aos seus critérios primordiais.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer os princípios para levantamento do solo;


 Explicar a relevância do levantamento do solo
no planeamento de terra;
Objectivos  Conhecer os factores que exercem influencia no solo.

Conceito
47

Os levantamentos de solos envolvem pesquisas de gabinete, campo e laboratório,


compreendendo o registro de observações, análises e interpretações de aspectos do
meio físico e de características morfológicas, físicas, químicas, mineralógicas e
biológicas dos solos, visando à sua caracterização, classificação e principalmente
cartografia.
Um levantamento pedológico é um prognóstico da distribuição geográfica dos solos
como corpos naturais, determinados por um conjunto de relações e propriedades
observáveis na natureza. O levantamento identifica solos que passam a ser
reconhecidos como unidades naturais, prevê e delineia suas áreas nos mapas/cartas,
em termos de classes definidas de solos.
Um programa de levantamento pedológico requer a existência de um sistema
organizado de classificação em caráter permanente de atualização, que possibilite a
identificação dos solos, em termos consistentes e uniformes, para facilitar a
comunicação e o uso de informações para fins interpretativos.
O elo entre a classificação de solos e o levantamento fica estabelecido no momento
em que solos semelhantes quanto às propriedades consideradas são reunidos em
classes. As classes de solos combinadas com informações e relações do meio
ambiente constituem a base fundamental para composição de unidades de
mapeamento. Assim, a unidade de mapeamento é o grupamento de área de solos,
estabelecido para possibilitar a representação em bases cartográficas e mostrar a
distribuição espacial, extensão e limites dos solos.
De maneira geral, um levantamento identifica e separa unidades de mapeamento.
Compreende um mapa com legenda e um texto explicativo, que define, descreve e
interpreta, para diversos fins, as classes de solos componentes das unidades de
mapeamento.
O mapa/carta é parte fundamental de um levantamento. Mostra a distribuição
espacial de características dos solos e a composição de unidades de mapeamento, em
termos de unidades taxonômicas, ressaltando também, características do meio
ambiente.
48

Importância do levantamento do meio físico


Os levantamentos pedológicos têm objetivos diversificados, desde a geração de
conhecimentos sobre o recurso solo de um país ou região, até o planeamento de uso
da terra para diversos fins, em nível de propriedade.
O objetivo principal de um levantamento pedológico é subdividir áreas heterogêneas
em parcelas mais homogêneas, que apresentem a menor variabilidade possível, em
função dos parâmetros de classificação e das características utilizadas para distinção
dos solos.
Contudo, Os levantamentos pedológicos contribuem para o acervo de conhecimentos
especializados na área de Ciência do Solo, bem como fornecem dados de
aproveitamento imediato, sobretudo no que se relaciona à previsão de
comportamento de uso dos solos em relação às práticas de manejo e conservação.
Contêm informações que permitem repartir áreas heterogêneas em porções mais
homogêneas, que apresentam a menor variabilidade possível, em função da escala de
mapeamento, dos parâmetros de classificação e das características utilizadas para
distinção dos solos. Tais informações são essenciais para a avaliação do potencial ou
das limitações de uma área, constituindo uma base de dados para estudos de
viabilidade técnica e econômica de projetos e planejamento de uso, maneio e
conservação de solos.
Os levantamentos de solos podem atender a instituições de assistência técnica, de
planeamento e de execução de projectos, para fins de estudos de viabilidade técnica
de projetos de irrigação e drenagem, avaliação de aptidão agrícola, zoneamentos
diversos, extrapolação de resultados de pesquisas, indenização de áreas inundadas
por represas hidrelétricas, subsídio ao estudo de impactos ambientais e seleção de
áreas experimentais. Podem também fornecer subsídios para elaboração de estudos
da capacidade de uso da terra, de cartas morfopedológicas e de estudos
geoambientais.

Unidades Básicas de Referência


O indivíduo solo: Cline (1990) identifica indivíduo como “o menor corpo natural,
definível por si próprio”. Os indivíduos de interesse para a classificação passam a ser
49

membros de classes. Logo, um indivíduo pode representar somente um objecto do


universo sob consideração; o indivíduo é completo e indivisível.
Em taxonomia de solos, o indivíduo solo não é perfeitamente distinto, é uma
entidade imaginária, criada artificialmente por conveniência. O indivíduo solo é uma
concepção teórica. É alguma coisa dentro de certos limites estabelecidos pela mente
humana e não coincide necessariamente com as regras da natureza. É, portanto,
dependente de limites de classe impostos pelo homem, para atender esquemas de
classificações locais e por isso, muito difícil que seja transferido para outros
esquemas.
Pedon e Polipedon: nos sistemas modernos de classificação de solos, têm ampla
preferência os conceitos de pedon e polipedon, como unidades básicas de referência
taxonômica e também como elementos de transferência da concepção teórica do
indivíduo solo para o reconhecimento, no campo, de unidades taxonômicas e por
fim, unidades de mapeamento.
O pedon é uma unidade básica de referência, tridimensional, com limites e
dimensões arbitrárias, cuja área é determinada pela variabilidade lateral das
características utilizadas em taxonomia de solos. Não possuem limites concretos e
muitas características se superpõem às de outros pedons e existem em número
infinitamente grande .
Polipedon é uma área de solos constituída por agrupamento de pedons semelhantes,
cujos limites laterais coincidem com os limites de outros conjuntos de pedons e cuja
profundidade é determinada pelos pedons que o constituem. Para fins de
mapeamento, o polipedon é o elemento de ligação entre a classe de solo e a
paisagem. Tem limites laterais estabelecidos pelos critérios de classificação e
coincide com a classe de solo no nível categórico mais baixo da taxonomia de solos.
Desta forma, o polipedon tem limites objectivos, coincidindo com unidades
geográficas básicas de solos que servem ao propósito de identificação e
delineamento de classes no campo.
Perfil: um perfil de solo é definido como um corte vertical na superfície da terra,
que inclui todos os horizontes pedogeneticamente inter-relacionados e/ou camadas
que tenham sido pouco influenciadas pelos processos pedogenéticos.
50

O perfil é uma face exposta do solo, que é reconhecido, classificado e descrito no


campo. Somente em situações muito raras é que um perfil coincide com as
dimensões de um pedon. Por isso, o conceito de pedon (unidade básica de referência
para classificação) é normalmente estabelecido mediante observação, descrição,
coleta e interpretação de dados morfológicos e analíticos de vários perfis
representativos de um determinado segmento da paisagem.
Classe de solo: é definida como um agrupamento de indivíduos, ou outras unidades
básicas (pedon, por exemplo), semelhantes em características selecionadas. Classe
de solo, conforme definida, é sinônimo de taxon e tem o mesmo significado de
unidade taxonômica.
A classe de solo, definida por características morfológicas, físicas, químicas e
mineralógicas, com apoio num sistema taxonômico organizado, constitui a unidade
fundamental na composição de unidades de mapeamento e no estabelecimento das
relações solo/paisagem. Portanto, haverá sempre uma classe de solo correspondente
a cada nível hieráquico dos Sistemas Taxonômicos.
Unidades Taxonômicas: a unidade taxonômica é conceituada segundo um conjunto
de características e propriedades do solo, conhecidas por meio do estudo de pedons e
polipedons e corresponde à unidade de classificação mais homogênea em qualquer
nível categórico de sistemas taxonômicos.
É uma concepção teórica para facilitar o conhecimento sobre objetos (no caso,
solos), em tão grande número, que seria impossível a compreensão dos mesmos
individualmente. É integrada por um conceito central, representado por um perfil de
solo modal, que exibe as propriedades e características mais usuais e de outros
perfis, estreitamente relacionados, que variam em relação ao conceito central,
mantendo, no entanto, a variabilidade dentro de limites determinados pela natureza
de variável contínua, como é o caso do solo.
Unidades de Mapeamento: unidade de mapeamento constitui um conjunto de áreas
de solos, com posições e relações definidas na paisagem. É caracterizada em termos
da(s) unidade(s) toxonômica(s) que a compõem. As unidades de mapeamento podem
ser constituídas tanto por classes de solos, quanto por tipos de terreno. Ora
juntamente (associação) e ora individualmente.
51

São na realidade as unidades mais homogêneas, que se consegue individualizar por


interpretação de materiais básicos, em associação com trabalhos de campo,
considerando-se o nível/escala do mapeamento. Os mapas/cartas são, portanto,
constituídos por diversas unidades de mapeamento.
As características e propriedades dos solos componentes de uma unidade de
mapeamento são definidas pelas descrições e conceituações das unidades
taxonômicas que a compõem. Enquanto uma unidade taxonômica é uma classe de
solo definida e conceituada, segundo parâmetros de classificação, uma unidade de
mapeamento é um conjunto de áreas de solos com relações e posições definidas na
paisagem.
Uma unidade de mapeamento pode ser designada pelo nome de uma única unidade
taxonômica (unidade simples) ou por várias unidades taxonômicas (unidade
combinada). Numa unidade simples, há predominância de uma classe de solos, com
variações mínimas de características e propriedades. No mínimo 70% dos pedons em
cada delineação de uma unidade simples deve pertencer à classe taxonômica que lhe
dá o nome.
Uma unidade simples é uma unidade de mapeamento com um só componente,
podendo apresentar limites difusos, muito nítidos ou pouco nítidos em relação a
outras unidades de solos. Entre as unidades combinadas, são de maior relevância,
para os levantamentos pedológicos, as associações, os complexos e os grupos
indiferenciados de solos. Em sua composição, entram dois ou mais componentes.
Associações e complexos consistem de combinações de duas ou mais classes de
solos distintos, ocorrendo em padrões regularmente repetidos na paisagem.
Em ambos casos, os componentes principais podem ser nitidamente diferentes ou
pouco diferenciados, tanto na morfologia como no conjunto de propriedades físicas,
químicas e mineralógicas.
Associação de solos é um grupamento de unidades taxonômicas definidas,
associadas geográfica e regularmente num padrão de arranjamento definido. É
constituída por classes de solos distintos, com limites nítidos ou pouco nítidos entre
si, que normalmente podem ser separados em levantamentos de solos mais
pormenorizados. A associação é estabelecida, principalmente, pela necessidade de
52

generalizações cartográficas, em função da escala e do padrão de ocorrência dos


solos de uma área. Sua designação é feita pela junção dos nomes de duas ou mais
classes de solos e/ou tipos de terreno ligados pelo sinal (+);
Na descrição de unidades de mapeamento representadas por associações deve ser
especificado o percentual de ocorrência de cada componente. Componentes
individuais de uma associação devem ocupar no mínimo 20% da área da associação.
Complexo de solos é uma associação de solos, cujos componentes taxonômicos não
podem ser individualmente separados nem mesmo em escalas em torno de 1:20 0.
As unidades taxonômicas que compõem um complexo deverão ser, necessariamente,
identificadas, descritas, colectadas e caracterizadas analiticamente. O complexo é
definido de acordo com as classes de solos que o compõem e identificado de acordo
com os nomes das unidades taxonômicas ligadas por hífens, precedidos da palavra
complexo. É, por definição, constituído por solos distintos, com limites pouco
nítidos entre si, de difícil individualização para fins cartográficos.
Grupos indiferenciados de solos são constituídos pela combinação de duas ou mais
unidades taxonômicas com semelhanças morfogenéticas e, portanto, pouco
diferenciadas. São constituídos por unidades taxonômicas afins, com morfologia e
propriedades muito semelhantes e com respostas idênticas às práticas de uso e
manejo. Declividade, pedregosidade, rochosidade e drenagem, podem reunir solos
distintos no mesmo agrupamento, uma vez que são determinantes do uso e manejo.
Os grupos indiferenciados são designados pelos nomes das unidades taxonômicas e
ligados pela conjunção e precedidos da expressão grupo indiferenciado.
Tipos de terreno são ocorrências especiais, não caracterizadas propriamente como
classes de solos, que por vezes constituem unidades de mapeamento.
Inclusões em unidades de mapeamento simples ou combinadas, é comum a
ocorrência de solos em proporção muito menor que o componente ou componentes
principais. Estas ocorrências são designadas por inclusões e, em geral, representam
menos de 20% da área total da unidade de mapeamento.
Fases de Unidades de Mapeamento: a fase não é uma unidade de classificação. É
um recurso utilizado para separação das classes de solos, visando prover mais
subsídios à interpretação agrícola e não-agrícola dos solos.
53

A fase é utilizada para indicar mudanças nas feições do meio físico, no


comportamento dos solos para fins específicos de uso e manejo e eventualmente nas
características morfológicas. Ela pode ser empregada em qualquer tipo de
levantamento pedológico, para subdivisão das unidades de mapeamento segundo
características que influenciam no uso do solo, destacando-se: vegetação,
profundidade, pedregosidade, rochosidade, erosão, drenagem, relevo ou qualquer
outra característica importante para os objetivos do levantamento.

Sumário
A terra, incluindo atributos como água, solo, litologia e vegetação, pode ser
considerada talvez como o principal recurso disponível para o desenvolvimento
económico em regiões tropicais. Contudo, os levantamentos de solos podem atender
a instituições de assistência técnica, de planeamento e de execução de projectos,
para fins de estudos de viabilidade técnica de projetos de irrigação e drenagem,
avaliação de aptidão agrícola, zoneamentos diversos, extrapolação de resultados de
pesquisas, indenização de áreas inundadas por represas hidrelétricas, subsídio ao
estudo de impactos ambientais e seleção de áreas experimentais. Podem também
fornecer subsídios para elaboração de estudos da capacidade de uso da terra, de
cartas morfopedológicas e de estudos geoambientais.

