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Processo nº xxxxxxxx
com as razões em fls. apartado, requerendo, desde logo, na forma das razões
em anexo e ultimados os trâmites procedimentais de estilo, a remessa dos
autos a 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí
e, ao cabo, o não provimento do recurso.
Nestes termos,
pede deferimento.
Assinatura do advogado
Dra. Amanda
Número da OAB
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ
CONTRARRAZÕES À APELAÇÃO
Egrégio Tribunal,
I- DA SÍNTESE DA DEMANDA
Data vênia, não merece acolhimento a apelação interposta pela ré, como
se demonstrará sem dificuldade.
Impõe-se a integral manutenção da irretocável decisão proferida pelo
juízo da 4ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Teresina, que bem
analisou a matéria suscitada nos presentes autos e concedeu o pedido de
urgência entendendo estarem presentes o periculum in mora e o fumus boni
iuris alegados na peça apresentada.
Torna-se visível que o recurso em questão não passa de tentativa do
recorrente em protelar o cumprimento da decisão recorrida. Não há amparo
legal às suas pretensões. Não há o que reformar.
Em apertada síntese, a apelante alega para a presunção de
constitucionalidade da lei municipal indicada na inicial e que não é possível a
discussão da matéria sem que haja o integral pagamento dos impostos
devidos, gerando a inadimplência um grande risco social, em razão do impacto
aos cofres públicos.
Ocorre que restou devidamente comprovado nos autos que apelante ao
majorar a alíquota de Imposto de Propriedade Territorial Urbana (IPTU) de 3%
para 15% do valor venal do imóvel, valendo o aumento para aquele mesmo
mês e cobrado em um boleto de fevereiro de 2021, violou os princípios
constitucionais da legalidade e da anterioridade, previstos no artigo 150,
alíneas I e III, “b”, da CF/88.
O Princípio da legalidade deixa claro que é vedada no Ordenamento
Jurídico Brasileiro a majoração de tributos senão por força de lei. "Art. 150.
Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
Tal norma destaca a necessidade de lei para atualização em bases de
cálculo de impostos, com índices acima da correção monetária do período.
Logo, o aumento da alíquota de Imposto de Propriedade Territorial
Urbana (IPTU) de 3% para 15% do valor venal do imóvel, somente poderia ser
realizada por meio da elaboração de Lei e não por meio de decreto como feito
pela municipalidade, sendo este último instrumento normativo inconstitucional.
Além da inconstitucionalidade evidente apresentada pela norma
decretada, vale ainda ressaltar o vício presente no aumento da alíquota de
Imposto de Propriedade Territorial Urbana (IPTU) de 3% para 15% do valor
venal do imóvel. Jamais o Município poderia atualizar o IPTU, mediante
decreto, em percentual tão superior aos índices oficiais de reajuste.
A jurisprudência é clara e pacífica a respeito dessa questão. Nesse
sentido, vale trazer à baila o enunciado da Súmula 160 do STJ: "É defeso, ao
Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao Índice
oficial de correção monetária".
Nota-se que há uma discrepância enorme entre os valores cobrados de
um exercício para o outro, acarretando um aumento de mais de 100% (cem por
cento), sem, contudo, estar embasado em legislação válida para dar
sustentação ao lançamento.
Ademais, a Constituição Federal de 1988 dispõe que é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos no mesmo
exercício financeiro em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou.
Em regra, os tributos não poderão ser cobrados no mesmo ano do
exercício financeiro em que a lei que os institui ou aumentou foi publicada.
Assim, se uma lei que institui ou aumenta um tributo é publicada em 2021,
somente em janeiro de 2022 é que esse tributo poderia ser cobrado, de acordo
com as novas regras e valores.
Como se vê, a lei municipal que aumentou a alíquota de Imposto de
Propriedade Territorial Urbana (IPTU) não observou os procedimentos que a lei
define como necessários para produzir os efeitos e, consequentemente,
compeliu a Autora ao pagamento de tributação em quantia totalmente
desprovida de qualquer fundamento constitucional, portanto, de juridicidade,
violando claramente os princípios da anterioridade e da legalidade.
Quanto a alegação de não ser possível a discussão da matéria sem que
haja o integral pagamento dos impostos devidos, gerando a inadimplência um
grande risco social, em razão do impacto aos cofres públicos, não se mostra
relevante para a reforma da sentença, considerando se tratar de uma ação
anulatória de lançamento tributário cobrado de forma abusiva e em nítida
violação a CF/88, não tendo a apelante demonstrado de que forma a falta de
pagamento ocasionaria impacto aos cofres públicos.
No presente caso é evidente a inconstitucionalidade da medida pela
violação do artigo 150, incisos I, III, alínea “b” da Constituição Federal e a
ilegalidade do ato pela violação do artigo 97, II, do Código Tributário Nacional.
O perigo de dano irreparável está devidamente demonstrado para a
autora, uma vez que a Prefeitura inscreveu os impostos na Dívida Ativa do
município, na qual a Autora já foi até citada para a cobrança dos atrasados,
multas e honorários advocatícios, estando na eminência de uma execução
fiscal baseada em fundamentos ilícitos.
E tratando-se de matéria tributária, onde a obrigação consiste em
pagamento em dinheiro, a reversibilidade da concessão faz-se evidente,
bastando para tal a retomada da exigibilidade do tributo.
Como se vê, dano grave e de difícil reparação sofrerá a Autora se tiver
de pagar o tributo, que é de valor expressivo, para depois repeti-lo em
demorada demanda judicial.
Assim, impõe-se, portanto, a manutenção da decisão recorrida e a
improcedência do pedido da apelante.
III - DA CONCLUSÃO