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Contra a UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, a ser citada na pessoa de
um de seus Advogados da União na unidade da AGU, com endereço na XXXXXXXXX e telefone:
XXXXXXXXXXX, pelas razões a seguir expostas.
A presente Ação Anulatória de Débito Fiscal tem por objetivo anular o lançamento fiscal em
razão de suposta Dedução Indevida de Pensão Alimentícia Judicial e/ou por Escritura Pública,
na Declaração do Imposto de Renda Pessoa Física, referente ao exercício XXXXX e ano-
calendário de XXXXX, conforme documentação anexa (Doc. XX).
É cediço ainda, que a Ação Anulatória não se vincula a qualquer tipo de depósito prévio,
conforme se constata do recurso representativo de controvérsia STJ – Superior Tribunal de
Justiça. Observamos:
Inicialmente cumpre relatar que após Ação Fiscal da Receita Federal do Brasil o Requerente foi
surpreendido pela Notificação de Lançamento nº XXXXXXX informando acerca de suposta
dedução indevida de pensão alimentícia judicial e/ou por escritura pública declarada no
Imposto de Renda Pessoa Física, exercício XXXXX e ano-calendário XXXX, no valor de R$
XXXXXXX.
Ora, não restando alternativa senão o ajuizamento da presente ação, na certeza de fazer valer
seus direitos e alcançar a tão almejada justiça.
Assim, diante de todos os fatos relatados, passa-se aos inquestionáveis fundamentos de direito
que prevalecem em favor da parte autora.
III. MÉRITO
III. a) Da Dedução da Pensão Alimentícia por Decisão Judicial no IRPF – Imposto de Renda
Pessoa Física
Preliminarmente, é importante ressaltar como a pensão alimentícia por decisão judicial, cerne
da presente Anulatória, é passível de dedução do Imposto de Renda Pessoa Física.
Isso porque, são dedutíveis do imposto de renda os pagamentos de despesas com instrução do
contribuinte e de seus dependentes relacionados na declaração, inclusive de alimentandos, em
decorrência de cumprimento de decisão judicial, ou de acordo homologado judicialmente.
Seguindo esse caminho, podem ser dependentes, para efeito do IRPF - Imposto sobre a Renda
Pessoa Física, o filho (a) até 21 anos de idade, ou, em qualquer idade, quando for declarado
incapaz para o trabalho. Alimentando é o beneficiário da pensão alimentícia judicial ou
decidida em acordo feito por escritura pública.
A interpretação da legislação relativa ao imposto de renda precisa ser homogênea,
harmonizada a todo Sistema Tributário Nacional, o que pressupõe que a pensão alimentícia é
dedutível da base de cálculo do imposto de renda, desde que efetivamente comprovada.
O art. 10, inciso II da Lei nº 8.383/1991 aduz que na determinação da base de cálculo sujeita à
incidência mensal do imposto de renda poderão ser deduzidas as importâncias pagas em
dinheiro a título de alimentos ou pensões, em cumprimento de acordo ou decisão judicial,
inclusive a prestação de alimentos provisionais.
Por sua vez, o art. 3º § 1º da Lei nº 7.713/1988 estabelece que o imposto incidirá sobre o
rendimento bruto, sem qualquer dedução e que constituem rendimento bruto apenas os
alimentos e pensões percebidos em dinheiro.
Dessa maneira, optou o contribuinte, ora Autor, pela defesa administrativa, que não logrou
êxito, tendo em vista a 11ª TURMA/DRJ08 alegar que os documentos juntados não
comprovam que os valores a título de pensão alimentícia teriam sido pagos, uma vez que o
acordo judicial prevê o pagamento através de depósito em conta bancária (Doc. XX).
Pois bem, Exmo., verifica-se que a parte autora colacionou aos autos cópia do Termo de
Audiência em Separação Consensual, que comprova que XXXXXXXX, menor à época, nascido
em XXXXXXXX, é seu filho e alimentando, e que o mesmo ficou responsável pelo pagamento de
pensão alimentícia no valor de XX salários-mínimos mensalmente (Doc. XX). Portanto,
referidas despesas, devidamente comprovadas, poderiam ser deduzidas do imposto de renda
à época.
Ora, nobre magistrado, se nenhum fato contraria ou atinge a idoneidade de tais documentos,
considerando, principalmente, que o contribuinte assumiu tal encargo conforme comprova o
Termo de Separação Consensual, não podem ser meramente presumidos como ineficazes ou
inidôneos.
Ademais, a legislação não indica como deve ser efetuado o pagamento da pensão alimentícia,
e não há qualquer impedimento de sua demonstração por meio de declaração da genitora do
alimentando, que, salvo prova em contrário, a cargo do fisco, devem ser presumidos como
emitidos de boa-fé.
Assim, no caso dos autos, ressalta-se: o Autor juntou petição inicial de separação consensual, o
Termo de Audiência em Separação Consensual, sentença homologatória da transação quanto
ao pagamento da pensão, que é o título ou fonte da obrigação, como também as declarações
emitidas pela genitora do alimentando, com firma reconhecida, o que comprova o pagamento
da pensão no exercício mencionado, sem que a Ré tenha demonstrado a existência de fraude.
