Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SEMINÁRIO DE
INOVAÇÃO EM
GESTÃO PÚBLICA
SOBRE O SEMINÁRIO
2
ÍNDICE
CARTA DO EDITOR | THOMAS TREBAT 5
“Explorando a qualidade do
planejamento orçamentário nos 12
municípios do Estado de São Paulo: uma
análise quantitativa baseada no
IEGM/TCESP”,
Eduardo Andrade Speeden
4
CARTA DO EDITOR
Prezado leitor,
Espero que o leitor consiga tirar bons exemplos, que sejam adaptáveis a outras
realidades. Se queremos melhorar os serviços prestados, é essencial que o setor público
brasileiro perca a obrigação de sempre ter que “reinventar a roda” e possa contar com
um repositório de práticas que dão resultado. Essa publicação se propõe a sistematizar
e veicular algumas dessas experiências.
Thomas J. Trebat
Columbia Global Centers | Rio de Janeiro
Diretor do Columbia Global Centers | Rio de
Janeiro e especialista em economia Latino-
-Americana, Trebat passou a lecionar na Uni-
versidade de Columbia após uma longa car-
reira em Wall Street. Já foi diretor executivo do
Instituto de Estudos Latino-Americanos e do
Centro de Estudos Brasileiros da Universidade
de Columbia. Além de diretor do CGC Rio,
Trebat é professor adjunto da Escola de As-
suntos Públicos e Internacionais de Columbia.
1
Congregação de todos os Associados da ABDE representados na figura de seus presidentes.
2
Fórum de dirigentes da Associação eleitos pela Assembleia Geral.
3
Fórum associativo composto pelos representantes das instituições associados à ABDE.
8
ça); C) Sustentabilidade Financeira; e D) técnico a governos e instituições públicas
Fomento ao Desenvolvimento: para a formulação de Planos Nacionais,
Regionais, Estaduais e Locais de Desen-
A) Perspectiva: Competência volvimento, colaborando especialmente
Objetivo 1: Ampliar a disponibilidade de com os aspectos operacionais, financei-
competências necessárias à atuação ros e de planejamento.
do SNF.
Objetivo 6: Prospectar oportunidades de
Descrição do objetivo: Assegurar a capa- investimento junto a governos e sociedade
citação técnica das Instituições perten-
centes ao SNF, aperfeiçoando seus qua- Descrição do objetivo: Atuar proativa-
dros de recursos humanos e promovendo mente na identificação e estímulo a opor-
a incorporação do potencial de conheci- tunidades de negócio que contribuam
mento local. para o aproveitamento das potenciali-
dades de desenvolvimento das regiões,
Objetivo 2: Aprimorar os mecanismos de tomando como ponto de partida as ex-
compartilhamento de informações pectativas de governos e da sociedade
quanto ao tema do desenvolvimento.
Descrição do objetivo: Aprimorar instru-
mentos de coleta, sistematização, análi- Gestão / Governança
se, compartilhamento e divulgação de Objetivo 7: Aprimorar a estrutura interna
informações sobre o SNF e suas práticas, de governança e gestão das instituições
integrando-os às atividades de aperfeiço- do SNF.
amento da capacitação técnica das insti-
tuições pertencentes ao SNF. Descrição do objetivo: Definir critérios de
excelência em governança e gestão, que
B) Perspectiva: Relacionamento, Integra- norteiem a organização das instituições
ção e Governança pertencentes ao SNF.
10
FERNANDA FEIL
Graduada em Business & Commerce
pela Monash University – Australia, e em
economia pela Universidade de São
Paulo – USP. Possui mestrado em economia
pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul – UFRGS. Atualmente, é gerente
de Estudos Econômicos da Associação
Brasileira de Desenvolvimento - ABDE.
ANDREJ SLIVNIK
Economista graduado pela Universidade
Estadual de Campinas – Unicamp, e
mestrando em História pela mesma
instituição. Atua como técnico na gerência
de Estudos Econômicos da Associação
Brasileira de Desenvolvimento - ABDE.
ANAIS DO SEMINÁRIO DE INOVAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA
EXPLORANDO A QUALIDADE DO PLANEJAMENTO
ORÇAMENTÁRIO NOS MUNICÍPIOS DO ESTADO DE
SÃO PAULO: UMA ANÁLISE QUANTITATIVA BASEADA
NO IEGM/TCESP
Eduardo Andrade Speeden4
4
Administrador formado pela FEA/USP com especialização em Gestão Pública pela FGV e mestrado
em Administração Pública pela Columbia University. Atua hoje como Assessor na Secretaria de
Planejamento da Prefeitura de Teresina/PI.
12
Fonte: preparado pelo autor com base no IEGM/TCESP (2015)
Nota: Em destaque, a melhor nota (“A” - azul) e pior nota (“C” - vermelho) do iPlanejamento
EDUARDO SPEEDEN
Administrador formado pela USP,
especialista em Gestão Pública pela
FGV, com 8 anos de experiência no
setor de planejamento e orçamento
municipal. Desenvolveu sua carreira na
área pública como servidor da Prefeitura
de Santos (São Paulo) onde buscou
aprimorar a elaboração das peças
orçamentárias através da padronização
de procedimentos, melhoria na
comunicação interna, uso de indicadores
e foco na transparência. Neste ano,
concluiu o Mestrado em Gestão Pública
pela Columbia University como bolsista
da Comunitas apresentando pesquisa
que explora os fatores que influenciam a
qualidade do planejamento orçamentário
municipal. Está iniciando uma nova
jornada na Prefeitura de Teresina, capital
do Estado do Piauí, atuando junto à
Secretaria de Planejamento na Frente de
Equilíbrio Fiscal, iniciativa do Programa
Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável
da Comunitas realizado em diversos
municípios brasileiros com o objetivo de
otimizar a utilização de recursos públicos.
14
OS DESAFIOS DA REALIZAÇÃO DE AVALIAÇÕES DE
IMPACTO EM PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS: UMA
ANÁLISE DAS AVALIAÇÕES CONDUZIDAS NO ESTADO
DE MINAS GERAIS
Cinthia Helena de Oliveira Bechelaine
Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (Bdmg)
16
tinção: avaliações ex-ante, avaliações dos avaliadores de acordo com Aguilar
intermediárias e avaliações ex-post. As e Ander-Egg (1995). Em uma avaliação
avaliações ex-ante, também chamadas interna ou na autoavaliação corre-se o
de iniciais ou pré-decisão, são realiza- risco de que os próprios avaliadores res-
das antes de se realizar uma decisão de saltem aspectos positivos do programa
empreender um projeto ou programa, em detrimento de aspectos que necessi-
com a finalidade de proporcionar certa tem de melhoria, além da possibilidade
segurança e racionalidade para a deci- de ocorrerem conflitos pessoais entre os
são de implementar ou não um projeto. próprios integrantes da equipe na busca
A avaliação intermediária, como o pró- do responsável pelas falhas do projeto,
prio nome indica, é feita durante a fase caso sejam identificadas. Embora na ava-
de execução de um projeto, fornecen- liação interna exista maior segurança e
do informações sobre o andamento do familiaridade com o programa que está
programa em relação ao planejamento sendo avaliado, a garantia da objetivi-
inicial. Por fim, as avaliações ex-post são dade é menor em consequência do en-
aquelas realizadas quando o programa volvimento dos avaliadores com o objeto
chegou ao fim. da avaliação. Na avaliação externa, por
Quanto às funções que uma avalia- outro lado, os avaliadores apresentam
ção deve cumprir, têm-se as avaliações maior imparcialidade quanto ao progra-
somativas e as avaliações formativas ma a ser avaliado, mas não detêm ple-
(AGUILAR; ANDER-EGG, 1995). Para Pat- no conhecimento de todos os fatores em
ton (2008), as avaliações somativas são jogo de acordo com a lógica de funcio-
conduzidas quando o programa já está namento do programa e da organização
implementado e são utilizadas para sub- em que o mesmo está inserido.
sidiar decisões como, por exemplo, alo- Por fim, para Aguilar e Ander-Egg
cação de orçamento, continuidade de (1995. p. 46), “[...] uma das classificações
um projeto ou expansão entre outros. As mais úteis é a que se faz atendendo aos
avaliações formativas são orientadas ao aspectos ou componentes do programa
aperfeiçoamento das políticas uma vez que são objeto de avaliação”, ou seja,
que são adotadas durante a implemen- quais aspectos dos programas devem ou
tação de um programa como meio de não ser avaliados. As diferentes tipologias
adquirir mais conhecimento sobre a ges- de avaliação que resultam desse critério
tão, desenvolvimento e resultado que se têm implicações metodológicas e técni-
deseja melhorar. cas específicas para os avaliadores e de-
O terceiro critério, procedência mais envolvidos na avaliação.
dos avaliadores, divide as avaliações De acordo com o critério o que
em quatro tipos: externa, interna, mista avaliar, Figueiredo e Figueiredo (1986)
e autoavaliação (AGUILAR; ANDER-EGG, apontam que a literatura de avaliação
1995). Assim, a avaliação externa recor- de políticas públicas costuma distingui-las
re a avaliadores que não pertencem à em termos de sua efetividade, eficácia e
instituição responsável por executar o eficiência. Por eficácia, a avaliação da
programa; a avaliação interna é feita relação entre os objetivos e instrumentos
com a participação de indivíduos (como explícitos de um dado programa e seus
avaliadores) que pertencem à instituição resultados efetivos; por efetividade, enten-
promotora do programa avaliado e a de-se o exame da relação entre a imple-
avaliação mista é uma combinação das mentação de um determinado programa
anteriores. Na autoavaliação, as próprias e seus impactos e, por avaliação de efici-
pessoas envolvidas na execução do pro- ência, a relação entre os custos empre-
grama a ser avaliado participam das ati- gados na implementação de uma dada
vidades avaliativas. política e os benefícios alcançados.
Existem vantagens e desvantagens As avaliações de eficácia podem
relacionadas ao critério de procedência ser feitas entre, por exemplo, as metas
18
METODOLOGIA seja, pessoas envolvidas nos processos de
Para melhor atender ao objetivo financiamento e contratação, como os
desta pesquisa, optou-se pelo método coordenadores do Programa Estado para
exploratório-descritivo, de acordo com Resultados (EpR) e da FJP; e atores relacio-
o modelo proposto por Vergara (2006). nados aos projetos de maneira indireta,
Exploratório, pois visa explorar um as- como exemplo dos técnicos do EpR que
sunto geral, sobre qual existem poucos acompanharam o desenvolvimento do
conhecimentos no contexto nacional, e conjunto de avaliações.
entender a dinâmica da utilização dos Em relação aos dados qualitativos
resultados das avaliações. Descritivo, na coletados, utilizou-se o método de análise
medida em que buscará analisar os obs- de conteúdo que, de acordo com Bardin
táculos da implantação de avaliação no (1988) visa retirar das entrevistas e mate-
governo mineiro. riais coletados as informações que melhor
Como técnica da pesquisa propôs- respondem ao problema de pesquisa. A
-se utilizar o estudo de casos múltiplos (YIN, seguir, apresentam-se os resultados da
2003), considerando as diferentes avalia- análise desta pesquisa.
ções de projetos realizadas pelo governo
de Minas Gerais. Tal escolha deve-se à Análise do modelo de avaliações de im-
existência de características e contextos pacto no governo de Minas Gerais
diferenciados em cada uma das avalia- Desde 2003, com a política do Cho-
ções de políticas realizadas pelo governo que de Gestão e a implantação de uma
de Minas Gerais. Os casos selecionados unidade de monitoramento intensivo dos
correspondem a avaliações de projetos programas estaduais e, a partir de 2007,
estruturadores Aceleração da Aprendi- com maior ênfase por meio do modelo
zagem (PAV), Viva Vida (VV), Gestão In- Estado para Resultados, o governo minei-
tegrada de Ações e Informações do Siste- ro introduziu um substantivo sistema de
ma de Defesa Social (IGESP) e Minas Sem monitoramento e avaliação de suas políti-
Fome (MSF) realizadas pelas secretarias cas. Dentre os fatores determinantes para
de estado de Educação, Saúde, Defesa a assunção das avaliações de políticas,
Social e Agricultura, respectivamente, a enfatiza-se a disciplina fiscal – também
partir do ano de 2007 no governo do es- conhecida como Choque de Gestão,
tado de Minas Gerais. a criação de um escritório central para
Tendo em vista que a natureza do o monitoramento intensivo de projetos
objeto de pesquisa demanda uma aná- (projetos estruturadores), o processo de
lise de caráter interpretativo dos dados contratualização de resultados e a men-
coletados, utilizou-se da estratégia quali- suração de indicadores finalísticos como
tativa. Baseando-se no entendimento da afirmam Ferreira, Lopes e Campos (2010).
Weiss (1998a), no qual uma multiplicidade A implementação de um conjunto
de grupos de atores interfere nas avalia- de avaliações de impacto de alguns pro-
ções, efetuaram-se entrevistas semiestru- gramas mineiros remete ao fato da ne-
turadas com os usuários imediatos das cessidade de ter, ao final de um ciclo go-
avaliações realizadas pelas secretarias vernamental, um conjunto mais confiável
de Estado selecionadas, como por exem- de informações acerca da efetividade
plo: gerentes dos projetos estruturadores das principais políticas públicas no Esta-
do estado de Minas Gerais submetidos do, como afirmam Ferreira, Lopes e Cam-
às avaliações; equipes dos programas pos (2010). O esforço desenvolvido na
envolvidas com as avaliações; avaliado- frente de avaliações de políticas públicas
res externos da Fundação João Pinheiro foi liderado pela FJP e pelo EpR, contando
(FJP) e do Centro de Desenvolvimento e com o contínuo apoio da Secretaria de
Planejamento Regional de Minas Gerais Planejamento e Gestão de Minas Gerais
(CEDEPLAR) responsáveis por realizar as (SEPLAG) e com a rede de especialistas
avaliações; sponsors das avaliações, ou do Banco Mundial. Para Ferreira, Lopes
20
no caminho. Por quê? Porque daí tem um suas etapas, a melhor delimitação de seu
trabalho de reconstrução do que foi o pla- objetivo e público-alvo, etapas essenciais
nejamento desse projeto ou até do que não
foi o planejamento desse projeto. Então é
a qualquer projeto público, nem sempre
quase como você tem que resgatar todo o estão presentes na elaboração de um
processo de planejamento junto com quem bom planejamento. E a inexistência de
participou disso para você conseguir dese- planejamento corrobora os problemas in-
nhar a política pública. (AVALIADOR MSF4) formacionais dos projetos avaliados, lacu-
na essa que compromete a factibilidade
Na visão do entrevistado da equipe das avaliações.
do projeto PAV na Secretaria de Educa-
ção, a aferição dos resultados da avalia- Rigor técnico e aspectos metodológicos
ção é prejudicada, não por sua comple- O foco na causalidade, marca das
xidade metodológica, mas devido à falta avaliações de impacto, exige a utilização
de foco dos projetos e à ausência de ob- de determinadas metodologias (KHAN-
jetivo e escopos de atuação claros, uma DKER; KOOLWAL; SAMAD, 2010). Para esti-
vez que escopos de atuação muito am- mar o efeito causal de um programa so-
plos tendem a abraçar muitas ações de bre seu público-alvo, o método escolhido
natureza diferente que prejudicam a men- deve simular o que aconteceria com os
suração dos resultados podendo levar ao beneficiários caso o programa não tives-
dispêndio de esforços e recursos. Caso a se ocorrido, com o objetivo de descobrir
avaliação seja realizada em projetos com quais as mudanças nos beneficiários são
problemas de escopo muito amplos, as diretamente atribuíveis ao programa em
avaliações serão desperdiçadas, já que, questão. Assim, de forma simplificada,
a priori, os projetos não têm uma defini- para auferir o impacto de uma interven-
ção clara de sua estratégia de atuação. ção, utilizam-se diferentes métodos capa-
zes de comparar os efeitos esperados do
O que acontece muito nas avaliações de
projeto é que, muitas vezes, o projeto, ele é
programa em um grupo de tratamento
desenhado e quer abraçar o mundo, en- (grupos de indivíduos que participaram
tão, ele quer resolver todos os problemas da do programa) e outro grupo de controle
educação com. Ele não quer só melhorar (grupo de indivíduos com características
o desempenho do aluno, ele quer melho- semelhantes ao grupo tratamento, mas
rar o desempenho, melhorar a autoestima,
melhorar até a autoestima do professor, do
que não participaram do programa) em
pai, ele quer tudo. Aí quando eles vão de- relação aos resultados/mudanças ao lon-
senhar, eles: “Olha, mas esse projeto está go do tempo observados.
mal desenhado”. Porque eles põem aque- De acordo com Khandker, Koolwal
les nobres da educação e aí ele vai olhar e: e Samad (2010), o método de atribuição
“Ah, mas o projeto não teve esse resultado!”.
