Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Hotepesteel by Rozembergue
MEMÓRIA DA PRESENÇA DOS INGLESES
EM PASSAGEM DE MARIANA
DEVE SER PRESERVADA
EM PASSAGEM DE MARIANA
1819-1924
II. Os Ingleses.....................................................................................................08
V. Inglaterra e Portugal......................................................................................12
XII. Influência doa Ingleses no dialeto mineiro “uai sô” (why sir)......................20
“A história é a mestra da vida”, esse ditado popular revela a mais pura verdade.
Através do estudo da história podemos aprender como se deu a construção da nossa civilização e o
processo de como adquirirmos nossa identidade cultural, criando um senso de pertencimento, de ligação com
a cidade e comunidade que moramos. Ninguém ama aquilo que não conhece. Ninguém luta por aquilo que não
valoriza.
Aprender com a nossa história é muito importante para nosso presente. Por isso nosso passado está em
construção, nada muda mais que o passado, pois por ele justificamos ações no presente.
Para isso deve servir este livro, para que podemos entender a importância de nosso patrimônio histórico e
cultural que faz de Passagem de Mariana um lugar especial.
As ruínas da Igreja Anglicana e seu cemitério fazem parte do nosso patrimônio histórico e cultural
ainda que não reconhecido oficialmente, o que reflete em seu estado de abandono.
Não há ocasião melhor para lançar esta obra a público do que na comemoração dos 322 anos do
distrito de Passagem de Mariana.
II 08
Os Ingleses
A campanha abolicionista continuava pelas sociedades missionárias e pregadores iam a todas Igrejas dis-
tribuindo bandeiras onde estava escrito “Não sou eu um homem e um irmão?”. Enfim aos poucos cada vez
mais territórios governados pelos ingleses foram abolindo a escravidão até que em 1833 a escravidão tornou-se
ilegal em todo Império Britânico.
Porém os missionários não queriam só abolir a escravidão mas pregar a fé cristã protestante anglicana em re-
giões isoladas em missões arriscadas. Um exemplo desse esforço foi a tradução da Bíblia para a língua “maiori”
falada pelos nativos da Nova Zelândia por Henry Miller em 1823, que construiu a primeira Igreja protestante
anglicana naquele país. Aconteceram também casos de violência, como em 1865 quando houve uma dispu-
ta entre os nativos da Nova Zelândia, tentando intervir o missionário Carl Volkner foi decapitado, e o chefe
maiori comeu seus dois olhos e bebeu seu sangue dentro da Igreja. Em 1824 o missionário Willian Threlfall foi
esquartejado na cidade do Cabo, África do Sul.
Na Índia, na Pérsia (hoje Irã), Nigéria, China, na Arábia, na Austrália, em todos os lugares do Império foram
os missionários para levar o evangelho, estudando idiomas mapeando regiões.
Em 1853 Dr. Living Stone um médico missionário percorreu 500 quilômetros no centro da África e ba-
tizou as cataratas descobertas com o nome da Rainha Vitória, assim buscava apoio para continuar seu trabalho.
Hoje existem mais Igrejas só na Nigéria do que na Inglaterra inteira graças os missionários.
Em 1866 o imperador Teodoro da Abissínia prendeu missionários. Uma missão diplomática foi envida
mas foi também presa. Então a Rainha Vitória usando a moderna rede de telégrafos ordena em 1867 que o
exercito mais próximo liberte os reféns. 13 mil soldados ingleses e indianos marcharam para lá acompanhados
de sete mil camelos, 44 elefantes e 26 mil acompanhantes e carregadores levando canhões, metralhadoras, pe-
los 650 Km adentro da África até a fortaleza. Na luta mais de mil homens do Imperador Teodoro foram mortos
e dois mil ficaram feridos. Até o Imperador cometeu suicídio. Do lado inglês apenas 25 soldados da tropa ingle-
sa ficaram feridos, nem um morto. Tamanha diferença se deve ao poder de fogo e avanço tecnológico militar.
Na Índia os missionários fizeram campanha contra o sati. O costume do sati consistia em matar a mu-
lher durante o enterro do marido, pois seria uma prova de amor a viúva ser queimada viva nesse dia. Muitas
eram amarradas e jogadas ao fogo. O parlamento inglês aprovou lei proibindo essa prática em 1856, sob forte
pressão pois geralmente os ingleses não influenciavam os costumes de onde ocupavam.
10
III
Mapa do cemitério dos ingleses em Passagem de Mariana, situado ao lado da Igreja Anglicana. En-
terros são regisgrados desde 1840 no mapa até a venda da mina em 1924.