***
Grifos nossos.
Logo, deve ser anulado o presente lançamento de débito fiscal determinando a retificação da
CDA para considerar dedutíveis no ano-calendário de XXXX, as despesas com pensão
alimentícia em favor do alimentado XXXXXX.
Preliminarmente é imperioso esclarecer que os valores ora exigidos a título de multa excedem,
em muito, o valor anual recolhido de IRPF, inclusive, perfazendo 75% do valor principal do
suposto débito fiscal, qual seja, R$ XXXXXXXX – valor atual.
Qualquer que seja a esfera do direito em que haja ocorrido o ilícito, a sanção correspondente
terá dupla função:
a) intimidativa, que visa evitar a ocorrência do ilícito – esta função é cumprida pela simples
previsão da multa, antes de sua aplicação;
b) repressiva, que corresponde a primeira aplicação efetiva da multa, nas hipóteses em que a
sua simples existência não surtiu o efeito intimidativo suficiente para evitar o comportamento
ilícito.
Em ambos os casos, prevalecem a natureza punitiva da sanção, cujo valor exigido deve ser o
suficiente apenas para produzir os efeitos intimidativo e repressivo, contra o comportamento
ilícito, respeitadas as garantias constitucionais dos contribuintes apenados contra o uso de
tributo com efeito de confisco, in verbis:
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...)
Contrariamente às normas civis (cujo limite para aplicação de multa é de 2%), o Código
Tributário Nacional não estabelece limites para a aplicação desse tipo de penalidade. Essa
omissão permitiu a instituição de multas que, não raro, superam substancialmente o valor
econômico da obrigação não cumprida que lhe deu causa, como é o caso em análise.
Diversos juristas têm estudado essa matéria e têm se posicionado pela inconstitucionalidade
das multas excessivas. Entre eles, podemos citar Sacha Calmon Navarro Coelho e Sampaio
Dória.
"(…) uma multa excessiva, ultrapassando o razoável para dissuadir ações ilícitas e para punir os
transgressores (caracteres punitivo e preventivo da penalidade), caracteriza, de fato, uma
maneira indireta de burlar o dispositivo constitucional que proíbe o confisco. Este só poderá se
efetivar se e quando atuante a sua hipótese de incidência e exige todo um ‘processus’. A
aplicação de uma medida de confisco é totalmente diferente da aplicação de uma multa.
Quando esta é tal que agride violentamente o patrimônio do cidadão contribuinte, caracteriza-
se como confisco indireto e, por isso, é inconstitucional" (Sacha Calmon. Cadernos de
Pesquisas Tributárias, ed. CEEU / Resenha Tributária, São Paulo, 1979, p.4:445).
***
(…) não se admitirá que, a pretexto de castigar infrações, o legislador confisque a propriedade
individual. (…) Para que a multa fiscal se considere confiscatória, é necessário que inexista
qualquer conexão entre a penalidade imposta e a infração cometida, ou que a pena seja
imposta e a infração cometida, ou que a pena seja desproporcionada ao delito ou infração
tributários praticados
Mais freqüente, porém, será a incidência de multas confiscatórias por seu montante excessivo
ou despropositado em razão da natureza do delito ou infração tributária. Não só a Constituição
impossibilitaria penalidades assim desarrazoadas, mas a própria diretriz da capacidade
contributiva obstaria a imposição de penas que exorbitassem da capacidade econômica dos
indivíduos"(Sampaio Dória. Direito Constitucional Tributário e Due Process of Law, 2ª ed.
Forense, Rio, 1986).
Sendo assim, embora o dispositivo constitucional faça referência apenas ao tributo quando
proíbe sua cobrança com efeito confiscatório, a jurisprudência entende aplicável às multas a
mesma limitação.
Grifos nossos.
Não se pode admitir que o Fisco Federal tenha o poder de comprometer os rendimentos
econômicos dos contribuintes em razão de multas que vão além do equilíbrio financeiro,
quando na verdade, a proposta da penalidade é reeducar o contribuinte a não praticar o
equívoco novamente.
Dessa forma, as penalidades que devem ser impostas ao Autor, na hipótese, devem ser regidas
pelo princípio do não confisco, ao ponto de não pode exceder ou comprometer o patrimônio
da parte Autora, devendo, portanto, ser restabelecido e reduzido na hipótese do não
reconhecimento da dedução da pensão alimentícia por decisão judicial no IRPF.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
(...)
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.
Insta-se, inicialmente, que a tutela pleiteada se faz urgente para a que haja a suspensão da
exigibilidade das penalidades exigidas, até que este Ilmo. Juízo decida definitivamente acerca
dos fatos alegados pela parte autora, uma vez comprovados os danos irreparáveis dos quais o
Autor não poderá suportar.
