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F&M SROC

NEWSLETTER #45 outubro de 2022

SUMÁRIO
PROPOSTA DE LEI DO ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2023 - ALTERAÇÕES
EM SEDE DE IRC

VERBA 2.23 DA LISTA I DO CÓDIGO DO IVA (REABILITAÇÃO URBANA)

1. NOTAS INTRODUTÓRIAS

2. PROPOSTA DE LOE/2023 – ALTERAÇÕES EM SEDE DE IRC

3. ACÓRDÃO DO CAAD – PROC.º 137/2022T: Verba 2.23 da Lista I anexa ao


Código do IVA (Reabilitação Urbana)
1. NOTAS INTRODUTÓRIAS

O art.º 197.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), com a epígrafe “Competência


política” (inserido no Título IV – Governo, e mais concretamente no Capítulo 3 –
Competência), elenca, nas várias alíneas do seu n.º 1, as competências de que dispõe o
Governo para o exercício das suas funções políticas, figurando na alínea d) a competência
que se relaciona com a apresentação, à Assembleia da República, de propostas de Lei.

Por seu turno, dispõe o n.º 2 do art.º 106.º da CRP, que “A proposta de orçamento é
apresentada e votada nos prazos fixados na Lei (…)”.

Assim, foi apresentada, no passado dia 10 de outubro, a Proposta de Lei n.º 38/XV/1.ª,
contendo o Orçamento do Estado para 2023 (doravante, PLOE/2023), propondo-se, além do
mais, diversas alterações a nível tributário, entre as quais alterações em sede de IRC (art.os
159.º a 166.º da PLOE/2023), matéria que será objeto de análise na presente newsletter
(ponto 2).

Na próxima newsletter (#46, novembro) serão analisadas as alterações ao nível dos


Benefícios Fiscais às empresas (art.os 177.º a 179.º, incluindo os regimes extraordinários
elencados nos art.os 163.º e 164.º, todos da PLOE/2023), cumprindo destacar, a este nível,
as diversas revogações propostas (art.º 196.º).

Deste modo, ficarão por tratar, para já, as restantes propostas de alterações, nomeadamente
as muitas existentes em sede de IRS (art.os 151.º a 158.º da PLOE/2023) e de IS (art.os 168.º
a 170.º da PLOE/2023), bem como as poucas existentes ao nível IMT (art.º 175.º da
PLOE/2023), destacando-se, a propósito, a ausência de propostas de alterações nas áreas
do IVA e da Justiça Tributária (LGT, CPPT e RGIT).

Oportunamente (newsletter #48, janeiro), quando a LOE/2023 já estiver aprovada e


publicada, daremos conta das alterações não abordadas nesta fase, tal como se evidenciarão
as diferenças em relação à PLOE/2023 em matéria de IRC e Benefícios Fiscais.

Quanto à forma como se encontra estruturado o ponto 2, dedicado às propostas de alterações


em sede de IRC, começar-se-á por resumi-las, seguindo-se uma análise detalhada às
mesmas, colocando-se o art.º alterado e a respetiva epígrafe (para facilitar a contextualização
das alterações), uma referência às alterações propostas a cada uma das normas de cada
artigo (alterações, aditamentos ou revogações) e, finalmente, os comentários tidos como
pertinentes relacionados com cada uma das modificações propostas.

Apesar de se tratar de matéria totalmente diversa da anterior, e apesar de já ter sido tratada

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na newsletter anterior (#44, setembro), optou-se por dedicar o ponto 3, novamente, à “Verba
2.23 da Lista I do Código do IVA – Empreitadas de reabilitação urbana”.

Na verdade, posteriormente à elaboração e publicação da referida newsletter, detetou-se a


existência de um acórdão arbitral que se afigura relevante e que importa dar a conhecer (para
concluir, por ora, a análise do tema), estando em causa o acórdão do CAAD proferido no
proc.º 137/2022T, datado de 22-07-2022, onde se discutiu a aplicação, ou não, da taxa
reduzida do IVA de 6% numa empreitada que visou a requalificação de um edifício situado
numa Área de Reabilitação Urbana (ARU) do município de Lisboa.

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2. ALTERAÇÕES EM SEDE DE IRC

No art.º 159.º da PLOE/2023 são propostas diversas alterações ao Código do IRC, mais
concretamente aos respetivos art.os 52.º, 53.º, 54.º-A, 67.º, 71.º, 72.º, 75.º, 86.º, 86.º-B, 87.º
e 88.º, perfazendo, assim, 11 artigos alterados, alterações estas que serão analisadas em
detalhe mais adiante.

Seguidamente, o art.º 160.º da PLOE/2023 consiste numa disposição transitória que visa a
aplicação da lei no tempo no que se refere às alterações efetuadas ao art.º 52.º do Código
do IRC, ou seja, as alterações relacionadas com a dedução/reporte de prejuízos fiscais

Segue-se o art.º 161.º da PLOE/2023, o qual contempla um regime transitório de aplicação


da taxa reduzida de IRC, prevista no n.º 2 do art.º 87.º do Código do IRC (norma alterada),
em operações de reestruturação (fusões, cisões, entradas de ativos e permutas de partes
sociais), realizadas entre 01-01-2023 e 31-12-2026, desde que cumpridas algumas
condições.

Por outro lado, no art.º 162.º da PLOE/2023, consta um regime excecional no âmbito do IRC
onde se prevê a não aplicação da penalização de 10 p.p. (prevista no n.º 14 do art.º 88.º do
Código do IRC) ao nível das taxas de tributação autónoma, nos períodos de tributação de
2022 e 2023, desde que cumpridas as duas condições aí elencadas.

Acresce o disposto nos art.os 163.º e 164.º da PLOE/2023 que contêm dois regimes
extraordinários de apoio a encargos suportados com eletricidade e gás e a encargos
suportados na produção agrícola, respetivamente, assuntos que serão abordados na próxima
newsletter uma vez que estão em causa benefícios fiscais).

Por sua vez, no art.º 165.º da PLOE/2023, tal como tem vindo a suceder em anos anteriores,
procede-se à consignação ao FEFSS do valor correspondente a 2 p.p. das taxas previstas
no capítulo IV do Código do IRC (composto pelos art.os 87.º, 87.º-A e 88.º, ou seja,
compreendendo as taxas gerais, a derrama estadual e as taxas de tributação autónoma),
constando no art.º seguinte (art.º 166.º da PLOE/2023) uma proposta de consignação de
receita de IRC, suportado por sujeitos passivos com investimento estrangeiro, a programas,
projetos e ações de cooperação para o desenvolvimento, consistindo numa transferência no
valor de 20.000.000€ para o Camões, I. P..

Em suma, as propostas de alterações mais relevantes, do ponto de vista prático, em sede de


IRC, estão concentradas no respetivo Código e prendem-se com o novo regime de dedução

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de prejuízos fiscais, a que acrescem as alterações propostas ao nível das taxas, gerais e de
tributação autónoma.

Segue-se um resumo das propostas de alterações efetuadas ao Código do IRC (normas


alteradas/aditadas/revogadas), seguindo-se a ordem dos art.os no Código, bem os
comentários tecidos às mesmas.

ü Art.º 52.º - Dedução de prejuízos fiscais

- Alteração dos n.os 1, 2, 3 e 8 e revogação dos n.os 6, 10 e 12 a 14.

A proposta de alteração mais relevante está relacionada com o n.º 1, constituindo uma
alteração profunda ao regime de dedução/reporte de prejuízos fiscais, conferindo-lhe uma
maior aplicabilidade e simplicidade, ao serem eliminadas as barreiras temporais existentes
até aqui, e desde sempre, o chamado “prazo de reporte/dedução de prejuízos fiscais”.

O n.º 1, alterado, passa a dispor, simplesmente, que:

“Sem prejuízo do disposto no número seguinte, os prejuízos fiscais apurados em


determinado período de tributação, nos termos das disposições anteriores, são
deduzidos aos lucros tributáveis, havendo-os, de um ou mais dos períodos de
tributação posteriores.”

A redação da norma, atualmente vigente, dada pela Lei n.º 7-A/2016, de 30-03, é a seguinte:

“Sem prejuízo do disposto no número seguinte, os prejuízos fiscais apurados em


determinado período de tributação, nos termos das disposições anteriores, são
deduzidos aos lucros tributáveis, havendo-os, de um ou mais dos cinco períodos
de tributação posteriores, à exceção dos sujeitos passivos que exerçam,
diretamente e a título principal, uma atividade económica de natureza agrícola,
comercial ou industrial e que estejam abrangidos pelo Decreto-Lei n.º 372/2007,
de 6 de novembro, os quais podem fazê-lo em um ou mais dos doze períodos de
tributação posteriores.” [eliminação das partes sublinhadas]

Conclui-se, face às alterações propostas, que deixará de existir um prazo limite para se poder
beneficiar da dedução de prejuízos fiscais, prazo este que, até aqui, era de 12 ou 5 anos
consoante se estivesse, ou não, respetivamente, perante uma Pequena ou Média Empresa
(PME).

Acresce, que a retirada da barreira temporal à dedução/reporte de prejuízos se aplicará, não


apenas aos prejuízos fiscais gerados a partir da entrada em vigor da lei nova (em princípio,

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01-01-2023), mas, também, aos prejuízos fiscais incorridos anteriormente, desde que, à data
da entrada em vigor da lei nova, ainda estiverem a decorrer os respetivos prazos de
dedução/reporte.