Local hoje carece de zelo e reconhecimento do poder público para não virar somente história.
Está enterrado ali Sir Thomas Bawden, presidente da Câmara de Mariana, ele foi condecorado pela
Rainha Vitória com o título de Sir pelos seus serviços ao Império Britânico.
15
Os Ingleses em Passagem
Pelo tratado de Tratados de Aliança, Amizade, Comércio e Navegação assinado em 26 de fevereiro de
1810 aos britânicos passaram a ter direitos de comercializar e serem julgados só por tribunal britânico. Previa
o direito também de construir igrejas e abrir cemitérios próprios, garantido pelos artigos XI e XII desse acor-
do.
Em 11 de fevereiro de 1814 foi instalada na Praça Tiradentes em Ouro Preto, a “Geological Royal Society
Cornwall”. Designaram o engenheiro de Minas e representante o Sr. Willian Jory F. R. S. Henwood para vir a
Minas e enviar informes sobre as perspectivas da mineração aurífera na região. Ele publicou comunicados
sobre o Morro Santo Antônio, Passagem, Mina de Antônio Pereira, Socorro, Vila Rica, e descreve as lavras do
Morro Sant’ana, Morro Velho, Itabira, Água Quente, Gongo Sôco e Brucutu.
Logo os acionistas ingleses comprariam várias minas, como a Mina da Passagem, mina Santana, Nova Lima,
Cata Altas, e outras.
E claro que o geólogo alemão Willian Ludvig von Escwegue veio para o Brasil rodar e pesquisar o interior.
Dezenas de viajantes ingleses passaram por aqui, mapeando, pesquisando, coletando.
Ao chegar foi enviado junto com os ingleses para explorar as minas. Ele fez parte da primeira sociedade mi-
neradora do Brasil em 12 de março de 1819, junto com ingleses para explorar a mina da Passagem, tornando-
-a mais lucrativa. Ele modernizou, com a ajuda dos ingleses, a mina, transformando os pequenos tuneis em
galerias, colocando carrinhos e trilhos para puxar minério, e instalando máquinas a ar para perfurar e puxar
os vagões. Também trouxe imigrantes de outras nacionalidades para trabalhar, já que os ingleses não pode-
riam ter escravos. Uma solução era alugar escravos, porém preferia-se contratar trabalhadores experientes
de outras minas da Europa; vieram alemães, espanhóis, italianos, portugueses, russos. Quando Napoleão foi
derrotado pelos ingleses, muitos de seus soldados foram contratados para vir para Passagem.
Foram criadas a Vila Portuguesa, Vila Espanhola, Fundão onde moravam os italianos, e a Vila Alemã
(hoje com nome de Vila São Vicente). E diversas casas foram construídas para abrigar essa gente, principal-
mente os ingleses. Uma solução foi a construção de barracões grandes, para moradia de até 15 famílias, ape-
lidados de Bom Será (morando juntos bom será que não briguem). Existia o Bom Será dos solteiros e o Bom
Será dos Casados.
Entre 1819 com a compra da mina pelos ingleses e 1924 com a venda da mina aos banqueiros Guimarães,
nesse tempo Passagem virou um caldeirão cultural, onde diversas nacionalidades conviviam e nos bares fala-
vam-se em várias línguas. Até chineses os ingleses trouxeram para iniciar o plantio de chá ainda hoje vemos
as plantações nas áreas em volta do atual campo do Esporte Clube 29 de junho.
Com cerca de quatro mil empregados a mina era a única grande empregadora da região. Tanto poder
econômico logo se transformou em poder político. Um dos diretores da Mina Thomas Bawden foi eleito vere-
ador várias vezes e presidente da Câmara de Mariana nos anos de 1890 a 1894. Naquela época só os considera-
dos “homens bons” ( quem tinha posse e renda) podiam votar. Não existia o cargo de prefeito, nem o de Juiz.
Eram os vereadores que administravam a cidade e julgavam os crimes. A cadeia era na Câmara. Os três poderes
se resumiam num só, diferente de hoje. E ninguém recebia por estes serviços, mas era um privilégio assumir o
cargo de vereador devido ao jogo de poder local.
Thomas Bawden elegeu seu filho vereador também e depois este se tornou Senador por Minas Gerais.
Exerceu um mandato na época do Império e outro depois de proclamada a República.
