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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 1ª VARA

CÍVEL E INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE TRINDADE-GO

HENRIQUE CARDOSO DE OLIVEIRA, inscrito(a) no CPF sob nº 034.009.53180,


residente e domiciliado à R Igarapé QD 57 LT 19, nº SN, Setor Jardim Marista, no município
de Trindade – GO, CEP 75383387, por meio de sua advogada regularmente constituída
(Procuração - Doc. Anexo 01), vem, à presença de Vossa Excelência, tempestivamente, nos
termos do Art. 335 do Código de Processo Civil, apresentar:

CONTESTAÇÃO

Em face da presente Ação de Busca e Apreensão, aforada por BANCO BRADESCO


FINANCIAMENTOS SA, Instituição Financeira inscrita no CNPJ/MF sob o nº
07.207.996/000150, com sede social em OSASCO/SP, Cidade De Deus S/N Prédio Prata, 4º
Andar, Vila Yara, CEP nº 06029900, endereço eletrônico 4429.advogados@bradesco.com.br,
em decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

1. SÍNTESE FÁTICA

Aos 29/11/2022 o Consumidor/Requerido celebrou com Banco Bradesco, ora


Requerente, Contrato de Financiamento de nº 0245702420, para Aquisição de um veículo,
garantido(s) por Alienação Fiduciária.

O veículo fora adquirido pelo valor total de R$ 25.589,12 (Vinte e Cinco Mil e
Quinhentos e Oitenta e Nove Reais e Doze centavos) sendo 43 (quarenta e três) prestações
mensais, no valor de R$ 1.070,65 (Mil e Setenta Reais e Sessenta e Cinco centavos), ao passo
que, dentre dessas, 04 (quatro) parcelas foram adimplidas antes da propositura desta ação.

Em maio de 2023, o Requerido recebeu a notificação extrajudicial, referente a parcela


n. 02, 03 e 04 do financiamento, que estava em atraso, com vencimento de 30/03/2023,
30/04/2023 e 30/05/2023, as quais foram pagas, sendo que, a posteriori o Requerente ajuizou
a presente Ação, considerando a parcela de número 3 (três), vencida em 30/04/2023 e
subsequentes, o qual teve seu pedido de busca e apreensão liminarmente deferido em evento
04.

Ocorre que, antes do ajuizamento desta ação, em 04/07/2023 as partes celebraram


acordo extrajudicial para atualização do contrato, com relação às parcelas 03 e 04, vencidas
em 30/04/2023 e 30/05/2023, no valor total de R$ 2.322,12 (dois mil, trezentos e vinte e dois
reais e doze centavos), para pagamento em única parcela, conforme e-mail recebido em
12/07/2023 com boleto em anexo, a parcela com vencimento 30/03/2023 já estava paga.

Nesse sentido, em cumprimento ao acordo entabulado entre as partes, o Requerido


promoveu o pagamento à vista, conforme acordado, devidamente atualizadas conforme os
parâmetros estabelecidos, de acordo com os comprovantes de pagamentos em anexo.

Outrossim, quando o Requerente ajuizou a presente ação em 28/07/2023, apenas o


boleto com vencimento 30/06/2023 estava vencido, o qual, por óbvio, não foi objeto da
notificação extrajudicial enviado ao Requerido no mês de maio.

Além do ocorrido, que conforme será exposto é causa de revogação da decisão de


Evento 04, extinção da ação sem julgamento de mérito (art. 485, inc. IV do Código de
Processo Civil), ainda enseja na devolução URGENTE do veículo da Ré, sob pena de
prejuízos irreparáveis, diante da apreensão equivocada ocorrida, posto que a mora foi ilidida e
as parcelas constantes na notificação extrajudicial recebida pelo Requerido foram adimplidas
de comum acordo com a Ré, logo, eventuais parcelas vincendas ensejariam em nova
constituição em mora, em obediência ao Decreto-Lei 911/69, em seus arts. 2º § 2º e art. 3º.

Ademais, além de não promover a notificação do Requerido o Réu inclui na presente


Ação de Busca e apreensão parcela que foi objeto do acordo proposto pelo Banco, as quais
foram devidamente pagas.

