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TEMAS DE DIREITOS HUMANOS E O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE APLICADO

JURISPRUDÊNCIA INTERAMERICANA
EM MATÉRIA DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS, CULTURAIS E AMBIENTAIS (DESCA)

CESAR HENRIQUE KLUGE


Mestre em Direito pela Universidade Católica de Brasília
Procurador do Trabalho
Junho de 2023
TEMAS DE DIREITOS HUMANOS E O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE APLICADO

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
20.06.2023 (14h-16h) Origens e desenvolvimento do controle de convencionalidade André de Carvalho Ramos

Sistemas internacionais de proteção de direitos humanos. Aline Albuquerque


20.06.2023 (16h-18h)
Implementação das deliberações internacionais DH no Brasil Sant’anna de Oliveira

21.06.2023 (14h-16h) Jurisprudência interamericana DESCA Cesar Henrique Kluge

Isabel Penido
21.06.2023 (16h-18h) Jurisprudência interamericana sobre sistema prisional
de Campos Machado
Patrícia Fonseca Carlos
22.06.2023 (14h-16h) Jurisprudência interamericana de direito à saúde
Magno de Oliveira
Jurisprudência interamericana sobre direitos políticos e
22.06.2023 (16h-18h) Luiz Guilherme Arcaro Conci
democracia
JURISPRUDÊNCIA INTERAMERICANA EM MATÉRIA DE DESCA

1 Reflexões iniciais: importância da jurisprudência interamericana

2 A Corte Interamericana e os DESCA

Jurisprudência contenciosa: comentários a decisões proferidas


3 pela Corte IDH em casos de violação ao art. 26 da CADH

4 Jurisprudência consultiva da Corte IDH

5 Considerações finais
1
➢ Pluralismo jurídico – interação e diálogo entre jurisdições – fundamentos
teóricos e normativos

➢ Finalidade do sistema internacional de proteção

➢ Natureza jurídica das sentenças da corte e opiniões consultivas: eficácia


direta e subjetiva (res judicata) e eficácia indireta e objetiva (res
interpretata)

➢ Ministério Público brasileiro como promotor do controle de


convencionalidade interno (prioritário) e internacional (subsidiário)

➢ Recorte da apresentação: jurisprudência da Corte IDH (estândares


interamericanos CIDH)
PLURALISMO JURÍDICO – INTERAÇÃO E DIÁLOGO ENTRE JURISDIÇÕES

Suporte doutrinário Suporte normativo

➢ Art. 52.1 da Carta das Nações Unidas


➢ A título ilustrativo, destacam-se as seguintes ARTIGO 52 - 1. Nada na presente Carta impede a existência de
acordos ou de entidades regionais, destinadas a tratar dos
linhas de pensamento: Estado constitucional assuntos relativos à manutenção a paz e da segurança
internacionais que forem suscetíveis de uma ação regional, desde
cooperativo (Peter Häberle), que tais acordos ou entidades regionais e quas atividades sejam
compatíveis com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas.
Interconstitucionalidade (Francisco Lucas Pires e
J.J. Gomes Canotilho), Pluralismo Constitucional
➢ Art. 19.8 da Constituição da OIT
(Neil MacCormick e Neil Walker), Artigo 19.8. Em caso algum, a adoção, pela Conferência, de uma
convenção ou recomendação, ou a ratificação, por um Estado-
Constitucionalismo multinível (Ingolf Pernice) e Membro, de uma convenção, deverão ser consideradas como
afetando qualquer lei, sentença, costumes ou acordos que
Transconstitucionalismo (Marcelo Neves); assegurem aos trabalhadores interessados condições mais
favoráveis que as previstas pela convenção ou recomendação
diálogo das fontes (Erik Jaime e Cláudia Lima
Marques)
➢ Arts. 1º, 2º e 29 da CADH

➢ Ius Constitutionale Commune Latino-Americano ➢ Gramática de DH adotada CF/88: art. 1º, III;
(Flavia Piovesan e Ana Carolina Lopes Olsen) art. 4º; art. 5º, em especial o parágrafo 2º
PLURALISMO JURÍDICO – INTERAÇÃO E DIÁLOGO ENTRE JURISDIÇÕES

(...)
8. Os juízes nacionais devem agir como juízes interamericanos
e estabelecer o diálogo entre o direito interno e o direito
internacional dos direitos humanos, até mesmo para diminuir
violações e abreviar as demandas internacionais. É com tal
espírito hermenêutico que se dessume que, na hipótese, a
melhor interpretação a ser dada, é pela aplicação a Resolução
da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 22 de
novembro de 2018 a todo o período em que o recorrente
cumpriu pena no IPPSC. (STJ. 5T. AgRG RHC n. 136.961-RJ. Rel.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca. DJe 21.06.2021)
(...)
FINALIDADE DO SISTEMA INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

APRENDIZADO MÚTUO E
ESTABELECIMENTO DE
APERFEIÇOAMENTO DO
PARÂMETROS MÍNIMOS
SISTEMA NACIONAL

PRINCÍPIO PRO PERSONA PRINCÍPIO DA


SUBSIDIARIEDADE
NATUREZA JURÍDICA DAS SENTENÇAS E OPINIÕES CONSULTIVAS DA CORTE IDH

Eficácia direta e subjetiva: alcance inter partes Eficácia indireta e objetiva: alcance erga omnes
(res judicata) (res interpretata)

CADH, art. 62: Todo Estado Parte pode, no momento do ➢ A doutrina da res interpretata tem origem no Sistema
depósito do seu instrumento de ratificação desta Europeu de proteção dos DH.
Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento
posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de Resolução 1226/2000 da Assembleia Parlamentar do
pleno direito e sem convenção especial, a competência da Conselho da Europa – além do princípio da subsidiariedade,
Corte em todos os casos relativos à interpretação ou o sistema europeu é fundado no princípio da solidariedade,
aplicação desta Convenção segundo o qual a jurisprudência do Tribunal faz parte da
CEDH, com eficácia erga omnes para todos os Estados Partes
da Convenção
CADH, art. 67: A sentença da Corte será definitiva e
inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou
alcance da sentença, a Corte interpretá-la-á, a pedido de ➢ Corte IDH é a intérprete autêntica da CADH
qualquer das partes, desde que o pedido seja apresentado
dentro de noventa dias a partir da data da notificação da ➢ Interpretação evolutiva do art. 2º CADH – interpretações
sentença. da Corte IDH inseridas nas medidas “de outra natureza”

CADH, art. 68.1: Os Estados Partes na Convenção ➢ CADH, art. 69: A sentença da Corte deve ser notificada às
comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo partes no caso e transmitida aos Estados Partes na
Convenção.
caso em que forem partes.
NATUREZA JURÍDICA DAS SENTENÇAS E OPINIÕES CONSULTIVAS DA CORTE IDH

Em casos mais recentes, como no caso Cabrera Garcia Montiel vs.


México (2010), a Corte IDH resgata a OC 16/99 no ponto do
corpus juris interamericano e avança expressamente concluindo
pela existência de um ‘bloco de convencionalidade’, integrado
pela CADH e pela jurisprudência da Corte IDH. A Corte IDH é clara
ao afirmar que, por jurisprudência, que faz parte do ‘bloco de
convencionalidade’, deve entender-se tanto os casos contenciosos
e demais resoluções (medidas provisórias, supervisões de
cumprimento de sentença e pedidos de interpretação de
sentença), mas também as opiniões consultivas. (LEGALE, Siddharta. A
Corte Interamericana de Direitos Humanos como Tribunal Constitucional. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2019. p. 62)
NATUREZA JURÍDICA DAS SENTENÇAS E OPINIÕES CONSULTIVAS DA CORTE IDH

➢ Truque do ilusionista: a interpretação


nacionalista dos tratados internacionais de
direitos humanos, em descompasso com o
entendimento fixado pelos intérpretes
autênticos fragiliza o regime jurídico dos
direitos humanos, tornando-o universal no
texto e nacional na aplicação e
interpretação (André de Carvalho Ramos)

➢ Entrave à efetivação dos direitos humanos,


subsistindo o dever e a responsabilidade
internacional do Estado
MINISTÉRIO PÚBLICO COMO PROMOTOR DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE
NACIONAL (PRIORITÁRIO) E INTERNACIONAL (SUBSIDIÁRIO)

➢ Fundamento nacional: gramática de ➢ Fundamento internacional: evolução


direitos humanos adotada pela CF/88 e do controle de convencionalidade na
perfil constitucional do Ministério jurisprudência da Corte IDH - todas as
Público autoridades

➢ Ferramenta a ser utilizada em todas as ➢ Legitimidade internacional:


esferas de atuação: no âmbito judicial interpretação do art. 44 da CADH
– órgão agente e interveniente – e Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade
não-governamental legalmente reconhecida em um
extrajudicial (investigativa ou ou mais Estados membros da Organização, pode
promocional – acompanhamento apresentar à Comissão petições que contenham
denúncias ou queixas de violação desta Convenção
parlamentar, etc) ou administrativo por um Estado Parte.
(práticas internas). Ex: Caso TELEPAR (MPT e Terra de Direitos)
MINISTÉRIO PÚBLICO COMO PROMOTOR DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

➢ Recomenda-se a observância dos tratados, convenções e


protocolos internacionais de direitos humanos, das
recomendações da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos
Humanos

➢ Recomenda-se que os órgãos do MP, em todas as esferas de


atuação (judicial, extrajudicial ou administrativa), observem:

✓ As normas dos tratados, convenções e protocolos internacionais de direitos


humanos em vigor no Brasil e as demais normas imperativas do Direito
Internacional dos Direitos Humanos

✓ A jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, quando


adequada ao caso

✓ As declarações e outros documentos internacionais de direitos humanos, quando


adequados ao caso

➢ Recomenda-se que os membros do MP, respeitada a


independência funcional, promovam o controle de
convencionalidade das normas e práticas internas
MINISTÉRIO PÚBLICO COMO PROMOTOR DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

➢ Acompanhar os casos apresentados à Corte IDH e os


casos admitidos pela CIDH que digam respeito ao Estado
brasileiro;

➢ Dar suporte aos órgãos do Ministério Público na


promoção e aplicação das normas do Direito
Internacional dos Direitos Humanos, do Direito
Internacional Penal e do Direito Humanitário, no exercício
das funções institucionais previstas no art. 129 da
Constituição Federal

