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DIREITO TRIBUTÁRIO II

Extinção do crédito tributário


EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. Art. 156 a art. 174, CTN.

1) Visão geral. O normal é que o CT seja constituído para ser satisfeito. A extinção do CT está subordinada à lei formal, nos
termos do art. 97, VI, do CTN. Por isso, o art. 156, do CTN definiu as hipóteses de extinção do CT.
 
2) Conceito. Consiste no “desaparecimento” do CT, mediante cumprimento da respectiva prestação positiva, o que, em geral,
ocorre por meio do pagamento do tributo e/ou da penalidade pecuniária.” Hugo de Brito Machado

*Os direitos obrigacionais se extinguem pela entrega da respectiva prestação. Extinto o CT, dele não mais se cogita, a não
ser para o fim de efetuar a restituição do que tenha sido pago indevidamente (repetição de indébito).

3) Efeitos. a) Em relação ao sujeito passivo: i) Efeito liberatório; a satisfação do CT libera o sujeito passivo do
vínculo obrigacional, e; ii) Efeito assecuratório; a satisfação do CT traz certeza e previsibilidade para o sujeito
passivo de que se desincumbiu do vínculo obrigacional.

b) Em relação à Fazenda Pública. O recebimento do CT pela Fazenda Pública preserva o interesse público, do
qual o princípio da indisponibilidade dos bens pela Administração Tributária é consequência.
4) Causas de extinção não expressas no art. 156, CTN.  
a) Rol taxativo (art. 141 e art. 97, VI, CTN).
 
b) Rol exemplificativo. Parte da doutrina e jurisprudência. Admitem outras causas de extinção do CT, além das previstas
no art. 156, CTN, tendo em vista a semelhança estrutural entre a obrigação tributária e a obrigação civil. Para Ricardo
5) Extinção de CT x extinção de OT e novo lançamento.
 
a) Extinção substancial do CT. Incisos I a VIII e XI, do art. 156, do CTN. Além do CT em seu aspecto formal, também
será atingida a relação obrigacional tributária, e por isso, não haverá mais direito de lançar.

b) Extinção formal do CT. Incisos IX e X, do art. 156, CTN. Decisão administrativa ou judicial tem como fundamento um
vício formal do lançamento, como p. ex., o cerceamento do direito de defesa do contribuinte (anulação de
lançamento), subsistirá a relação obrigacional tributária e terá a Fazenda Pública o direito de fazer outro lançamento.

6) Causas legais de extinção do CT (art. 156, CTN). Visão geral. De acordo com o fundamento das diversas
hipóteses do art. 156, CTN, o CT pode ser extinto quando for: i) satisfeito. Incisos I, II, VI, VII, VIII e XI, ainda
que mediante transação (III); ii) desconstituído, por decisão administrativa ou judicial (incisos IX e X); iii)
perdoado, por meio de remissão (inciso IV), e; iv) precluso, quando o direito do Fisco de lançar ou de cobrar o CT
judicialmente é extinto (decadência ou prescrição - inciso V). **Algumas causas de extinção do CT são mais
frequentes do que outras. O normal é que os créditos sejam satisfeitos pelo pagamento ou por
compensação, quando autorizada por lei. A decadência e a prescrição também são muito frequentes.
7) Repetição de indébito tributário. Art. 165 a art. 169, CTN. Relação de indébito.

a) Caracterização. Suposto SP (solvens) e quem se apresenta como AS (accipiens). O solvens recolhe uma suposta
dívida tributária, espontaneamente ou mediante cobrança efetuada pelo accipiens, efetuando pagamento indevido.

b) Pagamento indevido. Origem do direito à repetição de indébito (art. 165, I, II e III, CTN).

c) Fundamento. Vedação ao enriquecimento sem causa.

d) Objeto da relação de indébito. Na relação de indébito não se paga tributo, mas valor recolhido indevidamente a
título de tributo. Não há obrigação tributária nem crédito tributário. Não há sujeito ativo, sujeito passivo, nem tributo
devido. Pode ter ocorrido a realização irregular de lançamento, seguido de pagamento pelo suposto devedor,
ou o pagamento, sem prévio lançamento, por iniciativa exclusiva do suposto sujeito passivo (lançamento por
homologação).

e) Restituição de multas e juros, corrigidos monetariamente. O acessório segue o principal (art. 167, CTN).
 
f) Restrições. i) a restituição será sempre total. P. ex. SP deve 800 e paga 1000. Recolheu indevidamente 200. O indébito é
de 200 e esse valor deve ser totalmente devolvido (redação ruim do art. 165, CTN).
 
ii) outras formas extintivas do CT, além do pagamento, podem ensejar o direito à repetição de indébito, como a
compensação ou a conversão do depósito em renda.
 
iii) não importa a modalidade de lançamento. Houve pagamento indevido deve haver repetição de indébito.
 
iv) Desnecessidade de comprovação do erro ou protesto no pagamento (“independentemente de prévio protesto”).
*Basta evidenciar a inexistência de obrigação tributária para que caiba a devolução do que se tenha pago a título de
tributo (art. 165, caput, CTN), independentemente de prévio protesto e ainda que o pagamento tenha sido
espontâneo. O pagamento de qualquer quantia, a título de tributo, não implica confissão de dívida tributária. Porém,
o solvens deve provar matéria de fato, p. ex., provar rendimento não recebido ou não tributável para postular
repetição de IR (a declaração feita se presume verdadeira); provar a natureza, composição química, destinação do
produto para classificá-lo como não tributável ou com menor alíquota, para fins de restituição de IPI.

v) Prescrição do direito de pleitear a restituição (art. 168, I e II CTN).


