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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação á Distância

O papel da contabilidade orçamental na sustentabilidade fiscal e no equilíbrio das

contas Públicas.

Nome: Terezinha Saraiva Raquesse – código: 708215760

Curso: Licenciatura em Administração Pública

Disciplina: Contabilidade Orçamental

Ano de frequência: 3°, Turma “C”

Tutora: Aida Lucílio Xavier

Cuamba, Agosto de 2023


Folha de Feedback
Classificação
Categoria Indicadores Padrões Pontuação Nota de Subtotal
máxima tutor
Capa 0.5
Estrutura Aspectos Índice 0.5
Organizacionais Introdução 0.5

Discussão 0.5

Conclusão 0.5

Bibliografia 0.5

Contextualização (indicação
clara do problema) 1.0
Descrição dos
Introdução Objectivos 1.0
Metodologia adequada ao
objecto do trabalho 2.0
Articulação e domínio do
discurso académico 2.0
Analise (expressão escrita
Discussão coerência/coesão textual)
Conteúdo
Revisão discussão bibliográfica
nacional e internacional na 2.
área
Exposição dos dados 2.0

Contributo teórico e
Conclusão Prático 2.0
Paginação tipo e tamanho de
Aspectos Formatação letra, paragrafo, 1.0
gerais espaçamento entre linhas
Normas APA 6a Rigor e coerência das
Referencia edição em citação Citações/referências 4.0
bibliográfica e bibliografia bibliográficas

ii
Índice
1. Introdução...............................................................................................................................4

1.1. Objectivos do Trabalho........................................................................................................4

1.1.1. Geral.................................................................................................................................4

1.1.2. Específicos:......................................................................................................................4

1.1.3. Metodologias....................................................................................................................4

2. O papel da contabilidade orçamental na sustentabilidade fiscal e no equilíbrio das


contas Públicas..........................................................................................................................5

2.1. Equilíbrio orçamental e sustentabilidade das Contas Publicas...........................................5

2.2. Riscos Fiscais......................................................................................................................8

2.3. Risco orçamental.................................................................................................................8

2.3.1. Classificação dos riscos orçamentais...............................................................................9

2.3.2. Riscos orçamentais e sustentabilidade das finanças públicas........................................10

2.3.3. Riscos para a sustentabilidade das finanças públicas....................................................12

2.4. Análise da sustentabilidade das contas Públicas dos países da zona euro........................13

2.4.1. Análise da sustentabilidade da dívida pública...............................................................14

2.4.2. Breve enquadramento histórico.....................................................................................14

3. Conclusão.............................................................................................................................16

4. Referencias Bibliografia......................................................................................................17

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1. Introdução

O presente trabalho surge no âmbito da cadeira de Contabilidade Orçamental, cujo tem


como tema principal O papel da contabilidade orçamental na sustentabilidade fiscal e no
equilíbrio das contas Públicas. Contabilidade orçamental corresponde a uma óptica de caixa,
em que são considerados os recebimentos e pagamentos ocorridos em dado período. Trata-se
de um sistema mais vocacionado para os aspectos ligados à gestão e ao controlo de tesouraria.

Contabilidade orçamental na sustentabilidade fiscal desempenha um papel importante porque


o registo assenta em recebimentos e pagamentos, ou seja, privilegia o princípio de caixa. No
caso específico da despesa é efetuado o registo do cabimento, compromisso, autorização de
pagamento e do pagamento.

1.1. Objectivos do Trabalho

1.1.1. Geral:
 Conhecer o papel da contabilidade orçamental na sustentabilidade fiscal e no
equilíbrio das contas Públicas.

1.1.2. Específicos:

 Avaliar os Riscos Orçamentais e sustentabilidade;


 Compreender as Análises da sustentabilidade das contas públicas.

