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Questionário 1

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1) O Município de Santana do Agreste instituiu, por meio de lei ordinária, uma taxa
de serviços públicos exclusivamente de coleta domiciliar, remoção e tratamento
ou destinação de lixo ou resíduos domiciliares, com base de cálculo atrelada à área
do imóvel, e previu a isenção da referida taxa para funcionários públicos
municipais. Diante de tal quadro, indaga-se:

a) O fato gerador da taxa está de acordo com a Constituição? Justifique.


Sim. A taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos de coleta
domiciliar, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos domiciliares
provenientes de imóveis é específica e divisível e, portanto, está de acordo com o Art.
145, inciso II, da CRFB/88, conforme Súmula Vinculante nº 19 do STF.

b) Pode o Município instituir tal isenção? Justifique


Não. Viola o princípio da isonomia instituir tratamento desigual entre contribuintes
que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de
ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da
denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos, conforme o Art. 150,
inciso II, da CRFB/88.

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2) José adquiriu um automóvel novo e pretende contratar um seguro para o veículo.


Ao entrar em contato com uma seguradora, José pediu-lhe uma proposta de valor
para segurar o automóvel. O valor de prêmio de seguro foi de R$ 1.500,00 e José
decidiu por celebrar o contrato com essa seguradora. No momento em que o
pedido de proposta foi feito, a alíquota do tributo incidente sobre a operação de
seguro era de 7%. Contudo, quando efetivamente concluiu-se a operação com a
seguradora, a alíquota tributária aplicada foi de 15%, uma vez que, dois dias antes

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da conclusão da operação, foi publicada uma lei que previa a alíquota majorada e
sua eficácia imediata. Diante do supra narrado, pergunta-se:

a) A majoração de alíquota com efeitos imediatos é válida? Justifique.


O imposto incidente sobre operações de seguro é o Imposto sobre Operações de Crédito,
Câmbio e Seguro, e sobre Operações Relativas a Títulos e Valores Mobiliários – IOF, de
competência da União, cf. o Art. 153, inciso V, da CRFB/88 ou do Art. 63 do CTN.

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3) Tyrion Lannister é locatário de imóvel de propriedade do Sindicato de


Empregadores da Construção Civil do Município de Westeros. Em seu contrato
de locação, está previsto que Tyrion Lannister deverá recolher ao Município o
valor do IPTU incidente sobre o imóvel. Todos os anos, José recebe o carnê de
IPTU e o paga devidamente, entregando posteriormente o carnê e o comprovante
de pagamento ao referido sindicato. Entretanto, Tyrion Lannister, ao conversar
com um advogado, passa a entender que a cobrança feita pelo Fisco Municipal era
indevida, pois o proprietário do imóvel, ainda que alugado a terceiros, seria
entidade imune. Dito isto, pergunta-se:

a) Poderia Tyrion discutir judicialmente a eventual imunidade do proprietário do


imóvel, uma vez que é ele quem paga o imposto, conforme cláusula contratual
expressa? Justifique.
Não. O locatário, não sendo contribuinte do IPTU, não possui legitimidade ativa para
discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e de taxas referentes ao imóvel alugado nem
para repetir indébito desses tributos, cf. a Súmula 614 do STJ ou o Art. 123 do CTN.

b) Tem razão Tyrion em entender que está presente a imunidade de IPTU no caso?
Justifique.
Não tem razão. O Art. 150, inciso VI, alínea c, da CRFB/88 apenas garante imunidade
tributária de impostos às entidades sindicais de trabalhadores, não de empregadores,
como é o caso do enunciado.

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4) Resolução do Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Stars Hollow, datada


de 01/06/2020, estabeleceu a elevação da alíquota máxima de preparo recursal
para interposição de apelação de 2% para 4% sobre o valor da causa (mas sem
estabelecer limite máximo de valor a ser recolhido), a entrar em vigor a partir de
01/01/2021. Em razão disso, a concessionária de telecomunicações Ligação 1000
S.A., em fevereiro de 2021, ao interpor apelação em um processo cujo valor da
causa era de 200 milhões de reais, insurgiu-se contra a exigência de preparo de 8
milhões de reais (4%) feita pelo Tribunal, por reputá-lo excessivo e confiscatório.
Pergunta-se:

a) Está presente algum vício formal nesta elevação de alíquota? Justifique.