7.1) Repetição de indébito de tributos indiretos. Somente o sujeito passivo (contribuinte de direito) pode postular
restituição. O terceiro (contribuinte de fato), que tenha suportado o encargo financeiro do tributo indevidamente pago,
não é parte legítima para pedir a restituição.

A finalidade é evitar que o contribuinte de direito (a quem a lei nomeia como sujeito passivo), recolha o tributo
indevido, o repasse a terceiro (contribuinte de fato), e pleiteie para si a restituição, sem dar conta ao terceiro. A lei
(art. 166, CTN) e a Súmula 546 STF exigem que o terceiro autorize o pleito, ou que o contribuinte de direito
demonstre não ter transferido o ônus financeiro ao terceiro por meio, p. ex., de tabelamento oficial, que impeça a
inclusão do tributo no preço, pela manutenção dos preços habituais etc.
 
O objetivo é evitar o enriquecimento sem causa do contribuinte de direito. Negada a restituição por falta da prova da
assunção do ônus financeiro pelo contribuinte de direito ou da autorização pelo contribuinte de fato, quem irá
locupletar-se é o Fisco. Para negar a restituição, Ricardo Lobo Torres afirma que é mais justo o Estado apropriar-se
do indébito, em proveito de toda a coletividade, do que o contribuinte de direito locupletar-se. O STF já sustentava
isso na Súmula 71, STF, na qual não admitia a restituição de tributo indireto. O art. 166, CTN e a Súmula 546, STF
deram temperamentos a este entendimento. Súmula 614, STJ.
8) Compensação. Art. 170 e art. 170-A, CTN. Art. 368 e 369, CC. Compensação fiscal ou legal.

a) Conceito. Forma de extinção do crédito tributário, pela qual o sujeito ativo e o sujeito passivo são devedor e credor um
do outro ao mesmo tempo, extinguindo-se o CT até onde se compensar com o crédito do sujeito passivo perante a Fazenda
Pública (indenização de desapropriação, preço de contrato, títulos da dívida pública, precatórios, recolhimento indevido de
tributo etc.). *É como um encontro de contas. Forma de extinção de obrigações na qual duas pessoas são ao mesmo
tempo credor e devedor uma da outra, extinguindo-se suas obrigações até onde se compensarem. É modo
alternativo de satisfação do crédito tributário. O sujeito passivo tem a faculdade legal de extinguir o CT por
compensação, nos termos da lei.

b) Requisitos e restrições. i) Lei autorizativa; ii) créditos certos do sujeito passivo; iii) créditos líquidos do sujeito ativo; iv)
créditos vencidos ou vincendos do sujeito passivo; v) créditos recíprocos entre o Fisco e o sujeito passivo, e; vi) CT sempre
vencido.

c) Compensação como direito subjetivo. Preenchidos os requisitos legais o contribuinte tem direito à compensação,
podendo ajuizar ação declaratória de seu direito ao crédito e à compensação ou até mesmo mandado de segurança. A
compensação tributária é feita de pleno direito, bastando ao contribuinte a submissão à lei, e à Administração Tributária
verificar o seu cumprimento. **O crédito do SP para compensação pode ser de recolhimento indevido de tributo.
CASO CONCRETO.
Durante os anos de 1989 a 1994 o Governo Federal, através do extinto DAC (Departamento de Aviação Civil) tabelou os preços
das passagens aéreas que as empresas cobrariam dos passageiros, e na composição daquele preço o ICMS não foi incluído.
Não obstante, os Estados cobravam das Cias aéreas uma vultosa quantia a título de ICMS. Posteriormente, aquele ICMS veio a
ser considerado inconstitucional, sendo possível, em tese, o pedido de restituição. Imediatamente a CIA AÉREA VOE BEM -
tempestivamente - pleiteou a restituição, via ação de repetição de indébito, em dobro, do ICMS indevidamente recolhido. A
Fazenda Estadual, no entanto, contestou o pedido alegando, em preliminar, a ilegitimidade da CIA AÉREA, por descumprimento
do art. 166 do CTN, uma vez que o ICMS é imposto indireto, no qual ocorre a transferência do encargo financeiro, bem como
ocorreu a prescrição. No mérito, sustenta a impossibilidade de devolução do valor pago em dobro. Enfrente todos os
argumentos trazidos pelas partes e aborde, com fundamento na doutrina, na legislação e na jurisprudência, se são
procedentes ou improcedentes as alegações apresentadas.