1.1.3. Metodologias

Para o alcance dos objectivos preconizados em torno do tema recorreu-se aos métodos
bibliográfico e consulta documental que consistiram na leitura e interpretação de obras que
abordam sobre o tema, bem como na consulta de diversos artigos providos da internet. E as
obras consultadas estão devidamente mencionados na última página de trabalho.

O presente trabalho esta estruturado da seguinte forma: capa, folha de feedback, índice,
introdução, desenvolvimento, conclusão e referências bibliográficas.

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2. O papel da contabilidade orçamental na sustentabilidade fiscal e no equilíbrio das
contas Públicas

Segundo Monser (2010), a contabilidade orçamental na sustentabilidade fiscal pode


desempenhar um papel importantíssimo no atendimento das dificuldades, por estas entidades.
Pelo Novo Código Civil de 2002 toda pessoa jurídica – seja do Primeiro, do Segundo como
do Terceiro Sector – necessita adotar um sistema de contabilidade sob a responsabilidade de
um contador devidamente habilitado pelo Conselho Regional de Contabilidade de seu
domicílio, a fim de realizar a escrituração dos fatos ocorridos, elaborar os relatórios e
demonstrativos contábeis, orientar a condução do negócio, apresentar ideias e o desempenho
das actividades institucionais, etc.

Conselho das Finanças Públicas (s/d) por sua vez defende que contabilidade orçamental
corresponde a uma óptica de caixa, em que são considerados os recebimentos e pagamentos
ocorridos em dado período. Trata-se de um sistema mais vocacionado para os aspectos
ligados à gestão e ao controlo de tesouraria. O registo assenta em recebimentos e pagamentos,
ou seja, privilegia o princípio de caixa. No caso específico da despesa é efetuado o registo do
cabimento, compromisso, autorização de pagamento e do pagamento.

A contabilidade pública baseia-se num quadro legal composto pela Lei de Bases da
Contabilidade Pública - Lei n.o 8/90 de 20 de Fevereiro, pelo Regime Administrativo e
Financeiro do Estado - Decreto-Lei n.o 155/92, de 28 de julho, pelo Plano Oficial de
Contabilidade Pública (POCP) - Decreto-Lei n.o 232/97, de 3 de Setembro e pela Lei de
Enquadramento Orçamental - Lei n.o 91/2001, de 20 de agosto. De acordo com o POCP, a
contabilidade pública é um sistema composto por três subsistemas independentes e
integrados: a contabilidade orçamental, a contabilidade patrimonial e a contabilidade
analítica. (Conselho das Finanças Públicas, s/d).

2.1. Equilíbrio orçamental e sustentabilidade das Contas Publicas

Segundo Fernandes, (2010) defende que:

O controlo e a estabilidade das finanças públicas deve ser um objectivo primordial dos
governos nacionais. Ao aderir à zona euro, os países transferiram a esfera de decisão
nacional relativa às políticas monetária e cambial para o nível de deliberação
comunitário, mantendo apenas descentralizado o domínio da política orçamental. Este
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instrumento é de facto o único que, com restrições, podem utilizar na estabilização dos
ciclos económicos (p.7).

Associados à definição e execução de uma política orçamental rigorosa, exigente e


transparente surgem imediatamente dois conceitos fundamentais: equilíbrio orçamental e
sustentabilidade. Embora ambos tenham subjacente o objectivo de responder ao desafio da
estabilidade e ordem das contas públicas, a sua óptica temporal é de facto diferente.

Enquanto a regra de equilíbrio orçamental se funda numa perspectiva anual, de curto prazo, a
óptica da sustentabilidade é o longo prazo. Eventualmente, numa situação intermédia, pode-se
destacar a noção de consolidação orçamental, à qual tem sido dada grande relevância no
quadro de aplicação do PEC, que assenta sobretudo numa perspectiva de médio prazo.

