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Febvre - os geógrafos partem em geral do solo, e não da sociedade (p.21) // mais forma do
que “formação”
Pois a História não se escreve fora do espaço e não há sociedade a-espacial. O espaço, ele
mesmo, é social. (p.22)
Não é à “sociedade em geral” que o conceito de FES se refere, mas a uma dada sociedade,
como Lênin fez a respeito do capitalismo na Rússia. (p.24)
O modo de produção expressa-se pela luta e por uma interação entre o novo, que domina,
e o velho (p.28)
Os modos de produção escrevem a História no tempo, as formações sociais escrevem-na
no espaço. (p.29)
Assim, o movimento do espaço suprime de maneira prática, e não somente filosófica, toda
possibilidade de oposição entre História e estrutura. (p.31)
Labriola = Mais do que uma expressão econômica da história, as FES são uma organização
histórica. Este conceito abarca “a totalidade da unidade da vida social” (p.32)
Quando se fala de modo de produção, não se trata simplesmente de relações sociais que
tomam uma forma material, mas também de seus aspectos imateriais, como o dado político
ou ideológico. Todos eles têm uma influência determinante nas localizações e tornam-se
assim um fator de produção, uma força produtiva, com os mesmos direitos que qualquer
outro fator. (p.32)
Castells (Nota 19) = O espaço é, pois, sempre conjuntura histórica e forma social que
recebe seu sentido dos processos sociais que se expressam através dele. O espaço é
suscetível de produzir, em contrapartida, efeitos específicos sobre os outros domínios da
conjuntura social, pela forma particular de articulação das instâncias estruturais que se
constituem. (p.33)
O espaço é a matéria trabalhada por excelência. Nenhum dos objetos sociais tem uma
tamanha imposição sobre o homem, nenhum está tão presente no cotidiano dos indivíduos.
A casa, o lugar de trabalho, os pontos de encontro, os caminhos que unem esses pontos
são igualmente elementos passivos que condicionam a atividade dos homens e comandam
a prática social. A práxis, ingrediente fundamental da transformação da natureza humana, é
um dado socioeconômico, mas é também tributária dos imperativos espaciais. (p34)
Marx na segunda parte da teoria da mais-valia = “Tudo que é resultado da produção é, ao
mesmo tempo, uma pré-condição da produção” (cap. VIII, 5, 465) (p.34)
Um país, um espaço nacional, pode ser estudado como um sistema. Sistema de estruturas
ao estilo de Godelier. (p.43)
Por inércia dinâmica entendemos que forma é tanto resultado como condição do processo.
As formas espaciais não são passivas, mas ativas (...) Mas as formas espaciais também
obrigam as outras estruturas sociais a modificar-se, procurando uma adaptação, sempre
que não possam criar novas formas.
Cada elemento (estrutura, subestrutura) muda de valor, ao mesmo tempo que a totalidade
se transforma, qualitativa ou quantitativamente. Contudo, o ritmo dessa evolução é diferente
para cada elemento ou estrutura. Essa diacronia é a verdadeira base do processo de
transformação. Por isso, as formas espaciais, cuja natureza as torna resistentes à mudança,
constituem um elemento fundamental de explicação do processo social e não somente o
seu reflexo.
2.3. OS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS
Essas forças externas têm sua própria lógica, que é interna às instituições e às empresas
interessadas, mas externa em relação aos países a que pertencem. (p.45)
O Estado empobrece e perde sua capacidade para criar serviços sociais ou para ajudar na
criação das atividades descentralizadas ou descentralizadoras. A produção, sobretudo a
produção industrial, não corresponde às necessidades nacionais e está sujeita a uma
concentração acumulativa; ao mesmo tempo, distorce-se também o consumo, que passa a
ser utilizado como o melhor vetor do capitalismo internacional para a ocupação de todo o
território nacional. (p.47)
A análise supõe, mais uma vez, que encontremos uma periodização para a história do
subsistema que estamos estudando, e essa história deve ter suas raízes nos períodos da
história nacional, considerada em suas relações com a história mundial. (p.48-9)
2.5. UM MÉTODO: DA TOTALIDADE AOS CONCEITOS E MODELOS
O problema principal deriva do fato de que nenhuma questão pode ser respondida fora da
concepção de uma totalidade de estruturas e de uma totalidade de relações. (p.49)
Partimos da prática humana para as teorias através dos conceitos e voltamos da teoria para
a práxis por intermédio dos modelos. A “redução” sistemática e a “reconstituição” baseada
na teoria, conceitos e modelos representam um processo dialético no qual se elimina a
pseudocontradição entre dedução e indução. (p.50) Constatando a “realidade” reconstituída
com a prática humana, submetemos a teoria a um “teste” e sabemos então se há
necessidade de reconstruí-la.
