REQUERENTE, brasileiro, solteiro, profissã o, inscrito no RG 0.000.900, CPF 000.000.000-
00, residente e domiciliado na Rua XXX, 00, Bairro XXX, nesta cidade de XXX/SC, CEP 00000-000, representada (o) por seus procuradores signatá rios, com endereço profissional na Rua Brusque, 976, Bairro Centro, na cidade de Itajaí/SC, CEP 88303-001, com endereço eletrô nico: venicius@saninternet.com, onde recebe intimaçõ es e outros documentos judiciais pertinentes, vem, mui respeitosamente perante Vossa Excelência, propor a presente: AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE VALORES, contra: REQUERIDA INCORPORADORA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob o CNPJ nº 00.000.000/0000-00, estabelecida na Rua XXX, 00, Bairro XXX, na cidade de XXX/SC, CEP 00000-000, pelos motivos e razõ es de fato e de direito que adiante expõ e e ao final requer. I – DOS FATOS No dia 04/02/2021 as partes pactuaram um “CONTRATO POR INSTRUMENTO PARTICULAR DE COMPRA E VENDA DE FRAÇÃO IDEAL DE TERRENO E CONSTRUÇÃO DE UNIDADE HABITACIONAL, COM FIANÇA, ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA E OUTRAS OBRIGAÇÕES, COM PAGAMENTO PARCIAL E SALDO FINANCIADO PELA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - ADESÃO AO "CASA VERDE E AMARELA"RECURSOS FGTS”. Nisso, o requerente se comprometeu em adquirir um apartamento na planta, com as seguintes características: Apartamento 507, Bloco 02, contendo cozinha, sala de estar / jantar, dois dormitórios, um banheiro, com área privativa de 41,380 m2, área comum de 8,211 m2, totalizando uma área de 49,591 m2, com fração ideal de 0,6230%, e área do terreno correspondente de 39,074 m2, com vaga de estacionamento descoberta nº 124, para um veículo de passeio de médio porte, no valor total de R$ 174.000,00 (cento e setenta e quatro mil reais). Isto posto, iniciou-se o pagamento da entrada em 46x parcelas diretamente com a Requerida no valor total de R$ 34.804,52 (trinta e quatro mil oitocentos e quatro reais e cinquenta e dois centavos), para posteriormente solicitar o financiamento do restante do valor do imó vel junto a instituiçã o financeira estipulada no contrato: Caixa Econô mica Federal. Inicialmente, em 08/02/2021 foi dada uma Entrada/Sinal e Princípio de Pagamento no valor de R$ 4.000,00 pagos à vista, recebidos a Título de Arras, conforme comprovante de pagamento e determinado na clá usula V do contrato de compra e venda – quadro resumo em anexo. No decorrer, foi realizado o pagamento de 16 parcelas, nelas incluindo também a comissã o de corretagem, totalizando o valor de R$17.428,68 (dezessete mil quatrocentos e vinte e oito reais e sessenta e oito centavos) pagos diretamente à Requerida. No entanto, no momento em que o Requerente tentou solicitar o financiamento com a instituiçã o financeira, o mesmo nã o foi aprovado. Por conseguinte, por nã o ter logrado êxito na aprovaçã o do seu financiamento, a Requerida optou por rescindir o contrato, ressarcindo a Entrada/Sinal com as demais 16 parcelas, aplicando uma multa de 50% pela quebra de contrato, totalizando uma pena convencional de R$ 8.714,34. Ou seja, do total de R$ 17.428,68 pagos, foram devolvidos apenas R$ 4.714,34 sem estar devidamente corrigido, conforme notificaçã o extrajudicial em anexo. Assim, diante do desrespeito da parte Requerida em agir em desacordo com a legislaçã o vigente, nã o restou outra alternativa senã o buscar a tutela jurisdicional do Estado, para que o Requerente tenha garantido o seu direito de ressarcimento de quantias pagas. II – DA JUSTIÇA GRATUITA Cumpre salientar que o Poder Judiciá rio é de livre acesso para qualquer cidadã o, e diante da situaçã o financeira em que o Requerente se encontra, o mesmo nã o possui condiçõ es financeiras de arcar com as custas processuais e honorá rios advocatícios, sem o prejuízo do pró prio sustento ou de sua família. Sendo assim, requer