Estes conceitos, para além da sua relevância teórica e analítica de ordem académica, uma vez
que contribuíram para a renovação do objecto de análise, do discurso e do tratamento
dogmático das finanças públicas, têm simultaneamente uma influência concreta na avaliação
da situação financeira dos países, na orientação das respectivas políticas financeiras e na
concepção dos sistemas orçamentais.

Fernandes, (2010, Fernandes,p.7) por sua vez defende a regra do equilíbrio orçamental como
um elemento central do Orçamento de Estado. A elaboração rigorosa deste documento, onde
constam as previsões das receitas e despesas dos Estados para um dado período de tempo, o
ano, é fundamental uma vez que actualmente estas representam parcelas muito significativas
dos PIBs nacionais. De facto, depois de competentemente aprovado pelo Parlamento, este tem
o objectivo de permitir uma gestão mais racional e eficiente dos dinheiros públicos e
proporcionar um efectivo controlo da acção governamental. O denominado equilíbrio
orçamental, em sentido contabilístico, significa uma igualdade entre o total das receitas e
despesas inscritas, independentemente da sua natureza.

Contudo, a noção não se resume à observação deste simples formalismo contabilístico, pois
tal significaria que nunca existiriam défices ou superávites, o que não acontece na realidade.
Para um preciso e aprofundado conhecimento do estado das contas públicas, torna-se assim
crucial que na averiguação do saldo orçamental, se distingam as receitas e as despesas que o
determinam e as que o financiam, pois são essas desigualdades que podem originar
orçamentos desequilibrados. No entanto, esta identificação está longe de ser simples, uma vez
que existem diversas medidas do saldo orçamental, que têm logicamente subjacente uma

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natureza e extensão distintas, e as especificidades circunstanciais e as imposições legais é que
ditam quais os critérios aplicáveis em cada momento histórico (Fernandes, 2010, p.7).

“O saldo orçamental global assenta na distinção entre receitas e despesas efectivas (que o
determinam) e não efectivas (que, por oposição, o financiam), sendo por isso também muitas
vezes denominado de saldo efectivo” (Fernandes, 2010, p.8).

Segundo Blejer e Cheasty (1991), para se compreender o que deve ser considerado efectivo
ou não, podem-se utilizar dois critérios distintos: o do endividamento do governo e o dos
objectivos de política. O primeiro critério classifica como efectivas as despesas e receitas que
não geram nem eliminam passivo do sector público e que influenciam a procura agregada,
excluindo-se então as despesas relativas a amortização de dívida pública e as receitas oriundas
de novo endividamento. Note-se, no entanto, que parece discutível a consideração dos activos
financeiros como receitas e despesas efectivas, mas tal parece justificar-se pela complexidade
associada ao próprio assunto e pela excessiva ênfase atribuída correntemente aos défices. Já o
segundo critério define receitas e despesas como efectivas se estas servirem consistentemente
para a prossecução de objectivos de política governamental, em vez de serem simplesmente
partes integrantes da gestão financeira do Estado.

O saldo do orçamento corrente contabiliza e distingue as receitas e despesas correntes das de


capital, representando as segundas variações nos stocks de activos e passivos financeiros. Se
as receitas correntes forem inferiores às despesas da mesma natureza há défice e o
financiamento respectivo terá de ser conseguido através do excesso das receitas de capital
sobre as despesas da mesma categoria. No fundo, o saldo do orçamento corrente representa a
poupança bruta realizada pelo Estado (Fernandes, 2010).

Se é verdade que o orçamento afecta a conjuntura económica, o inverso também acontece, em


função do funcionamento dos mecanismos automáticos de ajustamento. Logo, se se pretender
avaliar o saldo orçamental, expurgando os efeitos dos ciclos económicos, podem utilizar-se
duas medidas: o saldo estrutural e o saldo do orçamento ajustado ciclicamente. O primeiro é
também denominado de saldo orçamental de pleno emprego, por ser simplesmente o que se
verificaria caso a economia estivesse a funcionar no nível de pleno emprego (Fernandes,
2010; Pereira et al., 2012).

