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SUMÁRIO
PROPOSTA DE LEI DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2023 - ALTERAÇÕES
EM SEDE DE IRC
1. NOTAS INTRODUTÓRIAS
Por seu turno, dispõe o n.º 2 do art.º 106.º da CRP, que “A proposta de orçamento é
apresentada e votada nos prazos fixados na Lei (…)”.
Assim, foi apresentada, no passado dia 10 de outubro, a Proposta de Lei n.º 38/XV/1.ª,
contendo o Orçamento do Estado para 2023 (doravante, PLOE/2023), propondo-se, além do
mais, diversas alterações a nível tributário, entre as quais alterações em sede de IRC (art.os
159.º a 166.º da PLOE/2023), matéria que será objeto de análise na presente newsletter
(ponto 2).
Deste modo, ficarão por tratar, para já, as restantes propostas de alterações, nomeadamente
as muitas existentes em sede de IRS (art.os 151.º a 158.º da PLOE/2023) e de IS (art.os 168.º
a 170.º da PLOE/2023), bem como as poucas existentes ao nível IMT (art.º 175.º da
PLOE/2023), destacando-se, a propósito, a ausência de propostas de alterações nas áreas
do IVA e da Justiça Tributária (LGT, CPPT e RGIT).
Apesar de se tratar de matéria totalmente diversa da anterior, e apesar de já ter sido tratada
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na newsletter anterior (#44, setembro), optou-se por dedicar o ponto 3, novamente, à “Verba
2.23 da Lista I do Código do IVA – Empreitadas de reabilitação urbana”.
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2. ALTERAÇÕES EM SEDE DE IRC
No art.º 159.º da PLOE/2023 são propostas diversas alterações ao Código do IRC, mais
concretamente aos respetivos art.os 52.º, 53.º, 54.º-A, 67.º, 71.º, 72.º, 75.º, 86.º, 86.º-B, 87.º
e 88.º, perfazendo, assim, 11 artigos alterados, alterações estas que serão analisadas em
detalhe mais adiante.
Seguidamente, o art.º 160.º da PLOE/2023 consiste numa disposição transitória que visa a
aplicação da lei no tempo no que se refere às alterações efetuadas ao art.º 52.º do Código
do IRC, ou seja, as alterações relacionadas com a dedução/reporte de prejuízos fiscais
Por outro lado, no art.º 162.º da PLOE/2023, consta um regime excecional no âmbito do IRC
onde se prevê a não aplicação da penalização de 10 p.p. (prevista no n.º 14 do art.º 88.º do
Código do IRC) ao nível das taxas de tributação autónoma, nos períodos de tributação de
2022 e 2023, desde que cumpridas as duas condições aí elencadas.
Acresce o disposto nos art.os 163.º e 164.º da PLOE/2023 que contêm dois regimes
extraordinários de apoio a encargos suportados com eletricidade e gás e a encargos
suportados na produção agrícola, respetivamente, assuntos que serão abordados na próxima
newsletter uma vez que estão em causa benefícios fiscais).
Por sua vez, no art.º 165.º da PLOE/2023, tal como tem vindo a suceder em anos anteriores,
procede-se à consignação ao FEFSS do valor correspondente a 2 p.p. das taxas previstas
no capítulo IV do Código do IRC (composto pelos art.os 87.º, 87.º-A e 88.º, ou seja,
compreendendo as taxas gerais, a derrama estadual e as taxas de tributação autónoma),
constando no art.º seguinte (art.º 166.º da PLOE/2023) uma proposta de consignação de
receita de IRC, suportado por sujeitos passivos com investimento estrangeiro, a programas,
projetos e ações de cooperação para o desenvolvimento, consistindo numa transferência no
valor de 20.000.000€ para o Camões, I. P..
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de prejuízos fiscais, a que acrescem as alterações propostas ao nível das taxas, gerais e de
tributação autónoma.
A proposta de alteração mais relevante está relacionada com o n.º 1, constituindo uma
alteração profunda ao regime de dedução/reporte de prejuízos fiscais, conferindo-lhe uma
maior aplicabilidade e simplicidade, ao serem eliminadas as barreiras temporais existentes
até aqui, e desde sempre, o chamado “prazo de reporte/dedução de prejuízos fiscais”.
A redação da norma, atualmente vigente, dada pela Lei n.º 7-A/2016, de 30-03, é a seguinte:
Conclui-se, face às alterações propostas, que deixará de existir um prazo limite para se poder
beneficiar da dedução de prejuízos fiscais, prazo este que, até aqui, era de 12 ou 5 anos
consoante se estivesse, ou não, respetivamente, perante uma Pequena ou Média Empresa
(PME).
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01-01-2023), mas, também, aos prejuízos fiscais incorridos anteriormente, desde que, à data
da entrada em vigor da lei nova, ainda estiverem a decorrer os respetivos prazos de
dedução/reporte.
Relativamente à referência à Lei n.º 27-A/2020 (parte não sublinhada na citação supra
reproduzida), cumpre recordar que a mesma estabeleceu medidas extraordinárias de apoio
no âmbito do combate à pandemia, contendo, entre outras, no respetivo art.º 11, um “Regime
especial de dedução de prejuízos fiscais” (ficando apenas ressalvados os efeitos do respetivo
n.º 2, que se mantém em vigor), segundo o qual:
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Quanto ao disposto no n.º 2, supratranscrito, norma expressamente visada no art.º 160.º da
PLOE/2023, fica assegurada a sua manutenção, na medida em que se estipula que as
alterações propostas ao art.º 52.º do CIRC não prejudicam a sua aplicação, mantendo-se,
portanto, a elevação em 10 p.p. do limite de dedução anual de prejuízos fiscais, limite que,
em regra, pelo menos até 2022, é de 70% do lucro tributável (este limite baixará para 65%,
conforme explanado mais adiante).
Referindo a Lei que a majoração é aplicada “(…) quando a diferença resulte da dedução de
prejuízos fiscais apurados nos períodos de tributação de 2020 e 2021.”, parece admitir-se a
dedução faseada dos prejuízos fiscais incorridos nestes anos, de modo a beneficiar durante
mais tempo da majoração (dedução de uma importância correspondente a 10% da matéria
coletável em cada ano…), procedimento este que, a nosso ver, é bastante discutível, sendo
que, caso se pretendesse evitar tal comportamento, sem que existisse qualquer margem para
dúvidas, deveria ser ponderado o regresso da regra “FIFO” (first in first out) (1).
