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1. DOS FATOS
O autor foi cliente da instituiçã o requerida, ocasiã o que adquiriu o Financiamento / Cédula
de Crédito nº xxxxxxxx, com a finalidade de comprar um Veículo xxxxxxxxxxxxxxxx.
O valor financiado foi de R$ xxxxxxxxxxxxxx, e o pagamento ficou ajustado em XXX
(sessenta) parcelas de R$ XXXXX (XXXXXXXXXXXXXX). Apó s o pagamento de XXXX (vinte e
três) parcelas, o autor passou por dificuldades financeiras, e ao tentar negociar com a
instituiçã o financeira ré para fazer a quitaçã o das parcelas em atraso foi-lhe negado o
pagamento individual, bem como, foi exigido a totalidade das parcelas atrasadas,
carregados de juros morató rios exagerados/abusivos, razã o pela qual nã o conseguiu
adimplir.
Na data de XXXXXX o autor teve o seu veículo apreendido através da Açã o de Busca e
Apreensã o de nº XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, regrada pelo procedimento do Decreto Lei
911/69.
Atualmente, em consulta no DETRAN verifica-se que o veículo se encontra em nome de
terceiro. Muito embora o autor entenda a viabilidade da venda do Veículo apó s a apreensã o
no respectivo processo, certo é, que ao devedor/consumidor deve ser garantido o direito
de informação e fiscalização dos atos que são realizados, com a finalidade também de
evitar que a instituiçã o financeira venda o veículo por valor ínfimo.
No caso, conforme extratos dos DETRANS anexos, é certo que o respectivo veículo já
foi vendido em leilão, contudo, nenhuma informação foi prestada ao
autor/consumidor, tanto em relaçã o a data que se realizaria o Leilã o, ou ainda, qualquer
outra informaçã o pertinente.
Para tanto, o autor chegou a Notificar a Instituiçã o financeira na data de XXXXXXXXXX,
através de Carta com Aviso de recebimento (AR), contudo, nã o obteve qualquer resposta.
O problema é que, conforme extrato anexo, do 1º Tabelionato de Notas e Protestos de
XXXXXXXXX/SC, atualmente, o autor permanece com o seu nome
NEGATIVADO/PROTESTADO, mesmo apó s a instituiçã o financeira ter vendido o veículo
em leilã o, e nã o forneceu qualquer informaçã o ao devedor, seja da data do Leilã o, ou ao
menos, informasse o valor obtido na venda, para que o autor pudesse quitar o saldo
remanescente e liberasse as restriçõ es constantes em seu nome.
Ademais, conforme se fundamentará a seguir, a ausência de informaçã o ao
consumidor/devedor sobre a realizaçã o do Leilã o retira a liquidez de eventual saldo
remanescente e impede a instituiçã o financeira de realizar qualquer outra cobrança,
razão pela qual é direito do autor a declaraçã o de quitaçã o do débito.
Outrossim, verifica-se que em XXXXXXXXXX (Data da Propositura da Açã o de Busca e
Apreensã o) o saldo devedor do autor era de R$ XXXXXXXXXXXXXXX (vinte e um mil e dois
reais e setenta e três centavos), conforme extrato constante no processo de Busca e
apreensã o, fls. XXX e XXXXX Ato contínuo, o valor de avaliaçã o do veículo pela FIPE era de
R$ XXXXXXXXXXX (XXXXXXXXXXXXXX), muito superior ao valor efetivo da dívida, o que faz
crer que na realidade, que o autor tem valores a ser restituídos pela instituiçã o financeira,
restando demonstrado assim, o cabimento e necessidade da presente Ação de Exigir
Contas.