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2.2. Riscos Fiscais

Segundo o site (https://www.tesourotransparente.gov.br) defende que, Riscos Fiscais são


possibilidades de ocorrências de eventos capazes de afectar as contas públicas,
comprometendo o alcance dos resultados fiscais estabelecidos como metas e objectivos. Para
que esses eventos sejam classificados como riscos fiscais, uma condição necessária é que os
mesmos não possam ser controlados ou evitados pelo governo. Dessa forma, enquanto gastos
imprevistos, decorrentes, por exemplo, de decisões judiciais desfavoráveis ao governo, são
considerados riscos fiscais, despesas oriundas de decisões ou políticas governamentais, como,
por exemplo, auxílios, não são considerados riscos fiscais, ainda que acarretem desvios das
metas fiscais.

2.3. Risco orçamental

De acordo com Conselho das Finanças Públicas (s/d) o risco orçamental refere-se à
possibilidade de desvios nas variáveis orçamentais em relação ao previsto no momento do
orçamento ou outra previsão. Inclui alterações inesperadas nas variáveis macroeconómicas,
subestimação ou sobrestimação de medidas de consolidação orçamental, riscos relacionados
com contingências do sistema bancário e outras entidades pertencentes às Administrações
Públicas, ou mesmo das interacções com o sector privado (PPP) com impacto no esforço de
consolidação orçamental e na evolução do nível de dívida pública.

Conselho das Finanças Públicas (2018) por sua vez refere que o CFP centrou a análise de
identificação de riscos em cinco áreas: o desempenho macroeconómico, a receita e a despesa
públicas, as responsabilidades contingentes e a dívida pública. Entende-se por risco como
uma medida de incerteza quanto ao possível desvio relativamente ao resultado esperado de
uma variável, podendo assumir um valor positivo ou negativo. Entende-se como
sustentabilidade a capacidade de o Estado honrar os compromissos que assumiu com os
cidadãos e com os credores.

O reconhecimento destes riscos e a tentativa de regularmente os identificar e quantificar o seu


impacto são essenciais à boa gestão das finanças públicas, uma vez que só assim se podem
criar as condições para que a política orçamental possa amortecer os efeitos das flutuações

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económicas e assim aumentar a resiliência da economia a choques. (Conselho das Finanças
Públicas, 2018).

Os riscos orçamentais podem fazer com que as receitas ou as despesas orçamentais se


desviem das expectativas ou previsões (FMI, 2009). Estes riscos derivam de choques
macroeconómicos, da não concretização dos resultados anunciados de medidas de política
orçamental, de eventos inesperados ou da materialização de responsabilidades contingentes,
que são obrigações condicionadas à ocorrência de eventos específicos. As responsabilidades
contingentes, por sua vez, podem ser explícitas (definidas por lei ou por contrato) ou
implícitas (como injecções financeiras e/ou de capital para compensar os danos causados por
um desastre natural ou de apoio ao sistema financeiro, por exemplo).

2.3.1. Classificação dos riscos orçamentais

Os riscos orçamentais podem ser classificados quanto à origem (resultantes da actividade


governativa ou de acontecimentos exógenos), à frequência (acontecimento único ou
recorrente), ao grau de correlação com outros riscos (devido ou não a uma causa comum) e à
robustez dos métodos de previsão, entre outros.

Segundo FMI, 2016; Bova et al, (2016) apontam que “uma análise empírica recente e
abrangente sobre a origem dos riscos orçamentais identificou oito grandes grupos de riscos”:

 Choques macroeconómicos;
 Sector financeiro;
 Casos legais;
 Governos subnacionais;
 Empresas públicas;
 Empresas privadas não-financeiras;
 Desastres naturais;
 Parcerias público-privadas.