➢ Difundir a jurisprudência, os relatórios e os


pronunciamentos dos órgãos do Sistema Interamericano
de Direitos Humanos (SIDH) e dos órgãos de direitos
humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) que
guardem relação com a proteção e a promoção de
direitos humanos no Brasil e apoiar sua incorporação às
atividades do Ministério Público
PARÂMETROS INTERAMERICANOS (CIDH)

1. Função promocional: fomentar a consciência dos direitos


humanos no continente americano (capacitações, visitas
institucionais, conferências, acordos de cooperação técnica,
INFORMES TEMÁTICOS – COMPÊNDIO sobre direitos laborais e
sindicais; empresas e DH, etc)

2. Função monitoramento: realizada por meio dos relatórios


encaminhados pelos Estados sobre as medidas adotadas em
matéria de direitos humanos. Ex: Relatório sobre a situação dos
direitos humanos no Brasil (2021)

3. Função de controle e proteção: realizada por meio da análise de


denúncias - sistema de petições e casos ou comunicações
interestatais, bem como medidas cautelares. O procedimento a ser
observado depende do regime adotado (OEA ou Convenção)
Conduzidas por pessoas REDESCA
designadas pela CIDH –
Especial oficina permanente e com
independência funcional RELE
(Liberdade de Expressão)

Relatorias
(art. 15 Reg CIDH)

Todas as
Conduzidas por um
Temáticas membro da CIDH
demais
O(a) relator(a) especial da REDESCA
é responsável por apoiar a CIDH no
cumprimento de seu mandato de
promoção e proteção dos Direitos
Econômicos, Sociais, Culturais e
Ambientais (DESCA) nas Américas
COMPÊNDIOS - REDESCA
INFORMES TEMÁTICOS
2
➢ As atribuições da Corte IDH: visão panorâmica

➢ Contextualização: sentenças e opiniões consultivas

➢ A CADH e os DESCA: art. 26 CADH

➢ A jurisprudência da Corte IDH em matéria de DESCA:


evolução da Justiciabilidade

➢ Relevância de se reconhecer a justiciabilidade direta dos


DESCA
AS ATRIBUIÇÕES DA CORTE IDH: VISÃO PANORÂMICA

1. Função promocional: fomentar a consciência dos


direitos humanos no continente americano
(capacitações, cuadernillos de jurisprudência, acordos
de cooperação técnica, etc)

2. Competência consultiva: concretizada pela emissão


de parecer sobre a interpretação da Convenção
Americana e outros tratados de direitos humanos

3. Competência contenciosa: possibilidade da Corte


analisar um caso de violação de direitos humanos pelo
sistema de petições e casos (petições individuais e
comunicações interestatais) ou emissão de medidas
provisórias
COMPETÊNCIA CONSULTIVA
(art. 64 CADH e arts. 70 a 75 Reg)

➢ Legitimidade ampla: vai além dos Estados parte da Convenção, incluindo todos os
Estados integrantes da OEA e órgãos da OEA, devendo, neste caso (órgãos OEA),
haver demonstração da pertinência temática.

➢ Objeto de análise: vai além da Convenção Americana, para abranger todos os


tratados de direitos humanos aplicáveis a Estados americanos, ainda que não
firmados no âmbito do Sistema Interamericano (OC 01/82: “outros tratados”; OC
16/99: interpreta a Convenção de Viena sobre Relações Consulares e PIDCP)

➢ A Corte não tem a obrigação de emitir pareceres consultivos e, de acordo com


critérios de admissibilidades, pode recusar solicitações e deixar de se pronunciar
sobre determinados temas.
Competência CONTENCIOSA da Corte Interamericana: perspectivas
Apenas a Comissão e os Estados podem apresentar um caso para
Competência em apreciação da Corte, em face de um Estado que tenha ratificado a
razão da pessoa Convenção Americana, não sendo possível a responsabilização de
indivíduos.
A Corte analisará violações a Convenção Americana, bem como outros
tratados interamericanos que a ela conferem essa competência (Ex:
Convenção de Belém do Pará). Basta que o tratado estabeleça a
Competência material
possibilidade de acionamento do sistema de petições e casos pela
comissão para apuração, não sendo necessário declaração específica
de reconhecimento de competência.
A Corte apenas julgará os casos apresentados após a aceitação
expressa da sua competência pelo Estado, salvo, como já consagrado
Competência temporal na jurisprudência, os fatos anteriores enquadrados como atos de
caráter contínuo ou permanente (ex: desaparecimento forçado)

Delimitação espacial da atuação do Tribunal Interamericano às


violações ocorridas no território dos Estados-membros, não se
Competência territorial
exigindo vínculo de nacionalidade com o Estado violador.
PROCESSO INTERAMERICANO:
NATUREZA “BIFÁSICA”

MICROSSISTEMA NORMATIVO

➢ Convenção Americana de Direitos Humanos


(Tratados temáticos)
➢ Estatuto da Comissão
➢ Regulamento da Comissão
➢ Resoluções da Comissão (aspectos procedimentais)
➢ Estatuto da Corte IDH
➢ Regulamento da Corte IDH
➢ Acordos processuais (Corte IDH)
➢ Regulamento Unificado da AIDEF: atuação do
Defensor Público interamericano
➢ Regulamentos do Fundo de Assistência à
Vítima
S ENTENÇAS DA C ORTE IDH

CARACTERÍSTICAS Modalidades de reparação


Tem como objetivo reestabelecer a exata
➢ A sentença do Tribunal é definitiva e inapelável, Restituição situação existente antes da ocorrência da
violação dos direitos
salvo pedido de interpretação, no prazo de 90
Compensar monetariamente o prejuízo
dias (art. 67 CADH) Compensação econômica - sofrido pela vítima, seja no campo material
Indenização ou imaterial
➢ A sentença é obrigatória (art. 68 CADH) Consiste nas condenações relativas, por
exemplo, aos tratamentos médicos e
Reabilitação
➢ Reconhecida a responsabilidade internacional psicológicos, incluindo o fornecimento de
medicamentos.
do Estado, a Corte, visando a reparação integral,
Trata-se de uma modalidade de reparação
fixa diversas medidas a serem observadas, que
não-pecuniária, que busca a revelação da
vão além da compensação econômica – papel Medidas de satisfação verdade e da garantia de memória e justiça
transformador – DECISÕES ESTRUTURAIS para as vítimas
Visam modificar a situação estrutural que
➢ A parte da sentença que determinar indenização serve de contexto para as violações quais se
compensatória poderá ser executada no país inserem, exemplificativamente: reformas
Medidas de não repetição legislativas, adoção de políticas públicas e
respectivo pelo processo interno vigente para a capacitação de agentes estatais
execução de sentenças contra o Estado
CONTEXTUALIZAÇÃO: SENTENÇAS E OC’S DA CORTE IDH

➢ Desde a prolação de sua primeira sentença (26 de junho de


1987) 31 de maio de 2023, a Corte Interamericana, no
exercício de sua competência contenciosa, proferiu 484
sentenças, 712 decisões em sede de medidas provisórias e
737 resoluções de cumprimento de sentença, totalizando
1933 decisões

➢ Após a decisão proferida no Caso Lagos Del Campo


(sentença n. 340), 31 de maio de 2023, foram proferidas 144
sentenças, incluindo sentenças de interpretação e soluções
amistosas.

➢ Desse total (144), 25 decisões publicadas abordam a


violação de DESCA, sendo que 24 reconheceram a violação
do art. 26 e uma delas reconheceu a violação ao art. 13 do
Protocolo de San Salvador (Caso Gusmán Alvarracin e outros
vs. Equador – 2020)

➢ Até o momento foram editadas 29 opiniões consultivas


A CONVENÇÃO AMERICANA E OS DESCA

Documento estruturado em três partes:


Artigo 26. Desenvolvimento progressivo. Os
Parte I - Deveres dos Estados e Direitos Estados Partes comprometem-se a adotar
reconhecidos (arts. 1º a 32)
providências, tanto no âmbito interno como
Capítulo I – Enumeração de deveres (arts. 1º e 2º)
mediante cooperação internacional, especialmente
Capítulo II – Direitos Civis e políticos (arts. 3º a 25) econômica e técnica, a fim de conseguir
Capítulo III – DESC (art. 26) progressivamente a plena efetividade dos direitos
Capítulo IV – Suspensão de garantias, interpretação que decorrem das normas econômicas, sociais e
e aplicação sobre educação, ciência e cultura, constantes da
Capítulo V – Deveres das pessoas
Carta da Organização dos Estados Americanos,
Parte II - Meios de proteção (arts. 33 a 73) reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na
medida dos recursos disponíveis, por via legislativa
Parte III - Disposições Gerais e Transitórias (arts. 74 ou por outros meios apropriados.
a 78)
EVOLUÇÃO DA JUSTICIABILIDADE DESCA (ART. 26 CADH)
2009 2013 2017
2017
Caso Acevedo Buendia vs. Peru Caso Soarez Peralta vs. Equador Caso Trabalhadores Cesados
Caso Lagos del Campo vs. Peru de Petroperu vs. Peru
Pela primeira vez a Corte IDH
reconhece sua competência Juiz Eduardo Mac-Gregor Na sentença de 23.11.2017, a Corte
Na sentença emitida em IDH reiterou os fundamentos
para apreciar qualquer aproveitou a oportunidade
dispositivo da CADH, incluindo o 31.08.2017, foi a primeira adotados no caso Lagos Del
para reconstruir o debate
art. 26 CADH. doutrinário e jurisprudencial oportunidade que a Corte IDH, Campo. O único acréscimo foi no
sobre a justiciabilidade direta por maioria (5x2), reconhece a sentido de incluir o direito de
Justiciabilidade sob o enfoque da justiciabilidade direta dos
do DESCA à luz do art. 26 da garantir o acesso à justiça e
progressividade – não
CADH DESCA tutela judicial efetiva das
regressividade
relações laborais