2. DO DIREITO
2.1. DO PROCEDIMENTO DE VENDA EXTRAJUDICIAL DO BEM ATRAVÉS DO DECRETO
LEI 911/69:
O Decreto Lei 911/69 possibilita à instituiçã o financeira credora, em caso de
inadimplemento do devedor fiduciá rio e devidamente comprovada a sua mora, a Busca e
Apreensã o do veículo colocado em garantia, e decorrido 05 (cinco) dias da apreensã o sem a
purgaçã o da Mora (Pagamento da Integralidade do Débito), fica autorizada a sua venda em
Leilã o. Esta é a leitura do Decreto em seu art. 02º:
Art. 2o No caso de inadimplemento ou mora nas obrigaçõ es contratuais garantidas
mediante alienaçã o fiduciá ria, o proprietá rio fiduciá rio ou credor poderá vender a coisa a
terceiros, independentemente de leilã o, hasta pú blica, avaliaçã o prévia ou qualquer outra
medida judicial ou extrajudicial, salvo disposiçã o expressa em contrá rio prevista no
contrato, devendo aplicar o preço da venda no pagamento de seu crédito e das
despesas decorrentes e entregar ao devedor o saldo apurado, se houver, com a
devida prestação de contas. (Redaçã o dada pela Lei nº 13.043, de 2014)
Nada obstante, a despeito de o referido artigo facultar a alienaçã o do bem em caso de
inadimplência da parte, isto não significa que a venda se dará ao bel-prazer da
financeira, isto é, sem oportunizar aos devedores a defesa dos seus interesses, ao arrepio
dos princípios da boa-fé, transparência e equilíbrio contratual que regem as relaçõ es de
consumo, conforme prescreve os incisos III e VIII do art. 6º:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
No mais, quanto à aplicabilidade do CDC no caso concreto, está já foi sedimentada por
todos os Tribunais, inclusive o STJ, conforme a Súmula 297 do STJ, que prescreve: “O
Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras”.
Assim, com a finalidade de evitar o enriquecimento ilícito das instituiçõ es financeiras, bem
como, o abuso de direito em face dos consumidores/devedores, em casos similares a
jurisprudência tem imposto o dever de prestaçã o de contas das instituiçõ es financeiras,
inclusive quanto ao dia de realizaçã o do Leilã o/Venda, a fim de possibilitar ao devedor a
participaçã o, fiscalizaçã o e assim evitar que seja vendido por preço vil.
Nesse sentido, o pró prio STJ já se manifestou:
“Por fim, cabe ressaltar que, na esteira da jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça, a falta de participação do devedor nos atos de alienação extrajudicial do bem
retira a liquidez e certeza da cobrança do saldo remanescente, impedindo o ingresso
de ação executiva pela instituição financeira” (AgRg no REsp XXXXX/PR; REsp
XXXXX/SC).
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ALIENAÇÃ O FIDUCIÁ RIA EM GARANTIA.
VENDA EXTRAJUDICIAL DO BEM ALIENADO. ACOMPANHAMENTO DO DEVEDOR.
NECESSIDADE. 1. A venda extrajudicial do bem objeto de alienação fiduciária (art. 2º
do DL 911/69) deve ser comunicada ao devedor fiduciante, de modo a proporcionar-
lhe a defesa de seus interesses, especialmente ante a possibilidade de o credor vir a
lhe cobrar eventual saldo remanescente. Precedentes. 2. Agravo regimental a que se
nega provimento. (AgRg no REsp XXXXX/MG, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
QUARTA TURMA, julgado em 11/09/2007, DJ 24/09/2007, p. 315).
E ainda:
PROCESSUAL CIVIL. ARRENDAMENTO MERCANTIL. BUSCA E APREENSÃ O.
REINTEGRAÇÃ O DE POSSE. VENDA EXTRAJUDICIAL DO BEM A TERCEIRO. COBRANÇA DO
SALDO DEVEDOR PELA VIA EXECUTIVA. CERTEZA E LIQUIDEZ AUSENTES. CPC, ART. 585,
II. A venda extrajudicial do bem apreendido pela credora diretamente a terceiro, sem a
intervençã o do devedor e prévia avaliaçã o, retira a liquidez e certeza da cobrança do saldo
remanescente, desautorizando o uso da via executiva. II. Recurso especial nã o conhecido.
(REsp XXXXX/SC, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em
15/08/2002, DJ 07/10/2002, p. 263).
