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GASTO PÚBLICO
NO TERRITÓRIO E O
TERRITÓRIO DO GASTO
NA POLÍTICA PÚBLICA
UM ESTUDO SOBRE A TERRITORIALIZAÇÃO
DO GASTO PÚBLICO NA CIDADE DE SÃO PAULO
2014-2017
www.fundacaotidesetubal.org.br
O
APRESENTAÇÃO
1
ORÇAMENTO E TERRITÓRIO: LEGISLAÇÃO E PARTICIPAÇÃO.......................... 10
2
IDENTIFICAÇÃO DO GASTO PÚBLICO REGIONALIZADO..................................... 22
3
IDENTIFICANDO BARREIRAS E OPORTUNIDADES...................................................34
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................................... 64
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO 7
A
pós um período de grande expan- plexa e heterogênea, compreender a direção
são das receitas e das despesas no dos esforços não será tarefa trivial. Ainda
município de São Paulo, o debate mais tratando-se de um tema – o orçamento
travado em relação ao gasto público na ci- público – extremamente técnico, com estru-
dade entrará em um período crucial. Afinal, tura, linguagem e procedimentos próprios,
sua arrecadação não apresenta (e, provavel- muito pouco acessíveis ao cidadão.
mente, não encontrará nos próximos anos) Nesse contexto, identificar a dimensão
a mesma trajetória ascendente que viveu territorial do gasto revela-se decisivo. Pri-
nos últimos 15 anos. Ao mesmo tempo, o dé- meiro porque permite, de fato, compreen-
ficit de investimentos sociais não foi ataca- der melhor a efetividade das políticas pú-
do adequadamente, e o enfrentamento da blicas face à redução das desigualdades.
elevada desigualdade socioterritorial exigirá Indicadores, pesquisas e trajetórias de vida
uma nova etapa de pactuação. Se pelo lado mostram, com fartura de evidências, que o
do resultado fiscal as pressões devem ocor- espaço é um elemento central para eluci-
rer na direção de contínua avaliação dos dar esse caminho. Segundo porque, dadas
gastos e otimização dos esforços, pelo lado as dimensões da cidade, a apropriação das
da demanda, as políticas públicas devem despesas segundo referências territoriais
VOLTAR
conviver com a necessidade de assegurar as aproxima o cidadão da administração públi- PARA
condições mínimas de acesso aos serviços ca, torna mais concretos os grandes núme- SUMÁRIO
1 Uma definição importante nesse sentido se deu em reunião com a Fundação Tide Setubal na qual foram descartadas opções
VOLTAR metodológicas relacionadas a formas de rateio ou cálculo indireto dos dados. Isso porque a complexificação do cálculo, com
PARA muitas informações indiretas, dificultaria a compreensão do público e, ademais, acabaria por levar o debate a discussões – entre
INÍCIO diferentes partes envolvidas – a respeito das metodologias, e não dos resultados.
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PARA
SUMÁRIO
ORÇAMENTO E TERRITÓRIO 11
TERRITÓRIO
gelamentos, cancelamentos de dotação e
suplementações. Nesse jogo, escolhas são
DIMENSÃO
feitas, prioridades são definidas, porções do
território são preteridas e outros têm as su-
CONTRADITÓRIA
as demandas contempladas. Nesse espaço
entre a dimensão normativa e as práticas
NAS NORMAS
rotinizadas e discricionárias da gestão, cir-
culam forças contraditórias. Compreendê-
DO ORÇAMENTO
-las, portanto, passa a ser essencial para a
incidência política sobre o tema.
PÚBLICO
O ORÇAMENTO PÚBLICO NO
MARCO DAS REGRAS FEDERAIS
O
orçamento público é, ao mesmo O atual marco legal do orçamento público
tempo, um mecanismo de contro- no Brasil tem como referência originária a
le democrático sobre os governos Lei n° 4.320, de 17 de março de 1964, que
eleitos e um instrumento de gestão, plane- estabelece as normas para elaboração e
jamento e racionalização da ação pública. controle desse instrumento. Criada no início
Com isso, o conjunto de leis e normas que o da ditadura militar brasileira, está orientada
regula busca tanto estabelecer os padrões pela concepção de orçamento-programa,
contábeis de sua organização quanto apon- isto é, um instrumento de implementação
tar para mecanismos que o relacionem com de uma estratégia de desenvolvimento (Ma-
o planejamento das políticas públicas. Por chado, 2002). Daí a sua ênfase na padro-
outro lado, a gestão orçamentária lida com nização programática. A referida lei, que
um elemento que não é normativo, mas que depois foi detalhada/alterada por instru-
a influencia sobremaneira: a vida cotidiana mentos infralegais, como portarias intermi-
da administração pública. Entre a elabora- nisteriais, criou as categorias para a classi-
ção da peça orçamentária pelo Executivo e ficação da despesa, permitindo visualizá-la
o pagamento de um determinado serviço, com base em pontos de vista que enfatizam
dezenas de pessoas são envolvidas – téc- perspectivas distintas.
nicos de diversas secretarias, secretários A primeira delas é a institucional, que
municipais, vereadores, chefe do Executivo permite identificar o poder (Executivo, Le-
VOLTAR
municipal, cidadãos e movimentos sociais gislativo e Judiciário) e, principalmente, o PARA
que incidem sobre esse processo. órgão administrativo que executa a despe- SUMÁRIO
VOLTAR
PARA 1 De acordo com a Constituição Federal de 1988, os municípios devem gastar pelo menos 25% das suas receitas com educação (e
INÍCIO DO a Lei Orgânica do Município de São Paulo aumenta esse percentual para 31%). Em relação às despesas com saúde, esse percentual
CAPÍTULO é de 15%, cuja obrigatoriedade foi criada pela Emenda Constitucional 29, de 2000.
formação ou ampliação de bens de capital tam o controle social sobre o gasto público.
que, portanto, serão usufruídos pela popu- O vínculo entre planejamento e orça-
lação por muitos anos. As despesas de capi- mento foi outra característica importante
tal estão divididas em investimentos, inver- do texto constitucional. Foi a CF/88 que
sões financeiras e amortização da dívida. instituiu o sistema de planejamento e orça-
A Constituição Federal, por sua vez, mento, composto por três elementos: Pla-
abordou de forma ampla e estrutural as fi- no Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orça-
nanças públicas no Brasil, modificando os mentárias (LDO) e Lei do Orçamento Anual
tributos e, sobretudo, alterando a distri- (LOA). Mais do que isso, estabeleceu uma
buição entre os entes federados no país, vinculação entre eles, com especial desta-
com descentralização de receitas e atribui- que ao Plano Plurianual como instrumento
ções da União para os estados e, sobretu- que baliza a ação governamental e desem-
do, os municípios (Santos & Gentil, 2009). boca na programação orçamentária do Po-
A Carta Magna tratou especificamente da der Executivo. Assim, além de espelhar o
questão orçamentária em capítulo próprio conteúdo de um programa de governo, re-
(Título VI, Capítulo II, Das Finanças Públi- presenta também um instrumento de con-
cas). Uma das preocupações centrais, ca- trole sobre os objetivos do gasto público.
racterística do contexto de redemocratiza- A avaliação dessa integração, no en-
ção, foi o resgate das atribuições do Poder tanto, mostra que, apesar dos esforços no
Legislativo – seja no rito de aprovação da cumprimento das obrigações legais, tais
peça orçamentária, seja no que concer- planos não repercutem na construção de
ne à inserção das emendas parlamentares capacidades governamentais para o plane-
(Machado, 2002). A lógica da sua aplica- jamento. Governos têm optado pela tercei-
ção está vinculada ao provimento de um rização, em vez de investir em capacitação
benefício direto, e visível, do gasto público, interna e acumulação de experiências, ou
vinculando os parlamentares às suas bases seja, os esforços não vêm sendo acompa-
eleitorais (Mani & Mukand, 2007). Tal carac- nhados do fortalecimento institucional e da
terística, portanto, introduz uma força de profissionalização dos órgãos responsáveis
territorialização ao orçamento público. pelo planejamento. Há, ainda, dificuldades
Isso não significa, de maneira alguma, para a coordenação das diversas unidades
que sua aplicação aponta para um sentido do governo, preponderando o paralelismo, a
positivo do gasto público. Em que pese o fa- fragmentação e a sobreposição de planos e
to de as emendas facilitarem a identificação ações (Carneiro, 2015).
territorial do gasto, elas têm o viés de pulve- A Lei Complementar n° 101 de 2000, por
rizar a aplicação de recursos que são escas- sua vez, estabelece normas de finanças pú-
sos e, assim, gerar uma perda em termos da blicas voltadas para a responsabilidade na
efetividade das políticas públicas.2 Além dis- gestão fiscal e promove o controle sobre o
so, tendem a distanciar-se dos instrumentos gasto público por meio do mecanismo de
de planejamento (portanto, dos seus objeti- transparência. Conhecida como Lei de Res-
vos, metas e indicadores) e, apartadas dos ponsabilidade Fiscal, ela trouxe diversas
mecanismos de mensuração do atingimen- inovações e mudanças ao marco normativo
to de objetivos e metas estipuladas, dificul- referente à gestão orçamentária no Brasil.
VOLTAR
PARA
2 No plano nacional, Machado (2002, p. 54) já havia identificado a tendência à pulverização a partir do orçamento da União de INÍCIO DO
1993, no qual foram apresentadas 75 mil emendas. CAPÍTULO
Ainda que uma análise mais pormenorizada trizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária
fuja aos objetivos do presente trabalho, três Anual. Porém, nesse caso, é importante des-
destaques podem ser feitos, já que impac- tacar que há uma clara e inequívoca men-
tam os nossos propósitos. Primeiro, essa lei ção à obrigatoriedade da regionalização do
estabeleceu a centralidade dos resultados gasto público. Nesse sentido, o parágrafo
financeiros, que passam a ser definidos a primeiro do artigo 137 estabelece: “A lei que
priori, possivelmente subordinando todas as instituir o plano plurianual estabelecerá, de
demais funções do processo orçamentário. forma regionalizada, as diretrizes, objetivos
Segundo, a imposição de limites de despe- e metas da administração pública municipal
sas com pessoal, medidas como um percen- para as despesas de capital, e outras delas
tual da receita corrente líquida3: 50% para a decorrentes, e para as relativas aos progra-
União e 60% para estados e municípios. Em mas de duração continuada”. Já o parágrafo
que medida esse limite ampliou o conjunto oitavo é bastante claro ao determinar: “A lei
de despesas com terceiros seria um tema orçamentária anual identificará, individuali-
relevante a ser investigado, já que implica zando-os, os projetos e atividades, segundo
uma mudança significativa das estratégias a sua localização, dimensão, características
de regionalização, aumentando a importân- principais e custo”.
cia de georreferenciar os contratos. O segundo elemento que merece des-
O terceiro trata da limitação dos em- taque é a introdução, consubstanciada pe-
penhos por meio da introdução das cotas la emenda 30 à Lei Orgânica do Município,
mensais e do contingenciamento das des- aprovada por unanimidade pela Câmara Mu-
pesas. Esse expediente, ainda que implique nicipal de Vereadores no ano de 2008, do
uma capacidade maior de controle sobre a Programa de Metas. Trata-se da obrigatorie-
execução do orçamento, por outro lado, se dade, inserida na seção das Atribuições do
traduziu em práticas que complicam a exe- Prefeito, de o prefeito eleito apresentar, em
cução do orçamento conforme o planejado. até 90 dias após sua posse, documento con-
Foram atribuídas ao seu uso excessivo algu- tendo: “as ações estratégicas, os indicadores
mas das dificuldades para aplicação do de- e as metas quantitativas para cada um dos
talhamento da ação. setores da Administração Pública Municipal,
Subprefeituras e Distritos da Cidade, obser-
vando, no mínimo, as diretrizes da sua cam-
AS NORMAS NO NÍVEL MUNICIPAL panha eleitoral e os objetivos, as diretrizes,
Finalmente, temos as normatizações defini- as ações estratégicas e as demais normas
das na esfera municipal. A Lei Orgânica do do Plano Diretor Estratégico”. Ora, se parti-
Município (LOM) traz a regulamentação a mos da premissa que tais ações dependem
respeito do orçamento público e dos instru- de execução do orçamento público, depre-
mentos de planejamento e orçamento nos ende-se que a regionalização do orçamento
seus artigos 137 ao 146. De maneira geral, é insumo básico, novamente, para o cumpri-
a lei maior do município reproduz o texto mento do estabelecido pela LOM.
