Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ARTIGO: Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
Los indicadores de desempeño del Programa “Mi Casa, Mi Vida”: Evaluación basada en la satisfacción de los
consumidores
Resumo
O propósito deste artigo é construir indicadores de desempenho a partir da percepção dos beneficiários do Programa Minha Casa,
Minha Vida, com a utilização de recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (PMCMV/FAR), do primeiro conjunto habitacional
contratado e entregue no município de Viçosa, localizado na Zona da Mata do estado de Minas Gerais. O processo de avaliação seguiu
cinco passos: a) resgate do desenho do Programa; b) elaboração das categorias avaliadas; c) preparação do instrumento de coleta de
dados; d) pesquisa de campo; e) construção e análise dos indicadores. Verificou-se que os indicadores fornecem importantes infor-
mações sobre a realidade habitacional, o que contribui para que o PMCMV alcance seus objetivos e se aprimore.
DOI: http://dx.doi.org/10.12660/cgpc.v20n66.41079
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
95
Abstract
The objective of this article is to build performance indicators from the perception of the beneficiaries
of the Minha Casa, Minha Vida [My House, My Life] Program with funds coming from the Fundo de
Arrendamento Residencial (PMCMV/FAR) with regard to the first housing units built and delivered
in Viçosa, located in the Zona da Mata region in Minas Gerais. The evaluation process followed five
steps: the design of the bailout program; preparation of the categories evaluated; preparation of
the data collection instrument; field research; and the construction and analysis of indicators. It was
found that the indicators provide important information about the housing situation and this allows the
PMCMV to reach its goals and enhance itself.
Keywords: housing; evaluation; public policies.
Resumen
El objetivo de esta ponencia fue construir indicadores de desempeño desde la percepción de los
beneficiarios del Programa Minha Casa, Minha Vida, con recursos del Fundo de Arrendamento Resi-
dencial (PMCMV/FAR) en las primeras viviendas contratadas y entregadas en Viçosa, ubicado en la
Zona da Mata de Minas Gerais. El proceso de evaluación seguido de cinco pasos: diseño de pro-
grama de rescate; preparación de categorías evaluadas; preparación del instrumento de recolección
de datos; investigación de campo, y la construcción y análisis de los indicadores. Se encontró que
los indicadores proporcionan información importante sobre la situación de la vivienda y esto permite
contribuir al PMCMV a alcanzar sus metas y mejorar.
Palabras clave: vivienda; evaluación; políticas públicas.
1 INTRODUÇÃO
Nota-se, nessa perspectiva, que o PMCMV
Uma das marcas do governo Lula (2003- emerge como um pacote econômico direcio-
2010) foi a criação de programas sociais nado à habitação de mercado. Entretanto,
que visavam ao atendimento de setores com a intervenção da Secretaria Nacional
específicos – saúde, educação, emprego de Habitação de Interesse Social (SNHIS), o
–, por exemplo, tendo como premissa a er- Programa passou a incorporar a Habitação
radicação da pobreza e o desenvolvimento de Interesse Social (HIS), segmento compos-
nacional. Dentre esse rol de iniciativas, des- to por famílias com rendimento mensal infe-
taca-se a criação do Programa Minha Casa, rior a três salários mínimos. É nesse estrato
Minha Vida (PMCMV), no ano de 2009. da população que se concentra a maior parte
dos brasileiros em situação de deficit habita-
Esse Programa, que se tornou o carro-chefe cional: 66,6% dos 6,9 milhões de moradias
da política habitacional do país, surgiu como na condição mais imediata de construção de
uma ação anticíclica para evitar o aprofun- novas unidades habitacionais para a solução
damento da economia interna na crise do de problemas sociais e específicos de habi-
supbrime, em ebulição a partir de meados tação (Fundação João Pinheiro [FJP], 2014).