Quanto ao perigo de dano ou perigo do alcance real de um resultado útil do processo, se faz
imperativo evidenciar a necessidade do Autor no deferimento da tutela de urgência pleiteada.
Na presente situação, ainda não foi ajuizada a respectiva Execução Fiscal contra o Autor,
porém o Réu já está impedindo a obtenção de comprovação de sua regularidade fiscal
(certidão positiva com efeitos de negativa) (Doc. XX).
Dessa forma, claro está que, existindo um débito perante o Fisco Federal, sem que haja
qualquer causa suspensiva da respectiva exigibilidade, o mesmo pode ser inscrito no Cadastro
de Proteção de Crédito, o que pode causar prejuízos ainda maiores ao Autor.
Além do mais, suspender a exigibilidade das penalidades exigidas até que se comprove a
desproporcionalidade da sua exigência não enseja qualquer prejuízo ao Fisco Federal.
Desse modo, restou demonstrado a situação jurídica que impõe a antecipação de tutela. E uma
vez presentes os requisitos contidos no art. 300 do Código de Processo Civil, necessários para
deferimento da tutela de urgência, haja vista que as provas colacionadas aos autos evidenciam
a plausibilidade da pretensão ora trazida e a subsunção dos fatos narrados às normas
constitucionais e tributárias, bem como o perigo de dano ou risco de resultado útil ao
processo, sendo necessária a imediata imposição da atividade jurisdicional para que se evite a
ocorrência de lesão ou prejuízo irreparável para a Autor.
Dessa forma, presentes os pressupostos da tutela liminar, mister se faz a concessão liminar
para suspender a exigibilidade da Notificação de Lançamentos nº XXXXXXXX até que se
comprove a desproporcionalidade da sua exigência, portanto, se fazer cessar o abuso de Poder
por considerá-lo verdadeira sanção política, com a sua consequente e imediata intimação para
cumprimento, sob pena de aplicação de multa diária a ser arbitrada por Vossa Excelência.
V. DA GARANTIA DO JUÍZO
Apenas, por cautela, caso não seja do entendimento desse Juízo pela concessão imediata da
liminar deferindo a tutela de urgência, o Autor informa a este Juízo, para efeitos da suspensão
da exigibilidade do débito tributário, bem como os juros e multa impostos, nos termos do art.
151, II do CTN, o depósito do montante integral conforme documento juntado aos autos.
Diante de todo o exposto, serve a presente Ação Anulatória para requerer a V. Exa. o seguinte:
(1) concessão de MEDIDA LIMINAR, em sede de tutela de urgência, inaudita altera pars, nos
termos no art. 300 0 do Código de Processo Civil l, para determinar ao réu a imediata
suspensão da exigibilidade da Notificação de Lançamento nº XXXXXXXXXXX até que se
comprove a nulidade da sua exigência, com a cominação ao réu de multa diária de R$ 1.000,00
(uns mil reais) na hipótese de eventual descumprimento total ou parcial da decisão liminar;
(3) Caso não entenda pela imediata concessão de tutela liminar de urgência, que seja aceito o
depósito do montante integral do débito fiscal, a fim de que o crédito tributário objeto da
Notificação de Lançamento nº XXXXXXXXX seja suspenso até o trânsito em julgado da presente
ação;
(5) após a concessão da liminar, que seja julgado inteiramente procedente o pedido, anulando-
se o respectivo débito fiscal oriundo de lançamento tributário suplementar de ofício na sua
integralidade, ou, na hipótese de não reconhecido, que a penalidade aplicada na Notificação
de Lançamento nº XXXXXXXXX seja reduzida, observados os princípios da proporcionalidade,
razoabilidade e do não confisco, consoante previsão contida no art. 150 0, inciso IV da
Constituição Federal l;
(6) o julgamento antecipado da lide, na forma prevista no art. 355 5 do CPP P, tendo em vista
tratar a presente ação de matéria exclusivamente de direito;
(7) a produção de todos os meios de prova em direito admitidas, inclusive a juntada posterior
de documentos, na hipótese de V. Exa. entender necessária;
(8) a condenação do réu nos ônus da sucumbência, quais sejam, o ressarcimento ao autor das
custas e demais despesas judiciais eventualmente adiantadas e o pagamento de todas as
demais despesas processuais remanescentes, além do pagamento de honorários advocatícios
sucumbenciais arbitrados por este MM. Juízo.
Por fim, o Autor declara que todas as cópias simples, anexadas com a presente Ação
Anulatória, são expressões da verdade, sob a responsabilidade pessoal dos patronos, firmes
nos termos do art. 225 do CC/2002 e art. 425, IV do CPC/2015.
Requer, por fim, sejam as intimações processuais efetivadas em nome do advogado XXXXXXX,
inscrito na OAB/XX N. XXXX, com endereço eletrônico: XXXXXXXXX, nos precisos termos do Art.
272, § 5º do CPC/2015, sob pena de nulidade.
Nestes termos,
Pede deferimento.
XXXXXXXX
OAB/XX nº XXXXX