2012 2015 2017 2018


Caso Furlan vs. Argentina Parecer consultivo n. 23/17 Caso Cuscul Pivaral vs. Guatemala
Caso Gonzalez Lluy vs. Equador e
Juíza Maccaulay retomou os Caso Canales Huapaya vs. Peru Em 15.11.2017 a Corte IDH emitiu a Pela primeira vez, a Corte IDH
pontos discutidos no caso
Acevedo Buendia, OC, reiterando a
Os juízes Ventura Robles e interdependência e reconheceu, expressamente,
acrescentando alguns
argumentos adicionais em Roberto Caldas aderiram aos indivisibilidade entre todos os DH que o entendimento adotado
relação ao alcance do art. 26 e declarou que o direito a um no Caso Lagos del Campo e em
argumentos de Mac-gregor
CADH meio ambiente saudável deve decisões posteriores
a partir do Caso Gonzales ser considerado incluído entre os
Critica o argumento da limitação representou uma mudança de
pelo Protocolo de San Salvador Lluy DESCA protegidos pelo art. 26 da
CADH (§ 57) jurisprudência dos DESCA
Caso Lagos Del Campo vs. Peru
Justiciabilidade Direta dos DESCA – art. 26CADH

Argumentos favoráveis (maioria) Argumentos contrários (minoria)


Juízes Roberto Caldas, Eduardo Ferrer Mac-Gregor, Elizabet Odio Benito, Juízes Eduardo Vio Grossi e Humberto Sierra Porto
Eugenio Zaffaroni e Patrício Pazmiño

➢ Indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos ➢ O direito ao trabalho e o direito a estabilidade do emprego não estão
consagrados na CADH.
➢ As obrigações gerais previstas nos arts. 1º e 2º (capítuo I - da Parte I)
aplicam-se aos DESCA consagrados no art. 26 CADH (capítulo III – Parte I) ➢ Os direitos suscetíveis de serem invocados perante a Corte são aqueles
“reconhecidos”, “estabelecidos”, “garantidos”, “consagrados” ou “protegidos” na
➢ O artigo 26 da CADH não é uma norma meramente programática; CADH, ou seja, os Direitos Civis e Políticos, devendo, portanto, serem excluídos
da judicialização os DESCA.
➢ O conteúdo do art. 26 da CADH, considerando as regras gerais de
interpretação previstas no art. 29 da CADH e o teor da OC 10 (sobre a ➢ O fato de um direito não ser “reconhecido” pela CADH não impede que seja
interpretação da DADH), é extraído da interpretação conjunta da Carta da judicializável perante a Corte, desde que existe um Protocolo Adicional que
OEA (normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura) e contemple essa proteção.
Declaração Americana de Direitos Humanos; o conteúdo e alcance dos
direitos reconhecidos – direito ao trabalho, direito à saúde, etc - são ➢ O Protocolo de San Salvador limitou a competência da Comissão e da Corte para
determinados pelo corpus iuris internacional e pelas legislações conhecer os casos contenciosos relativos a violação de DESC.
nacionais (ex: utilização das normas da OIT e OG do Comitê DESC).
➢ O princípio pro persona incide na hipótese de existirem duas possíveis
➢ No caso, os arts 45, “b” e “c”; art. 46 e art. 34, “g” estabelecem que o interpretações válidas e certas, o que não é o caso, pois a justiciabilidade direta
trabalho é um direito e dever social e que este deve ser realizado com dos DESC a partir do art 26 CADH não é uma interpretação válida
salários justos, oportunidades de emprego e condições de trabalho
acessíveis para todos.

➢ No caso Lagos Del Campo, a Corte não analisou a relação da CADH com o
Protocolo de San Salvador, embora alguns juízes já tivessem se
manifestado anteriormente a respeito
➢ Em 2009, no caso Acevedo Buendia a referência ao art. 26 da
CADH foi realizada para indicar que tal dispositivo continha
apenas a obrigação estatal de progressividade/não
regressividade dos DESC

➢ Em 2017, no caso Lagos Del Campo, a declaração de violação ao


art. 26 CADH confirmava a mudança de rumos para a Corte, ao
ser reconhecida que dita norma também protege DESC
autônomos suscetíveis de justiciabilidade.
QUAL A RELEVÂNCIA DE SE RECONHECER A JUSTICIABILIDADE DIRETA DOS DESCA?

➢ Dar visibilidade e permitir a análise específica


de violações de direitos sociais “A possibilidade de exigir de forma legal, vinculante e direta
o respeito e a garantia dos DESCA por meio dos órgãos do
➢ Permitir o exame de situações de
Sistema Interamericano permitirá o progressivo
progressividade x regressividade - A Obrigação
desenvolvimento e definição do conteúdo de cada um desses
de desenvolvimento progressivo não nega a
justiciabilidade dos DESCA e, ainda, abre a direitos e as obrigações dos Estados Partes em relação a eles,
possibilidade de controle judicial do dever de facilitando a formulação de políticas públicas adequadas e
não regressividade estabelecendo normas e diretrizes regionais para sua efetiva
fruição e implementação, especialmente no que diz respeito
➢ Permitir maior clareza e conexão quanto ao
às populações em situação de maior vulnerabilidade”
nexo causal mais direto entre a
(REDESCA, Comunicado de Prensa, n. 181, de 15/11/2017)
responsabilidade do Estado e as medidas de
reparação em matéria de DESCA
3
➢ Caso Lagos del Campo vs. Peru (2017)

➢ Caso Poblete Vilches vs. Chile (2018)

➢ Caso Cuscul Pivaral vs. Guatemala (2018)

➢ Caso Muelle Flores vs. Peru (2019)

➢ Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de


Jesus vs. Brasil (2020)
C ORTE IDH: C ASOS CONTENCIOSOS DESCA
R ECONHECIMENTO DA VIOLAÇÃO DIRETA DO ART . 26 CADH

Caso Sentença Direito violado e protegido pelo art. 26 CADH


(o que não significa que não houve violação de outras normas)

Direito ao trabalho (estabilidade laboral)


Lagos Del Campo vs. Peru 31/08/2017 (n. 340)
(Abordou também a liberdade de expressão e associação no contexto laboral)

Trabalhadores Petroperu vs. Peru 23/11/2017 (n. 344) Direito ao trabalho (dispensa arbitrária – estabilidade laboral)

San Miguel Sosa vs. Venezuela 08/02/2018 (n. 348) Direito ao trabalho (dispensa arbitrária – estabilidade laboral)

Poblete Vilchez vs. Chile 08/03/2018 (n. 349) Direito à saúde

Cuscul Pivaral vs. Guatemala 23/08/2018 (n. 359) Direito à saúde e princípio da progressividade DESCA

Muelle Flores vs. Peru 06/03/2019 (n. 375) Direito à previdência social

Ancejub – SUNAT vs. Peru 21/11/2019 (n. 394) Direito à previdência social

Hernández vs. Argentina 22/11/2019 (n. 395) Direito à saúde

Membros de La Asociación Lhaka Honhat vs. Direito ao meio ambiente saudável, alimentação adequada, água e participação na vida
06/02/2020 (n. 400)
Argentina cultural
Direito ao trabalho
Spoltore vs. Argentina 09/06/2020 (n. 404)
(condições equitativas e satisfatórias que assegurem a saúde do trabalhador)
C ORTE IDH: C ASOS CONTENCIOSOS DESCA
R ECONHECIMENTO DA VIOLAÇÃO DIRETA DO ART . 26 CADH

Caso Sentença Direito violado e protegido pelo art. 26 CADH


(o que não significa que não houve violação de outras normas)

Direito à educação - Violação ao art. 13 do Protocolo de San Salvador


Guzmán Albarracin e outras vs. Equador 24/06/2020 (n. 405)
(não houve menção ao art. 26 da CADH)
Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Direito ao trabalho
15/07/2020 (n. 407)
Antônio de Jesus vs. Brasil (condições equitativas e satisfatórias que assegurem a saúde do trabalhador)
Los Buzos Miskitos (Lenoth Morris y otros) 31/08/2021 (n.432) Direito ao trabalho (condições equitativas e satisfatórias que assegurem a saúde do
vs. Honduras (solução amistosa) trabalhador); direito à saúde e direito a previdência social

Vera Rojas y otros vs. Chile 01/10/2021 (n. 439) Direito à saúde e previdência social (PCD)

Manuela y otros vs. El Salvador 02/11/2021 (n. 441) Direito à saúde (violência obstétrica)

Extrabajadores del Organismo Judicial vs.


17/11/2021 (n. 445) Direito de greve, liberdade de associação, liberdade sindical e direito ao trabalho
Guatemala

Palacio Urrutia y otros vs. Equador 24/11/2021 (n. 446) Direito ao trabalho (estabilidade laboral)

Federação Nacional de Trabalhadores Direito ao trabalho (violação do prazo razoável para execução de sentença que estabeleceu o
01/02/2022 (n. 448)
Marítimos e Portuários (FEMAPOR) vs. Peru pagamento de salários)

Pavez Pavez vs. Chile 04/02/2022 (n. 449) Direito ao trabalho – discriminação por orientação sexual)
C ORTE IDH: C ASOS CONTENCIOSOS DESCA
R ECONHECIMENTO DA VIOLAÇÃO DIRETA DO ART . 26 CADH

Caso Sentença Direito violado e protegido pelo art. 26 CADH


(o que não significa que não houve violação de outras normas)

Direito ao trabalho. Prática discriminatória no contexto da relação laboral. Não contratação por
Guevara Diaz vs. Costa Rica 22/06/2022 (n. 453)
motivo de deficiência intelectual

Mina Cuero vs. Equador 07/09/2022 (n. 464) Direito ao trabalho (estabilidade laboral)

Benites Cabrera y otros vs. Peru 04/10/2022 (n. 465) Direito ao trabalho (estabilidade laboral)

Valencia Campos y otros vs. Bolívia 18/10/2022 (n. 469) Direito à saúde

Nissen Pessolani vs. Paraguay 21/11/2022 (n. 477) Direito ao trabalho (estabilidade laboral)

Aguinaga Aillón vs. Equador 30/01/2023 Direito ao trabalho (estabilidade laboral). Poder judiciário – autoridades judiciais
C ORTE IDH: C ASOS CONTENCIOSOS DESCA
R ECONHECIMENTO DA VIOLAÇÃO DIRETA DO ART . 26 CADH