constitucional no que diz respeito aos con- Ademais, a vinculação com o Plano Dire-
teúdos do Plano Plurianual, da Lei de Dire- tor Estratégico (PDE) introduz mais um ele-
VOLTAR
PARA 3 A receita corrente líquida compreende o conjunto de transferências do setor público ao setor privado (incluindo receitas
INÍCIO DO tributárias e transferências correntes de outros entes da federação, entre outras) subtraídas contribuições previdenciárias dos
CAPÍTULO funcionários públicos.
mento de diálogo entre a distribuição espe- meio das emendas compete com o controle
cial dos gastos públicos e o marco legal. O mais centralizado vinculado aos instrumen-
PDE está instituído na Lei Orgânica do Mu- tos de planejamento, sobretudo o PPA, mas
nicípio como ferramenta de planejamento também, no caso da cidade de São Paulo,
da cidade (art. 114). Da mesma forma, em- ao Programa de Metas.
bora a Constituição Federal já mencionasse
a necessidade de regionalização do PPA, a
dimensão territorial urbana foi introduzida
pelo Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257/2001)
no seu artigo art. 40, parágrafo primeiro: “O
plano diretor é parte integrante do processo
de planejamento municipal, devendo o pla-
ORÇAMENTO
no plurianual, as diretrizes orçamentárias e
o orçamento anual incorporar as diretrizes e
REGIONALIZADO:
as prioridades nele contidas”.
Embora não faça referência direta à re-
CONDIÇÃO
gionalização do gasto público, esse procedi-
mento pode novamente ser visto como um
NECESSÁRIA
requisito para o cumprimento das diretrizes
do Plano. Nos dois últimos Planos Diretores
PARA PROCESSOS
aprovados, a redução das desigualdades
socioterritoriais aparecem como um dos
PARTICIPATIVOS
principais objetivos de transformação da ci-
dade. Apesar de não terem sido vinculados
diretamente a esse objetivo, nem mesmo
mecanismos diretos para sua mensuração
A
(Wissenbach, 2017), é de se depreender que alocação dos recursos públicos no
essa e outras diretrizes do Plano requerem território traduz o efeito prático de
o controle territorializado do gasto público. decisões políticas que refletem a
Em suma, de maneira geral, as regras intencionalidade dos poderes Executivo e
que tratam do orçamento público são extre- Legislativo em relação ao projeto de cidade
mamente detalhadas no que se refere à sua e ao tipo de sociedade que desejam. Mais
aplicação. Por outro lado, esse disciplina- do que discursos, falas e promessas, é na
mento ainda não foi cumprido, pelo menos decisão cotidiana sobre a gestão do orça-
na experiência do município de São Paulo, mento que se define o caminho de cidade
em relação ao requisito da regionalização. que se quer. Mais do que isso, decisões de
Isso nos leva a duas conclusões. A primei- orçamento têm um efeito de longo prazo
ra é a clara e inequívoca obrigatoriedade do e seus resultados podem ser sentidos por
poder público municipal de territorializar o diversas gerações. Um exemplo. Nos anos
orçamento público. Isso se mostra de forma 1990, a cidade de São Paulo aumentou ex-
direta nos artigos da LOM e de forma indi- ponencialmente o seu nível de endivida-
reta na sua vinculação com o Plano Diretor mento. E o fez a partir da opção por gran-
Estratégico. A segunda é que existem for- des investimentos viários, em especial nas
ças contraditórias operando na normativa regiões mais ricas da cidade. VOLTAR
PARA
do orçamento público em relação à sua ter- As implicações dessa decisão política INÍCIO DO
ritorialização. A pulverização do gasto por são graves. Não apenas o usufruto desses CAPÍTULO
ta forma, o associa a um debate das políti- lidade e economia do setor público, acesso
cas públicas realizado ao longo dos pleitos. e capacidade de processamento de um con-
Nesse sentido, o caminho do orçamento junto grande de informações, disponibilidade
participativo ao Programa de Metas apon- de tempo para se debruçar sobre tudo isso,
ta para um sentido inverso ao sugerido pela organizar ações coletivas para, só então, po-
literatura relacionada à teoria democrática. der de fato incidir sobre a gestão orçamen-
Enquanto o primeiro estava calcado pela tária. Nesse sentido, a incidência do cidadão
possibilidade de alargamento dos espaços sobre o processo orçamentário geraria um
de incidência da sociedade civil, o segundo custo relativamente alto. Diminuir esse ônus
reforça uma institucionalidade que opera poderia passar pela adoção dos instrumen-
no âmbito da accountability formal (Marin & tos digitais, que ampliam a participação dos
Guerrini, 2017). Ao mesmo tempo, quando indivíduos, sobretudo no contexto de gran-
depois associado ao Conselho de Planeja- des cidades (Marin & Guerrini, 2017, p. 118).
mento e Orçamento Participativos (CPOP), Somando-se a isso e conforme relatado
criado na gestão do prefeito Fernando Ha- em entrevista, está a dificuldade em tradu-
ddad, possibilitou uma interação mais co- zir programas governamentais em termos
tidiana com segmentos da sociedade civil mais compreensíveis ao cidadão, o que
organizada, na qual foi possível perceber se choca com as práticas encontradas na
elementos do estabelecimento de um canal administração pública. Durante o ano de
de diálogos qualificado e informado sobre 2013 – por ocasião da formulação do Pla-
o tema, ainda que a deliberação mais direta no Plurianual (2013-2017), a extinta Secre-
sobre o uso dos recursos públicos fosse, te- taria Municipal de Planejamento (Sempla)
oricamente, menos incidente. procurou simplificar a estrutura das peças
O CPOP procurou trazer outros elemen- por meio de dois movimentos. O primeiro,
tos ao processo do OP, focando aspectos o de reduzir o número de dotações relacio-
mais globais do processo de planejamen- nadas ao orçamento de uma secretaria. A
to e orçamento em relação às experiências premissa era a de que é mais fácil ao cida-
anteriores, que enfatizavam prioridades se- dão compreender a execução a partir de
toriais e planos de obras. As atividades do dez dotações do que de 30.
Conselho envolviam a formação de conse-
lheiros e o monitoramento intensivo de al-
gumas metas e deliberações sobre inclusão Outra diretriz (...) era enxugar o
de ações de governo. Ou seja, agregou uma número de dotações. A ideia era
qualificação aos canais de discussão. tornar a execução mais simples, com
O balanço da discussão a respeito das menos remanejamento orçamentário,
estratégias de participação social no orça- mais fácil de executar. E um pouco
mento público na cidade de São Paulo apon- mais simplificado. Quando você quer
ta, portanto, para dois caminhos distintos. saber o orçamento da educação,
O primeiro vinculado ao fortalecimento da você olha lá dez dotações e não
democracia direta; o segundo, um caminho 30 (para entender o orçamento
relativo ao controle formal dos governos deles). Mais enxuto, mais fácil de
associado aos ciclos eleitorais. Em ambos, gerir e mais fácil de compreender.
acompanhar o orçamento pede um conhe-
VOLTAR cimento relativamente aprofundado nas
PARA
INÍCIO DO normas legais relacionadas à sua operação, O segundo foi o de simplificar a lingua-
CAPÍTULO noções sobre conceitos básicos de contabi- gem das dotações, colocando-as em ter-
mos mais diretos. O esforço, porém, encon- potencializa os processos formativos, infor-
trou resistências tanto no sentido de que a mativos e deliberativos relacionados ao gasto
simplificação das linguagens contrariava, público. Isso referencia as informações a um
de certa forma, uma cultura de representar universo mais concreto, palpável, articulado
mais tecnicamente alguns conceitos relati- com as demandas mais presentes e as difi-
vos às políticas públicas quanto no sentido culdades que a má qualidade da urbanização
de que a redução das dotações alteravam impõe, notadamente nas periferias de São
a forma pela qual o orçamento era opera- Paulo. Concomitantemente, permite dialogar
do pelos seus técnicos. Referindo-se à ten- com as particularidades desses espaços, in-
tativa de reduzi-las em uma secretaria, um duzindo as políticas públicas a compreender
entrevistado mencionou que a divisão re- especificidades das porções de uma cidade
presentava uma forma de organizar a distri- heterogênea. A qualificação dos instrumentos
buição dos repasses federais (uma dotação por meio de informações de qualidade sobre
de cada tipo de transferência). Em suma, há os gastos regionalizados amplia, dessa for-
uma natureza intrínseca do processo de for- ma, o interesse das pessoas em participar dos
mulação do orçamento que leva a uma ra- processos, conferindo significado ao diálogo.
zóavel complexificação, e mesmo tentativas Permite, enfim, um deslocamento do debate
de simplificá-lo encontram dificuldade de dos grandes números do orçamento, para os
naturezas diversas. quais os valores envolvidos sempre parecem
bastante expressivos, em direção a cifras mais
modestas – nas quais aumentos ou diminui-
REGIONALIZAÇÃO E PARTICIPAÇÃO ções se mostram mais relevantes.
Entre o vasto conjunto de dificuldades para o Essa visão pode ser corroborada, ainda,
acompanhamento do cidadão, qual papel te- a partir de relatos de experiências recentes.
ria uma ampla regionalização para fomentar Mesmo que implementada de forma prelimi-
uma participação mais efetiva da população? nar e com todas as dificuldades apontadas,
A partir de um olhar, ainda que breve, sobre a introdução do detalhamento da ação (será
experiências e tentativas de democratização apresentada mais adiante) gerou uma me-
do orçamento, pode-se dizer que encontra- lhora na qualidade das informações, que foi
ram uma barreira significativa na dificuldade notada no percurso de implementação do
em aproximar os gastos do cidadão no nível CPOP (Marcondes & Canato, 2015). De acor-
territorial, tornando-os mais concretos: do com uma das entrevistas:
VOLTAR
PARA
Regionalizar os gastos públicos em uni- A regionalização do gasto público emer- INÍCIO DO
dades territoriais mais próximas ao cidadão ge, portanto, como instrumento fundamen- CAPÍTULO
tal para qualificar os espaços de partici- nalizado, dado que a rede opera em toda
pação popular. Evidentemente, os limites a cidade. Mas os seus benefícios podem
apresentados nas tentativas de implemen- adquirir um sentido em relação ao padrão
tar processos mais democráticos de toma- socioterritorial. Poderíamos trabalhar com a
da de decisão na cidade são de ordem mais população que é usuária do transporte cole-
ampla, conforme apontado na relativamen- tivo na cidade e considerar que seu benefí-
te vasta bibliografia sobre o tema em São cio se distribui entre eles.