Assim sendo, no mérito da contestação requer-se URGENTEMENTE a revogação da


decisão liminar de evento 04 que autorizou a apreensão do veículo equivocadamente, bem
como a restituição do bem, e a extinção da ação sem resolução de mérito.

2. QUESTÕES PRELIMINARES

2.1. CONCESSÃO DE JUSTIÇA GRATUITA

O requerido está desempregado, se vê momentaneamente hipossuficiente de arcar


com as custas processuais e honorários advocatício, sem que isso provoque prejuízo de seu
sustento e de sua família, pelo que requer a V. Exa. se digne a deferir a concessão dos
benefícios da Justiça Gratuita, insculpido pela CRFB/88, art. 5º, LXXIV e pela Lei
13.105/2015 NCPC, art. 98 e seguintes, posto que é pessoa juridicamente hipossuficiente.

Nas palavras de DONIZETTI, a assistência judiciária gratuita, constitui-se como “um


benefício colocado à disposição daqueles que não tenham condições de arcar com os gastos
do processo”.
Categoricamente, preceitua o Art. 5º, LXXIV da Constituição Federal, que é dever do
Estado prestar assistência jurídica, integral e gratuita àqueles que comprovarem insuficiência
de recursos.

Ademais, a gratuidade da justiça deve ser concedida a pessoa natural, brasileira,

que comprove a escassez de recursos para pagar custas, despesas processuais e honorários
advocatícios nas demandas judiciais (Art. 98, CPC). Significa dizer que o presente caso se
amolda perfeitamente com as referidas disposições legais.

Nesse sentido, caminha o entendimento do Tribunal de Justiça Goiano, o qual editou a


Súmula n. 25 a respeito da justiça gratuita à pessoa natural ou jurídica:

“Súmula 25:

Enunciado: Faz jus à gratuidade da justiça a pessoa, natural ou


jurídica, que comprovar sua impossibilidade de arcar com os
encargos processuais.”

A bem da verdade: Entender pela negativa da justiça gratuita seria o mesmo que

impedir àqueles sem condições de custear despesas processuais, como é o caso da Requerida,
de ter acesso à Justiça, garantia maior dos cidadãos no Estado Democrático de Direito,
corolário do Princípio Constitucional da inafastabilidade da jurisdição (Art. 5º, XXXV, CF),
tal como pela permissividade da concessão dessa benesse a quem o requeira através de
advogados particulares (Art. 99, § 4º, CPC).

Destarte, não podendo dispor de valores para custeio das despesas processuais, requer
seja DEFERIDA A ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA, VISTO QUE FAZ JUS
AO RECEBIMENTO DA BENESSE LEGAL (Art. 5º, XXXV e LXXIV, CF c/c Arts. 98 e
99, § 4º, ambos do CPC).

2.2. PAGAMENTO DAS PARCELAS VENCIDAS ANTES DO


AJUIZAMENTO DA AÇÃO. ACEITAÇÃO PELO CREDOR FIDUCIÁRIO POR
MEIO DE ACORDO EXTRAJUDICIAL. SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE
INADIMPLEMENTO E SUPRESSÃO DA MORA DO DEVEDOR. INEXISTÊNCIA
DE NOTIFICAÇÃO DE INADIMPLÊNCIA POSTERIOR A DEVEDORA
FIDUCIANTE. PERDA DO INTERESSE DE AGIR.

Excelência, ressalta-se que, antes do ajuizamento desta Ação de Busca e Apreensão, as


partes entabularam acordo extrajudicial, a fim de realizar a atualização dos débitos das
parcelas n. 03 e 04 (vencidas 30/04/2023 e 30/05/2023) atinentes ao contrato de
financiamento, os quais restaram integralmente cumpridos pelo Requerido.

Assim, consensualmente o Requerido quitou as parcelas vencidas, as quais estava em


mora, o que, por óbvio, gerou a invalidade da notificação extrajudicial de constituição em
mora juntada nos autos, sendo imprópria para embasar a ação de busca e apreensão ajuizada.