Resposta. O art. 166 do CTN afirma que nos impostos em que ocorra a transferência do encargo financeiro, a legitimidade do
contribuinte de direito para pleitear uma eventual devolução dependerá de expressa autorização do terceiro a quem foi
transferido o encargo, que é o contribuinte de fato, ou quem efetivamente suportou o ônus do tributo. Contudo, o próprio CTN
faz a ressalva da possibilidade de o contribuinte de direito prescindir dessa autorização caso não tenha havido o repasse do
encargo financeiro do tributo, ou seja, caso o valor correspondente ao imposto não tiver sido embutido no preço da
mercadoria ou do serviço. Assim, como o enunciado da questão afirma textualmente que o preço tabelado pelo DAC não
considerou o ICMS, e sendo esse o preço praticado pelas companhias de forma coercitiva, conclui-se que o valor do ICMS não
foi repassado aos consumidores. Logo, a empresa está legitimada para pleitear a restituição, independentemente de
autorização de terceiro. REsp 902.327 1a. Turma. Rel. Min. José Delgado. DJ 10/05/2007.
O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito a repetição do indébito por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de
correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável (artigo 42 da Lei 8.078/1990). Já, no Direito Tributário, o contribuinte ou
responsável que efetua o pagamento de forma indevida terá direito a devolução do valor que pagou a maior ou indevidamente com juros e
correção monetária, nos termos do artigo 167 do CTN.

Não ocorreu a prescrição, tendo em vista que da data de 1994 até 2008 não ultrapassaram 10 anos: Tese dos 5 + 5 anos do STJ. A tese dos 5 + 5
para a restituic¸a~o do inde´bito nos tributos lançados por homologac¸a~o ficou consagrada no STJ. Segundo essa teoria, a interpretac¸a~o do art.
168 do CTN levava a concluir que o contribuinte teria 5 anos para pleitear a restituic¸a~o, a contar da extinc¸a~o do cre´dito. Por sua vez, a
extinc¸a~o - no caso de tributos lanc¸ados por homologac¸a~o - so´ ocorreria quando se desse a homologac¸a~o, fosse ela expressa ou ta´cita.
Como na maioria dos casos a homologac¸a~o se da´ com decurso do prazo previsto no art. 150, §4°do CTN (ou seja, e´ ta´cita), a partir dai´ e´ que
teria ini´cio o prazo de 5 anos previsto no art. 168 do CTN. Para acabar com esse entendimento - que inegavelmente era bene´fico aos
contribuintes, a Fazenda fez inserir no texto da Lei Complementar 118/05 o art. 3°que pretendia interpretar o art. 168, I do CTN, afirmando que a
extinc¸a~o do direito a` restituic¸a~o, no caso de lanc¸amento por homologac¸a~o na~ mais teria termo a quo na data da homologac¸a~o, mas sim
na data do pagamento. Com isso, na~o mais haveria o 5 + 5. E mais, ao afirmar que era um dispositivo meramente interpretativo, o referido
dispositivo poderia ter aplicac¸a~o retroativa nos termos do art. 106, I do CTN. Assim, a nova “interpretac¸a~o” poderia alcanc¸ar o caso da
Irma~os Ltda. Ocorre que o STJ vem entendendo que na~o se trata de dispositivo meramente interpretativo, mas sim dispositivo que traz novas
regras, logo, na~o poderia ser aplicado retroativamente, mas apenas da LC 118/05 em diante: REsp 749.593 ? 1a. Turma.Rel. Min. Teori Albino
Zavascki. DJ 08/10/2007. 1. Sobre a prescric¸a~o da ac¸a~o de repetic¸a~o de inde´bito tributa´rio de tributos sujeitos a lanc¸amento por
homologac¸a~o, a jurisprude^ncia do STJ (1a Sec¸a~o) assentou o entendimento de que, no regime anterior ao do art. 3o da LC 118/05, o prazo de
cinco anos, previsto no art. 168 do CTN, tem ini´cio, na~o na data do recolhimento do tributo indevido, e sim na data da homologac¸a~o ?
expressa ou ta´cita do lanc¸amento. Assim, na~o havendo homologac¸a~o expressa, o prazo para a repetic¸a~o do inde´bito acaba sendo de dez
anos a contar do fato gerador. 2. A norma do art. 3o da LC 118/05, que estabelece como termo inicial do prazo prescricional, nesses casos, a data
do pagamento indevido, na~o tem efica´cia retroativa. E´ que a Corte Especial, ao apreciar Incidente de Inconstitucionalidade no Eresp
644.736/PE, sessa~o de 06/06/2007, DJ de 27.08.2007, declarou inconstitucional a expressa~o ?observado, quanto ao art. 3o, o disposto no art.
106, I, da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 ? Co´digo Tributa´rio Nacional?, constante do art. 4o, segunda parte, da referida Lei
Complementar.

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