Foi condecorado como “Sir” pela rainha Vitória da Inglaterra. Está enterrado no cemitério da Igreja
Anglicana em Passagem de Mariana. Muitos especialistas continuaram a chegar em Passagem para montar
modernas máquinas a ar, que funcionam até hoje puxando o carrinho da Mina! Em Passagem foi fundado o
primeiro sindicato do Brasil por iniciativa dos italianos, chamado Mútuo Socorro, que ajudava as famílias dos
mineiros mortos na mina por acidentes ou doenças.
A Igreja Anglicana e seu cemitério são o primeiro torrão de terra da fé protestantes anglicana em
Minas Gerais, para que os ingleses e extrangeiros como franceses e alemães pudessem professar sua religião.
Construída em estilo gótico a Igreja Anglicana em Passagem demonstra mesmo em ruínas a sua beleza. Hoje
falta-lhe apenas o telhado e a porta.No cemitério lindas lápides esculpidas em mármores com ornamentos em
flores, podemos ler epitáfios em inglês , existem cerca de 50 túmulos e muitos foram revirados por caçadores
de relíquias.
Em 1862 os ingleses compraram as minas no Morro Santana e Maquiné, aumentando a exploração do
ouro, conduzida pelo capitão Thomas Treolar. Da presença dos ingleses em Passagem, encontram-se alguns
descendentes, como Doriedson Rolland, filho de José Peter Rolland, Cid Archibald, Dona Laysla e muitos ou-
tros.. Ainda Passagem pode-se vangloriar-se de ter um dos primeiros campos de futebol e tênis de Minas pois
estes esportes foram trazidos pelos ingleses!
X 18
Os Ingleses construíram um hospital em meados de 1850, onde foi instalado o primeiro aparelho de
raio X do Brasil, oriundo da Inglaterra. Construíram sua Igreja para seus cultos de fé protestante anglicana, e
um cemitério onde foram enterrados 50 pessoas de fé protestante, ingleses e alemães.
Construíram um campo de futebol onde é o pátio da Mina. Os ingleses foram pioneiros no futebol no
Brasil, o campo de Passagem foi o primeiro de Minas Gerais. Também construíram em Passagem um campo
de tênis, também o primeiro de Minas. Construíram um clube para bailes e festas.
Os trabalhadores da Mina devido aos muitos italianos, que eram os mais numerosos, criaram um sin-
dicato chamado Mútuo Socorro, e uma banda, depois chamada de Banda São Sebastião que até hoje alegra
Passagem e é motivo de muita alegria . O sindicato Múto Socorro hoje chama-se Clube Sorriso da Infância.
D. Pedro II e Dona Teresa Cristina visitaram as minas de Morro Velho, do Morro Sant’Anna e de Pas-
sagem em abril de 1881.
Visitou as Igrejas de Mariana também, sendo recebido pelo Arcebispo. O coral da Igreja Anglicana o
recebeu com uma linda canção “Abide with me” .
No caso de Passagem, desceu ao subsolo da Mina onde permaneceu durante uma hora acompanhado
por Robey Patridge, Robert Wandeborn e Monchot (provavelmente o médico Jorge Thorton Mochet). Regis-
trou que a mina era esgotada por meio de bomba hidráulica, pois a água tinha sido causa da interrupção dos
trabalhos e que viu um “trabalhador separar facilmente o ouro, que logo pintou, na bateia”. Sua obra é impor-
tante, pois situa-se na fase de transição da Anglo-Brazilian Gold Mining Company (encerrada em 1873) para
a The Ouro Preto Gold Mines of Brazil Limited (iniciada em 1884) – Cf. DOM PEDRO II (1957, p. 69-118).
Pesquisa Prof. Rafael Souza.
Foi servido um jantar ao som de uma pequena orquestra improvisada no fundo da Mina de Passagem
para o Imperador Dom Pedro II e sua comitiva.
XII 20
JESS MARTIN :
MEMÓRIAS DE UMA INGLESA EM PASSAGEM
Jess Maud Martin nasceu na Inglaterra e escreveu suas lembranças retratando a vida dos ingleses em
Passagem escrita entre os anos de 1888 a 1906, que sua família gentilmente enviou ao jornal O ESPETO para
ser publicado o que um dia ainda esperamos fazer em momento propício.
Era comum os ingleses escreverem memórias, e também educar as mulheres o que os portugueses
não achavam necessário. Estava na moda no começo do século passado os clubes de leitura, onde as pessoas
se reuniam para ler uma para as outras e comentar sobre literatura.
Pelo exemplo das inglesas que sabiam ler e escrever as mulheres brasileiras também se interessavam.
Jess veio com sua mãe, seu pai Martin, diretor da Mina de Ouro de Passagem e seu irmão Dick Martin para
Passagem, onde residiram na casa grande, sendo seu pai diretor da Mina de ouro.
