UEMG – Faculdade de Ciências JurídicasEntretanto, é importante ressaltar que a
legislação tributária pode prever
Avaliação de Direito Tributário I -
valor 30 pontos
Orientações:
A interpretação das questões faz
parte da avaliação.
Questão 1 -O Município X, com o
intuito de simplificar sua tributação,
instituiu, por lei complementar, a
“taxa de coleta de lixo”. A igreja
ABC, com templo no Município X,
foi notificada da cobrança da
referida taxa.
a) A cobrança do referido tributo
é lícita? Explique
A cobrança da taxa de coleta de lixo pelo
Município X é lícita, desde que respeite os
requisitos constitucionais e legais para a
criação de taxas, tais como a existência de
serviço público específico e divisível e a
possibilidade de identificação do usuário
ou beneficiário desse serviço.
b) Se a taxa for lícita, ela pode
ser cobrada da igreja ABC?
A princípio, a igreja ABC pode ser cobrada
pela taxa de coleta de lixo, desde que seja
considerada usuária ou beneficiária do
serviço público específico e divisível de
coleta de lixo, prestado pelo Município X.
Isso porque as igrejas, mesmo sendo
entidades sem fins lucrativos, podem ser
sujeitas à cobrança de taxas quando
utilizam ou se beneficiam de serviços
públicos específicos e divisíveis, conforme
entendimento do Supremo Tribunal
Federal (STF).
imunidades ou isenções para determinadas
entidades, como as igrejas, em relação a
determinados tributos. Portanto, seria
necessário verificar se existe alguma
previsão legal específica que impeça a
cobrança da taxa de coleta de lixo da igreja
ABC.
Questão 2 -Por meio da Lei
Ordinária nº 123, a União instituiu
contribuição não cumulativa
destinada a garantir investimentos
em saúde. A referida lei foi
publicada em 1º de setembro de
2015, com entrada em vigor em 2
de janeiro de 2016, determinando o
dia 1º de fevereiro do mesmo ano
como data de pagamento. Por
considerar indevida a contribuição
criada, a pessoa jurídica A, atuante
no ramo imobiliário, não realizou o
seu pagamento, razão pela qual, em
5 de julho de 2016, foi lavrado auto
de infração para a sua cobrança.
Considerando a situação em
comento, qual argumento poderá
ser alegado pela contribuinte para
impugnar a referida cobrança?
Explique
A pessoa jurídica A pode alegar a
prescrição do direito de cobrança da
contribuição instituída pela Lei Ordinária nº
123. Isso porque, de acordo com o Código
Tributário Nacional (CTN), o prazo para a
Fazenda Pública constituir o crédito
tributário é de cinco anos contados a partir
do primeiro dia do exercício seguinte
àquele em que o lançamento poderia ter
sido efetuado.
No caso em questão, a Lei Ordinária nº 123
foi publicada em 1º de setembro de 2015 e
entrou em vigor em 2 de janeiro de 2016,
com a data de pagamento fixada para o dia
1º de fevereiro do mesmo ano.
Considerando que o prazo para
constituição do crédito tributário é de
cinco anos, o prazo para a Fazenda Pública
efetuar o lançamento referente à
contribuição em questão se encerrou em
1º de janeiro de 2021.
Assim, se a cobrança foi lavrada somente
em 5 de julho de 2016, ou seja, após o
prazo de constituição do crédito tributário,
a pessoa jurídica A pode alegar que a
cobrança está prescrita e, portanto,
indevida.
Questão 3 – A União instituiu, via
legislação complementar,
Empréstimo compulsório para
enviar dinheiro aos Estados, com o
objetivo de reforçar a segurança
pública, em função do aumento no
índice de violência. A cobrança do
referido tributo é correta? Explique.
A instituição de Empréstimo
Compulsório pela União é prevista
no artigo 148 da Constituição
Federal, e se destina a atender a
despesas extraordinárias
decorrentes de calamidade pública,
guerra externa ou sua iminência,
investimento público de caráter
urgente e relevante interesse
nacional ou outras situações de
emergência.
No caso apresentado, a finalidade do
Empréstimo Compulsório instituído pela
União é o reforço da segurança pública nos
Estados em virtude do aumento da
violência. Embora essa seja uma causa
importante, não se enquadra em nenhuma
das hipóteses previstas no artigo 148 da
Constituição Federal, o que torna a
cobrança do Empréstimo Compulsório
inconstitucional.