Não teve porque não tinha como ter, por-
aleatória, considerado o padrão-ouro de
que não tinha uma ação que tivesse como avaliação de impacto, é o método mais
chegar naquele resultado. Então, às vezes, robusto para evitar uma amostra envie-
também tem até um pouco de problema sada ou não representativa. Na amostra
na concepção dos projetos – o projeto quer aleatória a probabilidade de qualquer
demais. (EQUIPE PAV2) indivíduo da população ser selecionado
é exatamente a mesma de qualquer ou-
A ausência de diagnósticos que tro indivíduo, assim, a seleção dos benefi-
permitam identificar com clareza o pro- ciários acontece por meio de um sorteio
blema a ser sanado pelo projeto e, con- para decidir quem receberá os benefícios
sequentemente, a má definição de uma do programa (grupo-tratamento) e quem
estratégia adequada de intervenção é não receberá (grupo-controle). Pelo méto-
também reprodução dos erros de uma do, a probabilidade de determinadas ca-
cultura falha de planejamento, ainda racterísticas estarem presentes no grupo-
comum no país, como argumenta Lobo -tratamento seja a mesma de elas estarem
(2001). O desdobramento do projeto em presentes também no grupo-controle.
22
técnico como, por exemplo, a coopera- sobre os programas avaliados (ARRETCHE,
ção entre os diferentes grupos envolvidos. 1998). Lobo (2001) reforça a importância
Na verdade, ao considerar os padrões do da informação desde o início de qualquer
Joint Committee (1994) o rigor técnico é programa ou projeto governamental.
apenas uma das características destina- Para a autora, a estruturação de sistemas
das a julgar o nível de aderência da ava- disponíveis, de acessibilidade garantida
liação; a utilidade das informações gera- e atendendo às peculiaridades dos pro-
das para os usuários, a sua viabilidade e a gramas sociais, é fundamental para o mí-
adequação ética são alguns dos aspectos nimo de factibilidade das avaliações. As-
essenciais à geração de avaliações infor- sim, sistemas de dados, bem estruturados,
mativas, tempestivas e influentes. desde o início do projeto, possibilitam es-
Para o gerente do projeto PAV, não tratégias de avaliação mais condizentes
seria justo implantar o projeto em apenas com seu objetivo.
algumas escolas, que seriam o grupo- Contudo, uma limitação geral das
-tratamento, e deixar outras escolas sem avaliações observada por Ferreira, Lopes
o projeto que, por sua vez, comporiam o e Campos (2010) diz respeito à qualidade
grupo-controle, devido a uma experiên- dos registros administrativos e dados dis-
cia para verificar o impacto. Nesse caso, poníveis dos projetos avaliados. Como dito
questiona-se o dilema ético das avalia- pelos autores, ao longo das avaliações de
ções de impacto em projetos sociais de impacto, identificou-se que alguns proje-
escolher entre atores sociais, no caso alu- tos avaliados não tinham todas as infor-
nos, que poderiam participar do projeto, mações necessárias à realização de uma
como um experimento, e alunos que não avaliação de impacto. De acordo com o
deveriam participar do projeto. Como entrevistado da coordenação do EpR, o
está exemplificado na fala do gerente do principal gargalo das avaliações estava
projeto, abaixo. na ausência de dados dos projetos para
testar os métodos. O grande desafio era
A avaliação de impacto é uma avaliação ter uma base de dados confiável e aces-
diferenciada, e eu acho que ajuda muito sível para a realização dos estudos, como
a gente a perceber se o projeto realmente
está dando resultado ou não está. Por outro se comenta no trecho abaixo.
lado, como as políticas públicas da educa-
ção precisam ser políticas que abranjam O principal gargalo em termo de avalia-
todo o universo das nossas escolas, eu acho ção não é a metodologia de avaliar para
que em alguns casos é difícil fazer avalia- fazer a continha, mas é você ter os dados.
ção de impacto na educação por isso. Vou Uma vez que você tem os dados, que tives-
te dar um exemplo. Como que eu posso, se esses dados de uma maneira sistemáti-
por exemplo, implantar um PIP, trabalhar o ca o tempo todo, chamar alguém, pegar
Programa Intervenção Pedagógica em “x” os dados, fazer uma avaliação e entregar
escolas e não em todas? Não tem como. En- o relatório é rápido. O problema é ter essa
tão, eu acho que a avaliação de impacto, base organizadinha e tal, que é o grande
ela é importante quando a gente tem pro- desafio. Ou seja, o melhor dos materiais está
jetos pontuais, como é o caso do PAV, mas, nos registros internos e que o Governo não
no geral, na educação a gente acha um tem capacidade e sistemática de acom-
pouco difícil não fazer projetos que não se- panhar. (COORDENAÇÃO EPR1)
jam universais. (GERENTE DO PROJETO PAV)
No quesito dados, três das quatro
avaliações analisadas neste estudo en-
Falta de qualidade dos dados e informa- contraram problemas na qualidade das
ções dos programas informações. A avaliação do MSF se de-
As dificuldades atreladas às avalia- frontou com problema de cadastro dos
ções não incidem somente na definição beneficiários. Observa-se na fala dos
da metodologia, mas também em ques- avaliadores que os bancos de dados não
tões operacionais, como, por exemplo, estavam preparados para alimentar uma
problemas na obtenção de informações avaliação de impacto.
24
das mesmas como correção de rota. E, de fato, diferentes entrevistados
Para o gerente do projeto PAV, um comentaram a relação entre a ocasião
dos motivos que atrapalham a realização na qual os resultados foram entregues e a
de avaliações de impacto na refere-se utilização das avaliações. Na visão da Se-
ao trade off entre extensão para tempo cretaria de Educação, é próprio da natu-
de execução da pesquisa e a necessida- reza das avaliações de impacto ser mais
de urgente de expansão de projetos. Em delongada, o que nem sempre coincide
outras palavras, como o desenvolvimento com o ciclo político do governo, como
de uma avaliação de impacto deman- explica o entrevistado da SEE e os coor-
da algum tempo para a sua conclusão – denadores do EpR.
aproximadamente mais de dois anos, e,
concomitantemente à execução da ava- Um dos problemas que eu acho da avalia-
liação, existe uma pressão iminente pela ção de impacto é que o tempo da avalia-
ção de impacto não coincide muito com o
ampliação das políticas, não é algo ba- tempo de governo, porque para a avalia-
nal manter um projeto avaliado “parado” ção de impacto você tem que ter no míni-
enquanto uma avaliação de impacto é mo dois anos e, no governo, tudo é muito
concluída. No relato abaixo o gerente do rápido as coisas. Ás vezes, não há o tempo
projeto comenta e exemplifica a coação necessário, porque você tem que fazer, tem
que mudar a política. Tem um gap entre
pela ampliação de projetos educacionais, tempo necessário para fazer uma boa ava-
como aconteceu no projeto Reinventan- liação e tempo que precisa para política
do o Ensino Médio – o projeto já tinha um pública. Acho que essa área é uma dificul-
cronograma de expansão definido antes dade das avaliações. (EQUIPE PAV1, grifos
mesmo que alguma evidência sobre sua dos autores do artigo)
validade e resultados fosse concluída.
Para Shulha e Cousins (1997), a ativi-
É meio complicado. Porque você não pode dade política também estaria relaciona-
fazer a avaliação de impacto correndo. No da ao contexto de realização das avalia-
mínimo, no mínimo, você precisa de um a ções, sendo que a tomada de decisões,
dois anos. E eu acho que na educação, se
a gente for esperar um a dois anos para fa- alinhada às recomendações de uma ava-
zer uma avaliação de impacto como tem liação, não depende somente de um úni-
que ser feita, nós vamos perder dois anos co ator, mas de outros grupos de interesse
de atividade. Igual, agora, o Reinventando e circunstâncias do próprio setor público.
o Ensino Médio, começou com 11 escolas, Nesse veio, Cousins e Leithwood (1986) res-
em 2013 vai para mais 122 e, em 2014, já vai
para o estado todo. Como é que nós vamos saltam que valores e interesses de pessoas
esperar uma avaliação de impacto para envolvidas nos programas mostraram-se
poder universalizar? Então eu acho que na concorrentes poderosos com os resulta-
educação tem hora que é difícil fazer ava- dos das avaliações. O que condiz com a
liação de impacto por este prisma que tem percepção dos entrevistados abaixo.
que universalizar e não pode demorar mui-
to. Mas eu acho que ela é muito importan-
Aqui na Secretaria de Educação, as toma-
te. (GERENTE DO PROJETO PAV) das de decisões são feitas, não baseadas
em dados técnicos; são feitas, porque têm
Leviton e Hughes (1981) enfatizam que ser feitas. Você tem que tomar uma
a importância de submeter os resultados decisão em determinado momento, então
de uma avaliação em tempo de se tomar você toma a decisão naquele momento na
mesa: “vamos fazer isso, isso e isso”. (EQUIPE
as decisões necessárias. Em outras pala- PAV2)
vras, os autores citam a importância da
tempestividade para o se uso. Quanto a O ciclo político, ele é curto. Ele é, no máxi-
essa característica, os autores citam, não mo, cinco anos em alguns países, mas no
somente o tempo de espera para a apre- nosso país são 4 anos, sendo que ele é mais
curto ainda porque já no último ano o gru-
ciação dos resultados, mas também a in- po que detém o poder já está preocupa-
terferência da fase do ciclo político em do com a nova eleição, e é natural da de-
que as avaliações são recebidas. mocracia, eles precisam se ocupar com o
26
vidades facilmente controladas por eles sugestões que elas dão, eu acho que isso
e se afastam do tema e da importância pode ser as vezes muito mais interessante
do que simplesmente fazer uma avaliação
da avaliação. Como exemplo, o discurso do antes e do depois, porque eu acho que
do entrevistado do EpR ressalta a falta de durante é importante também. Eu acho
tempo para se envolver com os resultados que o ideal é você fazer uma “quali” antes
do projeto. e depois uma “quanti” ou vice-versa, por-
que eu considero que elas são complemen-
Os gestores não têm o conhecimento disso, tares. (AVALIADOR MSF3)
de avaliar políticas. Assim, não é uma área
ainda que as pessoas não dão muita im- Como elucida o trecho de entre-
portância, porque tem várias coisas no seu
vista abaixo selecionado, embora o ge-
dia adia que você tem que preocupar, de
questões burocráticas, como é que funcio- rente do projeto IGESP reconheça a im-
nam os processos para gestão desses pro- portância do estudo para identificar a
jetos e tal... Ás vezes ele: “Ah, não, mas meu efetividade do IGESP, assume que talvez
recurso está ali, eu tenho que fazer é isso, o instrumento de mensuração apenas
tenho que liberar meu recurso, tenho que
do impacto do projeto não tenha sido o
fechar esse contrato aqui”. Ele não pensa
na política. Essa parte de você pensar a po- mais apropriado para responder as per-
lítica, o que você está querendo implemen- guntas sobre a operação, reconstrução e
tar, como é que você vai medir isso para ver melhoramento da política. O gestor deixa
se é eficiência, isso é eficácia, isso gera im- indícios de que, caso a avaliação fosse
pacto. (TÉCNICO EPR2) qualitativa e representativa das questões
de implementação do programa, talvez
Escolha do tipo de avaliação seria mais bem aproveitada.
O avaliador MSF3 protesta contra
a predominância do modelo quantita- A de impacto eu acho que ela ficou muito
tivo nas avaliações. Fato já comentado restrita, muito. Engraçado, né? Por quê? Pri-
por teóricos do campo, como Guba e meiro porque talvez ela não seja qualitativa,
porque o negócio dela é muito mais o mé-
Lincoln (1989), a constituição do campo todo. E para quem, na verdade, lida com
de avaliações de programas caracteri- o programa, para falar a verdade, o méto-
zou-se por pressupostos típicos do rigor do, a modelagem estatística você não tem
positivista, cuja influência se mostra ain- capacidade de criticar aquilo, de saber se
da presente acompanhando o histórico aquilo está certo. [...] Eu disse “ok”, isso é óti-
mo, isso fortalece, isso legitima mais, mas a
da administração pública do País, como questão que a gente lidava era... Era exa-
ressalta Lobo (2001). Nesse sentido, o ava- tamente assim: “Gente, como é que opera
liador MSF3 argumenta que não neces- isso? Por quê? Porque que ele gerou isso?
sariamente a avaliação de impacto é a porque que o IGESP gerou? O que do IGESP
resposta para todas as avaliações, sendo que gerou legitimidade?”. Isso não é res-
a combinação de métodos qualitativos e pondido. (GERENTE DO PROJETO IGESP)
quantitativos uma alternativa interessante
para explorar os resultados e os processos Nesse sentido, atenta-se para as
de um projeto. diferenças existentes entre as avaliações
de impacto que aludem aos efeitos do
Não necessariamente a avaliação de im- projeto a partir de metodologias essen-
pacto é a resposta para todas as avalia- cialmente quantitativas, e as avaliações
ções. Algumas pessoas questionaram a de processos que representam chances
avaliação de impacto, eles achavam que
ao monitoramento dos processos respon-
era algo muito mais matemático, muito frio
e que talvez não conseguisse captar tudo. sáveis pela produção do efeito espera-
Eles achavam que talvez uma metodologia do da política. Como apresenta Perez
mais qualitativa conseguisse perceber mais (2001), a pesquisa sobre os processos de
outras nuances do projeto. Eu, particular- um programa não se restringe apenas a
mente, gosto muito da avaliação qualita-
diagnosticar, mas a corrigir os cursos das
tiva. Eu acho que tem hora que você ir e
conversar com a pessoa e tentar perceber ações no momento em que os programas
como que ela vê o projeto e quais são as estão sendo executados.
28
REFERÊNCIAS caminho percorrido por Minas Gerais. In:
AGUILAR, M. J.; ANDER-EGG, E. Avaliação GUIMARÃES; T. B.; PORDEUS; I. A; CAMPOS,
de serviços e programas sociais. Rio de E. S. A. (Orgs). Estado para resultados:
Janeiro: Vozes, 1995. avanços no monitoramento e avaliação
da gestão pública em Minas Gerais. Belo
ALA-HARJA, M.; HELGASON, S. Em direção Horizonte: UFMG, 2010, p. 96-112.
às melhores práticas de avaliação. Revista
do Serviço Público, Brasília, v. 51, n. 4, p. FIGUEIREDO, M. F.; FIGUEIREDO, A. M.
5-59, out.dez. 2000. C. Avaliação política e avaliação de
políticas: um quadro de referência teórica.
ALKIN, M. C. Evaluation roots: tracing Análise e Conjuntura, Belo Horizonte, v. 1,
theorists views and influences. Thousand n. 3, p. 107-27, set.dez. 1986.
Oaks, California: Sage, 2004.