Direito ao trabalho Direito ao trabalho


▪ Lagos Del Campo vs. Peru (2017)
▪ Caso Palacio Urrutia y Otros vs. Equador (2021)
▪ Trabajadores cessados Petroperu vs. Peru (2017)
▪ Caso Federação Nacional de Trabalhadores
▪ San Miguel Sosa vs. Venezuela (2018) Marítimos e Portuários (FEMAPOR) vs. Peru (2022)

▪ Spoltore vs. Argentina (2020) ▪ Caso Pavez Pavez vs. Chile (2022)

▪ Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio ▪ Caso Guevara Diaz vs. Costa Rica (2022)
de Jesus vs. Brasil (2020)
▪ Caso Mina Cuero vs. Equador (2022)
▪ Casa Nina vs. Peru (2020)
▪ Caso Benites Cabrera y otros vs. Peru (2022)
▪ Caso de Los Buzos Miskitos (Lemoth Morris y otros)
vs. Honduras (2021) – solução amistosa ▪ Caso Nissen Pessolani vs. Paraguay (2022)

▪ Caso Extrabajadores del Organismo Judicial vs. ▪ Caso Aguinaga Aillón vs Equadror ( 2023)
Guatemala (2021)
S ENTENÇAS DA C ORTE IDH: C ASOS CONTENCIOSOS DESCA
R ECONHECIMENTO DA VIOLAÇÃO DIRETA DO ART . 26 CADH

Direito à saúde
▪ Poblete Vilchez vs. Chile (2018) Direito ao Meio
Direito à Previdência Social Ambiente/Água/Alimentação/Cultura
▪ Cuscul Pivaral vs. Guatemala
(2018) ▪ Muelle Flores vs. Peru (2019) ▪ Comunidades indígenas Miembros
▪ Hernández vs. Argentina (2019) ▪ ANCEJUB – SUNAT vs. Peru (2019) de La Asociación Lhaka Honhat vs.
Argentina (2020)
▪ Guachalá Chimbo e outros vs.
Equador (2021)

▪ Caso Vera Rojas e otros vs Chile


(2021)
Direito à Educação Direito à progressividade
▪ Caso Manuela y otros vs. El
Salvador (2021) ▪ Guzmán Albarracin e outras vs. ▪ Cuscul Pivaral vs. Guatemala (2018)
Equador (2020) - PSS
▪ Caso Valencia Campos y Otros vs.
Bolívia
CASO LAGOS DEL CAMPO VS. PERU (2017)

➢ Contexto fático: Dispensa arbitrária de ➢ Direitos violados


representante dos trabalhadores na
empresa por se manifestar sua ✓ O Estado é responsável pela violação do direito a
estabilidade laboral, reconhecido no art. 26, em
irresignação, em meios de comunicação,
relação aos artigos 1.1, 13, 8 e 16 da CADH;
contra a postura da empresa em
processo eleitoral para a representação ✓ O Estado é responsável pela violação do direito a
dos trabalhadores. liberdade de associação, reconhecido no art. 16 e
26, em relação aos artigos 1.1, 13 e 8 da CADH.

A dispensa por justa causa ocorreu em ✓ O Estado é responsável pela violação aos direitos
razão de uma entrevista dada pelo Sr. da proteção judicial e garantia judicial, nos termos
Lagos Del Campo a um periódico, na dos artigos 8 e 25 da CADH, em relação com o art.
1.1.
condição de presidente do Comitê
Eleitoral, relatando possíveis manobras ✓ O Estado NÃO é responsável pela violação ao artigo
fraudulentas da empresa pertinentes a 2º da CADH, em relação ao art. 5, inciso h”, da Lei
eleição da Comunidade Industrial 24514 e art. 25 do Decreto Legislativo nº 728
CASO LAGOS DEL CAMPO VS. PERU (2017)

TESES JURÍDICAS – 4 teses jurídicas

Tese 01: Justiciabilidade direta dos DESCA

Tese 02: direito ao trabalho – estabilidade laboral

➢ Ao analisar o conteúdo e alcance do direito ao trabalho, em especial o direito a


estabilidade laboral, a Corte partiu das regras gerais de interpretação
estabelecidas no art. 29, b, c e d, da CADH para analisar o corpus iuris
internacional e pelas legislações nacionais.

➢ No aspecto, para definição do conteúdo e alcance do direito a estabilidade


laboral utilizou-se dos seguintes instrumentos: OG n. 18 do Comitê DESC;
Convenção n. 158 da OIT; Recomendação n. 143 da OIT.
CASO LAGOS DEL CAMPO VS. PERU (2017)

Tese 02: direito ao trabalho – estabilidade laboral

➢ Da análise de tais instrumentos, concluiu que a proteção do direito a estabilidade


laboral, em âmbito privado, se traduz, em pprincípio, nos seguintes deveres: a)
adotar as medidas adotadas para a devida regulação e fiscalização do direito a
estabilidade laboral; b) proteger o trabalhador e trabalhadora, atraves de seus
órgãos competentes, contra a despedida injustificada; c) em caso de dispensa
injustificada, remediar a situação, seja através da reintegração ou mediante o
pagamento de indenização ou outras prestações previstas na legislação nacional;
d) o Estado deve disponibilizar mecanismos efetivos para recorrer contra uma
situação de dispensa injustificada, com a finalidade de garantir o acesso a justiça e
a tutela judicial efetiva de tais direitos.

➢ Reconheceu, ainda, que a estabilidade laboral, como parte integrante do direito


ao trabalho, não consiste em uma permanência irrestrita ou indeterminada ao
posto de trabalho. Trata-se de um direito que confere ao trabalhador garantias de
proteção contra despedidas arbitrárias
CASO LAGOS DEL CAMPO VS. PERU (2017)

Tese 03: Liberdade de expressão nas relações de trabalho

➢ Ao analisar as declarações do Sr. Lagos del Campo na qualidade de representante dos


trabalhadores, para verificar se era justificada eventual restrição ao exercício da liberdade
de expressão, a Corte IDH considerou se o objeto da manifestação era de interesse público
e o conteúdo das declarações.

➢ Para a Corte, as informações relativas ao âmbito laboral têm interesse público. Primeiro, por
alcançar os trabalhadores correspondentes. Segundo, quando as opiniões transcendem o
âmbito do modelo de organização do Estado ou instituições numa sociedade democrática.

➢ A Corte considerou que o Estado chancelou uma restrição à liberdade de expressão e


pensamento, por meio de uma sanção desnecessária em relação ao fim perseguido e sem
uma devida motivação, uma vez que não foi considerado as particularidades e o contexto
da situação (declarações proferidas por um representante dos trabalhadores relacionadas a
questões de interesse público).
CASO LAGOS DEL CAMPO VS. PERU (2017)

Tese 04: Liberdade de associação no contexto das relações de trabalho

➢ O direito previsto no art. 16 não apenas reconhece aos sindicatos e seus representantes,
mas também as associações de trabalhadores sem status sindical. Assim, ainda que não se
possa enquadrar o caso Lagos Del Campo nos arts. 8.1 e 19.6 do Protocolo de San Salvador,
a situação da vítima pode ser enquadrada no art. 26 da CADH em conjunto com o art. 45, C
da Carta da OEA.

➢ O direito de representação do trabalhador tem uma natureza dúplice: individual – direito


do indivíduo que exerce o mandato; coletivo – da comunidade ser representada. Disso
decorre que a violação do direito individual repercute na esfera coletiva.

➢ Os representantes dos trabalhadores de uma empresa devem usufruir de uma proteção


eficaz contra todo ato que possa prejudicá-los, incluindo a dispensa por razões de sua
condição de representante ou atividades derivadas de dita representação, consoante a
Recomendação 143 da OIT.
CASO LAGOS DEL CAMPO VS. PERU (2017)

Pontos resolutivos - obrigações

➢ A sentença constitui, por si só, uma forma de reparação;


➢ O Estado deve publicar a sentença no Diário Oficial e em outro jornal
de ampla circulação nacional
➢ O Estado deve pagar a quantia de U$ 28.000 a título de lucro
cessante e U$ 30.000 por pensão/benefícios previdenciários não
recebidos, bem como U$ 20.000 por danos morais.
➢ Custas (e honorários) U$ 20.000 a serem pagas para a vítima e U$
1.336,81 de restituição para o fundo de assistência legal das vítimas

CARÁTER COMPENSATÓRIO/INDENIZATÓRIO
CASO POBLETE VILCHES VS. CHILE (2018)

➢ Direitos violados

✓ Violação ao direito a saúde, em


➢ Contexto fático: conformidade com o art. 26 e art. 1.1 da
CADH (parágrafos 99 a 143 e 174 a 176);
O caso versa sobre a falta as ações e
omissões do Estado em relação ao ✓ Violação ao art. 4º (direito à vida); art. 5º
tratamento de saúde do Sr. Vinicio Antonio (integridade pessoal); art. 7º (liberdade
Poblete Vilches. pessoal); art. 8º (garantias judiciais); art. 11
(proteção da honra e dignidade); art. 13
As supostas vítimas do caso são o Sr. Poblete (liberdade de pensamento e expressão); art.
Vilches, suas esposa e seus filhos 25 (proteção judicial)

✓ NÃO foi reconhecida a violação ao direito da


seguridade social, previsto no art. 26 CADH,
nem violação ao direito da imparcialidade
judicial, previsto no art. 8º
CASO POBLETE VILCHES VS. CHILE (2018)
TESES JURÍDICAS

Tese 01: justiciabilidade direta DESCA

➢ Aperfeiçoamento argumentativo do conteúdo e alcance do art. 26 CADH

➢ Na ocasião, além de afirmar que a CADH compreendia um conjunto de direitos que incluía
los DESCA derivados do art. 26, a Corte assentou que do art. 26 da CADH decorrem dois
tipos de obrigação estatal: adoção medidas gerais e progressivas; adoção de medidas de
caráter imediato.