Exercícios
1. Quala importância do levantamento do meio físico para o planeamento
territorial?
2. Quais os factores que condicionam o meio físico?
3. Explica em linhas gerais como se procede para a o levantamento do meio
físico.
4. Fale das unidades taxonómicas.
54

UNIDADE VI: COLECTA DE AMOSTRAGENS SOLO E ÁGUA

Introdução
A amostragem é todo o processo de recolha de uma parte, geralmente pequena, dos
elementos que constituem um dado conjunto. Da análise dessa parte pretende obter-
se informações para todo o conjunto. Pode-se considerar que, em relacao ao
ambiente, a agua e o solo levantam algumas preocupacoes essenciais,
nomeadamente no que diz respeito a limitacao dos recursos e as consequencias dessa
limitação para as actividades humanas, bem como a manutenção da qualidade da
àgua perante as condições do aumento da procura.
Nesta unidade iremos falar das etapas e critérios levadas em consideração para a
colecta de amostras de solo e seus resíduos.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer os critérios para análise do solo;

 Conhecer critérios de análise de água;


Objectivos
 Conhecer critérios para inventariar instrumentos e máquinas;

Amostragem Do Solo
A amostragem do solo é a primeira e principal etapa de um programa de avaliação
da fertilidade do solo. Assim, uma amostragem inadequada do solo resulta em uma
análise inexacta e em uma interpretação e recomendação equivocadas, podendo
causar graves prejuízos económicos e danos ao meio ambiente.
Uma amostragem criteriosa requer a observação não só do tipo de uso do solo, mas
também de princípios relacionados com a selecção da área para amostragem e com a
colecta das amostras.
55

Para que a amostra do solo seja representativa, a área amostrada deve ser a mais
homogénea possível. Assim, a propriedade ou a área a ser amostrada deverá ser
subdividida em glebas ou talhões homogéneos. Nesta subdivisão ou estratificação,
levam-se em conta a vegetação, a posição topográfica (topo do morro, meia encosta,
baixada, etc.), as características perceptíveis do solo (cor, textura, condição de
drenagem, etc.) e o histórico da área.
Diante o exposto, ressalta-se que os limites de uma gleba de terra para amostragem
não devem ser definidos pela área (hectares), mas, sim, pelas características já
enumeradas, que determinam sua homogeneidade Sugere-se, no entanto, para maior
eficiência, não amostrar glebas superiores a 10 ha. Deste modo, glebas muito
grandes, mesmo que homogéneas, devem ser divididas em sub-glebas com áreas de
até 10 ha.
Na amostragem de solos para a análise química, trabalha-se com amostras simples e
amostras compostas. Amostra simples é o volume de solo colectado em um ponto
da gleba e a amostra composta é a mistura homogénea das várias amostras simples
colectadas na gleba, sendo parte representativa desta, aquela que será submetida à
análise química.
Para que a amostra composta seja representativa da gleba, devem ser colectadas de
20 a 30 amostras simples por gleba. Maior número de amostras simples (30) deve
ser colectado em glebas sujeitas à maior heterogeneidade do solo, como pode
ocorrer em solos de baixada (aluviais), em solos muito argilosos, em solos sob
pastagens ou, então, em solos intensamente cultivados.
Outro aspecto fundamental é a distribuição espacial das amostras simples na gleba.
As amostras simples devem ser uniformemente distribuídas por toda a gleba, o que é
obtido realizando a colecta ao longo de um caminhamento em zigzag pela gleba.
Maior eficiência de distribuição dos pontos de colecta é obtida em glebas menores
que 10 ha, por isto recomenda-se a subdivisão das glebas muito grandes.
É importante que as amostras simples colectadas em uma gleba tenham o mesmo
volume de solo. Isto se consegue padronizando a área e a profundidade de colecta da
amostra simples. Obtém-se boa padronização, utilizando os instrumentos
56

denominados trados de amostragem; no entanto, eficiência satisfatória pode ser


obtida com instrumentos mais simples, tais como pá ou enxada.
Quando se utiliza pá, ou enxadão, deve-se abrir um buraco com as paredes verticais
(pequena trincheira). Observando-se a profundidade de amostragem, colecta-se a
amostra cortando uma fatia de 4 cm de espessura em uma das paredes do buraco. Em
seguida, com o solo aderido ao instrumento, são cortadas e descartadas as porções
laterais do volume de solo de forma a deixar apenas os 4 cm centrais. Deste modo, a
amostra simples constituir-se-á do volume de solo contido em um prisma com
arestas transversais de 4 cm e aresta vertical correspondente à profundidade de
amostragem.
As amostras simples devem ser reunidas em um recipiente limpo. Devem-se evitar
recipientes metálicos, principalmente aqueles galvanizados, que podem acarretar
contaminação das amostras, recomendando-se, preferencialmente, recipientes de
plástico.
O volume de solo das amostras simples deve ser cuidadosamente destroçado e
perfeitamente homogeneizado, para obter uma amostra composta representativa, que
deve ser constituída por um volume aproximado de 250cm3 (1/4 de litro). Este
volume de solo pode ser seco à sombra e depois enviado ao laboratório. Não se
recomenda que o solo da amostra composta seja peneirado.
O volume de solo da amostra composta deve ser acondicionado em saco plástico
limpo, ou em caixas de papelão apropriadas. A amostra composta deve ser
devidamente identificada de modo que os resultados possam ser relacionados com as
respectivas glebas. As etiquetas devem ser escritas a lápis e protegidas perfeitamente
com plástico para que a humidade da amostra do solo não as deteriore. Assim, a
etiqueta deve ficar entre dois sacos plásticos.
De salientar que, a amostragem de solo pode ser feita em qualquer época do ano,
contudo, recomenda-se fazer a amostragem quando o solo ainda mantém humidade
suficiente para conferir-lhe friabilidade, o que facilitará a colecta das amostras
simples e a homogeneização do volume de solo para obtenção da amostra composta.
57

Critérios de colecta de amostras de solo

Para fins de classificação do solo, devem ser efectuados amostragens visando a


caracterizações analíticas laboratoriais. A actividade de colecta de amostras deve ser
procedida após a descrição do perfil. A colecta de perfis pode ser feita de várias
maneiras: em trincheiras abertas para este fim, através de cortes de estradas, em
barrancos de rios, ou por intermédio de tradagem.
Em amostragem feita em corte de estrada deve-se observar que este seja recente, e
que seja cuidadosamente bem preparado/limpo. Quando esta operação for efectuada
com trado, deve ser dada uma maior atenção para separação dos horizontes e/ou
camadas e verificação da sua estrutura, uma vez que este tipo de amostragem
dificulta uma caracterização mais apurada.
A amostragem deve ser feita em perfil que represente, significativamente, a unidade
taxonómica componente da unidade de mapeamento. Em locais planos, quando não
se tratar de solos de baixada, deve ser evitada a proximidade de cursos de agua, na
selecção de pontos de amostragem.
Em superfícies com relevo ondulado ou mais movimentado, o perfil deve ser
colectado no terço médio das encostas, neste caso, deve-se observar se ocorrem
solos diferentes nas porções superior e inferior da encosta, o que conduz a escolha
da parte central da unidade a ser representada.
Durante a tomada de amostras, devem ser descartados as porções que não forem
típicas do horizonte que estiver sendo colectado, ou seja, os materiais
correspondentes às faixas que constituem limites entre horizontes adjacentes e que
não exprimem as propriedades de nenhum deles.
Para análise completa devem ser colectados, de cada horizonte ou camada, amostras
contendo cerca de 2kg de solo. Quando houver diferença textual muito grande entre
os horizontes superficiais e subsuperficiais, deve-se verificar a possibilidade da
camada superior ser resultante de nova sedimentação ou coluviacao ( observar se há
presença de fragmentos grosseiros desarestados no perfil).
58

Amostragem de água
A colecta de água deve ser feita de acordo com o objectivo principal do
monitoramento, priorizando a segurança dos executores da tarefa. A colecta deve ser
programada, preferencialmente, para o período da manhã, quando a temperatura do
ar é mais baixa e há menor probabilidade de distorção dos resultados. Na definição
dos parâmetros, da quantidade de estações e da periodicidade do monitoramento, as
diferenças regionais, geográficas, sociais e econômicas, as tensões exercidas sobre o
reservatório e o orçamento disponível devem ser considerados. As acções
decorrentes do uso e ocupação do solo, na bacia de drenagem dos reservatórios, são
fatores determinantes das condições do ecossistema.
Dependendo do tipo de coleta os materiais para a colecta podem sofrer pequenas
variacoes. Os frascos de coleta devem ser resistentes, de vidro borosilicato (V), de
vidro borosilicato ambar (VB) ou polietileno (P). Devem ser quimicamente inertes e
permitir uma perfeita vedacao. De preferencia as tampas devem ser do tipo auto-
lacraveis, permitindo assim uma maior confiabilidade na amostra. Todos os frascos
devem ser escrupulosamente limpos, conforme descritos nos procedimentos
operacionais padroes de cada tipo de analise. Os frascos devem ser
preferencialmente de boca larga, para facilitar a coleta e sua limpeza e resistentes a
autoclavacao, naqueles destinados a analises microbiologicas.
Em casos onde houver necessidade deve ser utilizado frasco de oxigenio dissolvido,
que devem ser de vidro borosilicato com tampa esmerilhada e estreita (pontiaguda),
com selo de agua.
Os meios de transportes para as amostras e os horários disponíveis devem estar
anotados e cadastrados. A equipe deve assegurar o mínimo possível de variações no
transporte das amostras até o local de análise. De acordo com o objectivo do
monitoramento, as amostras podem ser classificadas como:
Contínuas ou permanentes: normalmente colectadas pela manhã, após uma
caracterização prévia do reservatório monitorado, com definição da periodicidade e
do tamanho da rede de amostragem, conforme a necessidade da região e a
importância estratégica da usina;
59

Emergencial: realizada em qualquer dia ou horário, em função de algum acidente


ambiental, a exemplo de um derramamento de óleo, que compromete a vida aquática
e viola a Lei de Crimes Ambientais. O roteiro para esse tipo de coleta deverá ser
elaborado com base nas informações das equipes de campo da região afetada e da
população ribeirinha.
As amostras podem também ser subdivididas em compostas ou integradas, quando
coletadas em diferentes partes e então reunidas para atender a objectivos específicos
do monitoramento. As amostras compostas ou integradas podem ser dos tipos:
Integradas de profundidade: mais comumente coletadas de duas ou mais partes
iguais, em intervalos pré-determinados, entre a superfície e o fundo;
Área-integrada: combina uma série de amostras tomadas de vários pontos
espacialmente distribuídos em corpos d’água;
Tempo-integrada: mistura volumes iguais de água coletada em uma estação, em
intervalos regulares de tempo;
Descarga-integrada: primeiramente, as taxas de descargas das amostras são
medidas, em intervalos regulares, por um determinado período. Um arranjo comum
é amostrar a cada duas horas no período de 24 horas. A amostra composta reúne
porções mistas, proporcionais à taxa de descarga mensurada no período da
amostragem;
Amostras subterrâneas: são coletadas em poços subterrâneos, cisternas ou
nascentes. Ocasionalmente, durante o curso de uma pesquisa hidrogeológica.
O acondicionamento correcto das amostras é essencial para o transporte. A caixa
térmica de fibra é mais resistente que a de isopor. As amostras fixadas nunca
deverão ser acondicionadas juntamente com as amostras frescas, podendo
inviabilizar a análise. Para minimizar o risco de contaminação, todo e qualquer
material ou recipiente que entre em contato direto com as amostras deverá ser
quimicamente inerte e estar quimicamente limpo. Planeamento e preparação são
indispensáveis para assegurar que os recipientes e materiais de acondicionamento
apropriados estejam disponíveis e prontos para uso no campo. Recipientes de vidro
ou outros materiais frágeis deverão ser mantidos separados e imobilizados dentro
das embalagens a serem transportadas, utilizando-se folhas de espuma de borracha,
60

plástico tipo bolha ou jornal amassado. As embalagens deverão ser suficientemente


reforçadas para suportar os esforços de manuseio. Caso as amostras devam ser
mantidas refrigeradas ou congeladas, os frascos ou sacos plásticos podem ser
acondicionados em gelo seco ou húmido.

Inventário ambiental
É a descrição detalhada das características ambientais da área sobre a qual se está
planeando; visa obter informações relevantes sobre a área em foco, organizar as
informações obtidas e permitir, com base na análise das informações, identificar as
principais aptidões para a área analisada.
O levantamento dos dados parte da premissa básica que tudo está correlacionado; as
informações sobre um problema podem estar desconectadas das preocupações
principais sobre a área de planejamento; É importante obter uma visão sinótica da
área de planeamento;
O inventário finalizado serve como linha de base para a avaliação dos planos e
programas implantados, considerando elementos naturais, culturais, visuais e
estéticos.
Fatores relevantes para o inventário podem ser pré-determinados por exigências
locais. É importante saber qual a finalidade do inventário, porém em geral os
inventários são desenvolvidos para dar aos tomadores de decisão uma visão ampla e
detalhada da área.
Os factores relevantes no inventário a se ter em conta sao: habitats dentro ou
próximos da área de planejamento; Recursos culturais; Principais tipos de uso do
solo e atividades relacionadas; Modelo de posse de áreas e recursos e
responsabilidade sobre o gerenciamento; Recursos históricos, pré-históricos e
arqueológicos.
Os fatores ambientais sujeitos a inventário são:
Elementos naturais:
– Fisiografia: inclinação drenagem e características únicas;
– Geologia: formações rochosas, falhas, fraturas e outras características;
– Solo: tipo, composição permeabilidade e potencial de erosão;
61

– Hidrologia: sistema de drenagem, fontes, áreas alagadas e afloramentos;


– Vegetação: associação de plantas e comunidades únicas;
– Vida selvagem: capivara, sussuarana parda, veado, sucuri, peixes, anta, tamanduá;
– Habitats;
– Clima: temperatura, precipitação, fluxos de vento, evaporação e umidade.
Elementos culturais:
– Transporte: rodovias, ferrovias, aeroportos e portos;
– Utilidades: petróleo, gás, rede de água, energia;
– Estruturas e escavações: prédios, minas, aterros sanitários e para resíduos
industriais;
– Propriedade: nome e valor avaliado;
– Históricos e arqueológicos: características significantes e locais.
Elementos visuais e estéticos:
– Principais vistas, vistas marginais;
– Áreas cênicas;
– Características únicas;
– Pontos de interesse.