Sim. Sendo o preparo recursal uma espécie de custas judiciais, às quais ostentam natureza
jurídica de tributo, cf. o Art. 145, inciso II, da CRFB/88 ou o Art. 77 do CTN, a elevação
das alíquotas de tributo deve ser veiculada por lei, e não por ato normativo infralegal, de
acordo com o princípio da legalidade tributária previsto no Art. 150, inciso I, da
CRFB/88.
b) Tem razão a concessionária de telecomunicações Ligação 1000 S.A. em sua
alegação de que o valor cobrado deste preparo é excessivo e confiscatório?
Justifique.
Sim. A concessionária tem razão. A cobrança de custas judiciais necessita do
estabelecimento, para além da alíquota máxima razoável, de um teto ou limite máximo
de valor a ser recolhido, nos termos da Súmula 667 do STF: “viola a garantia
constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor
da causa”. e/ou A ausência de um teto ou limite máximo de valor a ser recolhido pode
tornar confiscatório o tributo, sobretudo em causas de maior valor, em que a simples
aplicação da alíquota máxima, sem a aplicação conjunta de um valor máximo a ser pago,
poderia resultar em valor exorbitante e confiscatório, como ocorre no caso, violando o
Art. 150, inciso IV, da CRFB/88.

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5) Nova lei federal complementar, publicada em 10/10/2021, com o fim de garantir


a manutenção do equilíbrio das contas da seguridade social, criou nova
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contribuição social residual de seguridade social. Nos termos desta lei, esta
passaria a produzir seus efeitos em 01/01/2022, data a partir da qual a nova
contribuição começaria a ser cobrada. Indaga-se, portanto:

a) Era necessária a edição de lei complementar para a criação deste tributo?


Sim, era necessária a edição de lei complementar para a criação deste tributo, uma vez
que se trata de nova contribuição social residual de seguridade social não prevista
expressamente no texto da Constituição, sendo sua criação reservada à lei complementar,
cf. Art. 195, § 4º, CRFB/88.

b) Está correto o início do prazo de cobrança de tal contribuição previsto na lei?


Não está correto. De acordo com o Art. 195, § 6º, CRFB/18, as contribuições sociais
residuais de seguridade social poderão ser exigidas após decorridos noventa dias da data
da publicação da lei que as houver instituído ou modificado. Contudo, no caso concreto,
os 90 dias não foram obedecidos.

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6) O partido político XYZ do Brasil alugou um imóvel de sua propriedade ao


locatário Mateus Silva. Posteriormente, Mateus recebeu, no imóvel, um carnê
contendo cobrança de Taxa de Coleta Domiciliar de Lixo, com lançamento
efetuado em nome do proprietário. Mateus Silva, verificando seu contrato de
locação, percebeu que havia previsão de que o locatário deveria arcar com o valor
do pagamento de taxas que recaíssem sobre o imóvel. Entendendo que a cobrança
era indevida, por violar a imunidade tributária dos partidos políticos e por não se
tratar de serviço público remunerável por taxa, o locatário promove ação judicial
para discutir o débito. Diante do quadro, resta o questionamento:

a) É devida a cobrança da Taxa de Coleta Domiciliar de Lixo em relação ao imóvel?


Sim, a cobrança é devida. A imunidade tributária, que abrange patrimônio, renda e
serviços relacionados com as finalidades essenciais dos partidos políticos (Art. 150,
inciso VI, alínea c, c/c. Art. 150, § 4º, da CRFB/88), referese apenas a impostos, nos
termos literais do Art. 150, inciso VI, caput, da CRFB/88. Ademais, o STF, por meio da

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Súmula Vinculante 19, já assentou que a referida taxa é constitucional, por se tratar de
serviço público específico e divisível que não viola o Art. 145, inciso II, da CRFB/88.

b) O locatário pode promover ação judicial para discutir o débito tributário?