Tese 02: direito a saúde e diretrizes aplicáveis a situações de emergência e urgência médica

➢ Primeira vez que a Corte IDH se pronuncia no sentido de que o direito à saúde (direito
autônomo) pode derivar-se do art. 26 da CADH e das normas da Carta da OEA (§ 116)

➢ A Corte concluiu que o direito à saúde é um direito protegido pelo art. 26 da CADH,
estabelecendo diretrizes para o direito a saúde aplicável a situações de
emergência/urgência médica
CASO POBLETE VILCHES VS. CHILE (2018)

Pontos resolutivos - obrigações

➢ A própria sentença é uma forma de reparação


➢ O Estado deve dar publicidade ao julgado nos seguintes termos a) publicar o
resumo oficial elaborado pela Corte, uma vez, no Diário Oficial e em jornal de
grande circulação nacional em tamanho e letra legível e adequado; b)
disponibilizar a sentença integral, pelo período de um ano, em site oficial, de
maneira acessível ao público e logo na página inicial do site;
➢ Realizar ato público de reconhecimento da responsabilidade, no prazo de um
ano contado da notificação da sentença
➢ Garantir, por meio de suas instituições de saúde, tratamento médico psicológico
de maneira gratuita e imediata às vítimas
CASO POBLETE VILCHES VS. CHILE (2018)

Pontos resolutivos - obrigações

➢ Implementar, no prazo de um ano, programas permanentes de educação e


formação em direitos humanos aos estudantes de medicina e profissionais
médicos, assim como todo o pessoal do sistema de saúde e seguridade social,
sobre o tratamento adequado das pessoas idosas em matéria de saúde na
perspectiva dos direitos humanos. O programa deverá haver especial menção a
presente sentença e os instrumentos internacionais de direitos humanos CARÁTER
relativos ao direito a saúde ESTRUTURAL
➢ Elaborar uma cartilha que demonstre os direitos das pessoas idosas em matéria
de saúde, com disponibilização em todos os hospitais públicos e privados do Chile
(parágrafo 240)
➢ Elaborar uma política nacional de proteção integral às pessoas idosas, no prazo
de 3 anos (parágrafo 241)
➢ Pagar indenização por dano moral e material
CASO CUSCUL PIVARAL VS. GUATEMALA (2018)

➢ Direitos violados

✓ Por maioria (4x1), a Corte reconheceu a violação


ao direito a saúde, consagrado no art. 26 da
➢ Contexto fático: CADH; violação ao direito de não discriminação
com a obrigação de garantir o direito a saúde;
Precariedade da saúde pública que, por violação ao princípio da progressividade,
omissão, violou o direito de 49 pessoas consagrado no art. 26 da CADH; violação aos
diagnosticadas com HIV e em situação de direitos as garantias judicial, proteção judicial e
pobreza, que culminou com a morte de 8 das prazo razoável (art. 8 e 25)
vítimas
✓ Por unanimidade, reconheceu a violação ao
direito a vida (art. 4º) e integridade pessoal (art.
5º) em face das vítimas

✓ Por unanimidade, reconheceu violação a


integridade pessoal em prejuízo dos familiares das
vítimas
CASO CUSCUL PIVARAL VS. GUATEMALA (2018)

TESES JURÍDICAS

Tese 01: justiciabilidade direta DESCA (art. 26 CADH)

➢ Pela primeira vez, a Corte reconheceu, expressamente, que o entendimento adotado no


Caso Lagos Del Campo vs. Peru e em decisões posteriores, representou uma mudança de
jurisprudência do Tribunal em relação a casos em que foram analisados violações ao DESCA
por sua conexão com direitos civis e políticos (§ 73).

➢ A Corte analisou a violação do art. 26 da CADH por afronta ao direito a saúde – derivado da
interpretação conjunta com a Carta da OEA, bem como por violação ao princípio da não
discriminação por infração ao mesmo.

Além disso, analisou a violação do art. 26 da CADH por violação ao princípio da


progressividade
CASO CUSCUL PIVARAL VS. GUATEMALA (2018)

TESES JURÍDICAS

Tese 01: justiciabilidade direta DESCA (art. 26 CADH)

➢ No que diz respeito a sua competência para analisar violações aos DESCA, a Corte assinalou
que o fato do art. 19.6 do Protocolo de San Salvador estabelecer limites sobre a competência
do Tribunal para conhecer de violações a determinados direitos por meio do sistema de
petições individuais não deve ser interpretado como uma norma que limite o alcance dos
direitos protegidos pela Convenção, tampouco limite a competência da Corte para conhecer
sobre violações da Convenção.
Logo, para a Corte, a ausência de uma restrição expressa no Protocolo de San Salvador, que
limite a competência da Corte para conhecer sobre violações da Convenção Americana, indica
que essa restrição não deve ser assumida (§ 88).
CASO CUSCUL PIVARAL VS. GUATEMALA (2018)

TESES JURÍDICAS

Tese 02: direito à saúde das pessoas com HIV

➢ Desenvolveu estândares do direito a saúde aplicáveis as pessoas que vivem com HIV,
apliando o que já havia dito no caso Gonzales Lluy vs. Equador e Caso Duque vs. Colômbia.

Tese 03: princípio da progressividade

➢ No caso Acevedo Buendia, a Corte IDH estabeleceu que a partir do princípio da


progressividade há um dever de não regressividade, que nem sempre deverá ser entendido
como uma proibição de medidas que restrinjam o exercício de um direito

➢ Destacou que, apesar da gradatividade para realização dos DESCA, que atende as
características legislativas e de recursos disponíveis, deve se atentar para o progresso que
requer uma melhora efetiva e contínua dos direitos, de forma que se corrijam as
desigualdades sociais e se facilite a inclusão de grupos vulneráveis
REALIZAÇÃO PROGRESSIVA, PROIBIÇÃO DE REGRESSIVIDADE E OBRIGAÇÕES IMEDIATAS

Obrigação de “meio” (não de


resultado) para assegurar o
Obrigação de realização desenvolvimento gradativo
progressiva e não das obrigações em matéria
regressividade de DESCA, conforme o
máximo dos recursos
disponíveis
Obrigações derivadas dos
instrumentos que tratam de
DESCA Obrigações que não
dependem da existência de
recursos ou da capacidade
Obrigações imediatas do Estado para o
cumprimento do direito em
questão. Ex: adotar medidas,
não discriminação, etc.
CASO CUSCUL PIVARAL VS. GUATEMALA (2018)
Pontos resolutivos - obrigações

➢ Garantir, por meio de suas instituições de saúde, tratamento médico psicológico de maneira
gratuita e imediata às vítimas e familiares;

➢ Garantir, por meio de suas instituições de saúde, que o tratamento médico seja realizado
na clínica mais próxima da residência das vítimas, assumindo todos os custos pelo
transporte daqueles que não tiverem condições;

➢ Implementar mecanismos de fiscalização e supervisão dos serviços de saúde, melhorar a


acessibilidade, disponibilidade e qualidade das prestações de serviço de saúde para
pessoas que vivem com o vírus HIV; garantir a medicação adequada a toda pessoa afetada, CARÁTER
oferecer meios para a população de fazer exames diagnósticos para detecção do HIV; ESTRUTURAL
implementar um programa de capacitação dos funcionários do sistema de saúde; garantir
tratamento médico adequado para mulheres grávidas com HIV; realizar campanha
nacional de conscientização e sensibilização dirigida a pessoas que convivam com HIV,
funcionários públicos e população em geral, sobre os direitos das pessoas com HIV,
obrigações das autoridades, necessidade de respeito das pessoas nessas condições.

➢ Pagar indenização por dano material e indenização por danos morais


CASO MUELLE FLORES VS. PERU (2019)

➢ Direitos violados

➢ Contexto fático: ✓ Por unanimidade: violação ao direito a tutela


judicial efetiva e proteção judicial (arts. 25.e
e 25.2), em conjunto com o art. 1.1 e art. 2
Descumprimento de duas decisões CADH; violação ao prazo razoável (art. 8.1)
judiciais de amparo emitidas em 1993 e
1999 durante 24 anos, que ✓ Por maioria (4x2): violação ao direito a
reconheceram direitos de pensão como seguridade social previsto no art. 26 CADH,
ex-trabalhador da empresa estatal de em relação aos artigos 5, 8.1, 11.1, 25,1 e
25.2, “c” e 1.1 e 2 CADH
mineração Tintaya
✓ Por maioria (4x2): violação ao direito de
propriedade privada (art. 21.1 e 21.2)
CASO MUELLE FLORES VS. PERU (2019)
TESES JURÍDICAS

Tese 01: Justiciabilidade DESCA

➢ A Corte IDH considerou que existe referência ao direito à seguridade social na Carta da OEA,
que autoriza sua análise autônoma a luz do art. 26 CADH.

Tese 02: Direito a seguridade social

➢ A Corte IDH utilizou as fontes, princípios e critérios do “corpus iuris internacional” como normativa
aplicável para determinação do conteúdo do direito a seguridade social e as obrigações estatais (§192)

➢ A partir dos critérios e elementos constitutivos do direito a seguridade social, extraídos,


principalmente, das normas da OIT e das observações gerais do Comitê DESC da ONU, a Corte IDH
argumentou que o direito a pensão por aposentadoria, derivada de um sistema de contribuição, é
componente do direito a seguridade social que busca satisfazer a necessidade de subsistência
econômica, destacando os seguintes elementos fundamentais: disponibilidade, riscos e imprevistos
sociais, nível suficiente, acessibilidade (cobertura, condições, participação e informação, etc). O acesso
à justiça é parte do direito a seguridade social.
CASO MUELLE FLORES VS. PERU (2019)

Pontos resolutivos - obrigações

➢ Sentença é uma forma de reparação

➢ O Estado deve dar cumprimento as sentenças internas proferidas em favor da


vítima para garantir de maneira efetiva o pagamento da pensão ao Sr. Oscar
Muelle Flores, em um prazo máximo de 6 meses, assim como manter o
pagamento provisório e acesso ao seguro social, conforme estabelecido nos
parágrafos 230 e 236

➢ Realizar a publicação, uma única vez, do resumo em Diário Oficial e em diário de


grande circulação nacional; publicação da sentença integral, disponível por um
ano, em site oficial do Estado, de maneira acessível ao público em sua página
inicial

➢ Indenização compensatória e gastos


CASO DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS VS. BRASIL (2020)

➢ Objeto (fatos): o caso se relaciona com a explosão de um fábrica de fogos de artifício, localizada no município de
Santo Antônio de Jesus (Bahia), ocorrida em 11 de dezembro de 1998, um dia após o Brasil ter reconhecido a
jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humano.