de 2008. A opção pelo setor da construção
civil decorreu da possibilidade de englobar Ao trazer para seu escopo a HIS, quatro li-
fatores que contribuem para a geração de nhas de atuação foram desenvolvidas pelo
empregos, a taxa de juros associada ao PMCMV, das quais se destaca a modalida-
crédito imobiliário e o desenvolvimento da de com recursos do Fundo de Arrendamento
infraestrutura nacional (Oliveira & Oliveira, Residencial (FAR), atuante em municípios
2012). com população superior a 50 mil habitantes.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
96
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
O PMCMV/FAR, por sua vez, tem o objetivo, Aqueles localizados em zona de expansão
conforme a Portaria n. 168, de 12 de abril devem estar contíguos à malha urbana e
de 2013, de realizar a aquisição e a requa- possuir no entorno áreas destinadas para
lificação de imóveis destinados à alienação atividades comerciais locais.
para famílias com renda mensal de até mil
e seiscentos reais, por meio de operações O conjunto das ações supracitadas são con-
feitas por instituições financeiras oficiais fe- sequências das políticas públicas na busca
derais. Para cumprimento dessa finalidade, por sanar o deficit habitacional do país que,
diversos são os atores envolvidos: Ministé- pela sua realidade, requer adequada con-
rio das Cidades, Caixa Econômica Federal, dução, evitando gastos desnecessários e
Instituições Financeiras Oficiais Federais, desvios de rotas que possam inviabilizar a
Distrito Federal, Estados e Municípios (ou ampliação de iniciativas nesse sentido.
respectivos órgãos das administrações dire-
ta ou indireta) e empresas do setor da cons- Por essa razão, no âmbito das políticas pú-
trução civil. blicas, têm-se a análise e a avaliação de po-
líticas, as quais são essenciais para a socie-
O padrão do provimento habitacional deve dade, uma vez que a demanda é crescente
obedecer às especificações mínimas, aos e os recursos, escassos. Embora Heller e
valores máximos de aquisição das unidades Castro (2007) comentem sobre o reconhe-
e às orientações projetuais estabelecidas cimento dos pesquisadores da área de ciên-
pelo Programa. Assim, as moradias devem cias sociais sobre a persistente fragilidade
seguir a seguinte disposição: casa com sala; conceitual e metodológica para o estudo e
dormitório para casal e dormitório para duas desenvolvimento das políticas públicas, esse
pessoas; cozinha; área de serviço (externa) campo do conhecimento é apontado como
e banheiro, totalizando, no mínimo, 36 m². importante via para debate, tanto no plano
teórico quanto no metodológico (Schofield &
Os conjuntos habitacionais devem ser dota- Suausman, 2004).
dos de infraestrutura urbana básica: vias de
acesso e de circulação pavimentadas, dre- Assim, após a implementação de uma po-
nagem pluvial, calçadas, guias e sarjetas, lítica e/ou programa, é importante verificar
rede de energia elétrica e iluminação públi- seus efeitos, pois, de acordo com os resulta-
ca, rede para abastecimento de água potá- dos obtidos, podem-se promover mudanças
vel, soluções para o esgotamento sanitário e no curso ou até mesmo encerrar o ciclo de
coleta de lixo. As redes de energia elétrica e vida de determinada política. Esses efeitos
iluminação pública, abastecimento de água podem ser mensurados pelo estabeleci-
potável e as soluções para o esgotamento mento de indicadores, tendo como fonte de
sanitário devem estar operantes até a data informações a ótica dos variados atores en-
de entrega do empreendimento. volvidos nos programas.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
97
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
98
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
Ressalta-se que a gestão pública pode utili- Segundo Rossi, Lipsey e Freeman (2004), a
zar diversos instrumentos para transformar aplicação de métodos de avaliação de pro-
as políticas públicas em ações concretas, gramas sociais coincide com o crescimento
entre as quais programas, projetos, leis e e o aperfeiçoamento dos próprios métodos
campanhas publicitárias (Mendes, Lima, de pesquisa, bem como com as mudanças
Hammerschmidt, Lourenço & Guaragni, ideológicas, políticas e demográficas. Devi-
2010). O foco do estudo em questão são os do a esses acontecimentos, o processo ava-
programas sociais decorrentes do amplo rol liativo dos programas ganha notoriedade a
de políticas públicas. partir da transferência de responsabilidades
aos órgãos governamentais e da demanda
O programa, por sua vez, é o instrumento social por respostas dos dirigentes públicos.
