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AO JUÍZO DE DIREITO DA 4ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA

COMARCA DE TERESINA

Processo nº xxxxxxxx

ISABELLA, devidamente qualificada, nos autos da AÇÃO ANULATÓRIA DE


LANÇAMENTO TRIBUTÁRIàO, que move contra a FAZENDA PÚBLICA
MUNICÍPIPAL DE TERESINA, processo em epígrafe, atendendo ao despacho
de fls xx, vem apresentar suas

CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO

com as razões em fls. apartado, requerendo, desde logo, na forma das razões
em anexo e ultimados os trâmites procedimentais de estilo, a remessa dos
autos a 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí
e, ao cabo, o não provimento do recurso.

Nestes termos,
pede deferimento.

(local), (dia) de (mês) de (ano)

Assinatura do advogado
Dra. Amanda
Número da OAB
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DESEMBARGADOR (A) RELATOR (A)
DA 3ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
PIAUÍ.

Processo nº XXXXXXX
Apelante: Fazenda Pública Municipal de Teresina
Apelada: Isabella

CONTRARRAZÕES À APELAÇÃO

Egrégio Tribunal,

Colenda 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado do


Piauí;

I- DA SÍNTESE DA DEMANDA

A Apelante é moradora da cidade de Teresina, no Piauí, e possui um


grande imóvel urbano que herdou de seus pais. Ocorre que em janeiro de 2021
o Prefeito de Teresina sancionou uma lei municipal que aumentou a alíquota de
Imposto de Propriedade Territorial Urbana (IPTU) de 3% para 15% do valor
venal do imóvel, valendo o aumento para aquele mesmo mês e cobrado em um
boleto de fevereiro de 2021. Surpreendida pela inesperada despesa com esse
tributo, ela não pôde mais pagar os seus impostos e, em março, teve os
impostos inscritos na Dívida Ativa do município e foi citada para a cobrança dos
atrasados, multas e honorários advocatícios.
Após cinco meses, a Apelada procurou a advogada Amanda para que
buscasse judicialmente uma saída para essa cobrança que ela julga abusiva. A
dívida agora perfaz o valor de R$ 110.000,00 somente no que tange aos
aumentos.
Inconformada, a Apelada propôs Ação Anulatória de Débito Tributário,
com um pedido liminar.
O juiz da 4ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Teresina
concedeu o pedido de urgência entendendo estarem presentes o periculum in
mora e o fumus boni iuris alegados na peça apresentada.

Irresignada, a Procuradoria do Município de Teresina recorreu da


decisão ao Tribunal de Justiça do Piauí, apresentando suas razões perante
essa 3ª Câmara de Direito Público, que recebeu o recurso de agravo.
No recurso, a Procuradoria apontou para a presunção de
constitucionalidade da lei municipal indicada na inicial e que não é possível a
discussão da matéria sem que haja o integral pagamento dos impostos
devidos, gerando a inadimplência um grande risco social, em razão do impacto
aos cofres públicos.
A 3ª Câmara de Direito Público ao Tribunal de Justiça do Piauí, manteve
a liminar concedida pelo órgão julgador.
Após isso, o juiz da 4ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de
Teresina sentenciou, julgando procedente a ação, declarando incidentalmente
a inconstitucionalidade da lei municipal no que tange ao aumento no mesmo
exercício financeiro (anterioridade).
Além disso, ele entendeu que a grandeza do aumento perpetrado
acarreta o perdimento integral do patrimônio em um curto espaço de tempo de
apenas seis anos, sendo, portanto, de natureza confiscatória.
Novamente a Procuradoria do Município recorreu da decisão final do
magistrado apontando para a presunção de constitucionalidade da lei municipal
indicada na inicial e alegou não ser possível a discussão da matéria sem que
haja o integral pagamento dos impostos devidos, gerando a inadimplência
grande risco social, em razão do impacto aos cofres públicos.
Não merece ser acolhida a apelação interposta pela parte apelante,
como se demonstrará a seguir:

II - DA NECESSÁRIA MANUTENÇÃO DA R. DECISÃO RECORRIDA

Data vênia, não merece acolhimento a apelação interposta pela ré, como
se demonstrará sem dificuldade.
Impõe-se a integral manutenção da irretocável decisão proferida pelo
juízo da 4ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Teresina, que bem
analisou a matéria suscitada nos presentes autos e julgou procedente a ação,
declarando incidentalmente a inconstitucionalidade da lei municipal no que
tange ao aumento no mesmo exercício financeiro (anterioridade). Além disso,
ele entendeu que a grandeza do aumento perpetrado acarreta o perdimento
integral do patrimônio em um curto espaço de tempo de apenas seis anos,
sendo, portanto, de natureza confiscatória.
Em apertada síntese, a apelante alega para a presunção de
constitucionalidade da lei municipal indicada na inicial, afirmando não ser
possível a discussão da matéria sem que haja o integral pagamento dos
impostos devidos, gerando a inadimplência um grande risco social, em razão
do impacto aos cofres públicos.
Ocorre que restou devidamente comprovado nos autos que apelante ao
majorar a alíquota de Imposto de Propriedade Territorial Urbana (IPTU) de 3%
para 15% do valor venal do imóvel, valendo o aumento para aquele mesmo
mês e cobrado em um boleto de fevereiro de 2021, violou os princípios
constitucionais da legalidade e da anterioridade, previstos no artigo 150,
alíneas I e III, “b”, da CF/88.
Torna-se visível que o recurso em questão não passa de tentativa do
recorrente em protelar o cumprimento da decisão recorrida. Não há amparo
legal às suas pretensões. Não há o que reformar.