Paulo, já explorada nas páginas anteriores. O segundo, para o qual ter informação
Porém, o caráter imprescindível dos esfor- sobre todo o gasto por unidade administra-
ços em distribuir o gasto público em unida- tiva é essencial, diz respeito a um objetivo
des administrativas na escala local coloca de outra natureza: permitir que o cidadão
o tema do presente trabalho como requisi- se aproprie cada vez mais das discussões,
to para um novo modelo de governança na dos debates do seu bairro. Um balanço das
cidade. Ainda que haja um longo percurso dificuldades em aumentar, ou mesmo tor-
para enfrentar as barreiras impostas, e cer- nar mais efetivas, as iniciativas relaciona-
tamente há, é um esforço que vale a pena. das à ampliação da participação pública no
Se o direito à cidade pode ser entendido co- orçamento mostra as barreiras para que se
mo a combinação entre o usufruto dos cida- chegue a um nível de detalhamento maior,
dãos sobre o patrimônio intergeracional e a em termos territoriais, do gasto público. Is-
capacidade de incidir sobre as escolhas que so significa, de forma combinada, que não
são feitas em relação ao seu futuro, então se limite a debater investimentos e planos
temos um caminho profícuo para efetivá-lo. de obras, mas que se incorpore às dimen-
Essa constatação nos leva a uma questão sões de custeio, incluindo pessoal e contra-
metodológica importante: a distinção entre tos, sobretudo, se levarmos em conta que a
dois objetivos para os quais a regionaliza- ampliação da participação não é importan-
ção do orçamento pode ser orientada. te apenas nos períodos de expansão das
O primeiro está vinculado à construção receitas e dos serviços públicos, mas tam-
de bases de dados robustas que permitem bém para os momentos de retração econô-
elevar a capacidade de análise das dinâmi- mica, queda das receitas e ampliação dos
cas urbanas e a interfência do papel do es- conflitos distributivos. Nessas etapas, é
tado e do gasto público sobre ela. Para isso, crucial que o cidadão tenha uma apropria-
não é necessariamente primordial distribuir ção dos custos de cada equipamento (um
o gasto público a partir de uma unidade parque, uma UBS, um CRAS, uma escola) e
administrativa (como, por exemplo, as pre- que saiba claramente quanto se gasta na-
feituras regionais), mas estabelecer estraté- quele território com habitação, com saúde,
gias que permitam acompanhar o sentido com educação.
territorial da aplicação das despesas públi- Entendemos que o presente trabalho,
ca. Pode-se trabalhar com uma combinação ao apontar barreiras e oportunidades pa-
de dados, em distintas escalas de análise e ra o georreferenciamento do orçamento
que permitam uma sobreposição entre ter- público, fornece subsídios para esses dois
ritórios (mais ou menos vulneráveis) e polí- objetivos. A perspectiva orientadora, no
ticas setoriais. Inferências, estivas e rateios entanto, está mais vinculada ao segundo,
do gasto público podem servir a esse tipo mais complexo à medida que implica ter
VOLTAR de análise. O subsídio da tarifa de transpor- todos os gastos regionalizados. O primei-
PARA
INÍCIO DO te público é um bom exemplo dessa situa- ro objetivo, porém, pode ser visto como
CAPÍTULO ção. Ele não é, a princípio, um gasto regio- um instrumento tático para mobilizar a so-
VOLTAR
PARA
INÍCIO DO
CAPÍTULO
UMA ANÁLISE
Há, ainda, um agravante: a análise dos
dados mostra que, à medida que avança o
DO ORÇAMENTO
processo de execução orçamentária, diminui
a parcela dos gastos com sua localização de-
PÚBLICO
finida. Depois de debater a Lei Orçamentária
em audiências públicas (o que é obrigatório
PAULISTANO SOB
por lei) e com o Legislativo (obedecendo a
um princípio da repartição de poderes), o
O ENFOQUE DA
Poder Executivo promove um amplo conge-
lamento de despesas. Ao se descongelarem
TERRITORIALIZAÇÃO
e se empenharem os recursos, os gastos com
a localização informada são mais prejudica-
DOS GASTOS
dos e aumenta o volume percentual do orça-
mento suprarregional e não localizado. Des-
constrói-se, dessa forma, o pouco que havia
de um pacto territorial: o ganha e perde en-
A
Prefeitura de São Paulo não sabe tre recursos para regiões distintas se diluem
informar onde são realizadas 75% em dotações orçamentárias genéricas, e a
dos gastos públicos em investi- sociedade civil é privada de ter informação
mentos e contratos com terceiros nas suas sobre o resultado do processo decisório.
secretarias-fim, isto é, que prestam serviços A reversão desse quadro, essencial para
diretos à população da cidade. Por outro la- a mobilização conjunta de atores sociais em
do, só sabe dizer onde são realizados apenas direção à diminuição das desigualdades so-
3% dessas mesmas despesas. Ou seja, em cioterritoriais, é factível. Para isso, a Fundação
tempos nos quais o debate democrático so- Tide Setubal vem empreendendo esforços na
bre priorização e aplicação dos recursos pú- direção de fornecer ferramentas que sirvam
blicos se mostra estruturalmente relevante, tanto ao governo como à sociedade civil para
não existem informações confiáveis que per- aprimorar a qualidade das informações orça-
mitam que governo e sociedade dialoguem mentárias no que diz respeito à sua localiza-
de maneira informada sobre o sentido de ção territorial. O primeiro passo foi realizar um
suas políticas: afinal, em que medida a apli- diagnóstico dos principais problemas enfren-
cação de recursos públicos tem atenuado ou tados (e as oportunidades para seu enfrenta-
agravado a desigualdade socioterritorial? mento) na pesquisa “Identificação dos gastos
A falta de verbas, por sua vez, é alegação públicos nas periferias de São Paulo”. Agora,
frequente para justificar a insuficiência de o trabalho se desdobra na atuação coletiva
VOLTAR
serviços públicos nas regiões mais pobres por meio do Grupo de Trabalho de Orçamen- PARA
da cidade, essa, sim, reprodutora das desi- to da Rede Nossa São Paulo, na sensibilização SUMÁRIO
Cabe, ainda, uma observação relacionada à sas com grande impacto sobre a realidade
nomenclatura: para dar maior visibilidade, fa- vivida pelos habitantes da cidade: secreta-
cilitar a compreensão e comunicação com o rias-fim, despesas de investimento e ser-
Executivo municipal, optamos por utilizar o viços com terceiros. O período de 2014 a
nome das atuais secretarias. Para isso realiza- 2017 foi selecionado por ser o mais recen-
mos de forma retroativa uma compatibiliza- te, já que pretendemos analisar como está
ção entre as nomenclaturas. o processo de georreferenciamento do or-
Excluídas as secretarias-meio, trabalha- çamento no tempo presente e, para isso,
mos com um recorte também relativo à na- procurou-se aplicar o período do último
tureza dos gastos. Foram analisados dois Plano Plurianual – no qual a semelhança de
grupos de despesa: os investimentos e os nomenclatura das ações facilita o trabalho
contratos com terceiros, pessoa jurídica. Os de classificação e análise das informações.
investimentos porque, embora lidem com Esse subconjunto totalizou 17.290 ações or-
um horizonte relativamente reduzido dos çamentárias, representando 70,3 bilhões de
gastos públicos, são fundamentais indutores reais ao longo dos anos de 2014 a 2017. A
da transformação da realidade socioespacial partir desse recorte, as ações foram classifi-
da cidade e que tornam-se ainda mais cru- cadas entre as seguintes categorias:
ciais se considerarmos o déficit das popula-
ções mais vulneráveis a esses bens e à redu-
zida capacidade do município com relação
a essa natureza de despesa. Já os contratos
com terceiros referem-se a “serviços essen-
1 suprarregionais: despesas
que abarcam o conjunto do
município com impacto territorial
ciais prestados à população, relacionados ao indireto e, portanto, não são
atendimento de saúde, à limpeza e zeladoria regionalizáveis. Envolvem
urbana, à distribuição de uniformes e meren- itens como administração da
da escolar. Enfim, elementos centrais no âm- unidade, treinamentos gerais
bito das competências da prefeitura e funda- aos servidores públicos,
mentais, sobretudo, para os segmentos mais campanhas e desenvolvimento
vulneráveis da população”. de sistemas de informação;
Assim e conforme justificado na pesqui-
sa anterior, “Identificação dos Gastos Públi-
cos na Periferia de São Paulo”, ficaram fora
da conta as despesas relativas ao pagamen-
2 regionalizáveis: despesas que
só podem ser executadas com
alguma vinculação territorial,
to da dívida (incluindo juros e amortização), como “reforma de escolas”. Ou
encargos e despesas com aposentadorias e seja, são, claramente, de caráter
pensões. Finalmente, os dados com pesso- territorial. Estas, por sua vez,
al foram excluídos da presente análise. Eles subdividem-se em duas categorias:
possuem forte repercussão na reversão das
dinâmicas socioespaciais, porém, o caminho • localização informada, projetos
para sua regionalização já está apontado na com referência explicitamente
pesquisa anterior, e estão vinculados, sobre- territorial, como, por exemplo,
tudo, ao georreferenciamento dos funcio- o nome do equipamento
nários – cujos desafios já foram explicitados público, o endereço do
e os caminhos, apontados. local a ser construído ou VOLTAR
PARA
Em suma, aplicando os filtros listados a prefeitura regional de INÍCIO DO
acima, ficamos com um conjunto de despe- referência (unidade mínima); CAPÍTULO
TABELA 1
GASTO PÚBLICO SELECIONADO, SEGUNDO CATEGORIZAÇÃO
GEOGRÁFICA – 2014 A 2017 (Em milhões R$ nominais)
ORÇADO LIQUIDADO
CATEGORIZAÇÃO
GEOGRÁFICA Vl. Abs. % Vl. Abs. %
Regionalizável - localização
67.605,36 76,3 48.677,99 75,3
não informada
Regionalizável - localização informada 5.238,39 5,9 2.118,56 3,3
VOLTAR Suprarregional 15.745,47 17,8 13.848,47 21,4
PARA Total 88.589,22 100,0 64.645,02 100,0
INÍCIO DO
CAPÍTULO Fonte: Relatório da execução orçamentária anual – Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
TABELA 2
PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DAS CATEGORIAS GEOGRÁFICAS,
SEGUNDO ETAPA DO PROCESSO ORÇAMENTÁRIO – 2014 A 2017
(Em milhões R$ nominais)
Fonte: Relatório da execução orçamentária anual – Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
TABELA 3
GASTO PÚBLICO SELECIONADO, SEGUNDO CATEGORIZAÇÃO
GEOGRÁFICA – 2014 A 2017 (Em milhões R$ nominais)
CATEGORIA GEOGRÁFICA
REGIONALIZÁVEL
ÓRGÃO
Localização Localização
Localização
não não Suprarregional Total
informada
informada informada
Saúde 147,43 0,7 18.084,12 80,2 4.313,59 19,1 22.545,14 100,0
Educação 0,18 0,0 9.828,14 78,4 2.703,99 21,6 12.532,31 100,0
Prefeituras
876,42 8,7 5.329,57 52,8 3.885,91 38,5 10.091,91 100,0
Regionais
Infraestrutura
711,17 14,2 4.179,18 83,2 131,62 2,6 5.021,97 100,0
Urbana e Obras
Assistência
0,00 0,0 3.618,32 97,1 109,80 2,9 3.728,12 100,0
e Des. Social
Mobilidade
0,00 0,0 3.311,57 62,2 2.015,45 37,8 5.327,02 100,0
e Transportes
Habitação 1,70 0,1 1.763,26 93,0 131,56 6,9 1.896,52 100,0
Urbanismo e
28,95 1,7 1.530,59 88,1 176,97 10,2 1.736,51 100,0
Licenciamento
Esportes e Lazer 2,48 0,5 484,99 92,1 38,95 7,4 526,42 100,0
Cultura 349,97 33,0 437,94 41,3 273,54 25,8 1.061,45 100,0
Trabalho e Emp. 0,26 0,1 110,31 62,1 67,09 37,8 177,66 100,0
Total 2.118,56 3,3 48.677,99 75,3 13.848,52 21,4 64.645,06 100,0
Fonte: Relatório da execução orçamentária anual – Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
GRÁFICO 1
PERCENTUAL DO GASTO REGIONALIZÁVEL NÃO LOCALIZADO,
SEGUNDO SECRETARIAS – 2014 A 2017
Assistência e Des. Social 97,1%
Habitação 93,0%
Saúde 80,2%
Educação 78,4%
TOTAL 75,3%
Cultura 41,3%
Fonte: Relatório da execução orçamentária anual – Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
Por serem as maiores secretarias, Saú- Ambos os temas povoam com intensidade os
de e Educação chamam atenção para o alto discursos eleitorais de candidatos ao Executi-
percentual de gastos com a localização não vo e ao Legislativo, mas não se sabe, efetiva-
identificada, na casa dos 80%, e o baixo per- mente, como tais prioridades se transformam
centual das identificadas próximo de zero, no em ações concretas no território.