de organização da ação governamental para Nessa direção, conforme indicação de Ra-
enfrentar os problemas identificados e al- mos e Schabbach (2012), a avaliação é uma
cançar os objetivos preteridos (Brasil, 2009). ferramenta importante para melhorar a efici-
Em outras palavras, trata-se do conjunto ência do gasto público, a qualidade da ges-
de projetos e atividades que perseguem os tão e o controle social sobre a efetividade
mesmos objetivos (Cohen & Franco, 2008; das ações do Estado.
Morra-Imas & Rist, 2009).
Desse modo, o ato de avaliar compreen-
A mensuração do alcance (ou não) das ini- de ao processo de medição sistemática da
ciativas realizadas pelos programas é obtida operação e/ou dos resultados de um projeto,
a partir do uso ou construção de indicado- programa ou política, em relação ao desem-
res, o que traz a oportunidade de reconhe- penho, eficácia e impacto (ambos espera-
cer carências e demandas socioeconômicas dos ou não) haja vista os objetivos prede-
da população (Brasil, 2009). terminados (implícitos ou explícitos), como
forma de contribuir para o aprimoramento
Assim, o cumprimento da responsabilidade das ações (Morra-Imas & Rist, 2009; Rossiet
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
99
et al., 2004). Ao incorporar elementos valo- o programa (ou uma de suas etapas) tenha
rativos e de julgamento, a avaliação passa sido concluído para poder ser avaliado (Cos-
a contemplar aspectos qualitativos, não se ta & Castanhar, 2003).
confundindo com o mero acompanhamento
das atividades governamentais (Ramos & Davidson (2005) traça os elementos essen-
Schabbach, 2012). ciais para tornar a avaliação um instrumento
de ação efetivo, a saber: (i) propósito claro
Portanto, a avaliação mede o desempenho para a avaliação; (ii) estratégia que envolva
com base em diferentes critérios, que po- os atores-chave; (iii) perguntas importantes
dem variar de acordo com os objetivos das e abrangentes para nortear todo o proces-
ações, sendo eles: eficiência, eficácia e im- so; (iv) respostas claras para as perguntas
pacto (ou efetividade) (Costa & Castanhar, abrangentes.
2003).
Um dos primeiros passos da avaliação, as-
A eficiência representa a competência para sim como indicam Barbosa e Freitas (2012)
produzir resultados com gasto mínimo de é o resgate do desenho inicial do projeto, dos
recursos e esforços, e conduz, na avaliação objetivos, resultados e metas. Complemen-
da menor relação, o custo/benefício para o tam que a avaliação busca estimular a re-
alcance dos objetivos; a eficácia está rela- flexão e a discussão entre diferentes atores,
cionada ao propósito de mensurar o grau uma vez que um bom processo faz com que
de êxito para o alcance dos objetivos e das eles reflitam e aprendam entre si.
metas, e a efetividade (ou impacto), que é
entendida como a capacidade de promover 2.3 Indicadores de desempenho
resultados (econômicos, socioculturais, ins-
titucionais e ambientais), refere-se ao apri- O processo de avaliação será facilitado e
moramento dos objetivos (Façanha & Mari- mais útil se for baseado em um planejamen-
nho, 2000). to consistente e capaz de estabelecer rela-
ções causais, processo conhecido como ca-
Em decorrência do momento de realização deia de causalidade. É a factibilidade dessas
da avaliação, essa pode ser classificada relações que imprime consistência ao plane-
como ex-ante, de processo e ex-post. A ava- jamento a ponto de a intervenção, em uma
liação ex-ante ocorre antes de se iniciar a instância particular desse processo, produzir
elaboração do programa (Cohen & Franco, determinado efeito em certa instância mais
2008), visa subsidiar o processo decisório abrangente (Costa & Castanhar, 2003). Es-
apontando a conveniência ou não de se re- pera-se que todo esse processo contribua
alizar o projeto (Cotta, 1998). para garantir a definição clara e plausível
dos objetivos do programa e a identificação
A avaliação de processo, realizada durante de indicadores relevantes de desempenho
a execução, também denominada de ges- (Cassiolato & Gueresi, 2010).