Já quanto aos n.os 1 e 3 do art.º 11.º da Lei n.º 27-A/2020, são expressamente revogados
pela alínea a) do art.º 196.º da PLOE/2023.
Depreende-se, tendo em conta que o prazo de reporte dos prejuízos fiscais gerados em 2020
e 2021, para qualquer tipo de empresa, ainda se encontra em curso em 01-01-2023, que o
disposto no n.º 1 (prazo de reporte de 12 períodos, independentemente do tipo de empresa)
perderá qualquer utilidade prática face à aplicação da nova redação do n.º 1 do art.º 52.º do
Código do IRC, uma vez que o prazo de reporte de prejuízos fiscais, que passa a ser ilimitado,
aplica-se a prejuízos gerados em períodos anteriores e é aplicável de modo universal (PME
e não PME), daí que se compreenda a revogação.
Ainda assim, apesar da revogação e do novo regime proposto pela PLOE/2023, afigura-se
que há pelo menos um caso em que a aplicação do n.º 3 da Lei n.º 27-A/2020 (suspensão da
(1) A Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro revogou o n.º 15 do art.º 52.º do Código do IRC, cuja redação havia sido
dada pela Lei da Reforma do IRC (Redação da Lei n.º 2/2014, de 16 de janeiro), norma segundo a qual: “Para
efeitos do n.º 1, devem ser deduzidos em 1.º lugar os prejuízos fiscais apurados há mais tempo.”.
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contagem do prazo de reporte de prejuízos fiscais em 2020 e 2021) pode ainda ser
importante, nomeadamente no caso de prejuízos fiscais gerados em 2017 por empresas que
não sejam PME, cujo prazo de reporte terminaria em 2022 caso não fosse aplicada a
suspensão.
Ainda assim, o nosso entendimento, salvo melhor opinião, é que a norma em causa, no
momento em que a revogação opere, já terá produzido os respetivos efeitos suspensivos,
não se revelando necessária a sua manutenção em vigor, mesmo no caso anteriormente
referido.
Com efeito, entende-se que os prejuízos gerados em 2017 por empresas não PME
beneficiaram da suspensão da contagem do prazo de reporte em 2020 e 2021, em função da
lei atualmente ainda vigente, logo, o respetivo prazo de reporte apenas termina em 2024 e,
como tal, o prazo de dedução está em curso em 01-01-2023, significando que passam a
beneficiar do novo regime, isto é, da possibilidade de virem a ser deduzidos num prazo
ilimitado.
Para concluir a análise da proposta de alteração efetuada ao n.º 1 do art.º 52.º, resta dizer
que o regime instituído com a Lei n.º 27-A/2020, apesar de ter sido criado com a melhor das
intenções, acabou por constituir mais um elemento de complexidade no regime de
dedução/reporte de prejuízos fiscais, algo que se desvanece com as presentes alterações
legislativas (eliminação do prazo de reporte).
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Naturalmente que o novo regime instituído, incluindo a disposição transitória constante na
PLOE/2023 (art.º 160.º), beneficia muitíssimo os sujeitos passivos com elevados prejuízos
fiscais “em carteira”, parte deles com alguma antiguidade (podendo ocorrer a caducidade do
exercício do direito ao reporte/dedução), pese embora, naturalmente, o benefício se estenda
a todos, nomeadamente às empresas que incorreram em elevados prejuízos em tempos de
pandemia, bem como àquelas que, atualmente, enfrentam os elevadíssimos custos da
energia.
Prosseguindo com a análise das alterações propostas ao art.º 52.º do Código do IRC, segue-
se a alteração do n.º 2.
Começando pelo fim, a alteração em causa está relacionada com a anteriormente comentada
(alteração do n.º 1), na medida em que, tendo deixado de existir um prazo de reporte/dedução
de prejuízos fiscais, deixou de fazer sentido aludir-se a “períodos de dedução”.
Quanto à primeira alteração, em que a percentagem baixa de 70% para 65%, é caso para
dizer, articulando com a alteração anterior (n.º 1), que o legislador “dá com uma mão e tira
com a outra” (2).
Na prática, após a dedução dos prejuízos fiscais de anos anteriores, a Matéria Coletável terá
de passar corresponder, no mínimo, a 35% do Lucro Tributável (quando até aqui era 30%), o
que se materializa num agravamento da tributação (aumento da base tributável) ou, talvez
(2) Recorde-se que aquele limite será de 75% e não de 65% quando a diferença resulte da dedução de prejuízos
fiscais apurados nos períodos de tributação de 2020 e 2021.
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mais apropriadamente, face ao novo regime instituído (prazo ilimitado de reporte), numa
antecipação da tributação (ao deduzir-se menos, deduz-se durante mais tempo).
Quanto à alteração ao n.º 3 do art.º 52.º, está também relacionada com a adaptação da letra
da lei face ao novo regime de dedução previsto n.º 1, deixando de fazer sentido aludir-se a
um período de dedução (prazo de reporte).
Finalmente, quanto a propostas de alterações ao art.º 52.º (as revogações serão analisadas
em seguida), temos o n.º 8, cujas modificações têm uma natureza diferente.
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nos casos em que a operação tenha sido realizada por razões económicas
válidas.”
A este propósito, alerta-se para a proposta de revogação do n.º 12 do referido art.º, à luz do
qual:
Verifica-se que a limitação constante no n.º 8 (a única, deste tipo, que restou após as
alterações/revogações processadas no âmbito da Reforma do IRC), não será aplicável se a
alteração da titularidade do capital não tiver como principal finalidade a “evasão fiscal”, mas
sim “razões económicas válidas”, estando em causa a eliminação de mais uma restrição à
dedutibilidade dos prejuízos fiscais nestes casos (apesar do elevado grau de indeterminação
dos conceitos utilizados na lei).
(3) Perdendo assim utilidade o preceituado na Circular n.º 8/2012, da DSIRC, que elencava os elementos a conter
no referido requerimento.
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Resta apenas aludir às várias propostas de revogações ao art.º 52.º, estando em causa a
revogação dos n.os 6, 10 e 13 a 14, sendo que, sem qualquer dúvida, a melhor forma de se
percecionar cabalmente as alterações é através da leitura das normas.