caso da Educação, e menos de 1% no caso da
Saúde. Ou seja, a prefeitura não sabe informar
quais territórios são efetivamente priorizados GASTOS TERRITORIALIZADOS
nem tampouco prestar contas em relação NO PERÍODO RECENTE
ao atendimento de demandas comuns nos Identificado o percentual de gastos efeti-
processos participativos: vagas em creches vamente relizados, duas questões subse-
e construção de Unidades Básicas de Saú- quentes foram analisadas. A primeira foi a VOLTAR
PARA
de estão entre os mais frequentes reclamos de compreender no tempo o que aconteceu INÍCIO DO
dos cidadãos que participam desse processo. com o processo orçamentário no que diz CAPÍTULO
respeito à territorialização. Para isso, bus- diz respeito ao ano inicial, 2014. Esse foi o
camos trabalhar um olhar para o esforço de segundo ano de gestão e o primeiro ano do
planejamento dos gastos que, como vimos, ciclo do PPA, marcado, portanto, pela proxi-
sempre foi maior do que a capacidade de midade de uma etapa em que a administra-
informar a execução do gasto regionalizado. ção estava, de fato, voltada para planejar o
Observamos, no relatório anterior, a média seu gasto a partir de um olhar mais global.
do período; agora, torna-se pertinente inda- O ano anterior foi um período de elabora-
gar como, nos diferentes anos, a prefeitura ção – além das peças orçamentárias que são
se planejou para informar a regionalização anuais (LDO e LOA), do Programa de Metas
das suas despesas. A segunda, nessa mes- da Cidade e do PPA 2014-2017. Era um mo-
ma linha, foi a de investigar como foi o com- mento, portanto, de reconfiguração de pro-
portamento das secretarias nesse processo. gramas, políticas e planejamento mais amplo
Para o primeiro dos objetivos, buscamos dos gastos. Já 2017 difere totalmente desse
entender a dinâmica no tempo sobre os es- período. Trata-se do primeiro ano de uma
forços de planejamento governamental pa- nova gestão que estava justamente se pre-
ra dar conta de produzir informação – já na parando para construir as peças de plane-
etapa de formulação – sobre o gasto públi- jamento-orçamento de acordo com as suas
co.1 Antes disso, devemos lembrar algumas preferências. Além disso, devemos considerar
características do período que podem ter que o nível de investimentos públicos caiu ao
influenciado os resultados. O primeiro deles longo desse período – afetando a composição
GRÁFICO 2
GASTO PÚBLICO MUNICIPAL PLANEJADO,
SEGUNDO CATEGORIZAÇÃO GEOGRÁFICA – 2014 A 2017
2014 74,7%
17,1%
8,1%
74,7%
2015
18,8%
6,5%
77,8%
2016
17,3%
5,0%
78,0%
2017 17,9%
4,0%
Localização informada Suprarregional Localização não informada
Fonte: Relatório de execução orçamentária anual – Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
VOLTAR 1 Existem informações disponíveis sobre o planejamento territorial dos gastos de cada ano nas tabelas do quadro de detalhamento
PARA das ações. Tais informações, no entanto, não foram analisadas por dois motivos: o primeiro, pelo fato de o campo detalhamento da
INÍCIO DO ação não estar disponível no relatório de execução orçamentária, não permitindo, dessa forma, a comparação ao longo do tempo
CAPÍTULO dentro das mesmas bases; adicionalmente, pelo fato de estarem disponíveis em PDF, ou seja, fora dos padrões de dados abertos.
GRÁFICO 3
GASTO PÚBLICO MUNICIPAL LIQUIDADO,
SEGUNDO CATEGORIZAÇÃO GEOGRÁFICA – 2014 A 2017
2014 72,5%
21,4%
6,5%
2015 75,3%
22,0%
2,6%
2016 76,1%
21,1%
2,8%
76,9%
2017
21,2%
Localização informada Suprarregional 1,9%
Localização não informada
Fonte: Relatório de execução orçamentária anual – Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
dos gastos e, consequentemente, impactan- que existe um alto custo (sobretudo em ter-
do as informações sobre a sua regionalização. mos de trabalho) para regionalizar o gasto
É precisamente isso que observamos público. Sem incentivos, estímulos ou san-
nos gráficos 2 e 3. Neles, reforçamos o que ções, esse percentual tende a cair. Por outro
já estava apresentado no relatório anterior, lado, o resultado apresentado no gráfico 1
isto é, o baixo percentual de identificação indica o potencial das ações de advocacy:
territorial do gasto, mas com um agravante: podemos rapidamente voltar ao patamar
se antes mostramos que a média do perío- identificado em 2014, que apontou – na fa-
do (para os valores liquidados) era de ape- se de planejamento – para o maior índice do
nas 3%, agora vemos que ela vem caindo ao período para percentual do gasto público
longo do tempo, tanto para os valores orça- com a localização identificada: 8,1%.
dos como para os valores liquidados. Ao abrir as séries temporais por secreta-
De fato, esse expediente ainda pode ser ria, podemos perceber como esse processo
verdadeiro, mas devemos levar em considera- se deu setorialmente e, dessa forma, identi-
ção que ele não funcionou como um incentivo ficar campos para possíveis avanços a par-
para manter o patamar de planejamento dos tir das ações e campanhas pela territoriali-
gastos. De todo modo, fica clara uma conclu- zação do orçamento público. Se havíamos
são preocupante: o esforço da máquina pú- identificado e destacado na introdução do
blica para planejar territorialmente os seus presente documento que a administração
gastos vem caindo com o passar dos anos. convive num contexto de pluralidade e he-
Ao menos é para isso que apontam os dados terogeneidade institucional, em termos de
públicos sobre a execução orçamentária. participação, chama a atenção que acom-
Esse resultado é, de certa forma, espe- panhou a queda do orçamento regionaliza- VOLTAR
PARA
rado, dado que já identificamos na pesquisa do uma expressiva redução na participação INÍCIO DO
“Gastos Públicos na Periferia de São Paulo” da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Ur- CAPÍTULO
banos, que correspondia, em 2014, a 65% dos urbanas, sobretudo a partir da Secretaria de
valores que tinham sua identificação defini- Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), e, mas
VOLTAR da. Ou seja, os investimentos em obras dei- secundariamente, pela atual Secretaria de Ur-
PARA
INÍCIO DO xaram de ser acompanhados por um esforço banismo e Licenciamento (SMUL). A primeira
CAPÍTULO em termos de qualidade da informação. atingiu o importante valor de mais de 1 bilhão
A tabela 4 mostra, nesse sentido, que o es- de reais com valores territorialmente identifi-
forço de planejar os gastos e informá-los ter- cados, ou 23% do gasto previsto. Já em 2017
ritorialmente se deu a partir das intervenções houve uma queda expressiva, para cerca de
TABELA 4
PARTICIPAÇÃO DO ORÇAMENTO MUNICIPAL PLANEJADO
COM LOCAL IDENTIFICADO, SEGUNDO SECRETARIAS – 2014 E 2017
2014 2017
GEOGRÁFICA Local Gasto Local Gasto
% informado % informado
identificado total identificado total
Secretaria Municipal de
66 116 57,1% 21 1.035 2,0%
Urbanismo e Licenciamento
Secretaria Municipal do
25 66 37,5% 17 108 15,6%
Trabalho e Empreendedorismo
Secretaria Municipal de
1.178 5.125 23,0% 218 2.422 9,0%
Infraestrutura Urbana e Obras
Secretaria Municipal
468 2.951 15,9% 451 3.006 15,0%
das Prefeituras Regionais
Secretaria Municipal
25 284 8,7% 117 452 26,0%
de Cultura
Secretaria Municipal
26 449 5,8% 15 211 7,3%
de Esportes e Lazer
Secretaria Municipal da Saúde 6 5.694 0,1% 18 6.204 0,3%
Secretaria Municipal
1 3.052 0,0% 5 4.192 0,1%
de Educação
Secretaria Municipal
de Assistência e 0 907 0,0% 1 1.213 0,0%
Desenvolvimento Social
Secretaria Municipal
0 1.406 0,0% 0 1.588 0,0%
de Mobilidade e Transportes
Secretaria Municipal
0 2.076 0,0% 4 1.036 0,3%
de Habitação
Total 1.796 22.125 8,1% 867 21.466 4,0%
Fonte: Relatório de execução orçamentária anual – Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
200 milhões de reais, não ocupando mais mais alta se devia à presença de autarquias
de 10% do orçamento previsto pela pasta. e fundações muito específicas, como é o ca-
Na SMUL, esse valor passou de 57% para 2%. so do Teatro Municipal.
Um evento, que já identificamos na pesquisa O crescimento significativo, porém, nos
“Gasto Público na Periferia de São Paulo”, po- indica que houve, de fato, um movimento
de nos ajudar a relativizar esse processo: a in- em direção a um planejamento territoria-
trodução, no decreto de execução orçamen- lizado das suas despesas. Não poderiam
tária de 2014, do detalhamento da ação (DA), deixar de chamar a atenção, entretanto, as
campo para o qual era prevista a especifica- pastas que zeraram (e permaneceram assim
ção do distrito administrativo no momento ao longo do quadriênio): Assistência So-
do empenho orçamentário. Porém, como as cial, Mobilidade e Transporte e Habitação.
informações relacionadas ao detalhamento São áreas cujos gastos são eminentemente
não são públicas, não é possível medir de que territoriais (com exceção de transporte, em
forma as práticas de preenchimento do DA e função do aumento expressivo da despesa
os seus resultados em termos de melhoria da com subsídio das tarifas).
qualidade da informação ocorreram. O esforço desigual no planejamento do
Entre as secretarias que aumentaram gasto das secretarias ao longo do tempo
o seu esforço em planejar o orçamento de resultou, de fato, em estruturas diferentes
forma territorializada, ganha destaque a do gasto efetivamente realizado, isto é, na
Secretaria Municipal de Cultura. O expres- composição dos valores liquidados, corres-
sivo aumento do percentual do gasto com pondente ao que se verificou em relação ao
a localização informada indica que a pasta orçado. No período, passamos de uma com-
trabalhou na contramão da média da pre- posição especialmente voltada para interven-
feitura. Com esse resultado, aprofundamos ções urbanas para uma relacionada, sobretu- VOLTAR
PARA
também a leitura do relatório anterior, no do, aos valores dispendidos pelas prefeituras INÍCIO DO
qual havíamos sugerido que a participação regionais e pelos equipamentos de cultura. CAPÍTULO
GRÁFICO 4
PARTICIPAÇÃO DAS SECRETARIAS MUNICIPAIS NO GASTO
LIQUIDADO COM LOCALIZAÇÃO INFORMADA – 2014 E 2017
2014 63,7%
28,2%
4,4%
3,2%
0,3%
2017 0,1%
15,5%
47,1%
37,4%
Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais
Secretaria Municipal de Cultura Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento
Secretaria Municipal de Esportes e Lazer
Fonte: Relatório de execução orçamentária anual – Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
VOLTAR
PARA
SUMÁRIO
IDENTIFICANDO BARREIRAS E OPORTUNIDADES 35
PRINCIPAIS GRUPOS
filtros foram aplicados no presente trabalho
de forma a otimizar os esforços de regiona-
DE DESPESA E AS
lização para delimitar um escopo que real-
mente interessa aos propósitos da presen-
BARREIRAS PARA
te pesquisa, qual seja, o de mapear aqueles
gastos que permitam, de fato, dimensionar
REGIONALIZAÇÃO
o esforço dos governos municipais em re-
lação à reversão das desigualdades territo-
riais. Ao mesmo tempo, construir um cami-
nho de regionalização do orçamento que
A
importância de regionalizar o gasto sirva como instrumento para qualificar a
público, seja do ponto de vista da participação cidadã nas decisões da cidade,
gestão governamental, da avaliação isto é, fomentar uma gestão mais democrá-
da política municipal, mas, sobretudo, como tica da cidade.
um mecanismo para qualificar e fomentar a Para orientar tal discussão, trabalhamos
participação social no debate e nas escolhas com o total de gasto público no município
efetuadas em relação às priorizações do ser- de São Paulo entre 2012 e 2016.1 Uma pri-
viços público, aponta para um grande desa- meira visão sobre este na cidade de São
fio. Compreender melhor e identificar como Paulo diz respeito a uma macroclassificação
resolver o problema torna-se um caminho baseada na natureza da despesa: investi-
lógico nesse percurso. As barreiras para im- mento e custeio, conforme apresentado na
plementar tal rotina (que serão descritas de tabela 5. Analisando os números, depreen-
forma mais pormenorizada nas seções se- de-se a importância de ambos para a análi-
guintes) estão, sobretudo, vinculadas aos se do esforço da administração pública mu-
procedimentos atuais na forma pela qual o nicipal nas distintas porções da cidade.