tão contínua ou monitoração, levanta infor-
mações sobre o andamento do programa. A A boa escolha de indicadores tem relação
avaliação ex-post, por sua vez, requer que direta com o desenho do Programa. Nessa
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
100
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
101
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
102
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
103
A coleta desses dados se deu por meio de pesquisa documental. Portanto, para este estudo,
o PMCMV/FAR foi tomado como dado, à luz do que ele foi formulado e implementado. Tendo
em vista essas análises, apresenta-se a Figura 2 com o desenho, sumarizado, do Programa.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
104
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
para a melhoria das condições de bem-es- O entorno, por sua vez, representa as redon-
tar, saúde e segurança da população. dezas, bairros próximos e vizinhos ao em-
preendimento. É indicado que ele tangencie
O conjunto habitacional corresponde às edi- a malha urbana ou as zonas de expansão.
ficações e ao grupamento de edificações de Àqueles localizados em zona de expansão
empreendimentos de interesse social. Deve urbana devem estar contíguos à malha ur-
se situar em terrenos que disponham (ou bana e possuir em seus limites áreas desti-
que sejam capazes de viabilização) de in- nadas para atividades comerciais locais.
fraestrutura básica (rede pública de abaste-
cimento de água; iluminação pública; esgo- Cada categoria foi composta por subconjun-
tamento sanitário; drenagem pluvial, coleta tos de itens que dão complementariedade à
de lixo, ruas e calçadas pavimentadas); pos- avaliação. No que diz respeito à moradia, fo-
sibilidade de atendimento por transporte ram estabelecidos os seguintes tópicos para
público e proximidade de equipamentos análise: adequação ao uso familiar, qualida-
públicos, capazes de atender à demanda de da construção e segurança e conforto
prevista. Deve atender, também, conforme ambiental. O Quadro 2 traz a conceituação
a tipologia do empreendimento, às especifi- dos itens considerados para a elaboração
cidades dos normativos do Programa. da referida dimensão, bem como suas vari-
áveis integrantes.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
105
3.2.3 O instrumento de coleta de dados sua família. Foram arguidos: número total de
habitantes na unidade, gênero, idade, esco-
Definidos as categorias analíticas e os res- laridade, estado civil, ocupação e rendimen-
pectivos conjuntos de itens componentes tos. O segundo bloco subdividiu-se em três
da avaliação, foi construído o instrumento categorias e seus subitens. Para mensurar a
de coleta de dados. Optou-se pelo método satisfação, as questões eram associadas a
survey que envolve a coleta de informações uma escala categórica de cinco pontos, onde
que podem variar entre crenças, opiniões, o entrevistado tinha as opções: 1 = Péssimo,
atitudes (Hair, Babin, Money & Samuel, 2 = Ruim, 3 = Regular, 4 = Bom, 5 = Ótimo.