22
ESTRADA DE FERRO: A instalação da ferrovia no Brasil foi feita com financiamento inglês e
com mão de obra e tecnologia inglesa. Os ingleses da mina de Passagem pressionaram para a ferrovia chegar
até Mariana onde poderiam receber máquinas e transportar ouro. A estação de Passagem tem até um quarto
revestido com aço usado para guarda o ouro esperando o trem chegar. Foto inauguração da estação de Maria-
na,1914.
CONFLITOS: Aconteceram vários conflitos sendo o mais grave relatado por Jess em suas memórias
uma briga entre brasileiros e italianos em que o batalhão do exército de Ouro Preto teve que intervir.
Também aconteceu uma greve e um protesto dos italianos que planejavam dinamitar a Casa Grande,
porém um alemão entregou o plano e para não ser preso e entregar os amigos o italiano se matou.
ACIDENTE: Em 1914, dia 08 de dezembro aconteceu uma grande imundação na Mina da Passagem,
matando muitos, porém só 18 corpos foram encontrados. De todo Brasil chegavam bombas para esvaziar a
mina e resgatar os mineiros. Um sobrevivente saiu no bairro da Chácara em Mariana e outros na região do
bairro Santo Antônio. Um daqueles que tentou salvar os companheiros foi José Pizzatti, irmão da minha avó,
que desceu no carrinho para avisar os companheiros do perigo da enchente mas não deu tempo de voltar.
Seis corpos foram enterrados lado a lado no cemitério Paroquial em Passagem, hoje estão sem identificação e
como muitas famílias mudaram poucos sabem da localização exata dos túmulos, como o Sr. Benedito Viana,
que desde criança trabalhou na Mina. Deixar o registro desses túmulos é mostrar que tragédias se repetem na
mineração. A gora com a reorganização do cemitério não sabemos se estes túmulos seram mantidos.
23
Era comum trabalhar sem camisa e sem equipamentos de segurança. Devido ao pó da perfuração da rocha
entre 10 e 15 anos a silicose atacava o pulmões e matava muitos mineiros
XV 26
Solano Lopez ditador do Paraguai atacou duas cidades do Mato Grosso e Rio Grande
do Sul, saqueando e matando inocentes. Depois invadiu a provincia de Corrientes na Argenti-
na. A resposta do Brasil demorou para chegar, pois o exército era pequeno mal armado e mal
treinado. Dom Pedro II recorreu aos ingleses para adquirir armamentos, uniformes, canhões,
munição e um empréstimo para alimentar. Mais de 50 mil brasileiros morreram no mais san-
grendo conflito da América do Sul.
Por várias vezes a Inglaterra tentou intermediar um acorco com Paraguai para evitar
que a guerra acontecesse, sem êxito. Devido a tensões no Uruguai, onde Brasil e Argentina
apoiavam um governo recém formado, Paraguai resolveu interferir para garantir que seus
aliados ficassem no poder.
Com exército melhor e maior, os paraguaios não imaginaram que a guerra duraria seis
anos, porém no final da guerra Paraguai estava arrasado e usando até crianças como soldados.
27
Na foto abaixo vemos partida das primeiras brigadas do Exército Brasileiro de Ouro Preto, então capital de
Minas, para Mato Grosso. Era a resposta à ofensiva paraguaia na região, no final de 1864.
Se alistaram como voluntários 6.784 mineiros, de Montes Claros, Barbacena, Ouro Preto, Passagem,
Mariana, Pitangui, Paracatu, e Pedra Azul.
O primeiro regimento foi formado com forças somadas de Ouro Preto e Mariana. E foram a guerra
defender o Brasil da invasão do Paraguai.
Lutaram em Itororó, Lomas Valentinas, Peribuy.
Ao voltar o exército não seria o mesmo. E os escravos que foram lutar foi prometida a liberdade, po-
rém ser escravo liberto era um desafio.
Tropas de Mariana, Passagem, Ouro Preto e outras
cidades aguardando para seguir para o Paraguai na praça Tiradentes,
somando 6.784 voluntários . Muitos morreriam na viagem.
Sebastião Estrella morador da rua Dom Veloso em Passagem, voltou da guerra sem um braço
e foi condecorado tenente.
XVI 28
1819
1924
12 de março de 1819 : Compra da Mina da Passagem por sociedade comercial inglesa
27 de março de 1924 ; Venda da Mina de Passagem para os banqueiros Guimarães
30
www.acammg.com.br