Você está na página 1de 6

DESAFIO DAS AUTARQUIAS EM MOÇAMBIQUE

THE CHALLENGE FOR MUNICIPALITIES IN MOZAMBIQUE

Adélia Venâncio Nkuampara


Dominica António Cardoso
Jennifa Bartolomeu
Jennifa3bartolomeu@gmail.com
Sírio Zacarias da Cruz

Resumo

O presente estudo intitulado “Os Desafios das Autarquias em Moçambique” tinha o propósito de
apresentar os desafios das autarquias nacionais para ajudar a melhorar a sua gestão/liderança
efetiva. A analise documental – livros, artigos e links de acesso com informações relevantes do
tema em apresentação, foi o método utilizado para o fundamento do trabalho. As informações do
trabalho mostraram que os desafios relacionados com a gestão das autarquias nacionais estão
intimamente ligados a dois fatores – desenvolvimento urbano e gestão dos espaços e sérvios
urbanos. No primeiro – desenvolvimento urbano, constatou-se que existe um levado índice da
população nos espaços urbanos o que propiciou na existência da pobreza e fome a nível local, e o
outro – gestão dos espaços e serviços urbanos, ditou a existência de tendências positivas na
sustentabilidade política e económica.

Palavra-chave: Desafios, Gestão, Informação, Desenvolvimento.

Abstract

The purpose of this study entitled “The Challenges of Local Authorities in Mozambique” was to
present the challenges facing national local authorities in order to help improve their effective
management/leadership. Documentary analysis - books, articles and access links with relevant
information on the topic being presented – was the method used to support the work. The
information from the work showed that the challenges related to the management of national
authorities are closely linked to two factors – urban development and the management of urban

1
spaces and services. The first - urban development – showed that there is a high population rate in
urban areas, which has led to poverty and hunger at local level, and the other - management of
urban spaces and services - has led to positive trends in political and economic sustainability.

Key words: challenges, management, information, development.

Introdução

O processo de autarcização em Moçambique iniciou-se há pouco mais de dez anos. Apesar de se


tratar de um processo jovem, ele possibilita já uma análise dos fatores-chave que têm permitido a
sua consolidação como um processo já irreversível e a identificação de questões fundamentais ao
seu debate, considerando o muito que há ainda por fazer para que as nossas autarquias possam ser,
verdadeiramente, um centro de desenvolvimento local.

Durante esta primeira década, foram levadas a cabo interessantes experiências em vários dos nossos
Municípios, que nos parece pertinente explorar e partilhar, uma vez que nos podem conduzir a um
debate do que falta trilhar para que as autarquias possam efetivamente cumprir o seu papel no
desenvolvimento nacional e no reforço da democracia em Moçambique. Para tal há pesquisar e
refletir sobre os desafios observados em autarquias nacionais para tornar fácil a gestão e
governação municipal. É neste sentido que o tema em apresentação no trabalho é sobre os desafios
das autarquias em Moçambique, com o objectivo dar uma visão mais nítida sobre os reais
problemas municipais e melhor a sua gestão/liderança de forma efetiva.

Os desafios das autarquias em Moçambique

Dias (2015) afirma que “no atual contexto político-económico, de globalização, de crise económica,
mas também tantas vezes de carências sociais graves, novos desafios se impõem às estruturas de
governo local e particularmente aos municípios” (p.42).

O primeiro dos desafios, que compete a todos, a todas as instituições públicas e nesse contexto
também aos municípios, parece residir na necessidade de inverter uma tendência generalizada de
afastamento por parte dos cidadãos da sua atividade e do exercício dos seus direitos, mas também
das suas responsabilidades políticas perante o sistema democrático vigente (Dias, 2015, p.43).

Santos e Fonseca (2005) afirma que “a globalização é também responsável por alguns dos efeitos
que se verificam nas democracias modernas” (p.291).

2
Para estes autores, tais efeitos seguem duas linhas aparentemente opostas, mas que na sua opinião
são complementares. Numa perspetiva, antevê um certo afastamento, em determinadas matérias,
do centro de decisão política à escala nacional, para uma escala supranacional, em resultado de um
“alargamento” mesmo que virtual das fronteiras (integração do país em órgãos de decisão
supranacionais).

Segundo Dias (2015),


Em sentido oposto, antevê uma tendência para a revalorização e o reforço dos poderes dos órgãos
da administração local, fundamentando a sua opinião na proximidade destes órgãos com os
destinatários das respetivas medidas (aproximação aos centros de decisão) e no potencial efeito de
promoção da participação dos cidadãos.

