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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA DA FAZENDA

PÚBLICA DA COMARCA DO ESTADO DE __.


NOME, pessoa jurídica de direito privado, devidamente inscrita no CNPJ nº..., endereço
eletrô nico, com sede na Rua, nú mero, bairro, cidade, estado, cep, representada por seu
advogado, abaixo assinado e procuraçã o anexa, com endereço profissional na Rua, nú mero,
bairro, cidade, estado, cep, onde recebe todas as intimaçõ es, vêm respeitosamente perante
Vossa Excelência propor, com fulcro no art. 165, I do CTN e art. 319 do CPC, a presente:
AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDEBITO TRIBUTÁRIO
Em face do Município/Fazenda Pública Municipal, pessoa jurídica de direito pú blico
interno, inscrito no CNPJ nº, com endereço na Rua, nú mero, bairro, endereço eletrô nico, na
pessoa de seu representante legal, pelos motivos de fato e de direito abaixo aduzidos.
I – DOS FATOS
Narrar os fatos...
Assim sendo, nã o restou outra alternativa a autora, senã o buscar a tutela jurisdicional
visando restituir o valor que foi pago indevidamente.
II- DO CABIMENTO DA AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO TRIBUTÁRIO, ART 165, I
DO CTN
O Có digo Tributá rio Nacional em seu art. 165, I, estabelece que o sujeito passivo da relaçã o
tributá ria possui direito a restituiçã o total ou parcial do tributo, independente de prévio
protesto e modalidade de pagamento sempre que houver “cobrança ou pagamento
espontâ neo de tributo indevido ou maior que o devido em face da legislaçã o tributá ria
aplicá vel, ou da natureza ou circunstâ ncias materiais do fato gerador efetivamente
ocorrido”.
No presente caso (narrar o ato)
Sendo assim, é cabível a açã o de repetiçã o de indébito tributá rio para reaver os valores
pagos indevidamente.
III – DA TEMPESTIVIDADE, ART. 168, I DO CTN
Nos termos do art. 168, I do CTN, o sujeito passivo tem o prazo de 5 anos para propor a
restituiçã o dos valores pagos indevidamente, a contar da extinçã o do crédito tributá rio.
Por decorrência do art. 3º da LC nº 118/2005, entende-se extinto o crédito tributá rio para
os tributos sujeitos a lançamento por homologaçã o na data do pagamento antecipado, logo
a presente açã o é tempestiva.
IV – DO DIREITO
IV.I – DA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA ANTERIORIDADE ANUAL E NONAGESIMAL
A Constituiçã o Federal adotou, como princípio do sistema tributá rio nacional, os princípios
da anterioridade anual e nonagesimal, previsto no art. 150, III, b e c, vejamos:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à Uniã o,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
III - cobrar tributos:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou;
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;
Compreendendo o preceito constitucional, entende-se que os entes federais nã o poderã o
cobrar tributos, no mesmo ano em que a lei que instituiu esse tributo for publicada,
chamado Princípio da Anterioridade Anual. E, nã o poderã o cobrar tributos sem que 90
(noventa) dias tenham passado da publicaçã o da lei, conhecido como Princípio da
Anterioridade Nonagesimal, sendo aplicados cumulativamente a todos os tributos, com
exceçã o daqueles previstos pela pró pria Constituiçã o.
No presente caso, a Lei Municipal que majorou a alíquota do ISS sobre os serviços de
hospedagem, turismo, viagens e congêneres, nã o respeitou tais princípios, uma vez que, a
vigência da lei só deveria ocorrer no pró ximo exercício fiscal ou apó s 90 dias da publicaçã o,
gerando a cobrança indevida do tributo.
Com relaçã o ao princípio da anterioridade anual, explica Eduardo Sabbag:
“A expressã o exercício financeiro deve ser assimilada como ano fiscal, que, no Brasil,
coincidentemente, representa o ano civil (período entre 1º de janeiro e 31 de dezembro)
22, nos termos do art. 34 da Lei n. 4.320, de 17-03-1964.
Nessa medida, tal espera anual, que sempre esteve presente na seara tributá ria brasileira,
existindo com exclusividade até o advento da Emenda Constitucional n. 42/2003, prevê
uma postergaçã o da eficá cia da lei tributá ria para o 1º dia do exercício financeiro
subsecutivo ao daquele em que tenha havido a publicaçã o da lei instituidora ou majoradora
da exaçã o tributá ria.
Daí se falar em “postergaçã o ou diferimento de eficá cia da lei tributá ria” ou, simplesmente,
em adoçã o do “princípio da eficá cia diferida”. Em outras palavras, o legislador constituinte