1 A escolha se deu por dois motivos: (i) disponibilidade de informações em arquivos abertos; e (ii) período mais abrangente para VOLTAR
não entrar no mérito de cada orçamento ou de cada gestão, mas um olhar geral sobre os grandes números. Os valores mostrados PARA
são sempre referentes às liquidações, portanto, efetivamente despendidos pela administração pública. SUMÁRIO
TABELA 5
DESPESAS MUNICIPAIS, SEGUNDO NATUREZA DA DESPESA
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO • 2012 A 2016
TABELA 6
DESPESAS MUNICIPAIS, SEGUNDO NATUREZA E GRUPO
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO • 2012 A 2016
VALORES PARTICIPAÇÃO NO
NATUREZA DE DESPESA GRUPO DE DESPESA
(EM REAIS CORRENTES) TOTAL DAS DESPESAS
Juros e encargos da dívida 10.136.789.396 4,9%
Outras despesas correntes 98.164.370.288 47,8%
Despesas correntes
Pessoal e encargos sociais 74.112.498.230 36,1%
Total correntes 182.413.657.913 88,9%
Amortização da dívida 7.545.418.725 3,7%
Inversões financeiras 407.206.798 0,2%
Despesas de capital
Investimentos 14.933.738.160 7,3%
Total capital 22.886.363.683 11,1%
Total geral 205.300.021.596 100,0%
rias que, somadas, representaram 91% dos entender melhor esse grupo. Dentro dele e
gastos públicos na cidade entre 2012 e 2016: conforme a tabela 7, percebe-se a importân-
investimentos, pessoal e encargos sociais e cia do grupo de despesa “Outros Serviços
outras despesas correntes. de Terceiros – Pessoa Jurídica”. Destacando
Ainda que aplicado esse primeiro filtro a sua magnitude: dos 205 bilhões de reais
(que basicamente excluiu os gastos com a de gastos públicos no período, 65 bilhões
dívida paulistana da conta), as categorias de reais foram nesses contratos. Estamos
permanecem muito genéricas, o que nos le- tratando aqui de serviços essenciais pres-
va à necessidade de explicitar melhor o que tados à população, relacionados ao atendi-
são essas despesas. Um olhar rápido a par- mento de saúde, à limpeza e zeladoria urba-
tir dos resultados da figura anterior mostra na, à distribuição de uniformes e merenda
que há uma forte concentração desses gas- escolar. Enfim, elementos centrais no âm-
tos no grupo “Outras Despesas Correntes”, bito das competências da prefeitura e fun-
que chama a atenção por representarem damentais, sobretudo, para os segmentos
mais da metade do universo dos gastos ter- mais vulneráveis da população. Embora se
ritorializáveis. Isso significa que, se preten- trate de atividades e serviços absolutamen-
demos captar a dimensão do esforço dos te territorializáveis, em sua grande maioria,
governos em promover melhorias significa- essa é a informação mais difícil de se pro-
tivas na qualidade de vida das pessoas ou se duzir para níveis espaciais mais detalhados VOLTAR
PARA
pretendemos trazer para os processos par- – fato reconhecido por todos os entrevista- INÍCIO DO
ticipativos essa discussão, será fundamental dos ao longo da pesquisa. CAPÍTULO
TABELA 7
DETALHAMENTO DAS OUTRAS DESPESAS CORRENTES,
SEGUNDO CATEGORIAS
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO • 2012 A 2014
PARTICIPAÇÃO
OUTRAS DESPESAS CORRENTES VALORES
(TOTAL DOS GASTOS)
TABELA 8
DETALHAMENTO DAS DESPESAS COM PESSOAL E ENCARGOS
SOCIAIS, SEGUNDO CATEGORIAS
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO • 2012 A 2016
PARTICIPAÇÃO
PESSOAL E ENCARGOS SOCIAIS VALORES
(TOTAL DOS GASTOS)
VOLTAR
PARA
INÍCIO DO
CAPÍTULO
TABELA 9
NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS, ENDEREÇOS ÚNICOS E PERCENTUAL
DE ENDEREÇOS NÃO IDENTIFICADOS, SEGUNDO SECRETARIAS3
% DE
NÚMERO DE
NÚMERO DE FUNCIONÁRIOS
ÓRGÃO ENDEREÇOS
FUNCIONÁRIOS SEM ENDEREÇO
ÚNICOS
IDENTIFICADO
SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE 18.460 448 12%
SECRETARIA MUNICIPAL DE SEGURANÇA URBANA 6.362 76 13%
SECRETARIA MUNICIPAL DE CULTURA 1.265 14 45%
SECRETARIA MUNICIPAL DA FAZENDA 1.049 2 29%
PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO 859 5 28%
SECRETARIA MUNICIPAL DE ESPORTES E LAZER 790 50 1%
SECRETARIA MUNICIPAL DO VERDE E DO MEIO AMBIENTE 766 13 0%
SECRETARIA MUNICIPAL DE URBANISMO E LICENCIAMENTO 612 1 70%
SECRETARIA MUNICIPAL DE GESTÃO 603 3 86%
SECRETARIA MUNICIPAL DAS PREFEITURAS REGIONAIS 426 8 18%
GABINETE DO PREFEITO 384 1 22%
SECRETARIA MUNICIPAL DE SERVIÇOS E OBRAS 377 20%
SECRETARIA MUNICIPAL DE JUSTIÇA 352 1 0%
SECRETARIA MUNICIPAL DE HABITAÇÃO 272 1 0%
SECRETARIA MUNICIPAL DE TRABALHO E EMPREENDEDORISMO 272 66 47%
SECRETARIA MUNICIPAL DE DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA 206 5 4%
SECRETARIA MUNICIPAL DE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA 187 5 31%
SECRETARIA MUNICIPAL DE MOBILIDADE E TRANSPORTES 80 3 0%
SECRETARIA MUNICIPAL DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA 48 0 100%
SECRETARIA MUNICIPAL DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS 29 1 0%
SECRETARIA MUNICIPAL DE DESESTATIZAÇÃO E PARCERIAS 23 1 0%
3 Os arquivos relativos aos servidores da educação estavam corrompidos e, após reiteradas tentativas, não foram utilizados. As informações foram solicitadas à
pasta. Porém, até o momento de entrega do presente relatório, não recebemos retorno sobre essa base.
INVESTIMENTOS:
Lançado pela Prefeitura de São Paulo em
2012, o plano SP2040 estimou em 110 bi-
ONDE ESTAMOS
lhões de reais o volume de recursos neces-
sários para enfrentar grandes necessidades
TRANSFORMANDO
da cidade no longo prazo, relacionados a
habitação, mobilidade, infraestrutura ver-
A CIDADE?
de, polos de desenvolvimento econômico e
qualificação dos rios e córregos da cidade
(São Paulo (Cidade). Secretaria Municipal
de Desenvolvimento Urbano, 2012). Outro
F
inalmente, uma categoria fundamen- documento que aponta para a necessidade
tal são os investimentos. Trata-se de de despesas de capital, o Plano Municipal
uma despesa cuja natureza se defi- de Habitação aponta o custo de 60 bilhões
ne pela sua contribuição para o incremen- de reais para atacar o déficit e as necessi-
to da capacidade produtiva da economia, dades habitacionais paulistanas (São Paulo
aqui vista de forma mais ampla, e que po- (Cidade). Secretaria Municipal de Habita-
derá ser usufruída pela sociedade ao longo ção, 2016). Com base no nível de investi-
dos anos. Os investimentos são, portanto, mento constatado na série histórica ana-
incorporados ao patrimônio da prefeitura lisada (próximo a 3 bilhões de reais/ano),
ou ao ambiente construído da cidade. Em depreendem-se o tamanho do desafio de
função dessa natureza, embora componha enfrentar as grandes demandas da socie-
uma parcela mais reduzida do gasto público dade (muitas delas ligadas a necessidades
(comparativamente com as despesas com muito básicas, como a moradia digna) e,
pessoal e com serviços de terceiros), com- mais do que isso, a importância da incidên-
preendê-los torna-se fundamental para elu- cia política sobre suas decisões.
cidar o conflito distributivo dos gastos pú- A tabela 10 identifica os principais pro-
blicos. Primeiro, em função dos benefícios a gramas aos quais estão vinculados os in-
serem desfrutados no longo prazo, sua rea- vestimentos na cidade. Dela depreende-se
lização implica um efeito inercial importante que há uma diversidade na sua distribuição
e carrega consigo as despesas de custeio ao e que, grosso modo, eles estão vinculados
longo dos anos. Assim, a decisão e a realiza- às necessidades da cidade. A princípio, re-
ção de investimentos hoje terão impactos gionalizar as despesas dessa natureza é um
sobre a vida urbana durante muitos anos. caminho relativamente mais fácil, dado que:
Segundo, porque garantem os insumos (i) estão vinculadas às intervenções físicas
fundamentais de acesso aos benefícios da no território; e (ii) representam esforços de VOLTAR
PARA
cidade: o acesso ao saneamento básico, à maior visibilidade do ponto de vista das es- INÍCIO DO
mobilidade, à iluminação pública, aos equi- tratégias de gestão. Por conseguinte, os in- CAPÍTULO
vestimentos são mais facilmente captáveis envolver, por exemplo, a construção de cre-
por instrumentos de planejamento desti- ches conveniadas ou de Unidades Básicas
nados ao controle social e à transparência. de Saúde a partir dos contratos de gestão.
