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INSTITUTO POLITÉCNICO DO CÁVADO E DO AVE

ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO


LICENCIATURA EM FISCALIDADE

12. Período de tributação


TRIBUTAÇÃO DO RENDIMENTO DAS PESSOAS COLETIVAS (IRC)

Luís Esteves
Barcelos, 2022/2023
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Período de tributação
✓ Matéria regulada no artigo 8.º do Código do IRC.
✓ Sendo o IRC um imposto periódico, importa definir o período temporal
relativamente ao qual deve ser apurado e é devido o imposto, ou seja, o
período de tributação.
✓ Tal período terá, em geral, a duração de 365 dias e coincidirá, em
princípio, com o ano civil, mas há exceções…
✓ Matéria fortemente relacionada com o tema da periodização do lucro
tributável (artigo 18.º - Capítulo 16), este bastante mais relevante, estando
aqui causa saber como proceder à imputação dos rendimentos/gastos ao
período de tributação, ou seja, como devem ser apurados os resultados.
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
✓ Incidência temporal…

✓ O IRC é devido relativamente lucro obtido relativo a que período?

✓ Art.º 1.º (Pressuposto do imposto): O imposto sobre o rendimento das


pessoas coletivas (IRC) incide sobre os rendimentos obtidos, mesmo
quando provenientes de atos ilícitos, no período de tributação, pelos
respetivos sujeitos passivos, nos termos deste Código.