▪ 60 pessoas morreram, sendo 40 mulheres (4 grávidas), 19 meninas e 1 menino;

▪ 7 pessoas ficaram feridas por causa da explosão: 3 mulheres, 2 meninos; 1 menina e 1 bebê que, em razão do grave
estado de saúde de sua mãe, nasceu de forma prematura, apresentando complicações de saúde;

▪ Características das trabalhadoras da fábrica de fogos: afrodescendentes, viviam em condição de pobreza, baixo
nível de escolaridade; não eram registradas (contrato verbal); salários muito baixos (0,50 por produção de mil
foguetes), sem nenhum adicional em razão do risco a que estavam submetidas; não utilizavam qualquer
equipamento de proteção individual, bem como não receberam qualquer instrução/capacitação para o exercício do
trabalho; trabalhavam todo o dia, produzindo cerca de 3 mil a 6 mil foguetes

▪ Os habitantes do município que trabalhavam na fábrica não tinham outra alternativa econômica devida a sua
condição de pobreza, falta de alfabetização e trabalho precoce, desde os 6 anos de idade, com jornada de 6 horas
diárias em época escolar e todo o dia durante suas férias, finais de semana e épocas festivas
CASO DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS VS. BRASIL (2020)

▪ No momento da explosão, a fábrica contava com autorização do exército e do município para operar e,
desde seu registro, não havia sido inspecionada pelas autoridades estatais em relação as condições
laborais nem sobre o controle de atividades perigosas

▪ Em razão da explosão, no Brasil, foram propostos:

✓ 01 processo administrativo (1998)


✓ 01 processo penal (1999)
✓ 10 processos cíveis (1999 a 2002)
✓ 76 processos trabalhistas (2000 e 2001)

▪ No momento de prolação da sentença pela Corte Interamericana (2020) somente havia sido concluído
o processo administrativo e alguns processos cíveis e trabalhistas, porém ainda não tinha sido
alcançada a reparação integral das vítimas. Os demais processos, passados mais de 18 anos, não
tinham sido solucionados.
CASO DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS VS. BRASIL (2020)

➢ Violações reconhecidas:

✓ Direito à vida e da criança, constantes dos artigos 4.1 e 19, em prejuízo das sessenta pessoas falecidas na explosão da
fábrica;

✓ Direitos à integridade pessoal e da criança, constantes dos artigos 5.1 e 19, em prejuízo dos seis sobreviventes da
explosão da fábrica de fogos de Santo Antônio de Jesus.

✓ Direitos da criança, à igual proteção da lei, à proibição de discriminação e ao trabalho, constantes dos artigos 19, 24 e
26, em relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em prejuízo das sessenta pessoas
falecidas e das seis sobreviventes da explosão da fábrica de fogos de Santo Antônio de Jesus;

✓ Direitos às garantias judiciais e à proteção judicial, constantes dos artigos 8 e 25, em relação ao artigo 1.1 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, em prejuízo dos seis sobreviventes da explosão da fábrica de fogos de Santo
Antônio de Jesus e dos familiares das vítimas da explosão da fábrica de fogos;

✓ Direito à integridade pessoal, constante do artigo 5.1 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação ao
artigo 1.1 do mesmo instrumento, em prejuízo dos familiares das pessoas falecidas e dos sobreviventes da explosão da
fábrica de fogos de Santo Antônio de Jesus.
CASO DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS VS. BRASIL (2020)

TESES JURÍDICAS – DESTAQUES


➢ Reconhecimento da violação direta do art. 26 CADH em relação ao direito a condições equitativas e satisfatórias de
trabalho, que assegurem a segurança, saúde e a higiene no contexto laboral

➢ A Corte considera que a natureza e o alcance das obrigações que decorrem da proteção das condições de trabalho que
garantam a segurança, a saúde e a higiene do trabalhador incluem aspectos de exigibilidade imediata, bem como
aspectos que apresentam caráter progressivo. Destacou que o caso não diz respeito às obrigações de progressividade,
mas sim à falta de garantia do direito a condições equitativas e satisfatórias

➢ Conteúdo do direito: o direito em questão implica que o trabalhador possa realizar seu trabalho em condições
adequadas de segurança, higiene e saúde, que previnam acidentes de trabalho, o que é especialmente importante
quando se trata de atividades de risco. Além disso, de forma específica, à luz da legislação brasileira, o direito implica a
adoção de medidas de prevenção e redução de riscos inerentes ao trabalho e de acidentes de trabalho; a obrigação de
proporcionar equipamentos de proteção adequados frente aos riscos decorrentes do trabalho; a caracterização, a cargo
das autoridades de trabalho, da insalubridade e da insegurança no trabalho; e a obrigação de fiscalizar essas condições,
também a cargo das autoridades de trabalho.
CASO DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS VS. BRASIL (2020)

TESES JURÍDICAS – DESTAQUES

➢ Proibição do trabalho infantil

➢ Proibição de discriminação

✓ A pobreza não é uma categoria especial de proteção. Porém, tal fato não é obsetáculo para que se considere que a
discriminação por probreza esteja proibida pelas normas convencionais. A Corte já se posicionou em outras
oportunidades sobre a pobreza e a proibição de discriminação por posição econômica. No caso Trabalhadores da
Fazenda Brasil Verde vs. Brasil, por exemplo, a Corte considerou o Estado responsável pela situação de discriminação
estrutural histórica em razão da posição econômica das vítima

✓ A Corte reconheceu a discriminação estrutural em função da condição de pobreza das vítimas

✓ O caso constitui um precedente importante sobre matéria de discriminação estrutural e interseccional

OBS: Houve apresentação de manifestação, na condição de amicus curiae, pelo Ministério Público do
Trabalho
CASO DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS VS. BRASIL (2020)

➢ Medidas de reparação

✓ Obrigação de investigar: continuar com a devida diligência no processo penal para julgar e
sancionar os responsáveis pela explosão; concluir os processos cíveis por danos morais e
materiais; finalizar os processos trabalhistas e promover sua completa execução, tudo em um
prazo razoável;

✓ Medidas de reabilitação: oferecer às vítimas tratamento médico, psicológico e psiquiátrico que


necessitem; proporcionar os medicamentos necessários; cobrir os gastos relativos ao
transporte e alimentação na hipótese das vítimas precisarem dirigir-se a instituições de saúdes
distantes de seus domicílios;
CASO DA FÁBRICA DE FOGOS DE SANTO ANTÔNIO DE JESUS VS. BRASIL (2020)

➢ Medidas de reparação

✓ Medidas de satisfação: publicação de resumo da sentença no Diário Oficial; Publicação da sentença integral em um
sitio da WEB oficial do Estado da Bahia e Governo Federal; produzir material audiovisual que apresente um resumo da
sentença, com divulgação em horário de maior audiência por canais públicos de rádio e TV do Estado da Bahia ou, se
não existir, em canal público do Estado brasileiro; realizar um ato de reconhecimento público de responsabilidade

✓ Medidas de não repetição: implementar uma política sistemática de inspeções periódicas em locais de produção de
fogos de artifício, com a finalidade de verificar as condições de segurança e salubridade do trabalho, assim como o
armazenamento dos produtos; desenvolver e executar um programa socioeconômico destinado a suprir a falta de
alternativas de trabalho em Santo Antônio de Jesus, especialmente jovens maiores de 16 anos e mulheres
afrodescendentes que vivem em condições de pobreza (política estrutural); encaminhar à Corte IDH um relatório a
respeito da promoção e apoio a medidas de inclusão e não discriminação para a contratação de grupos vulneráveis e a
implementação, por parte das empresas, de atividades educativas em matéria de direitos humanos

✓ Indenizações: pagamento de indenização por dano material e moral DECISÃO ESTRUTURAL!


COORDENADORIA NACIONAL DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE
DE TRABALHO E DA SAÚDE DO TRABALHADOR E COORDENADORIA NACIONAL ERRADICAÇÃO DO TRABALHO ESCRAVO E
TRABALHADORA (COODEMAT) ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS (CONAETE)

➢ OC n. 21/14 – direitos e garantias de crianças no


➢ OC n. 23/17 sobre meio ambiente e direitos
contexto de migração e/ou em necessidade de
humanos (destaque: §§ 46 a 70; 111) proteção internacional (destaque: §§ 72 a 107)
➢ OC 18/2003 – a condição jurídica e os direitos dos
➢ Caso Mergulhadores Miskitos (Lemoth Morris e migrantes indocumentados (destaque: §§ 13 a 20, 72 a 88)
outros) vs Honduras – 2021 (destaque: §§ 68 a 78) ➢ Caso dos Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde. Vs
Brasil (2016) (destaque: §§ 240 a 328)

➢ Caso dos Empregados da Fábrica de Fogos de ➢ Caso membros da Aldeia Chichupac e comunidades
Santos Antônio de Jesus vs. Brasil – 2020 (destaque: vizinhas do município de Rabinal vs. Guatemala (2016)
(destaque: § 216)
§§ 148 a 176)
➢ Caso dos Massacres de Rio Negro vs. Guatemala (2012)
(destaque: §§ 139 a 150)

➢ Caso Spoltore vs. Argentina – 2020 (destaque: §§ 82 a ➢ Caso dos Massacres de Ituango vs. Colômbia (2006)
102) (destaque: §§ 145 a 168)
COORDENADORIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA REGULARIDADE DO
TRABALHO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (CONAP)
COORDENADORIA NACIONAL DE COMBATE ÀS FRAUDES NAS
RELAÇÕES DE TRABALHO (CONAFRET)
➢ OC 29/22 – abordagens diferenciadas em relação a
determinados grupos de pessoas privadas de
liberdade (destaque sobre a gestão penitenciária - §§ 108 a 114)
➢ OC 27/21 – direitos à liberdade sindical,
➢ Caso Benites Cabrera e outros vs. Peru (2022)
negociação coletiva e greve, e sua relação com (destaque §§ 109 a 118)
outros direitos, sob a perspectiva de gênero
(destaque: §§ 201 a 212) ➢ Caso Mina Cuero vs. Equador (2022) (destaque §§ 127 a
136)

➢ Caso Pavez Pavez vs. Chile (2022) (destaque §§ 85 a 90)