Boa parte do que aparece nos sucessivos Associado a essa dificuldade, está o fato de
programas de metas está relacionada aos que os equipamentos públicos não são uni-
investimentos e, dessa forma, uma vez rea- dades de despesa. Sua implantação envolve
lizados, as gestões têm incentivos para tor- etapas que seguem ritos administrativos e
nar essas ações orçamentárias visíveis, já agentes públicos distintos: aquisição de ter-
que implicam cumprimentos de programas reno (desapropriação), contratação da obra,
de governo. compra de equipamentos e contratação de
Ainda que o caminho para localizar os pessoal são ações que percorrem caminhos
investimentos seja mais fácil, foram locali- não coincidentes na administração e, por
zadas algumas barreiras importantes para vezes, também estão vinculadas a contratos
mapear plenamente esses gastos. Toma-se globais. Por exemplo, a compra de equipa-
como exemplo um dos programas, a sa- mentos de raio-X pode ser feita num paco-
ber, “Requalificação e promoção da ocupa- te global (e depois estes serem distribuídos
ção dos espaços públicos”, que consumiu, em diversas UBSs). Tais aspectos dificultam
conforme a tabela 10, 1,4 bilhão de reais. sobremaneira a identificação automatizada
Abrindo por projetos, é possível identificar do montante de recursos despendidos em
conjuntos de gastos bastante específicos cada local da cidade.
como “Readequação da Travessa Guerino
Noveini – Local: R. Pedro Fernandes Aragão,
346 – Cidade Ademar”. Porém, os recursos O DETALHAMENTO DA AÇÃO:
consumidos (valores liquidados) são relati- UM CAMINHO PARA
vamente modestos (280 mil reais), diante TERRITORIALIZAR O
de outras, mais genéricas como “Requalifi- GASTO PÚBLICO?
cação de bairros e centralidades”, que con- A dificuldade na localização territorial do
sumiu 132 milhões de reais. Esse último, em- gasto público, que complica tanto a partici-
bora se caracterize claramente como uma pação social como a capacidade de coorde-
intervenção física no território, não gera nação de governo, procurou ser enfrentada
uma informação automatizada (isto é, di- com uma das iniciativas recentes mais im-
retamente do Sistema de Orçamento e Fi- portantes em relação à territorialização do
nanças) sobre a sua alocação regionalizada. orçamento: a incorporação de mais um ní-
Outro aspecto relevante é que há um desca- vel de detalhamento de ação orçamentária,
samento entre os nomes dados aos progra- chamado detalhamento da ação (DA). Cria-
mas pela administração (em geral, orienta- do pelo Decreto de Execução Orçamentária
dos pelo esforço comunicacional) e a forma de 2014, consistia em o operador orçamen-
pela qual estão organizados nos instrumen- tário detalhar a relação entre aquele gasto e
tos orçamentários. o programa de metas (a qual objetivo per-
Ao longo das entrevistas, outras nuances tencia, qual meta etc.), bem como a iden-
foram percebidas em relação às dificulda- tificar a sua localização (região da cidade,
des de regionalizar os investimentos. Em al- subprefeitura e distrito). O objetivo da in-
gumas políticas setoriais importantes, parte trodução desse instrumento era, portanto, a
VOLTAR dos investimentos é feita a partir de contra- produção de informação sobre a regionali-
PARA
INÍCIO DO tos com terceiros, que passam a não ser dis- zação do gasto público por meio da intro-
CAPÍTULO tinguíveis como tal. Esse expediente pode dução de uma nova rotina que permitisse
TABELA 10
DETALHAMENTO DO INVESTIMENTO, SEGUNDO PRINCIPAIS
PROGRAMAS • MUNICÍPIO DE SÃO PAULO • 2012 A 2016
% SOBRE % SOBRE
PROGRAMAS VALORES O TOTAL DE O TOTAL DOS
INVESTIMENTOS GASTOS PÚBLICOS
Fonte: Sistema de Exceução Orçamentária (SOF); Secreataria Municipal da Fazenda. *** Não se aplica
IDENTIFICANDO
execução daquele montante. Isto é, esse ex-
pediente, que formalmente deveria ser utili-
OPORTUNIDADES
zado em função de ajustes provocados por
oscilações na arrecadação (e que, portanto,
PARA
nunca deveriam ser de 100%), é usado como
forma de se dispor de informações sobre a
TERRITORIALIZAR
execução orçamentária. Da mesma forma, a
liberação de cotas mensais permite o mo-
O GASTO PÚBLICO
nitoramento e os ajustes, a fim de adequar
a execução orçamentária à demonstração
dos resultados trimestrais primários.
Ainda que não se entre no mérito de
O
essas práticas serem adequadas do pon- conjunto das barreiras identifica-
to de vista do funcionamento da máquina das até aqui aponta para a com-
administrativa, é forçoso reconhecer suas binação de estratégias distintas
consequências: ao exigir que as secreta- para regionalização da despesa municipal.
rias e prefeituras regionais conduzam as Os gastos públicos possuem uma natureza
suas despesas mensais com grandes cons- muito diversa, bem como as rotinas para
trangimentos, tais práticas implicam um sua gestão e as formas pelas quais o dinhei-
alto nível de redistribuição de dotações e ro sai do Tesouro municipal (ou de transfe-
recursos. Dessa forma, ainda que tenham rências) e se territorializa em obras, serviços
planejado adequadamente suas despesas públicos e atendimento presencial ao cida-
e distribuído as dotações orçamentárias de dão. É certo que novas rotinas na execução
forma a otimizar a produção de informação, orçamentária são necessárias. Os órgãos VOLTAR
PARA
o cotidiano da administração envolve uma centrais são responsáveis pela liberação de INÍCIO DO
contínua transferência de recursos, levan- recursos e pela coordenação da execução CAPÍTULO
das atividades do setor público. Nesse sen- Nesse sentido, dois caminhos foram iden-
tido, cabe a eles dar condições, estabelecer tificados durante as entrevistas realizadas. O
as diretrizes e monitorar o preenchimento primeiro trata da criação de uma nova car-
das informações que subsidiam dados de- reira – relacionada à gestão orçamentária – e
talhados sobre regionalização do gasto. a realização de um concurso público para o
Dessa forma, embora a obrigatoriedade preenchimento das vagas. Os problemas que
do preenchimento da informação territo- emergem nesse caso, ainda de acordo com
rial do detalhamento da despesa seja uma os entrevistados, estão relacionados à restri-
solução realista face à imprevisibilidade da ção orçamentária para a incorporação de um
execução das intervenções territoriais (em novo contingente de funcionários (um impe-
razão das dificuldades relacionadas a desa- ditivo razoável para levar adiante tal propos-
propriação, zoneamento, áreas contamina- ta) e ao fato de que haveria uma tendência
das etc.), dar mais atenção ao detalhamento de excessiva especialização. Isso implicaria
na etapa de planejamento com flexibilidade uma ainda maior fragmentação da adminis-
deve facilitar a alocação regionalizada no tração pública. Uma outra alternativa, vista
momento do empenho. Reforçada a obri- como mais desejável, diz respeito à realo-
gatoriedade de territorialização do gasto, cação de técnicos, saindo de áreas em que
é preciso monitorar seu andamento (uma existe subaproveitamento de pessoal, para
proposta nesse sentido encontra-se na se- setores responsáveis pela despesa.
ção final do trabalho). Nesse ponto, cabe Como se percebe, a territorialização do
dizer, será preciso alterar a cultura de am- orçamento envolve novos processos e ro-
plos congelamentos do orçamento público, tinas numa dinâmica contínua de avaliação
reduzindo-os a patamares mais condizentes dos aprendizados. Algo que, portanto, terá
com o estabelecido pela Lei de Responsabi- resultados importantes no futuro. Sendo
lidade Fiscal (LRF). Devem refletir, quando assim, para sustentar as possibilidades de
necessário, percentuais plausíveis de queda ganhos de longo prazo, torna-se altamente
de receita, nunca a totalidade dos recursos, desejável a combinação de estratégias que
como é comumente feito. tragam resultados parciais e ganhos rápidos
A reorganização administrativa para e que, dessa forma, permitam colocar o te-
cumprir novas demandas de trabalho é ou- ma em evidência e destacar alguns achados
tro movimento necessário. Novos requisitos que ajudem a informar sobre a política pú-
para a execução orçamentária, com a fina- blica. Esse aspecto, que será abordado na
lidade de regionalizar o gasto, envolvem o última seção do presente trabalho, reforça,
preenchimento do detalhamento da ação e ainda, a necessidade de se trabalhar, como
uma gestão mais ativa dos contratos, que ponto de partida, com alguns enfoques se-
combine a cobrança de medições distribu- toriais, combinados com a discussão apre-
ídas pelos distritos com o preenchimento sentada anteriormente a respeito dos gru-
dos dados em sistemas de informação (pre- pos de despesa distintos.
ferencialmente o próprio SOF). Isso deman- Identificar perfis das secretarias em rela-
dará tanto uma modelagem concertada (na ção aos gastos pode abrir um caminho tan-
qual é fundamental que sejam envolvidas as to para a priorização dos esforços como no
áreas finalísticas) como treinamento e re- sentido de ilustrar concretamente e validar
presentará, em uma medida que ainda não as barreiras e oportunidades identificadas
VOLTAR é possível ser precisada, uma carga adicio- até aqui. Nesse sentido, trabalhou-se para
PARA
INÍCIO DO nal de trabalho nas áreas responsáveis pela construir um olhar de caráter mais setorial
CAPÍTULO despesa na Prefeitura de São Paulo. com base em dois movimentos. No primeiro,
utilizamos para o mesmo período de refe- pesas correntes representa os maiores per-
rência as bases orçamentárias para detalhar centuais de gasto da maioria das pastas, o
a composição dos gastos em cada secreta- que só reforça a importância de se trabalhar
ria. No segundo, um olhar sobre as despesas no aprimoramento da gestão dos contra-
segundo critérios de regionalização para os tos. Nesse âmbito, destacam-se áreas que
diferentes grupos de gasto, a partir das áre- combinam altos valores com participações
as relacionadas ao gasto social. superiores a 70%: saúde, transporte, assis-
tência social e serviços. Uma vez que as
áreas sociais serão analisadas de forma por-
UM OLHAR SOBRE A COMPOSIÇÃO menorizada na seção seguinte, vamos nos
DOS GASTOS POR SECRETARIAS ater, por ora, às áreas de transporte e ser-
O olhar a partir das secretarias serve co- viços. Na primeira, os expressivos gastos,
mo insumo para apoiar a priorização em que totalizam 94% do seu orçamento, estão
relação à produção de informação sobre o relacionados, majoritariamente, às compen-
orçamento regionalizado combinada com sações tarifárias ao sistema de transporte
estratégias próprias das especificidades de (cerca de 80%) e o gerenciamento do siste-
cada um dos grupos aqui considerados. Im- ma de transportes (quase 19%). Retomando
portante mencionar, antes de partirmos pa- o que foi apresentado em seção anterior, es-
ra a leitura das informações propriamente se é um gasto sobre o qual há uma discus-
ditas, que foi feita uma seleção utilizando são sobre seu georreferenciamento direto.