Para além de antever estas perspetivas, que lançam necessariamente novos desafios à administração,
para este autor, existe hoje um reconhecimento generalizado de que é ao nível do governo local e
designadamente através dos municípios, que até hoje se tem exercido da melhor forma, a
aproximação entre os eleitos e os eleitores, aproximando os cidadãos da conceção das políticas que
se lhes destinam. A este propósito o autor afirma que:

Com o poder local coincide a melhor democracia, porque é uma democracia de proximidade, em
contraponto da democracia de distanciamento, quando não de alheamento, próprios da democracia
representativa. Com o poder local coincide a melhor forma de aproximar os eleitos dos eleitores,
porque reciprocamente se conhecem, se influenciam e se esclarecem (Santos & Fonseca, 2005,
p.284).

Segundo Noronha e Brito (2010), “o desenvolvimento municipal está intimamente ligado a dois
factores: o desenvolvimento urbano e a gestão dos espaços e serviços urbanos” (p.107).

Desenvolvimento é um conceito dotado de múltiplos significados, resultado das transformações que


o mesmo foi sofrendo ao longo do tempo. O termo desenvolvimento compreende várias conotações,
dependendo do contexto em que é empregue. Na perspetiva economicista, abarca aspetos
económicos e sociais. (Pombal, 2021, p.41).

Noronha e Brito (2010) afirmam que “a nível de desenvolvimento urbano, estima-se que nos
próximos anos haja um crescimento dramático da percentagem da população que viverá em zonas
urbanas, prevendo-se inclusivamente que esta ultrapasse a percentagem que viverá em zonas
rurais”.

Há que concordar com este ponto de vista, pois na verdade o observado atualmente nos vários
espaços urbanos de Moçambique é o elevado índice de moradores locais de todas camadas da faixa
etária, a titulo de exemplo, a cidade de Pemba antes da violência extrema observada nos últimos
3
anos, ainda era notório o elevado índice populacional e com a emergência deste fenómeno de
ataques violento acabou por afetar de forma brutal a estabilidade nos vários distritos assolados e
consequentemente o abrigo para o refugio é a cidade de Pemba. O elevado índice local reduziu a
taxa de empregabilidade e pobreza local.

Segundo Noronho e Brito (2010),


Esta dinâmica, associada à ausência de emprego, formal e informal, que se observa e se estima que
continuará a observar-se nas zonas urbanas, coloca uma grande pressão sobre a efetiva capacidade
de gerir o espaço e os serviços urbanos e poderá contribuir para o aumento da pobreza urbana, que
é uma pobreza mais impiedosa que a rural, pois é uma pobreza com menos recursos para a sua
superação. A pobreza urbana tem por base, não a falta de serviços básicos, mas sim a falta de
emprego e fontes de rendimento, pois nas zonas urbanas o acesso a recursos e meios de produção é
muito limitado.

“A nível da gestão dos espaços e serviços urbanos, observam-se algumas tendências positivas na
esfera da sustentabilidade política e económica. Infelizmente, o mesmo não se pode dizer
relativamente à sustentabilidade sociocultural e ambiental” (Noronho & Brito, 2010, p.108).

A sustentabilidade política tem sido acompanhada também pelo aumento da sustentabilidade


financeira: por um lado, a maioria dos municípios têm incrementado as suas receitas aproximando
as receitas próprias das despesas correntes; por outro, têm utilizado as transferências do Estado para
fazer face a despesas de investimento (Noronho & Brito, 2010, p.109).

Portanto, para estes autores o grande desafio para os municípios, nos próximos anos, será, por um
lado, aumentar a arrecadação tirando partido de todo o potencial de receitas e, por outro, mobilizar
outros recursos para fazer face aos avultados investimentos, em particular em infraestruturas que
possibilitarão o desenvolvimento urbano e proteção ambiental, já que muitos destes investimentos
estão acima da capacidade real ou potencial dos municípios e mesmo do próprio Governo.

Para que isto seja possível, é fundamental repensar não só a capacidade de pagar, como a vontade
de pagar, ligando esta análise às políticas fiscais. A título de exemplo,
Com a passada alteração da Lei das Finanças Autárquicas, algumas autarquias (como Maputo e
Beira) viram reduzida a sua capacidade de arrecadar receitas com os imóveis (através do imposto
predial autárquico) de 0,7% a 1% do valor do imóvel para 0,4% do valor do imóvel e isenção dos
imóveis novos, por um período de cinco anos (Noronha & Brito, 2010, p.109).