GARCIA, R. C. Subsídios para organizar
ARRETCHE, M. T. S. Tendências no estudo avaliações da ação governamental.
sobre avaliação. In: RICO, E. M. (Org). Brasília, DF: IPEA, 2001, 68 p. (Texto para
Avaliação de políticas sociais: uma discussão, n.776).
questão em debate. São Paulo: Cortez,
1998, p. 29-39. GERTLER, P. J. et al. Impact evaluation
in practice. Washington, DC: The World
BAMBERGER, M.; RUGH, J.; MABRY, L. Real Bank, 2011.
world evaluation: working under budget,
time, data, and political constraints. GUBA, E. G.; LINCOLN, Y. S. Fourth
Thousand Oaks: Sage, 2011. generation evaluation. Newbury Park:
Sage, 1989.
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa:
Edições 70, 1988. JOINT COMMITTEE FOR EDUCATIONAL
EVALUATION. Disponível em: <http://www.
COHEN, E.; FRANCO, R. Avaliação de jcsee.org/about>. Acesso em: 05 dez. 2011.
projetos sociais. Petrópolis: Vozes, 1993.
KHANDKER, S.R., KOOLWAL, G.B., SAMAD,
COSTA, F. L. da; CASTANHAR, J. C. H.A. Handbook on impact evaluation:
Avaliação de programas públicos: quantitative methods and practices.
desafios conceituais e metodológicos. Washington, D.C: The World Bank, 2010.
Revista de Administração Pública, Rio de
Janeiro, n. 37, v. 5, p. 969-2, mai. 2003. LEVITON, L. C.; BORUCH, R. F. Contributions
of evaluation to education programs and
COUSINS, J. B.; LEITHWOOD, K. A. Current policy. Evaluation Review, Birmingham, v.
Emprirical research on evaluation 7, n. 5, p. 563-98, oct. 1983.
utilization. Review of Educational research,
v. 56, n. 3, p. 331-64, fall 1986. LEVITON, L. C.; HUGHES, E. F. X. Research on
the utilization of evaluations: A review and
DRAIBE, S. M. Avaliação de implementação: synthesis. Evaluation Review, Birmingham,
esboço de uma metodologia de trabalho v. 5, n. 4, p. 525-48, aug. 1981.
em políticas públicas. In: BARREIRA, M.
C. R. N.; CARVALHO, M. C. B. de (Orgs). LOBO, T. A avaliação de processos e
Tendências e perspectivas na avaliação impactos em programas sociais: algumas
de políticas e programas sociais. São questões para reflexão. In: RICO, E. M.
Paulo: IEE-PUC-SP, 2001, p. 13-42. (Orgs). Avaliação de políticas sociais:
uma questão em debate. São Paulo:
FERREIRA, A. H. B.; LOPES, H. M.; CAMPOS, Cortez, 2001.
E. S. A. Avaliação de políticas públicas: o MOKATE, K. M. Convirtiendo el “monstruo”
PATTON, M. Q. Utilization-focused
evaluation. Thousand Oaks: Sage, 2008.
30
1ª NUDGE UNIT DO BRASIL - USANDO CIÊNCIA
COMPORTAMENTAL APLICADA NA PREFEITURA DA
CIDADE DO RIO DE JANEIRO
José Moulin Netto
32
A NEXTA
A NEXTA (www.nexta.net) é a
primeira empresa brasileira de consultoria
especializada em projeto de ciência
comportamental aplicada com foco no
setor público. Nos últimos dois anos, sua
equipe vem participando de workshops
e das principais conferências mundiais de
ciência comportamental. Seus consultores
têm experiência de vários projetos em
Ciência Comportamental incluindo
todos os projetos Nudge conduzidos na
Prefeitura do Rio de Janeiro.
Dependendo do problema
específico a ser resolvido, a equipe do
projeto inclui os principais especialistas
em ciência comportamental do mundo,
incluindo professores universitários
e profissionais.
Nossa abordagem é de desenvolver
uma real parceria com nossos clientes
que participam das etapas do projeto.
Com isso, em pouco tempo, os próprios
clientes podem criar sua própria unidade
de Nudge.
UM CASO
Antes de celebrar qualquer contra- Por essas e outras razões, cada vez
to, decorrente de procedimento licitatório menos os fornecedores respondem as so-
ou de contratação direta, a Administra- licitações da Administração ou quando o
ção Pública deve apurar o valor estimado fazem apresentam preços que não cor-
da contratação, em conformidade com respondem à realidade de mercado.
a Lei nº 8.666/93 (arts. 7º, § 2º, inc. II e 40, § Em vista desse cenário, dois fatores
2º, inc. II). se revelam imprescindíveis para a qua-
O problema reside justamente em lidade da pesquisa de preços, quais se-
como aferir o preço estimado de dado jam, a análise da adequação dos valo-
objeto, obra ou serviço. res considerados em vista da realidade
Tradicionalmente, consolidou-se de mercado e a ampliação e diversifi-
no âmbito das Cortes de Contas o enten- cação das fontes das informações cole-
dimento de que a Administração deve tadas com o objetivo de definir o valor
estimar o preço da licitação com base estimado da contratação.
em pelo menos três orçamentos elabo- A experiência tem indicado bons
rados por fornecedores que atuam no resultados quando a Administração am-
ramo da contratação. plia as fontes de pesquisa e, principal-
Ocorre que essa tem se tornado a mente, realiza a depuração dos valores
pior maneira de estimar o valor da futu- pesquisados. Ou seja, a Administração
ra contratação, pois em grandes centros deve se valer, além dos três orçamentos
três orçamentos não são capazes de re- de fornecedores, da referência de pre-
tratar a prática de mercado e, não bas- ços obtida a partir dos contratos ante-
tasse isso, como o tempo, os fornecedores riores do próprio órgão, de contratos de
perceberam que podem manipular (ge- outros órgãos, de atas de registro de pre-
ralmente para cima) os valores cotados ços, de preços consignados nos sistemas
que serão empregados como critério de de pagamentos, de valores divulgados
julgamento de suas propostas. em publicações técnicas especializadas
Lembra-se que os fornecedores não e quaisquer outras fontes capazes de re-
têm qualquer obrigação de fornecer essa tratar o valor de mercado da contrata-
informação e, ainda que o façam não se ção, podendo, inclusive, utilizar preços
vinculam aos preços orçados por ocasião de contratações realizadas por corpo-
de uma futura licitação. rações privadas em condições idênticas
Ademais, os fornecedores não pos- ou semelhantes àquelas da Administra-
suem qualquer interesse em antecipar ção Pública.
para a Administração sua estratégia de A melhora da qualidade da esti-
negócio. Por melhor que seja o preço or- mativa de preços passa pela conside-
çado, isso não garante vantagem alguma ração, nesse processo, apenas de refe-
na licitação. Pelo contrário, permite aos rências que informem preços aceitáveis,
concorrentes conhecerem a proposta do assim entendidos aqueles que não repre-
fornecedor, visto que o processo adminis- sentam claro viés em relação ao contex-
trativo no qual esse documento será ane- to de mercado aferido, isto é, que não
xo deve ser público. sejam muito inferiores ao padrão míni-
34
mo ou superiores ao referencial máximo Fornecedores com o Cadastro de Contri-
identificados para o produto ou serviço. buintes do Estado/Município; 7) Trava das
Assim, parece possível concluir que Licitações e Compras Diretas; 8) Relação
a melhor forma de realizar a estimativa de Fornecedores Bloqueados Judicial-
de preços por ocasião da instauração de mente; 9) Relação de Fornecedores com
procedimento licitatório é pela realização Penalidades; 10) Relação da Execução
de pesquisa de mercado que priorize a das Licitações; 11) Perfil de Compras das
qualidade e a diversidade das fontes, pois Unidades Gestoras (Secretarias, Departa-
quanto maior o número de informações e mentos, etc); 12) Preço de Referência dos
a respectiva excelência, mais próximo e Itens de Material, Serviço e Obras; 13) Eco-
condizente com a realidade do mercado nomicidade nas Aquisições Públicas; 14)
estará o preço estimado. Produção de Informações Operacionais
Não parece demais imaginar e Gerenciais sobre as aquisições realiza-
como seria útil se o servidor pudesse con- das pela Administração Pública Estadual/
tar com um banco de preços organizado Municipal; 15) Integração com outros Sis-
e acessado por meio de um sistema in- temas de Execução e Controle de aqui-
formatizado, dotado de critérios de bus- sição de Materiais e Serviços (RedeCom-
ca e pesquisa que lhe permitisse aferir os pras, SICONV, etc.).
valores praticados por objeto, por quanti- A operacionalização de um Ban-
dade, por CNPJ, por região do país, entre co de Preços traz ínsita a necessidade
outros parâmetros. de realização de um “Banco de Espe-
Surge, então, a necessidade de que cificações”, entendido como um con-
seja adotado, por todos os entes públicos, junto de atividades integradas que visa
um sistema de Banco de Preços Público, à padronização de produtos e serviços
que tem a finalidade de manter um ban- adquiridos pelo governo, servindo de
co de dados como referências, e análises insumo para a criação do “Banco de
de pesquisas de preços atualizadas.5 Modelos”, que dará maior eficiência ao
O objetivo de um Banco de Preços Banco de Preços, garantindo, acima de
é contribuir para a racionalização das tudo, transparência e critérios mínimos
despesas referentes às compras governa- de qualidade nas aquisições e contra-
mentais, mediante o acompanhamento tações públicas.
sistemático dos níveis de preços pratica- A implementação de especifica-
dos pelos diversos órgãos públicos e en- ções, através de banco de modelos, traz
tidades da Administração Pública quan- a possibilidade de redução do tempo
do da aquisição de bens e serviços. nos processos de compras, de divergên-
A instalação de um Banco de Pre- cias de fornecimento, dos valores através
ços pode conduzir aos seguintes benefí- da gestão do Banco de Preços, além de
cios imediatos: 1) Padronização da Des- possibilitar o aumento na qualidade nos
crição dos Materiais, Serviços e Obras; 2) dados para gestão e tomadas de ações
Centralização das Informações dos For- através de informações estratégicas.
necedores do Estado/Município; 3) Padro- Os impactos negativos da falta de
nização do Processo de Compra desde a padronização são verificados quando a
solicitação do Material ou Serviço; 4) Re- Administração efetiva compras erradas
gistro das informações sobre as Licitações e emergenciais artificiais, engendrando
e Compras Diretas; 5) Registro dos Preços processos de compra demorados e difí-
Praticados (Licitação, Empenho e Liqui- ceis, com nítidas deficiências na gestão
dação); 6) Integração do Cadastro de de estoques.
5
Manual Banco de Preços – SIGA/ES - Governo do Espirito Santo - Secretaria de Estado de Gestão e
Recursos Humanos. http://www.compras.es.gov.br/download/Manual_Banco_de_Precos.pdf
36
Cerrito, Chui, Herval, Jaguarão, Mor- pras individuais.
ro Redondo, Pedras Altas, Pedro Osório, Em estudo realizado por Silvâni Ma-
Pelotas, Pinheiro Machado, Piratini, Rio ria Sehnem do Amaral e Carine Raquel
Grande, Santana da Boa Vista, Santa Vi- Blatt7, foi analisado o impacto da aqui-
toria do Palmar, São José do Norte, São sição de medicamentos pelo consórcio
Lourenço do Sul e Turuçú. CIS-AMMVI no desabastecimento e no
O Pregão Eletrônico nº 01/20156 custo dos medicamentos do componen-
destinou-se a selecionar as propos- te da Assistência Farmacêutica Básica.
tas mais vantajosas para aquisição de Em relação ao número de itens que
medicamentos pelos Municípios men- apresentaram falta em pelo menos um
cionados, mediante contratos a serem dia, houve uma redução aproximada de
celebrados diretamente entre eles e os 12,0% em 2008 em relação a 2007, e de
licitantes vencedores. 48% em 2009 em relação a 2007. O núme-
A adesão a um consórcio para a ro de medicamentos em falta por um pe-
aquisição de medicamentos certamente ríodo superior a 90 dias foi de 11(2007), três
possibilitará a redução dos custos, garan- (2008) e dois (2009).
tindo maior oferta de medicamentos e di- Os preços pagos em 2008 para a
minuição do desabastecimento do com- aquisição dos medicamentos por unida-
ponente da Assistência Farmacêutica. Os de, já sob influência do consórcio, foram
preços dos medicamentos tendem a cair sistematicamente mais baixos que em
com a economia de escala e o poder 2007 (63% dos itens). Quando compara-
de negociação de preços aumenta com dos os valores unitários de 2009 com a
maiores volumes negociados. aquisição dos medicamentos por meio
A adesão ao consórcio possibilitará de consórcio com os valores de 2007, os
economia de recursos e oferta mais regu- valores unitários foram inferiores para 76%
lar de medicamentos. Além disso, municí- dos itens.
pios menores puderam usufruir do poder A ideia que os municípios devem
de compra e da infraestrutura adminis- promover uma união, através de consór-
trativa dessa forma de organização, de- cio, para fins de realização de compras
sobrigando a realização do processo de coletivas, parece tomar corpo. A Comis-
licitação de medicamentos em vários mu- são de Constituição e Justiça e de Cida-
nicípios da mesma região. Dessa maneira, dania (CCJ) da Câmara dos Deputados
o consórcio intermunicipal para a aquisi- aprovou em 11 de agosto de 2015, pro-
ção de medicamentos pode ser uma im- posta que beneficia municípios com me-
portante ferramenta para a melhoria da nos de 50 mil habitantes e os consórcios
gestão da Assistência Farmacêutica. públicos intermunicipais na compra de
Em 2008, os municípios da Asso- maquinário pesado para a realização de
ciação dos Municípios do Médio Vale do serviços em vias públicas.
Itajaí (AMMVI), no estado de Santa Cata- Segundo o texto, os bancos públi-
rina, passaram a utilizar o Consórcio Inter- cos oficiais disponibilizarão linhas de cré-
municipal de Saúde (CIS-AMMVI) para a dito em condições especiais para a com-
aquisição de medicamentos. Esse novo pra desse maquinário por municípios com
modelo de aquisição tinha como meta a menos de 50 mil habitantes e por consór-
redução dos custos operacionais dos mu- cio entre dois ou mais municípios em área
nicípios, bem como a busca por preços contínua. A medida está prevista no Pro-
mais vantajosos que os obtidos em com- jeto de Lei Complementar 456/09, do de-
6
http://www.consorcio.azonasul.org.br/Lista/85/Licitacoes
7
AMARAL, Silvâni Maria Sehnem do; BLATT, Carine Raquel. Consórcio intermunicipal para a aquisição
de medicamentos: impacto no desabastecimento e no custo. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v.
45, n. 4, p. 799-801, ago. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rsp/v45n4/2196.pdf
38
THIAGO PEDRINO SIMÃO
Bacharel em Ciências Jurídicas pelas
Faculdades Integradas de São Carlos
(FADISC). Pós-graduado em Ciências
Criminais pelo Centro Universitário de
Araras (UNAR), em Direito Tributário pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (PUC Minas), em Direito Municipal
pela Escola Paulista de Direito (EPD) e
em Liderança e Gestão Pública pelo
Centro de Liderança Pública (CLP), com
módulo internacional realizado na The
John F. Kennedy School of Government at
Harvard University.
Advogado e atual Procurador Geral
da Prefeitura Municipal de Itirapina-
SP. Adotando uma visão sistêmica da
ciência jurídica, detenho experiência
no trato de questões relacionadas ao
direito público, tendo atuado nas esferas
da advocacia privada e pública. Tenho
por objetivo relacionar o direito com
a gestão pública, traçando elementos
conectivos da racionalidade jurídica
com as tendências contemporâneas em
políticas públicas, gestão econômica e
tributária nas esferas governamentais,
permitindo um planejamento estratégico
na nova formatação entre Estado e
Administração Pública.