2005). Tinha-se, ainda, a opção 99 = Não soube ou
não respondeu, tendo sido essa última con-
O questionário foi dividido em dois blocos: siderada dado perdido.
o primeiro identifica o entrevistado/respon-
sável pelo domicílio e as características de 3.2.4 Pesquisa de campo
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
106
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
107
Cada categoria analítica possuía um con- se obter o índice final que varie de 0 a 1.
junto de subitens composto de suas respec-
tivas variáveis. Assim, a etapa 1 consistiu Assim, a satisfação dos beneficiários foi
em transformar as variáveis de cada subi- classificada (de acordo com a definição dos
tem em escores cujos valores variassem en- autores) em grupos segundo o seguinte cri-
tre zero e um. A transformação foi realizada tério: (i) 0,00 ≤ ISM, ISCH, ISE < 0,40 = baixo
com base na Equação 1. Essa metodologia nível satisfação; (ii) 0,40 ≤ ISM, ISCH, ISE <
é utilizada no cálculo do Índice de Desen- 0,60 = nível regular de satisfação;(iii) 0,60 ≤
volvimento Humano (IDH), como base nas ISM, ISCH, ISE < 0,80 = moderado nível de
indicações do Atlas de Desenvolvimento Hu- satisfação; (iv) 0,80 ≤ ISM, ISCH, ISE ≤ 1,00
mano no Brasil 2013 (Programa das Nações = alto nível de satisfação.
Unidas para o Desenvolvimento [PNUD],
2013). Para exame das variáveis, utilizou-se a Aná-
lise Exploratória de Dados (AED), que, se-
gundo Triola (2005), trata-se do processo
de uso de ferramentas estatísticas (gráficos,
medidas de centro e medidas de variação,
outliers) para investigar um conjunto de da-
dos com o objetivo de compreender suas ca-
A Etapa 2 consistiu na construção dos in- racterísticas.
dicadores. Por considerar que cada vari-
ável era essencial para a mensuração da Especificamente, fez-se uso da Estatística
satisfação dos beneficiários, foi atribuído o descritiva, que traz a média das avaliações
mesmo peso para todas. Assim, procedeu- e da Distribuição de frequência, método para
-se à média das variáveis. Com as médias, agrupar dados em classes de modo a forne-
os indicadores foram calculados utilizando, cer a quantidade (e/ou a percentagem) em
novamente, a Equação 1. cada classe. Com isso, pôde-se resumir e
visualizar o conjunto de dados, sendo que a
A Etapa 3 compreendeu o estabelecimento análise foi viabilizada por meio de procedi-
dos indicadores sintéticos para cada cate- mentos estatísticos manipulados nos progra-
goria. Assim, três índices foram desenvolvi- mas Statistical Package for the Social Scien-
dos (i) Índice de Satisfação com a Moradia ces (SPSS) v. 20.0® e MS Excel.
(ISM); (ii) Índice de Satisfação com o Con-
junto Habitacional (ISCH); (iii) Índice de Sa- 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
tisfação com o Entorno (ISE). Para compô-
-los, foram escolhidos os pesos atribuídos a De modo a atender ao objetivo central do
cada indicador integrante. Para ISM, ISCH artigo, procedeu-se à construção de indica-
e ISE, todos os indicadores tiveram o mes- dores de desempenho a partir da percepção
mo peso, sendo o índice calculado a partir dos beneficiários do PMCMV/FAR sobre o
da média aritmética dos indicadores. Após o primeiro conjunto habitacional contratado e
cálculo das médias, os valores foram nova- entregue no município de Viçosa (MG).
mente transformados pela Equação 1 para
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
108
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
109
Nota-se que, em relação aos aspectos físi- tados avaliaram a variável com o menor grau
cos e construtivos do empreendimento, os de satisfação. O PMCMV/FAR direciona-se
indicadores adequação ao uso, qualidade ao atendimento das famílias com rendimento
da construção e conforto ambiental estive- inferior a três salários mínimos. Tais famílias,
ram, em média, próximos a 0,5 ponto, o que consideradas de baixa renda, são as mais
os enquadra na faixa de nível regular quanto expostas à vulnerabilidade social. Assim, as
à satisfação. Tais resultados evidenciam que percepções negativas relativas à segurança
a moradia possui aspectos de sua constru- contra roubos, invasões, vandalismo e vio-
ção que podem ser (re)adequados, uma lência também podem ser explicadas dada
vez que esses itens receberam avaliações a situação de inserir diferentes famílias que
regulares. Isso vai ao encontro do fato de o não possuíam relacionamento social prévio
Programa estabelecer especificações míni- em um novo bairro. Tal fato aumenta a pos-
mas, ou seja, o mínimo que cada unidade sibilidade de se desenvolver patologias so-
habitacional deve conter. Associado a isso, ciais, como gangs e crime organizado, por
estabelece-se também o valor máximo de justamente inexistirem as relações afetivas
custo para as moradias. Ora, uma vez que de vizinhança. Reforça-se que pessoas, com
as empresas contratadas estão inseridas na valores e costumes peculiares, têm maior
lógica de mercado, os objetivos delas ten- propensão à criação de conflitos, o que pode
dem a ser o lucro ao menor custo. Logo, isso influenciar no sentimento de insegurança por
tem a potencialidade de contribuir para a parte dos beneficiários.