Vale dizer, nessa linha, que eventual cobrança de saldo remanescente exija a apresentaçã o
de título dotado de certeza, liquidez e exigibilidade, sendo imprescindível que o credor
instrua sua pretensã o com, além da demonstraçã o da dívida, a comprovaçã o de ciência da
parte devedora acerca da data da venda extrajudicial levada a efeito.
De forma aná loga, nos valemos das decisõ es proferidas em sede de Açõ es Monitó rias
movidas pelas instituiçõ es financeiras para cobrar o saldo devedor, e o entendimento
Jurisprudencial tem sido o mesmo:
APELAÇÃ O CÍVEL. AÇÃ O MONITÓ RIA. EMBARGOS MONITÓ RIOS. COBRANÇA DE SALDO
REMANESCENTE DE VENDA EXTRAJUDICIAL DE BEM ALIENADO FIDUCIARIAMENTE.
POSSIBILIDADE (SÚ MULA N. 384 DO STJ). NECESSIDADE, PORÉM, DE PRÉVIA
AVALIAÇÃO DO BEM E NOTIFICAÇÃO QUANTO À VENDA. PROVA QUE SE FAZ
AUSENTE, NÃO INDICANDO A EVOLUÇÃO DO DÉBITO. MORA NÃO CARACTERIZADA
PARA FINS DE PROCEDIMENTO MONITÓRIO. "É certo que 'cabe açã o monitó ria para
haver saldo remanescente oriundo de venda extrajudicial de bem alienado fiduciariamente
em garantia' (Sú mula 384 do STJ), mas para a viabilidade da demanda exige-se a
comprovação razoável da existência da dívida. Impõe-se, desta maneira, instruir a
peça vestibular com documento comprobatório da cientificação do devedor da venda
extrajudicial, bem como da avaliação e prestação de contas." (TJSC, AC n.
2006.019416-1, rel. Des. Gilberto Gomes de Oliveira, j. 25-11-2010).
E ainda:
Desse modo, "um dos documentos imprescindíveis para formação do conjunto
probatório apto ao manejo do procedimento monitório é a notificação da venda do
bem alienado fiduciariamente. Isto porque, será a partir deste momento que o
devedor será cientificado a respeito do débito ainda existente e, a partir de então,
estará constituído em mora. Enquanto isso não ocorre, é incerta a dívida, o que
impede sua cobrança" (TJSC. AC n. 2013.091157-6 de Meleiro, rel.: Des. Guilherme Nunes
Born. J. em: 22-5-2014).
Portanto, uma vez ausente a notificaçã o do devedor acerca do leilã o e do saldo
remanescente da dívida, é medida de direito o reconhecimento por este juízo da
inexistência de débito, ou ao menos, reconhecer a obrigaçã o da instituiçã o financeira de
proceder a exclusã o do nome do autor do rol de inadimplentes (No caso, Retirada do
Protesto), para que, somente apó s seja cumprida a prestaçã o de contas, se exija do mesmo,
eventual saldo devedor, o que acredita-se que nã o há , considerando o valor da dívida e o
valor do veículo nos termos da Tabela FIPE.
3. DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA
Objetiva a parte autora através do pleito de Antecipaçã o de Tutela de Urgência, para
determinar a IMEDIATA SUSTAÇÃO OU SUSPENSÃO do protesto pertinente ao título
protocolado junto ao 1.º TABELIONATO DE NOTAS E PROTESTO DE TÍTULO DE XXXXXXXX,
decorrente da cédula de crédito objeto também desta demanda, até decisã o final desta
Açã o, sob pena de multa diá ria a ser fixada no mínimo de R$ 100,00 (cem reais), a teor do
art. 461, § 4.º, do Có digo de Processo Civil, inclusive expedindo com urgência ofício ao
respectivo
Os art. 300 e 311 do Novo Có digo de Processo Civil assim prescrevem:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.
(...)
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou apó s justificaçã o prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada nã o será concedida quando houver perigo
de irreversibilidade dos efeitos da decisã o.