Logo a notificação foi atendida e está defasada para embasar ação de busca e
apreensão pelo vencimento de outras parcelas que não são as constantes na notificação.

Pois bem. Nesse seguimento, a Súmula n. 72 do Superior Tribunal de Justiça e os Arts.


2º, § 2º, e 3º do Decreto Lei n. 911/69 dispõem o seguinte, respectivamente:

“Súmula n. 72. A comprovação da mora é imprescindível à busca e


apreensão do bem alienado fiduciariamente.”

“Art. 2º No caso de inadimplemento ou mora nas obrigações contratuais


(...)

§ 2º A mora decorrerá do simples vencimento do prazo para pagamento e


poderá ser comprovada por carta registrada com aviso de recebimento, não
se exigindo que a assinatura constante do referido aviso seja a do próprio
destinatário.

Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a


mora, na forma estabelecida pelo § 2º do art. 2º, ou o inadimplemento,
requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem
alienado fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo
ser apreciada em plantão judiciário.” (g.n.)

Desse modo Nobre Julgador, não há que se falar em inobservância dessas disposições,
haja vista que não foi um pagamento unilateral do Requerido após o ajuizamento da ação, mas
sim um pagamento realizado em decorrência de um acordo extrajudicial, antes do ajuizamento
dessa ação, que englobou custas e honorários advocatícios desta própria ação, ou seja, fora um
ato bilateral.

Em outras palavras: A quitação somente fora possível em decorrência da


bilateralidade, visto ter sido realizada por meio de proposta formalizada pela Requerente e
comprovadamente cumprida pelo Requerido.

Assim, pelo fato de o Requerido ter adimplido as parcelas inclusas no acordo


extrajudicial, comprova-se o afastamento da mora, bem como evidencia a renúncia da
Requerente das prerrogativas do § 2º do art. 3º do Decreto-Lei 911/69, bem como confere
legitimidade à conduta do Requerido, por ter efetivamente quitado o saldo devedor, e, ainda,
destaca a boa-fé e probidade em sua conduta, os quais são princípios inerentes a todos os
contratantes que realizarem qualquer negócio jurídico sob o Ordenamento Jurídico brasileiro
(Art. 422, CC), o que certamente se torna injusta a apreensão veicular equivocadamente
realizada.

Nessa toada, vejam-se os seguintes precedentes do Tribunal de Justiça Goiano:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO.


ACORDO EXTRAJUDICIAL. EMISSÃO DE BOLETO PELO CREDOR
PARA QUITAÇÃO DAS PARCELAS EM ABERTO. QUITAÇÃO ANTES DA
CITAÇÃO. REGULARIZAÇÃO DA MORA E CONTINUIDADE DO
VÍNCULO CONTRATUAL. Demonstrada a renegociação da dívida e o seu
regular pagamento, antes de sua citação, faz-se necessária a reforma da
decisão que concedeu a liminar de busca e apreensão, haja vista a ausência
de mora que justifique a sua existência, e determinar a devolução do
veículo objeto da lide ao Recorrente, caso tenha sido apreendido. AGRAVO
DE INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO” (TJGO - Agravo de
Instrumento 5566168.49.2019.8.09.0000, Relator: Des. ORLOFF NEVES
ROCHA, 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 09/03/2020) (g.n.)

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO PELO


DECRETO-LEI 911/69. NOTIFICAÇÃO. EMISSÃO DE BOLETOS PELA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. PAGAMENTO DAS PARCELAS VENCIDAS
ATÉ A DATA DA PROPOSITURA DA AÇÃO. SUPERAÇÃO DA SITUAÇÃO
INDICADA NA INICIAL. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO
DO MÉRITO. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA A SER SUPORTADO PELO
AGRAVADO. Na comprovação da mora a que se refere o Decreto-lei
911/69, in casu, detecta-se que a parcela a que refere a notificação, vencida
em 17.02.2016, restou paga pelo devedor em 19.04.2016, data da
propositura da ação, por autorização da instituição financeira, quando
emitiu o boleto respectivo, vindo, posteriormente, quitar a parcela seguinte,
igualmente, por autorização do agravado, o que torna superada a situação
de mora então demonstrada, erigindo, por conseguinte, a falta de
pressuposto processual a desautorizar não só a concessão de liminar, mas,
igualmente, a extinção do feito sem julgamento do mérito, (...) AGRAVO
DE INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO. Agravo de Instrumento
5043018.67.2017.8.09.0000, Relator: Dr. MARCUS DA COSTA FERREIRA,
3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 26/05/2017) (g.n.)