Não. O contribuinte é o proprietário, e não o locatário, não podendo o locatário opor ao
Fisco seu contrato de locação, nos termos do Art. 123 do CTN ou da Súmula 614 do STJ:
O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de
IPTU e de taxas referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos.

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7) Mark Greene, em grave dificuldade financeira, embora tenha entregado a


declaração de ajuste anual do Imposto sobre a Renda de Pessoa Física (IRPF) no
último dia de abril de 2018, não pagou o IR devido, cujo valor era de R$
22.000,00. Em agosto de 2018, o débito foi devidamente inscrito em dívida ativa
e, em dezembro do mesmo ano, foi proposta a execução fiscal contra ele. Mark é
proprietário apenas do imóvel em que reside, não tendo outros bens ou rendas
suficientes para o total pagamento da dívida inscrita. Diante desse cenário,
responda aos itens a seguir.

a) O referido imóvel responde pelo pagamento desse crédito tributário?


Não. Os bens absolutamente impenhoráveis, como o bem de família (único imóvel
residencial do contribuinte, cf. Art. 1º da Lei nº 8.009/90), não respondem por dívidas
tributárias, nos termos do Art. 184, CTN (OU do Art. 10 OU do Art. 30, ambos da Lei nº
6.830/80 – LEF), de forma a garantir ao devedor tributário o mínimo para sua
subsistência.

b) Se Marcos tivesse um imóvel e um automóvel para lazer, e efetuasse doação do


automóvel antes da inscrição em dívida ativa (mas após o vencimento do tributo),
poderia ser presumida fraudulenta a doação?
Não poderia ser presumida fraudulenta. Nos termos do Art. 185, caput, do CTN, somente
se presume fraudulenta a alienação de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo
em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como
dívida ativa. Ausente a inscrição em dívida ativa, não milita a presunção em favor da

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Fazenda Pública, devendo ser ela a comprovar o intuito de fraudar o pagamento do crédito
tributário.

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8) A autarquia municipal responsável pelo serviço de coleta de lixo envia a Marcos


Silva, possuidor em vias de usucapir imóvel situado no Município X, carnê de
cobrança da taxa de coleta de lixo proveniente de imóveis, por força de delegação
feita regularmente pelo referido ente municipal. Marcos insurge-se contra a
cobrança, alegando que somente o Município, na qualidade de ente federado,
poderia cobrar tributos, bem como o fato de que não seria contribuinte dessa taxa,
por ser mero possuidor do imóvel, devendo a cobrança ser feita diretamente ao
proprietário. Diante desse cenário, responda aos itens a seguir.

a) A autarquia municipal pode realizar a cobrança dessa taxa? Justifique.


Sim, a autarquia municipal pode cobrar essa taxa, desde que por meio da chamada
delegação de “capacidade tributária ativa”, isto é, a delegação de “funções de arrecadar
ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em
matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra”, conforme
previsto no Art. 7º, caput, do CTN. Portanto, tendo a autarquia municipal recebido a
delegação da capacidade tributária ativa do Município, poderá realizar a cobrança.

b) O mero possuidor pode ser contribuinte dessa taxa? Justifique.


Sim. É possível cobrar taxas pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos
específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição, conforme
o Art. 145, inciso II, da CRFB, OU o Art. 77 do CTN. Portanto, sendo Marcos Silva o
possuidor do imóvel, em vias de usucapi-lo (com animus domini), é também ele que se
beneficia do serviço público específico e divisível de coleta do lixo proveniente do imóvel
por ele ocupado, podendo também ser classificado como contribuinte do mesmo. De fato,
as leis municipais que instituem essa taxa indicam como seus contribuintes não apenas
os proprietários e titulares do domínio útil, mas também os possuidores.

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