produção de moradias com o mínimo custo
possível, ou seja, apenas “dentro das espe- Na Tabela 2, sintetizam-se os resultados dos
cificações”, o que pode, assim como no caso indicadores de desempenho específicos à
em tela, refletir regulares avaliações dos be- unidade habitacional e é apresentado o Ín-
neficiários. dice de Satisfação com a Moradia (ISM). A
proposta é mensurar a satisfação, de modo
O que nos chama mais atenção é o resulta- geral, com a casa entregue pelo PMCMV/
do do indicador segurança, com média 0,30 FAR.
e satisfação geral baixa: 70% dos entrevis-
Tabela 2. Índice de Satisfação com a Moradia (ISM)
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
110
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
111
O indicador qualidade da infraestrutura ur- ções que são exigidas pelos normativos e
bana do conjunto diz respeito aos aspectos que devem integrar o conjunto habitacional.
urbanos e habitacionais que são essenciais Denominam-se áreas de uso comum espa-
à habitabilidade do conjunto, como abasteci- ços de lazer, reuniões e calçadas. Identifi-
mento de água, saneamento básico e distri- cou-se que a média apontou moderado nível
buição de energia. Observa-se que a média de satisfação (0,52), sendo que essa variável
de avaliações foi 0,68, traduzindo moderado dividiu as opiniões dos beneficiários: embora
nível de satisfação dos beneficiários. Inte- 37% indicaram baixa satisfação, 16% avalia-
ressante notar que 51% estiveram na faixa ram moderadamente e 21% apresentaram
moderada e 23% no alto nível de satisfação. elevada satisfação.
Nota-se, com isso, que tais aspectos aten-
deram em média, com nível moderado-alto, Ao sintetizar os resultados dos indicadores
às necessidades dos beneficiários. de desempenho específicos à ao conjunto
habitacional, obteve-se o Índice de Satisfa-
A qualidade dos aspectos físicos do con- ção com o Conjunto Habitacional (ISCH),
junto refere-se às construções e/ou edifica- apresentando na Tabela 4.
Verifica-se que o ISCH refletiu, em média, foi constatado. Isso nos mostra que, no caso
moderada satisfação (0,61) dos beneficiá- estudado, os beneficiários não se sentiram
rios com reduzido percentual (10%) de indi- com as expectativas superadas no que diz
víduos situados no baixo nível de satisfação. respeito ao conjunto habitacional, o que nos
Isso nos sugere que os moradores do Con- remete, mais uma vez, à lógica de mercado,
junto Habitacional Benjamim José Cardoso na qual as empresas contratadas para cons-
apresentaram nível mediano de satisfação trução dos projetos se inserem.