Com esta analise observa-se que este foi um sinal claro de que, muitas vezes, com a intenção de
incentivar o investimento, neste caso a construção de habitações, se acaba provocando um efeito
perverso – diminuir as receitas, piorar os serviços e, consequentemente, desincentivar o
investimento.
4
Outros desafios observados na maioria das autarquias de Moçambique estão relacionados com
gestão efetiva do lixo nos centros urbanos e comunitários, e, acessibilidade dos serviços públicos
e privados.

Correlação a estes desafios há que pensar em estratégias que respondam as demandas da população,
precisam criar mecanismos para sustentáveis para catapultar estes problemas. Talvez, envolvendo
a população nos processos estratégicos de mitigação, realizações constantes de consultas públicas
podem vir a ajudar a pensar em estratégias infalíveis.

Como agravante, esta medida privilegiou também um grupo social que, tendo capacidade para dar
um contributo justo para as receitas, relativamente ao espaço que ocupa, acaba não o fazendo. Esta
reflexão leva-nos também a repensar

A autarquias nacionais há que pensar/refletir:

 Qual deve ser o modelo de parceria que o Estado, através dos Conselhos Municipais, pode
estabelecer com os investidores imobiliários para acelerar a construção;
 Sobre o papel da gestão municipal na criação de um novo conceito de espaço, inclusão e
intervenção comum.

A sustentabilidade económica dos serviços deve sempre prevalecer, deve existir “a capacidade da
gestão municipal para prestar os serviços que os munícipes esperam, aumentando
permanentemente a sua cobertura e a qualidade de prestação” (Noronha & Brito, 2010, p.110).

Para estes autores, sustentabilidade dos serviços significa os gestores dos serviços terem a
capacidade de identificar as prioridades dos munícipes e traduzir essas prioridades em processos
internos ou no estabelecimento de parcerias para as satisfazer. Significa também dotar os Conselhos
Municipais de capacidades e competências não só para prestar os serviços, como para analisar o
seu desempenho, racionalizar os recursos envolvidos e introduzir mecanismos de melhoria
contínua. Se, numa organização tradicional, este desafio é já um desafio complexo, numa
organização influenciada pela janela temporal dos mandatos, este desafio torna-se ainda mais
complexo.

As reflexões que se impõem neste âmbito são pois: como melhorar a percepção sobre as
necessidades e prioridades dos munícipes; como optimizar os processos de gestão e a modelação

5
financeira dos serviços; quais os modelos de organização e de gestão que garantem que as
competências se mantêm e se reforçam, independentemente dos mandatos (p.110).

Considerações Finais

Com o trabalho que tinha como tema – Os desafios das Autarquias em Moçambique, com o
propósito central de apresentar os desafios das autarquias nacionais para ajudar a melhorar a sua
gestão/liderança efetiva, concluímos que a maioria dos municípios/autarquias nacionais enfrentam
muitos mais problemas por consequência do contexto político-económico, de globalização, de crise
económica e de outros problemas ligados com a gestão e pouco da sustentabilidade económicas
dos serviços, onde os pontos apresentados no trabalho mostram que atualmente em Moçambique
existem mais problemas relacionas com o desenvolvimento urbano por causa do índice elevado de
população nos centros urbanos e poucos problemas da gestão dos espaços e serviços urbanos.

Bibliografia

Dias, A. C. da G. (2015). Governação Autárquica: Desafios e Oportunidades. Coimbra, Portugal:


Universidade de Coimbra. Disponível em:
<https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/37163/1/Governa%C3%A7%C3%A3o%20Local.
pdf>. Acesso no dia 09 de Março de 2024.

Noronha, J. & Brito, L. (2020). Desafios da gestão municipal de uma lógica administrativa e
institucional para uma lógica de desenvolvimento organizacional e sustentabilidade.
Disponível em:
<https://www.iese.ac.mz/lib/publication/livros/des2010/IESE_Des2010_4.GestMun.pdf>.
Acesso no dia 09 de Março de 2024.

Pombal, L. B. S. de. (2021). Descentralização e participação comunitária no desenvolvimento


local: caso município de Boane (2018-2020). Maputo, Moçambique. Disponível em:
<http://monografias.uem.mz/bitstream/123456789/2309/1/2021-%20Pombal%2C%20%20L
ucas%20Boaventura%20Soares%20de.%20pdf>. Acesso no dia 09 de Março de 2024.

Santos, A. A. & Fonseca, F. T. da. (2005). O Poder Local em Tempo de Globalização: Uma
Historia e um futuro. Coimbra, Portugal: Universidade de Coimbra / CEFA.

Você também pode gostar