Com efeito, segundo o art.º 160.º da PLOE/2023:

“O disposto nos n.ºs 1 e 2 do artigo 52.º e na alínea a) do n.º 2 do artigo 53.º


Código do IRC, na redação dada pela presente lei, não prejudica a aplicação do
n.º 2 do artigo 11.º da Lei n.º 27-A/2020, de 24 de julho, e é aplicável à dedução
aos lucros tributáveis dos períodos de tributação que se iniciem em ou após 1 de
janeiro de 2023, bem como aos prejuízos fiscais apurados em períodos de
tributação anteriores a 1 de janeiro de 2023, cujo período de dedução ainda se
encontre em curso na data da entrada em vigor da presente lei.” [sublinhado
nosso]

Relativamente à referência à Lei n.º 27-A/2020 (parte não sublinhada na citação supra
reproduzida), cumpre recordar que a mesma estabeleceu medidas extraordinárias de apoio
no âmbito do combate à pandemia, contendo, entre outras, no respetivo art.º 11, um “Regime
especial de dedução de prejuízos fiscais” (ficando apenas ressalvados os efeitos do respetivo
n.º 2, que se mantém em vigor), segundo o qual:

“1 - Os prejuízos fiscais apurados nos períodos de tributação de 2020 e 2021 por


sujeitos passivos que exerçam, diretamente e a título principal, uma atividade
económica de natureza agrícola, comercial ou industrial, são deduzidos aos lucros
tributáveis, nos termos e condições estabelecidos no artigo 52.º do Código do
Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas, aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 442-B/88, de 30 de novembro (Código do IRC), de um ou mais dos 12 períodos
de tributação posteriores, independentemente de os sujeitos passivos estarem ou
não abrangidos pelo Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de novembro, que cria a
certificação eletrónica do estatuto de micro, pequena e média empresas (PME).

2 - O limite à dedução previsto no n.º 2 do artigo 52.º do Código do IRC é elevado


em 10 pontos percentuais, quando a diferença resulte da dedução de prejuízos
fiscais apurados nos períodos de tributação de 2020 e 2021.

3 - A contagem do prazo de reporte de prejuízos fiscais previsto no n.º 1 do artigo


52.º do Código do IRC, aplicável aos prejuízos fiscais vigentes no primeiro dia do
período de tributação de 2020, fica suspensa durante esse período de tributação
e o seguinte.”

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Quanto ao disposto no n.º 2, supratranscrito, norma expressamente visada no art.º 160.º da
PLOE/2023, fica assegurada a sua manutenção, na medida em que se estipula que as
alterações propostas ao art.º 52.º do CIRC não prejudicam a sua aplicação, mantendo-se,
portanto, a elevação em 10 p.p. do limite de dedução anual de prejuízos fiscais, limite que,
em regra, pelo menos até 2022, é de 70% do lucro tributável (este limite baixará para 65%,
conforme explanado mais adiante).

Referindo a Lei que a majoração é aplicada “(…) quando a diferença resulte da dedução de
prejuízos fiscais apurados nos períodos de tributação de 2020 e 2021.”, parece admitir-se a
dedução faseada dos prejuízos fiscais incorridos nestes anos, de modo a beneficiar durante
mais tempo da majoração (dedução de uma importância correspondente a 10% da matéria
coletável em cada ano…), procedimento este que, a nosso ver, é bastante discutível, sendo
que, caso se pretendesse evitar tal comportamento, sem que existisse qualquer margem para
dúvidas, deveria ser ponderado o regresso da regra “FIFO” (first in first out) (1).

Já quanto aos n.os 1 e 3 do art.º 11.º da Lei n.º 27-A/2020, são expressamente revogados
pela alínea a) do art.º 196.º da PLOE/2023.

Depreende-se, tendo em conta que o prazo de reporte dos prejuízos fiscais gerados em 2020
e 2021, para qualquer tipo de empresa, ainda se encontra em curso em 01-01-2023, que o
disposto no n.º 1 (prazo de reporte de 12 períodos, independentemente do tipo de empresa)
perderá qualquer utilidade prática face à aplicação da nova redação do n.º 1 do art.º 52.º do
Código do IRC, uma vez que o prazo de reporte de prejuízos fiscais, que passa a ser ilimitado,
aplica-se a prejuízos gerados em períodos anteriores e é aplicável de modo universal (PME
e não PME), daí que se compreenda a revogação.

Relativamente ao n.º 3, igualmente revogado, trata-se também de uma disposição que, à


partida, deixou de fazer sentido face ao novo regime instituído, uma vez que os prejuízos
fiscais mais antigos cuja dedução é ainda possível em 2023 (e que, como tal, beneficiam do
novo regime), respeitam a 2014, sendo dedutíveis, à luz do regime-regra atualmente vigente,
até 2026, mesmo que não se aplique a suspensão aí prevista (com a suspensão o prazo
terminaria em 2028, conforme quadro apresentado mais adiante).

Ainda assim, apesar da revogação e do novo regime proposto pela PLOE/2023, afigura-se
que há pelo menos um caso em que a aplicação do n.º 3 da Lei n.º 27-A/2020 (suspensão da

(1) A Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro revogou o n.º 15 do art.º 52.º do Código do IRC, cuja redação havia sido
dada pela Lei da Reforma do IRC (Redação da Lei n.º 2/2014, de 16 de janeiro), norma segundo a qual: “Para
efeitos do n.º 1, devem ser deduzidos em 1.º lugar os prejuízos fiscais apurados há mais tempo.”.

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contagem do prazo de reporte de prejuízos fiscais em 2020 e 2021) pode ainda ser
importante, nomeadamente no caso de prejuízos fiscais gerados em 2017 por empresas que
não sejam PME, cujo prazo de reporte terminaria em 2022 caso não fosse aplicada a
suspensão.

Ainda assim, o nosso entendimento, salvo melhor opinião, é que a norma em causa, no
momento em que a revogação opere, já terá produzido os respetivos efeitos suspensivos,
não se revelando necessária a sua manutenção em vigor, mesmo no caso anteriormente
referido.

Com efeito, entende-se que os prejuízos gerados em 2017 por empresas não PME
beneficiaram da suspensão da contagem do prazo de reporte em 2020 e 2021, em função da
lei atualmente ainda vigente, logo, o respetivo prazo de reporte apenas termina em 2024 e,
como tal, o prazo de dedução está em curso em 01-01-2023, significando que passam a
beneficiar do novo regime, isto é, da possibilidade de virem a ser deduzidos num prazo
ilimitado.

Para concluir a análise da proposta de alteração efetuada ao n.º 1 do art.º 52.º, resta dizer
que o regime instituído com a Lei n.º 27-A/2020, apesar de ter sido criado com a melhor das
intenções, acabou por constituir mais um elemento de complexidade no regime de
dedução/reporte de prejuízos fiscais, algo que se desvanece com as presentes alterações
legislativas (eliminação do prazo de reporte).

Quanto ao impacto da alteração em apreço, caso venha a constar na LOE/2023, bastará


lembrar que nos poderemos vir a libertar da tabela que se apresenta em seguida (retirada de
um artigo publicado a 11-03-2022 na revista Vida Económica, da autoria de Daniela Cunha,
consultora da OCC):

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Naturalmente que o novo regime instituído, incluindo a disposição transitória constante na
PLOE/2023 (art.º 160.º), beneficia muitíssimo os sujeitos passivos com elevados prejuízos
fiscais “em carteira”, parte deles com alguma antiguidade (podendo ocorrer a caducidade do
exercício do direito ao reporte/dedução), pese embora, naturalmente, o benefício se estenda
a todos, nomeadamente às empresas que incorreram em elevados prejuízos em tempos de
pandemia, bem como àquelas que, atualmente, enfrentam os elevadíssimos custos da
energia.

Prosseguindo com a análise das alterações propostas ao art.º 52.º do Código do IRC, segue-
se a alteração do n.º 2.

A redação da norma, atualmente vigente, é a seguinte:

“A dedução a efetuar em cada um dos períodos de tributação não pode exceder o


montante correspondente a 70 % do respetivo lucro tributável, não ficando, porém,
prejudicada a dedução da parte desses prejuízos que não tenham sido deduzidos,
nas mesmas condições e até ao final do respetivo período de dedução.” [alteração
das partes sublinhadas]

De acordo com a PLOE/2023, a redação passará a ser a seguinte:

“A dedução a efetuar em cada um dos períodos de tributação não pode exceder o


montante correspondente a 65 % do respetivo lucro tributável, não ficando, porém,
prejudicada a dedução da parte desses prejuízos que não tenham sido deduzidos,
nas mesmas condições, nos períodos de tributação posteriores.” [alteração das
partes sublinhadas]

Começando pelo fim, a alteração em causa está relacionada com a anteriormente comentada
(alteração do n.º 1), na medida em que, tendo deixado de existir um prazo de reporte/dedução
de prejuízos fiscais, deixou de fazer sentido aludir-se a “períodos de dedução”.

Quanto à primeira alteração, em que a percentagem baixa de 70% para 65%, é caso para
dizer, articulando com a alteração anterior (n.º 1), que o legislador “dá com uma mão e tira
com a outra” (2).