A descrição completa dos fatores apresentados pode envolver a produção de :


– Resumos estatísticos;
– Mapas detalhados, apresentando localização e arranjo geográfico;
– Resumos narrativos revisando e explicando características importantes ou
relações;
– Fotografias;
– Qualquer dispositivo gráfico para melhorar a visualização da área.

Um unventário deve ser amplo e evitar divergências ou falta de informações; Ser


sistemático para ser facilmente aplicado; Ser multidimensional e dar uma razoável
interpretação da totalidade do ambiente de interesse.

Os dados obtidos no inventário devem ser apresentados em um formato de fácil


compreensão, deve permitir que os tomadores de decisão tenham clareza sobre a
62

significância da área, permita que possam ser delineadas as principais aplicações que
irão direcionar os usos futuros.

Sumário
A amostragem do solo é a primeira e principal etapa de um programa de avaliação
da fertilidade do solo. Enquanto que a colecta de água deve ser feita de acordo com
o objectivo principal do monitoramento, priorizando a segurança dos executores da
tarefa. A colecta deve ser programada, preferencialmente, para o período da
manhã, quando a temperatura do ar é mais baixa e há menor probabilidade de
distorção dos resultados. O inventário finalizado serve como linha de base para a
avaliação dos planos e programas implantados, considerando elementos naturais,
culturais, visuais e estéticos.

Exercícios
1. Qual a relevância de fazer-se a colecta de amostra do solo e agua?
2. Explica resumidamente o processo de colecta de amostra de agua.
3. Qual a etapa primordial na colecta de amostra de solo?
4. Fale dos factores releventes no inventario ambiental.
5. Explique a relação entre a análise dos residuos do solo o inventário
ambiental.
63

UNIDADE VII: TIPOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO DO USO DA TERRA

Introdução
A cobertura vegetal sofrem várias modificações quer sejam naturais ou artificiais, e
estas modificações produzem os mais variados impactos no meio ambiente.
Nesta unidade iremos falar dos tipos e classes do uso da terra com enfoque para os
principais sistemas usados, os princípios seguidos e os requisitos observados.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer os sistemas de classificação de uso de terra;

 Conhecer os requisitos para classificação do uso de terra;


Objectivos
 Explicar como se faz a classificação de cobertura vegetal da
terra;

Características de um sistema de classificação de referência


 Compreensível, científico e orientado para questões práticas;
 Deve atender a vários usos (sub-conjunto do sistema de classificação);
 Aplicável como um sistema de referência comum, permitindo comparacoes entre
classes de diferentes classificações;
 Deve ser um sistema flexível que pode ser utilizado em diferentes escalas e
níveis de detalhes permitindo referência cruzada entre mapas locais e regionais
com mapas continentais e globais sem perda de informação;
 Permitir descrever todas as coberturas da terra com definições claras das classes
(limites únicos e não ambíguos);
 Descrever de forma completa toda a variedade de tipos de cobertura da terra com
um conjunto mínimo de classificadores (quanto menor, menor as chances de erro
e de verificação de campo);
 Deve ser baseado em uma clara e sistemática descrição de classes, na qual os
critérios devem ser claramente definidos. Critérios puros de cobertura da terra
64

devem ser distintos dos ambientais (climáticos, florísticos e de altitude).


Influenciam mas não são inerentes.

Sistemas de Classificação de Uso e Cobertura da terra


A classificação de uso e cobertura do solo conta com quatro sistemas
internacionalmente reconhecidos para o efeito, nomeadamente: USGS – EUA
(1976, 1992); IBGE – Brasil (2006), Corine – União Européia (1992) e FAO
(2000, 2005).
1. Sistemas de classificação de uso e cobertura da terra USGS: Orientado a
recursos (cobertura) e não ao uso da terra, interpretação de dados de
sensoriamento remoto (não dados de campo); conta com os seguintes níveis
de classificação:
Nível I: Solo urbano ou construído; Nível VI: Terras alagáveis;
Nível II: Terra agrícola; Nível VII: Terra estéril;
Nível III: Pastagem; Nível VIII: Tundra
Nível IV: Florestas; Nível IX: Neve perene ou geleiras
Novel V: Corpos de água;

Onde os níveis I, II conferem ao Uso e Cobertura, enquanto que III, IV e V


conferem a extensão lógica.
2. Sistemas de classificação de uso e cobertura da terra IBGE: o
Levantamento do Uso e da Cobertura da Terra indica a distribuição
geográfica da tipologia de uso, identificada através de padrões homogêneos
da cobertura terrestre; O sistema multinível, de classificação, visa atender a
mapeamentos entre 1: 250.000 e 1: 100.000 e parte da divisão sucessiva do
universo em três níveis de abstração, I, II, III que se encontram resumidos na
figura 3 abaixo ilustrada.
O nível I (classes) indica as principais categorias da cobertura terrestre no
planeta, que podem ser discriminadas a partir da interpretação direta dos dados
dos sensores remotos. Informações nacionais ou inter-regionais.
65

O nível II (subclasses), traduz a cobertura e o uso em uma escala mais regional.


Dados de sensores remotos e o uso de dados complementares e observações de
campo.
O nível III (unidades) explicita os usos propriamente ditos, e por comportar
inúmeras combinações entre os tipos de uso e de cobertura do território nacional,
não foi concebido com um número predefinido de itens.
É imprescindível a utilização de dados de observações em campo, inventários,
entrevistas e documentação em geral além de imagens.

Figura 3: Níveis de classificação de uso e cobertura da terra IBGE


66
67

Observa quatro princípios básicos:


 A escala de mapeamento;
 A natureza da informação básica (imagens – resolução);
68

 A unidade de mapeamento e a definição da menor área a ser mapeada:


Quadrado de 5mm x 5mm.
 A nomenclatura do uso e cobertura da terra.
Adequada para mapear a diversidade do território e deve ser compatível com a
escala, o tamanho da menor área a ser mapeada, a fonte básica de dados e com as
necessidades dos virtuais usuários.

6. Sistemas de classificação de uso e cobertura da terra corine Land Cover:


corine Land Cover é uma compilação de inventários nacionais de cobertura
da terra integrados em um mapa contínuo de cobertura da terra da Europa.
São 44 diferentes tipos de cobertura da terra que podem ser complementados em
níveis mais detalhados. Procura articular a escala local com a escala macro.
1:1.000.000, 1:100.000. Unidade mínima de mapeamento 25 ha.

Figura 4: Níveis de classificação de uso e cobertura da terra corine Land Cover


69

7. Sistemas de classificação de uso e cobertura da terra FAO (2005): É um


sistema a priori que possibilita que todas as combinações de classificadores
sejam criadas no sistema; A cobertura da terra deve descrever o ambiente
bio-físico observável como um todo e tratar um conjunto de classes
heterogêneas. Todas as combinações devem ser possíveis sem que o número
de classes criadas seja enorme e redundantes.
Duas classes de cobertura da terra distintas que tem o mesmo conjunto de
classificador que as descrevem podem diferir no arranjo hierárquico de forma a
assegurar uma alta mapeabilidade.

Uma fase dicotómica na qual oito classes genéricas de cobertura da terra são
definidas:
1) Áreas de cultivo e maneio;
70

2) Vegetação terrestre natural e semi-naturais;


3) Áreas aquáticas ou regularmente inundadas;
4) Vegetação aquática natural ou semi-natural e regularmente inundada;
5) Superfícies artificiais e áreas associadas;
6) Áreas descobertas;
7) Corpos de água artificiais e geleiras;
8) Corpos de água naturais e geleiras;

Uma fase Modular Hierárquica permite que o uso de classificadores mais


apropriados sejam usados para definir classes de cobertura da terra derivadas de
classes mais amplas e que ao mesmo tempo reduz a probabilidade de
combinações impraticáveis de classificadores. As classes de cobertura da terra
são definidas por:
 Uma fórmula Booleana mostrando cada classificador utilizado (todos os
classificadores tem um código);
 Um número único para ser utilizado em um Geographical Information
Systems (GIS);
 Um nome, que pode ser padrão ou definido pelo usuário.

Sumário
Um sistema de classificacao de uso e cobertura vegetal deve ser compreensível,
científico, aplicável e flexível. A internacionalmente são reconhecidos quatro com
quatro sistemas para sua classificaçãoo nomeadamente: USGS – EUA (1976-1992)
conta conta com nove níveis e é orientado para a cobertura e não ao uso de terra;
IBGE – Brasil (2006) adequada para mapear a diversidade territorial e conta com
três níveis; Corine – União Européia (1992)conta com três níveis e articula em
escala macro com área de mapeamento não inferior a 25ha; e FAO (2000, 2005)
assegura uma alta mapeabilidade e conta com oito classes.
71

Exercícios
1. Fale da importância do uso e cobertura da terra.
2. Quais são os sistemas de classificação de tipo de uso e cobertura da terra que
conheces?
3. Quais os princípios do modelo de classificação IBGE?
4. Explique como actuam os níveis do sistema de classificação Corine Land
cover.
5. Diferencie ao detalhe os quatro sistemas de classificação tipo de uso e
cobertura da terra.
72

UNIDADE VIII: FACTORES LIMITANTES DO PLANEAMENTO DO USO DA TERRA

Introdução
Nesta unidade iremos falar dos factores que limitam a elaboração e concretização do
planeamento de uso de terra.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer as limitantes do planeamento relativo a terra;

 Conhecer propriedades do solo para sua caracterização;

Objectivos  Explicar a relação entre o planeamento e características d solo.

Avaliação e selecção de alternativas para o planeamento

As alternativas podem ser identificadas de diferentes formas. Um dos métodos para


avaliação de viabilidade de execução de acções é a variação da estratégia de
planeamento baseado em cenários, que corresponde a uma análise das combinações
visando melhoria dos indicadores. O planeamento baseado em cenários tem como
objectivo geral avaliar alternativas de intervenções, com a finalidade de obter
maneiras para adaptar regiões ao conceito de mobilidade sustentável.

Em seguida, avalia-se os dados através de um questionário que uma escala


predefinida, qual o grau de dificuldade, o prazo e o risco politico (risco de
implantação para os gestores). Tal avaliação pode ser estendida também aos gestores
e população. Baseia-se na situação actual de cada indicador e nas acções necessárias
para atingir a implementação imediata de melhoria de indicadores, independentes do
aumento do valor do índice.

Pode usar-se ainda o cubo der referencia, para permitir um avaliação simultânea de
três dimensões ou quesitos (custo, prazo e risco politico). A interpretação dos
resultados pode ser realizada a partir das combinações de viabilidade para todos os
73

questionários. Estas combinações variam de viável em todos os quesitos (obtenção


do nível bom de avaliação nas dimensões de custo, reisto politico e prazo) até muito
pouco viável em todos quesitos, ou seja, mau em todas as três dimensoes.

Propriedades importantes para caracterização do solo

a) Textura do solo: A textura do solo é definida pela proporção relativa das classes
de tamanho de partículas de um solo. A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
define quatro classes de tamanho de partículas menores do que 2 m, usadas para
a definição da classe de textura dos solos:

A classe textural de um solo é uma característica importante de um solo porque varia


muito pouco ao longo do tempo. A mudança somente ocorrerá se houver mudança
da composição do solo devido à erosão seletiva e/ou processos de intemperismo, que
ocorrem em escala de séculos a milênios. Portanto, o uso e o manejo do solo afetam
muito pouco a textura de um solo, implicando no fato que em nível de propriedade
rural, em área com classe textural similar, as variações da qualidade física estão
associadas à variação de outras propriedades físicas.

b) Profundidade: as classes de profundidade do solo são qualificadas pelos termos


raso, pouco profundo, profundo, e muito profundo. Estes termos são empregados
para designar condições de solos em que um contacto lítico ou litóide ou nível de
lençol de água permanente ocorra conforme limites especificados a seguir.

Solo Profundidade

Raso Menor ou igual a 50cm

Pouco profundo Maior que 50c m e menor que 100cm

Profundo Maior que 100cm e menor que 200cm

Muito profundo Maior que 200cm

Os termos usados para qualificar as classes de profundidade dos solos são


denominações genéricas aplicadas as descrições dos solos, não constituindo
características distintivas de unidade taxonómica.
74

c) Relevo: a declividade do terreno pode ser obtida mediante uso de clinómetro ou


de bússola de geólogo; para esta classe são usadas as seguintes classes de relevo:

 Plano: superfície de topografia esbatida ou horizontal, onde os


desnivelamentos são muito pequenos; declividades menores que 3%;

 Suave ondulado: superfície de topografia pouco movimentada, constituída


por conjunto de colinas e ou outeiros (elevações de altitudes relativas da
ordem de 50 a 100m respectivamente), apresentando declives suaves de 3 a
8%;

 Ondulado: superfície de topografia pouco movimentada, constituída por


conjunto de colinas e/ou outeiros, apresentando declives acentuados, entre 8
a 20%;

 Forte ondulado: superfície de topografia movimentada, formada por


outeiros e/ou morros (elevações de 100 a 200m de altitude relativa) com
declives fortes, entre 20 a 45%.