Ademais, é importante destacar que a
competência para instituir impostos e taxas
é dos Estados e Municípios, e não da
União. Assim, a criação de um Empréstimo
Compulsório pela União para financiar a
segurança pública nos Estados invade a
competência tributária desses entes, o que
também torna a cobrança inconstitucional.
Portanto, a cobrança do Empréstimo
Compulsório instituído pela União para
enviar dinheiro aos Estados com o objetivo
de reforçar a segurança pública em função
do aumento no índice de violência é
inconstitucional e, consequentemente,
ilegal.
Questão 4 – A constituição prevê
que 50% dos valores arrecadados
com o ITR pertencem aos
municípios, apesar de ser imposto
de competência da União. Também
há previsão constitucional para que
o valor seja integralmente
repassado aos municípios que
assumirem, através de convênio, as
atividades de fiscalização e
arrecadação do ITR.
Ao assumir a atividade tributária o
município pode legislar sobre o
ITR? Explique
Não. Apesar de assumir a atividade de
fiscalização e arrecadação do ITR, o
município não tem competência para
legislar sobre este imposto, uma vez que
sua competência é exclusiva da União,
conforme previsto no artigo 153, inciso VI,
da Constituição Federal. O que o município
pode fazer é celebrar convênios com a
União para exercer a fiscalização e
arrecadação do imposto em seu território,
conforme previsto no artigo 158, parágrafo
único, da Constituição Federal. Dessa
forma, a arrecadação do ITR será repassada
ao município de acordo com o convênio
firmado, sem que este possa alterar as
regras de tributação do imposto.
Questão 5 – O município de
Rocinha Grande aprovou, através
de lei complementar a criação de
Imposto incidente sobre serviços
de qualquer natureza.
A lei que instituiu o referido
imposto foi publicada em
05/07/2016 e sua cobrança se
iniciou no dia 02/02/2017.
A referida cobrança está correta?
Explique.
Não, a cobrança não está correta. De
acordo com a Constituição Federal, a
instituição de impostos sobre serviços de
qualquer natureza é de competência dos
municípios, desde que haja lei
complementar nacional que defina as
hipóteses de incidência e as bases de
cálculo. No entanto, para que a lei
municipal tenha eficácia, é necessário que
a sua entrada em vigor ocorra no mínimo
90 dias após a sua publicação, conforme
previsto no artigo 150, III, b da Constituição
Federal.
No caso apresentado, a lei complementar
municipal foi publicada em 05/07/2016 e
sua cobrança iniciou em 02/02/2017, um
intervalo menor que 90 dias. Dessa forma,
a cobrança do imposto instituído pela lei
complementar municipal está irregular e a
pessoa ou empresa que estiver sendo
cobrada pode contestar a cobrança.
Questão 6 - Sobre os princípios
constitucionais tributários é
correto afirmar que
a) a lei que modifica tributos só pode
ser aplicada no exercício seguinte ao da
sua publicação por força da regra da
irretroatividade da lei tributária.
b) os tributos sempre deverão ser
pessoais e atender às condições
econômicas dos contribuintes, por força
do princípio da capacidade contributiva.
c) salvo exceções a lei que cria ou
majora tributo terá eficácia no exercício
financeiro seguinte ao da sua
publicação, como expressão da
anterioridade tributária. (CORRETO)
d) como exceção à legalidade tributária,
pode o Presidente da República instituir,
por decreto, impostos de importação, de
exportação, sobre produtos
industrializados e sobre operações
financeiras.
e) a instituição de empréstimo
compulsório, imposto extraordinário,
imposto residual e impostos de natureza
extrafiscal são exceções à anterioridade
nonagesimal.
A alternativa correta é a letra c).
A regra da irretroatividade da lei tributária impede a
aplicação de uma lei que modifique tributos a fatos
geradores ocorridos antes da sua entrada em vigor,
independentemente do exercício em que ocorreram.
O princípio da capacidade contributiva determina que
os tributos devem ser graduados de acordo com a
capacidade econômica do contribuinte, mas isso não
implica que os tributos sempre serão pessoais.
A regra geral é a da anterioridade tributária, que exige
que a lei que cria ou majora tributo só possa ter
eficácia no exercício financeiro seguinte ao da sua
publicação. Existem algumas exceções a essa regra,
mas o empréstimo compulsório, imposto
extraordinário, imposto residual e impostos de
natureza extrafiscal não estão entre elas.
A instituição de impostos é uma prerrogativa
exclusiva do Poder Legislativo, não podendo o
Presidente da República instituí-los por meio de
decreto.