Na prática, após a dedução dos prejuízos fiscais de anos anteriores, a Matéria Coletável terá
de passar corresponder, no mínimo, a 35% do Lucro Tributável (quando até aqui era 30%), o
que se materializa num agravamento da tributação (aumento da base tributável) ou, talvez

(2) Recorde-se que aquele limite será de 75% e não de 65% quando a diferença resulte da dedução de prejuízos
fiscais apurados nos períodos de tributação de 2020 e 2021.

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mais apropriadamente, face ao novo regime instituído (prazo ilimitado de reporte), numa
antecipação da tributação (ao deduzir-se menos, deduz-se durante mais tempo).

Quanto à alteração ao n.º 3 do art.º 52.º, está também relacionada com a adaptação da letra
da lei face ao novo regime de dedução previsto n.º 1, deixando de fazer sentido aludir-se a
um período de dedução (prazo de reporte).

Até aqui a norma em causa dispunha que:

“Nos períodos de tributação em que tiver lugar o apuramento do lucro tributável


com base em métodos indiretos, os prejuízos fiscais não são dedutíveis, ainda
que se encontrem dentro do período referido no n.º 1, não ficando, porém,
prejudicada a dedução, dentro daquele período, dos prejuízos que não tenham
sido anteriormente deduzidos.” [foi suprimida a primeira parte sublinhada e
alterada a 2.ª parte sublinhada]

Segundo a PLOE/2023, a redação passará a ser a seguinte:

“Nos períodos de tributação em que tiver lugar o apuramento do lucro tributável


com base em métodos indiretos, os prejuízos fiscais não são dedutíveis, não
ficando, porém, prejudicada a dedução nos períodos de tributação posteriores.”
[alteração da parte sublinhada]

Finalmente, quanto a propostas de alterações ao art.º 52.º (as revogações serão analisadas
em seguida), temos o n.º 8, cujas modificações têm uma natureza diferente.

A redação atualmente vigente é a seguinte:

“O previsto no n.º 1 deixa de ser aplicável quando se verificar, à data do termo do


período de tributação em que é efetuada a dedução, que, em relação àquele a
que respeitam os prejuízos, se verificou a alteração da titularidade de mais de 50
% do capital social ou da maioria dos direitos de voto.”

Por sua vez, a redação proposta é a seguinte:

“O previsto no n.º 1 deixa de ser aplicável quando se verificar, à data do termo do


período de tributação em que é efetuada a dedução, que, em relação àquele a
que respeitam os prejuízos, se verificou a alteração da titularidade de mais de 50
% do capital social ou da maioria dos direitos de voto, exceto quando se conclua
que a operação não teve como principal objetivo ou como um dos principais
objetivos a evasão fiscal, o que pode considerar-se verificado, nomeadamente,

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nos casos em que a operação tenha sido realizada por razões económicas
válidas.”

A este propósito, alerta-se para a proposta de revogação do n.º 12 do referido art.º, à luz do
qual:

“O membro do Governo responsável pela área das finanças pode autorizar, em


casos de reconhecido interesse económico e mediante requerimento a apresentar
à Autoridade Tributária e Aduaneira, que não seja aplicada a limitação prevista no
n.º 8.”

Verifica-se que a limitação constante no n.º 8 (a única, deste tipo, que restou após as
alterações/revogações processadas no âmbito da Reforma do IRC), não será aplicável se a
alteração da titularidade do capital não tiver como principal finalidade a “evasão fiscal”, mas
sim “razões económicas válidas”, estando em causa a eliminação de mais uma restrição à
dedutibilidade dos prejuízos fiscais nestes casos (apesar do elevado grau de indeterminação
dos conceitos utilizados na lei).

Em qualquer dos casos, cumpre salientar que a referida restrição à dedução/reporte de


prejuízos fiscais – quando existe uma substancial alteração da titularidade do capital social
(superior a 50%) – continua a não ser aplicável quando se verifique qualquer uma das
situações elencadas nas (5) alíneas do n.º 9 (inalterado), exclusões estas que foram aditadas
pela Lei da Reforma do IRC.

Reitera-se que, apesar de deixar de estar dependente de uma autorização administrativa,


pois deixa de ser necessário apresentar requerimento (3), e obter autorização prévia, em
casos de “reconhecido interesse económico”, para não ser aplicável a limitação prevista no
n.º 8, continua a ser necessária a demonstração da existência de “razões económicas
válidas”, face à nova redação dada a esta norma, caso a AT venha a questionar a dedução
(tendo existido, obviamente, a alteração relevante na titularidade do capital num período
ulterior àquele em que os prejuízos fiscais foram gerados).

Aquela expressão (“razões económicas válidas”) figura também, nomeadamente, no regime


especial aplicável às fusões, cisões, entradas de ativos e permutas de partes sociais (n.º 10
do art.º 73.º do Código do IRC).

(3) Perdendo assim utilidade o preceituado na Circular n.º 8/2012, da DSIRC, que elencava os elementos a conter
no referido requerimento.

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Resta apenas aludir às várias propostas de revogações ao art.º 52.º, estando em causa a
revogação dos n.os 6, 10 e 13 a 14, sendo que, sem qualquer dúvida, a melhor forma de se
percecionar cabalmente as alterações é através da leitura das normas.

Começando pelo n.º 6, a redação atualmente vigente é a seguinte:

O período mencionado na alínea d) do n.º 4 do artigo 8.º, quando inferior a seis


meses, não conta para efeitos da limitação temporal estabelecida no n.º 1.

Dir-se-á apenas que a norma supratranscrita deixou de fazer sentido face à inexistência de
qualquer limitação temporal ao reporte de prejuízos fiscais a partir de 2023.

Quanto à revogação dos n.os 10 e 13 a 14, estão todas relacionadas com a já referida
revogação do n.º 12, deixando de ser necessário apresentar requerimento, invocando-se
razões de “reconhecido interesse económico”, com vista à obtenção de autorização, para que
não seja aplicável a limitação prevista no n.º 8 (agora alterado e anteriormente comentado).

A redação das normas revogadas é a seguinte:

10 - O disposto nas alíneas d) e e) do número anterior não dispensa a autorização


a que se refere o n.º 12 relativamente à parte dos prejuízos fiscais respeitantes ao
período de tributação em que o adquirente tenha passado a deter, direta ou
indiretamente, mais de 20 % do capital social ou da maioria dos direitos de voto
ou tenha iniciado funções na sociedade, respetivamente, bem como aos períodos
anteriores àquele.

13 - Os elementos que devem instruir o requerimento de pedido de autorização


previsto no número anterior, a apresentar pela sociedade no prazo de 30 dias a
contar da data da ocorrência da alteração referida no n.º 8, são definidos por
portaria do membro do Governo responsável pela área das finanças.

14 - Sempre que estejam em causa prejuízos fiscais relativos ao período


imediatamente anterior ao da ocorrência de alguma das alterações previstas no
n.º 8 e esta ocorra antes do termo do prazo de entrega da respetiva declaração
de rendimentos, o requerimento referido no n.º 12 pode ser apresentado no prazo
de 30 dias contados do termo do prazo de entrega dessa declaração.”

ü Art.º 53.º - Determinação do rendimento global

- Alteração da alínea a) do n.º 2.

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Esta alteração está relacionada com a alteração ao n.º 1 do art.º 52.º, anteriormente
comentada, na medida em que, agora no tocante a entidades sem fins lucrativos, deixa de
existir um prazo de dedução de prejuízos fiscais apurados no âmbito do exercício (acessório)
de “atividades empresariais”, prazo este que, de acordo com a redação atualmente vigente,
é de 5 períodos.

A alteração em causa pode ser visualizada no seguinte quadro:

Redação atual Nova redação


2 - Para efeitos de determinação do 2 - Para efeitos de determinação do
rendimento global: rendimento global:
a) Os prejuízos fiscais apurados a) Os prejuízos fiscais apurados
relativamente ao exercício de atividades relativamente ao exercício de atividades
comerciais, industriais ou agrícolas só comerciais, industriais ou agrícolas só
podem ser deduzidos, nos termos e podem ser deduzidos, nos termos e
condições da parte aplicável do artigo condições da parte aplicável do artigo
52.º, aos rendimentos da mesma 52.º, aos rendimentos da mesma
categoria num ou mais dos cinco categoria num ou mais dos períodos de
períodos de tributação posteriores; tributação posteriores

Salienta-se que, neste caso, se aplica também a norma transitória constante no art.º 160.º da
PLOE/2023 (anteriormente transcrito), isto é, a lei nova aplica-se também aos prejuízos
fiscais gerados antes da sua entrada em vigor, desde que, nessa data, esteja ainda a decorrer
o respetivo prazo de reporte/dedução (5 períodos seguintes).

ü Art.º 54.º-A - Lucros e prejuízos de estabelecimento estável situado fora do


território nacional

- Alteração dos n.os 4 e 5 e das alíneas a) e b) do n.º 9.

Tendo em conta que se trata de alterações, cuja explicação se afigura ininteligível sem um
breve enquadramento prévio, começar-se-á por contextualizar o artigo alterado.

O art.º 54.º-A foi aditado ao Código do IRC no âmbito da Reforma do IRC, passando a
permitir-se que, mediante opção nesse sentido, e desde que verificadas determinadas
condições, os lucros tributáveis e prejuízos fiscais, imputáveis a estabelecimentos estáveis
situados fora do território português, não concorram para a determinação do lucro tributável
(dedução ou acréscimo, respetivamente, no quadro 07 da DR22).