sinaliza a possibilidade de se criar ou aumentar o tributo a qualquer tempo, todavia impõ e
que a eficá cia da lei criadora ou majoradora fique suspensa até o início do ano posterior,
quando deverá incidir. Exemplos: a) Tributo criado ou majorado em março de 2002:
incidência em 1º de janeiro de 2003; b) Tributo criado ou majorado em novembro de 2003:
incidência em 1º de janeiro de 2004” (Manual de Direito Tributá rio. 2018)
Com relaçã o ao princípio da anterioridade nonagesimal, que veda a cobrança de tributos
antes de corridos 90 dias da data da publicaçã o da lei que instituiu ou majorou o tributo,
Eduardo esclarece:
“Dessa forma, robusteceu-se a anterioridade de exercício, na medida em que se passou a
exigir, a partir de 2004, obediência à anterioridade anual, além da anterioridade
nonagesimal, em nítida aplicaçã o cumulativa (ver grifo no dispositivo), garantindo-se ainda
mais o contribuinte contra uma tributaçã o inopinada.
... afirmamos que nã o é um expediente raro o presenciar da voracidade fiscal da Fazenda
Pú blica, que sempre se valeu de vitanda sistemá tica, criando ou majorando tributos nos
ú ltimos dias do ano, a fim de que pudesse satisfazer sua volú pia arrecadató ria, com valores
a receber logo no início do exercício seguinte, em plena quebra de lealdade tributá ria.”
(Manual de Direito Tributá rio. 2016).
Há inclusive entendimento dos tribunais a respeito da inconstitucionalidade de lei que nã o
respeita os princípios da anterioridade anual e nonagesimal, vejamos:
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DA CSL
JULGADA PELA 4ª TURMA, REJEITADA, COM RETORNO DOS AUTOS PARA
APRECIAÇÃO DA MAJORAÇÃO DE ALÍQUOTA. LEI 8.114/90. DEPÓSITO EM JUÍZO E
DETERMINAÇÃO DE CORREÇÃO MONETÁRIA PELA SELIC AGRAVADA PELA CEF.
AGRAVO DESPROVIDO. APELAÇÃO DA UNIÃO E REMESSA OFICIAL.
RECONHECIMENTO DE OFENSA AO PRINCIPIO DA IRRETROATIDADE E À
ANTERIORIDADE NONAGESIMAL ANO BASE 1990.
I - Anteriormente julgada pela 4ª Turma desta Corte a constitucionalidade da CSL criada
pela Lei 7.689/89, retornaram os autos para nova apreciaçã o no primeiro grau, quanto à
inobservâ ncia do prazo nonagesimal e irretroatividade da Lei 8.114/90.
II - Depó sito em juízo da CSL, a partir da Lei 9703/1998, corrigidos pela Taxa Selic,
transferindo-se os valores das contas antigas à nova conta, reiteraçã o determinada pelo
advento da Lei 12.099/2009, donde nã o merece respaldo o agravo regimental da CEF a
pretender continuidade de remuneraçã o pela TR.
III- Recebimento do pedido sucessivo a reconhecer a violaçã o ao principio nonagesimal e
da irretroativade na Lei 8114/90 ao pretender vigência da majoraçã o da alíquota para 15%
no pró prio ano base em que alterada. Aumento lídimo para ano-base de 1991, exercício
financeiro de 1992.
IV. Agravo regimental e remessa oficial desprovidas, apelaçã o nã o conhecida.
Quanto à apelaçã o, a majoraçã o de alíquota da CSL teve aplicaçã o no exercício financeiro de
1991 acarretando afronta à anterioridade nonagesimal (artigo 195, § 6º, da Constituiçã o
Federal) e à irretroatividade das leis, pois embora tenha se tornado eficaz apenas a partir
de 13/03/91, a lei nº 8.114/90 determinou a incidência da alíquota majorada sobre
instituiçõ es financeiras e equiparadas a fatos ocorridos no ano-base de 1990.
IV - Inconstitucional a cobrança do aumento de alíquota daquela contribuiçã o, de 14% para
15%, sobre o lucro do ano de 1990.
V - Agravo regimental e apelaçã o desprovidos. (Quarta Turma do Tribunal Regional Federal
da 3º Regiã o. Julgamento em 27/09/2012. APELAÇÃ O/REMESSA NECESSÁ RIA - 209924 /
SP 0673541-46.1991.4.03.6100)
Sendo assim, constata-se que houve violaçã o aos princípios tributá rios da anterioridade
anual e nonagesimal e gerou o pagamento indevido da autora.
IV. II DO DIREITO A RESTITUIÇÃO DO INDÉBITO TRIBUTÁRIO
O objeto dessa demanda consiste na devoluçã o de tributos pagos de forma indevida em
razã o de ofensa aos princípios tributá rios. Esse direito à restituiçã o de um tributo pago
indevidamente, tem amparo na nossa Constituiçã o, como explica Hugo de Brito Machado:
“o direito à restituiçã o do que tenha o contribuinte pago indevidamente tem inegá vel
fundamento na Constituiçã o, na medida em que esta garante que o tributo é devido na
forma da lei, e o legislador, por seu turno, está sujeito a limitaçõ es na definiçã o do dever
jurídico tributá rio. Assim, ainda que o ordenamento infraconstitucional nada estabeleça a
respeito do direito à restituiçã o do indébito, tal direito existirá , induvidosamente, por força