➢ OC 18/03 – a condição jurídica e os direitos ➢ Caso Ex-trabalhadores de órgão judicial vs.
dos migrantes indocumentados (destaque: §§ 128 a Guatemala (2021) (destaque §§ 128 a 133)
160)
➢ Caso Casa Nina vs. Peru (2020) (destaque §§ 103 a 110)
➢ Caso da Associação Nacional dos Despedidos e
aposentados da Superintendência Nacional de
Administração tributária (Acejub-SUNAT) vs. Peru
(2019) (destaque §§ 154 a 191)
COORDENADORIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA COORDENADORA NACIONAL DO TRABALHO PORTUÁRIO E
REGULARIDADE DO TRABALHO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA AQUAVIÁRIO (CONATPA)
(CONAP)

➢ Caso Muelle Flores vs. Peru (2019) (Destaque: §§ 170


a 207)
➢ Caso Federação nacional de Trabalhadores
Marítimos e Portuários (FEMAPOR) vs. Peru
➢ Caso dos Trabalhadores dispensados da
(2022) (Destaque: §§ 107 a 111)
Petroperu e outros vs. Peru (2017) (Destaque: §§
192 a 193)

➢ Caso Acevedo Buendia e outros vs. Peu (2009) ➢ Caso Mergulhadores Miskitos (Lemoth Morris
(Destaque: §§ 92 a 106) e outros) vs Honduras (2021) (Destaque: §§ 61 a 97)
➢ Caso Trabalhadores Dispensados do Congresso
(aguado Alfaro e outros) vs. Peru (2006)
(Destaque: §§ 129 a 136)

➢ Caso Acevedo Jaramillo e outros vs. Peru


(2006) (Destaque: §§ 276; 278; 306 e 311)
COORDENADORIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE
OPORTUNIDADES E ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO
COORDENADORIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE
OPORTUNIDADES E ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO NO TRABALHO
(COORDIGUALDADE )
(COORDIGUALDADE )
➢ OC 27/21 – direitos à liberdade sindical,
➢ Caso Mergulhadores Miskitos (Lemoth Morris
negociação coletiva e greve, e sua relação com
e outros) vs Honduras (2021) (Destaque: §§ 98 a 110)
outros direitos, sob a perspectiva de gênero
(Destaque: §§ 151 a 189) ➢ Caso Vichy Hernández e outras vs. Honduras
➢ OC 24/17 – identidade de gênero, igualdade e (2021) (Destaque: §§ 100; 108 a 136)
não discriminação a casais do mesmo sexo ➢ Caso dos Empregados da Fábrica de Fogos de
(Destaque: §§ 61 a 84)
Santos Antônio de Jesus vs. Brasil (2020)
➢ OC 18/03 – a condição jurídica e os direitos (Destaque: §§ 182 a 204)

dos migrantes indocumentados (Destaque: §§ 70 a ➢ Caso Migual Sosa e outras vs. Venezuela
172)
(2018) (Destaque: §§ 211 a 222)
➢ Caso Guevara Diaz vs. Costa Rica (2022)
(Destaque: §§ 46 a 82) ➢ Caso Fazenda Brasil Verde vs. Brasil (§§ 334 a
341 sobre discriminação estrutural) (Destaque: §§
➢ Caso Pavez Pavez vs. Chile (2022) (Destaque: §§ 85 a 334 a 341 – discriminação estrutural)
90)
COORDENADORIA NACIONAL DE COMBATE AO TRABALHO INFANTIL
E DE PROMOÇÃO DE DEFESA DOS DIREITOS DE CRIANÇAS E COORDENADORIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA LIBERDADE
ADOLESCENTES (COORDINFÂNCIA) SINDICAL E DO DIÁLOGO SOCIAL (CONALIS)

➢ OC 17/2002 – condição jurídica e direitos humanos ➢ OC 27/21 – direitos à liberdade sindical, negociação
da criança (destaque: §§ 56 a 91) coletiva e greve, e sua relação com outros direitos,
sob a perspectiva de gênero (destaque: §§ 44 a 150)
➢ OC n. 21/14 – direitos e garantias de crianças no
contexto de migração e/ou em necessidade de ➢ OC 22/16 – titularidade de direitos das pessoas
proteção internacional (destaque: §§ 72 a 107) jurídicas no sistema interamericano de direitos
humanos (§§ 85 a 105 sobre sindicatos, federações e
➢ Caso dos Empregados da Fábrica de Fogos de Santos
confederações – análise do art. 8º do Protocolo de
Antônio de Jesus vs. Brasil (2020)
San Salvador) (destaque: §§ 85 a 105)
➢ (destaque: §§ 177 a 181 – trabalho infantil)
➢ Caso Deras Garcia e outros vs. Honduras (2022)
➢ Caso Fazenda Brasil Verde vs. Brasil (§§ 329 a 333 (destaque: §§ 78 e 79)
sobre direitos da criança) (destaque: §§ 329 a 333)
➢ Caso Sales Pimenta vs. Brasil (2022) (destaque: §§ 86 a 89;
➢ Caso dos Massacres de Rio Negro vs. Guatemala 116; 120)
(2012) (destaque: §§ 139 a 150) ➢ Caso Ex-trabalhadores de órgão judicial vs.
➢ Caso Vargas Areco vs. Paraguai (2006) (destaque: §§ 111 Guatemala (2021) (destaque: §§ 99 a 127)
a 134)
COORDENADORIA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA LIBERDADE OUTRAS ABORDAGENS ASSOCIADAS AO CONTEXTO LABORAL
SINDICAL E DO DIÁLOGO SOCIAL (CONALIS)
➢ OC 05/85 – o registro profissional obrigatório para
➢ Caso Isaza Uribe e outros vs. Colômbia (2018) jornalistas (Destaque: §§ 53 a 81)
(destaque: §§ 142 a 146)
➢ Caso Palacio Urrutia e outros vs. Equador (2021)
➢ Caso Lagos Del Campo vs. Peru (2017) (destaque: (Destaque: §§ 153 a 163)
§§ 133 a 154 e 155 a 163) ➢ Caso Alvarez Ramos vs. Venezuela (2019) (Destaque: §§
91 a 132)
➢ Caso Kawas Fernandez vs. Honduras (2009)
(destaque: §§ 141 a 149 sobre a liberdade de associação) ➢ Caso Granier e outros (Rádio Caracas Televisión) vs.
➢ Caso Cantoral Huamaní e Garcia Santa Cruz vs. Venezuela (2015) (Destaque: §§ 133 a 199)
Peru (2007) (destaque: §§ 141 a 149) ➢ Caso Suarez Peralta vs. Equador (2013) (Destaque: §§ 132
a 135; 138)
➢ Caso Huilca Tecse vs. Peru (2005) (Destaque: §§ 67 a
79) ➢ Caso Perozo e outros vs. Venezuela (2009) (Destaque:
§§ 114 a 122; 149 a 161; 279 a 287; 360 a 362)
➢ Caso Baena Ricardo e outros vs. Panamá
(destaque: §§ 153 a 173)
➢ Caso Ríos e outros vs. Venezuela (2009) (Destaque: §§
136 a 149; 265 a 273; 332 a 334)

➢ Caso Abrill Alosilla e outros vs. Peru (2006) (Destaque:


§§ 70 a 85)
4

➢ Relação de opiniões consultivas emitidas

➢ Opiniões consultivas em tramitação

➢ Opinião consultiva n. 23/2017

➢ Opinião consultiva n. 27/2021


C ORTE IDH: O PINIÕES C ONSULTIVAS

Opinião Consultiva Objeto

OC nº 01 (24/09/1982) Alcance da competência consultiva – “outros tratados” (art. 64)


OC nº 02 (24/09/1982) Efeitos das reservas sobre a entrada em vigor da CADH
OC nº 03 (08/03/1983) Restrições a pena de morte (arts. 4.2 e 4.4)

OC nº 04 (19/01/1984) Naturalização
OC nº 05 (13/11/1985) Diploma de jornalista e liberdade de expressão (arts. 13 e 29)

OC nº 06 (09/05/1986) Alcance da expressão “leis” (art. 30)


OC nº 07 (29/08/1986) Direito de retificação ou resposta (art. 14.1 e 1.1 e 2)
OC nº 08 (30/01/1987) HC e suspensão de garantias (arts. 27.2, 25.1 e 7.6)
OC nº 09 (06/10/1987) Garantias judiciais em estado de emergência (art. 27.2, 25 e 8)
OC nº 10 (14/07/1989) Interpretação da DADH e art 64 CADH
OC nº 11 (10/08/1990) Exceções ao esgotamento dos recursos internos (arts. 46.1, 46.2)
OC nº 12 (6/12/1991) Compatibilidade de um projeto de lei com art. 8.2

Fonte: Corte IDH. Opiniões Consultivas. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/opiniones_consultivas.cfm


C ORTE IDH: O PINIÕES C ONSULTIVAS
Opinião Consultiva Objeto

OC nº 13 (16/08/1993) Certas atribuições da CIDH (arts. 41, 42, 44, 46, 47, 50 e 51)
Responsabilidade internacional por expedição e aplicação de leis violadoras da
OC nº 14 (09/12/1994)
CADH (arts. 1 e 2)
OC nº 15 (14/11/1997) Informes da CIDH (Arts. 51)
Direito a informação sobre assistência consultar no marco das garantidas do devido
OC nº 16 (01/10/1999)
processo legal
OC nº 17 (28/08/2002) Condição jurídica e direitos humanos das crianças
Condição jurídica e direitos dos migrantes indocumentados (Princípio da não
OC nº 18 (17/09/2003)
discriminação – norma de jus cogens)
OC nº 19 (28/11/2005) Controle de legalidade no exercício das atribuições da CIDH
OC nº 20 (29/09/2009) Art. 55 da CADH (juiz ad hoc)
Direitos e garantias de crianças no contexto da migração e necessidade de proteção
OC nº 21 (19/08/2014)
internacional
Titularidade de direitos pelas pessoas jurídicas no sistema interamericano de
OC nº 22 (26/02/2016) direitos humanos. Interpretação e alcance de artigos da Convenção Americana e do
art. 8.1 do Protocolo de San Salvador

Fonte: Corte IDH. Opiniões Consultivas. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/opiniones_consultivas.cfm


C ORTE IDH: O PINIÕES C ONSULTIVAS

Opinião Consultiva Objeto

OC nº 23 (15/11/2017) Meio ambiente e direitos humanos

OC nº 24 (17/11/2017) Identidade de gênero, não discriminação para casais do mesmo sexo