Dir-se-á apenas que a norma supratranscrita deixou de fazer sentido face à inexistência de
qualquer limitação temporal ao reporte de prejuízos fiscais a partir de 2023.
Quanto à revogação dos n.os 10 e 13 a 14, estão todas relacionadas com a já referida
revogação do n.º 12, deixando de ser necessário apresentar requerimento, invocando-se
razões de “reconhecido interesse económico”, com vista à obtenção de autorização, para que
não seja aplicável a limitação prevista no n.º 8 (agora alterado e anteriormente comentado).
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Esta alteração está relacionada com a alteração ao n.º 1 do art.º 52.º, anteriormente
comentada, na medida em que, agora no tocante a entidades sem fins lucrativos, deixa de
existir um prazo de dedução de prejuízos fiscais apurados no âmbito do exercício (acessório)
de “atividades empresariais”, prazo este que, de acordo com a redação atualmente vigente,
é de 5 períodos.
Salienta-se que, neste caso, se aplica também a norma transitória constante no art.º 160.º da
PLOE/2023 (anteriormente transcrito), isto é, a lei nova aplica-se também aos prejuízos
fiscais gerados antes da sua entrada em vigor, desde que, nessa data, esteja ainda a decorrer
o respetivo prazo de reporte/dedução (5 períodos seguintes).
Tendo em conta que se trata de alterações, cuja explicação se afigura ininteligível sem um
breve enquadramento prévio, começar-se-á por contextualizar o artigo alterado.
O art.º 54.º-A foi aditado ao Código do IRC no âmbito da Reforma do IRC, passando a
permitir-se que, mediante opção nesse sentido, e desde que verificadas determinadas
condições, os lucros tributáveis e prejuízos fiscais, imputáveis a estabelecimentos estáveis
situados fora do território português, não concorram para a determinação do lucro tributável
(dedução ou acréscimo, respetivamente, no quadro 07 da DR22).
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estável situado no estrangeiro uma extensão da empresa portuguesa (sem personalidade
jurídica autónoma), os seus rendimentos (e gastos) estarão integrados no Resultado Líquido
do Período (RLP) da empresa portuguesa, logo, se nada for feito, influenciarão o valor do
Lucro Tributável, para mais (em caso de um resultado positivo) ou para menos (em caso de
resultado negativo).
E tal sucede porque, desde logo, as empresas residentes em Portugal devem ser tributadas
por todos os seus rendimentos, ainda que obtidos do estrangeiro (e, acrescenta-se, ainda
que imputáveis a um estabelecimento estável aí situado, e aí tributado…), ao abrigo do
princípio da universalidade previsto no n.º 1 do art.º 4.º do Código do IRC, sem prejuízo do
direito ao crédito de imposto por dupla tributação jurídica internacional (art.º 91.º do Código
do IRC).
E tal sucede, acrescenta-se, ainda que se aplique uma Convenção para evitar a Dupla
Tributação (CDT), na medida em que a competência para tributar os rendimentos imputáveis
a um estabelecimento estável é atribuída (“podem”) ao Estado da fonte, mas não de modo
exclusivo, conforme se retira do disposto na 2.ª parte do n.º 1 do art.º 7.º da CDT modelo
OCDE e da generalidade das CDT celebradas por Portugal.
Pois bem, a disposição em apreço, aplicável mediante opção, permite expurgar da base
tributável do IRC os lucros ou prejuízos imputáveis a estabelecimento estável situado no
estrangeiro (daí anteriormente se ter aludido a deduções ou acréscimos no quadro 07 da
DR22), o que configura um regime de isenção (caso se esteja perante lucros tributáveis),
permitindo-se, assim, que a tributação se processe apenas de acordo com as regras vigentes
no Estado da fonte (naturalmente que se perde o direito ao crédito de imposto).
Para se ter uma melhor perceção das alterações propostas às normas supra elencadas (todas
elas com uma natureza antiabuso), alterações essas que são relativamente idênticas (se bem
que aplicáveis a situações diferenciadas), é importante confrontar a redação atualmente
vigente com a nova redação proposta, conforme consta no quadro que seguidamente se
apresenta:
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ao montante dos prejuízos imputáveis ao estabelecimento estável que
estabelecimento estável que concorreram para a determinação do
concorreram para a determinação do lucro tributável do sujeito passivo nos
lucro tributável do sujeito passivo nos doze períodos de tributação anteriores.
cinco períodos de tributação anteriores
ou nos 12 períodos de tributação
anteriores, no caso de sujeitos passivos
abrangidos pelo Decreto-Lei n.º
372/2007, de 6 de novembro.
5 - Em caso de transformação do 5 - Em caso de transformação do
estabelecimento estável em sociedade, o estabelecimento estável em sociedade, o
disposto nos artigos 51.º e 51.º-C e no n.º disposto nos artigos 51.º e 51.º-C e no n.º
3 do artigo 81.º não é aplicável aos lucros 3 do artigo 81.º não é aplicável aos lucros
e reservas distribuídos ao sujeito passivo e reservas distribuídos ao sujeito passivo
por esta sociedade, nem às mais-valias por esta sociedade, nem às mais-valias
decorrentes da transmissão onerosa das decorrentes da transmissão onerosa das
partes de capital ou da liquidação dessa partes de capital ou da liquidação dessa
sociedade, até ao montante dos prejuízos sociedade, até ao montante dos prejuízos
imputáveis ao estabelecimento estável imputáveis ao estabelecimento estável
que concorreram para a determinação do que concorreram para a determinação do
lucro tributável do sujeito passivo nos lucro tributável do sujeito passivo nos
cinco períodos de tributação anteriores, doze períodos de tributação anteriores.
ou nos 12 períodos de tributação
anteriores no caso de sujeitos passivos
abrangidos pelo Decreto-Lei n.º
372/2007, de 6 de novembro.