 Montanhoso: superfície de topografia vigorosa, com predomínio de formas


acidentadas, usualmente constituídas por morros, montanhas e maciços
montanhosos e alinhamentos montanhosos, apresentando desnivelamentos
relativamente grandes e declives fortes e muito fortes, de 45 a 75%.

 Escarpado: caracteriza regiões ou áreas com prdominio de formas abruptas,


compreendendo escarpamentos, tais como: aparado, itaimbé, frente de
cuestas, falésia, flanco de serras alcantiladas, vertentes de declives muito
fortes de vales encaixados. As declividades são maiores que 75%.

d) Drenagem do perfil: refere-se a drenagem interna do solo, sendo usadas as


seguintes classes de dernagem:
 Excessivamente drenado: a agua é removida do solo muito rapidamente,
seja por excessiva porosidade e permeabilidade do material, seja por delive
muito íngreme, ou por ambas. O equivalente de humidade é sempre baixo.
Ex: areias quartzosas.
75

 Fortemente drenado: a agua é removida rapidamente do perfil, sendo


equivalente de humidade médio do perfil, de maneira geral, inferior a 18g de
agua/100g de solo, e a maioria dos perfis apresenta pequena diferenciação de
horizontes, sendo solos muito porosos, de textura média e arenosa e bem
permeáveis.
 Acentuadamente drenado: a água é removida rapidamente do perfil, sendo
o equivalente de humidade médio do perfil, de maneira geral, superior a 18g
de água/100g de solo, e a maioria dos perfis tem pequena diferenciação de
horizontes, sendo normalmente de textura argilosa a média, porem sempre
muito porosos e bem permeáveis.
 Bem drenado: a água é removida do solo com facilidade, porém não
rapidamente, e os solos dessa classe comumente apresentam texturas
argilosas ou médias.
 Moderadamente drenado: a agua é removida do solo um tanto lentamente,
de modo que o perfil permanece molhado por pequena, mas significativa,
parte do tempo. Seus solos comumente apresentam uma camada de
permeabilidade lenta no ou imediatamente do solo. O lençol freático acha-se
imediatamente abaixo do solo ou afectando a parte inferior do horizonte B,
por adição de agua através de translocação lateral interna ou alguma
combinação dessas condições;
 Imperfeitamente drenado: a agua é removida lentamente do solo, de tal
modo que ele permanece molhado por período significativo, mas não durante
a maior parte do ano, os solos apresentam uma camada de permeabilidade
lenta no solo, lençol freático alto, adição de agua através de translocação
lateral interna ou alguma combinação dessas condições.
 Mal drenado: a água é removida do perfil tão lentamente que o solo
permanece molhado por grande parte do tempo. O lençol freático comumente
esta á superfície ou próximo dela durante considerável parte do ano. As
condições de má drenagem são devidas ao lençol freático elevado, camada
lentamente permeável no perfil, adição de água através de translocação
lateral interna ou alguma combinação dessas condições;
76

 Muito mal drenado: a água é removida do solo tão lentamente que o lençol
freático permanece a superfície ou próximo dela durante a maior parte do
ano. Solos com drenagem dessa classe usualmente ocupam áreas planas ou
depressões, onde frequentemente há estagnação.
e) Pedregosidade: refere-se à proporção relativa de calhaus (2-20cm de
diâmetro) e matacões (20-100cm de diâmetro) sobre a superfície e/ou massa
do solo, sendo utilizadas as seguintes classes de pedregosidade:
 Não pedregosa: quando não há ocorrência de calhaus e/ou matacões na
superfície e/ou da massa do solo, ou a ocorrência é insignificante e não
interfere na aração do solo, ou é significante, sendo, porém, facilmente
removível;
 Ligeiramente pedregosa: ocorrência de calhaus e/ou matacões espaçamente
distribuídos, ocupando 0,01-0,1% da massa e/ou da superfície do terreno
(distanciando-se de 10-30m), podendo interferir na aração, sendo, entretanto,
perfeitamente viáveis os cultivos entre as pedras;
 Moderadamente pedregosa: ocorrência de calhaus e/ou matacões ocupando
0,1 a 3% da massa do solo e/ou superfície do terreno (distanciando-se de 1,5
a 10m), tornando impraticáveis os cultivos entre as pedras, podendo,
entretanto, seus solos serem utilizados no cultivo de forragens e pastagens
naturais melhoradas, se outras características forem favoráveis;
 Pedregosa: ocorrência de calhaus e/ou matacões ocupando 3 a 15% da
massa do solo e/ou superfície do terreno (distanciando-se por 0,75 a 1,5m),
tornando impraticável o uso da maquinaria, com excepção de maquinas leves
e implementos agrícolas manuais. Solos nessa classe de pedregosidade
podem ser utilizados como áreas de preservação da flora e fauna;
 Muito pedregosa: ocorrência de calhaus e/ou matacões ocupando 15 a 50%
da massa do solo e/ou superfície do terreno (distanciando-se por menos de
0,7m), tornando completamente inviável o uso de qualquer tipo de
maquinaria ou implemento agrícola manual. Solos nessa classe são viáveis
somente para florestas nativas.
77

 Extremamente pedregosa: calhaus e matacões ocupam de 50 a 90% da


superfície do terreno e/ou da massa do solo.
Quando os calhaus e/ou matacões ocupam mais de 90% da superfície do terreno e/ou
da massa do solo, passam a ser consideradas tipo de terreno.

f) Rochosidade: refere-se a proporção relativa de exposições de rochas, quer se


trate de afloramento de rochas, camadas delgadas de solos sobre rochas ou
ocorrência significativa de matacões com mais de 100cm de diâmetro. As
classes de rochosidade são assim definidas:
 Não rochosa: não há ocorrência de afloramentos do substrato rochoso nem
de matacões, ou sua ocorrência é muito pequena, ocupando menos de 2% da
superfície do terreno, não interferindo na aração do solo.
 Ligeiramente rochosa: os afloramentos são suficientes para interferir na
aracao, sendo, entrentanto, perfeitamente viáveis cultivos entre as rochas. Os
afloramentos e/ou matacões se distanciam de 30 a 100m, ocupando de 2 a
10% da superfície do terreno.
 Moderadamente rochoso: os afloramentos são suficientes para tornar
impraticáveis cultivos entre rochas e/ou matacões, sendo possível o uso de
solo para o cultivo de forrageiras ou pastagem natural melhorada. Os
afloramentos e/ou matacões se distanciam de 10 a 30m, ocupando de 10 a
25% da superfície do terreno;
 Rochosa: os afloramentos são suficientes para tornar impraticável a
mecanização, com excepção de máquinas leves, solos dessa classe podem ser
utilizados como áreas de preservação da flora e fauna. Os afloramentos
rochosos, matacões e/ou manchas de camadas delgadas de solos sobre rochas
se distanciam de 3 a 10m e cobrem de 25 a 50% da superfície do terreno;
 Muito rochosa: os afloramentos rochosos, matacões e/ou manchas de
camadas delgadas de solos sobre rochas se distanciam menos de 3m
(cobrindo 50 a 90% da superfície), tornando completamente inviável a
mecanização. Os solos nessa classe são viáveis apenas para florestas nativas.
78

 Extremamente rochosa: afloramento de rochas e/ou matacões ocupam mais


de 90% da superfície do terreno, sendo, nesse caso, considerados tipo de
terreno.

g) Erosão: são consideradas duas formas de erosão, assim caracterizados.


 Erosão laminar: refere-se ao tipo de remoção mais ou menos uniforme de
solo de uma área, sem o aparecimento de sulcos em sua superfície;
 Erosão em sulcos: refere-se a remoção do solo através de sulcos e canais
formados pela concentração de escoamento superficial da água. O extremo
dessa erosão, evidenciado pela formação de sulcos profundos e muito
profundos, resulta no surgimento de voçorocas. Os efeitos da erosão em
sulcos são avaliados pela sua frequência e profundidade.
Condições de enraizamento: esta qualidade diz respeito à quantidade de terra que a
planta dispõe para desenvolver as suas raízes a fim de cumprir as suas funções tanto
na extracção de água e nutrientes como de suporte físico.
As condições de enraizamento são determinadas pela espessura útil do solo e pela
facilidade de penetração radicular. No caso presente e atendendo à escala do
trabalho entrou-se em consideração com a espessura útil do solo tendo-se
contabilizado para tal, as espessuras das camadas A e B. No caso de solos que
apresentaram materiais das camadas C não consolidados e de textura grosseira ou
mediana, a espessura destes foi incluída na contabilização da espessura útil por se
considerar que os sistemas radiculares têm capacidade para os explorar.

Sumário
As alternativas podem ser identificadas de diferentes formas. Um dos métodos
para avaliação de viabilidade de execução de acções é a variação da estratégia de
planeamento baseado em cenários, que corresponde a uma análise das
combinações visando melhoria dos indicadores. A classe textural de um solo é uma
característica importante de um solo porque varia muito pouco ao longo do tempo.

Exercícios
79

1. Como determinar as alternativas para o planeamento?


2. Quais são as classes de profundidade do solo?
3. De que factores depende a capacidade de erosão do solo?
4. Quais os t ipos de relevo usados na classificacao do solo?
80

UNIDADE IX: ORGANIZAÇÃO EM CLASSES E SUBCLASSES DE APTIDÃO DE USO


DAS TERRAS

Introdução
Os países com elevadas densidades populacionais e/ou necessidades de rentabilizar
economicamente o seu espaço, têm necessidade de gerir os recursos da terra com
especial atenção para a sua ocupação com actividades agrícolas ou outras (Sampaio,
2007).
Assim surge outro tipo de utilização das cartas pedológicas, o qual se liga às
questões respeitantes ao adequado uso da terra, sendo necessário desenvolver
estudos integrados das consequências do uso da terra em termos físicos, ambientais e
sociais. Nestes casos, é necessária a elaboração de outras cartas a partir das
pedológicas, onde os solos sejam agrupados segundo características que interessam a
objectivos pré-definidos (cartas de aptidão).
Nesta unidade iremos abordar temas relacionados a aptidão de solos para diferentes
usos, dando ênfase nas suas características, determinantes para avaliação de solos e
mapeamento da sua aptidão.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer e compreender as classes de aptidão de uso de terra;

 Compreender a avaliação de solos;


Objectivos
 Compreender o mapeamento de aptidão de terras;

 Conhecer as bases para elaboração de legendas de mapas de aptidão de terras.


81

Interpretação Dos Recursos Do Uso Da Terra

As cartas de aptidão são de grande utilidade à optimização do planeamento do uso


da terra, planeamento esse que deverá ter como objectivo, a orientação de decisões
respeitantes à utilização das terras, permitindo um melhor e mais eficiente
aproveitamento dos recursos, alertando para as relações que existem entre a terra e a
sua utilização. Esta optimização do planeamento do uso da terra pressupõe, no
entanto, uma interpretação dos recursos do uso da mesma.

A fim de efectuar a interpretação dos recursos do uso da terra para fins agrícolas,
segue-se geralmente um esquema que propõe várias fases de trabalho. A fase de
preparação, inclui todo o trabalho de recolha: quer de cartografia e fotografia aérea;
quer de relatórios associados à cartografia, nos quais existe uma colecção de dados
dos solos nela constantes; quer ainda, de todos os dados que possam existir em
relação aos solos; clima; vegetação; etc, da zona.

A fase de reconhecimento de campo, inclui uma visita ao local, a fim de verificar


se a situação retratada, quer na cartografia, quer mesmo nos relatórios e dados
adquiridos, coincide com a realidade. Nos casos em que já se conhece com algum
rigor a zona em estudo, esta etapa pode ser dispensada, efectuando-se através do seu
prévio conhecimento, apenas uma análise comparativa, entre a informação contida
em todo o material recolhido e a realidade.

Na fase de interpretação, todos os dados coleccionados nas etapas anteriores serão


interpretados em termos técnicos, qualificando cada atributo ou característica da
terra em relação aos tipos de utilização da terra usuais e propostos para a região.

Na fase de conclusões e avaliação efectua-se o cruzamento entre as qualificações


obtidas por cada atributo em relação a cada tipo de utilização estudado.
Consequentemente, atribui-se a cada unidade de terra uma classe de aptidão por tipo
de utilização.

Após esta avaliação concluída, devem formular-se propostas acerca dos sistemas
agrícolas mais convenientes, de forma a optimizar as produções. Para um melhor
82

entendimento desta fase de avaliação segue-se uma explicação mais pormenorizada


acerca da metódica a seguir na classificação da aptidão das terras.

Sistema De Classificação Da Aptidão Das Terras

Os principais sistemas de classificação da aptidão da terra são:

 classificação segundo a capacidade de uso (land capability classification) do


USDA;
 Avaliação da aptidão das terras (land suitability evaluation) da FAO.

Expõe-se apenas o método de Avaliação da Aptidão das Terras aconselhado pela


F.A.O, visto que o da Classificação Segundo a Capacidade de Uso tem vindo a ser
considerado desactualizado e por isso, substituído pelo da FAO.

A avaliação da aptidão das terras é o processo de determinar a aptidão da terra para


usos específicos e diz respeito a um conjunto de princípios e conceitos básicos que
podem ser aplicados em qualquer parte do mundo, em qualquer local ou região.

Estes princípios são:


 A aptidão das terras é avaliada e classificada apenas para usos específicos;
 A avaliação requer uma comparação, em diferentes tipos de terra, entre os
benefícios obtidos e as necessidades existentes;
 A avaliação é feita em termos relevantes para o contexto físico, económico e
social da área;
 A aptidão implica o uso sem degradação;
 É necessária uma abordagem multidisciplinar;
 A avaliação envolve comparação de mais do que um simples tipo de uso.