No que respeita à natureza dos riscos, importa considerar que os choques orçamentais tendem
a ter uma elevada magnitude e um impacto negativo, uma vez que os governos revelam maior
tendência a antecipar choques orçamentais positivos e incorporá-los nas previsões. Além
disso, os dados históricos indicam que os diversos choques têm um elevado grau de
correlação (Bova et al, 2016).
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Desacelerações macroeconómicas costumam ser seguidas por crises no sector financeiro,
colapsos de empresas públicas, de governos subnacionais e outras responsabilidades
contingentes. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), somente um terço da
deterioração do rácio da dívida pública durante a crise financeira global se deveu directamente
às dinâmicas macroeconómicas, sendo os restantes dois terços uma consequência da
materialização de outros riscos orçamentais (FMI, 2012).

Os grandes choques tendem a ter consequências bastante mais severas sobre as finanças
públicas do que os pequenos choques. Isto porque a rigidez orçamental implica que, no curto-
prazo, não se consiga rapidamente ajustar a despesa primária, a que se soma o aumento da
despesa decorrente do funcionamento dos estabilizadores automáticos, observando-se
simultaneamente o agravamento da dívida em percentagem do PIB, dada a redução deste
último (FMI, 2016).
De acordo com a definição de risco adotada, pode dizer-se que um risco orçamental consiste
num possível desvio das projecções de médio prazo da despesa e/ou da receita e
consequentemente do saldo orçamental e da dívida pública. Assim, é importante que seja feita
uma correta identificação da origem e natureza dos riscos orçamentais, para que a política
orçamental seja elaborada de forma a minimizar os possíveis impactos provenientes da sua
materialização.

2.3.2. Riscos orçamentais e sustentabilidade das finanças públicas

A ideia de sustentabilidade parece ser bastante intuitiva. De uma forma geral, diz-se
sustentável algo que possa ser mantido indefinidamente. Na ciência económica, a definição
porventura mais abrangente de sustentabilidade será a de desenvolvimento sustentável, sendo
este um desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a
capacidade de as gerações futuras suprirem as suas próprias necessidades. Esta definição,
ainda que intuitiva, implica três tipos de julgamentos: o que são as necessidades presentes, o
que são as necessidades futuras e quais são os recursos que limitam a satisfação de umas e
outras. A grande maioria das discussões sobre sustentabilidade acaba por se focar na forma
como se estabelecem estes julgamentos. No campo mais restrito das finanças públicas, a
sustentabilidade pode ser vista, de forma também bastante intuitiva, como a capacidade de
assegurar que sejam evitadas situações de insolvência das Administrações Públicas,
permitindo ao Estado honrar os compromissos que assumiu com os cidadãos e com os

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credores. Ou seja, que assegure a provisão de bens e serviços adequada à geração presente,
sem pôr em causa a sua provisão em condições equivalentes às gerações futuras.

Segundo Balassone e Franco (2000) defendem a discussão sobre a definição de


sustentabilidade das finanças públicas tem acompanhado o próprio desenvolvimento da teoria
económica. A forma mais comum de abordar os temas associados à sustentabilidade da
política orçamental e das finanças públicas é explicitada na chamada restrição orçamental
intertemporal, de onde decorre que o valor actualizado dos saldos primários futuros das
Administrações Públicas (ou seja, excluindo as despesas com juros) deve ser, pelo menos,
igual ao valor inicial da dívida pública. Por outras palavras, a diferença entre os valores atuais
de receita e despesa pública (não contabilizando os juros da dívida) deve ser suficiente para
pagar o que se deve no momento em que se avalia a sustentabilidade (p.23).