9 - No caso de aos lucros e prejuízos 9 - No caso de aos lucros e prejuízos
imputáveis a estabelecimento estável imputáveis a estabelecimento estável
situado fora do território português deixar situado fora do território português deixar
de ser aplicável o disposto no n.º 1: de ser aplicável o disposto no n.º 1:
a) Não concorrem para a determinação a) Não concorrem para a determinação
do lucro tributável do sujeito passivo os do lucro tributável do sujeito passivo os
prejuízos imputáveis ao estabelecimento prejuízos imputáveis ao estabelecimento
estável, incluindo os derivados da estável, incluindo os derivados da
alienação ou da afetação a outros fins dos alienação ou da afetação a outros fins dos
ativos afetos a esse estabelecimento, até ativos afetos a esse estabelecimento, até
ao montante dos lucros imputáveis ao ao montante dos lucros imputáveis ao
estabelecimento estável que não estabelecimento estável que não
concorreram para a determinação do concorreram para a determinação do
lucro tributável do sujeito passivo nos lucro tributável do sujeito passivo nos
cinco períodos de tributação anteriores, doze períodos de tributação anteriores;
ou nos 12 períodos de tributação
anteriores no caso de sujeitos passivos
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abrangidos pelo Decreto-Lei n.º
372/2007, de 6 de novembro, nos termos
previstos no n.º 1;
b) Em caso de transformação do b) Em caso de transformação do
estabelecimento estável em sociedade, estabelecimento estável em sociedade,
não é aplicável o disposto nos artigos 51.º não é aplicável o disposto nos artigos 51.º
e 51.º-C e no n.º 3 do artigo 81.º aos e 51.º-C e no n.º 3 do artigo 81.º aos
lucros e reservas distribuídos, nem às lucros e reservas distribuídos, nem às
mais-valias decorrentes da transmissão mais-valias decorrentes da transmissão
onerosa das partes de capital e da onerosa das partes de capital e da
liquidação dessa sociedade, liquidação dessa sociedade,
respetivamente, até ao montante dos respetivamente, até ao montante dos
lucros imputáveis ao estabelecimento lucros imputáveis ao estabelecimento
estável que não concorreram para a estável que não concorreram para a
determinação do lucro tributável do determinação do lucro tributável do
sujeito passivo nos cinco períodos de sujeito passivo nos doze períodos de
tributação anteriores, ou nos 12 períodos tributação anteriores.
de tributação anteriores no caso de
sujeitos passivos abrangidos pelo
Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de
novembro, nos termos previstos no n.º 1.
Constata-se que as alterações, ao nível da letra da lei, são muito similares, deixando de
existir, em qualquer dos casos, diferenciação ao nível do n.º de períodos de tributação, ou
seja, nas quatro normas alteradas passa a ter-se como referência 12 períodos de tributação,
quando de acordo com a redação atualmente vigente se alude a 5 ou 12 períodos, consoante
o tipo de sociedade.
No entanto, tal como anteriormente referido, as normas alteradas visam situações diversas,
passando a explicitar-se, resumidamente, o respetivo âmbito de aplicação.
Quanto ao n.º 4, refere-se à não aplicação da isenção (no período de início de vigência da
opção e seguintes), total ou parcialmente, quando o sujeito passivo tenha beneficiado da
dedução de prejuízos imputáveis ao estabelecimento estável nos últimos 12 períodos de
tributação, isto de acordo com a nova redação, deixando, como tal, de existir diferenciação,
5 ou 12 períodos, consoante o tipo de sociedade (nos termos da lei, não se aplica a isenção
“(…) até ao montante dos prejuízos imputáveis ao estabelecimento estável que concorreram
para a determinação do lucro tributável do sujeito passivo nos 12 períodos de tributação
anteriores.”).
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Relativamente ao n.º 5, aplicável no caso de transformação de um estabelecimento estável
em sociedade, prende-se com a não aplicação das disposições aí mencionadas (que
consagram regimes de isenção), total ou parcialmente, caso o sujeito passivo tenha usufruído
da dedução de prejuízos fiscais nos últimos 12 períodos, deixando, uma vez mais, de existir
diferenciação, 5 ou 12 períodos, consoante o tipo de sociedade (nos termos da lei, de modo
idêntico ao explanado anteriormente, não se aplicam os regimes de isenção “(…) até ao
montante dos prejuízos imputáveis ao estabelecimento estável que concorreram para a
determinação do lucro tributável do sujeito passivo nos doze períodos de tributação
anteriores.”)
Já quanto à alínea a) do n.º 9, está relacionada com o fim do período de aplicação do regime
de isenção, caso em que não se beneficiará da dedução de prejuízos fiscais (no período da
alteração da opção e seguintes) “(…) até ao montante dos lucros imputáveis ao
estabelecimento estável que não concorreram para a determinação do lucro tributável do
sujeito passivo nos doze períodos de tributação anteriores.”, deixando, também aqui, de
existir diferenciação, 5 ou 12 períodos, consoante o tipo de sociedade.
Apesar da evidente complexidade, percebe-se a razão de ser das normas antiabuso alteradas
[passando a referir-nos apenas ao n.º 4 e n.º 9 alínea a)]: pretende-se evitar que o sujeito
passivo beneficie da não tributação dos lucros (formulando a opção) sempre que tenha
beneficiado da dedução de prejuízos fiscais em períodos anteriores, quando não vigorava a
opção (n.º 4), bem como que o sujeito passivo venha a beneficiar da dedução de prejuízos
(interrompendo a opção) quando tenha beneficiado anteriormente da não tributação dos
lucros, quando vigorava a opção [n.º 9, alínea a)].
- Alteração do n.º 8.
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limite que, note-se, apenas se aplica quando, nos termos do disposto no n.º 1, se encontre
ultrapassado o maior dos seguintes limites:
a) 1.000.000€; ou
b) 30% do EBITDA
Por outras palavras, nos temos da lei, apenas são aceites os gastos “até ao maior” dos limites,
o que significa que, tal como referido anteriormente, não é aceite fiscalmente o excesso.
Como é bom de ver, a norma em apreço apenas se aplica quando as empresas tenham
gastos de financiamento líquidos superiores a 1.000.000€, o que afasta da sua aplicação a
grande maioria do tecido empresarial português (apesar de se perspetivar um aumento deste
tipo de gastos, logo, um eventual aumento do universo de sujeitos passivos abrangidos pelo
regime, com o aumento das taxas de juro que se verifica atualmente).
Para que se compreenda a alteração efetuada ao n.º 8, importa sublinhar que o regime
instituído, de acordo com o n.º 2, permite deduzir o excesso (parte acrescida) nos períodos
seguintes (diferimento) caso exista “folga” (margem) para tal, bem como permite, de acordo
com o n.º 3, criar uma “folga” quando o limite não é atingido, que pode ser utilizada no período
seguinte, aumentando o respetivo limite.