Ao tempo, tratou-se de uma alteração totalmente inovadora, na medida em que, aplicando-


se o regime-regra (ou seja, não se aplicando o regime de opção), sendo um estabelecimento

13
estável situado no estrangeiro uma extensão da empresa portuguesa (sem personalidade
jurídica autónoma), os seus rendimentos (e gastos) estarão integrados no Resultado Líquido
do Período (RLP) da empresa portuguesa, logo, se nada for feito, influenciarão o valor do
Lucro Tributável, para mais (em caso de um resultado positivo) ou para menos (em caso de
resultado negativo).

E tal sucede porque, desde logo, as empresas residentes em Portugal devem ser tributadas
por todos os seus rendimentos, ainda que obtidos do estrangeiro (e, acrescenta-se, ainda
que imputáveis a um estabelecimento estável aí situado, e aí tributado…), ao abrigo do
princípio da universalidade previsto no n.º 1 do art.º 4.º do Código do IRC, sem prejuízo do
direito ao crédito de imposto por dupla tributação jurídica internacional (art.º 91.º do Código
do IRC).

E tal sucede, acrescenta-se, ainda que se aplique uma Convenção para evitar a Dupla
Tributação (CDT), na medida em que a competência para tributar os rendimentos imputáveis
a um estabelecimento estável é atribuída (“podem”) ao Estado da fonte, mas não de modo
exclusivo, conforme se retira do disposto na 2.ª parte do n.º 1 do art.º 7.º da CDT modelo
OCDE e da generalidade das CDT celebradas por Portugal.

Pois bem, a disposição em apreço, aplicável mediante opção, permite expurgar da base
tributável do IRC os lucros ou prejuízos imputáveis a estabelecimento estável situado no
estrangeiro (daí anteriormente se ter aludido a deduções ou acréscimos no quadro 07 da
DR22), o que configura um regime de isenção (caso se esteja perante lucros tributáveis),
permitindo-se, assim, que a tributação se processe apenas de acordo com as regras vigentes
no Estado da fonte (naturalmente que se perde o direito ao crédito de imposto).

Para se ter uma melhor perceção das alterações propostas às normas supra elencadas (todas
elas com uma natureza antiabuso), alterações essas que são relativamente idênticas (se bem
que aplicáveis a situações diferenciadas), é importante confrontar a redação atualmente
vigente com a nova redação proposta, conforme consta no quadro que seguidamente se
apresenta:

Redação atual Nova redação


4 - O disposto no n.º 1 não é aplicável aos 4 - O disposto no n.º 1 não é aplicável aos
lucros imputáveis ao estabelecimento lucros imputáveis ao estabelecimento
estável, incluindo os derivados da estável, incluindo os derivados da
alienação ou da afetação a outros fins dos alienação ou da afetação a outros fins dos
ativos afetos a esse estabelecimento, até ativos afetos a esse estabelecimento, até
ao montante dos prejuízos imputáveis ao

14
ao montante dos prejuízos imputáveis ao estabelecimento estável que
estabelecimento estável que concorreram para a determinação do
concorreram para a determinação do lucro tributável do sujeito passivo nos
lucro tributável do sujeito passivo nos doze períodos de tributação anteriores.
cinco períodos de tributação anteriores
ou nos 12 períodos de tributação
anteriores, no caso de sujeitos passivos
abrangidos pelo Decreto-Lei n.º
372/2007, de 6 de novembro.
5 - Em caso de transformação do 5 - Em caso de transformação do
estabelecimento estável em sociedade, o estabelecimento estável em sociedade, o
disposto nos artigos 51.º e 51.º-C e no n.º disposto nos artigos 51.º e 51.º-C e no n.º
3 do artigo 81.º não é aplicável aos lucros 3 do artigo 81.º não é aplicável aos lucros
e reservas distribuídos ao sujeito passivo e reservas distribuídos ao sujeito passivo
por esta sociedade, nem às mais-valias por esta sociedade, nem às mais-valias
decorrentes da transmissão onerosa das decorrentes da transmissão onerosa das
partes de capital ou da liquidação dessa partes de capital ou da liquidação dessa
sociedade, até ao montante dos prejuízos sociedade, até ao montante dos prejuízos
imputáveis ao estabelecimento estável imputáveis ao estabelecimento estável
que concorreram para a determinação do que concorreram para a determinação do
lucro tributável do sujeito passivo nos lucro tributável do sujeito passivo nos
cinco períodos de tributação anteriores, doze períodos de tributação anteriores.
ou nos 12 períodos de tributação
anteriores no caso de sujeitos passivos
abrangidos pelo Decreto-Lei n.º
372/2007, de 6 de novembro.
9 - No caso de aos lucros e prejuízos 9 - No caso de aos lucros e prejuízos
imputáveis a estabelecimento estável imputáveis a estabelecimento estável
situado fora do território português deixar situado fora do território português deixar
de ser aplicável o disposto no n.º 1: de ser aplicável o disposto no n.º 1:
a) Não concorrem para a determinação a) Não concorrem para a determinação
do lucro tributável do sujeito passivo os do lucro tributável do sujeito passivo os
prejuízos imputáveis ao estabelecimento prejuízos imputáveis ao estabelecimento
estável, incluindo os derivados da estável, incluindo os derivados da
alienação ou da afetação a outros fins dos alienação ou da afetação a outros fins dos
ativos afetos a esse estabelecimento, até ativos afetos a esse estabelecimento, até
ao montante dos lucros imputáveis ao ao montante dos lucros imputáveis ao
estabelecimento estável que não estabelecimento estável que não
concorreram para a determinação do concorreram para a determinação do
lucro tributável do sujeito passivo nos lucro tributável do sujeito passivo nos
cinco períodos de tributação anteriores, doze períodos de tributação anteriores;
ou nos 12 períodos de tributação
anteriores no caso de sujeitos passivos

15
abrangidos pelo Decreto-Lei n.º
372/2007, de 6 de novembro, nos termos
previstos no n.º 1;
b) Em caso de transformação do b) Em caso de transformação do
estabelecimento estável em sociedade, estabelecimento estável em sociedade,
não é aplicável o disposto nos artigos 51.º não é aplicável o disposto nos artigos 51.º
e 51.º-C e no n.º 3 do artigo 81.º aos e 51.º-C e no n.º 3 do artigo 81.º aos
lucros e reservas distribuídos, nem às lucros e reservas distribuídos, nem às
mais-valias decorrentes da transmissão mais-valias decorrentes da transmissão
onerosa das partes de capital e da onerosa das partes de capital e da
liquidação dessa sociedade, liquidação dessa sociedade,
respetivamente, até ao montante dos respetivamente, até ao montante dos
lucros imputáveis ao estabelecimento lucros imputáveis ao estabelecimento
estável que não concorreram para a estável que não concorreram para a
determinação do lucro tributável do determinação do lucro tributável do
sujeito passivo nos cinco períodos de sujeito passivo nos doze períodos de
tributação anteriores, ou nos 12 períodos tributação anteriores.
de tributação anteriores no caso de
sujeitos passivos abrangidos pelo
Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de
novembro, nos termos previstos no n.º 1.

Constata-se que as alterações, ao nível da letra da lei, são muito similares, deixando de
existir, em qualquer dos casos, diferenciação ao nível do n.º de períodos de tributação, ou
seja, nas quatro normas alteradas passa a ter-se como referência 12 períodos de tributação,
quando de acordo com a redação atualmente vigente se alude a 5 ou 12 períodos, consoante
o tipo de sociedade.

No entanto, tal como anteriormente referido, as normas alteradas visam situações diversas,
passando a explicitar-se, resumidamente, o respetivo âmbito de aplicação.

Quanto ao n.º 4, refere-se à não aplicação da isenção (no período de início de vigência da
opção e seguintes), total ou parcialmente, quando o sujeito passivo tenha beneficiado da
dedução de prejuízos imputáveis ao estabelecimento estável nos últimos 12 períodos de
tributação, isto de acordo com a nova redação, deixando, como tal, de existir diferenciação,
5 ou 12 períodos, consoante o tipo de sociedade (nos termos da lei, não se aplica a isenção
“(…) até ao montante dos prejuízos imputáveis ao estabelecimento estável que concorreram
para a determinação do lucro tributável do sujeito passivo nos 12 períodos de tributação
anteriores.”).

16
Relativamente ao n.º 5, aplicável no caso de transformação de um estabelecimento estável
em sociedade, prende-se com a não aplicação das disposições aí mencionadas (que
consagram regimes de isenção), total ou parcialmente, caso o sujeito passivo tenha usufruído
da dedução de prejuízos fiscais nos últimos 12 períodos, deixando, uma vez mais, de existir
diferenciação, 5 ou 12 períodos, consoante o tipo de sociedade (nos termos da lei, de modo
idêntico ao explanado anteriormente, não se aplicam os regimes de isenção “(…) até ao
montante dos prejuízos imputáveis ao estabelecimento estável que concorreram para a
determinação do lucro tributável do sujeito passivo nos doze períodos de tributação
anteriores.”)

Já quanto à alínea a) do n.º 9, está relacionada com o fim do período de aplicação do regime
de isenção, caso em que não se beneficiará da dedução de prejuízos fiscais (no período da
alteração da opção e seguintes) “(…) até ao montante dos lucros imputáveis ao
estabelecimento estável que não concorreram para a determinação do lucro tributável do
sujeito passivo nos doze períodos de tributação anteriores.”, deixando, também aqui, de
existir diferenciação, 5 ou 12 períodos, consoante o tipo de sociedade.