De acordo com IFAC (2011) tomemos dois exemplos de definições de sustentabilidade das
finanças públicas: uma mais focada nos fluxos e outra mais focada no stock de dívida gerado
pela política orçamental. Para o Conselho da International Public Sector Accounting
Standards (IPSAS), são relevantes as seguintes dimensões da sustentabilidade das finanças
públicas:

1. Capacidade orçamental: capacidade para satisfazer os compromissos financeiros


assumidos, tais como o serviço e a amortização da dívida e dos créditos contraídos,
numa base contínua ao longo do período a que a projecção se refere, sem aumento dos
níveis de tributação.
2. Capacidade de prestação de serviços: medida em que a entidade consegue (i)
manter, ao longo do período de projecção, o volume e os níveis de qualidade dos
serviços que presta à data da avaliação e (ii) cumprir as obrigações que assumiu
perante os beneficiários atuais e futuros.
3. Vulnerabilidade: medida em que a entidade (i) depende de fontes de financiamento
fora do seu controlo, […] e (ii) dispõe de poderes para alterar os níveis de tributação
ou outras fontes de receita existentes, ou para criar novas fontes de tributação ou de
receita.

Numa outra perspectiva, a sustentabilidade da dívida pública traduz-se na capacidade de


pagamento do serviço da dívida acumulada a qualquer momento (Banco Central Europeu
(BCE), 2012). Esta condição implica que os governos devem apresentar, simultaneamente:

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1. Solvência: cumprimento da restrição orçamental intertemporal do governo, isto é, o
valor actualizado dos saldos primários esperados no futuro deve ser igual ou maior que
o valor actual da dívida pública;
2. Liquidez: conceito de curto-prazo relativo à capacidade do governo em manter o
acesso aos mercados financeiros, assegurando o financiamento que permita realizar as
amortizações de dívida contratadas (capital e juros) e que cubra eventuais
necessidades adicionais decorrentes do ciclo económico.

2.3.3. Riscos para a sustentabilidade das finanças públicas

BCE (2012), aponta os principais riscos para a sustentabilidade da dívida na área do euro
permanecem elevados. No final de 2016, o BCE destacava o reduzido crescimento nominal do
PIB, os riscos remanescentes dos apoios ao sector financeiro e as insuficientes reformas
estruturais e orçamentais, juntamente com a crescente incerteza política.

De acordo com BCE (2018) confirma que o ambiente de estabilidade financeira permaneceu
favorável, mas aponta riscos que continuam a dever ser tidos em conta no conjunto da área do
euro, nomeadamente quanto (i) aos efeitos de uma possível correcção dos valores dos activos;
(ii) aos problemas suscitados quanto à capacidade de intermediação dos bancos pelo seu fraco
desempenho financeiro e pelos desafios estruturais que enfrentam e (iii) pelos riscos
decorrentes dos elevados níveis de endividamento, público e privado. Por estas razões, a
melhoria das condições de financiamento de que a área do euro beneficia actualmente pode
ser rapidamente revertida no caso de materialização de um cenário negativo.

Para mitigar os riscos associados a possíveis aumentos das taxas de juro ou ao risco de
paragem repentina (sudden stop), é necessário monitorizar sistematicamente um conjunto de
indicadores económicos, financeiros e demográficos, que permitam avaliar regularmente a
vulnerabilidade das economias e das finanças públicas. Os riscos associados à demografia são
especialmente relevantes num quadro de envelhecimento e contracção populacional. Os riscos
financeiros, por sua vez, incluem a posição líquida do investimento internacional, a
composição da dívida externa, as responsabilidades contingentes e o crédito malparado. De
seguida são apresentados, de forma não exaustiva, alguns destes riscos associados à
sustentabilidade das finanças públicas em Portugal.

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2.4. Análise da sustentabilidade das contas Públicas dos países da zona euro

Segundo Marinheiro, Tanner e Samake (2006) na literatura económica é possível identificar


dois grandes grupos de estudos acerca da sustentabilidade: os retrospectivos e os prospectivos.
Os primeiros visam avaliar a sustentabilidade das políticas adotadas no passado com base em
dados históricos, procurando em função dos resultados obtidos responder à questão: “Se as
políticas orçamentais adotadas no passado se mantiverem inalteradas são sustentáveis no
futuro? Caso a resposta seja negativa, que alterações são necessárias?”. Por sua vez, os
segundos pretendem, com base em previsões mais ou menos complexas, avaliar a
sustentabilidade no futuro e apresentar soluções para a seguinte questão: “Que decisões ao
nível da política orçamental devem ser tomadas no presente para que se evitem ajustamentos
significativos no futuro?”.