ANAIS DO SEMINÁRIO DE INOVAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA
PAINEL 2: CIDADES
E REGIÕES
METROPOLITANAS:
O QUE FUNCIONA?
DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIAS PARA A POLÍTICA
TARIFÁRIA DOS SERVIÇOS DE TRANSPORTE
PÚBLICO COLETIVO
42
Fig. 2 Peso dos principais insumos na composição tarifária
44
ÍNDICE DE PASSAGEIROS da União. O uso de alguns equipamen-
POR QUILÔMETRO tos contribui também para a melhoria na
O índice de passageiros por quilo- prestação do serviço de transporte públi-
metro (IPK) é um dos parâmetros utiliza- co coletivo.
dos para o cálculo tarifário dos serviços Considerando o universo dos mu-
de transporte coletivo por ônibus quando nicípios que possuem serviço de trans-
a forma de calculo da remuneração do porte por ônibus verificou-se, conforme
operador é por passageiro transportado mostrado na figura 6 (na página seguin-
ou passageiro equivalente. te), que a bilhetagem eletrônica já está
Este índice reflete o grau de utiliza- presente em mais de 80% dos municípios.
ção do serviço de transporte público por Este é um avanço considerável para um
ônibus na cidade, ou seja, quanto maior melhor controle dos passageiros trans-
o número, maior a lotação dos veículos. portados pelas empresas operadoras.
Desta forma, uma operação mais eficien- Destaca-se também a tecnologia
te e um maior número de passageiros de monitoramento eletrônico de frota, re-
transportados em um veículo contribuem alizado normalmente por meio de GPS,
para um maior o IPK. presente em 53% dos municípios com ser-
A figura 5 evidencia que o IPK é viço de transporte público por ônibus.
consideravelmente maior para as cida- Outras tecnologias presentes em
des com mais de 750 mil habitantes, ou menor escala foram: Centro de Controle
seja, os veículos de transporte público co- Operacional (31,46%), Centro de Contro-
letivo das maiores cidades possuem uma le de Tráfego (21,13%), Informações em
maior taxa de ocupação do que os das tempo real aos usuários, que podem ser
menores cidades. acessadas pela internet em qualquer dis-
positivo móvel, (20,66%) e sistemas de se-
TECNOLOGIA NA MOBILIDADE URBANA máforos inteligentes concedendo priori-
O incentivo ao desenvolvimento dade aos ônibus (12,68%).
tecnológico e científico é uma das dire-
trizes da Política Nacional de Mobilidade
Urbana e também uma das atribuições
46
ESTRATÉGIAS PARA A POLÍTICA TARIFÁRIA de uso público. Diferentemente do instru-
É possível afirmar que os sistemas mento anterior, este já é utilizado em al-
de transporte coletivo brasileiros adotam guns municípios brasileiros e é mais bem
mecanismos de subsídios internos, uma aceito pela sociedade. Comumente são
vez que, com a predominância de mo- chamados de “área azul” ou “zona azul”.
delos de tarifa única, os sistemas operam Políticas de estacionamento, com
com uma espécie de compensação in- o objetivo maior de prover de alimenta-
terna, nos quais, como regra, a tarifa dos dores o transporte coletivo, em áreas de
usuários das viagens mais curtas cobre carência do sistema público, podem ser
parte dos custos dos que residem em positivas e precisam ser planejadas de
áreas mais distantes. acordo com as pesquisas sobre transpor-
A política tarifária deve ser instru- tes disponíveis em cada cidade.
mento da política de ocupação equilibra- De forma complementar, vale res-
da da cidade de acordo com o plano di- saltar, que para uma real vinculação de
retor municipal. Desta forma, a fixação de recursos é fundamental a criação de fun-
preços pode ser utilizada como fator de do municipal específico de transporte ou
gestão da demanda. Assim, tarifas mais mobilidade urbana.
baixas para viagens locais podem ser um
importante estímulo para a consolidação CONCLUSÕES
de subcentros e para o desenvolvimen- A Política Nacional de Mobilida-
to regional. Preços reduzidos nos horários de Urbana trouxe, de forma inovadora,
de menor demanda (fora dos picos) po- diversos pontos para o debate relativo à
dem produzir um melhor aproveitamento prestação do serviço de transporte pú-
da estrutura operacional implantada; do blico coletivo, destacando-se a impor-
mesmo modo, tarifas relativamente mais tância da avaliação das diretrizes da po-
elevadas, para o pagamento de viagens lítica tarifária.
isoladas, podem inibir a utilização de A partir do diagnóstico realizado,
meios de pagamento múltiplos adquiri- foi possível verificar que alguns pontos
dos com antecedência. necessitam de uma gradativa evolução
A Lei de Mobilidade Urbana diz que para proporcionar tarifas justas e eficiên-
na ocorrência de superávit tarifário pro- cia na prestação do serviço. Uma das for-
veniente de receita adicional originada mas de se obter tal resultado, por exem-
em determinados serviços delegados de- plo, pode ser o aumento da receita extra
verá ser revertida para o próprio Sistema tarifária para o sistema.
de Mobilidade Urbana. A política de concessão de des-
Dentre os instrumentos de gestão contos e gratuidades deve ser repensada
do sistema de transporte, presentes na para que não seja subsidiada pelos outros
Lei 12.587/12, é citado o pedágio urba- usuários do sistema e sim por fontes de re-
no, descrito como a aplicação de tribu- ceitas específicas. Além disso, critérios so-
tos sobre modos e serviços de transporte cioeconômicos devem ser prioritários.
urbano pela utilização da infraestrutura Destacam-se, também, nos últimos,
urbana, visando desestimular o uso de anos avanços com relação à acessibili-
determinados modos e serviços de mo- dade da frota e, principalmente, ao uso
bilidade, vinculando-se a receita à apli- da bilhetagem eletrônica dentre outras
cação exclusiva em infraestrutura ur- tecnologias que buscam otimizar a ope-
bana destinada ao transporte público ração e aumentar o controle por parte do
coletivo, aos modos não motorizados e poder concedente.
no financiamento do subsídio público Atualmente, com o crescimento
da tarifa. dos custos operacionais, aumento das ta-
Outra forma possível de obtenção rifas e, em alguns casos, a queda da de-
de recursos seria por meio do estabele- manda, os questionamentos sobre os pro-
cimento da política de estacionamento blemas de financiamento da prestação
REFERÊNCIAS
Ministério das Cidades (2013), Política Na-
cional de Mobilidade Urbana – Cartilha
da Lei nº 12.587/12, Ministério das Cida-
des, Brasília.
48
CENTRO PARA TODOS
Washington Fajardo
50
PAINEL 3:
REFORMAS DE
BAIXO PARA CIMA:
GOVERNANÇA
COMPARTILHADA
NA PRÁTICA
PLATAFORMA DE SERVIÇOS DIGITAIS PARA
APLICATIVOS CÍVICOS
Monique Louise de Barros Monteiro
Marcelo da Silva Sousa
Remis Balaniuk
52
tivas a centros de referência e centros de de objetos. Assim, um usuário pode ava-
referência especializada de assistência liar um objeto, que pode ser, por exemplo,
social (respectivamente, Cras e Creas). A uma escola ou um hospital, a depender
documentação da interface para tais ser- do contexto de utilização.
viços pode ser encontrada em http://mo- A documentação da interface para
bile-aceite.tcu.gov.br/mapa-da-saude/ os serviços do metamodelo pode ser en-
swagger/index.html?url=/mapa-da-sau- contrada em http://mobile-aceite.tcu.gov.
de/v2/api-docs#!/assistencia-social. br/appCivicoRS/rest/api-doc.
• Empregos: informações relativas a
postos do SINE. A documentação da in- RESULTADOS
terface para tais serviços pode ser en- Os aplicativos Mapa da Saúde, Nos-
contrada em: http://mobile-aceite.tcu. sa Escola, Meu Remédio, Mami e Vacin
gov.br/mapa-da-saude/swagger/index. App constituem exemplos reais de aplica-
html?url=/mapa-da-saude/v2/api-docs#!/ ções desenvolvidas tendo por base a API
empregos disponibilizada. Estão disponíveis nas lojas
• Educação: informações relaciona- App Store e/ou Google Play.
das a educação, incluindo basicamente Por fim, em 2016, surgiu mais uma
dados cadastrais de estabelecimentos oportunidade de validar o metamodelo
educacionais e seus recursos. A documen- para aplicativos cívicos acima descrito por
tação da interface para tais serviços pode meio de uma iniciativa do mundo real: o
ser encontrada em http://mobile-aceite. Desafio de Aplicativos Cívicos, promovido
tcu.gov.br/nossaEscolaRS/rest/api-doc. pelo TCU. O objetivo é promover uma ha-
ckaton para que desenvolvedores exter-
Daqui em diante, denominaremos nos inscrevam aplicativos cívicos que fa-
os conjuntos de web services acima ci- çam uso dos web services disponibilizados.
tados de API, sigla para Application Pro- Desde o início das inscrições para a
gramming Interface. hackaton, já coletamos e implementamos
A API inicialmente proposta e dis- cerca de 20 (vinte) sugestões para o apri-
ponibilizada para os web services seguiu moramento da API disponibilizada.
os requisitos esperados pelos aplicativos O resultado e premiação para os
Mapa da Saúde e Nossa Escola, desenvol- melhores aplicativos está previsto para
vidos por alunos inseridos no Projeto BEPiD. ocorrer em novembro de 2016.
Em virtude principalmente das necessida-
des de coletar feedback de cidadãos, os
aplicativos foram desenvolvidos seguindo
um modelo de rede social, demandando,
portanto, a existência de um cadastro de
usuários e de avaliações de serviços públi-
cos por eles fornecidas. A partir daí, surgiu
o metamodelo para aplicativos cívicos,
um conjunto adicional de web services
que permite consultar, incluir, alterar e ex-
cluir informações relacionadas a usuários,
aplicativos, grupos de usuários, postagens,
hashtags, notificações, etc.
Adicionalmente, para que o mesmo
modelo pudesse ser adotado tanto para
saúde pública como para educação,
bem como para outras áreas de atuação
do Estado, é possível que usuários postem
avaliações, sob a forma de postagens, de
entidades genéricas denominadas aqui
54
INTEGRAÇÃO LEGISLATIVA E DESENVOLVIMENTO DO
PODER LEGISLATIVO LOCAL
Paulo Roberto Alonso Viegas
Francisco Etelvino Biondo
Num país com governo organi- Tais dificuldades podem ser relacio-
zado em três Poderes independentes e nadas à vários aspectos, como à obten-
harmônicos entre si, pode-se inferir que ção de recursos financeiros adequados
o papel institucional do Poder Legislati- às respectivas necessidades do ente lo-
vo passa por uma oportuna e legitima- cal, a um efetivo controle sobre o uso de
dora aproximação de seus membros, recursos públicos, ao desconhecimento
representantes da sociedade, com os das atividades administrativas e compe-
cidadãos a quem devem prestar contas, tências pelos servidores, à desinforma-
permitindo melhor conexão e comuni- ção de agentes administrativos e políti-
cação entre ambos os grupos. cos locais, à submissão e dependência
É claro que um Legislativo possui dos Legislativos aos Executivos locais, ao
funções típicas, como a de fiscalizar o uso uso da máquina pública para benefício
dos recursos públicos, julgar e legislar. Par- pessoal ou de grupos, à desorganização
ticularmente, pode-se dizer que legislar e administrativa, ao uso inadequado dos
fiscalizar a aplicação de recursos públicos recursos financeiros para resolver ques-
são funções que alavancam a atividade tões locais sensíveis.
econômica. Quanto à função de legis- Esses fatores permitem que se faça
lar, por delimitar o campo de ação dos um diagnóstico do funcionamento institu-
agentes econômicos para desenvolve- cional do Brasil, a partir de suas “pontas”,
rem suas atividades. Quanto à função de ou seja, de seus municípios, incluindo aí
fiscalizar a aplicação de recursos, porque aqueles menos organizados e desenvolvi-
o gasto público promove a circulação de dos. Ora, se for possível realizar esse diag-
moeda, a qual será disputada por agen- nóstico e com base nele melhorar o fun-
tes econômicos que, por sua vez, geram cionamento de agentes locais, pode-se
negócios, emprego e renda. com isso melhorar o resultado do todo, in-
No Brasil, o Poder Legislativo federal clusive permitindo a redução da depen-
é bicameral, coexistindo a Câmara dos dência dos poderes locais com relação
Deputados e o Senado Federal. No caso aos poderes centrais (União e Estados).
específico do Senado Federal, ele é com- No Brasil, considerando-se, ainda,
posto por representantes dos Estados e do o âmbito municipal, muitos problemas
Distrito Federal, estrutura que busca equi- decorrem de omissão ou falha na atua-
librar o poder dos Estados no Congresso e ção institucional do Legislativo local, pro-
manter a federação de pé. blemas muitos dos quais podem ser mi-
Cabe salientar que a organização tigados a partir de ação autônoma das
do Estado sob a forma federativa envol- próprias Casas. Há, hoje, 5.570 Casas Le-
ve grande complexidade, com Poderes gislativas municipais e, segundo estima-
distribuídos em diferentes esferas de com- tivas do Programa Interlegis do Senado
petência. No caso do Brasil são: União, Es- Federal, mais de 70% delas se deparam
tados e Distrito Federal, e Municípios. Em com essa situação.
especial, na esfera municipal, há dificul- Apoiado de evidências empíricas,
dades típicas quanto ao bom funciona- procurou-se identificar as causas das di-
mento da administração, em boa medi- ficuldades verificadas no funcionamento
da pela omissão, consciente ou não, dos das Casas Legislativas locais. Uma vez es-
legislativos locais. tando as causas identificadas, foi possível
56
dente do que o correspondente grupo a evolução do seu funcionamento.
provoca no modelo hipotético 2. Os Níveis de Desenvolvimento va-
Por conseguinte, a partir dos resul- riam de 1 a 4 (Legislativo Instalado, Legisla-
tados diagnosticados de cada Legislati- tivo Administrado, Legislativo Governado
vo local, propõe-se um planejamento es- e Legislativo Integrado), conforme o grau
corado no desenho de um metamodelo de maturidade alcançado pela Casa Le-
de maturidade de Casas Legislativas lo- gislativa. Quanto os Domínio, eles com-
cais. Esse modelo visa elencar objetivos preendem as classificações Informação,
a serem perseguidos pela administração Comunicação, Educação e Tecnologia.
para lidar com seus problemas e res- Essa última se subdivide em três segmen-
pectivas causas, organizados segundo tos: legislativa, de gestão e de tecnologia
dois grupamentos de variáveis. Portan- da informação. Em cada domínio se esta-
to, deve considerar, primeiramente, a belece parâmetros que permitam as Ca-
variável “Domínios de Ação”, destinada sas a mitigarem os efeitos das causas de
ao enfrentamento dos grupos de causas problemas supramencionadas, além de
dos problemas diagnosticados, estan- desenvolverem soluções que aprimorem
do a eles associados. Em segundo lugar, o seu funcionamento. Nos cruzamentos
deve-se considerar a variável “Níveis de dessas variáveis são estabelecidos, por-
Desenvolvimento” das Casas Legislativas, tanto, os objetivos a serem perseguidos
que permitam a partir do estágio evolu- para essas finalidades.
tivo da Casa, planejar as ações e acom- A síntese dessa ideia pode ser verifi-
panhar o desenvolvimento do trabalho e cada no quadro seguinte:
58
de financiamento do Banco Interameri- nanceiras ou técnicas, de estruturarem
cano de Desenvolvimento (BID), relação localmente seus sítios na internet. Ainda,
que foi encerrada em 2014, o que redu- somente em 2016, estima-se a emissão de
ziu de modo significativo a sua atuação. 100.000 certificados de educação a dis-
Passou, então, a depender, de forma par- tância (EAD), o que é acompanhado de
cimoniosa, de recursos orçamentários do médias mensais de 200.000 usuários no
Senado Federal, o que dificulta a realiza- ambiente virtual de ensino, e 400.000 visi-
ção plena de seu trabalho. tas ao sítio da plataforma educacional.