Nesse sentido, é certo afirmar que a decisão do Evento 04, a qual autorizou apreensão
do veículo do Requerido não observou a superação da situação de mora em decorrência do
acordo extrajudicial, bem como por não ter dado oportunidade, ao Requerido, para se
manifestar acerca do suposto inadimplemento, fatos esses que deveriam ter sido observados,
sob pena de configurar decisão surpresa.

Com o pagamento das parcelas do acordo, (03 e 04), as quais foram objeto da
notificação extrajudicial que o constituiu em mora, gerou a expectativa da continuidade do
vínculo contratual, onde, em caso de inadimplemento de novas parcelas, perante o
procedimento especial da ação de busca e apreensão, regulamentado pelo Decreto-Lei 911/69,
deveria ter constituído em mora das parcelas posteriores ao acordo que venceram.

Frisa-se para que se ajuíze uma ação de busca e apreensão, é conditio sine qua non que
haja notificação extrajudicial com Aviso de Recebimento (A.R) endereçada ao devedor
fiduciante oportunizando o pagamento das parcelas em aberto, antes que o devedor fiduciante
seja demandado judicialmente, tenha a dívida antecipada, possa perder o veículo alienado, ou
seja, sofra medidas mais gravosas, portanto, é uma garantia legal estampada no art. 2º § 2º do
Decreto-Lei 911/69 de que o devedor será notificado das parcelas em aberto.

Portanto, tendo o Requerido adimplido com todas as parcelas constantes na


notificação extrajudicial recebida, juntada aos autos pelo Autor, quais sejam, as parcelas 02,
03 e 04 por livre concordância do banco em aceitar atualizar o saldo devedor e manter o
contrato vigente entre as partes, não há que se falar em prosseguimento da ação de busca e
apreensão, salientando que, caso existam parcelas vencidas após a parcela 04, deverá o Autor
promover notificação extrajudicial de constituição em mora da devedora fiduciante,
cumprindo com o estampado na lei, para que somente após ajuíze ação de busca e apreensão
para apreensão do bem em decorrência de nova inadimplência, sendo a notificação juntada
que está embasando a presente ação defasada para o fim que se destina.

Outrossim, além de ocorrer prosseguimento da ação da busca e apreensão


equivocadamente conforme demonstrado, eis que enseja na extinção sem resolução do mérito
por superação da mora e inexistência de notificação extrajudicial de eventuais parcelas que
venceram após o acordo.

Destarte, ante a notória ausência de mora do Requerido pela quitação extrajudicial das
parcelas vencidas objeto da notificação extrajudicial que ampara a presente ação, requer-se A
REVOGAÇÃO DA ORDEM DE APREENSÃO DO VEÍCULO, a fim de que se proceda
com a IMEDIATA RESTITUIÇÃO DO BEM APREENDIDO, e, após a realização dessa
medida, se proceda com a EXTINÇÃO DO FEITO, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO,
visto a falta de pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo (Art. 485, IV, §
3º, CPC4 e330, I, § 1º, I, ambos do Código de Processo Civil).
3.0 . DA PROIBIÇÃO AO COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO ( VENIRE
CONTRA FACTUM PROPRIUM )