a concessã o da Justiça Gratuita a seu favor, com fulcro no art. 98 do CPC. III – APLICABILIDADE DO CDC É indiscutível a caracterizaçã o da relaçã o de consumo entre as partes, apresentando-se o Requerente como consumidor, de acordo com o conceito previsto no art. 2º do CDC, e a Requerida como comercializadora de produtos, e, portanto, fornecedora nos termos do art. 3º do mesmo diploma. IV – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA Diante da hipossuficiência do consumidor (Lei nº 8.078/1990), ao elaborar o texto do có digo consumerista, o legislador antecipou, no art. 6º, inciso VIII, a facilitaçã o ao acesso da justiça, garantido, dentre outros direitos, a inversã o do ô nus da prova. Ora, os fatos narrados nessa exordial nada possuem de extraordiná rio, sendo certo que a má prestaçã o de serviços da Requerida, trouxe danos considerá veis ao Requerente, além de preocupaçã o e angú stia em relaçã o ao ressarcimento do seu dinheiro. Além disso, segundo o Princípio da Isonomia, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, mas sempre na medida de sua desigualdade. Ou seja, no caso ora debatido, a Requerente realmente deve receber a supracitada inversã o, visto que se encontra em estado de hipossuficiência, uma vez que disputa a lide com uma empresa de grande porte, que possui maior facilidade em produzir as provas necessá rias para a cogniçã o do Excelentíssimo magistrado. Assim, é aplicá vel, na espécie, a disposiçã o do Có digo de Defesa do Consumidor relativa à inversã o do ô nus da prova (art. 6º, VIII), pela qual, requer, desde já , seja deferida de plano por Vossa Excelência. V – ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA - RESSARCIMENTO DOS VALORES PAGOS Conforme narrados nos fatos, o requerente realizou o pagamento diretamente com a requerida referente ao sinal/entrada e mais 16 parcelas, incluídas nestas a comissã o de corretagem, no valor total de R$17.428,68. Apó s a rescisã o contratual causada pela negativa do financiamento, a Requerida penalizou o Requerente com uma multa de 50% (R$ 8.714,34) dos valores pagos. Ou seja, da totalidade paga, fora devolvido apenas a quantia de R$ 4.714,34. Diante desses fatos, é notó rio a abusividade por parte do fornecedor de produtos e serviços exigir vantagem manifestamente excessiva, conforme dispõ e o art. 39, inciso V, do CDC: Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras prá ticas abusivas: (...) V – Exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva. No mesmo liame, o artigo 51, incisos IV e XI e § 1º, incisos I e III da legislaçã o consumerista: Art. 51. Sã o nulas de pleno direito, entre outras, as clá usulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: (...) IV – estabeleçam obrigaçõ es consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade; (...) § 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que: I – ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence; (...) III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e o conteú do do contrato, o interesse das partes e outras circunstâ ncias peculiares ao caso. Isto posto, a culpa da Requerida está consubstanciada na abusividade de clá usula penal e no ato ilícito por ela praticado em nã o buscar uma soluçã o digna para evitar um prejuízo ao Requerente, ou seja, nã o devolvendo o total da quantia (exceto a comissã o de corretagem) paga e devidamente corrigida, fazendo com que o Requerente sofresse prejuízo de ordem patrimonial. Diante da situaçã o explanada, se torna evidente a má prestaçã o do serviço por parte Requerida em nã o ressarcir corretamente os valores pagos de forma integral e devidamente corrigidos. Dessa forma, requer a condenaçã o da Requerida ao ressarcimento do desconto da pena convencional de 50% no valor de R$8.714,34 devidamente atualizado, perfazendo o valor de R$ 11.701,98. VI – REDUÇÃO DA PENA CONVENCIONAL