Entre os trabalhos e resultados al- Uma importante ferramenta usada
cançados pelo Interlegis podem ser cita- pelo Programa Interlegis, e que pode ter
dos a elaboração de sistemas de apoio seu uso potencializado com a adoção
à gestão do processo legislativo (SAPL) da proposta aqui apresentada, é a ca-
e de administração de gabinetes ou es- pacitação mediante Educação a Dis-
critórios parlamentares (SAAP), além da tância. A potencialziação aqui tratada
administração do “Domínio.leg”, usado refere-se, numa primeira abordagem, à
com o intuito de criar uma identidade adoção da modelagem de gestão edu-
aos ambientes virtuais legislativos do cacional baseada nas ideias de “mape-
país. Além disso, ocorrem, também, a re- amento de competências” e “trilhas de
alização de oficinas de revisão de mar- aprendizagem”, amplamente difundidas
cos jurídicos de centenas de Câmaras nos meios acadêmicos e corporativo.
Municipais, a criação de diversos gru- De acordo com a primeira, analisa-se
pos colaborativos na internet voltados a estrutura orgânica do ente e se esta-
ao desenvolvimento e organização dos bele competências que o ocupante de
entes do Legislativo, e a oferta de cursos cada cargo deve preencher para tecni-
presenciais e a distância sobre temas re- camente estar preparado para o desem-
lativos ao funcionamento do Legislativo. penho das respectivas funções. Na se-
Esses cursos compreendem conteúdos gunda ideia, se estabelece um plano de
específicos para entes em diferentes es- desenvolvimento de capacidades que
tágios de desenvolvimento institucional. cada pessoa na organização deve rea-
Os números alcançados nesses lizar para que adquira as competências
anos de operação do Programa Interle- que seu cargo requer. Essa modelagem
gis são notórios. Por exemplo, o Progra- começou a ser efetivamente implantada
ma conta hoje com cerca de 1500 sites pelo ILB/Interlegis em 2016.
hospedados em seu servidor em Brasília, Uma visão da penetração do tra-
o que se justifica pelo fato de muitas Ca- balho já realizado até o final de 2015 pode
sas Legislativas não terem condições, fi- ser verificada na imagem seguinte:
60
fonte de financiamento para o Programa. desenvolvimento institucional dos Poderes
A retomada de linha de financiamento de Estado, e uma colaboração deles
junto a uma instituição internacional de com esta proposta tende a gerar sinergias
fomento, como o Banco Interamericano positivas com o seu trabalho. Ainda, esses
de Desenvolvimento (BID), por exemplo, entes, responsáveis pela fiscalização e
é indicada, na medida em que acompanhamento da administração
essas instituições cobram resultados pública, em especial a do Poder Executivo
periodicamente quanto à evolução em suas distintas esferas, gozam de
física e financeira dos projetos apoiados. poder suficiente para submeter os entes
Isso permite o acompanhamento do fiscalizados a suas decisões e cobranças.
desenvolvimento institucional das Casas. Por isso, faz sentido o Programa contar
Além disso, deve-se entender que com o apoio institucional dos Tribunais
financiamentos a projetos dessa natureza de Conta para que consiga alcançar
devem ser entendidos como parte de os resultados esperados, de forma mais
um plano de Estado, com o contrato célere e eficaz.
de financiamento firmado entre União A participação dos Tribunais de
e a agência internacional de fomento. Conta pode, inclusive, contribuir para
Esse entendimento não parece ter sido a resolução de importante questão
percebido, quando do cancelamento que ocorre de forma recorrente em
de despesas do Interlegis para fins de vários municípios brasileiros: a influência
redução do gasto orçamentário do indevida do Executivo municipal no
órgão responsável pela sua execução correspondente Legislativo. Apenas
em anos recentes. para exemplificar, a experiência
Uma alternativa ao financiamento empírica nos levou a identificar casos
do Programa seria a identificação e em que os componentes do Legislativo
captação de recursos privados, com desconheciam de sua independência
interesses específicos na questão, ou orçamentária e patrimonial com
de recursos de caráter não oneroso relação ao Executivo local. Há casos
a partir de Fundos que tenham o em que os membros do Legislativo, após
desenvolvimento do homem e da desentendimentos de suas lideranças
sociedade como apelo maior. com o prefeito, foram expulsos de suas
Um terceiro requisito estaria instalações (no prédio da prefeitura) e
relacionado a como conferir passaram a fazer reuniões ao ar livre.
“enforcement” e estabilidade à execução São exemplos que abarcam situações
do programa ou projeto. Ingerências institucionalmente indesejáveis, contra as
políticas e desacertos administrativos quais a proposta de fortalecimento do
costumam atrasar a execução de projetos legislativo se opõe.
na esfera pública. Criar mecanismos que Portanto, a proposta em tela traz
suportem a execução é muito desejável inovação ao mecanismo de organização
e importante para a eficácia do intento. administrativa e estatal, promovendo
Isso porque, dada a natureza do projeto, ideias que desenvolvam as instituições
podem ocorrer conflitos em função, localmente, a partir do fortalecimento do
por exemplo, de questionamento de Poder Legislativo local. Isso inclui inovação
competências institucionais para a sua aberta e mudanças administrativas
realização, de conveniências políticas promovidas “de baixo para cima”, com
que variam a cada momento, de ofensas reforço a ideia de equilíbrio entre Poderes
a pretenso espaço de outro Poder ou no âmbito municipal, promovendo a
de outra esfera administrativa, entre transparência, a cidadania, a estabilidade
outros motivos correlatos. Nesse sentido, social e a integração nacional.
sugere-se angariar apoio dos Tribunais
de Conta dos Estados e dos Municípios.
Isso porque esses entes têm interesse no
62
SPU E A SEMENTE DA INTEGRAÇÃO
Willian Bueno
Ednilson Oliveira
64
WILLIAN BUENO
Analista de Infraestrutura do Ministério
do Planejamento. Mestrando em
Administração Pública pela Universidade
de Columbia. Diretor Adjunto de
Caracterização e Incorporação do
Patrimônio na Secretaria do Patrimônio
da União, em que está implementando
o uso de tecnologias inovadoras para
gestão do patrimônio público, tais
como BIM (Modelagem da Informação
da Construção) e GIS (Sistema de
Informações Geoespaciais). Presidente do
Instituto de Obras Públicas (IOP), em que
está liderando o projeto “Infraestrutura
para Crescer”. Trata-se de uma ação
colaborativa entre diversos profissionais
do setor, com o objetivo de aprimorar
a governança pública na entrega de
infraestrutura à sociedade.
8
“A quick glance at the curves describing income and wealth inequality or the capital/income
ratio is enough to show that politics is ubiquitous and that economic and political changes are
inextricably intertwined and must be studied together. This forces one to study the state, taxes, and
debt in concrete ways and to abandon simplistic and abstract notion of the economic infrastructure
and political superstructure” PIKETTY, Thomas, Capital in the Twenty-First Century. Cambridge,
Massachussets, London, England: The Belknap Press of Harvard University Press, 2014, p. 705.
9
Thomas Piketty poses humorous rhetoric questions illustrating that epistemological fact – “Did Maggie
Thatcher save Britain? Would Bill Gates’s innovations have existed without Ronald Reagan?” Ibid., p.
622-624.
10
Ibid.
11
“At the same time, the recent rise of tax competition in a world of free-flowing capital has led many
governments to exempt capital income from the progressive income tax. This is particularly true in
Europe, whose relatively small states have thus far proved incapable of achieving a coordinated tax
policy. The result is an endless race to the bottom, leading, forexample, to cuts in corporate tax rates
and to the exemption of interest, dividends, and other financial revenues from the taxes to which labor
incomes are subject” Ibid., 603.
12
5 WORLD ECONOMIC FORUM, The Global Competitiveness Report 2015-2016. Geneva: World
Economic Forum, 2015, p. 8.
13
6 “At the same time, the recent rise of tax competition in a world of free-flowing capital has led many
governments to exempt capital income from the progressive income tax. This is particularly true in
Europe, whose relatively small states have thus far proved incapable of achieving a coordinated tax
policy. The result is an endless race to the bottom, leading, for example, to cuts in corporate tax rates
and to the exemption of interest, dividends, and other financial revenues from the taxes to which labor
incomes are subject” PIKETTY, op. cit., p. 603.
14
Ibid., p. 575-576.
15
Ibid., p. 575.
16
Ibid., p. 577.
17
BONICA, Adam; McCarty, Nolan; POOLE, Keith T.; ROSENTHAL, Howard. Why Hasn’t Democracy
Slowed Rising Inequality?. Journal of Economic Perspectives, v. 27, n. 3, 2013, available in http://www.
ingentaconnect.com/content/aea/jep/2013/00000027/00000003/art00007), access in July 15th 2016,
p. 103;121.
68
Although the explanations underling justification of the inequality as a result
this phenomenon – coexisting democratic of meritocracy. This last method usually
institutions and rising inequality - might be considers a variation of the argument that
an open question, Thomas Piketty considers “preventing the rich from earning would
that the economic inequality itself brings harm the worst well-off”,20 and it is usually
a risk to the stabilization of democracies. applied in modern democratic societies.
High degrees of inequality of income and The political risk associated to
wealth tends to compromise the public trust inequality is, therefore, significant.
on the institutions and to undermine their Additionally to this political risk,
legitimacy, with important implications recent literature shows that economic
to the stability and the prosperity of inequality na also affect growth negatively.
modern democratic societies: “when it These studies use comparative research
comes to the ownership of capital, such on data relating economic growth and
a high degree of concentration is already inequality in order to conclude that
a source of powerful political tensions, inequality itself also poses a high risk to
which are often difficult to reconcile with sustained economic growth. In other
universal suffrage”.18 words: contrary to classic economic
Other authors align with Piketty´s theory´s claims, for which inequality was
findings on this respect: “growth-enhancing”,21 “recent literature
has re-examined the interactions between
Income inequality is regarded as the inequality and growth”.22 These studies
crucial factor leading to social conflict, found a correlation linking “higher initial
and political instability. High inequality
could lead to a lower level of democracy, income inequality with lower growth”, by a
high rent-seeking policies, and a higher number of complex transmission channels:
probability of revolution. An economy
could fall into a vicious cycle because the (i) through the impact of income inequality
breakdown of social cohesion brought on encouraging (unproductive) rent-
about by income inequality could threaten seeking activities that reduce the security
democratic institutions.19 of property rights; (ii) through social tensions
and political instability that increase
uncertainty and discourage investment;
Throughout the history, a number (iii) high inequality is likely to be reflected
of methods have been used for in a relatively poor median, representative
preventing social unrest within a context voter who will seek redistribution through
of high inequality. In addition to political taxation that, in turn, will bring about further
repression, elites in democratic countries distortions in the economy; and conversely
in (iv) a more equal initial income distribution
often use more subtle methods such as
18
“The egalitarian societies of Scandinavia in the 1970s and 1980s (it was 30 percent in Germany and
France at that time and is more than 35 percent now). In more inegalitarian societies, the top decile
claimed as much as 50 percent of national income (with about 20 percent going to the top centile).
This was true in France and Britain during the Ancien Régime as well as the Belle Époque and is true in
the United States today. Is it possible to imagine societies in which the concentration of income is much
greater? Probably not. If, for example, the top decile appropriates 90 percent of each year’s output
(and the top centile took 50 percent just for itself, as in the case of wealth), a revolution will likely occur,
unless some peculiarly effective repressive apparatus exists to keep it from happening” PIKETTY, op. cit.,
324.
19
THORBECKE, Erik; CHARUMILIND, Chutatong. Economic Inequality and Its Socioeconomic Impact.
World Development, v. 30, n. 9. Great Britain: Elsevier Science, 2002, available in https://thorbecke.
economics.cornell.edu/docs/SEImpact.pdf, access in July 15th 2016, p. 1485.
20
“If inequalities are seen as justified, say because they seem to be a consequence of a choice by
the rich to work harder or more efficiently than the poor, or because preventing the rich from earning
more would inevitably harm the worst-off members of society, then it is perfectly possible for the
concentration of income to set new historical records” PIKETTY, op. cit., 325.
21
THORBECKE; CHARUMILIND, op. cit., p. 1480.
22
Ibid., p. 1482.
Rising inequality
Finally, it is interesting to notice that
It is also important to describe
the economic and political dimensions
some basic patterns and characteristics
of inequality are intertwined. Indeed,
of the rising inequality worldwide. There
François Bourguignon makes an interesting
is a recent economic literature analyzing
argument, stating that the political tension
these trends.
brought by high inequality can itself be a
Income and wealth inequality are
source of inefficiency and low growth:
consistently widening all over the world,
[I]t is reasonable to imagine that a substantial since the 1970’s/1980’s. Following a period
rise in inequality, or even the perception of a of compression in inequality, in the 20th
23
Ibid., p. 1480.
24
“Therefore, a potential entrepreneur who has no wealth and no network of connections will often
have to give up on a brilliant idea that would have created jobs and value, simply because he lacks
the necessary collateral or guarantee. On the other hand, a different entrepreneur who has access
to capital or to good connections will be able to create a business that is less commercially or socially
valuable than the first one would have been”. Bourguignon 131-132.
25
“Talented students may not have access to higher education, either because their parents do not
have sufficient means to fund them or because the system of student loans has gaps, or because the
environment they grew up in did not encourage them to prioritize their academic studies. On the
other hand, students born into wealthier families are able to go to college even though they are less
talented and society will benefit less from their education” Bourguignon 132.
26
BOURGUIGNON, François. The Globalization of Inequality. Translated by Thomas Scott- Railton. New
Jersey: Princeton University Press, 2012, p. 132-133.
27
Ibid., p. 134.
70
century, which is due to the war period poorest, which, led to itself, will most likely
shocks as well as the welfare state policies, lead to greater inequalities.30
economic inequality has been rising: Additionally to this, one of the
characteristics of inequality, with
[T]he two world wars, and the public important policy implications, is that
policies that followed from them, played a the inequality of wealth is much more
central role in reducing inequalities in the
twentieth century. (…) [I]nequality began to extreme, by any given country in any
rise sharply again since the 1970s and 1980s, given time (for which there is available
albeit with significant variation between data), than the inequality of income. This
countries, again suggesting that institutional finding is based on historical data.31
and political differences played a key role.28 Moreover, and contrary to economic
classic theory, this high degree of capital
Among the main causes for concentration is not related to life-cycle
this trend, there is a characteristic of savings, but to the accumulation effects
capitalism: capital concentration has an of inherited wealth:
intrinsic tendency of growing on a rate
faster than the output growth. According In other words, and contrary to a
to Piketty, this finding is expressed by the widespread belief, intergenerational
formula r > g, in which “r” represents the warfare has not replaced class warfare.
The very high concentration of capital is
capital growth rate, and “g”, the output explained mainly by the importance of
growth rate. inherited wealth and its cumulative effects:
Besides that intrinsic aspect of for example, it is easier to save if you inherit
capitalism, there is the economic principle na apartment and do not have to pay
of “unequal returns of capital”. This rent. The fact that the return on capital
often takes on extreme values also plays a
means that capital return rates tend be significant role in this dynamic process. 32
increase along with the fortune size. This
phenomenon occurs due to the fact that, It is important to highlight that this
as people are richer, better investment accumulative process is independent of
opportunities become available.29 the origin of the initial fortune. Indeed,
These two factors combine creating it will accumulate, through inheritance
a process of divergence: the richest and replication, independently of it was
groups of the population will be able gained by inheritance or by innovation.33
to accumulate increasingly more than
28
PIKETTY, op. cit., p. 292.
29
Ibid., p. 527.