De fato, o Requerido encontrava-se em débito perante a instituição financeira


Requerente, antes do ajuizamento desta ação de busca e apreensão.
Entretanto, havia tratativas em andamento entre as partes visando a regularização do
referido débito.
A Requerida buscou socorro junto ao Banco Requerente, informando sua delicada
situação financeira e que não estava conseguindo adimplir o contrato em razão de fatos
supervenientes que restou acometido, informando, inclusive, que ele, Banco, havia
contribuído ativamente para esta situação chegar onde chegou.
E quando tudo, inclusive as orientações que recebera do Requerente, levava a crer que
a situação estava se conduzindo para uma solução amigável, foi surpreendido com a
apreensão do veículo, posto que o banco ingressou com ação para retomada do bem.
Conforme registros em anexo, as tratativas em questão ocorreram anterior ao
ajuizamento da ação de busca e apreensão, o que caracteriza grave violação ao princípio da
lealdade e da boa-fé objetiva, especificamente no que diz respeito à tese da proibição do
comportamento contraditório (VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM NON POTEST ).
A demanda foi aforada após o início das negociações, o que afasta qualquer
possibilidade de argumentação em sentido contrário por parte do CREDOR FIDUCIÁRIO.
O comportamento do Banco, que agiu de forma completamente desleal, ignorando o
princípio da boa-fé objetiva e violando o princípio do venire contra factum proprium on potest
, denota comportamento contraditório, que caracteriza abuso de direito (art. 187 do Código
Civil).
A contrariedade narrada consiste na conjugação dos fatos ocorridos, onde de um lado a
instituição financeira promoveu a ação reintegração de posse e ao mesmo manteve negociação
com o devedor, induzindo este ao pensamento de que a situação estava prestes a ser resolvida.
A cronologia dos fatos demonstra de forma cabal a alegação vertida, o que justifica a
total improcedência da ação visto que a violação ao princípio da lealdade processual, ao
princípio da boa-fé objetiva e ao princípio do venire contra factum proprium non potest faz
descaracterizar a mora debendi que é requisito basilar para concessão da reintegração de
posse.
Corroborando com o assunto, extrai-se do entendimento jurisprudencial do
nosso país:
“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. PROPOSTA
DE QUITAÇÃO DO CONTRATO NO CURSO DA AÇÃO. PAGAMENTO
EFETUADO DENTRO DO PRAZO. QUITAÇÃO DA OBRIGAÇÃO.
PROIBIÇÃO DE COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO.
HONORÁRIOS RECURSAIS DEVIDOS. 1. É vedado aos contratantes
praticarem condutas contraditórias, porquanto atentatórias a lealdade,
confiança e boa-fé, regras de condutas, indeclináveis nas relações
jurídicas. 2. In casu, o Apelante/A. enviou à Apelada/R. proposta para
quitação do contrato, com prazo certo de validade, sendo esta aceita e
paga dentro do prazo proposto, configurando-se a quitação total da
obrigação. 3. Conf. o § 11 do art. 85 do CPC/2015, o Tribunal de Justiça, ao
julgar o recurso, majorará os honorários fixados pelo MM. Magistrado a
quo, pelo que, majoro-os em 10%, cumulativo com o percentual arbitrado
no 1º grau. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA E DESPROVIDA.” (TJ-GO
- AC: 443390620168090051 GOIANIA, Relator: DES. OLAVO
JUNQUEIRA DE ANDRADE, Data de Julgamento: 22/09/2016, 5A
CAMARA CIVEL, Data de Publicação: DJ 2122 de 30/09/2016) G.n.

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO


DE BUSCA E APREENSÃO. NEMO POTEST VENIRE CONTRA
FACTUM PROPRIUM. DESCARACTERIZAÇÃO DA MORA NO CASO
CONCRETO. EXTINÇÃO DA AÇÃO. Em nosso ordenamento jurídico é
vedado aos contratantes o comportamento contraditório - nemo potest
venire contra factum proprium. -, por ferir os princípios da lealdade,
confiança e boa-fé objetiva (art. 422 do código civil). Comportamento
da instituição financeira mostrou-se contraditório ao ajuizar a presente
demanda e praticamente ao mesmo tempo manter negociação com o
devedor para quitação de débito. Descaracterização da mora no caso
concreto. Extinta a ação originária de busca e apreensão por ausência de
pressuposto de constituição e de desenvolvimento válido e regular do
processo - art. 485, inciso iv, do cpc/2015. Recurso provido.” (TJ-RS - AI:
50433597020218217000 RS, Relator: Miriam A. Fernandes, Data de
Julgamento: 17/06/2021, Décima Quarta Câmara Cível, Data de Publicação:
23/06/2021).