É, portanto, através do confronto entre as qualidades da terra (recursos disponíveis) e


os requisitos de cada tipo de uso da terra que surge a classificação da aptidão. Este
processo desenvolve-se de acordo com o esquema apresentado na Figura.3, na qual
se esquematiza toda a actividade.
83

Investigações preliminares
Objectivos
Elementos e premissas
Planeamento da avaliação

Interacção
Tipos de Uso da terra Unidades
Tipo principal de uso da Cartográficas de
terra ou tipo de utilização terra
da terra

Comparação do uso da
Requisitos do uso da terra com a terra Qualidades da
terra e limitações Combinações terra
Análise económica e social
Impacto no ambiente

CLASSIFICAÇÃO DA
APTIDÃO DA TERRA

Apresentação dos resultados

Figura. 5 : Representação esquemática das actividades do processo de avaliação das


terras proposto pela FAO.

A avaliação da aptidão das terras, pode ser qualitativa, quantitativa física ou


económica.
Avaliação qualitativa: É aquela em que a aptidão da terra é expressa em termos
qualitativos em relação a cada uso específico (exemplo: aptidão elevada; aptidão
moderada ou marginal; sem aptidão). Este tipo de avaliação utiliza-se sobretudo, em
84

levantamentos de reconhecimento ou como elemento preliminar de investigações


mais detalhadas.
Avaliação quantitativa física: É aquela em que se fornecem estimativas
quantificadas de produções ou outros benefícios. Este tipo de avaliação é geralmente
utilizado em avaliações económicas.
Avaliação económica: É aquela onde se apresentam resultados em termos de lucros
e perdas para cada tipo de uso específico da terra.

Por outro lado, a aptidão a avaliar pode ser corrente ou actual e potencial.
Aptidão corrente ou actual: É aquela que se refere à terra nas condições presentes
ou actuais, sem grandes melhoramentos.
Aptidão potencial: É aquela que se refere à terra após a introdução de importantes
melhoramentos.
A avaliação da aptidão das terras, seja ela qualitativa, quantitativa física ou
económica, consiste na avaliação e agrupamento de áreas específicas (unidades
cartográficas de terra) em termos da sua aptidão para cada T.U.T. considerado no
estudo.

Níveis De Classificação
São reconhecidas quatro categorias ou níveis de classificação: ordens; classes;
subclasses e unidades. Estas categorias são consideradas separadamente para cada
TUT definido e, em relação a cada unidade cartográfica.
As ordens separam as terras em aptas (S) e não aptas (N).
As classes indicam o grau de aptidão, dentro da ordem de terras aptas e divide-se em
muito aptas (S1), moderadamente aptas (S2), marginalmente aptas (S3) e
condicionalmente aptas (Se): indicando terras aptas para determinado uso, apenas
condições especiais. Indicam ainda, em relação à ordem de terras inaptas, se essa
inaptidão é: temporária (N1), com hipótese de passar a apta após introdução de
melhoramentos e permanente (N2).
As subclasses indicam a natureza ou tipo de limitações.
85

As unidades indicam subdivisões dentro das subclasses diferindo em aspectos de


detalhe das suas características de produção ou de práticas de gestão.
A estrutura da classificação da aptidão das terras pode então resumir-se como na
Tabela 2.

Tabela 2: Representação esquemática da estrutura da classificação da aptidão


das terras
Ordem Classe Subclasse Unidade
S1 S2m S2e-1
S Apta S2 S2e S2e-2
S3 S2me etc
etc etc
Sc condicionalmente apta Sc2 Sc2m
N1 N1m
N Inapta N2 N1e
etc

Os resultados da classificação efectuada são apresentados sob a forma de "Mapas de


aptidão da terra" (um por cada tipo de uso estudado) e de um relatório onde se
encontram explanados todos os procedimentos efectuados.

Avaliação De Terras

A avaliação das terras utiliza as características e/ou qualidades obtidas na análise do


terreno, juntamente com outras propriedades, para atribuir um valor a um trato de
terra. É um procedimento que informa ao planificador sobre as relações entre as
alternativas existentes. A classificação das terras em unidades homogéneas é um
aspecto fundamental em qualquer levantamento e avaliação (TROUBER et al.,
1989).

Geralmente na avaliação das terras, as características das diferentes unidades de terra


são confrontadas com os requerimentos exigidos por diferentes tipos de uso da terra
86

considerados relevantes, na avaliação da aptidão de cada unidade de terra para cada


tipo de uso de terra.

Um tipo básico de procedimento é atribuir um peso ou valor para os potenciais de


uso ou produtividade, de acordo com o estado actual do recurso. Esta é uma
avaliação que se baseia principalmente na capacidade natural, inerente ou intrínseca
da terra, de suportar um determinado tipo de uso. Um tipo alternativo de avaliação
valoriza a habilidade potencial de um recurso de produzir bens e serviços, com base
na produção máxima possível para um determinado tipo ou nível alternativo futuro
de insumo no maneio.

Para o processo de valorização da terra deve-se ter em conta os tipos de uso ou


actividades avaliados, os processos de degradação e práticas de uso da terra, bem
como a realidade sócio-económico da área avaliada. Os usos actuais do solo podem
determinar a exclusão, no planeamento a curto prazo, da aptidão para outros tipos de
uso. As condições socioeconómicas por sua vez irão pesar na análise dos níveis de
insumos a serem considerados. É um processo dinâmico que precisa ser reavaliado
periodicamente, devido a novas evidências científicas, inovações tecnológicas e
mudanças na realidade sócio-económica.

Métodos Para Classificação Da Aptidão De Uso Das Terras

Carpenter (1981) revisou os procedimentos para a classificação da capacidade das


terras tropicais com cobertura florestal, dividindo-os em quatro fases:

1) Planeamento: quando o uso potencial dos resultados da classificação das


terras é avaliado. A escala de avaliação é seleccionada de acordo com os
objectivos gerais, bem como a disponibilidade de material básico (mapas,
imagens, etc.);

2) Colecta de informações: objectiva estabelecer as unidades de terra,


relacionadas com os componentes básicos do ecossistema como geologia,
topografia e forma do relevo, clima, solo e vegetação. Devido à grande
87

importância do clima para as actividades relacionadas ao uso da terra, é


comum a produção de mapas mostrando as diversas zonas bioclimáticas,
geralmente associadas a diagramas climáticos. Outras informações temáticas
podem ser recuperadas a partir de mapas já existentes ou levantadas em
estudos específicos.

3) Análise integrada: consiste na redução dos dados, e a elaboração de


relatórios e mapas numa escala comum. O estabelecimento das unidades de
terra pode requerer alguma abstracção, devido às diferenças nos limites das
diferentes unidades temáticas nos diversos mapas utilizados. Os
componentes individuais da paisagem podem ser organizados de forma
hierárquica.

Um enfoque adequado para delinear- se unidades com diferentes potenciais


biológicos pode ser a selecção das formações vegetais, que são relativamente
estáveis sob condições naturais. Em mapas a nível de detalhe, pode ser utilizada
uma síntese dos dados obtidos em pontos de amostragem do habitat físico e da
vegetação.
A legenda deve ser explicativa, com representação das classes de
aptidão/capacidade de uso das terras; quadro-guia para estabelecimento das
classes; descrição das classes e recomendações de uso e maneio.

4) Apresentação e transferência das informações: numa escala regional, os


possíveis usuários incluem primariamente os administradores ou
responsáveis pela alocação de terras, bem como agricultores ou empresários
rurais, pesquisadores, engenheiros agrónomos e florestais, zootecnistas,
administradores de unidades de conservação, etc. A nível sub-regional ou de
detalhe, é aconselhável a elaboração de um relatório condensando os dados
obtidos no campo, caracterizando os diversos habitats nas áreas de maneio, e
especificando como cada um deles podem ser identificados.

Segundo Bohrer (2000), um outro método usado para classificar a aptidão do uso de
terras é o levantamento integrado dos recursos naturais podendo ser definido como
88

uma combinação de levantamentos sobre diversos atributos da terra em um só


procedimento. Alguns dos enfoques empregados em levantamento integrados de
recursos naturais e ambientais, e na avaliação da aptidão das terras incluem estudos
multi-disciplinares, com compilação ou reunião de estudos temáticos, estudos
específicos (ex. zoneamento agrícola/florestal); estudos inter ou transdisciplinares,
com utilização de um enfoque sistémico (holístico), e de conceitos como
geossistemas, sistemas de terra, de paisagem ou ecológicos, (Zonneveld, 1995).

Sumário
Com a necessidade da rentabilidade do espaço territorial, surge outro tipo de
utilização das cartas pedológicas, o qual se liga às questões respeitantes ao
adequado uso da terra. A interpretação dos recursos existentes na terra obedece a
quatro fases nomeadamente, preparação, reconhecimento de campo, interpretação
dos da informação e por fim a conclusão e avaliação dos dados. O principal sistema
de classificação da aptidão da terra é aconselhado pela F.A.O, visto que o da
Classificação Segundo a Capacidade de Uso tem vindo a ser considerado
desactualizado e por isso, substituído pelo da FAO. A classificação segue quatro
principais categorias para sua concretização: a ordem, classe, subclasse e unidade.

Exercícios
1. Explique a importância da carta de aptidão de uso de terra.
2. Qual a relação da aptidão de terras e o planeamento?
3. Fale da avaliação de dados no levantamento de recursos existentes na terra.
4. Quais os princípios para classificação da aptidão da terra?
5. O que determina na avaliação da aptidão para terra condicionalmente aptas?
6. Qual a etapa determinante na avaliação da aptidão de terra?
89

UNIDADE : X: DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE CONFLITOS DE USO DA TERRA

Introdução
O planeamento do uso da terra é de suma importância para que o pleno
desenvolvimento de uma sociedade não as prejudique. Para tanto se faz
necessário, uma correcta utilização dos recursos naturais bem como um bom
aproveitamento das áreas de uso que implica na não destruição das áreas. O
uso inadequado do solo gera perdas significativas ao meio ambiente e
aumento de áreas de conflito.

Nesta unidade iremos falar dos determinantes para diagnosticar a situação de


conflitos de terras e as formas da sua resolução no meio rural e urbano em
diferentes níveis sob o enfoque de planeamento ambiental.

.Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Identificar e antever áreas de conflito de terra;

Objectivos  Conhecer determinantes de áreas conflituosas;

 Conhecer o enquadramento de solução de


conflitos de terra no planeamento ambiental;

 Identificar alternativas de solucionar conflitos


de terra.

Conceito de conflito

O conflito é o processo de procurar obter recompensas pela eliminação ou


enfraquecimento dos competidores. Consiste na luta de populações ou grupos
diferentes por objectivos que são de difícil conciliação. Trata-se de uma
‘situação seja social, cultural, económica ou política, que emerge quando
actores encaram interesses mutuamente incompatíveis. Resulta de processos
90

e dinâmicas diferentes que determinam sua natureza, tipo, evolução ou


escala.

Pode ser fruto de uma disputa quanto a relações de poder, valores culturais,
riquezas ou recursos naturais ou ambientais. Até mesmo a luta quotidiana por
parte de indivíduos ou de grupos e a interacção entre eles com o objectivo de
satisfazer uma necessidade específica pode, às vezes, representar uma fonte
de tensão e conflito. Estas situações podem ser potenciais diferendos entre as
partes, diferendos patentes entre as partes, potencial de conflito entre as
partes, conflito latente entre as partes, conflito patente entre as partes e
conflito que descambou em violência entre as partes.

Áreas de conflito no contexto de planeamento

Um dos grandes desafios do homem para a conservação ambiental é


concentrar esforços e recursos para preservação e recuperação de áreas
naturais consideradas estratégicas, das quais vários ecossistemas são
dependentes. Estas áreas também podem promover, para além da
preservação dos recursos naturais, a melhoria da qualidade de vida dos
habitantes, em função dos outros benefícios gerados pelo equilíbrio de sua
função ambiental.

No entanto, a conservação e preservação das áreas é regulada por um


conjunto de normas permeado por conflitos em função das diferentes
restrições de uso impostas.

O solo é um recurso básico que suporta toda a cobertura vegetal, sem a qual
os seres vivos não poderiam existir. Quanto maior a variedade de solos que
uma nação possui, maiores serão as oportunidades de seu povo encontrar um
melhor padrão de vida, sendo importante que as maiores áreas sejam
ocupadas por solos adaptados às grandes produções de alimentos e matérias-
primas essenciais à habitação, vestiário, transporte e indústria, e que algumas
áreas possam ser disponibilizadas sob outras formas de uso, como a
91

recreação, tão importante ao bem estar físico e mental da população (Bertoni


e Neto, 1990).

O estudo de uso e ocupação das terras constitui importante componente na


pesquisa para o planeamento da utilização racional dos recursos naturais,
contribuindo na geração de informações para avaliação da sustentabilidade
ambiental. Ressalta-se, no entanto, que o monitoramento das modificações de
uso e ocupação das terras, também deve ser realizado, acompanhado de
avaliações técnicas que subsidiem a interpretação da sustentabilidade
ambiental, principalmente em áreas com uso predominantemente agrícola.

O uso e a cobertura da terra têm se tornado um tema muito discutido nos


diversos níveis do conhecimento, devido às diversas problemáticas que o uso
e ocupação desordenados trouxeram ao meio ambiente. Acções desenfreadas
a exemplo dos desmatamentos para implantação de agro-indústrias, de
mineradoras, para a criação de animais, plantações e muitas outras
actividades ligadas ao uso e cobertura da terra, se constituem hoje como um
dos grandes desafios para as políticas de controle ambientais.

Segundo Dainese (2001), a exploração da terra para produzir alimentos para


o sustento do homem quase sempre foi de forma desordenada e sem
planeamento. Como consequência desta forma predatória de exploração do
solo, na literatura, são citados inúmeros casos de empobrecimento do solo
por erosão intensa, assoreamento de cursos de água, desertificação, entre
outros.