como critério as secretarias-fim, isto é, rela- Já no que se refere aos serviços, as ações
cionadas à produção de bens públicos ou à estão relacionadas, sobretudo, aos grandes
execução de serviços prestados ao cidadão. contratos de coleta e disposição de resíduos
Foram excluídas, dessa forma, as secreta- sólidos e de varrição e limpeza. Nesse caso,
rias relacionadas às atividades-meio, fun- mergulhar sobre esses contratos – cuja ter-
damentais para viabilizar o funcionamento ritorialização na cidade corresponde a agre-
da máquina, mas inexpressivas do ponto gações de prefeituras regionais – seria de
de vista do atendimento ao cidadão. As no- grande valia para processos participativos
menclaturas, por sua vez, correspondem às e até mesmo pedagógicos; afinal, informar
anteriores ao decreto de reestruturação das o custo da coleta e limpeza poderia chamar
secretarias, publicado no início de 2017, por- a atenção da população a respeito do cus-
que os dados orçamentários analisados são to em se manter a cidade limpa e da impor-
de 2012 a 2016. tância em trabalhar com alternativas para a
Quando observamos, na tabela 11, a dis- política de resíduos sólidos em linha com o
tribuição segundo esses grupos, notamos Plano de Gestão Integrada de Resíduos Só-
que existem ordens de grandeza muito dis- lidos da Cidade de São Paulo (PGIRS), (São
tintas em relação ao tamanho orçamentário Paulo (Cidade). Secretaria Municipal de Ser-
das secretarias, embora, das 19 secretarias, viços, 2014). Por outro lado, do ponto de vis-
13 tenham apresentado despesas que, no ta do monitoramento e controle social sobre
período analisado, superaram a monta de 1 o esforço público em resolver o problema
bilhão de reais. A composição dessas des- nas periferias, há que se ponderar se podem
pesas também é diversificada e com varia- existir estratégias mais eficazes relacionadas
ções importantes: de 96% a 3% para outras ao controle regionalizado sobre a medição
despesas correntes; 73% a 0,2% para pesso- física do objeto dos contratos e das reclama- VOLTAR
PARA
al e encargos; 93% a 0% para investimentos. ções feitas ao serviço 156 (cujas informações INÍCIO DO
Evidentemente, o grupo de outras des- são georreferenciadas). CAPÍTULO
TABELA 11
PARTICIPAÇÃO DOS GRUPOS DE DESPESA NO TOTAL
DE GASTOS, SEGUNDO SECRETARIAS SELECIONADAS
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO • 2012 A 2016
que fosse possível a compatibilização das Já em relação à Siurb, temos uma situ-
informações. ação mista. Há duas bases que podem ser
A Secretaria Municipal de Habitação, por consultadas e, quando combinadas, permi-
sua vez, encontra-se em um patamar inter- tem a regionalização dos investimentos (ou
mediário, comparativamente. A pasta vem melhor, parte deles). A primeira diz respeito
de seguidos esforços de implementação de às próprias informações oriundas do SOF,
sistemas de informação gerencial: o Habisp, no qual coexistem projetos de que se per-
implementado na gestão do prefeito Gilber- mite a localização (ex.: canalização do Cór-
to Kassab (2007-2012), e sua sequência, o rego Ponte Baixa) com outros mais genéri-
HabitaSampa, desenvolvido na gestão do cos (ex.: intervenções de controle de cheias
prefeito Fernando Haddad (2013-2016).7 Es- em bacias de córregos). Por outro lado,
ses esforços já resultaram em informações estão disponíveis no sítio da secretaria to-
públicas importantes, que permitem identi- dos os contratos com as suas prestadoras
ficar os perímetros de intervenção e o está- de serviço.8 A relação dos contratos possui
gio de andamento de cada ação. A relação referências detalhadas a respeito da sua lo-
com os gastos efetivamente realizados, no calização (para a grande maioria deles). Po-
entanto, não está disponível ao público, de- rém, dificuldades importantes aparecem na
vendo ser acessados via Lei de Acesso à In- medida em que trazem apenas os valores
formação (LAI). globais dos contratos, não sendo possível
FIGURA 1
LISTAGEM DOS PROJETOS APROVADOS PELO FUNDURB
2016
nome objeto endereço valor aprovado [R$] valor pago [R$] fotos
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade r josé pinto x r pedreiros 18.433,90 18.433,90 link
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade r cachoeira do campo grande. r 206.696,83 206.696,83 link
alexandre davidenko x r antonio
carlos m. lopes
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade r conjunto sítio conceição. r rilson 128.551,29 0,00
f. s. carvalho x r meu destino
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade r afonso asturaro, 470 129.716,09 129.716,09 link
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade av dos metalúrgicos x r fernando 7.563,27 7.563,27 link
frejeiro
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade r antonia maria teresa de paula 63.956,74 63.956,74 link
matias, 245
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade r bangue [entorno da praça] 51.993,29 51.993,29 link
Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento (SMUL)
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade r floresta azul , 967 [alça de 61.563,63 61.563,63 link
retorno]
melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessibilidade av carlos lacerda. r olimpio teles 241.903,93 241.903,93 link
PARA melhoria de calçadas requalificação da área visando a melhoria de acessililidade av carlos lacerda. r louis cabat x r 1.370.800,61 1.370.742,84 link
FIGURA 2
RELAÇÃO DOS CONTRATOS ASSINADOS PELA
SECRETARIA DE INFRAESTRUTURA URBANA
verificar quando e quanto desses montan- mos de implementação. Trabalhar com es-
tes foram liquidados. Novamente, o aper- ses focos permitirá uma compreensão mais
feiçoamento das informações passaria pela aprofundada sobre as suas dificuldades, a
vinculação entre contratos e dotações orça- criação de exemplos expressivos de boas
mentárias, além do detalhamento das con- práticas e, principalmente, a elaboração de
tratações que são feitas por lotes (em geral, trabalhos em rede com diferentes secreta-
agregações de intervenções em diversas rias. No sentido de aprimorar essa estraté-
prefeituras regionais). Um esforço mais con- gia, a próxima seção se dedicará a apresen-
tingente, por outro lado, seria a elaboração tar uma possível combinação com base nas
de uma tabela de convergência, associando pastas relacionadas à política social.
contratos às dotações.
A administração pública costuma ser
vista como um bloco monolítico, comu- TERRITORIALIZAÇÃO
mente associada à figura do chefe do Exe- DO GASTO NA POLÍTICA SOCIAL:
cutivo ou a uma percepção geral de baixa UMA LEITURA PARA SAÚDE,
qualidade na prestação de serviços e, aqui EDUCAÇÃO E ASSISTÊNCIA SOCIAL
particularmente, na produção de informa- Um olhar detalhado para a combinação en-
ções regionalizadas sobre o orçamento. No tre grupos de despesas e secretarias permi-
entanto, em diversos exemplos tratados ao te a definição mais concreta das estratégias
longo do presente trabalho, foi possível per- para produção de informação de qualidade,
ceber que existem melhorias que, embora visando ao georreferenciamento dos gastos
pontuais, são importantes. Combinar secre- na cidade. Para fazer esse recorte, selecio-
tarias com grupos de despesa permite fo- namos as secretarias vinculadas às políticas VOLTAR
PARA
calizar os esforços de territorialização em sociais não apenas pelo fato de serem funda- INÍCIO DO
termos analíticos, mas, sobretudo, em ter- mentais para assegurar direitos sociais bási- CAPÍTULO
RECOMENDAÇÕES
mo PPA, facilitando o manuseio e a leitura
dos dados em relação aos programas.
PARA O GEORREFE-
Com base na seleção mencionada, to-
dos os projetos, de investimento e custeio,
RENCIAMENTO
foram classificados em três categorias: (i)
suprarregionais, aquelas despesas que – em-
DO ORÇAMENTO
bora tenham impacto na política e, indireta-
mente, no território – não são regionalizá-
PÚBLICO
veis. Envolvem itens como administração da
unidade, treinamentos gerais aos servidores
públicos, campanhas e desenvolvimento de
sistemas de informação; (ii) regionalizáveis,
O
as despesas que, claramente, são de caráter presente trabalho identificou, por
territorial (não tem como serem realizadas meio das entrevistas, da análise
sem alguma vinculação espacial), mas que das bases de dados que atualmen-
não estão detalhadas na peça orçamentária. te estão disponíveis ao público e dos prin-
São exemplos dessa categoria ações relativas cipais sistemas de informação que operam
à operação e manutenção ou construção e o gasto público na cidade, um volume sig-
ampliação de equipamentos públicos; e (iii) nificativo de barreiras que hoje impedem a
territorializadas, os projetos com referência distribuição do gasto público para as pre-
explicitamente territorial como, por exemplo, feituras regionais e para os equipamentos
o nome do equipamento público, o endereço públicos da cidade. De maneira resumida,
do local a ser construído ou a prefeitura re- pode-se falar em importantes deficiências
gional de referência. Cada projeto foi classifi- na forma pela qual a Prefeitura de São Pau-
cado segundo esse critério para as despesas lo está organizada para gerir o gasto públi-
de investimento e outras despesas correntes co. Mais do que problemas de transparên-
e, em seguida, os dados foram agrupados. Da cia ou disponibilidade de informações que
mesma forma, foram totalizados os valores existem, o que se observou é que a área de
do orçamento aprovado pela Câmara Mu- despesa não tem recebido o esforço ade-
nicipal de São Paulo e valores efetivamente quado diante do expressivo montante que
liquidados. O objetivo era perceber se, entre representa o orçamento da cidade. Desta-
esses dois momentos, os esforços das pastas ca-se que as divisões setoriais que operam
eram de, de fato, utilizar as dotações mais es- o orçamento público não o veem como um
VOLTAR pecíficas ou, ao longo do processo, as dota- instrumento da política pública, relacionado
PARA
INÍCIO DO ções mais amplas foram prioritárias. Os resul- ao planejamento das ações governamentais
CAPÍTULO tados estão apresentados nas tabelas 12 e 13. e de provimento de informações ao cidadão
TABELA 12
PERCENTUAL DE INVESTIMENTOS, SEGUNDO CLASSIFICAÇÃO
E PRINCIPAIS PROJETOS
INVESTIMENTO
Distribuição segundo
Secretaria Principais projetos territorializáveis
categorias
Fonte: Relatório da execução orçamentária anual - Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
TABELA 13
PERCENTUAL DE OUTRAS DESPESAS CORRENTES
E ATIVIDADES SELECIONADAS
OUTRAS DESPESAS CORRENTES
Distribuição
Secretaria segundo Principais contratos territorializáveis
categorias
Operação e Manutenção para Atendimento Ambulatorial Básico, de Especialidades
e de Serviços Auxiliares (R$ 7.485.849.216)
Operação e Manutenção das Unidades Hospitalares, Pronto-Socorros
Suprarregional: e Pronto-Atendimento (R$ 4.301.762.628)
17,6%
Operação e Manutenção de Unidades de Saúde - Básicas e de Especialidades (R$ 408.931.476)
Territorializáveis:
Saúde Operação e Manutenção do Serviço de Atendimento Médico de Urgência - SAMU (R$ 182.976.359)
82,3%
Territorializados: Operação e Manutenção de Vigilância em Saúde (R$ 127.431.777)
0,1% Operação e Manutenção da Assistência Farmacêutica (R$ 121.936.116)
Operação e Manutenção do Programa Melhor em Casa (R$ 27.258.261)
Operação e Manutenção dos Serviços de DST/AIDS (R$15.145.341)
Fonte: Relatório da execução orçamentária anual - Prefeitura de São Paulo, Secretaria Municipal da Fazenda. Elaboração própria.
que o permitam compreender melhor como volume de trabalho adicional para coleta e
se gasta na Prefeitura de São Paulo. produção dessas informações, necessidade
A dificuldade em regionalizar as despe- de reorganização das equipes de trabalho
sas públicas expressam esse problema, o envolvidas na gestão orçamentária, adap-
que traz diversas consequências negativas. tação e implementação de novas rotinas,
Em uma cidade com 11 milhões de habitan- investimentos em sistemas de informação,
tes, 6 mil escolas, 90 mil quilômetros de vias criação de metodologias de trabalho e re-
e quase 100 mil funcionários públicos (para solução de problemas que certamente apa-
ficar apenas em alguns números), o desco- recerão ao longo do processo. Diante dos
nhecimento dessa distribuição impede o pla- custos e do tamanho do desafio, é preciso
nejamento adequado das ações de governo, mobilizar esforços da sociedade civil para
a avaliação dos seus resultados e o contro- cobrar dos governos municipais o cumpri-
le social. Sobretudo, enfraquece o processo mento daquela que é a sua obrigação. Isto
de governança compartilhada da cidade, os é, mobilizar opinião pública, órgãos de con-
processos participativos e as escolhas coleti- trole interno e externo e provocar o Judici-
vas. Inclusive em momentos como os atuais, ário para pressionar a administração muni-
em que a queda de arrecadação implica um cipal a promover as mudanças necessárias.
processo responsável de debate e esclare- Nesse sentido, listamos abaixo a síntese das
cimento em relação aos eventuais cortes de barreiras e recomendações, seguindo a pro-
despesa necessários. Executivo, Legislativo, posta de trabalhar com estratégias distintas
sociedade civil e cidadão: todos perdem no para investimento, pessoal e contratos com
atual cenário em que não se pode regionali- terceiros, apresentadas de forma resumida
zar o gasto público. na figura 3.