Assim é o entendimento jurisprudencial sobre a descaracterização da mora e o não


cabimento do ajuizamento da ação de busca e apreensão quando o banco pratica
COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO com seu cliente, como a prática de ações no
sentido de renegociação da dívida, como verificável no caso.

4. PURGAÇÃO DA MORA - INCLUSÃO SOMENTE DAS PARCELAS


VENCIDAS

A expressão dívida pendente, constante da redação do art. 3º do Dec.-Lei nº. 911/69,


refere-se tão somente à dívida vencida, que conforme consta na planilha de débito, são 03
(três) parcelas, no entanto o Requerente efetuou o pagamento das parcelas 04 e 05, ou seja,
apenas a parcela 05 estava vencida, quando do ajuizamento da presente ação.
‘Neste sentido é assente a orientação da jurisprudência:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO. BUSCA E APREENSÃO. ART. 3º, § 2º
DO DL 911/69. PAGAMENTO DAS PARCELAS VENCIDAS. PURGA NA
MORA. Possibilidade. Conforme disposto no art 3º, § 2º do DL 911/69, para
a purga da mora, deve-se exigir apenas o depósito das parcelas vencidas,
na medida em que tal exigência remedia toda a situação causada pelo
inadimplemento do consumidor e, ao mesmo tempo, não torna sobremaneira
árdua a continuidade da avença. Agravo improvido. (TJMG - AGIN
0322929-34.2011.8.13.0000; Paraopeba; Décima Quarta Câmara Cível;
Rel. Des. Estevao Lucchesi; Julg. 24/11/2011; DJEMG 06/12/2011). (grifo
nosso).
A orientação de que para a purgação da mora enseja o depósito integral dos valores
contratados (parcelas vincendas e vencidas), diante dos ditames previstos no art. 3º, § 2º, do
Decreto-Lei nº 911/69, importaria na aquisição do bem objeto do contrato à vista, restando
alterado a natureza do contrato em espécie.
Vale salientar que o contestante, buscou negociação junto ao requerente, mas se
eximem em formalizar o acordo para pagamento das parcelas vencidas, informado que não
seria possível.

5. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA


Já em relação a inversão do ônus da prova a favor do réu, esta se faz necessária, visto
que nos termos do artigo 6º, VIII, da Lei nº 8.078/90, um dos direitos básicos do consumidor
é:
“(...)a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo covil, quando, a critério
do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências".

Em razão da relação consumerista caracterizada, da hipossuficiência técnica e


financeira do Réu em relação à Autora, bem como da verossimilhança das alegações e das
provas documentais, o ônus da prova deve ser invertido , nos termos da Lei, tanto pela
narrativa fática da presente resposta, quanto pela fragilidade e ausência de conhecimento
sobre o direito bancário de uma parte em relação à outra.

7. DOS PEDIDOS

Diante do Exposto, requer:

a) A concessão do benefício da justiça gratuita, nos termos do artigo 98 do Código de


Processo Civil, tendo em vista que o Réu não possui condições de arcar com os honorários e
as custas processuais;

b) Sejam acolhidas as preliminares suscitadas, para extinguir a ação sem resolução do mérito
em razão da ausência de pressupostos de constituição e desenvolvimento válido e regular do
processo (ausência da constituição em mora do devedor), conforme artigo 485, IV, CPC,
revogando-se a liminar concedida de Busca e Apreensão;

c) Caso este Juízo não acolha as preliminares acima mencionadas, requer a aplicação da
inversão do ônus da prova, e que a Ação Seja Julgada Totalmente Improcedente, acolhendo o
pedido de adimplemento do débito em razão dos pagamentos efetuados pelo Réu e demais
razões expostas.

f) Seja o Requerente condenado a arcar com os honorários advocatícios e demais ônus


sucumbenciais.
Protesta pela produção de todos os meios de provas admitidos em direito, caso seja a vontade
de Vossa Excelência.
Nestes Termos,
Pede-se deferimento.

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