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Aduaneira, nos prazos previstos nos n.ºs nos casos em que a operação tenha sido
13 e 14 do artigo 52.º, consoante os realizada por razões económicas válidas.
casos.
Na prática, enquanto atualmente, para não se aplicável a limitação, tem de ser apresentado
requerimento, tendo em vista a obtenção de autorização, com a presente alteração passa
apenas a ter de ser feita essa demonstração, caso a mesma venha a ser solicitada,
ocorrendo, portanto, uma eliminação da burocracia, o que, uma vez mais, se afigura ser
benéfico, não apenas para os sujeitos passivos, como também para a AT.
Esta proposta de alteração está em total sintonia com as alterações aos n.os 8, 10 e 12 a 14
do art.º 52.º do Código do IRC (anteriormente comentadas), relativas à limitação da dedução
de prejuízos fiscais quando exista uma alteração relevante da titularidade do capital social
(situação análoga à presente), a qual foi também “desburocratizada”, remetendo-se para os
comentários aí proferidos.
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durante os períodos de tributação durante os períodos de tributação
anteriores em que o regime se aplicou anteriores em que o regime se aplicou
podem, em casos de reconhecido podem ser dedutíveis ao lucro tributável
interesse económico e mediante do novo grupo.
requerimento a apresentar à Autoridade
Tributária e Aduaneira com aquela
comunicação, ser dedutíveis ao lucro
tributável do novo grupo, desde que seja
obtida autorização do membro do
Governo responsável pela área das
finanças.
4 - No caso em que a sociedade 4 - No caso em que a sociedade
dominante de um grupo de sociedades dominante de um grupo de sociedades
(nova sociedade dominante) adquire o (nova sociedade dominante) adquire o
domínio de uma sociedade dominante de domínio de uma sociedade dominante de
um outro grupo de sociedades (anterior um outro grupo de sociedades (anterior
sociedade dominante) e a nova sociedade dominante) e a nova
sociedade dominante opte pela sociedade dominante opte pela
continuidade da aplicação do regime continuidade da aplicação do regime
especial de tributação dos grupos nos especial de tributação dos grupos nos
termos do n.º 10 do artigo 69.º, as quotas- termos do n.º 10 do artigo 69.º, as quotas-
partes dos prejuízos fiscais do grupo partes dos prejuízos fiscais do grupo
imputáveis às sociedades do grupo da imputáveis às sociedades do grupo da
nova sociedade dominante e que nova sociedade dominante e que
integrem o grupo da anterior sociedade integrem o grupo da anterior sociedade
dominante são dedutíveis nos termos da dominante são dedutíveis nos termos da
alínea a) do n.º 1, desde que, em casos alínea a) do n.º 1.
de reconhecido interesse económico e
mediante requerimento a apresentar à
Autoridade Tributária e Aduaneira com
aquela comunicação, seja obtida
autorização do membro do Governo
responsável pela área das finanças.
7 - O previsto nos n.ºs 3, 4 e 5 não é
aplicável quando se conclua que a
operação teve como principal objetivo ou
como um dos principais objetivos a
evasão fiscal, o que pode considerar-se
verificado, nomeadamente, nos casos em
que a operação não tenha sido realizada
por razões económicas válidas.
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Em suma, deixa de ser necessário apresentar “requerimento” e obter “autorização” para
manter o direito à dedução dos prejuízos fiscais quando há alteração da sociedade
dominante, alterações estas que estão em linha com as processadas aos n.os 8, 10 e 12 a
14.º do art.º 52.º e ao n.º 8 do art.º 67.º, já anteriormente comentadas, todas elas visando a
simplificação de procedimentos.
Continua a exigir-se, face ao aditamento do n.º 7, tal como nos casos anteriores, que a
operação em causa não vise principalmente a “evasão fiscal” e que tenha subjacentes “razões
económicas válidas”.
- Alteração do n.º 3.
O art.º em referência estabelece um regime de neutralidade fiscal aplicável nos casos em que
ocorre uma transformação de sociedades (transformação do tipo societário, por exemplo a
transformação de uma sociedade por quotas em sociedade anónima, tal como regulado no
art.º 130.º e seguintes do Código das Sociedades Comerciais), ao determinar-se, no n.º 1,
que a transformação de sociedades, mesmo quando ocorra dissolução da anterior, não
implica alteração do regime fiscal que vinha sendo aplicado, nem determina, por si só,
quaisquer consequências em matéria de IRC.
A alteração acima, pode facilmente ser percecionada com a observação do quadro seguinte,
onde consta a redação atual e a nova redação (proposta):
21
transformação até ao fim do período tributáveis da sociedade resultante da
referido no n.º 1 do artigo 52.º, contado do transformação.
exercício a que os mesmos se reportam.
- Alteração do n.º 1.
Nova redação
Redação atual
1 - Os prejuízos fiscais das sociedades 1 - Os prejuízos fiscais das sociedades
fundidas podem ser deduzidos dos lucros fundidas podem ser deduzidos dos lucros
tributáveis da nova sociedade ou da tributáveis da nova sociedade ou da
sociedade incorporante, nos termos e sociedade incorporante, nos termos e
condições estabelecidos no artigo 52.º e condições estabelecidos no artigo 52.º.
até ao fim do período referido no n.º 1 do
mesmo artigo, contado do período de
tributação a que os mesmos se reportam.
- Alteração do n.º 2.
O art.º em causa visa estabelecer um regime de neutralidade fiscal nos casos em que a
realização de capital de sociedades é efetuada através da entrada de património
(empresarial) de pessoa singular, incidindo o n.º 2 sobre a questão da transmissibilidade dos
prejuízos fiscais gerados no âmbito da empresa individual (categoria B do IRS) à nova
sociedade, com a consequente utilização e possibilidade de reporte na esfera desta.