quanto aos aspectos físicos e de infraestru-
tura do empreendimento, que são exigên- Ampliando um pouco mais a visão sobre “o
cias mínimas contidas nos normativos. Sa- lado de fora de sua casa”, são apresentados
lienta-se, todavia, que o interessante seria os resultados da satisfação dos beneficiários
que as satisfações se concentrassem nas quanto ao Entorno. Tais informações estão
faixas superiores de análise, fato que não dispostas na Tabela 5.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
112
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
A viabilização do entorno, entre os princi- ção (0,46). Os resultados nos mostram que o
pais produtos entregues pela intervenção, é entorno que abriga o conjunto para a maioria
o menos palpável e aquele mais afastado dos beneficiários possui infraestrutura pouco
da visão de posse sobre a casa. Entretanto, adequada e não lhes proporciona facilidade
trata-se de uma categoria importante, pois em acessar aos principais serviços ofertados
visa avaliar a satisfação quanto às regiões pela cidade (tanto públicos quanto privados).
limítrofes ao conjunto habitacional para ve- Aos serviços, que são passíveis de acesso,
rificar se o Programa atende às recomenda- a satisfação quanto à qualidade é vista como
ções de construir o empreendimento inte- regular.
grado à cidade.
De modo a sintetizar os indicadores de de-
Os três indicadores dessa categoria ana- sempenho específicos ao entorno, calculou-
lítica figuraram-se, em média, na faixa de -se o Índice de Satisfação com o Entorno
satisfação regular, sendo que o indicador (ISE), conforme os resultados apresentados
acesso a serviços obteve a menor pontua- na Tabela 6.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
113
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
114
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
115
Costa, F. L., & Castanhar, J. C. (2003). Ava- Heller L.,& Castro, J. E. (2007). Política pú-
liação de programas públicos: desafios con- blica de saneamento: apontamentos teóricos
ceituais e metodológicos. Rio de Janeiro: conceituais. Engenharia Sanitária e Ambien-
Revista de Administração Pública, 37(5), tal, 12(3).
969-992.
Hernández, G., & Velásquez, S. (2014). Vi-
Cotta, T. C. (1998) Metodologias de avalia- vienda y calidad de vida: medicióndel hábi-
ção de programas e projetos sociais: análise tat social enel México Occidental. Bitácora,
de resultados e de impactos. Revista do Ser- 24(1), 149-200.
viço Público, Ano 49, n. 2, pp. 103-124.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Davidson, E. J. (2012). Tornar as avaliações (2014). Pesquisa de Satisfação dos Bene-
estrategicamente práticas e relevantes. In: ficiários do Programa Minha Casa Minha
A Relevância da avaliação para o investi- Vida. Recuperado em 5 maio, 2015, de http://
mento social privado. Organização Funda- hdl.handle.net/11058/3298.
ção Itaú Social, Fundação Roberto Marinho,
Move. São Paulo: Fundação Santillana. Jannuzzi, P. M. (2005). Indicadores para
diagnóstico, monitoramento e avaliação de
Dye, T. R. (2008).Understanding public po- programas sociais no Brasil. Revista do Ser-
licy. Pearson Education, Inc. Upper Saddle viço Público, 56(2), 137-160.
River, New Jersey.12th ed.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
116
Indicadores de desempenho do Programa Minha Casa, Minha Vida: avaliação com base na satisfação dos beneficiários
Martins, G. A. (2007). Sobre Confiabilidade Morra-Imas, L. G., & Rist, R. C. (2009). The
e Validade. Revista Brasileira de Gestão de road to results: designing and conducting
Negócios, p. 820, n. 7. effective development evaluations.The World
Bank.
Matias-Pereira, J. (2008). Manual de Ges-
tão Pública Contemporânea. 7a ed. São Oliveira, V. F., & Oliveira, E. P. A. Q. (2012). O
Paulo: Atlas. papel da Construção Civil na organização do
espaço e do desenvolvimento regional. The
Mattos, L. B., Teixeira, E. C., & Fontes, R. M. 4st International Congress on University-In-
O. (2011). Políticas Públicas e desenvolvi- dustry Coorporation. Anais… Taubaté, São
mento. Viçosa, MG: UFV/DER/DEE. Paulo.