30
“If the fortunes of the top decile or top centile of the global wealth hierarchy grow faster for
structural reasons than the fortunes of the lower deciles, then inequality of wealth will of course tend
to increase without limit. This inegalitarian process may take on unprecedented proportions in the new
global economy. In view of the law of compound interest discussed in Chapter 1, it is also clear that
this mechanism can account for very rapid divergence, so that if there is nothing to counteract it, very
large fortunes can attain extreme levels within a few decades. Thus unequal returns on capital are a
force for divergence that significantly amplifies and aggravates the effects of the inequality r>g” Ibid.,
p. 527.
31
“The first regularity we observe when we try to measure income inequality in practice is that
inequality with respect to capital is always greater than inequality with respect to labor. The distribution
of capital ownership (and of income from capital) is always more concentrated than the distribution of
income from labor. Two points need to be clarified at once. First, we find this regularity in all countries
in all periods for which data are available, without exception, and the magnitude of the phenomenon
is always quite striking. To give a preliminary idea of the order of magnitude in question, the upper
10 percent of the labor income distribution generally receives 25 to 30 percent of total labor income,
whereas the top 10 percent of the capital income distribution always owns more than 50 percent of all
wealth (and in some societies as much as 90 percent)” Ibid., p. 300.
32
Ibid., p. 303.
33
Ibid., p. 542.
35
Ibid., p. 321-323.
36
“Housing is the favorite investment of the middle class and moderately well-to-do, but true wealth
always consists primarily of financial and business assets” Ibid., p. 320.
37
Ibid., p. 585-588.
38
BOURGUIGNON, op. cit., p. 142.
39
“And second, there is surprisingly little evidence for the growth-destroying effects of fiscal
redistribution at a macroeconomic level. We do find some mixed evidence that very large
redistributions may have direct negative effects on growth duration, such that the overall effect—
including the positive effect on growth through lower inequality—may be roughly growth-neutral.
But for non-extreme redistributions, there is no evidence of any adverse direct effect. The average
redistribution, and the associated reduction in inequality, is thus associated with higher and more
durable growth” OSTRY, Jonathan D.; BERG, Andrew; TSANGARIDES, Charalambos G.. Redistribution,
Inequality, and Growth. IMF Staff Discussion Note, 2014, available in https://www.imf.org/external/pubs/
ft/sdn/2014/sdn1402.pdf, access in July 15th 2016, p. 25-26.
72
This is why promoting redistribution of World War I. In France, the law creating a
to fight inequality includes reforming the “general tax on income” was passed on July
15, 1914, in direct response to the anticipated
tax system, but also the social spending financial needs of the impending conflict
and social services system. Although this is (after being buried in the Senate for several
not the primary focus of the present paper, years); the law would not have passed had
it is important to highlight Thomas Piketty´s a declaration of war not been imminent.
remarks on this important dimension, Aside from this exception, most countries
adopted a progressive income tax after
which is complementary to tax reform: due deliberation in the normal course of
parliamentary proceedings. Such a tax was
If total taxes and social spending remain more adopted in Britain, for example, in 1909 and
or less unchanged in proportion to national in the United States in 1913. Several countries
income (or perhaps rise slightly in response in northern Europe, a number of German
to growing needs), how can we improve the states, and Japan adopted a progressive
operation of hospitals and day care centers, income tax even earlier: Denmark in 1870,
adjust doctors’ fees and drug costs, reform Japan in 1887, Prussia in 1891, and Sweden
universities and primary schools, and revise
in 1903.42
pension and unemployment benefits in
response to changing life expectancies and
youth unemployment rates? At a time when The early adoption of progressive
nearly half of national income goes to public tax considered the “overall income”,
spending, such debates are legitimate and that is, “the sum of income from labor,
even indispensable. If we do not constantly
including both wage and nonwage labor,
ask how to adapt our social services to the
public’s needs, the consensus supporting and capital income of all kinds, including
high levels of taxation and therefore the rent, interest, dividends, profits, and in
social state may not last forever.40 some cases capital gains”. Governments
used overall income as a measure of each
Taxation can be used as an person’s ability to contribute.43
important mechanism of redistribution. The comparison of this fiscal policy
This will be the focus of this section, using principle with the current trend of exempting
progressive taxation as a policy tool to capital income (especially when derived
fight inequality. from financial assets) enlightens how the
world has evolved towards inequality
Progressive taxation in the 20th century in recent decades. In United Kingdom,
Progressive taxation was adopted another fiscal policy principle also
by developed countries in the 20th century contrasts with the current favorable forms
mainly in the interwar period. Universal of capital taxation: a traditional fiscal
suffrage played a role in increasing the typology that distinguished between
pressure towards progressivity, but the “earned” incomes, derived from labor,
war effort was crucial to push for that and “unearned” incomes”, derived from
policy. Piketty sees progressive taxation capital (rents, interests, dividends). This an
“as much a product of two world wars as example of the generalized suspiciousness
it much of democracy”. 41 towards elites’ earnings.44
A number of developed countries The economic shock of 1914-1919 also
adopted progressive income tax at the played an important role. It accelerated
early decades of the 20th century: the pace of adoption of progressive
To be sure, a number of countries adopted a taxation, and it also contributed to raise
progressive income tax before the outbreak
top rates.45
40
33 PIKETTY, op. cit., p. 588.
41
34 PIKETTY, op. cit., p. 606.
42
35.Ibid., p. 606.
43
Ibid., p. 606-607.
44
Ibid., p. 618.
45
Ibid., p. 609.
46
Ibid., p. 615.
47
“The top rate rose to 63 percent in 1933 and then to 79 percent in 1937, surpassing the previous record
of 1919. In 1942 the Victory Tax Act raised the top rate to 88 percent, and in 1944 it went up again to 94
percent, due to various surtaxes. The top rate then stabilized at around 90 percent until the mid-1960s,
but then it fell to 70 percent in the early1980s. All told, over the period 1932–1980, nearly half a century,
the top federal income tax rate in the United States averaged 81 percent”. Ibid., p. 617.
48
Ibid., p. 618.
49
Ibid., p. 616.
50
Ibid., p. 615.
51
Ibid., p. 615.
52
Ibid., p. 615.
53
Ibid., p. 615.
54
“Over the past three decades, their top marginal income tax rates, which had been significantly
higher than the top rates in France and Germany, fell well below French and German levels. While
the latter remained stable at 50–60 percent from 1930 to 2010 (with a slight decrease toward the end
of the period), British and US rates fell from 80-90 percent in 1930-1980 to 30-40 percent in 1980–2010
(with a low point of 28 percent after the Reagan tax reform of 1986) (see Figure 14.1). The Anglo-Saxon
countries have played yo-yo with the wealthy since the 1930s” Ibid., p. 619.
74
they spend it. Under these conditions, like United States and United Kingdom
income and wealth redistribution policies drastically reduced the top rates of
will necessarily distort the operation of
markets and make the economy inefficient
income taxes. There is ongoing debate
in the sense that it will no longer operate on the causes of phenomenon, and
at maximum capacity on its production whether this regressive policy helped or
frontier. Therefore, there will inevitably be not to increase productivity and growth,
trade-offs between equality and efficiency. like classic theory predicted.
In other words, the simple fact of dividing the
cake more equally will shrink the size of the
Under classic economic perspective,
cake, because it will distort the behavior of the significant decrease of top income
agents and the operation of markets. Taxing rates stimulated growth and productivity.
the income that an individual gains from It created the incentives for top executives
his or her economic activity will reduce the to increase their labor supply as well as
incentive to work, start a business, or invest.
Distributing revenue from taxation to the
their productivity:57
rest of the population could have negative
consequences on the supply of labor. The If one believes the classic economic models
result would be a lower volume of goods based on the theory of marginal productivity
and services available in the economy, and and the labor supply, one might try to
therefore a drop in efficiency.55 explain this by arguing that the decrease in
top tax rates spurred top executive talent to
increase their labor supply and productivity.
Based on this theoretical framework, Since their marginal productivity increased,
critics of progressive taxation believe that their salaries increased commensurately
it would reduce incentives to innovate, and therefore rose well above executive
since the most competent will not be salaries in other countries.58
able to fully access the proper reward for
their work. Piketty refutes this causal relation.
Bourguignon refutes this classic He believes the classical explanation
theory’s basic premise, which is based on “runs into serious conceptual and
a “restrictive theoretical framework” (that economic difficulties”. The author
“all markets are perfectly competitive”): argues that the top executive salaries
“the hypothesis that there is an inverse rose based on the “bargaining power”
relationship between efficiency and model: after the 1980’s, the decrease in
equality is not very robust”.56 top marginal income rate to the richest
This controversy led Thomas Piketty significantly increased the incentives for
to analyze the case of large company’s top executive to persuade other agents,
top executive earnings. The salaries of like stakeholders and members of the
these top executives rose significantly compensation committee, to concede
in recent decades, while governments them the high raises.59 In other words,
55
BOURGUIGNON, op. cit., p. 129-130.
56
Ibid., p. 130.
57
PIKETTY, op. cit., p. 620.
58
Ibid., p. 620.
59
“It is always difficult for an executive to convince other parties involved in the firm (direct
subordinates, workers lower down in the hierarchy, stockholders, and members of the compensation
committee) that a large pay raise say of a million dollars is truly justified. In the 1950s and 1960s,
executives in British and US firms had little reason to fight for such raises, and other interested parties
were less inclined to accept them, because 80-90 percent of the increase would in any case go
directly to the government. After 1980, the game was utterly transformed, however, and the evidence
suggests that executives went to considerable lengths to persuade other interested parties to grant
them substantial raises. Because it is objectively difficult to measure individual contributions to a firm’s
output, top managers found it relatively easy to persuade boards and stockholders that they were
worth the money, especially since the members of compensation committees were often chosen in a
rather incestuous manner” Ibid., p. 620-621.
60
Ibid., p. 623.
61
“Finally, we found that variations in the marginal tax rate can explain why executive pay rose sharply
in some countries and not in others. In particular, variations in company size and in the importance of
the financial sector definitely cannot explain the observed facts. Similarly, the idea that skyrocketing
executive pay is due to lack of competition, and that more competitive markets and better corporate
governance and control would put an end to it, seems unrealistic. Our findings suggest that only
dissuasive taxation of the sort applied in the United States and Britain before 1980 can do the job” Ibid.,
624.
62
Ibid., 761.
63
Ibid., p. 621.
64
Ibid., p. 621.
65
Ibid., p. 620.
66
BOURGUIGNON, op. cit., p. 130.
76
portion of their wealth/income when “ex-ante” inequality. Complementary
compared to rich people - damages methods of taxation might also be used,
fiscal consent. Indeed, exempting the like taxes on inter-vivos transfers.72
top centile of the wealth hierarchy can Another important measure would
stimulate middle class to question the involve a significant increase in top rates.
legitimacy of the system in general.67 According to Piketty, the “optimal” tax
One of the most drastic cases of rate on top executive income would
regressive tax system is Brazil. Despite be approximately 80% (above 500.000
the country´s prosperous period of or 1 million a year), in United States.73
economic growth in the 2000´s, which This would achieve the objective of
successfully combined democracy, drastically reducing the remuneration at
equity and economic growth,68 Brazilian this level.
redistributive process lacked of a proper The author considers that, in order
progressive taxation.69 to leverage the resources necessary
As a result of that regressive tax to sustain social spending and public
system, the large economic inequality in services, which, in general terms, have
the country remained roughly the same a redistributive effect; it would also be
throughout the 2000’s. Indeed, in 2014, necessary to increase tax rates on the
the top centile of the income distribution levels of income of upper middle class.
in the country hold 25% of the income For the United Stated, Piketty mentions
and 30% of the total wealth.70 the example of a 50 or 60% tax rate on
A number of different forms of incomes above 200.000.74
progressive taxation can be explored in
order to help countries in general to promote
tax reforms oriented to progressivity.
One of the targets of progressive
taxation is “intergenerational transmission
of wealth”. Progressive taxes can help
to reduce this transmission in order to
“prevent the perpetuation of inequalities
from one generation to the next”.71 This
form of taxation contributes to alleviate
67
“Clearly, such a fiscal secession of the wealthiest citizens could potentially do great damage to
fiscal consent in general. Consensus support for the fiscal and social state, which is already fragile in
a period of low growth, would be further reduced, especially among the middle class, who would
naturally find it difficult to accept that they should pay more than the upper class” PIKETTY, op. cit., 604.
68
KERSTENETZKY, Celia. Desenvolvimento em sociedades desiguais. In: Seminar O Papel do Estado no
Século XXI., 2015, Brasília, Escola Nacional de Administração Pública, p. 6.
69
Ibid., p. 18.
70
Ibid., p. 18.
71
BOURGUIGNON, p. 167.
72
Ibid., p. 170.
73
66 “An “optimal rate” would prevent useless economic behavior, will not have the negative effect of
hurting economic growth, and it will focus on extremely high levels of income - 0.5 to 1% in the income
hierarchy” PIKETTY, op. cit., p. 625.
74
Ibid., p. 625.
75
“That said, the history of the progressive tax over the course of the twentieth century suggests that
the risk of a drift toward oligarchy is real and gives little reason for optimism about where the United
States is headed. It was war that gave rise to progressive taxation, not the natural consequences of
universal suffrage. The experience of France in the Belle Époque proves, if proof were needed, that
no hypocrisy is too great when economic and financial elites are obliged to defend their interests and
that includes economists, who currently occupy an enviable place in the US income hierarchy. Some
economists have an unfortunate tendency to defend their private interest while implausibly claiming
to champion the general interest. Although data on this are sparse, it also seems that US politicians of
both parties are much wealthier than their European counterparts and in a totally different category
from the average American, which might explain why they tend to confuse their own private interest
with the general interest. Without a radical shock, it seems fairly likely that the current equilibrium will
persist for quite some time. The egalitarian pioneer ideal has faded into oblivion, and the New World
may be on the verge of becoming the Old Europe of the twentyfirst century’s globalized economy”.
Ibid., p. 627.
76
“To be sure, appropriate updating of the last century’s social-democratic and fiscal-liberal program
is essential, as I tried to show in the previous two chapters, which focused on two fundamental
institutions that were invented in the twentieth century and must continue to play a central role in
the future: the social state and the progressive income tax. But if democracy is to regain control over
the globalized financial capitalism of this century, it must also invente new tools, adapted to today’s
challenges. The ideal tool would be a progressive global tax on capital, coupled with a very high
level of international financial transparency. Such a tax would provide a way to avoid an endless
inegalitarian spiral and to control the worrisome dynamics of global capital concentration”. Ibid., p.
627.
77
Ibid., p. 627.
78
“Whatever tools and regulations are actually decided on need to be measured against this ideal”
Ibid., p. 627.
79
“Larger political communities such as the United States and China have a wider range of options,
but for the small countries of Europe, which will soon look very small indeed in relation to the global
economy, national withdrawal can only lead to even worse frustration and disappointment than
currently exists with the European Union. The nation-state is still the right level at which to modernize
any number of social and fiscal policies and to develop new forms of governance and shared
ownership intermediate between public and private ownership, which is one of the major challenges
for the century ahead. But only regional political integration can lead to effective regulation of the
globalized patrimonial capitalism of the twenty-first century” Ibid., p. 700-701.