Os autores avançam defendendo que, a partir da década de 80 do século XX, um vasto


conjunto de autores, motivados pelo crescimento do sector público e pelas transformações
verificadas a nível demográfico e no bem-estar social, começou a centrar os seus estudos na
resposta a estas questões, embora incidindo as suas pesquisas sobre diferentes países e
utilizando metodologias, fontes de dados e horizontes temporais de análise muito distintos. Os
EUA e o Canadá foram os primeiros países estudados, mas a partir da década de 90, o foco
virou-se essencialmente para a Europa. (Marinheiro, Tanner & Samake 2006).

Relativamente aos autores que efectuaram uma análise retrospectiva, Blanchard et al. (1990) e
Talvi e Végh (2000) foram os que apresentaram metodologias mais simples, mas também
mais incompletas. Nos seus estudos, os autores não incluíram o importante papel da incerteza
e apenas avaliaram a evolução do saldo primário, comparando os valores realmente registados
com os potencialmente necessários para que a dívida fosse estável. Hamilton e Flavin (1986),
Wilcox (1989), Trehan e Walsh (1988, 1991), Hakkio e Rush (1991), Quintos (1995) e Uctum
e Wickens (2000), entre outros, basearam os seus estudos principalmente na aplicação de dois
tipos de testes econométricos: os de análise da estacionariedade do saldo primário, do saldo
global e da dívida pública (em nível e na sua primeira diferença); e os de cointegração entre
receitas e despesas efectivas do sector público administrativo.

Segundo Bohn (1998) e Tanner e Ramos (2002) “apresentaram uma formulação distinta,
embora baseada nas anteriores”.

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Construindo um modelo econométrico, analisaram a resposta dos governos em termos de
saldo primário obtido, mediante determinadas variações no valor do rácio dívida pública /
PIB. “Pela sua relevância no meio científico convém analisar mais detalhadamente o estudo
de” (Bohn 1998).

Este autor processe afirmando que, a metodologia proposta pelo autor consiste em verificar se a um
aumento do rácio dívida pública / PIB num determinado ano, sucede uma resposta positiva por parte
do governo em funções, materializada na adoção de medidas correctivas que permitam reduzir a
despesa primária ou aumentar as receitas e, consequentemente, garantam a obtenção de superávites ou,
eventualmente, a redução dos défices primários. Assim, se o superávite primário for uma função
positiva e crescente (pelo menos linear) do rácio dívida pública / PIB, o cumprimento da restrição
orçamental inter-temporal do Estado está garantido, podendo então essa relação entre variáveis ser
considerada uma condição suficiente para a sustentabilidade das contas públicas de um país. (Bohn
1998).

2.4.1. Análise da sustentabilidade da dívida pública

2.4.2. Breve enquadramento histórico

Segundo Gradiva; Lains, Pedro e A.F. da Silva, orgs. (2005) defendem que até à década de 1930, a
história financeira de Portugal caracterizou-se por um elevado grau de instabilidade,
partilhada pelas finanças públicas e pela banca. Ao longo do século XIX essa instabilidade
acentuou-se, culminando na crise da dívida de 1890-1893, cujos efeitos se protelaram pelas
décadas seguintes. Acontecimentos na esfera internacional, como a abertura dos portos do
Brasil em 1808, pondo fim ao monopólio comercial de que a marinha portuguesa gozava e
que estava na origem de grande parte da receita fiscal do país, à crise do Barings em 1890, à
Primeira Guerra Mundial (1914-18), constituíram os detonadores das crises financeiras em
Portugal. Este padrão confirma dois traços básicos da economia portuguesa ao longo de
séculos: a sua dependência do exterior e a vulnerabilidade resultante de ver nele a fonte de
recursos financeiros do país, garantidos pelo monopólio da sua exploração e não dando
origem ao desenvolvimento dos recursos nacionais capazes de promover a resiliência face aos
choques do exterior.