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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Artigo 8.º do Código do IRC
1 – O IRC, salvo o disposto no n.º 10, é devido por cada período de
tributação, que coincide com o ano civil, sem prejuízo das exceções
previstas neste artigo.
2 – Residentes e não residentes com EE podem optar por um período de
tributação diferente do ano civil (sem carecer de autorização), que deverá
ser mantido por 5 anos (salvo, de acordo como o n.º 3, se a empresa
passar a integrar um grupo de sociedades em que a sociedade mãe tem
um período de tributação diferente).
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Há casos em que se justifica a adoção de um período de tributação do ano
civil… No Reino Unido o período de tributação inicia-se em 6 de abril… Há
vários países no mundo onde o “fiscal year” não coincide com o ano civil…
Exemplos: Sucursal (EE) de empresa inglesa , filial de empresa inglesa, universidade
(coincidente com o ano letivo), Sociedade Anónima Desportiva (SAD; coincidente com
a época desportiva), empresa agrícola (dependente do momento da colheita e das
respetivas vendas)…
✓ Tem vários impactos, nomeadamente nos prazos de cumprimento das obrigações
declarativas (DR22, IES/DAICF) e de pagamento (pagamentos por conta e
pagamento a final)…
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Artigo 120.º - Declaração periódica de rendimentos
2 – Relativamente aos sujeitos passivos que, nos termos dos n.os 2 e 3 do artigo 8.º,
adotem um período de tributação diferente do ano civil, a declaração deve ser enviada
até ao último dia do 5.º mês seguinte à data do termo desse período,
independentemente de esse dia ser útil ou não útil (…)
Artigo 121.º - Declaração anual de informação contabilística e fiscal
3 – Relativamente aos sujeitos passivos que, nos termos dos n.os 2 e 3 do artigo 8.º,
adotem um período de tributação diferente do ano civil, a declaração deve ser enviada
até ao 15.º dia do 7.º mês posterior à data do termo desse período,
independentemente de esse dia ser útil ou não útil (…)
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Artigo 104.º - Regras de pagamento
1 – As entidades que exerçam, a título principal (…) bem como as não residentes com
EE (…), devem proceder ao pagamento do imposto nos termos seguintes:
a) Em três pagamentos por conta, com vencimento em julho, setembro e 15 de
dezembro do próprio ano a que respeita o lucro tributável ou, nos casos dos n.os 2 e 3
do artigo 8.º, no 7.º mês, no 9.º mês e no dia 15 do 12.º mês do respetivo período de
tributação;
b) Até ao último dia do prazo fixado para o envio da declaração periódica de
rendimentos, pela diferença que existir entre o imposto total aí calculado e as
importâncias entregues por conta;
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Regras aplicáveis: As vigentes no início ou no final do período de
tributação? Problema: Sucessão de leis (aplicação da lei no tempo)
✓ Normalmente a Lei Nova (LN) (Ex.: LOE) prevê que as novas regras se aplicam aos
períodos iniciados em ou após 01-01 (disposição transitória), logo, valem as regras
vigentes no início do período de tributação.
✓ Porém, se a (LN) nada disser valem, em princípio, as regras vigentes no final do
período (art.º 8.º, n.º 9 – Facto tributário ocorre no último dia do período de tributação).
✓ Exemplo: Lei da Reforma do IRC (Lei n.º 2/2014, em vigor a partir de 01-01-2014, alterou a taxa
de IRC de 25% para 23% e incluiu uma norma (art.º 12.º) referente à aplicação da lei no tempo;
No entanto, a Lei n.º 82-B/2014 (LOE/2015), que alterou a taxa de 23% para 21%, não
consagrou qualquer disposição transitória…
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Acórdão do CAAD, processo n.º 179/2018 (procedente)
✓ Período de tributação de 01-07-2014 a 30-06-2015
Em face de tudo quanto se vem expondo, facilmente se conclui que:
- A LOE/2015 alterou a taxa de IRC prevista no n.º 1 do artigo 87.º do Código do IRC, e veio reduzir a
mesma de 23% para 21%;
- A LOE/2015 não estabeleceu norma transitória sobre a aplicação temporal da nova taxa de IRC de 21%;
- A LOE/2015 entrou em vigor no dia 01/01/2015;
- O período de tributação de 2014 da Requerente, iniciado em 01/07/2014 (findo em 30/06/2015) já se
encontrava em curso quando a LOE/2015 entrou em vigor;
- Nos termos do n.º 1 do artigo 12.º da LGT, as normas tributárias aplicam-se aos factos posteriores à
sua entrada em vigor;
- Nos termos do n.º 9 do artigo 8.º do Código do IRC, o facto gerador de IRC considera-se verificado no
último dia do período de tributação;
- O facto gerador de IRC do período de tributação da Requerente verificou-se no dia 30/06/2015; e
- A taxa de IRC em vigor a 30/06/2015 era de 21%.
Taxa de 21%!
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Acórdão do CAAD, processo n.º 411/2019 (improcedente)
✓ Período de tributação de 01-02-2014 a 31-01-2015
Ora, vistas as coisas assim, e à luz da interpretação da norma do art.º 14.º da Lei n.º 2/2014, atrás
exposto, incluindo a configuração daquele como uma norma especial em relação ao art.º 12.º da LGT,
não será possível concluir que o art.º 192.º da Lei n.º 82-B/2014, tenha tido por propósito a revogação
daquele art.º 14.º, pelo menos na parte em que se referia à aplicação das normas da Lei que o mesmo
integra ao período de tributação de 2014, no caso da tributação em IRS e IRC que tenha por base, e aos
factos tributários ocorridos em 2014, relativamente à tributação naqueles impostos que não assente no
período de tributação.
Deste modo, concluindo-se, nos termos expostos, que o art.º 14.º da Lei n.º 2/2014 se encontrava
vigente a 31/01/2015, na parte em que impõe a aplicação do disposto naquela Lei à tributação em IRS e
IRC que assente no período de tributação de 2014, haverá que concluir pela legalidade da actuação da
AT, e pela consequente improcedência do pedido arbitral, incluindo os pedidos acessórios formulados.