78
On the economic dimension, and contrary BIBLIOGRAPHY
to classic economic theory predicted,
inequality can produce inefficiencies that BONICA, Adam; McCarty, Nolan; POOLE,
compromise sustained economic growth. Keith T.; ROSENTHAL, Howard. Why Hasn’t
Under a political perspective, it can trigger Democracy Slowed Rising Inequality?.
great dissatisfaction among citizens, Journal of Economic Perspectives, v.
which can lead to social unrest and can 27, n. 3, 2013, available in http://www.
eventually compromise the stability of i n g e nta co n n e ct.co m/co nte nt/a e a/
democratic institutions. jep/2013/00000027/00000003/art00007),
In addition to these important access in July 15th 2016.
findings, the present study conducted
a brief summary of the major trends of BOURGUIGNON, François. The
economic inequality worldwide. Inequality Globalization of Inequality. Translated
has been increasing significantly since by Thomas Scott-Railton. New Jersey:
the 1970 and 1980´s, and this complex Princeton University Press, 2012.
scenario brings important challenges to
democracies. Author such as Thomas KERSTENETZKY, Celia. Desenvolvimento
Piketty recognizes this problem as a em sociedades desiguais. In: Seminar
process intrinsic of capitalism. O Papel do Estado no Século XXI.,
The rising inequality, therefore, 2015, Brasília, Escola Nacional de
is phenomenon that needs to be Administração Pública.
counteracted by redistributive policies, if we
consider the need to guarantee sustained MORGAN, Milá Marc. Income
economic growth as well as the effective Concentration in a Context of Late
governance of democratic societies. Development: Na Investigation of Top
Throughout the 20th century, Incomes in Brazil using Tax Records, 1933–
one of the most effective mechanisms 2013. Paris: Paris School of Economics, 2015.
to implement this redistributive goal
was progressive taxation in developed OSTRY, Jonathan D.; BERG, Andrew;
countries, which has also been replaced TSANGARIDES, Charalambos G..
by more progressive taxation policies since Redistribution, Inequality, and Growth.
the liberal shift in the 1970’s. IMF Staff Discussion Note, February 2014,
In order to implement tax reforms available in https://www.imf.org/external/
in the 21th century towards progressivity, pubs/ft/sdn/2014/sdn1402.pdf, access in
there a number of forms of taxation that July 15th 2016.
can be used, including the benchmarking
with Thomas Piketty’s proposal of a global PIKETTY, Thomas, Capital in the Twenty-
tax on capital. Other mechanisms might First Century. Cambridge, Massachussets,
be considered, like taxes on inheritances, London, England: The Belknap Press of
the end of the capital tax exemptions, as Harvard University Press, 2014
well as the rise in top income tax rates.
Progressive taxation, therefore, is THORBECKE, Erik; CHARUMILIND,
an effective mechanism of promoting Chutatong. Economic Inequality and Its
redistribution. In other words, it can be an Socioeconomic Impact. World
effective policy tool available to modern Development, v. 30, n. 9. Great Britain:
democracies in the 21th century. The Elsevier Science, 2002, available in https://
complex economic scenario, that includes thorbecke.economics.cornell.edu/docs/
slower growth rates all over the world, calls SEImpact.pdf, access in July 15th 2016.
for an urgent need to counteract rising
inequality with progressive taxation. WORLD ECONOMIC FORUM, The Global
Competitiveness Report 2015-2016.
Geneva: World Economic Forum, 2015.
80
LIVRES E IGUAIS: ANÁLISE INICIAL DO PROGRAMA
TRANSCIDADANIA NA CIDADE DE SÃO PAULO
Michelle Borges Miranda
80
Trecho retirado de entrevista realizada na sede do programa TransCidadania com participantes do
programa no dia 23/03/2016.
81
Sabemos que existe uma disputa no seio do movimento LGBT a respeito da sopa de letrinhas que
tenta dá conta numa única sigla da diversidade sexual, sem invisibilizar nenhum grupo. A sigla LGBT
não dá conta por si só. Mas para este trabalho adotaremos ela por agrupar os principais grupos em
discussão (Gays, Lésbicas, Bissexual e Transgêneros - Travestis e Transexuais), em especial o movimento
T que é o objeto de estudo desse trabalho.
82
a política pública se dá pela análise de e receita e ainda a incapacidade de for-
quem ganha o quê, o porquê e, que dife- mar coalizões políticas que respondam
rença ela faz. questões como, o equilíbrio de impulsio-
Para Souza, a política pública é a nar o desenvolvimento econômico e pro-
ferramenta onde “os governos traduzem mover a inclusão social da maior parte
seus propósitos em programas e ações, da sociedade.
que produzirão resultados ou as mudan- Interessante notar que para Rua
ças desejadas no mundo real” (SOUZA, (1995), apesar do nome já remeter a um
2003b). Os estudos sobre políticas públi- conhecimento, as políticas públicas têm
cas no Brasil são recentes, e tem como ên- caráter público não pela amplitude so-
fase a análise das estruturas e instituições, cial de sua ação, mas pela soberania de
bem como as características das políticas quem a executa, o poder público. Sem
setoriais especificas e dos seus processos dúvida, isso será importante para norte-
de negociação. ar o debate acerca das políticas públi-
Entretanto, segundo Souza (2006), cas para determinados setores, como no
essas definições ainda focam as ações do caso desse trabalho, as políticas públicas
governo e não dão conta de enxergar os para travestis e transexuais.
limites do mesmo, a necessidade da dis- Existe uma compreensão no sen-
cussão e debate entre governos, a influ- so comum de que políticas públicas são
ência de agentes externos que incidem para todos, universais, não podendo pri-
sobre as diversas fases da política pública vilegiar um determinado setor, políticas
influenciando o rumo e a tomada de de- particulares, por conta do caráter públi-
cisão do governo. Os estudos recentes so- co da política. Outro equívoco recorren-
bre o processo de produção de políticas te é de se tratar políticas públicas como
públicas mostram que não basta obser- políticas sociais. Embora, políticas socais
var apenas quem formula a política em sejam políticas públicas, nem toda políti-
si, mas também analisar os subsistemas ca pública é necessariamente uma políti-
envolvidos. Embora as abordagens sobre ca social. Com isso, quando uma política
políticas públicas ainda não tenham uma pública, de aspecto social, é desenhada
definição única, todas elas entendem para um grupo em especifico, como no
que a mesma se dá em forma de ciclos caso de travestis e transexuais, uma das
que compreendem de maneira geral as primeiras barreiras a se romper é a da
fases de formulação, implementação e ignorância acerca da legitimidade da
avaliação da política. política pública destinada a um setor em
O conhecimento que permeia as especifico, para além do convencimento
políticas públicas quanto a elaboração, da necessidade da política em si.
formulação, tomada de decisão, imple- Para Mello (2012) existe uma dificul-
mentação e avaliação tem ganhando dade grande ainda quanto aos fatores
destaque nos debates nas últimas déca- de influência e pressão externa para pro-
das, em certa medida influenciado em moção de políticas públicas para LGBTs.
decorrência da mudança de paradig- Diferentemente de grupos com maior
mas sobre como o Estado deve gerir as aceitação para construção de políticas
políticas na sociedade. Em especial em públicas como idosos ou crianças. Políti-
países da América Latina, ou em países cas que visem a questão da sexualidade
de desenvolvimento recente da demo- ainda esbarram no conservadorismo car-
cracia, as políticas públicas tem ganhan- regado de preconceitos que impedem
do enfoque impulsionado por fatores de ver a real situação e mazelas que pre-
como a adoção de políticas restritivas de cisam ser solucionadas. Especialmente
gastos e menor interferência do Estado em países de tradição cristã, como é o
(tanto em políticas econômica quantos caso do Brasil, onde debates que envol-
em políticas sociais), adoção de com- vam sexo, gênero, família ou reprodução,
portamentos equilibrados entre despesa ainda que pelos esforços de seus agentes
84
Políticas de Saúde” uma série de artigos Após a agenda formada, segundo
que tiveram por norte a discussão sobre o modelo de Howlett e Ramesh, entrasse
análise de políticas públicas de saúde no no momento de formulação e tomada
Brasil, onde fazem um percurso histórico de decisão da política, que de maneira
das primeiras metodologias de análise resumida é o momento de diálogo entre
dessas políticas, até os seus desdobramen- intenções e ações, onde irão se definir
tos no país. Neste livro Baptista e Rezendes princípios e diretrizes para o desenvolvi-
(2015) sugerem uma tabela simplificada, mento de uma ação. A implementação
onde podemos observar a evolução de das políticas que compõem a agenda
alguns modelos e suas principais carac- envolve a análise de uma série de siste-
terísticas. Segundo os autores as caracte- mas e atividades, junto aos Sistemas de
rísticas em comum das agências públicas Gerenciamento de Decisão, Sistemas de
(fazedoras de políticas), dos atores parti- Informação, agentes implantadores de
cipantes do processo de construir a polí- políticas e Sistema de Logísticas e Opera-
tica, as inter-relações dos mesmos e das cionais, que irão dá base concreta para
demais variáveis externas que podem a medir a viabilidade de uma política se-
vim influenciar o processo foram os pontos gundo as metas, critérios e prioridades de
de partida para diversos modelos. um governo.
A partir das entrevistas em profun- A avaliação da política é uma fase
didade realizadas durante o ano de 2015 que atualmente vem sendo bastante
e 2016 na sede do Programa TransCida- debatida em virtude da complexidade
dania, observou-se que dos modelos de avaliar uma política, pelos resultados
descritos, o que melhor descreve a meto- obtidos, esperados, e também por que
dologia utilizada pelo programa é o mo- é complexo a avaliação de eficiência e
delo de Howlett e Ramesh, o ‘Studying efetividade, pela ausência de uma de-
Public Policy (1993) que faz uma análise finição que possa abranger as diversas
dividindo em quatro fases: construção leituras que isso pode subintender. Come-
da agenda, formulação e tomada de çando que, a avaliação não está relacio-
decisão da política, implementação e nada apenas a última fase de um proces-
avaliação da política. Esse ciclo enten- so, embora, na maioria dos modelos ela
de que uma política passa pelo primeiro apareça na última fase do ciclo, a avalia-
estágio de identificação do problema na ção é um processo que passa por todas
sociedade, onde alguns desses proble- as fases do ciclo de diferentes maneiras,
mas dependendo de uma série de variá- e para cada uma dessas maneiras, ela
veis, vão compor a agenda política que se dará de uma forma especifica e medi-
será realizada ao longo de um governo, rá questões ligadas aquela determinada
ou até mesmo podendo se transformar fase com propósitos distintos.
numa agenda fixa, que transpassa o go- A avaliação pode ser realizada no
verno de um mandato. início de um processo para medir a viabi-
Os estudos de Kinngdon (1984) nos lidade do mesmo, ou pode ser realizada
ajudou a ter uma perspectiva de como durante o processo para ir testando a po-
analisar os fatores de influência para a lítica e trazendo feedback do andamen-
inclusão de uma política na agenda go- to do mesmo, ou ainda, como é mais co-
vernamental que ele chamou de: fluxo mum de se imaginar, a avaliação pode
problema (que estão na sociedade, mas ser realizada ao final do processo com o
que não estão em pauta), fluxo soluções propósito de medir os resultados, e mes-
ou alternativas (problemas que possuem mo esses resultados podem ser avaliados
especialista que já elaboraram soluções de maneiras distintas.
ou alternativas e aguardam um momento Vários autores classificam os tipos
oportuno para encaixar na agenda) e o de avaliação. Aguilar e Ander-Egg (1994)
fluxo político (situações advindas de bar- classifica a avaliação em “exame”, “ex-
ganhas ou acordos). posto”, avaliação de processos e avalia
86
problemáticas da população LGBT, o Comprometendo-se em reduzir a
contexto político de pressão para implan- realidade desigual e desiquilibrada da
tação de políticas públicas, e inclusive, população de São Paulo, o Programa de
algumas propostas dadas ao longo dos Metas 2013-2016 se propunha a governar
anos pelo próprio movimento LGBT, pode- a cidade de maneira transversal entre as
mos começar a desenhar como se deu o unidades que compõem a prefeitura, e
programa TransCidadania na cidade de realizar seu plano através de 100 metas,
São Paulo. que agrupou em três eixos temáticos que
O TransCidadania é um programa se desdobram em 21 objetivos estratégi-
social desenvolvido pela Prefeitura de cos. Os eixos temáticos foram: 1 - Com-
São Paulo na gestão do então Prefeito promisso com os Direitos Sociais e Civis,
Fernando Haddad, criado pelo Decreto 2 - Desenvolvimento Econômico Susten-
no 55.874, de 29 de janeiro de 2015, fir- tável com Redução das Desigualdades e
mando parceria entre a Secretaria Mu- 3 – Gestão Descentralizada, Participativa
nicipal de Direitos Humanos e Cidadania e Transparente.
(SMDHC) e a Secretaria Municipal do De- Neste plano, no eixo 1 “Compromis-
senvolvimento, Trabalho e Empreende- so com os Direitos Sociais e Civis”, o obje-
dorismo (SMDTE). tivo 10 refere-se a “Promover uma cultura
Esse programa faz parte das metas de cidadania e tolerância, reduzindo as
do Plano de Governo Haddad Prefeito manifestações de discriminação de to-
2012, “Um tempo novo para São Paulo”, das as naturezas”. Dentro desse objetivo
onde no capitulo chamado “Direito à Di- encontram-se as seguintes metas:
versidade Sexual”, o mesmo afirmava que
pretendia colocar em prática o Plano ● Meta 49 – Criar e efetivar a Secre-
Municipal de Combate à Homofobia, ela- taria Municipal de Promoção da Igualda-
borado nos anos de 2008 e 2011 durante de Racial;
as Conferências Municipais que previam ● Meta 50 – Viabilizar a implemen-
propostas quanto as questões de direitos tação das Leis Federais no 10.639/2003 e
e cidadania à população LGBT. no 11.645/2008 que incluem no currículo
O plano de governo de 2012 pre- oficial da rede de ensino a temática da
via ações quanto à saúde, educação, História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena;
segurança, cultura, nome social, criação ● Meta 51 – Criar e efetivar a Secreta-
de Centros de Referência e Combate à ria Municipal de Políticas para as Mulheres;
Homofobia (com advogados, psicólogos ● Meta 52 – Reestruturar os 5 Cen-
e assistentes sociais), equipar a Coorde- tros de Cidadania da Mulher, redefinindo
nadoria da Diversidade Sexual (CADS) de suas diretrizes de atuação;
recursos humanos e orçamentários, criar ● Meta 53 – Desenvolver ações per-
vinculado ao CADS uma unidade móvel manentes de combate à homofobia e
para atendimento da população LGBT, respeito à diversidade sexual;
fortalecer o Conselho Municipal LGBT e ● Meta 54 – Implantar a Ouvidoria
melhorar o mapeamento de ocorrências Municipal de Direitos Humanos e Comba-
homofóbicas no município de São Paulo. te à Discriminação e à Intolerância;
Seguindo a orientação da Câmara ● Meta 55 – Implementar a Educa-
Municipal de São Paulo que desde 2008 ção em Direitos Humanos;
após uma mobilização da sociedade ci- ● Meta 56 – Criar a Comissão da
vil que exigia um Programa de Metas de Verdade, da Memória e da Justiça no
todo prefeito após sua posse, em 2013 foi âmbito do Executivo Municipal.
apresentado o Programa de Metas 2013-
2016 do então Prefeito Fernando Haddad De acordo com o ex-Coordena-
que pode ser entendido como a consoli- dor Adjunto de Politicas LGBT, o programa
dação do programa de governo Um tem- TransCidadania foi idealizado no esforço
po Novo para São Paulo. de cumprir a meta 53, para além das de-
88
coordenadoria ficou composta pelas se- da cidadania LGBT
guintes coordenações: Educação em Di- Dessa forma, o terreno para a cria-
reitos Humanos, Promoção do Direito à ção do programa Transcidadania estava
Cidade, Direito à Memória e à Verdade, minimamente garantido, a partir daí, se-
Politicas para Juventude, Politicas para gundo Alessando Melchior, atual coorde-
a População em Situação de Rua, Politi- nador de políticas LGBT da SMDHC estava
cas para Criança e Adolescente, Politicas dada a largada para a elaboração do
para LGBT, Politicas para Idosos e Políticas Programa Transcidadania que foi inaugu-
para Migrantes. rado dois anos depois.