22
Nova redação
Redação atual
2 - Quando seja aplicável o regime 2 - Quando seja aplicável o regime
estabelecido no n.º 1 do artigo 38.º do estabelecido no n.º 1 do artigo 38.º do
Código do IRS, os prejuízos fiscais Código do IRS, os prejuízos fiscais
relativos ao exercício pela pessoa relativos ao exercício pela pessoa
singular de atividade empresarial ou singular de atividade empresarial ou
profissional e ainda não deduzidos ao profissional e ainda não deduzidos ao
lucro tributável podem ser deduzidos nos lucro tributável podem ser deduzidos nos
lucros tributáveis da nova sociedade até lucros tributáveis da nova sociedade até
ao fim do período referido no artigo 52.º, à concorrência de 50 % de cada um
contado do período de tributação a que os desses lucros tributáveis.
mesmos se reportam, até à concorrência
de 50% de cada um desses lucros
tributáveis.
Esta alteração está relacionada com as alterações efetuadas a este nível em sede de IRS,
visando a tributação de rendimentos gerados em criptoativos (nomeadamente criptomoedas),
matéria que será analisada em detalhe quando, em janeiro, comentarmos alterações em sede
de IRS.
Por ora, deixa-se apenas a seguinte nota: em sede de IRC, a matéria em apreço apenas
carece de ser regulada nos casos em que se aplica o regime simplificado (e quando tais
rendimentos não sejam qualificáveis como rendimentos de capitais ou mais valias, pois,
nestes casos, já existe coeficiente), tal como está a suceder, uma vez que, aplicando-se o
regime geral, os rendimentos gerados em criptoativos, constituindo variações patrimoniais
positivas (refletidas, ou não, no RLP), serão objeto de tributação, uma vez que se integram
no conceito, muito abrangente, de lucro presente no Código do IRC (“noção extensiva de
lucro”, no âmbito da adoção da “teoria do incremento patrimonial” ou da “teoria do rendimento-
acréscimo”).
23
ü Art.º 87.º - Taxas
- Alteração do n.º 2.
Nova redação
Redação atual
2 - No caso de sujeitos passivos que 2 - No caso de sujeitos passivos que
exerçam, diretamente e a título principal, exerçam, diretamente e a título principal,
uma atividade económica de natureza uma atividade económica de natureza
agrícola, comercial ou industrial, que agrícola, comercial ou industrial, que
sejam qualificados como pequena ou sejam qualificados como pequena ou
média empresa, nos termos previstos no média empresa ou empresa de pequena-
anexo ao Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 média capitalização (Small Mid Cap), nos
de novembro, a taxa de IRC aplicável aos termos previstos no anexo ao Decreto-Lei
primeiros 25.000 € de matéria coletável é n.º 372/2007, de 6 de novembro, a taxa
de 17%, aplicando-se a taxa prevista no de IRC aplicável aos primeiros 50 000 €
número anterior ao excedente. de matéria coletável é de 17 %,
aplicando-se a taxa prevista no número
anterior ao excedente.
Em síntese:
(4) É uma Small Mip Cap a empresa que, não reunindo as condições materiais para ser uma PME nos termos do
DL n.º 372/2007 e respetivo anexo, empregue, enquanto empresa autónoma, até 500 trabalhadores (<500), nos
termos do n.os 2, 3 e 4 do art.º 2.º do DL n.º 372/2007. Assim, uma empresa que, pelo facto de estar integrada
num grupo com mais de 250 trabalhadores, não seja uma PME, mas tenha, ela própria, individualmente, menos
de 500 trabalhadores (pode ser até apenas 1 trabalhador), é uma Small Mip Cap (“empresa de pequena-média
capitalização”).
24
2) A taxa passa a aplicar-se até ao montante de 50.000€ de matéria coletável, o que traduz
uma poupança máxima, em relação ao montante que deriva da aplicação da taxa
“normal” de 21%, no valor de 2.000€ [(21% - 17%) x 50.000€] ou, de modo diferente,
uma poupança máxima, relativamente à quantia que seria apurada na ausência desta
alteração, de 1.000€ [(21% - 17%) x (50.000€ - 25.000€)].
“A taxa de IRC prevista no n.º 2 do artigo 87.º do Código do IRC é aplicável nos
dois exercícios posteriores a operações de fusões, cisões, entradas de ativos e
permutas de partes sociais, realizadas entre 1 de janeiro de 2023 e 31 de
dezembro de 2026, em que a totalidade dos sujeitos passivos se qualifique como
pequena, média empresa ou empresa de pequena-média capitalização (Small Mid
Cap), nos termos previstos no anexo ao Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de
novembro, na sua redação atual, nas situações em que, por força da operação, a
sociedade beneficiária deixe de reunir as condições para essa qualificação.”
Note-se que este benefício fiscal (redução de taxa) está sujeito às regras de auxílios de
minimis (limite de 200.000€ por triénio; limite de base móvel).
- Alteração dos n.os 3 e 18, revogação do n.º 19 e aditamento do n.º 20 (anteriores n.os 20 a
22 passam a n.os 21 a 23).
Começar-se-á por fazer o confronto da redação das normas (atual e nova) e, imediatamente
a seguir, por resumir as várias alterações propostas.
25
título principal, atividade de natureza título principal, atividade de natureza
comercial, industrial ou agrícola, comercial, industrial ou agrícola,
relacionados com viaturas ligeiras de relacionados com viaturas ligeiras de
passageiros, viaturas ligeiras de passageiros, viaturas ligeiras de
mercadorias referidas na alínea b) do n.º mercadorias referidas na alínea b) do n.º
1 do artigo 7.º do Código do Imposto 1 do artigo 7.º do Código do Imposto
sobre Veículos, motos ou motociclos, sobre Veículos, motos ou motociclos, às
excluindo os veículos movidos seguintes taxas:
exclusivamente a energia elétrica, às
seguintes taxas: (…)
18 - No caso de viaturas ligeiras de 18 - No caso de viaturas ligeiras de
passageiros híbridas plug-in, cuja bateria passageiros híbrida plug-in, cuja bateria
possa ser carregada através de ligação à possa ser carregada através de ligação à
rede elétrica e que tenham uma rede elétrica e que tenham uma
autonomia mínima, no modo elétrico, de autonomia mínima, no modo elétrico, de
50 km e emissões oficiais inferiores a 50 50 km e emissões oficiais inferiores a 50
gCO2/km, as taxas referidas nas alíneas gCO2/km, e de viaturas ligeiras de
a), b) e c) do n.º 3 são, respetivamente, passageiros movidas a GNV, as taxas
de 5%, 10% e 17,5%. referidas nas alíneas a), b) e c) do n.º 3
são, respetivamente, de 2,5%, 7,5% e
15%.