No caso da alínea b) do n.º 9, visa, tal como o n.º 5, a transformação de estabelecimento


estável em sociedade, inviabilizando-se a aplicação dos regimes de isenção aí previstos “(…)
até ao montante dos lucros imputáveis ao estabelecimento estável que não concorreram para
a determinação do lucro tributável do sujeito passivo nos doze períodos de tributação
anteriores.”, deixando, também aqui, e uma vez mais, de existir diferenciação, 5 ou 12
períodos, consoante o tipo de sociedade.

Apesar da evidente complexidade, percebe-se a razão de ser das normas antiabuso alteradas
[passando a referir-nos apenas ao n.º 4 e n.º 9 alínea a)]: pretende-se evitar que o sujeito
passivo beneficie da não tributação dos lucros (formulando a opção) sempre que tenha
beneficiado da dedução de prejuízos fiscais em períodos anteriores, quando não vigorava a
opção (n.º 4), bem como que o sujeito passivo venha a beneficiar da dedução de prejuízos
(interrompendo a opção) quando tenha beneficiado anteriormente da não tributação dos
lucros, quando vigorava a opção [n.º 9, alínea a)].

ü Art.º 67.º - Limitação à dedutibilidade de gastos de financiamento

- Alteração do n.º 8.

Está em causa o regime que visa combater o endividamento excessivo, ao limitar a


dedutibilidade dos gastos de financiamento líquidos (essencialmente, os gastos com juros),

17
limite que, note-se, apenas se aplica quando, nos termos do disposto no n.º 1, se encontre
ultrapassado o maior dos seguintes limites:

a) 1.000.000€; ou

b) 30% do EBITDA

Por outras palavras, nos temos da lei, apenas são aceites os gastos “até ao maior” dos limites,
o que significa que, tal como referido anteriormente, não é aceite fiscalmente o excesso.

Como é bom de ver, a norma em apreço apenas se aplica quando as empresas tenham
gastos de financiamento líquidos superiores a 1.000.000€, o que afasta da sua aplicação a
grande maioria do tecido empresarial português (apesar de se perspetivar um aumento deste
tipo de gastos, logo, um eventual aumento do universo de sujeitos passivos abrangidos pelo
regime, com o aumento das taxas de juro que se verifica atualmente).

Para que se compreenda a alteração efetuada ao n.º 8, importa sublinhar que o regime
instituído, de acordo com o n.º 2, permite deduzir o excesso (parte acrescida) nos períodos
seguintes (diferimento) caso exista “folga” (margem) para tal, bem como permite, de acordo
com o n.º 3, criar uma “folga” quando o limite não é atingido, que pode ser utilizada no período
seguinte, aumentando o respetivo limite.

A alteração legislativa consiste no seguinte:

Redação atual Nova redação


8 - O previsto nos n.ºs 2 e 3 deixa de ser 8 - O previsto nos n.ºs 2 e 3 deixa de ser
aplicável quando se verificar, à data do aplicável quando se verificar, à data do
termo do período de tributação em que é termo do período de tributação em que é
efetuada a dedução ou acrescido o limite, efetuada a dedução ou acrescido o limite,
que, em relação àquele a que respeitam que, em relação àquele a que respeitam
os gastos de financiamento líquidos ou a os gastos de financiamento líquidos ou a
parte do limite não utilizada, se verificou a parte do limite não utilizada, se verificou a
alteração da titularidade de mais de 50% alteração da titularidade de mais de 50 %
do capital social ou da maioria dos do capital social ou da maioria dos
direitos de voto do sujeito passivo, salvo direitos de voto do sujeito passivo, salvo
no caso de ser aplicável o disposto no n.º no caso de ser aplicável o disposto no n.º
9 do artigo 52.º ou de ser obtida 9 do artigo 52.º ou quando se conclua que
autorização do membro do Governo a operação não teve como principal
responsável pela área das finanças em objetivo ou como um dos principais
caso de reconhecido interesse objetivos a evasão fiscal, o que pode
económico, mediante requerimento a considerar-se verificado, nomeadamente,
apresentar na Autoridade Tributária e

18
Aduaneira, nos prazos previstos nos n.ºs nos casos em que a operação tenha sido
13 e 14 do artigo 52.º, consoante os realizada por razões económicas válidas.
casos.

Verifica-se que as possibilidades de diferimento do excesso a reportar e consideração do


crédito (“folga”) e respetivo reporte, não se aplicam (são vedadas), nos casos em que existe
uma alteração de mais de 50% da titularidade do capital social, salvo se se verificar qualquer
uma das condições previstas no n.º 9 do art.º 52.º (parte inalterada), alterando-se agora a
segunda ressalva, que se prende, agora, com a alteração na titularidade não ter como
motivação principal a evasão fiscal, designadamente porque tem subjacentes “razões
económicas válidas”, sem que se aluda a “requerimento” e a “autorização”.

Na prática, enquanto atualmente, para não se aplicável a limitação, tem de ser apresentado
requerimento, tendo em vista a obtenção de autorização, com a presente alteração passa
apenas a ter de ser feita essa demonstração, caso a mesma venha a ser solicitada,
ocorrendo, portanto, uma eliminação da burocracia, o que, uma vez mais, se afigura ser
benéfico, não apenas para os sujeitos passivos, como também para a AT.

Esta proposta de alteração está em total sintonia com as alterações aos n.os 8, 10 e 12 a 14
do art.º 52.º do Código do IRC (anteriormente comentadas), relativas à limitação da dedução
de prejuízos fiscais quando exista uma alteração relevante da titularidade do capital social
(situação análoga à presente), a qual foi também “desburocratizada”, remetendo-se para os
comentários aí proferidos.

ü Art.º 71.º - Regime específico de dedução de prejuízos fiscais

- Alteração dos n.os 3 e 4 e aditamento do n.º 7.

Este artigo insere-se no capítulo do Código do IRC dedicado à regulamentação do Regime


Especial de tributação dos Grupos de Sociedades (RETGS), alterando-se, no sentido da
simplificação, as regras que conferem a possibilidade de continuar a reportar de prejuízos
fiscais quando há alterações ao nível da sociedade dominante.

Redação atual Nova redação


3 - Quando a nova sociedade dominante 3 - Quando a nova sociedade dominante
opte pela continuidade da aplicação do opte pela continuidade da aplicação do
regime especial de tributação dos grupos regime especial de tributação dos grupos
nos termos do n.º 10 do artigo 69.º, os nos termos do n.º 10 do artigo 69.º, os
prejuízos fiscais do grupo verificados prejuízos fiscais do grupo verificados

19
durante os períodos de tributação durante os períodos de tributação
anteriores em que o regime se aplicou anteriores em que o regime se aplicou
podem, em casos de reconhecido podem ser dedutíveis ao lucro tributável
interesse económico e mediante do novo grupo.
requerimento a apresentar à Autoridade
Tributária e Aduaneira com aquela
comunicação, ser dedutíveis ao lucro
tributável do novo grupo, desde que seja
obtida autorização do membro do
Governo responsável pela área das
finanças.
4 - No caso em que a sociedade 4 - No caso em que a sociedade
dominante de um grupo de sociedades dominante de um grupo de sociedades
(nova sociedade dominante) adquire o (nova sociedade dominante) adquire o
domínio de uma sociedade dominante de domínio de uma sociedade dominante de
um outro grupo de sociedades (anterior um outro grupo de sociedades (anterior
sociedade dominante) e a nova sociedade dominante) e a nova
sociedade dominante opte pela sociedade dominante opte pela
continuidade da aplicação do regime continuidade da aplicação do regime
especial de tributação dos grupos nos especial de tributação dos grupos nos
termos do n.º 10 do artigo 69.º, as quotas- termos do n.º 10 do artigo 69.º, as quotas-
partes dos prejuízos fiscais do grupo partes dos prejuízos fiscais do grupo
imputáveis às sociedades do grupo da imputáveis às sociedades do grupo da
nova sociedade dominante e que nova sociedade dominante e que
integrem o grupo da anterior sociedade integrem o grupo da anterior sociedade
dominante são dedutíveis nos termos da dominante são dedutíveis nos termos da
alínea a) do n.º 1, desde que, em casos alínea a) do n.º 1.
de reconhecido interesse económico e
mediante requerimento a apresentar à
Autoridade Tributária e Aduaneira com
aquela comunicação, seja obtida
autorização do membro do Governo
responsável pela área das finanças.
7 - O previsto nos n.ºs 3, 4 e 5 não é
aplicável quando se conclua que a
operação teve como principal objetivo ou
como um dos principais objetivos a
evasão fiscal, o que pode considerar-se
verificado, nomeadamente, nos casos em
que a operação não tenha sido realizada
por razões económicas válidas.

20
Em suma, deixa de ser necessário apresentar “requerimento” e obter “autorização” para
manter o direito à dedução dos prejuízos fiscais quando há alteração da sociedade
dominante, alterações estas que estão em linha com as processadas aos n.os 8, 10 e 12 a
14.º do art.º 52.º e ao n.º 8 do art.º 67.º, já anteriormente comentadas, todas elas visando a
simplificação de procedimentos.

Continua a exigir-se, face ao aditamento do n.º 7, tal como nos casos anteriores, que a
operação em causa não vise principalmente a “evasão fiscal” e que tenha subjacentes “razões
económicas válidas”.

ü Art.º 72.º - Regime aplicável

- Alteração do n.º 3.