Alternativamente, se Vossa Excelência entender ser devida a pena convencional, o Requerente pleiteia que a penalidade seja reduzida, pelo fato de ser manifestamente excessiva. Art. 413. A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigaçã o principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo em vista a natureza e a finalidade do negó cio. Assim, é direito do consumidor ter revistas clá usulas contratuais que se mostrem excessivamente desproporcionais e/ou tornem o pactum extremamente oneroso por fato superveniente. No caso em tela, o Requerente pretende a retençã o de, no má ximo, 10% a 25% do valor pago. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃ O DE RESCISÃ O CONTRATUAL CUMULADA COM DEVOLUÇÃ O DE QUANTIAS PAGAS. DESISTÊ NCIA PELO COMPRADOR. PERCENTUAL. RETENÇÃ O. POSSIBILIDADE. SÚ MULA 568/STJ. MONTANTE FIXADO PELAS INSTÂ NCIAS ORDINÁ RIAS. REVISÃ O. SÚ MULA 7/STJ.1. Açã o de rescisã o contratual c/c devoluçã o de quantias pagas. 2. A atual jurisprudência do STJ define que, em caso de rescisã o de compromisso de compra e venda por culpa do promitente comprador, é possível ao vendedor reter entre 10% e 25% dos valores pagos [...] (AgInt no REsp. n. 1.822.638/SP , rela. Ministra Nancy Aandrighi, Terceira Turma, j. 18-11-2019). A parte Requerida ofende a legislaçã o em vigor, já que embasa sua posiçã o em clá usula nula de pleno direito, já que impõ e à Requerente condiçã o totalmente desvantajosa, gerando vantagem extremamente excessiva à Requerida. Mister destacar, ainda, que, com a rescisã o do contrato, a Requerida pode vender novamente a unidade e com o preço valorado. Desse modo, considerando a resiliçã o do contrato operada, deve a Requerida ser compelida a restituir ao Requerente os valores pagos, retendo-se, se o caso, o percentual de no má ximo 10% a 25% de tais valores devidamente corrigidos. VII – DOS PEDIDOS Assim, diante do exposto, vem mui respeitosamente à presença de V. Exa., para requerer: a) Seja deferido o benefício da Gratuidade da Justiça, pelo fato do Requerente nã o possuir condiçõ es de custear as despesas processuais sem o prejuízo do pró prio sustendo ou de sua família; b) A aplicaçã o das disposiçõ es do CDC, especialmente aquelas relativas à inversã o do ô nus da prova; c) A citaçã o da Requerida para que, querendo, apresente contestaçã o, sob pena de revelia e confissã o; d) Ao final, comprovado o articulado seja a Requerida condenada ao ressarcimento da pena convencional, no valor estimado de R$11.701,98, com a devida correçã o monetá ria; e) Alternativamente, caso Vossa Excelência entender ser devida a pena convencional, seja a Requerida condenada a reter os valores pagos, no percentual de no má ximo 10% a 25%, pelo fato de ser manifestamente excessiva; f) Ao final, com a procedência da açã o seja a Requerida condenada ainda no pagamento das custas e honorá rios advocatícios, a serem fixados em 15% sobre o valor da condenaçã o, no valor estimado de R$1.755,29 e demais cominaçõ es legais a ser fixadas por Vossa Excelência; g) A produçã o por todos os meios de prova em direito admitidos, especialmente pelo depoimento pessoal do representante legal da Requerida, pena de confissã o, oitiva de testemunhas e pela realizaçã o de perícias; Dá -se à causa o valor de R$ 13.457,27 [treze mil e quatrocentos e cinquenta e sete reais e vinte e sete centavos]. Nestes termos, pede deferimento. Itajaí/SC, 00 de março de 2023. Guilherme Nascimento Neto OAB/SC 57.154 ROL DE DOCUMENTOS: 1. Petiçã o Inicial 2. Procuraçã o 3. Declaraçã o de hipossuficiência 4. Declaraçã o de rendimentos e bens 5. RG e CPF 6. Comprovante de residência 7. CTPS digital 8. Extrato bancá rio 9. Contrato de compra e venda - quadro resumo 10. Contrato de compra e venda - clausulas gerais 11. Planta do apartamento 12. Comprovantes de pagamento das parcelas 13. Notificaçã o extrajudicial