Dessa forma, coube a Coordena-
doria de Políticas para LGBT, da SMDHC, PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
articular as ações que satisfariam a meta Partindo de uma perspectiva teóri-
53 do Plano de Metas 2013-2016, que diz ca pós-estruturalista, as técnicas utilizadas
respeito a “Desenvolver ações perma- neste trabalho são diversificadas. Inicial-
nentes de combate à homofobia e res- mente se baseou na busca e análise de
peito à diversidade sexual”. As ações políticas públicas para travestis e transe-
planejadas foram: xuais documentos acadêmicos, dados ofi-
ciais governamentais que relatem as polí-
● Campanha com veiculação na ticas públicas desenvolvidas para trans e
grande mídia, com o objetivo de promo- travestis no cenário brasileiro e internacio-
ver o respeito e a cidadania da popula- nal, na análise documental da política do
ção LGBT e combater a homofobia. TransCidadania na Cidade de São Paulo e
● Centros de Referência e Comba- na observação participante82, documen-
te à Homofobia tada em diário de campo, das atividades
● Atividades de formação continu- de acesso público do programa.
ada na rede municipal de ensino. Trabalhou-se com aquisição de da-
● Promoção de atividades de com- dos através das participantes do progra-
bate à homofobia em espaços públicos. ma TransCidadania, e para isso este tra-
● Apoio para a realização da Para- balho adotou técnicas de metodologia
das do Orgulho LGBT, uma das maiores do qualitativa como os métodos como ob-
mundo, organizado pela APOGLBT (Asso- servação participante, para conhecer a
ciação da Parada do Orgulho LGBT). dinâmica do programa e de suas partici-
● Elaboração do Programa Trans- pantes, e método de Focus Group83, com
Cidadania. questionário semiestruturado para realizar
● GTI para saúde integral da popu- as entrevistas necessárias ao projeto, prio-
lação LGBT (com SMS) rizando sempre métodos participativos
● Revitalização do Largo do Arou- que busquem estimular a liberdade de
che: Subprefeitura Sé exposição das ideias e sentimos das par-
● Centros de Referência e Combate ticipantes dentro do objetivo proposto e
à Homofobia: rede de proteção à vítima cumprindo também as questões de pre-
de violência homofóbica e de promoção servação de identidade e não exposição
82
De acordo com Correia (2009) entende-se como método a observação participante como
o contato direto, frequente e prolongado do investigador, com os atores sociais, constituindo a
observação em uma técnica de investigação que usualmente se complementa com a entrevista
semiestruturada ou livre, juntamente com outras técnicas de análise documental.
83
Focus Group é um tipo de entrevista em profundidade realizada em grupo, cujas reuniões
apresenta características definidas quanto a proposta, tamanho, composição e procedimento de
condução. (OLIVEIRA,1997)
84
Mapa dialógico é a representação da discussão por meio de um conjunto de questões ou
problemas, possíveis soluções, respostas, prós e contras, anotações, referências e conclusões
ou decisões. A conversa é orientada e configurada pela da visualização do próprio mapa que
representa o diálogo.
90
sobre fluxos, e possíveis fatores de influên- ciação Internacional de Gays e Lésbicas,
cia para entrada de uma demanda na dados do Grupo Gay da Bahia (CGB), nú-
construção de uma agenda, percebe- meros oficiais da Secretaria de Direitos Hu-
mos que no caso do programa Transcida- manos da Presidência da República, da
dania houve uma confluência de fluxos ONG Transgender Europe e pesquisas da
que se somaram, e não apenas a influên- Fundação Perseu Abramo.
cia de um único. Pois os problemas sociais Todas essas pesquisas só enfati-
históricos das pessoas travestis e transexu- zaram o que já é de conhecimento de
ais (fluxo problema), as leis e portarias já quem lida no dia a dia da rua com essa
existentes na cidade de São Paulo e em população, um número alarmante de
Território nacional tais como a lei de res- violência letal contra travestis, onde, de
peito ao nome social nos equipamentos acordo com Sergio Carrara (2006) mais
públicos, tratamento no SUS de hormo- de 70% dos casos de execução contra
nioterapia que foram utilizadas no esco- travestis foram arquivadas e dessas, mais
po para formulação do programa (fluxo de 40% se refere a pessoas negras e par-
soluções ou alternativas) e o interesse do das. Porém podemos presumir que os
gestor público em ter na sua agenda po- números são bem maiores, uma vez que
lítica algumas das demandas LGBT, possi- não existe uma pesquisa oficial e os ca-
bilitaram a mistura necessária para criar sos quando chegam nas delegacias não
a fundação, ou base, para o programas. são tratados como homofobia, transfo-
Porém, interesse em incluir uma de- bia ou mesmo violência contra a pessoa
manda na agenda política não significa LGBT. As pesquisas ainda demonstram
a realização e efetivação da mesma. que a prostituição e atividades ilícitas
Após a inclusão do programa Transcida- são frequentes entre as travestis de baixa
dania na agenda política de São Paulo, renda, e segundo a pesquisa realizada
de acordo com a coordenadora do pro- em 2008 do Revelando Tramas, mostrou
grama, iniciou-se uma série de reuniões que a respeito de violências simbólicas e
de costura entre as secretarias para ma- psicológicas sofridas em ambiente esco-
pear e definir a agencia de cada uma lar entre alunos, a LGBTfobia foi relatada
delas dentro do programa. Nisso se reve- com mais de 63% dos casos.
la a característica transversal da política, Por outro lado, no que diz respeito a
que buscou a parceria dos demais ór- políticas públicas existentes no município
gãos para garantir a efetividade das leis de São Paulo foi observado o Centro de
e decretos de acesso a assistência social Referência da Diversidade, equipamen-
e garantia de direitos as beneficiárias do to da Secretaria Municipal de Assistência
programa, que de acordo com a decisão e Desenvolvimento Social (SMADS) loca-
política dos gestores, por questões orça- lizado no centro da cidade presta aten-
mentárias e estratégicas, seriam inicial- dimentos ao público LGBT em geral com
mente, isso é, no ano de 2015 beneficia- orientações médicas e jurídica, e apoio
das 100 participantes chegando a dobrar social; o Centro de Combate à Homofo-
esse número após um ano de programa bia (CCH) atende pessoas LGBT vítimas de
em 2016. violência e discriminação; e o Ambulató-
O processo de formulação e toma- rio de Saúde de Travestis e Transexuais,
da de decisão, como podemos perceber vinculado à secretaria de saúde do Esta-
pela Nota Conceitual do programa, dis- do de São Paulo.
ponível no site da prefeitura de São Paulo, O POT (Programa Operação Tra-
se deu por influência de uma série de da- balho), criado pela lei 13.178/2001 e atu-
dos coletados pelos pesquisadores e en- alizado pela lei 13.689 de 2003 e Decreto
volvidos nesse processo que retratavam 44.484/2004, é uma política de transferên-
sobre a violência contra a população cia de renda condicionada à realização
LGBT no Brasil de acordo com organiza- de atividades de qualificação e forma-
ções e associações como a ILGA (Asso- ção profissional. Ele foi utilizado como pos
92
III referenciar equipamentos municipais, do parceria com o programa. A exemplo
em especial das redes de saúde, assistên- da secretaria de combate a violência
cia social e de apoio à mulher, para aten-
dimento e acolhimento de pessoas travestis
contra as mulheres, empresas que se mos-
e transexuais; travam interessadas em parcerias para
IV prestar apoio técnico e financeiro à exe- aproveitar a mão de obra qualificada
cução das atividades previstas no Programa. que seria formada pelo programa como
Parágrafo único. O referenciamento previs- previsto em seu decreto de lançamento
to no inciso III do “caput” deste artigo não
impede nem exclui o atendimento de pes-
do programa, e os demais eixos previstos
soas travestis e transexuais nos demais equi- no programa: eixo autonomia, eixo opor-
pamentos públicos. tunidades e eixo cidadanias.
Art. 4o A rede municipal de saúde deverá
ofertar, nos equipamentos municipais a se-
CONSIDERAÇÕES FINAIS: ISSO AINDA É
rem referenciados, a terapia hormonal, no
âmbito do Processo Transexualizador e pelo O INÍCIO
Sistema Único de Saúde (SUS), conforme
Portaria no 2.803, de 19 de novembro de “O transcidadania tá ali para justamen-
2013, do Ministério da Saúde. te mostrar que essas pessoas existem.”
Art. 5o Os artigos 2o e 17 do Decreto no
44.484, de 10 de março de 2004, passam a
(Symmy Larrat, Coordenadora do Transci-
vigorar com as seguintes alterações: dadania LGBT)
“Art. 2o .............................................................
Parágrafo único. A Secretaria Municipal de Ao longo desse trabalho pudemos
Direitos Humanos e Cidadania poderá ce- perceber com nitidez que as debilidades
lebrar convênios, parcerias ou termos de
cooperação específicos para o desenvol-
que estruturalmente o programa têm e
vimento de atividades pelos beneficiários seus desafios são visíveis pelos próprios
provenientes do Programa TransCidadania, gestores, e que embora os mesmos te-
respeitadas as normas e diretrizes do POT. ” nham compromissos com a gestão, esse
(NR) compromisso não os torna cegos diante
“Art. 17. .................................................................
.....
dos desafios, ao contrário, os torna cien-
VII Secretaria Municipal de Direitos Huma- tes do trabalho que possuem.
nos e Cidadania. ” (NR) Alguns desses desafios observados
Art. 6o O artigo 8o do Decreto no 40.232, de como limitação de orçamento, participa-
2 de janeiro de 2001, passa a vigorar acres- ção efetiva das secretarias no dia a dia
cido do § 3o, com a seguinte redação:
“Art. 8o .............................................................
do programa, questões sobre o pós pro-
§ 3o Na realização de censos de caráter grama, não também citados pelos co-
qualitativo, deverão constar as classifica- ordenadores, e mais, a questão da em-
ções quanto à orientação sexual e à iden- pregabilidade das participantes. Porém,
tidade de gênero, destinadas a subsidiar como cita Symmy Larrat, esse programa é
a elaboração de políticas públicas volta-
das aos respectivos segmentos de lésbicas,
um início para a vida de centenas de be-
gays, bissexuais, travestis e transexuais. ” neficiárias que concretamente estão ten-
(NR) do novas oportunidades, e também mais
Art. 7o Todas as unidades da Administração um passo para a tomada de consciência
Municipal Direta e Indireta que prestam e mudança de cultura de uma socieda-
atendimento ao público deverão afixar,
em local visível, placa contendo a seguinte
de extremamente transfóbica, machista,
mensagem: racista e misógina.
“De acordo com o Decreto no 51.180, de 14 Não nos cabe aqui criticar o progra-
de janeiro de 2010, os órgãos e entidades ma a fim de fazer retroceder o pequeno
da Administração Municipal Direta e Indire- passo que se dá para a garantia de cida-
ta devem respeitar e usar o nome social das
pessoas travestis e transexuais.” (Decreto no
dania e direitos de pessoas que a socie-
55.874, de 29 de janeiro de 2015)
dade ignora cotidianamente. Nós cabe
contribuir de maneira a amplificar essa
Outras funções foram surgindo na experiência, com as possibilidades que a
medida que outros órgãos foram forman- academia nos oferece para conjuntamen-
te darmos passos para melhorar ainda
94
que deriva dessa inserção de especialis- ARRETCHE, M.T.S. Tendências no estudo
ta dos movimentos sócias, afim de facilitar sobre avaliação. In: RICO, Elizabeth M.
uma maior participação social, é o quan- (org) Avaliação de Políticas Sociais: uma
to isso se reflete na prática das tomadas questão em debate. São Paulo: Cortez
de decisões. Os estudos de modelos de Editora, 1998.
análises de políticas públicas apresenta-
dos na revisão de literatura de Capella AVRITZER, Leonardo; COSTA, Sérgio. Teoria
(2015), deixa nítido que as fases das políti- crítica, democracia e esfera pública:
cas públicas no Brasil adotam pontos dis- concepções e usos na América Latina.
tintos de modelos distintos. Dados – Revista de Ciências Sociais, vol.
Isso se dá por diversos fatores entre 47, n. 4, p. 703-728, 2004.
eles a questão dos modelos não terem
sido desenvolvidos para a realidade bra- BAPTISTA, T. W.F., REZENDE, M. A ideia de
sileira, e por conta das especificidades ciclo na análise de políticas públicas. In:
da cultura política local. Por exemplo, BAPTISTA, Tatiana W. F., MATTOS, Rubens A.
embora o TransCidadania e a própria (org) Caminhos para Análise das Políticas
SMDHC terem nascido com a proposta de Saúde. Porto Alegre: Rede UNIDA, 2015.
de transversalidade e maior participa- p. 220-259.
ção social ainda são dentro do governo
que se toma as principais decisões que BREWER, G. The policy sciences emerge:
norteiam a implantação dos projetos e to nurture and structure a discipline. Policy
programas. O que lembra os estudos de Sciences, v.5, p. 239-244, 1974.
Hamm (1983) sobre os comitês do Con-
gresso estadunidense, grupos de interes- CAPELLA, Ana Cláudia Niedhardt and
se e agências federais e suas relações na BRASIL, Felipe Gonçalves. ANÁLISE DE
formação de políticas públicas, obser- POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA REVISÃO
vando que as subunidades especializa- DA LITERATURA SOBRE O PAPEL DOS
das ainda possuem forte desempenho SUBSISTEMAS, COMUNIDADES E REDES.
na produção de políticas. Novos estud. - CEBRAP [online]. 2015, n.101,
Contudo, este é apenas um primei- pp.57-76. ISSN 0101-3300. http://dx.doi.
ro esforço de analisar o programa Trans- org/10.1590/S0101-33002015000100003.
Cidadania em relação a construção polí-
ticas públicas para travestis e transexuais, DRAIBE, S.M. Avaliação de implementação:
na tentativa de com isso conseguir contri- esboço de uma metodologia de trabalho
buir para futuras construções de políticas em políticas públicas. In: BARREIRA, M.
para essa população que nas palavras C. R. N.; CARVALHO, M. C. B. de (orgs.).
de Mello (2012) em termos de políticas Tendências e perspectivas na avaliação
públicas “nunca se teve tanto, e o pouco de políticas e programas sociais. São
que se tem ainda é quase nada”. Paulo : IEE/PUC-SP, 2001. p.13-42.
LASSWELL, H.D. The Policy Orientation. In: SIMON, H.A. Administrative Behaviour:
LERNER, D. LASSWELL, H.D. (eds) The Policy a study of decisionmaking processes in
Sciences: Recent Developments in Scope administrative organizations. New York,
and Method. Stanford: Stanford University Simon e Schuster Inc, 1947.
Press, 1951.
SOUZA, C. “Políticas públicas: uma revisão
LINDBLOM, C.E. The Policy-Making Process. da literatura”. Sociologias, Porto Alegre,
2nd ed. Englewood Cliffs, NJ: Prentice- ano 8, no 16, 2006, p. 20-45.
Hall, 1984 __________. “‘Estado do campo’ da
pesquisa em políticas públicas no Brasil”.
LYNN, L. E. Designing Public Policy: A Revista Brasileira de Ciências Sociais, São
Casebook on the Role of Policy Analysis. Paulo, vol. 18, no 51, 2003a, p. 15-20.
Santa Monica, Calif.: Goodyear. 1980 __________. “Políticas públicas: questões
temáticas e de pesquisa”. Caderno CRH,
MEAD, L. M. “Public Policy: Vision, Potential, Salvador, no 39, vol. 16, 2003b, p. 11-24.
Limits”, Policy Currents, Fevereiro: 1-4. 1995.
96
Rua Candelária, 9, Centro - Rio de Janeiro
+55 (21) 3553-0991
riodejaneiro.cgc@columbia.edu
facebook.com/CGCRio
@CGCRioCenter