O art.º em referência estabelece um regime de neutralidade fiscal aplicável nos casos em que
ocorre uma transformação de sociedades (transformação do tipo societário, por exemplo a
transformação de uma sociedade por quotas em sociedade anónima, tal como regulado no
art.º 130.º e seguintes do Código das Sociedades Comerciais), ao determinar-se, no n.º 1,
que a transformação de sociedades, mesmo quando ocorra dissolução da anterior, não
implica alteração do regime fiscal que vinha sendo aplicado, nem determina, por si só,
quaisquer consequências em matéria de IRC.

No caso em apreço, estando em causa o n.º 3, pretende-se abarcar na neutralidade o reporte


de prejuízos fiscais, consistindo a alteração em deixar de se aludir a “período” (de reporte),
tendo em conta que, fruto da alteração proposta ao n.º 1 do art.º 52.º, deixa de existir prazo
para poder deduzir/reportar prejuízos fiscais.

A alteração acima, pode facilmente ser percecionada com a observação do quadro seguinte,
onde consta a redação atual e a nova redação (proposta):

Redação atual Nova redação


3 - Para efeitos do disposto no número 3 - Para efeitos do disposto no número
anterior, no exercício em que ocorre a anterior, no exercício em que ocorre a
transformação deve determinar-se transformação deve determinar-se
separadamente o lucro correspondente separadamente o lucro correspondente
aos períodos anterior e posterior a esta, aos períodos anterior e posterior a esta,
podendo os prejuízos anteriores à podendo os prejuízos anteriores à
transformação, apurados nos termos transformação, apurados nos termos
deste Código, ser deduzidos nos lucros deste Código, ser deduzidos nos lucros
tributáveis da sociedade resultante da

21
transformação até ao fim do período tributáveis da sociedade resultante da
referido no n.º 1 do artigo 52.º, contado do transformação.
exercício a que os mesmos se reportam.

ü Art.º 75.º - Transmissibilidade dos prejuízos fiscais

- Alteração do n.º 1.

Regula-se nesta norma a possibilidade de transmissibilidade de prejuízos fiscais quando


existem fusões, sendo que a alteração em apreço decorre da processada ao n.º 1 do art.º
52.º, anteriormente comentada, que eliminou os prazos de reporte de prejuízos fiscais
(eliminação da limitação temporal), conforme se pode constatar no quadro seguinte:

Nova redação
Redação atual
1 - Os prejuízos fiscais das sociedades 1 - Os prejuízos fiscais das sociedades
fundidas podem ser deduzidos dos lucros fundidas podem ser deduzidos dos lucros
tributáveis da nova sociedade ou da tributáveis da nova sociedade ou da
sociedade incorporante, nos termos e sociedade incorporante, nos termos e
condições estabelecidos no artigo 52.º e condições estabelecidos no artigo 52.º.
até ao fim do período referido no n.º 1 do
mesmo artigo, contado do período de
tributação a que os mesmos se reportam.

ü Art.º 86.º - Regime especial de neutralidade fiscal

- Alteração do n.º 2.

O art.º em causa visa estabelecer um regime de neutralidade fiscal nos casos em que a
realização de capital de sociedades é efetuada através da entrada de património
(empresarial) de pessoa singular, incidindo o n.º 2 sobre a questão da transmissibilidade dos
prejuízos fiscais gerados no âmbito da empresa individual (categoria B do IRS) à nova
sociedade, com a consequente utilização e possibilidade de reporte na esfera desta.

A alteração consistiu apenas em retirar a referência ao “período” (de reporte/dedução), em


virtude da eliminação de prazos em matéria de reporte de prejuízos fiscais (alteração proposta
ao n.º 1 do art.º 52.º).

A alteração pode ser visualizada no quadro seguinte:

22
Nova redação
Redação atual
2 - Quando seja aplicável o regime 2 - Quando seja aplicável o regime
estabelecido no n.º 1 do artigo 38.º do estabelecido no n.º 1 do artigo 38.º do
Código do IRS, os prejuízos fiscais Código do IRS, os prejuízos fiscais
relativos ao exercício pela pessoa relativos ao exercício pela pessoa
singular de atividade empresarial ou singular de atividade empresarial ou
profissional e ainda não deduzidos ao profissional e ainda não deduzidos ao
lucro tributável podem ser deduzidos nos lucro tributável podem ser deduzidos nos
lucros tributáveis da nova sociedade até lucros tributáveis da nova sociedade até
ao fim do período referido no artigo 52.º, à concorrência de 50 % de cada um
contado do período de tributação a que os desses lucros tributáveis.
mesmos se reportam, até à concorrência
de 50% de cada um desses lucros
tributáveis.

ü Art.º 86.º-B - Determinação da matéria coletável

- Aditamento da alínea i) ao n.º 1.

O n.º 1 estabelece os coeficientes aplicáveis no âmbito do regime simplificado, propondo-se


o aditamento de uma nova alínea, a i), com a seguinte redação:

“0,15 dos rendimentos relativos a criptoativos que não sejam considerados


rendimentos de capitais, nem resultem do saldo positivo das mais e menos-valias
e dos restantes incrementos patrimoniais.”

Esta alteração está relacionada com as alterações efetuadas a este nível em sede de IRS,
visando a tributação de rendimentos gerados em criptoativos (nomeadamente criptomoedas),
matéria que será analisada em detalhe quando, em janeiro, comentarmos alterações em sede
de IRS.

Por ora, deixa-se apenas a seguinte nota: em sede de IRC, a matéria em apreço apenas
carece de ser regulada nos casos em que se aplica o regime simplificado (e quando tais
rendimentos não sejam qualificáveis como rendimentos de capitais ou mais valias, pois,
nestes casos, já existe coeficiente), tal como está a suceder, uma vez que, aplicando-se o
regime geral, os rendimentos gerados em criptoativos, constituindo variações patrimoniais
positivas (refletidas, ou não, no RLP), serão objeto de tributação, uma vez que se integram
no conceito, muito abrangente, de lucro presente no Código do IRC (“noção extensiva de
lucro”, no âmbito da adoção da “teoria do incremento patrimonial” ou da “teoria do rendimento-
acréscimo”).

23
ü Art.º 87.º - Taxas

- Alteração do n.º 2.

A proposta de alteração em apreço consiste em alargar o âmbito de aplicação subjetivo da


taxa de IRC do 1.º escalão (taxa de 17%), bem como aumentar, para o dobro, a base
tributável à qual se aplica a referida taxa reduzida, conforme se constata no quadro seguinte.

Nova redação
Redação atual
2 - No caso de sujeitos passivos que 2 - No caso de sujeitos passivos que
exerçam, diretamente e a título principal, exerçam, diretamente e a título principal,
uma atividade económica de natureza uma atividade económica de natureza
agrícola, comercial ou industrial, que agrícola, comercial ou industrial, que
sejam qualificados como pequena ou sejam qualificados como pequena ou
média empresa, nos termos previstos no média empresa ou empresa de pequena-
anexo ao Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 média capitalização (Small Mid Cap), nos
de novembro, a taxa de IRC aplicável aos termos previstos no anexo ao Decreto-Lei
primeiros 25.000 € de matéria coletável é n.º 372/2007, de 6 de novembro, a taxa
de 17%, aplicando-se a taxa prevista no de IRC aplicável aos primeiros 50 000 €
número anterior ao excedente. de matéria coletável é de 17 %,
aplicando-se a taxa prevista no número
anterior ao excedente.

Em síntese:

1) Passam a poder beneficiar da taxa reduzida, de 17%, não apenas as empresas


qualificadas como PME, tal como sucede atualmente, mas, também, aquelas que não
assumam esta tipologia, mas que se enquadrem no conceito de empresa de “pequena-
média capitalização” (Small Mid Cap), o que configura um alargamento do campo de
aplicação da taxa reduzida, uma vez que passa a abarcar sujeitos passivos de maior
envergadura (até 500 trabalhadores), ou de menor envergadura, mas inseridos num
grupo económico que, no seu conjunto, não permite a qualificação individual como PME
(4).

(4) É uma Small Mip Cap a empresa que, não reunindo as condições materiais para ser uma PME nos termos do
DL n.º 372/2007 e respetivo anexo, empregue, enquanto empresa autónoma, até 500 trabalhadores (<500), nos
termos do n.os 2, 3 e 4 do art.º 2.º do DL n.º 372/2007. Assim, uma empresa que, pelo facto de estar integrada
num grupo com mais de 250 trabalhadores, não seja uma PME, mas tenha, ela própria, individualmente, menos
de 500 trabalhadores (pode ser até apenas 1 trabalhador), é uma Small Mip Cap (“empresa de pequena-média
capitalização”).

24
2) A taxa passa a aplicar-se até ao montante de 50.000€ de matéria coletável, o que traduz
uma poupança máxima, em relação ao montante que deriva da aplicação da taxa
“normal” de 21%, no valor de 2.000€ [(21% - 17%) x 50.000€] ou, de modo diferente,
uma poupança máxima, relativamente à quantia que seria apurada na ausência desta
alteração, de 1.000€ [(21% - 17%) x (50.000€ - 25.000€)].

Cumpre salientar a existência de um regime transitório, para efeito de aplicação da taxa


reduzida de IRC em operações de reestruturação (realizadas nos próximos 4 anos), constante
no art.º 161.º da PLOE/2023, desde que cumpridas algumas condições.