Madruga et al. (1999), destacou que muitas áreas são ocupadas


inadequadamente devido à falta de informações, de planeamentos precários e
de um estudo adequado. O levantamento de uso da terra é de fundamental
importância na medida em que os efeitos do uso desordenado causam
deterioração no ambiente. Este mau uso é denominado conflito de uso de
terra. Estes conflitos ocorrem quando as culturas agrícolas são
desenvolvidas em impróprias ou apropriadas, porém com declividades
inadequadas aos padrões conservacionistas.
92

Análise de conflito

Na análise de conflitos, a ênfase deve ser dada às causas raízes, às causas


imediatas e aos factores intervenientes que afectam o conflito, ao invés de
meramente focalizar as consequências. Enquanto as causas e raízes
constituem factores necessários que criam oportunidades para a ocorrência
de conflito, são os factores imediatos que levam ao conflito violento. A
análise de conflito é um processo que envolve várias etapas práticas para
desenvolver um entendimento multi-dimensional do conflito (causas raízes,
causas imediatas e factores intervenientes). Trata-se de um processo para
compreender a história realidade que fundamenta o conflito, identificar os
atores envolvidos, entender as perspectivas dos atores e os modos como eles
se relacionam uns com os outros, extrair lições dos sucessos/fracassos, e
fornecer bases para planear o trabalho directamente no conflito e sobre as
questões do conflito.

Metodologia para determinação de áreas de conflito de terra

Levando-se em consideração que as áreas de conflitos são aquelas em que o


uso das terras não está de acordo com sua aptidão, segue-se trêz principais
etapas para determinação de áreas de conflito:

1. Classificação visual da imagem: nessa fase usa-se a cartografia do


terreno e deve ser feita a interpretação visual da imagem, seguida da
digitalização das classes de uso da terra. Essa etapa consistiu na distinção
dos padrões tonais e das características feições da imagem, como
tamanho, forma e textura. Posteriormente, deve ser realizada visitas a
campo, objectivando identificar a fidedignidade das categorias de uso da
terra geradas na classificação preliminar e também para eliminar
possíveis dúvidas.

2. Delimitação das Áreas de Preservação/conflito segundo os princípios


vigentes na lei de terras.
93

3. Análises de conflito de uso da terra: na identificação e análise do


conflito de uso de terra são utilizados os mapas temáticos de uso e
ocupação da terra. Faz-se a sobreposição desses mapas por meio dos
procedimentos disponíveis no módulo de análise. Em seguida, as
ocorrências de conflito, de acordo com as classes de uso, são
identificadas e devidamente mensuradas, executando-se as funções de
busca e de cálculo de área.

Alternativas ao conflito
O conflito pode cumprir funções úteis, mas a um custo tão elevado que
muitas vezes se procura evitá-lo. Assim, o conflito também é evitado através
de processos de acomodação, deslocamento, super ordenação, compromisso,
assimilação e tolerância.
A acomodação é um processo que consiste em criar acordos temporários que
funcionam entre indivíduos ou grupos em conflitos. Ela se desenvolve
quando pessoas ou grupos julgam necessário agir em conjunto, apesar de
suas hostilidades e diferenças.
A acomodação pode ter vida curta ou perdurar séculos. Não se alcança
qualquer resolução da questão; cada grupo retém suas próprias metas e
pontos de vista, mas chega a um “acordo para discordar” sem lutar.

O deslocamento é o processo que consiste em suspender um conflito e


substituí-lo por outro. A técnica principal do deslocamento é a teoria do bode
expiatório, ou seja, arranjar um culpado.

A super ordenação é a dominação total e impiedosa em relação aos demais.


O conflito entre duas partes, pode, às vezes, acabar pela submissão forçada a
terceiros e o mundo está cheio de exemplos. O grupo ou povo pode aceitar a
derrota, submeter-se e fazer disso o melhor que poder. Mas também pode
haver uma situação em que, depois da derrota, os grupos optam por fazer
resistência através de sabotagem, guerrilha ou assassinatos.
94

O compromisso é quando todas as partes são suficientemente poderosas, de


modo que nenhuma aprecia a perspectiva de conflito. Normalmente, cada um
faz concessões de acordo com o seu poder relativo; a parte mais fraca é que
faz menos concessões. O compromisso, regra geral, deixa sempre as partes
insatisfeitas, e os acordos somente são cumpridos enquanto se mantiver o
equilíbrio. Os conciliadores, mediadores, facilitadores e árbitros muitas vezes
auxiliam na obtenção de compromissos. Quando o compromisso é
inaceitável e o acordo não é absolutamente necessário, os grupos podem usar
a tolerância como alternativa para o conflito.
A assimilação é quando se dá um certo intercâmbio ou difusão cultural.
Mesmo os grupos que procuram evitar tal difusão, efectivamente não
conseguem fazê-lo. É sempre um processo bilateral em que cada grupo
contribui de várias formas com o que possui, dependendo de vários factores
como o tamanho, o prestígio de cada grupo e outros factores. Portanto, a
assimilação reduz os conflitos de grupos por mesclar diferentes grupos em
outros maiores e culturalmente homogéneos. A assimilação cultural elimina
muitos estímulos para o conflito, mesmo quando existe diferenças físicas
visíveis.
A tolerância ocorre quando, em certos conflitos, a vitória é impossível, ou
insuportavelmente custosa e o compromisso não é duradouro. Nestas
circunstâncias, alguns participantes descobrem que talvez não seja
absolutamente necessário um acordo. A tolerância é um acordo para
discordar pacificamente.

Resolução de conflitos de Terras


As modalidades de resolução de litígios são: primeiro, a livre negociação
entre as partes, tem a ver com o diálogo e com os consensos entre as partes
envolvidas. A segunda é a Justiça comunitária, os casos decididos no
interior das comunidades rurais e em harmonia com o costume vigente. A
terceira é o tribunal (área civil) que se rege pela lei da Mocambicana.
95

Sumário
O conflito de terra é definido pelo mau uso da terra, ou seja, o uso desordenado que
causam deterioração no ambiente. No entanto, para a análise de conflitos deve-se
ter em conta as causas raízes, causas imediatas e factores intervenientes
combinados a classificação visual da imagem, delimitação das Áreas de
preservação/conflito e análises de conflito de uso da terra. O conflito pode cumprir
funções úteis, mas a um custo tão elevado que muitas vezes se procura evitá-lo. Não
tendo alternativa, com o conflito instalado, segue-se negociação entre as partes
junto as autoridades comunitárias em última instância recorre-se a justiça civil.

Exercícios
1. Explique a importância de conflitos para o planeamento ambiental.
2. Quais os factores primordiais para a identificação de áreas de
conflitos?
3. Explica de que forma pode-se evitar ou diminuir o impacto dos
conflitos.
4. Quais os factores primordiais para a resolução de conflitos?
96

UNIDADE XI: PLANEAMENTO PARTICIPATIVO

Introdução
O Planeamento Ambiental tem como principal enfoque as relações ser humano e o
meio ambiente, englobando aspectos naturais, sociais, económicas, culturais, entre
outras. Nesse sentido, o Planeamento Ambiental pode ser visto de forma integral,
interdisciplinar, porém atentando-se para as especificidades das relações sociedade e
natureza. Para obtenção dessa integração entre sociedade e natureza, há a
necessidade de uma participação mais efectiva de todos os envolvidos nesse
processo.
Deste modo, o Planeamento Ambiental Participativo torna-se um instrumento
necessário, pois pode promover a participação da comunidade local, buscando
respostas concretas à sociedade que vive e produz na região. O Planeamento
Participativo busca também motivar a comunidade, tendo em vista seu engajamento
no processo de desenvolvimento e implantação do plano ambiental, através de novas
alternativas e oportunidades capazes de ampliar sua qualidade de vida e conservar a
biodiversidade, além de propiciar a gestão dos conflitos existentes e potenciais.
Nesta unidade iremos falar da importância da participação da comunidade como
intervenientes na tomada de decisões e participação do género no planeamento.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Conhecer os princípios do planeamento participativo;
 Conhecer a importância do planeamento participativo;
 Conhecer o papel do género no planeamento
Objectivos
participativo.

Educação Ambiental e Planeamento Participativo


A gestão e o planeamento ambiental participativo possibilitam reverter os custos
ecológicos e sociais da crise económica, bem como integrar a população excluída
num processo de produção para satisfazer suas necessidades fundamentais. Estas
97

acções surgem para construir uma nova racionalidade produtiva, fundada em


práticas de maneio múltiplo, integrado e sustentado dos recursos naturais, adaptadas
às condições ecológicas particulares de cada região e aos valores culturais das
comunidades.
Nesta perspectiva, a educação ambiental desempenha um importante papel para o
envolvimento dos actores sociais interessados na área, especialmente os moradores
locais, no processo de planeamento participativo por incentivar a manifestação das
diferentes percepções sobre a sua realidade, e a busca para melhorar a qualidade
ambiental do meio em que vivem.
A educação ambiental visa a participação das comunidades e demais actores sociais
na realização do diagnóstico e zoneamento ambiental, visando assegurar a protecção
dos recursos naturais e a promoção da qualidade de vida. Desta forma, a educação
ambiental possibilita a motivação e sensibilização das pessoas para transformar as
diversas formas de participação na defesa da equidade social, assumindo, deste
modo, uma função transformadora que incentiva promover um novo tipo de
sociedade.
Para Abers, (2000), a participação de atores e grupos sociais da população é de
extrema relevância devido à complexidade da questão ambiental, e, deste modo, a
educação é o melhor caminho, pois visa proporcionar condições para as pessoas
adquirirem e compartilharem novos conhecimentos, habilidades e atitudes que
possibilitem a intervenção de forma mais participativa nos processos decisórios.
Ademais, a educação ambiental também busca sensibilizar a colectividade para a
resolução das questões ambientais, estimular sua organização e participação na
construção de políticas públicas e na defesa da qualidade do meio ambiente. Este
contexto revela ainda mais a importância da educação ambiental no processo de
planeamento ambiental, pois os envolvidos têm a oportunidade de expressar a sua
perspectiva em relação às questões ambientais e buscar soluções para possíveis
problemas, fato que permite que os mesmos se vejam também como responsáveis
pela área em que vivem, fortalecendo ainda mais sua relação com o local.
Assim o planeamento participativo e a educação ambiental devem caminhar juntos,
pois ambos são processos contínuos que visam contemplar os inúmeros e complexos
98

desafios políticos, ecológicos, sociais, económicos e culturais, sob uma visão de


médio e longo prazo. A educação ambiental complementa o planeamento por
envolver o campo da autonomia, da cidadania, cuja importância as transforma em
metas que não podem ser conquistadas apenas num futuro distante, mas sim, ser
construídas aos poucos no quotidiano das relações afectivas, educacionais e sociais.
Deste modo, incentivar a comunidade a estabelecer uma relação de causa e
consequência dos problemas ambientais, discutir questões, fixar prioridades, tomar
decisões, exercer sua representatividade, buscando um modelo de vida de forma
sustentável é uma tarefa bastante complexa e só será possível por meio da
sensibilização através de processos educativos que valorizem as diversidades
cultural e natural, para que se possa implantar um panejamento e gestão ambiental
que visem atingir os objectivos de conservação de uma Área de Protecção
Ambiental.

Avaliação de processos participativos


A participação é uma forma de gestão aplicada, especialmente, em áreas que
permitem uso sustentável, mas também, progressivamente em áreas com status de
conservação mais restritivo. Para as últimas, a ênfase é colocada nos projectos
integrando conservação com desenvolvimento local nas zonas de amortecimento,
que são desenhados para minimizar o impacto na unidade de conservação e
promover o desenvolvimento local dos arredores.
As abordagens cooperativas são estratégicas, especialmente onde a implementação
de manejo efectivo das áreas protegidas é muito limitada em função da falta de
recursos financeiros, de funcionários qualificados, de planos de manejos executáveis
e também da falta de respaldo institucional por parte dos órgãos públicos. Estes
esperam superar, pelo menos em parte, as limitações de monitoramento e
fiscalização decorrentes de problemas financeiros crónicos através da transferência
de responsabilidades na área protegida para os atores locais. Como os instrumentos
meramente restritivos se mostraram difíceis para implementação, estratégias
cooperativas estão sendo consideradas alternativas promissoras.
99

O novo conceito de planeamento se integra com os termos de planeamento


cooperativo. Um princípio central destes processos de planeamento é procurar um
equilíbrio entre o fundamento político e científico de uma tomada de decisão.
Procura-se envolver de forma interactiva os stakeholders locais nos processos de
planeamento, decisão e implementação, levando em conta as várias dimensões da
realidade. Além de métodos formais e científicos, se aplicam ferramentas de
visualização e métodos narrativas. Como instrumentos mais conhecidos se pode citar
os métodos de diagnósticos participativos. Com uma metodologia definida, técnicas
de visualização e de trabalho de grupo, estes diagnósticos estimulam processos de
aprendizagem colectiva. As técnicas mais comuns são discussões em grupo,
mapeamentos em campo (mapas falantes), entrevistas, resgates de história e
diagramas institucionais. O foco está no aprendizado cumulativo e na inclusão das
perspectivas diferentes. Os especialistas e técnicos se restringem ao papel de
moderador e facilitador. Rejeita-se a dominância do conhecimento científico em
processos de tomada de decisão em prol do conhecimento dos “leigos”, do
conhecimento popular. Para tal processo cooperativo de planeamento é essencial
possibilitar uma comunicação recíproca.
Os diagnósticos participativos podem ser descritos como um conjunto de métodos
que capacitam pessoas a expressar e analisar a própria realidade e suas condições de
vida, propiciando que tais indivíduos decidam quais medidas devem ser tomadas,
bem como monitorar e avaliar os resultados. Eles oferecem maneiras de dar voz à
população pobre, capacitando-os para expressar e analisar os próprios problemas e
prioridades.
Apesar do reconhecimento amplo da importância de participação, ainda faltam
conceitos claros de como avaliar processos participativos. Especialmente a questão
sobre qual grau de delegação de poder decisório é preciso para tornar um processo
de planeamento realmente participativo ainda é bastante polémica.