19 - No caso de viaturas ligeiras de 19 – Revogado.
passageiros movidas a GNV, as taxas
referidas nas alíneas a), b) e c) do n.º 3
são, respetivamente, de 7,5%, 15% e
27,5%.
20 - Os encargos relacionados com
veículos movidos exclusivamente a
energia elétrica apenas são sujeitos a
tributação, à taxa autónoma de 10 %,
caso o custo de aquisição destes veículos
exceda o definido na portaria a que se
refere a alínea e) do n.º 1 do artigo 34.º
20 - (…) 21 - (…)
21 - (…) 22 - (…)
22 - (…) 23 - (…)
Em síntese:
26
tributados autonomamente, à taxa de 10%, quando o custo de aquisição desses
veículos ultrapasse 62.500€, limite este que também serve de referência para calcular
as depreciações fiscalmente aceites neste tipo de viaturas, bem como para aferir da
dedutibilidade do IVA (sendo que o IVA não dedutível faz parte integrante do custo de
aquisição). Atualmente não é aplicável qualquer taxa autónoma a este tipo de viaturas,
ainda que a mesma tenha custos de aquisição elevadíssimos.
2) Viaturas híbridas plug-in: Fruto da alteração efetuada na parte final do n.º 18, conclui-
se que há uma redução de taxas, neste tipo de viaturas (que possuam as caraterísticas
definidas na lei), de 2,5 p.p., passando, assim, de 5%, 10% e 17,5%, para 2,5%, 7,5%
e 15%, consoante os 3 escalões que se encontram definidos no n.º 3 (custo de
aquisição até 27.500€, até 35.000€ e superior a 35.000€).
3) Viaturas movidas a GNV: Por força da revogação do n.º 19 e da (outra) alteração do n.º
18, esta tipologia de viaturas passa a beneficiar das mesmas taxas que passarão a ser
aplicáveis a viaturas híbridas plug-in, conforme suprarreferido. Estas alterações
consubstanciam as importantes reduções de taxas, na medida em que as mesmas
passam de 7,5%, 15% e 27,5%, para 2,5%, 7,5% e 15%, ou seja, consoante o escalão,
respetivamente, reduções de 5 p.p., 7,5 p.p. e 12,5 p.p..
A propósito das tributações autónomas, cumpre assinalar que no art.º 162.º da PLOE/2023,
consta um regime excecional no âmbito do IRC onde se prevê a não aplicação da penalização
de 10 p.p. (prevista no n.º 14) ao nível das taxas, nos períodos de tributação de 2022 e 2023,
desde que cumpridas (relativamente fáceis de cumprir) as seguintes condições:
“a) O sujeito passivo tenha obtido lucro tributável em um dos três períodos de
tributação anteriores e as obrigações declarativas previstas nos artigos 120.º e
121.º do mesmo Código, relativas aos dois períodos de tributação anteriores,
tenham sido cumpridas nos termos neles previstos;
Note-se que esta disposição transitória já vigorou para os períodos de tributação de 2020 e
2021, por via do disposto no art.º 375.º da LOE/2021. No entanto a mesma apenas era
aplicável às cooperativas e PME (DL n.º 372/2007), algo que, pelo que nos é dado a ver, não
sucede agora à luz da referida proposta.
27
3. ACÓRDÃO DO CAAD – PROC.º 137/2022T, de 22-07-2022: Verba 2.23 da
Lista I anexa ao Código do IVA
A Requerida (AT), por seu turno, entende que o sujeito passivo deve possuir elementos que
comprovem que a obra se encontra em conformidade com as disposições do DL n.º 307/2009
(RJRU), invocando que as obras em questão, não obstante localizadas numa área delimitada
como ARU, não reúnem as condições impostas no RJRU para poderem qualificar-se como
obra de reabilitação urbana em área de reabilitação urbana.
b) Imóvel, alvo de intervenção, deve localizar-se em zona legalmente delimitada como ARU;
28
d) Serviços prestados devem ter a natureza de empreitadas “gerais”, não abrangendo os
meros fornecimentos de bens e aquisição de materiais, nem a aquisição de outros serviços
não abrangidos pelo contrato de empreitada geral;
e) A fatura deve indicar o dono da obra e a ARU onde se localiza e, segundo n.º 5 do art.º
36.º do CIVA, deve conter a denominação usual dos serviços prestados com especificação
dos elementos necessários à determinação da taxa aplicável.
Entende ainda a Requerida (AT), em síntese, que não foi possível estabelecer uma correlação
direta entre a descrição das faturas e a restante documentação apresentada, impossibilitando
a confirmação de se encontrarem efetivamente reunidos os pressupostos legalmente exigidos
para enquadramento dos serviços de construção civil em causa na verba 2.23 da Lista I anexa
ao Código do IVA.
Posição do Tribunal
Segundo o CAAD, face à redação da verba 2.23, resultam, como condições para aplicação
da taxa reduzida:
ii) Deve, a empreitada de reabilitação urbana, localizar-se em área de reabilitação urbana (...)
delimitada nos termos legais.
Assim sendo, na ótica do Tribunal, estão em causa duas questões distintas que importa
analisar.
A primeira diz respeito ao conceito de “empreitada de reabilitação urbana”, tal como definida
em diploma específico, concluindo o Tribunal que o contrato de empreitada em causa não
pode deixar de ser considerado como um contrato de empreitada de reabilitação urbana.
Segundo o Tribunal, coloca-se ainda uma outra questão relativa à interpretação da verba
2.23, uma vez que a AT entende que a sua aplicação está dependente de comunicação prévia
e respetiva aprovação de licenciamento pelo município ou entidade gestora. Quanto a esta
parte, conclui-se que o argumento da AT não é procedente, considerando o Tribunal que se
trata de uma inferência ou dedução por parte da AT, que não está suportada no texto da
29
verba 2.23.
Considera-se que em nenhum segmento da verba se determina que seja necessário que a
apreciação e aprovação do respetivo pedido de licenciamento seja efetuada pela respetiva
câmara municipal, sendo que, em rigor, estão em causa matérias distintas: (i) a (eventual)
aplicação de uma taxa reduzida de IVA a empreitadas de reabilitação urbana situadas área
de reabilitação urbana (matéria fiscal) e (2) a necessidade de submeter a apreciação e
aprovação do respetivo pedido de licenciamento a execução de uma obra de reabilitação
urbana (matéria jurídico-urbanística).