A disposição acima referida estipula o seguinte:

“A taxa de IRC prevista no n.º 2 do artigo 87.º do Código do IRC é aplicável nos
dois exercícios posteriores a operações de fusões, cisões, entradas de ativos e
permutas de partes sociais, realizadas entre 1 de janeiro de 2023 e 31 de
dezembro de 2026, em que a totalidade dos sujeitos passivos se qualifique como
pequena, média empresa ou empresa de pequena-média capitalização (Small Mid
Cap), nos termos previstos no anexo ao Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de
novembro, na sua redação atual, nas situações em que, por força da operação, a
sociedade beneficiária deixe de reunir as condições para essa qualificação.”

Consagra-se, assim, que a existência de operações de reestruturação não tenha como


implicações, pelo menos de modo imediato, a perda do benefício da taxa reduzida do IRC.

Note-se que este benefício fiscal (redução de taxa) está sujeito às regras de auxílios de
minimis (limite de 200.000€ por triénio; limite de base móvel).

ü Art.º 88.º - Taxas de tributação autónoma

- Alteração dos n.os 3 e 18, revogação do n.º 19 e aditamento do n.º 20 (anteriores n.os 20 a
22 passam a n.os 21 a 23).

Começar-se-á por fazer o confronto da redação das normas (atual e nova) e, imediatamente
a seguir, por resumir as várias alterações propostas.

Redação atual Nova redação


3 - São tributados autonomamente os 3 - São tributados autonomamente os
encargos efetuados ou suportados por encargos efetuados ou suportados por
sujeitos passivos que não beneficiem de sujeitos passivos que não beneficiem de
isenções subjetivas e que exerçam, a isenções subjetivas e que exerçam, a

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título principal, atividade de natureza título principal, atividade de natureza
comercial, industrial ou agrícola, comercial, industrial ou agrícola,
relacionados com viaturas ligeiras de relacionados com viaturas ligeiras de
passageiros, viaturas ligeiras de passageiros, viaturas ligeiras de
mercadorias referidas na alínea b) do n.º mercadorias referidas na alínea b) do n.º
1 do artigo 7.º do Código do Imposto 1 do artigo 7.º do Código do Imposto
sobre Veículos, motos ou motociclos, sobre Veículos, motos ou motociclos, às
excluindo os veículos movidos seguintes taxas:
exclusivamente a energia elétrica, às
seguintes taxas: (…)
18 - No caso de viaturas ligeiras de 18 - No caso de viaturas ligeiras de
passageiros híbridas plug-in, cuja bateria passageiros híbrida plug-in, cuja bateria
possa ser carregada através de ligação à possa ser carregada através de ligação à
rede elétrica e que tenham uma rede elétrica e que tenham uma
autonomia mínima, no modo elétrico, de autonomia mínima, no modo elétrico, de
50 km e emissões oficiais inferiores a 50 50 km e emissões oficiais inferiores a 50
gCO2/km, as taxas referidas nas alíneas gCO2/km, e de viaturas ligeiras de
a), b) e c) do n.º 3 são, respetivamente, passageiros movidas a GNV, as taxas
de 5%, 10% e 17,5%. referidas nas alíneas a), b) e c) do n.º 3
são, respetivamente, de 2,5%, 7,5% e
15%.
19 - No caso de viaturas ligeiras de 19 – Revogado.
passageiros movidas a GNV, as taxas
referidas nas alíneas a), b) e c) do n.º 3
são, respetivamente, de 7,5%, 15% e
27,5%.
20 - Os encargos relacionados com
veículos movidos exclusivamente a
energia elétrica apenas são sujeitos a
tributação, à taxa autónoma de 10 %,
caso o custo de aquisição destes veículos
exceda o definido na portaria a que se
refere a alínea e) do n.º 1 do artigo 34.º
20 - (…) 21 - (…)
21 - (…) 22 - (…)
22 - (…) 23 - (…)

Em síntese:

1) Viaturas elétricas: Em função da alteração ao n.º 3 e do aditamento do n.º 20, conclui-


se que, a vingar a proposta do Governo, os encargos suportados com este tipo de
viaturas (“veículos movidos exclusivamente a energia elétrica”) passarão a ser

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tributados autonomamente, à taxa de 10%, quando o custo de aquisição desses
veículos ultrapasse 62.500€, limite este que também serve de referência para calcular
as depreciações fiscalmente aceites neste tipo de viaturas, bem como para aferir da
dedutibilidade do IVA (sendo que o IVA não dedutível faz parte integrante do custo de
aquisição). Atualmente não é aplicável qualquer taxa autónoma a este tipo de viaturas,
ainda que a mesma tenha custos de aquisição elevadíssimos.

2) Viaturas híbridas plug-in: Fruto da alteração efetuada na parte final do n.º 18, conclui-
se que há uma redução de taxas, neste tipo de viaturas (que possuam as caraterísticas
definidas na lei), de 2,5 p.p., passando, assim, de 5%, 10% e 17,5%, para 2,5%, 7,5%
e 15%, consoante os 3 escalões que se encontram definidos no n.º 3 (custo de
aquisição até 27.500€, até 35.000€ e superior a 35.000€).

3) Viaturas movidas a GNV: Por força da revogação do n.º 19 e da (outra) alteração do n.º
18, esta tipologia de viaturas passa a beneficiar das mesmas taxas que passarão a ser
aplicáveis a viaturas híbridas plug-in, conforme suprarreferido. Estas alterações
consubstanciam as importantes reduções de taxas, na medida em que as mesmas
passam de 7,5%, 15% e 27,5%, para 2,5%, 7,5% e 15%, ou seja, consoante o escalão,
respetivamente, reduções de 5 p.p., 7,5 p.p. e 12,5 p.p..

A propósito das tributações autónomas, cumpre assinalar que no art.º 162.º da PLOE/2023,
consta um regime excecional no âmbito do IRC onde se prevê a não aplicação da penalização
de 10 p.p. (prevista no n.º 14) ao nível das taxas, nos períodos de tributação de 2022 e 2023,
desde que cumpridas (relativamente fáceis de cumprir) as seguintes condições:

“a) O sujeito passivo tenha obtido lucro tributável em um dos três períodos de
tributação anteriores e as obrigações declarativas previstas nos artigos 120.º e
121.º do mesmo Código, relativas aos dois períodos de tributação anteriores,
tenham sido cumpridas nos termos neles previstos;

b) Estes correspondam ao período de tributação de início de atividade ou a um


dos dois períodos seguintes.”

Note-se que esta disposição transitória já vigorou para os períodos de tributação de 2020 e
2021, por via do disposto no art.º 375.º da LOE/2021. No entanto a mesma apenas era
aplicável às cooperativas e PME (DL n.º 372/2007), algo que, pelo que nos é dado a ver, não
sucede agora à luz da referida proposta.

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3. ACÓRDÃO DO CAAD – PROC.º 137/2022T, de 22-07-2022: Verba 2.23 da
Lista I anexa ao Código do IVA

Posição das Requerentes

No âmbito do processo arbitral em apreço, as Requerentes solicitavam a declaração de


ilegalidade e anulação dos atos tributários de autoliquidação de IVA, bem como da decisão
de indeferimento do recurso hierárquico e ainda da decisão de indeferimento da reclamação
graciosa.

Em síntese, entendem as Requerentes que a empreitada de reabilitação e conservação de


um edifício localizado em Lisboa, reunia as condições legais para que sobre o seu valor total
fosse liquidado IVA à taxa reduzida de 6%, de harmonia com a verba 2.23 da Lista I anexa
ao CIVA.

De acordo com as Requerentes, a aplicabilidade da taxa reduzida depende somente da


verificação de três requisitos: (i) tratar-se de uma empreitada de reabilitação urbana (sendo
o conceito de reabilitação urbana relevante para o efeito o que consta do art.º 2.º, n.º 1, alínea
j), do RJRU); (ii) realizada em imóvel(is); (iii) localizado(s) numa ARU delimitada nos termos
legais.

Posição da Requerida (AT)

A Requerida (AT), por seu turno, entende que o sujeito passivo deve possuir elementos que
comprovem que a obra se encontra em conformidade com as disposições do DL n.º 307/2009
(RJRU), invocando que as obras em questão, não obstante localizadas numa área delimitada
como ARU, não reúnem as condições impostas no RJRU para poderem qualificar-se como
obra de reabilitação urbana em área de reabilitação urbana.

Segundo consta no acórdão em apreço, na opinião da AT, tendo em consideração o RJRU e


as informações vinculativas emanadas sobre esta matéria, a aplicação da taxa reduzida, fica
dependente da verificação das seguintes condições:

a) Enquadramento da obra na definição de reabilitação urbana, prevista na alínea j) do n.º 1


do art.º 2.º do RJRU;

b) Imóvel, alvo de intervenção, deve localizar-se em zona legalmente delimitada como ARU;

c) Comunicação prévia e respetiva aprovação de licenciamento pelo município ou entidade


gestora;

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d) Serviços prestados devem ter a natureza de empreitadas “gerais”, não abrangendo os
meros fornecimentos de bens e aquisição de materiais, nem a aquisição de outros serviços
não abrangidos pelo contrato de empreitada geral;

e) A fatura deve indicar o dono da obra e a ARU onde se localiza e, segundo n.º 5 do art.º
36.º do CIVA, deve conter a denominação usual dos serviços prestados com especificação
dos elementos necessários à determinação da taxa aplicável.