Na América Latina, cidades como Salvador e México já contavam no fim do século XVIII,
com uma população em torno dos 100 mil habitantes. Poucas cidades européias e
nenhuma dos Estados Unidos dispunha, então, de tais efetivos. As cidades
latino-americanas eram entrepostos de comércio e também praças-fortes, onde a divisão de
trabalho se fazia segundo uma tecnologia menos avançada do que na Europa e que
demandava mais braços (mesmo não tendo uma produção material importante), sem,
entretanto, atingir os números alcançados pelas cidades hindus. A incidência do fator
político, representado pelas necessidades da administração e segurança, era um outro
dado da divisão do trabalho interno ao país que não pode ser negligenciado. (p.57-8)
[...] chama a atenção o número de grandes cidades, especialmente na AL, muito mais do
que nos outros continentes. Isto se explica pela forma como as forças produtivas se
desenvolveram, isto é, com a concentração de instrumentos de trabalho e de meios de
produção mais modernos em certos pontos do território, ao mesmo tempo em que o
consumo se expandia a galope. (p.58)
A cada nova divisão do trabalho ou a cada um novo momento decisivo seu, a sociedade
conhece um movimento importante, assinalado pela aparição de um novo elenco de
funções e, paralelamente, pela alteração qualitativa e quantitativa das antigas funções. A
sociedade se exprime através de processos que, por sua vez, desdobram-se através de
funções, enquanto estas se realizam mediante formas. (p.59) = objetos, formas geográficas,
normas jurídicas. No entanto mesmo essas formas sociais não geográficas terminam por
espacializar-se, geografizando-se, como é o caso da propriedade ou da família.
A cada movimento social, possibilitado pelo processo da divisão do trabalho, uma nova
geografia se estabelece, seja pela criação de novas formas para atender a novas funções,
seja pela alteração funcional das formas já existentes [...] a divisão internacional do trabalho
torna diversamente produtivas as diferentes porções de natureza [...] “geografização da
sociedade” (SANTOS, 1978) (p.60)
O tempo que trabalha para que as coisas evoluam é o tempo presente; o palimpsesto
formado pela paisagem é a acumulação de tempos passados, mortos para a ação, cujo
movimento é dada pelo tempo vivo atual, o tempo social. O espaço é o resultado dessa
associação que se desfaz e renova-se continuamente, entre uma sociedade em movimento
permanente e uma paisagem em evolução permanente. (p.63)
Trata-se de um tempo interno próprio de cada país, que decorre paralelamente ao tempo
externo, dado pelo modo de produção dominante. (p.64)
Como, entretanto, as regiões e os lugares não são nada mais do que lugares funcionais do
Todo, esses tempos internos são também divisões funcionais do tempo, subordinados à
dialética do Todo, ainda que possam, em contrapartida, participar do movimento do Todo e
assim influenciá-lo. É aliás, por esse fato que as regiões e lugares, mesmo não dispondo de
uma real autonomia, influenciam o desenvolvimento do país como um todo. (p.65)
Quando do movimento da sociedade através de suas estruturas, nem todos os lugares são
atingidos, ao menos diretamente. Mas na realidade, todos o são porque o fato de que um
ponto do espaço conheça uma nova definição, através do impacto de variáveis novas, muda
as hierarquias e impõe uma nova ordem espacial que concerne à totalidade dos lugares.
Cada lugar atingido pelo movimento do todo social fica em condições de reagir sobre esse
todo e, desse modo, obrigando-o a modificar-se, conduz também a modificações, mais ou
menos grandes, mais ou menos rápidas, mais ou menos imediatas, da totalidade dos
lugares. (p.65)
Nas condições históricas atuais, avulta o papel do subsistema político, a começar pela ação
que o seu nível mais alto, o Estado, representa na adoção ou modificação de um modelo
dado de produção, de um modelo dado de consumo, de um modelo dado de distribuição de
recursos. (p.67)
As demais subunidades que formam o espaço nacional (zonas agrícolas, bacias mineiras,
cidades monofuncionais etc.) são subespaços que não possuem o necessário aparelho
para o controle de suas próprias inter-relações. Estas têm de ser feitas através das
aglomerações urbanas. (p.68)
[...] Mas, seja qual for o caso, incluindo os estágios inferiores de desenvolvimento, o sistema
de cidades constitui a armadura do espaço. (p.69)
Esse ponto de vista exige que consideremos as categorias de tempo e de escala como
capazes de assegurar uma visão global, dinâmica e concreta, onde a noção de totalidade
aplicada à sociedade e ao espaço não deixe lugar a nenhuma espécie de tautologia. E para
levar em conta os aspectos formais e de estrutura do espaço em geral e do sistema urbano,
as noções de estrutura, função e forma são fundamentais. (p.74)