Taxa de 23%!
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Acórdão do CAAD, processo n.º 412/2019 (procedente)
✓ Período de tributação de 01-02-2014 a 31-01-2015
Nestes termos, impõe-se concluir que as taxas de IRC aplicáveis à matéria coletável da Requerente, no
período de tributação de 2014, são as seguintes: a taxa geral de 21% – estatuída no artigo 87.º, n.º 1, do
Código do IRC, na redação resultante da Lei n.º 82-B/2014, de 31 de dezembro – aplicável à proporção
da matéria coletável afeta ao Continente e à Região Autónoma da Madeira; e a taxa de 16,80% –
resultante da redução de 20% à taxa geral de IRC, nos termos do disposto no artigo 5.º, n.º 1, do Decreto
Legislativo Regional n.º 2/99/A, de 29 de janeiro, na redação resultante do Decreto Legislativo Regional
n.º 2/2014/A, de 29 de janeiro – aplicável à proporção da matéria coletável afeta à Região Autónoma
dos Açores.
Consequentemente, os atos tributários controvertidos padecem de vício de violação de lei, por erro sobre
os pressupostos de direito, nos termos acima enunciados, o que implica a respetiva anulação (cf. artigo
163.º do CPA).
Acórdão do CAAD, processo n.º 783/2019 (procedente) (01-02-2014 a 31-01-2015)
Taxa de 21%!
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Acórdão do STA n.º 2/2021, DR n.º 124, 29-06-2021 (Acórdão do STA de 21 -04 -2021, Processo n.º
57/20.8BALSB — Pleno da 2.ª Secção) (procedente)

Recurso do Acórdão do CAAD, processo n.º 411/2019 (acórdão recorrido) por estar em oposição com o
Acórdão do CAAD, processo n.º 412/2019 (acórdão fundamento).
3 — Decisão
Termos em que, face ao exposto, acordam os juízes do Pleno da Secção de Contencioso Tributário do
Supremo Tribunal Administrativo em conceder provimento ao recurso e anular a decisão arbitral
recorrida fixando -se a seguinte jurisprudência: “Atento o disposto no n.º 9 do artigo 8.º do Código do
IRC, que determina que a formação do facto tributário só se conclui no termo do período anual de
tributação, e em face do disposto no n.º 1 do art. 12.º da LGT, é aplicável ao facto tributário formado em
31 de Janeiro de 2015 a taxa de 21 %, tal como decorre da Lei n.º 82 -B/2014, de 13 de Dezembro, que
entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2015.”

Taxa de 21%!
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Período de tributação

Fonte: Wikipédia → “Fiscal year”


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Período de tributação
Artigo 8.º do Código do IRC
4 – Período de tributação inferior a um ano: a) No ano de início de
tributação; b) No ano de cessação de atividade; c) Condições de sujeição
ocorrem e deixam de verificar-se no mesmo período; d) Quando é
adotado um período de tributação diferente do ano civil.
8 - Período de tributação superior a um ano: Sociedades e outras
entidades em liquidação, em que tem a duração correspondente à desta.

❖Morte das sociedades: Dissolução → Liquidação → Cessação (Partilha);


Capítulo 13 (…)
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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Artigo 8.º do Código do IRC
5 – Cessação de atividade ocorre:
a) Residentes: Na data do (registo do) encerramento da liquidação (registo
das sociedades na conservatória tem efeitos constitutivos e extintivos),
quando a sede deixa de estar situada em TN, na data da aceitação da
herança jacente (…)
b) Não residentes: Quando cessarem a atividade do EE ou deixarem de
obter rendimentos em TN.

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Luís Filipe Esteves
Período de tributação

Artigo 8.º do Código do IRC


6 – Cessação oficiosa (a efetuar pela AT): Não exercício da atividade ou
exercício meramente formal (sem uma adequada estrutura empresarial).
7 – Cessação oficiosa não desobriga o sujeito passivo do cumprimento das
obrigações tributárias.
8 – Período de tributação pode ser superior a um ano, no caso de
sociedades em liquidação (capítulo 13).

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Luís Filipe Esteves
Período de tributação
Art. 8º, CIRC: “9 – O facto gerador do imposto considera-se verificado no
último dia do período de tributação.
10 – Exceptuam-se do disposto no número anterior os seguintes rendimentos
obtidos por entidades não residentes, que não sejam imputáveis a EE situado
em território português:
a) Ganhos resultantes da transmissão onerosa de imóveis, em que o facto
gerador se considera verificado na data da transmissão;
b) Rendimentos objecto de retenção na fonte a título definitivo, em que o facto
gerador se considera verificado na data em que ocorra a obrigação de efectuar
aquela;
c) Incrementos patrimoniais referidos na alínea e) do n.º 3 do artigo 4º, em que
o facto gerador se considera verificado na data de aquisição.”
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