Entende ainda a Requerida (AT), em síntese, que não foi possível estabelecer uma correlação
direta entre a descrição das faturas e a restante documentação apresentada, impossibilitando
a confirmação de se encontrarem efetivamente reunidos os pressupostos legalmente exigidos
para enquadramento dos serviços de construção civil em causa na verba 2.23 da Lista I anexa
ao Código do IVA.

Posição do Tribunal

Segundo o CAAD, face à redação da verba 2.23, resultam, como condições para aplicação
da taxa reduzida:

i) Tratar-se de uma empreitada de reabilitação urbana, tal como definida em diploma


específico.

ii) Deve, a empreitada de reabilitação urbana, localizar-se em área de reabilitação urbana (...)
delimitada nos termos legais.

Assim sendo, na ótica do Tribunal, estão em causa duas questões distintas que importa
analisar.

A primeira diz respeito ao conceito de “empreitada de reabilitação urbana”, tal como definida
em diploma específico, concluindo o Tribunal que o contrato de empreitada em causa não
pode deixar de ser considerado como um contrato de empreitada de reabilitação urbana.

A segunda consiste em saber se a empreitada de reabilitação urbana está localizada em ARU


delimitada nos termos legais, concluindo-se que não existe qualquer dúvida de que tal sucede
no caso em apreciação.

Segundo o Tribunal, coloca-se ainda uma outra questão relativa à interpretação da verba
2.23, uma vez que a AT entende que a sua aplicação está dependente de comunicação prévia
e respetiva aprovação de licenciamento pelo município ou entidade gestora. Quanto a esta
parte, conclui-se que o argumento da AT não é procedente, considerando o Tribunal que se
trata de uma inferência ou dedução por parte da AT, que não está suportada no texto da

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verba 2.23.

Considera-se que em nenhum segmento da verba se determina que seja necessário que a
apreciação e aprovação do respetivo pedido de licenciamento seja efetuada pela respetiva
câmara municipal, sendo que, em rigor, estão em causa matérias distintas: (i) a (eventual)
aplicação de uma taxa reduzida de IVA a empreitadas de reabilitação urbana situadas área
de reabilitação urbana (matéria fiscal) e (2) a necessidade de submeter a apreciação e
aprovação do respetivo pedido de licenciamento a execução de uma obra de reabilitação
urbana (matéria jurídico-urbanística).

Restava, ainda, verificar uma derradeira condição, assinalada pela AT como necessária de
modo a permitir beneficiar da taxa reduzida de IVA: a indicação, na fatura, do dono da obra e
da ARU onde se localiza e, ainda, segundo n.º 5 do art.º 36.º do Código do IVA, a referência
à denominação usual dos serviços prestados com especificação dos elementos necessários
à determinação da taxa aplicável.

Relativamente a esta temática, baseado na jurisprudência do TJUE, conclui o Tribunal que


também a este nível não existe qualquer anomalia. Com efeito, as Requerentes apresentaram
documentação adicional (em sede de direito de audição sobre o projeto de decisão da RG)
que permite à AT apurar quais os imóveis e as correspondentes faturas onde foi aplicada a
taxa reduzida de IVA por forma a realizar a correspondência, de forma total e equivalente,
com a (auto)liquidação de IVA operada.

Acrescenta-se que, face às faturas em questão, foi possível perceber, de forma clara e
inequívoca, que as mesmas titulam uma empreitada contratada pelo sujeito passivo de IVA à
entidade emissora das mesmas, empreitada essa que envolveu intervenções de alteração no
interior e de conservação no exterior do edifício, razões pelas quais se encontra verificada a
derradeira condição postulada pela AT, de harmonia com a qual a fatura deve indicar o dono
da obra e a ARU onde se localiza e, segundo n.º 5 do art.º 36.º do Código do IVA, deve conter
a denominação usual dos serviços prestados com especificação dos elementos necessários
à determinação da taxa aplicável.

Termina-se com a transcrição do sumário do acórdão:

I – Em sede do IVA, resultam, como condições para aplicar o disposto na verba


2.23 da Lista l anexa ao Código: i) Tratar-se de uma empreitada de reabilitação
urbana, tal como definida em diploma específico; ii) A empreitada de reabilitação
urbana, localizar-se em área de reabilitação urbana (...) delimitadas nos termos
legais.

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II - O legislador tributário não previu, na verba 2.23 da lista I anexa ao Código do
IVA, a obrigação de a aplicação da taxa reduzida de IVA a empreitadas de
reabilitação urbana pressupor a prévia apreciação e aprovação do respetivo
pedido de licenciamento por parte da entidade competente.

Notas finais

O acórdão em apreço permite confirmar que a AT, no que toca ao tema em discussão, exige,
por vezes, a verificação de condições que não têm correspondência na verba 2.23 da Lista I
do Código do IVA, nomeadamente, neste caso, a existência de uma prévia apreciação e
aprovação do pedido de licenciamento de obras.

Basta observar as alegações da AT, que constam no acórdão e que anteriormente foram
resumidas (Posição da Requerida), para concluir que a mesma, baseando-se em informações
vinculativas, alude à existência de várias condições para que seja aplicável a taxa reduzida
[5 condições elencadas nas alíneas a) a e)], sendo que apenas as duas primeiras são
relativamente pacíficas (enquadramento da obra na definição de reabilitação urbana prevista
no RJRU e o imóvel, alvo de intervenção, dever localizar-se numa ARU).

Quanto à terceira condição que consta nas alegações da AT, relacionada com a comunicação
prévia e respetiva aprovação de licenciamento pelo município, é, como vimos, afastada pelo
Tribunal.

Já quanto à quarta condição, que se prende com o facto de os serviços prestados deverem
ter a natureza de empreitadas “gerais” (não abrangendo os meros fornecimentos de bens e
aquisição de materiais, nem a aquisição de outros serviços não abrangidos pelo contrato de
empreitada geral), questão esta não apreciada pelo Tribunal, importa referir que é a própria
AT que a afasta em informações vinculativas mais recentes (admitindo-se a aplicação da taxa
reduzida quando existem várias empreitadas).

Finalmente, relativamente à quinta condição, a de que a fatura deve indicar o dono da obra e
a ARU onde se localiza e que, segundo n.º 5 do art.º 36.º do CIVA, deve conter a
denominação usual dos serviços prestados (mesmo num caso em que ocorre a
autoliquidação), acaba por ser também afastada pelo Tribunal, ao admitir, baseado na
jurisprudência do TJUE, uma interpretação bastante mais flexível, no sentido de que o sujeito
passivo pode complementar a informação constante nas faturas, nomeadamente fazendo a
comprovação através de outros elementos adicionais.

Uma vez que as consequências que derivam do incumprimento dos requisitos formais dos

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documentos é muito relevante, extravasando, aliás, em muito, o tema em apreço (estando
em causa o direito à dedução, pedra basilar em que assenta o funcionamento do IVA),
aproveita-se para citar o acórdão Barlis do TJUE, proferido no proc.º n.º C-516/14, de 15-09-
2016 (expressamente citado no acórdão em análise), onde se enfatiza à importância de
ponderar as consequências de uma violação do art.º 226.º da Diretiva IVA (que elenca as
menções que devem constar nas faturas) sobre o exercício do direito à dedução, à luz das
finalidades prosseguidas pela referida norma.

Reforçando a jurisprudência em matéria de vícios formais, o TJUE refere que o princípio da


neutralidade do IVA:

“(…) exige que a devolução deste imposto pago a montante seja concedida se os
requisitos materiais estiverem cumpridos mesmo que os sujeitos passivos tenham
negligenciado certos requisitos formais. Por conseguinte, quando a Administração
Fiscal dispõe dos dados necessários para saber se os requisitos materiais foram
cumpridos não pode impor condições suplementares ao direito do sujeito passivo
de dedução do imposto que possam ter por efeito eliminar esse direito. (…)”

E concretiza acrescentando:

“Daqui resulta que a Administração Fiscal não pode recusar o direito a dedução
do IVA pelo simples facto de a fatura não preencher os requisitos exigidos pelo
artigo 226.º, n.º 6 e 7, da Diretiva 2006/112, se dispuser de todos os dados para
verificar se os requisitos substantivos relativos a este direito se encontram
satisfeitos.”

Resta dizer, quanto à remoção do Portal das Finanças das informações vinculativas
relacionadas com a presente temática (conforme descrito na newsletter anterior), que pode
perfeitamente ter sido o acórdão agora analisado a despoletar tal iniciativa por parte da AT
(estamos a especular), não só porque a data do acórdão é consonante com o momento em
que ocorreu a referida remoção, mas, também, porque se verifica que a AT defendeu, neste
processo arbitral, baseada em informações vinculativas, argumentos que ela própria contraria
noutras informações vinculativas, algo que, manifestamente, não deve suceder,
especialmente em temas com esta relevância (daí anteriormente termos sugerido a
publicação de um Ofício Circulado que uniformizasse doutrina).

Mantemo-nos alerta quanto a eventuais acórdãos que venham a surgir sobre a presente
temática, especialmente sobre aqueles em que possa vir a estar em causa a questão de
saber se basta que o imóvel esteja situado numa ARU (Área de Reabilitação Urbana) ou se

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é necessário também que exista, e esteja aprovada, uma ORU (Operação de Reabilitação
Urbana), sendo esta, porventura, a dúvida mais relevante que importa dissipar neste âmbito.

Braga, 04 de novembro de 2022

Luís Filipe Esteves

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