Com o período do Estado Novo, implantado em 1926, acabou esta instabilidade,


através de um rígido controlo da despesa pública e da limitação do papel do Estado
nos sectores sociais. No entanto, a contenção da instabilidade económica em que o
país vivia foi apenas temporária, na medida em que, neste período, não se conseguiu
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reverter o atraso da economia, promover a sua abertura ao exterior e a concorrência
interna e a sua dependência do Estado. Da alteração drástica na gestão das finanças
públicas, com a adoção de um princípio rígido de equilíbrio orçamental, resultou a
redução da dívida pública até ao princípio da década de 1970. (Gradiva; Lains, Pedro
& A.F. da Silva, orgs, 2005).

A partir do início da década de 1990, os défices orçamentais voltaram a crescer, embora


beneficiando da redução das taxas de juro, que se acentuaria fortemente com as perspectivas e
posterior concretização da adesão à União Económica e Monetária no final da década.

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3. Conclusão

Após abordagem feita verificou-se que o risco orçamental refere-se à possibilidade de desvios
nas variáveis orçamentais em relação ao previsto no momento do orçamento ou outra
previsão. Inclui alterações inesperadas nas variáveis macroeconómicas, subestimação ou
sobrestimação de medidas de consolidação orçamental.

Entretanto os riscos orçamentais podem fazer com que as receitas ou as despesas orçamentais
se desviem das expectativas ou previsões (FMI, 2009). Estes riscos derivam de choques
macroeconómicos, da não concretização dos resultados anunciados de medidas de política
orçamental, de eventos inesperados ou da materialização de responsabilidades contingentes,
que são obrigações condicionadas à ocorrência de eventos específicos. Os riscos orçamentais
podem ser classificados quanto à origem (resultantes da actividade governativa ou de
acontecimentos exógenos), à frequência (acontecimento único ou recorrente), ao grau de
correlação com outros riscos (devido ou não a uma causa comum) e à robustez dos métodos
de previsão, entre outros.

Salientar que os principais riscos para a sustentabilidade da dívida na área do euro


permanecem elevados. No final de 2016, o BCE destacava o reduzido crescimento nominal do
PIB, os riscos remanescentes dos apoios ao sector financeiro e as insuficientes reformas
estruturais e orçamentais, juntamente com a crescente incerteza política.

Por fim concluiu-se que sustentabilidade das finanças públicas tem acompanhado o próprio
desenvolvimento da teoria económica. A forma mais comum de abordar os temas associados
à sustentabilidade da política orçamental e das finanças públicas é explicitada na chamada
restrição orçamental intertemporal, de onde decorre que o valor actualizado dos saldos
primários futuros das Administrações Públicas (ou seja, excluindo as despesas com juros)
deve ser, pelo menos, igual ao valor inicial da dívida pública.

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4. Referencias Bibliografia

BALASSONE, F. e FRANCO, D. (2000). Assessing fiscal sustainability: a review of methods


with a view to EMU, em ‘Proceedings of a Banca d’Italia workshop on Fiscal
Sustainability’.

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BLANCHARD, O., J. Chouraqui, R. Hagemann e N. Sartor .(1990). “The Sustainability of


Fiscal Policy: New Answers to an old question”, OECD Economic Studies, Vol. 15.

BLEJER, M. e A. Cheasty.(1991). “The Measurement of Fiscal Deficits: Analytical and


Methodological Issues”, Journal of Economic Literature, Vol. 24, pp. 1644-1678.

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