Um artigo crítico sobre experiências de planeamento participativo escrito por


Arnstein (1969), que desencadeou muita discussão a respeito já nos anos setenta,
distingue oito graus de participação.
100

Nos dois primeiros estágios de participação (manipulação, desinformação e


apaziguamento) trata-se meramente de uma pseudo-participação que somente visa a
melhorar as relações públicas. Do terceiro até o quinto patamar (informação,
consulta e mediação de conflitos), segundo Arnstein, ainda não se pode falar de
verdadeira participação, pois a comunicação só tem uma direcção (de cima para
baixo). Não há espaço para negociação e não se possibilita um feedback da
população. Somente a partir do sexto estágio (parceria e cooperação; delegação de
poder) pode se falar de participação que permita uma relação de parceria entre a
população e os tomadores de decisão. No caso extremo do último patamar
(transferência de poder para os cidadãos-autogestão) a população tem a maioria nos
processos de decisão.

A decisão sobre qual nível de participação deve ser atingido depende em grande
parte dos objectivos gerais estabelecidos no contexto específico. Porém, segundo
Holmes e Scoones (2000).Neste sentido, primeiro deve ser analisado se houve uma
decisão de consenso e se o resultado ficou palpável para os participantes. Ainda é
importante verificar se esse resultado foi suficientemente divulgado além do projecto
e se houve realmente repercussão política nas instâncias relevantes ou se
permaneceu em uma discussão isolada, alheia, da realidade política local.

Um outro critério importante consiste na avaliação dos processos de aprendizagem


dentro do processo participativo. Neste sentido é relevante perceber, também, se os
especialistas e técnicos conseguiram aprender com os participantes e se foi
estabelecida uma percepção comum entre os moradores, os diferentes grupos sociais
envolvidos e os técnicos e quais os problemas prioritários a serem enfrentados.

Com o critério de empoderamento se resume a questão se houve através do projecto


participativo um fortalecimento da auto-estima e a competência democrática dos
atores sociais que anterior ao projecto estavam excluídos dos processos políticos
locais.
101

Com o critério da eficiência se procura avaliar se as decisões tomadas correspondem


melhor às necessidades locais, incluindo informações da população directamente
atingida. Além disso, foi analisado se o projecto gerou menos protestos e
reclamações em função da maior identificação da população com as decisões
tomadas.

Participação do género no processo de tomada de decisão


Participação constitui um dos princípios essenciais da democracia, considerada
como uma das conquistas mais proeminentes do período contemporâneo. O sucesso
das políticas e das medidas destinadas a apoiar ou a reforçar a promoção da
igualdade entre os sexos e a melhoria do estatuto das mulheres, deve basear-se na
integração de uma perspectiva de género nas políticas gerais relacionadas com todas
as esferas da sociedade, assim como na implementação, a todos os níveis, de acções
com suporte institucional e financiamento adequado.
De acordo com Welch (2002), há diferenças importantes no estilo masculino e
feminino de tomar decisões. Os homens tendem a encarar uma situação decisória
como um desafio intelectual. Eles evitam ouvir outras pessoas e decidem com
agilidade, porque entendem tais acções como uma representação de capacidade e de
independência. Por outro lado, as mulheres tendem a perceber tais situações como
uma oportunidade para construir relacionamentos e até obter consenso, sem se
sentirem piores por consultar outras pessoas.

Sumário
O Planeamento Ambiental tem como principal enfoque as relações ser humano e o
meio ambiente, nesse contexto, para obtenção dessa integração entre sociedade e
natureza, há a necessidade de uma participação mais efectiva de todos os
envolvidos nesse processo. A decisão sobre qual nível de participação deve ser
atingido depende em grande parte dos objectivos gerais estabelecidos no contexto
específico.
102

Exercícios
1. Contextualize sobre o planeamento participativo.
2. Em que condições aplica-se o planeamento participativo?
3. Qual o impacto da educação ambiental no planeamento ambiental?
4. De que forma a comunidade intervêm da tomada de decisão?
5. Qual o impacto da participação da comunidade na elaboração do plano
ambiental?
6. Qual o papel do género no planeamento ambiental participativo?
103

UNIDADE XII: INTRODUÇÃO À TEORIAS DO CRESCIMENTO E


DESENVOLVIMENTO REGIONAL

Introdução
O processo de desenvolvimento económico não ocorre de maneira igual e
simultânea em toda a parte. Pelo contrário, é um processo bastante irregular e uma
vez iniciado em determinados pontos possui a característica de fortalecer áreas mais
dinâmicas e que apresentam maior potencial de crescimento. Assim, a dinâmica
económica regional torna-se objecto de estudo bastante complexo, dadas as inter-
relações existentes dentro e entre diferentes localidades e sua importância para a
coesão da economia nacional. Nesta unidade iremos contextualizar acerca das
implicações das teorias de crescimento e desenvolvimento na economia.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Conhecer os princípios das teorias de crescimento e
desenvolvimento;
 Conhecer a importância do crescimento e
Objectivos
desenvolvimento regional;
 Conhecer as implicações do crescimento e
desenvolvimento regional.

Teorias sobre a Dinâmica Regional


O estudo sobre a dinâmica regional supõe a definição preliminar do conceito de
região para evitar imprecisões sobre o próprio objecto de estudo. A utilização do
conceito de uma região é justificada pela hipótese de que a mesma cresce ou declina
como um todo, ao invés de ter suas variações de renda como a soma aleatória de
variações independentes nas actividades nela localizadas. É preciso destacar que
qualquer que seja o critério adoptado (homogeneidade, contiguidade, etc.), ele
implica em um corte arbitrário, uma vez que no sistema capitalista o espaço
económico é tendencialmente integrado e articulado.
104

Realizadas estas considerações, define-se que uma região, como unidade de análise,
é representada por um conjunto de pontos do espaço que tenham maior integração
entre si do que em relação ao resto do mundo. Contextualizando esta definição com
o conceito de urbano locus da produção diversificada e integrada do capitalismo,
pode-se definir uma região como um conjunto de centros urbanos dotados de um
determinado grau de integração em oposição ao resto do mundo (Lemos, 1988).

Várias são as teorias que buscam explicar a dinâmica regional, ou seja, o processo de
determinação da renda urbana que é a expressão e a causa do movimento do capital
no espaço, como aquelas desenvolvidas por Gunnar Myrdal, Albert Hirschman,
François Perroux, Jacques Boudeville e Douglass C. North. Estes teóricos
procuraram demonstrar que uma vez estabelecidas as vantagens ou desvantagens
comparativas dos espaços económicos, iniciam-se movimentos migratórios do
capital, cujos resultados expressar-se-ão em determinada dinâmica regional, isto é,
em relativo vigor ou estagnação do processo de acumulação em uma região. A
seguir serão expostas as principais ideias defendidas por estes teóricos, identificando
suas principais implicações de políticas económicas.

1. Teoria dos polos de Crescimento: F. Perroux e Jacques R. Boudeville


François Perroux foi um dos primeiros teóricos a contestar, em uma série de
trabalhos desenvolvidos na década de 1950, a noção vulgar e inexacta de espaço
utilizada nas análises económicas realizadas até então, pois a mesma resultava na
coincidência entre espaços económicos e humanos e, consequentemente, em
recomendações imprecisas de políticas económicas. A noção de espaço introduzida
por este teórico descarta o conceito de espaço euclidiano e utiliza o conceito
matemático de espaço abstracto, mais adequado para analisar as inter-relações
económicas. Desta forma existiriam tantos espaços económicos quantos fossem os
fenómenos económicos estudados.
O processo de crescimento é irregular, pois “o crescimento não surge em toda parte
ao mesmo tempo; manifesta-se com intensidades variáveis, em pontos ou pólos de
crescimento; propaga- se, segundo vias diferentes e com efeitos finais variáveis, no
conjunto da economia”. Seus principais aspectos estão relacionados às variações da
105

estrutura económica nacional, que consiste no aparecimento e desaparecimento de


indústrias e em taxas de crescimento diferenciadas para as indústrias no decorrer do
tempo. O aparecimento de uma indústria nova (ou grupo de indústrias) ou o
crescimento de uma indústria existente possui efeitos de propagação na economia
através de preços, fluxos e antecipações. Assim, para analisar essa modalidade de
crescimento é preciso considerar o papel desempenhado pela indústria motriz, pelo
complexo de indústrias e pelo crescimento dos pólos de desenvolvimento.
Assim, uma economia nacional apresenta-se como uma combinação de conjuntos
relativamente activos (indústrias motrizes, pólos de indústria e de actividades
geograficamente concentradas) e de conjuntos relativamente passivos (indústrias
movidas, regiões dependentes dos pólos geograficamente concentrados). Os
primeiros induzem nos segundos fenómenos de crescimento. Isto gera duas
consequências para a análise do crescimento: 1) possibilidade de conflito entre
espaços económicos de grandes pólos e os espaços politicamente organizados dos
Estados Nacionais; e 2) políticas nacionais ultrapassadas podem gerar desperdícios
que prejudicam o desenvolvimento.
Também é preciso destacar que a implantação de um pólo de desenvolvimento
provoca uma série de desequilíbrios económicos e sociais, pois distribui salários e
rendimentos adicionais sem aumentar necessariamente a produção local de bens de
consumo, concentra o investimento e a inovação sem necessariamente aumentar a
vantagem de outros locais, nos quais o desenvolvimento pode ser retardado. Por este
motivo, o desenvolvimento territorial só pode ser alcançado através da organização
dos meios de propagação dos efeitos dos pólos de desenvolvimento e da realização
de transformações de ordem mental e social na população, o que possibilitaria o
aumento cumulativo e duradouro do produto real.

2. Desenvolvimento Económico e o Processo de Causação Circular


Cumulativa: a lógica de Gunnar Myrdal
Os aspectos mais relevantes sobre a dinâmica regional são analisados de forma
bastante intuitiva por Myrdal (1957). O autor evidencia as disparidades económicas
existentes entre países, classificados em dois grupos: os países “desenvolvidos”,
106

caracterizados por altos níveis de renda per capita e integração nacional e os países
“subdesenvolvidos”, caracterizados por baixos níveis de renda per capita e de
crescimento, como, por exemplo, os países da África e da América Latina.
Além disso, o autor destaca que também há disparidades de crescimento dentro dos
próprios países. A partir destas constatações ele realiza as seguintes generalizações:
 Há um pequeno grupo de países em uma situação económica bastante
favorável e um grupo muito maior de países em uma situação
desfavorável;
 Os países do primeiro grupo apresentam um padrão de desenvolvimento
económico contínuo e o oposto ocorre no segundo grupo;
 Nas últimas décadas aumentaram as disparidades económicas entre os
dois grupos de países.
Contudo, a teoria económica não possuía instrumentos adequados para lidar com os
problemas das disparidades regionais, pois a hipótese do equilíbrio estável era
insuficiente para explicar a complexidade do sistema económico. A separação entre
factores económicos e não económicos limitava a análise, pois estes últimos podem
ser relevantes para a explicação do processo.
Assim, o autor desenvolveu uma teoria para explicar a dinâmica económica regional,
baseada em um processo de causação circular cumulativa (C.C. C), na qual o
sistema económico é algo eminentemente instável e desequilibrado. Que recorre à
noção de ciclo vicioso para explicar como um processo se torna circular e
cumulativo, no qual um factor negativo é ao mesmo tempo causa e efeito de outros
factores negativos.
O processo cumulativo pode ocorrer nas duas direcções, positiva e negativa, e o
mesmo, se não regulado tende a aumentar as disparidades entre regiões. O objectivo
da Teoria da Causação Circular Cumulativa é analisar as inter-relações causais de
um sistema social enquanto o mesmo se movimenta sobre a influência de questões
exógenas. Deve-se identificar os factores que influenciam o processo, quantificar
como os mesmos interagem e influenciam uns aos outros e como são influenciados
por factores exógenos, pois são justamente estes últimos que movem o sistema
continuadamente, ao mesmo tempo em que mudam a estrutura das forças dentro do
107

próprio sistema, o que justifica a intervenção pública. Quanto mais se conhece sobre
a forma de Interacção dos diferentes factores analisados, mais adequados serão os
esforços de políticas adoptados e maior será a probabilidade de maximizar os efeitos
da mesma.
Assim, um processo de C.C. C é válido para explicar uma infinidade de relações
sociais, como, por exemplo, a perda de uma indústria em determinada região. Os
efeitos imediatos desta perda são o desemprego e a diminuição da renda e da
demanda locais. Estes por sua vez provocam uma queda da renda e da demanda nas
demais actividades da região, o que já configura um processo de C.C. C em um ciclo
vicioso. Se não ocorrerem mudanças exógenas nesta localidade a mesma se tornará
cada vez menos atractiva, de tal forma que seus factores de produção, capital e
trabalho, migrarão em busca de novas oportunidades, provocando uma nova
diminuição da renda e da demanda locais. Este argumento também é válido para
mudanças iniciais positivas, como a implantação de uma nova indústria ou a
diminuição de impostos, que geram oportunidades de emprego, renda e demanda por
bens e serviços, aumentando a atractividade local, a possibilidade de explorar novas
actividades, a poupança e o investimento (economias externas). Por este motivo,
Myrdal destaca a importância de Estados Nacionais integrados e da organização
social, visto que intervenções públicas podem contrabalançar/ neutralizar a lei de
funcionamento do sistema de C.C.C, minimizando as disparidades entre as regiões.