Restava, ainda, verificar uma derradeira condição, assinalada pela AT como necessária de
modo a permitir beneficiar da taxa reduzida de IVA: a indicação, na fatura, do dono da obra e
da ARU onde se localiza e, ainda, segundo n.º 5 do art.º 36.º do Código do IVA, a referência
à denominação usual dos serviços prestados com especificação dos elementos necessários
à determinação da taxa aplicável.
Acrescenta-se que, face às faturas em questão, foi possível perceber, de forma clara e
inequívoca, que as mesmas titulam uma empreitada contratada pelo sujeito passivo de IVA à
entidade emissora das mesmas, empreitada essa que envolveu intervenções de alteração no
interior e de conservação no exterior do edifício, razões pelas quais se encontra verificada a
derradeira condição postulada pela AT, de harmonia com a qual a fatura deve indicar o dono
da obra e a ARU onde se localiza e, segundo n.º 5 do art.º 36.º do Código do IVA, deve conter
a denominação usual dos serviços prestados com especificação dos elementos necessários
à determinação da taxa aplicável.
30
II - O legislador tributário não previu, na verba 2.23 da lista I anexa ao Código do
IVA, a obrigação de a aplicação da taxa reduzida de IVA a empreitadas de
reabilitação urbana pressupor a prévia apreciação e aprovação do respetivo
pedido de licenciamento por parte da entidade competente.
Notas finais
O acórdão em apreço permite confirmar que a AT, no que toca ao tema em discussão, exige,
por vezes, a verificação de condições que não têm correspondência na verba 2.23 da Lista I
do Código do IVA, nomeadamente, neste caso, a existência de uma prévia apreciação e
aprovação do pedido de licenciamento de obras.
Basta observar as alegações da AT, que constam no acórdão e que anteriormente foram
resumidas (Posição da Requerida), para concluir que a mesma, baseando-se em informações
vinculativas, alude à existência de várias condições para que seja aplicável a taxa reduzida
[5 condições elencadas nas alíneas a) a e)], sendo que apenas as duas primeiras são
relativamente pacíficas (enquadramento da obra na definição de reabilitação urbana prevista
no RJRU e o imóvel, alvo de intervenção, dever localizar-se numa ARU).
Quanto à terceira condição que consta nas alegações da AT, relacionada com a comunicação
prévia e respetiva aprovação de licenciamento pelo município, é, como vimos, afastada pelo
Tribunal.
Já quanto à quarta condição, que se prende com o facto de os serviços prestados deverem
ter a natureza de empreitadas “gerais” (não abrangendo os meros fornecimentos de bens e
aquisição de materiais, nem a aquisição de outros serviços não abrangidos pelo contrato de
empreitada geral), questão esta não apreciada pelo Tribunal, importa referir que é a própria
AT que a afasta em informações vinculativas mais recentes (admitindo-se a aplicação da taxa
reduzida quando existem várias empreitadas).
Finalmente, relativamente à quinta condição, a de que a fatura deve indicar o dono da obra e
a ARU onde se localiza e que, segundo n.º 5 do art.º 36.º do CIVA, deve conter a
denominação usual dos serviços prestados (mesmo num caso em que ocorre a
autoliquidação), acaba por ser também afastada pelo Tribunal, ao admitir, baseado na
jurisprudência do TJUE, uma interpretação bastante mais flexível, no sentido de que o sujeito
passivo pode complementar a informação constante nas faturas, nomeadamente fazendo a
comprovação através de outros elementos adicionais.
Uma vez que as consequências que derivam do incumprimento dos requisitos formais dos
31
documentos é muito relevante, extravasando, aliás, em muito, o tema em apreço (estando
em causa o direito à dedução, pedra basilar em que assenta o funcionamento do IVA),
aproveita-se para citar o acórdão Barlis do TJUE, proferido no proc.º n.º C-516/14, de 15-09-
2016 (expressamente citado no acórdão em análise), onde se enfatiza à importância de
ponderar as consequências de uma violação do art.º 226.º da Diretiva IVA (que elenca as
menções que devem constar nas faturas) sobre o exercício do direito à dedução, à luz das
finalidades prosseguidas pela referida norma.
“(…) exige que a devolução deste imposto pago a montante seja concedida se os
requisitos materiais estiverem cumpridos mesmo que os sujeitos passivos tenham
negligenciado certos requisitos formais. Por conseguinte, quando a Administração
Fiscal dispõe dos dados necessários para saber se os requisitos materiais foram
cumpridos não pode impor condições suplementares ao direito do sujeito passivo
de dedução do imposto que possam ter por efeito eliminar esse direito. (…)”
E concretiza acrescentando:
“Daqui resulta que a Administração Fiscal não pode recusar o direito a dedução
do IVA pelo simples facto de a fatura não preencher os requisitos exigidos pelo
artigo 226.º, n.º 6 e 7, da Diretiva 2006/112, se dispuser de todos os dados para
verificar se os requisitos substantivos relativos a este direito se encontram
satisfeitos.”
Resta dizer, quanto à remoção do Portal das Finanças das informações vinculativas
relacionadas com a presente temática (conforme descrito na newsletter anterior), que pode
perfeitamente ter sido o acórdão agora analisado a despoletar tal iniciativa por parte da AT
(estamos a especular), não só porque a data do acórdão é consonante com o momento em
que ocorreu a referida remoção, mas, também, porque se verifica que a AT defendeu, neste
processo arbitral, baseada em informações vinculativas, argumentos que ela própria contraria
noutras informações vinculativas, algo que, manifestamente, não deve suceder,
especialmente em temas com esta relevância (daí anteriormente termos sugerido a
publicação de um Ofício Circulado que uniformizasse doutrina).
Mantemo-nos alerta quanto a eventuais acórdãos que venham a surgir sobre a presente
temática, especialmente sobre aqueles em que possa vir a estar em causa a questão de
saber se basta que o imóvel esteja situado numa ARU (Área de Reabilitação Urbana) ou se
32
é necessário também que exista, e esteja aprovada, uma ORU (Operação de Reabilitação
Urbana), sendo esta, porventura, a dúvida mais relevante que importa dissipar neste âmbito.
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