Por outro lado, a experiência da LRF
mostrou que introduzir novas rotinas na ad-
ministração, para determinados objetivos Investimentos
relacionados à fiscalização interna e ao con- Reforçar o comando legal para o preenchi-
trole social, é possível. Afinal, constituiu-se mento do detalhamento da ação no Plano
um procedimento regular de produção de Plurianual, na Lei de Orçamento Anual ou
relatórios trimestrais e, mais do que isso, um em legislação específica. O detalhamento
horizonte de avaliação da política fiscal dos da ação revelou-se um instrumento impor-
governos municipais que permite acompa- tante para regionalização dos investimen-
nhar com clareza e transparência a relação tos. Ele já está incluído no SOF, e a adminis-
entre despesas e receitas, entre ativos e dí- tração municipal já possui uma experiência
vidas. Os caminhos para melhoria existem e para a sua aplicação. A continuidade do
envolvem mobilizar estratégias que permi- instrumento é, portanto, desejável e funda-
tam a mudança onde reside o desafio. mental. Os resultados, porém, além de não
serem públicos, também, pelos relatos co-
lhidos, não têm sido alentadores para o de-
SÍNTESE DAS BARREIRAS sejo de organizar o orçamento público no
E RECOMENDAÇÕES território. Muitas despesas são classificadas
Nessa direção, não se pode perder de vista como suprarregionais, expediente que po-
que, em que pesem os diversos benefícios de demonstrar tanto uma propriedade ter-
do georreferenciamento do gasto público, ritorial do gasto (de fato ocorrem, por sua VOLTAR
PARA
há um custo para fazer esse detalhamen- natureza, em várias regiões da cidade) co- INÍCIO DO
to. Este pode ser expresso em termos de mo pode refletir um expediente para preen- CAPÍTULO
FIGURA 3
SÍNTESE DAS BARREIRAS E RECOMENDAÇÕES
PARA TERRITORIALIZAÇÃO DO GASTO
Rotinas administrativas
_ Despesa não é suficientemente detalhada, nem
territorialmente (DA não é obrigatório) nem por _ Obrigatoriedade do Detalhamento da Ação
equipamento público na execução orçamentária com incentivos e
_ Ampla utilização do contingenciamento como punições para as secretarias
medida de gestão orçamentária, dificultando o _ Detalhamento da despesa por equipamento
planejamento das secretarias público
_ Falta de pessoal para operar o gasto público no _ Realocação de pessoal em áreas ociosas Poder executivo municipal / Câmara de
cotidiano da administração para setores reponsáveis pelo gasto público veradores e TCM
Orçamento e participação
_ Simplificação da linguagem e estrutura
_ Linguagem exessivamente técnica da peça orçamentária
orçamentária, dificultando a apropriação para maior _ Elaboração de cartilhas sobre o orçamento
parte do cidadãos público Poder executivo municipal, técnicos da
_ Falta de informações sobre gastos no território, _ Territorialização do orçamento por administração e Câmara de veradores /
desestimulando o interesse na participação Prefeitura Regional Organizações não-governamentais
Investimentos
_ Ausência de correspondência entre contratos e _ Reforço do comando legal para
dotações orçamentárias obrigatoriedade do preenchimento do
_ Execução de contratos em lotes, envolvendo Detalhamento da Ação é particularmente
diferentes Prefeituras Regionais importante para mapear os investimentos
_ Ausência de rotinas de análise crítica das _ Relacionamento entre contratos e dotações
informações e apromoramento das rotinas orçamentárias
_ Ausência de integração entre perímetros de _ Especificação da territorialização na
realização de obras e execução de contratos medição (ateste) dos contratos
_ Realização de investimentos por meio de contratos _ Integração dos sistemas de informação, de Poder executivo municipal e Câmara de
com terceiros, dificultando sua identificação no acompanhamento e gestão de metas e Vereadores / Organizações não
território orçamentário governamentais
Custeio / Pessoal
_ Significativa presença de registros em branco _ Criação de software de padronização de
relativos a localização do funcionário público endereços e geocodificação (atribuição de
_ Informações dos servidores da educação não coordenadas geográficas)
disponíveis _ Integração dos sistemas de gestão de
_ Baixa padronização no preenchimento do campo pessoal e de pagamentos
endereço dos funcionários públicos _ Publicação das informações de pessoal da
_ Ausência de integração entre o sistema de gestão Secretaria de Educação Poder executivo municipal /
de pessoal e o sistema de pagamentos _ Preenchimento dos endereços em branco Organizações não-governamentais
dos dados será mais efetivo do que pressio- o SIGPEC e o Sadinho. Associada ao treina-
nar pela má qualidade da informação inicial. mento e cobrança em relação ao preenchi-
mento da informação, tal ação poderá ter
um ganho expressivo em relação à gestão
Custeio – pessoal governamental: afinal a utilização de análises
A análise das informações de pessoal apon- quantitativas associadas aos instrumentos
tam para um caminho profícuo em função de geoestatística poderá provocar uma ra-
da avaliação das que são apresentadas e já cionalização de alocação de pessoal. Dada
disponibilizadas em formato aberto ao públi- a expressiva participação do custo de pes-
co. Os problemas identificados, em especial soal no orçamento municipal e, ao mesmo
aqueles relacionados à qualidade do preen- tempo, sua importância para a prestação de
chimento dos endereços (não padroniza- serviços públicos às populações mais vulne-
dos), são de fácil solução, dadas as tecnolo- ráveis, o potencial de ganho é substantivo.
gias disponíveis. A estratégia, nesse sentido, Georreferenciar a alocação de pessoal (e o
se faz de forma essencialmente diferente em gasto associado a ela) é, ademais, funda-
relação aos investimentos, situando-se em mental para o debate público participativo
um nível mais avançado de parcerias. relacionado à expansão, redução, otimização
Em relação ao aproveitamento das bases e reorientação dos serviços.
disponibilizadas, o desafio está em criar ro- No campo da análise relativa à medi-
tinas automatizadas relacionadas à padro- ção dos esforços para a redução das desi-
nização dos endereços e à geocodificação. gualdades socioterritoriais e das vulnera-
A primeira refere-se às programações, que, bilidades sociais e ambientais nas periferias
de forma inteligente, sejam capazes de ler de São Paulo, já existe um manancial de
o conjunto de endereços dispostos na base dados, combinando lotação e gasto, vasto
de dados original e associar a uma forma pa- o suficiente para a realização de estudos
dronizada de escrita de máxima similaridade. e debates sobre o tema. Um olhar sobre a
Isto é, identificar desvios e erros de preen- distribuição de servidores, associando-o
chimentos e substituir as grafias erradas por à ausência e presença do estado no terri-
grafias corretas. A segunda (geocodificação) tório municipal, poderá servir como base
refere-se às rotinas que compara os dados para zonas de vazios que deveriam ter sua
padronizados com uma base de logradou- cobertura prioritariamente. Outro caminho
ros georreferenciada e atribui, a cada um pode ser a leitura da distribuição dos ní-
dos endereços, coordenadas geográficas. O veis da burocracia (alta, média e nível de
caminho, nesse caso, parte de parcerias (ou rua), fomentando a discussão sobre des-
contratações) com organizações que dis- centralização administrativa. Finalmente,
põem de capacidade técnica para configu- a avaliação de impactos relativos às possí-
rar tais rotinas, que são simples. A malha de veis reduções dos contratos com terceiros
pontos e de logradouros com coordenadas (diretamente relacionados à contratação
geográficas já está desenvolvida pela Prefei- de pessoal) e à necessária redistribuição
tura de São Paulo e pronta para o uso: a No- dos funcionários concursados. Todos esses
va Base de Logradouros (NBL). são temas para os quais as bases de dados
O desenvolvimento dessas funcionalida- existentes já permitem um olhar qualificado
des de padronização e geocodificação pode de forma que a realização de seminários e
VOLTAR ser complementado pela sua incorporação editais para a produção de papers é um
PARA
INÍCIO DO aos sistemas existentes na Prefeitura de caminho possível para ampliar a densidade
CAPÍTULO São Paulo que operam a gestão de pessoal, do debate. O enfoque em relação às áreas
de políticas sociais, reforçado pela alta pre- obrigatório que todos os processos de em-
sença de gasto com pessoal nessas áreas, penho e pagamento sejam feitos de forma
pode revelar uma dimensão importante do eletrônica). Isso permitirá combinar os da-
esforço de gasto e alocação de pessoal. dos preenchidos na gestão dos contratos
com a execução orçamentária, produzindo
a informação necessária para o acompanha-
Custeio – serviços de terceiros mento territorializado dos gastos. Isso abre
Os serviços de terceiros representam uma um caminho para as ações de advocacy. O
fronteira essencial para a regionalização do campo da legislação deverá ser estudado
orçamento público, ao mesmo tempo que é (já que sua regulação é de competência da
o de mais difícil enfrentamento. Afinal, não União), mas, incrementalmente, poderá ser
apenas respondem pela parte mais expres- definida a obrigação de discriminar as des-
siva do gasto público na cidade como tam- pesas e a execução dos serviços de acordo
bém afetam, de forma decisiva, parte impor- com unidades territoriais comuns, isto é,
tante e fundamental de serviços essenciais equipamentos públicos, distritos ou prefei-
relacionados à educação (operação de cre- turas regionais.
ches, segurança e limpeza das escolas), saú- A possibilidade de ganhos rápidos nesse
de (aí numa perspectiva bem mais ampla caso está vinculada à contratação ou elabo-
– operação de Unidades Básicas de Saúde, ração de um desafio junto à comunidade de
do Programa Saúde da Família, de hospitais, desenvolvedores para a extração de infor-
ambulatórios etc.) e assistência social. mações de documentos em PDF – formato
Diferentemente dos outros assuntos tra- no qual os contratos são disponibilizados –
tados anteriormente, as informações rela- relacionadas às medições e às referências
cionadas à gestão dos contratos não estão, geográficas e consequente conversão au-
de maneira geral, produzidas. Isto é, não tomatizada das informações para um banco
existem de uma forma que permita a utiliza- de dados. Adicionalmente, a sociedade civil
ção para gerar regionalização do orçamen- poderá ser mobilizada, no que diz respeito
to. As ações necessárias nesse campo estão às organizações que atuam na incidência se-
relacionadas a mudanças nos sistemas de torial, para analisar, de forma pormenoriza-
informação, sobretudo adaptações no mó- da, os contratos de prestação de serviços.
dulo de contratos do SOF, criação de ro- Com base nesse acompanhamento, será
tinas para preenchimento de dados e for- possível debater caminhos para extração de
mas de medição dos contratos. No limite, dados ou mesmo a identificação de contra-
em alguns deles, será necessário aprimorar tos prioritários para monitoramento.
as exigências de contratante e contratado
para que a necessidade de prestação de
contas e medição territorializada esteja pre- ENCAMINHAMENTOS PARA DEFESA
sente. Nesse sentido, a possibilidade de es- DO GEORREFERENCIAMENTO
truturação de formas de criação das infor- DO ORÇAMENTO PÚBLICO
mações territorializadas sobre os contratos A pressão sobre o poder público é neces-
com terceiros está vinculada a iniciativas de sária, indispensável, porém insuficiente. O
caráter mais abrangente. ponto central do presente relatório mos-
A produção da informação de qualidade tra que, sobretudo se desejamos que a re-
sobre a execução dos contratos exige que gionalização do gasto se dê em um prazo VOLTAR
PARA
haja uma integração entre o SOF e o siste- razoável, é fundamental mobilizar um con- INÍCIO DO
ma de processo eletrônico (desde 2015, é junto articulado e continuado de esforços, CAPÍTULO
FIGURA 4
ENCAMINHAMENTOS PARA O GEORREFERENCIAMENTO
DO ORÇAMENTO PÚBLICO
BIBLIOGRAFIA
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SUMÁRIO das políticas públicas nas áreas econômica e social (p. 291). Brasília: IPEA.
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