III - MÉRITO

No que se refere ao mérito da questão, não assiste razão à Apelante. A


lei municipal que majorou a alíquota do IPTU e determinou a cobrança no
mesmo exercício financeiro é inconstitucional, pois viola o princípio da
anterioridade tributária, previsto no art. 150, III, “b”, da Constituição Federal.
O referido dispositivo constitucional exige que o aumento de tributos
somente possa ser cobrado no exercício financeiro seguinte ao da publicação
da lei que o instituiu ou aumentou, garantindo, assim, a segurança jurídica e a
previsibilidade dos contribuintes em relação à carga tributária.
O Princípio da legalidade deixa claro que é vedada no Ordenamento
Jurídico Brasileiro a majoração de tributos senão por força de lei. "Art. 150.
Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
Tal norma destaca a necessidade de lei para atualização em bases de
cálculo de impostos, com índices acima da correção monetária do período.
Logo, o aumento da alíquota de Imposto de Propriedade Territorial
Urbana (IPTU) de 3% para 15% do valor venal do imóvel, somente poderia ser
realizada por meio da elaboração de Lei e não por meio de decreto como feito
pela municipalidade, sendo este último instrumento normativo inconstitucional.
Além da inconstitucionalidade evidente apresentada pela norma
decretada, vale ainda ressaltar o vício presente no aumento da alíquota de
Imposto de Propriedade Territorial Urbana (IPTU) de 3% para 15% do valor
venal do imóvel. Jamais o Município poderia atualizar o IPTU, mediante
decreto, em percentual tão superior aos índices oficiais de reajuste.
A jurisprudência é clara e pacífica a respeito dessa questão. Nesse
sentido, vale trazer à baila o enunciado da Súmula 160 do STJ: "É defeso, ao
Município, atualizar o IPTU, mediante decreto, em percentual superior ao
Índice oficial de correção monetária".
Nota-se que há uma discrepância enorme entre os valores cobrados de
um exercício para o outro, acarretando um aumento de mais de 100% (cem por
cento), sem, contudo, estar embasado em legislação válida para dar
sustentação ao lançamento.
Ademais, a Constituição Federal de 1988 dispõe que é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios cobrar tributos no mesmo
exercício financeiro em que tenha sido publicada a lei que os instituiu ou
aumentou.
Em regra, os tributos não poderão ser cobrados no mesmo ano do
exercício financeiro em que a lei que os institui ou aumentou foi publicada.
Assim, se uma lei que institui ou aumenta um tributo é publicada em 2021,
somente em janeiro de 2022 é que esse tributo poderia ser cobrado, de acordo
com as novas regras e valores. 
Como se vê, a lei municipal que aumentou a alíquota de Imposto de
Propriedade Territorial Urbana (IPTU) não observou os procedimentos que a lei
define como necessários para produzir os efeitos e, consequentemente,
compeliu a Autora ao pagamento de tributação em quantia totalmente
desprovida de qualquer fundamento constitucional, portanto, de juridicidade,
violando claramente os princípios da anterioridade e da legalidade.
Ademais, a alegação da Apelante de que a discussão da matéria só
poderia ocorrer após o pagamento integral dos impostos devidos pela Apelada
é equivocada, uma vez que o ordenamento jurídico brasileiro não admite a
aplicação do princípio do “solve et repete” em matéria tributária.
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica no sentido de
que é possível discutir a constitucionalidade de tributos sem a prévia quitação
do débito, sendo desnecessário o depósito prévio para a propositura de ação
anulatória de débito tributário, uma vez que o pagamento não é condição para
o exercício do direito constitucional de ação e defesa dos interesses dos
contribuintes.
Nesse sentido, a sentença proferida pela 4ª Vara da Fazenda Pública da
Comarca de Teresina está em perfeita consonância com a jurisprudência
dominante dos tribunais superiores e deve ser mantida.
Portanto, não há qualquer impedimento para que a Apelada busque a
declaração de inconstitucionalidade da lei municipal que majorou a alíquota do
IPTU no mesmo exercício financeiro em que foi publicada
Por outro lado, a apelante não demonstrou de que forma a falta de
pagamento ocasionaria impacto aos cofres públicos.
No presente caso é evidente a inconstitucionalidade da medida pela
violação do artigo 150, incisos I, III, alínea “b” da Constituição Federal e a
ilegalidade do ato pela violação do artigo 97, II, do Código Tributário Nacional.
O perigo de dano irreparável está devidamente demonstrado para a
Apelada, uma vez que a Prefeitura inscreveu os impostos na Dívida Ativa do
município, na qual a Apelada já foi até citada para a cobrança dos atrasados,
multas e honorários advocatícios, estando na eminência de uma execução
fiscal baseada em fundamentos ilícitos.
E tratando-se de matéria tributária, onde a obrigação consiste em
pagamento em dinheiro, a reversibilidade da concessão faz-se evidente,
bastando para tal a retomada da exigibilidade do tributo.
Como se vê, dano grave e de difícil reparação sofrerá a Autora se tiver
de pagar o tributo, que é de valor expressivo, para depois repeti-lo em
demorada demanda judicial.
Dessa forma, a Apelante não apresenta fundamentos jurídicos
suficientes para reformar a sentença proferida, que declarou a
inconstitucionalidade da lei municipal que majorou a alíquota do IPTU e
determinou a cobrança no mesmo exercício financeiro.
Assim, impõe-se, portanto, a manutenção da decisão recorrida e a
improcedência do pedido da apelante.

IV - DO PEDIDO

Diante do exposto, requer-se o IMPROVIMENTO do recurso de


apelação interposto pela FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DE TERESINA,
mantendo-se a sentença proferida pela 4ª Vara da Fazenda Pública da
Comarca de Teresina que julgou procedente a Ação Anulatória de Débito
Tributário, movida pela Apelada, Isabella, declarando incidentalmente a
inconstitucionalidade da lei municipal que aumentou a alíquota de Imposto de
Propriedade Territorial Urbana (IPTU) de 3% para 15% do valor venal do
imóvel no mesmo exercício financeiro.

Termos em que,
Pede deferimento.
Local, data (dia/mês/ano).
Advogada Amanda
OAB/XX nº XXXXXX

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