dos preceitos da pró pria Constituiçã o. É um corolá rio daquele direito de somente pagar o
que seja devido nos termos da pró pria Constituiçã o e das leis.”
(MACHADO, Hugo de Brito (coord.). Repetiçã o do indébito e compensaçã o no direito
tributá rio.)
No presente caso estamos diante de uma majoraçã o de alíquota do ISS que, através da Lei
Municipal, passou a ser de 5% sobre os serviços de hospedagem, turismo e etc, e foi paga
de forma indevida pela autora.
Estabelece o art. 165 do CTN que, o contribuinte possui legitimidade para restituir os
valores pagos de forma indevida do tributo, ou seja, o contribuinte de direito que praticou o
fato gerador do tributo.
Muito embora haja discussã o pela restituiçã o dos tributos diretos e indiretos, por
entendimento do STF, o ISS poderá ser considerado tanto um tributo indireto como direto,
uma vez que, se o prestador de serviço suportar o encargo financeiro, estaremos diante de
um tributo direto; caso ele o repasse para o tomador de serviços, será agora tributo
indireto. Vejamos o entendimento do STF:
TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. ISS. SOCIEDADE UNIPROFISSIONAL. TRIBUTO
INDIRETO. DEMONSTRAÇÃO DO REPASSE PARA O VALOR COBRADO PELO SERVIÇO.
REEXAME DE MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA N"7/ST).
1. O ISS é uma espécie tributá ria que, diante do caso concreto, poderá ter natureza de
tributo direto ou indireto, sendo necessá rio, para tanto, avaliar se seu valor é repassado ou
nã o ao preço cobrado pelo serviço, na esteira do entendimento do STJ, pacificado no
julgamento do REsp 1.13i.476/RS, sob o rito dos recursos repetitivos, previsto no artigo
543-C do CPC.
2. A Corte de origem registrou que nã o foi produzida prova demonstrando que nã o teria
havido o repasse do ISS para o valor cobrado pelos serviços a possibilitar o deferimento da
repetiçã o de indébito pretendida. Assim, para se alcançar conclusã o diversa, seria
necessá rio novo exame do acervo lá tico-probató rio constante dos autos, providência
vedada em recurso especial, a teor do ó bice previsto na Sú mula n"7 do Superior Tribunal
de Justiça.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp nº 1225188/PR, Rei. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgad_o em
10/11/2015, DJe de 23/11/2015).
Desse modo, no presente caso, o ISS é um tributo direto, o prestador de serviço suportou o
encargo financeiro, sofreu com o aumento da alíquota e realizou o pagamento indevido do
tributo, diante da ofensa aos princípios da anterioridade anual e nonagesimal pela
publicaçã o da Lei Municipal, cabendo, portanto, a restituiçã o do pagamento indevido.
V – DA CORREÇÃO MONETÁRIA E DOS JUROS
Nos termos do art. 167, pará grafo ú nico do CTN, a restituiçã o deve ter aplicaçã o dos juros,
devendo ser a partir do trâ nsito em julgado, conforme previsto também na sú mula 188 do
STJ:
Sú mula 188 – STJ. Os juros morató rios, na repetiçã o do indébito tributá rio, sã o devidos a
partir do trâ nsito em julgado da sentença
Sendo assim, requer-se a restituiçã o do pagamento indevido do tributo devidamente
corrigido monetariamente a partir do pagamento indevido conforme sú mula 162 do STJ,
bem como acrescido de juros.
Sú mula 162 - STJ. Na repetiçã o de indébito tributá rio, a correçã o monetá ria incide a partir
do pagamento indevido.
VI- DOS PEDIDOS

Diante de todo exposto, requer-se:


a) A citaçã o da parte ré, na pessoa de seu representante legal, para que, caso queira,
apresente resposta sob pena de revelia;
b) A dispensa de audiência de conciliaçã o ou mediaçã o, conforme art. 319, VII do CPC, por
trata-se de direito indispensá vel que nã o admite autocomposiçã o, aplicando-se o art. 334, §
4º, II do CPC;
c) Que seja julgado procedente a presente açã o, a fim de condenar a parte ré a restituiçã o
das quantias pagas indevidamente, uma vez que, a lei municipal ofendeu os princípios da
anterioridade anual e nonagesimal;
d) Que seja calculada a restituiçã o, juntamente com a correçã o monetá ria, nos termos do
art. 167 do CTN, Sú mulas 162 e 188 do STJ;
e) A condenaçã o da parte ré nas custas e honorá rios de sucumbência, de acordo com os
artigos 82 e 85 do CPC;
f) A produçã o de todas as provas admitidas em direito, em especial a documental, nos
termos do art. 319, VI e 369 do CPC.
Dá -se o valor da causa de R$
Nestes termos, pede-se deferimento.
Local/Data
Advogado
Oab nº

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