Mendes, A. M. C. P., Lima, J. E. S., Ham- Programa das Nações Unidas para o Desen-
merschmidt, K. S. A., Lourenço, M. S., & volvimento. (2013). Atlas do desenvolvimento
Guaragni, M. V. (2010). Políticas públicas, humano no Brasil 2013. Recuperado em 28
desenvolvimento e as transformações do abril, 2014, de http://www.pnud.org.br/atlas.
Estado brasileiro. In: Silva, C. L., & Lima, J.
E. S. (orgs). Políticas públicas e indicado- Ramos, M. P., & Schabbach, L. M. (2012).
res para o desenvolvimento sustentável. pp. O estado da arte da avaliação de políticas
3-34. São Paulo: Saraiva. públicas: conceituação e exemplos de ava-
liação no Brasil. Revista de Administração
Moraes, O. B, & Abiko, A. K (2006). Utiliza- Pública, 46(5):1271-294.
ção da análise fatorial para a identificação
de estruturas de interdependência de vari- Richardson, R. J. (1999). Pesquisa Social:
áveis em estudos de avaliação pós-ocupa- métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo.
ção. In: XI Encontro Nacional de Tecnologia
no Ambiente Construído. Anais... Florianó- Rossi, P. H., Lipsey, M. W., & Freeman, H. E.
polis. (2004). Evaluation: a systematic approach.
Morais, M. V, Arneiro, T. M., & Barros Neto, Rua, M G. (1997). Análise de políticas públi-
J. de P. (2014). Projeto de habitação de in- cas: conceitos básicos. Brasília: ENAP.
teresse social: satisfação do usuário final.
Anais... Recuperado em 5 maio, 2015, de Santos, A. M. C. (1991). Sociabilidade e
http://www.infohab.org.br/entac2014/arti- ajuda mútua na periferia urbana de Viçosa,
gos/paper_621.pdf. Minas Gerais. 1991. 351p. Dissertação de
mestrado em Extensão Rural, Universidade
Moreira, V. S., Silveira, S. F. R., & Motter, K. Federal de Viçosa, Departamento de Econo-
Z. (2014). Avaliação de impacto do Pronaf B mia Rural, Viçosa (MG).
sobre a satisfação de agricultores familiares
em municípios de Minas Gerais. Estudos- Saravia, E. (2006). Introdução à Teoria da
Sociedade e Agricultura, 22(2), 432-456. Política Pública. Brasília: ENAP.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015
117
Schafer, E. F., & Gomide, F. P. B. (2014). Ava- conteúdo teórico e metodológico da pesqui-
liação Pós-Ocupação do conjunto habitacio- sa avaliativa. In: Silva, M. O. S. (Org.) Pes-
nal Moradias União Ferroviária Bolsão Audi/ quisa avaliativa: aspectos teórico-metodoló-
União, Curitiba (PR). EngenhariaSanitária e gicos. São Paulo: Veras Editora.
Ambiental, 19(2).
Simão, A. G., Silva, C. L., Silva, H. P., Cas-
Schofield, J., & Sausman, C. (204) Sympo- tanheira, M. A. V., Jurec, P. S. S. & Wiens, S.
sium on implementng public policy: learning (2010). Indicadores, políticas públicas e a
from theory and practice introducing. Re- sustentabilidade. In: SILVA, C. L; LIMA, J. E.
cuperado em 10 setembro, 2013, de http:// S. (orgs). pp. 35-54 Políticas públicas e in-
www3.interscience.wiley.com. dicadores para o desenvolvimento sustentá-
vel. São Paulo: Saraiva.
Secchi, L. (2010). Políticas públicas: concei-
tos, esquemas de análise, casos práticos. Souza, C. (2006). Políticas Públicas: uma re-
São Paulo: Cengage Learning. visão da literatura. Sociologias, Porto Alegre,
ano 8(16), 20-45.
Silva, M. O. S. (2008). Avaliação de políticas
e programas sociais: uma reflexão sobre o Unicef. (1990). Guide for monitoring and eva-
luation. New York.
ISSN 2236-5710 Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 20, n. 66, Jan./Jun. 2015