3. Desenvolvimento Desigual e Transmissão Inter-regional do Crescimento sob


a óptica de Albert O. Hirschman
O objectivo do estudo elaborado por Hirschman é analisar o processo de
desenvolvimento económico e como o mesmo pode ser transmitido de uma região
(ou país) para outra. Neste sentido, Hirschman desenvolveu uma teoria focada na
dinâmica essencial do processo de desenvolvimento económico, considerando que
este não ocorre simultaneamente em toda parte e que tende a se concentrar
espacialmente em torno do ponto onde se inicia, o que é fundamental para uma
análise estratégica do mesmo. O planeamento do desenvolvimento deve consistir no
estabelecimento de estratégias sequenciais, considerando que a utilização dos
108

recursos tem impactos diferenciados sobre os estoques disponíveis, conduzindo a


formação de capital complementar em outras actividades de acordo com a
capacidade de aprendizado local.
A dinâmica do desenvolvimento é ainda mais complexa nos países
subdesenvolvidos, pois seus obstáculos são bem mais estruturais do que cíclicos.
Nestes países, poupança e investimento são relativamente interdependentes, e, por
esse motivo, o desenvolvimento é menos espontâneo e depende em maior grau de
medidas deliberativas. Além disso, há duas imagens que inviabilizam o processo de
desenvolvimento nestes países:
No primeiro caso os indivíduos pensam na mudança económica como algo que deve
afectar igualmente todos os membros do grupo a que pertencem, o que leva a
dispersão dos fundos governamentais em diversas localidades, impedindo padrões
mais dinâmicos de mudança. No segundo caso, o progresso económico é alcançado a
partir da mudança concebida pelo indivíduo não visualizado dentro do grupo, o que
diminui a cooperação e a capacidade empreendedora.
A questão crucial para o desenvolvimento é dada pela capacidade de investir, que
depende dos sectores mais modernos da economia e do empreendedorismo local.
Quanto mais baixo o nível de desenvolvimento do país, menor será esta capacidade,
não porque ela é baixa em si, mas devido à sua relação com a renda nacional (círculo
vicioso). Assim, basear o desenvolvimento apenas em sectores modernos é mais
difícil e custoso nos países subdesenvolvidos, pois estas iniciativas são escassas nos
mesmos.
4. A Teoria da Base de Exportação de Douglass C. North
A Teoria da Base de Exportação foi elaborada por North na década de 1950 devido
às inadequações, Segundo o mesmo, das teorias da localização e do crescimento
regional para explicar a dinâmica da economia norte-americana, que não
correspondia à sequência de estágios de desenvolvimento descrita pelas mesmas
(economia de subsistência, desenvolvimento do comércio e da especialização local,
comercialização inter-regional e diversificação das actividades agropecuárias,
industrialização e especialização em actividades terciárias para exportação).
109

North desenvolveu então o conceito de base de exportação para designar


colectivamente os produtos exportáveis de uma região. O desenvolvimento de um
artigo de exportação reflectia uma vantagem comparativa nos custos relativos da
produção, incluindo custos de transferência e, à medida que as regiões cresciam em
torno desta base eram geradas economias externas, que, por sua vez, estimulavam
a competitividade dos artigos exportáveis. A base de exportação desempenhava
assim papel fundamental na conformação da economia de uma região e em seus
níveis de renda absoluta e per capita e, consequentemente, sobre a dinâmica das
actividades locais que se desenvolveriam, a distribuição da população, o padrão de
urbanização, etc.
Contudo, No decorrer do processo de crescimento económico é essencial que os
produtos internos passem a ser exportados e que novos produtos sejam criados para
o mercado interno. Ou seja, adicionar novo trabalho é fundamental para criar e
recriar economias. Então, para se desenvolver é essencial o crescimento do produto
e a adição de trabalho em diferentes períodos de tempo, ou seja, para prosperar é
preciso inovar (adicionar trabalho) e diversificar (substituir por trabalho local
actividades antes importadas) continuadamente.

Impacto do crescimento e desenvolvimento regional


As forças de mercado operam no sentido da desigualdade, da seguinte forma:
 O poder de atração de um centro econômico se origina de fato histórico fortuito;
 Processo cumulativo: as economia externas e internas sempre crescentes,
fortificam e mantém o crescimento;
 Desenvolvimento do processo cumulativo: a migração, o movimento de capital e
o comércio;
 As regiões menos favorecidas, apresentam um menor poder de atração;
 As indústrias dinâmicas e as pessoas mais competentes migram, para o centro
em expansão;
 Dois equilíbrios: um dinâmico e rico outro estagnado e pobre.
110

Implicações do Desenvolvimento Regional


Para que a estratégia de crescimento regional possibilite taxas de crescimento per
capita positivas no longo prazo, situação apresentada pelas economias desenvolvidas
actuais, é necessário que a curva de investimento bruto, em sua porção inferior,
tenda assintoticamente para um nível superior à curva de depreciação efectiva.
Vale destacar dois aspectos ligados a este ponto, primeiro, apenas dessa forma se
conseguirá maximizar os impactos positivos da política de desenvolvimento da
região no longo prazo. Ou seja, este é um condicionante da eficiência das estratégias
de desenvolvimento, quaisquer outras estratégias que não intentem, ao menos,
amortecer a tendência de queda da produtividade marginal do estoque de capital per
capita no tempo será uma estratégia ineficiente, pois, implicará em desperdícios de
recursos públicos.
Em segundo lugar, que tentar replicar as estratégias de crescimento do passado
pode-se constituir um grave erro que se reflicta injustificável no desperdício do
dinheiro público.
Logo, o incremento do capital humano, a eliminação de barreiras à introdução de
inovações tecnológicas já disponíveis no mundo, investimentos maciços em ciência
e tecnologia e em pesquisa e desenvolvimento, como forma de eliminação, ou de
atenuação, da tendência de queda da produtividade marginal do capital per capita,
como enfatizado anteriormente, são condicionantes de eficiência para as estratégias
de desenvolvimento.

Sumário

Várias são as teorias que buscam explicar a dinâmica regional, ou seja, o processo
de determinação da renda urbana que é a expressão e a causa do movimento do
capital no espaço. Estas teorias são baseadas em conceitos de polarização da
produção e em economias externas, evidenciavam a irregularidade do processo de
crescimento e, portanto, a necessidade de intervenção estatal. Demonstram que uma
vez estabelecidas vantagens ou desvantagens comparativas em determinados
espaços económicos, iniciam-se movimentos migratórios dos factores de produção,
que são expressos na expansão ou na estagnação destes espaços. No decorrer disso,
111

as desigualdades regionais são bem maiores nos países mais pobres decrescem nos
países ricos e crescem nos países pobres.

Exercícios
1. Explique a teoria de pólos de crescimento.
2. Com base no princípio da “causação circular” mostre por que existem,
grupos sociais pobres.
3. Como o princípio da “causação circular” explica a existência de regiões ricas
e pobres?
4. Por que os países mais ricos são os que apresentam menor desigualdade
regional?
5. Fale do impacto dessas teorias no crescimento e desenvolvimento regional.
112

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABERS, R. N. (2000), Inventing local democracy: Grassroots politics in Brazil.
London: Lynne Rienner Publishers, 267 p.
ACSELRAD, Henri (org.) (2013), Cartografia social, terra e território. Rio de
Janeiro, IPPUR/UFRJ.
BECKER, B. K.;EGLER, C. A. G. . (2006) Detalhamento da Metodologia para
Execução do Zoneamento Ecológico-Econômico pelos Estados da Amazônia Legal.
Brasília. SAE-Secretaria de Assuntos Estratégicos/ MMA-Ministério do Meio
Ambiente, 56-63pp.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. (1990), Conservação do Solo. São Paulo:
Ícone,. 355 p.
BRASIL. Decreto nº 4.297/02, que instituiu o Zoneamento Ecológico Econômico
(ZEE). Brasília: DOU 2002.
CARPENTER, P.A. (1981), Land capability classification: a procedure. In.
Assessing Tropical Forest Lands, Their suitability for sustainable uses. Carpenter,
P.A. (Ed.). Tycool International. Dublin. pp. 18-33.
CARVALHO, M.S.; PINA, M. F.; SANTOS, S. (2000), Conceitos básicos de
Sistemas de Informação Geográfica e Cartografia aplicados à saúde. Brasília: OPAS,
17-21pp.
Claudio Belmonte De Athayde Bohrer, (2000), vegetação, paisagem E o
planejamento do uso da terra, universidade Federal Fluminense, vol 4, 103-110pp
DAINESE, R. C. (2001), Sensoriamento remoto e geoprocessamento aplicado ao
estudo temporaldo uso da terra e na comparação entre classificação não-
supervisionada e análise visual. Botucatu, Dissertação (Mestrado em
Agronomia/Energia na Agricultura) –Faculdade de Ciências Agronômicas,
Universidade Estadual Paulista, 186p.
DEL PRETTE, M. E.; MATTEO, K.C. (2006), Origens E Possibilidades Do
Zoneamento Ecológicoeconômico No Brasil. Caderno de Referência Subsídio ao
Debate. Brasília, Ministério do Meio Ambiente, 77p.
113

Eduardo Chiziane , (2007), Implicações Juridicas Do Debate Sobre A


Implementação Da Legislação De Terras, Universidade Eduardo Mondlane,
Faculdade De Direito, 10-14PP.
Eduardo Pagel Floriano, (2004), Planejamento Ambiental, anorgs, Caderno Didático
nº 6, 1ª ed./ Eduardo P. Floriano, Santa Rosa, 2004.54 p.
Elsa Sampaio, (2007), Avaliação Da Aptidão Das Terras -Método Recomendado
Pela Fao, Departamento de Geociências Universidade de Évora, 3-22pp.
HOLMES, T.; SCOONES, I. (2000), Participatory environmental policy processes:
experiences from North and South. Brighton, UK: Institute of Development Studies
(IDS), 20 p.
LEMOS, M. B. (19880), Espaço e capital: um estudo sobre a dinâmica centro x
periferia. Campinas, (Tese de doutorado, IE/UNICAMP)12-`6pp.
MADRUGA, P. R. A.; GARCIA, S. M.; CORSEUIL, C. W.; KURTZ, F.C.,
SANTINI, N. L.; ZANON, P. C. F.; PERCORARO A. J.; LIMA, R. R. (1999), Uso
do sistema de informação geográfica Idrisi na determinação dos conflitos de uso do
solo em uma microbacia pertencente à subbacia Arroio Grande (RS). In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 28p, , Pelotas.
Anais em CD ROM... Pelotas-RS.
Mateus rosas ribeiro, (2007), Metodologias De Avaliação Da Aptidão Agrícola Das
Terras E As Variáveis Regionais, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Recife, Pernambuco. Anais da Academia Pernambucana de Ciência Agronômica,
Recife, vol. 4, p.116-125,.
MEDEIROS, J. S. de. (1999), Bancos de dados geográficos e redes neurais
artificiais: tecnologias de apoio à gestão do território. Faculdade de Filosofia, Letras
e Ciências Humanas – USP, São Paulo, Tese (Doutorado em Geografia Física). São
Paulo, 103-107pp.
MIRSHAWKA, (1990), A implantação da qualidade e da produtividade pelo método
do Dr. Deming.São Paulo: McGraw-Hill, 24p.
MONTEIRO, C.A. DE F. (2000), Geossistemas: a história de uma procura.
Contexto, São Paulo, 67-77pp.
114

OHARA, T.; JIMENEZ-RUEDA, J. R.; MATTOS, J. T.; CAETANO, N.R. (2003),


Zoneamento Geoambiental Da Região Do Alto-Médio Rio Paraíba Do Sul E A Carta
De Aptidão Física Para A Implantação De Obras Viárias. Revista Brasileira de
Geociências. n.33, p. 173-182,.
PEREIRA, A.R.; ANGELOCCI, L.R.; SENTELHAS, P.C. (2002),
Agrometeorologia: fundamentos e aplicações práticas. Agropecuária, 44-51pp.
PLESSMAN, Franklin. (2010), Introdução à Participação; in:
ETTERN/IPPUR/UFRJ, Guia Para Experiências de Mapeamento Comunitário,
versão livremente adaptada para o português de CTA.. Training Kit on Participatory
Spatial Information Management and Communication. CTA, Países Baixos; Rio de
Janeiro, 23p.
SANTOS, R.F. (2004), Planejamento ambiental teoria e prática. São Pulo: Oficina
de texto, 34p.
SANTOS, R.F. Livro: (2004), Planejamento Ambiental: Teoria e Prática.Editora:
oficina de Textos. São Paulo, 45-46pp.
STEINBERG, M & ROMERO, M.B. (2003), Reflexões Preliminares Sobre As
Dimensõesdemográficas Urbanas Do Zoneamento Ecológico-
Econômico.NEUR/Universidade de Brasília, 89-90pp.
Vera Jane Ruffato Pereira Ferreira, (2011), Avaliação Do Zoneamento Ecológico
Económico No Município Do Rio De Janeiro Como Ferramenta Para A Gestão
Territorial Integrada E Desenvolvimento Sustentável, , rio de Janeiro, COPRE, 12-
17PP.
WELCH, David WELCH, David. Decisions, Decisions. New York: Prometheus
Books, 2002.
ZONNEVELD, I.S. (1995), Land Ecology. SPB. Academic Publish. Amsterdam.
TROUBER, L., SMALING, E.M.A., ANDRIESSE, W. & HAKKELING, R.T.A.
(1989) Inventory and Evaluation of Tropical Forest Land. Tropenbos Tech. Series,
4. Ede. 7-21pp.

Você também pode gostar