O instituto do asilo a seu reconhecimento como direitos humanos no âmbito do


OC nº 25 (18/05/2018)
sistema interamericano
A denúncia da Convenção Americana e da Carta da OEA e seus efeitos sobre as
OC nº 26 (09/11/2020)
obrigações estatais em matéria de direitos humanos
Direito a liberdade sindical, negociação coletiva e greve e sua relação com outros
OC nº 27 (05/05/2021)
direitos, com perspectiva de gênero
A figura da reeleição presidencial indefinida em sistemas presidenciais no contexto do
OC nº 28 (07/06/2021)
sistema interamericano de direitos humanos
Enfoques diferenciados a respeito de determinados grupos de pessoas privadas de
OC nº 29 (30/05/2022)
liberdade (interpretação do alcance dos arts. 1.1, 4.1, 5, 11.2, 12, 13, 17.1, 19, 24 e 26 CADH)

Fonte: Corte IDH. Opiniões Consultivas. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/opiniones_consultivas.cfm


C ORTE IDH: O PINIÕES C ONSULTIVAS EM TRAMITAÇÃO

Solicitação de Opinião Consultiva Objeto

Obrigações estatais envolvendo a responsabilidade das


empresas privadas relacionadas com a indústria de armas de
fogo pelas práticas negligentes e pela falta de devida diligência
México (11/11/2022)
em que incorrem e que derivam de situações de risco para a
vida e a integridade das pessoas sob a jurisdição e proteção dos
Estados americanos.
O alcance das obrigações estatais, em suas dimensões individual
e coletiva, para responder à emergência climática no âmbito do
Colômbia e Chile (09/01/2023) DIDH, que tenham em consideração os efeitos diferenciados
dessa emergência sobre as pessoas e grupos populacionais da
região, a natureza e a sobrevivência humana em nosso planeta.
O conteúdo e o escopo do cuidado como direito humano e sua
Argentina (20/01/2023) interrelação com outros direitos
(Trabalho de cuidado – Convenção n. 156 OIT)

Fonte: Corte IDH. Opiniões Consultivas em tramitação. Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/solicitud_opiniones_consultivas.cfm


OPINIÃO CONSULTIVA Nº 23, DE 15/11/2017

➢ Trata-se de consulta formulada pela Colômbia sobre as obrigações dos Estados em


relação ao meio ambiente no contexto de proteção e garantia dos direitos a vida e
integridade pessoal

➢ A Corte IDH abordou a relação entre direitos humanos e meio ambiente; direitos
humanos afetados pela degradação do meio ambiente, incluindo o direito a um
meio ambiente saudável; o alcance do termo “jurisdição” previsto no art. 1.1 da
CADH e obrigações estatais; obrigações estatais no contexto de regimes especiais
de proteção em matéria ambiental; obrigações frente a danos transfronteiriços;
direito a vida e integridade pessoal em relação a proteção do meio ambiente e
respectivas obrigações estatais.
OPINIÃO CONSULTIVA Nº 23, DE 15/11/2017

CONCLUSÕES

➢O conceito de jurisdição, previsto no art. 1.1 da CADH, engloba toda situação


que o Estado exerça autoridade ou controle efetivo sobre as pessoas, dentro ou
fora de seu território

➢Para determinar as circunstâncias que revelam o exercício da jurisdição por de


um Estado, é necessário examinar as circunstâncias fáticas e jurídicas
particulares de cada caso específico e a localização dessa pessoa em uma área
geográfica não é suficiente, como a área de aplicação de um tratado de
proteção ambiental
OPINIÃO CONSULTIVA Nº 23, DE 15/11/2017

CONCLUSÕES

➢ Para os fins do artigo 1.1 da Convenção Americana, entende-se que as pessoas cujos direitos do
tratado foram violados como resultado de danos transfronteiriços estão sob a jurisdição do
Estado de origem do referido dano, na medida em que o referido Estado exerce controle efetivo
sobre as atividades realizadas em seu território ou sob sua jurisdição

➢ A fim de respeitar e garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob sua jurisdição, os
Estados têm a obrigação de prevenir danos ambientais significativos, dentro ou fora de seu
território, para os quais devem regular, fiscalizar e supervisionar as atividades sob sua jurisdição
que possam causar danos significativos ao meio ambiente; realizar estudos de impacto ambiental
quando houver risco de danos significativos ao meio ambiente; estabelecer um plano de
contingência, a fim de ter medidas e procedimentos de segurança para minimizar a possibilidade
de acidentes ambientais graves e mitigar os danos ambientais significativos que possam ter
ocorrido
OPINIÃO CONSULTIVA Nº 23, DE 15/11/2017

CONCLUSÕES

➢ Os Estados devem agir de acordo com o princípio da precaução, a fim de proteger o direito à
vida e à integridade pessoal contra possíveis danos graves ou irreversível ao meio ambiente,
mesmo na ausência de certeza científica;

➢ A fim de respeitar e garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob sua jurisdição,
os Estados têm a obrigação de cooperar, de boa fé, para proteger contra danos
transfronteiriços significativos ao meio ambiente. Para o cumprimento desta obrigação, os
Estados devem notificar os Estados potencialmente afetados quando tiverem conhecimento
de que uma atividade planejada sob sua jurisdição pode gerar risco de danos
transfronteiriços significativos e em casos de emergências ambientais, bem como consultar
e negociar, de boa fé, com os Estados potencialmente afetados por danos transfronteiriços
significativos;
OPINIÃO CONSULTIVA Nº 23, DE 15/11/2017

CONCLUSÕES

➢A fim de garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob sua


jurisdição, em relação à proteção do meio ambiente, os Estados têm a
obrigação de garantir o direito de acesso à informação relacionada a possíveis
efeitos sobre o meio ambiente; o direito à participação pública das pessoas sob
sua jurisdição na tomada de decisões e políticas que possam afetar o meio
ambiente, bem como o direito de acesso à justiça em relação às obrigações
ambientais dos Estados elencadas na presente opinião consultiva.
OPINIÃO CONSULTIVA Nº 27, DE 05/05/2021

➢ Emitida em 05 de maio de 2021, em razão de consulta formulada pela


Comissão Interamericana sobre o alcance das obrigações dos Estados em
garantir a liberdade sindical, sua relação com demais direitos e sua aplicação
desde a perspectiva de gênero;

➢ Participação do MPT, por meio de apresentação de “opinião/observações


escrita” (forma de “amicus curiae”), bem como participação na audiência
pública realizada em julho de 2020 (SCTI);

➢ A consulta envolveu três grandes temas: a) liberdade sindical, negociação


coletiva e greve; b) gênero; c) mudanças no mercado de trabalho pelo uso de
novas tecnologias.
OPINIÃO CONSULTIVA N. 27, DE 05 DE MAIO DE 2021

CONCLUSÕES DA CORTE IDH:


1. O direito à liberdade sindical, negociação coletiva e greve são direitos humanos
protegidos no âmbito do sistema interamericano, o que implica a obrigação dos Estados
de adotar mecanismos para garanti-los, incluindo o acesso a um recurso judicial efetivo
contra atos violadores de referidos direitos; a prevenção, investigação e punição dos
responsáveis pelas violações e a adoção de medidas específicas para sua plena vigência;

2. A liberdade sindical, a negociação coletiva e o direito de greve tem uma relação de


interdependência e indivisibilidade. O respeito e a garantia desses direitos são essenciais
para a defesa dos direitos trabalhistas e de condições justas equitativas e satisfatórias de
trabalho;
OPINIÃO CONSULTIVA N. 27, DE 05 DE MAIO DE 2021

3. Os direitos de reunião e liberdade de expressão, em relação com a liberdade


sindical, negociação coletiva e greve, constituem direitos fundamentais para que
os trabalhadores e trabalhadoras e seus representantes se organizem e
expressem suas reivindicações específicas sobre suas condições de trabalho,
podendo participar de questões de interesse público com voz coletiva, tendo o
Estado o dever de respeitar e garantir esses direitos;

4. A legislação trabalhista estabelece um piso mínimo de proteção dos direitos


dos trabalhadores e trabalhadoras, não podendo haver renúncia “in pejus” aos
direitos trabalhistas reconhecidos pela legislação por meio de negociação coletiva
(NEGOCIADO X LEGISLADO);
OPINIÃO CONSULTIVA N. 27, DE 05 DE MAIO DE 2021

5. Os Estados devem garantir o direito da mulher, em igualdade de condições, a não ser


submetida a atos de discriminação, e a participar de todas as associações que tratem da vida
pública ou política, incluindo os sindicatos e organizações de trabalhadores e trabalhadoras.
Isso implica em não estabelecer nenhum tipo de tratamento injustificadamente diferenciado
entre pessoas em razão do gênero, e a obrigação dos Estados em criar condições de real
igualdade para o exercício dos direitos sindicais;

6. A autonomia sindical não abrange medidas que limitem o exercício dos direitos sindicais das
mulheres dentro dos sindicatos e, pelo contrário, obriga o Estado a adotar medidas positivas
que permitam às mulheres usufruir de igualdade formal e material no local de trabalho e
sindical, em particular aquelas que combatem os fatores estruturais que estão na base da
persistência de estereótipos e papéis de gênero, e que não permitem as mulheres o pleno
gozo de seus direitos sindicais;
OPINIÃO CONSULTIVA N. 27, DE 05 DE MAIO DE 2021

7. Os Estados têm a obrigação de adaptar suas leis e práticas às novas


condições do mercado de trabalho, quaisquer que sejam os avanços
tecnológicos que produzam essas mudanças e, em consideração às
obrigações de proteção dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras que
impõe o direito internacional dos direitos humanos.

Para isso, devem fomentar a participação efetiva de representantes dos


trabalhadores e trabalhadoras (sindicatos), empregadores e empregadoras,
na formulação da política e legislação de emprego.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

➢ Importância da cultura jurídica que adote a premissa da interação entre ordens jurídicas: superação do
debate monismo x dualismo

➢ Jurisprudência interamericana: parâmetro para o controle de convencionalidade nacional e internacional

➢ Importância do acompanhamento das decisões proferidas pela Corte IDH, no exercício de sua competência
consultiva e contenciosa, não se restringindo, nesse último caso, às decisões em face do Estado brasileiro -
estandartes interamericanos que emanam das decisões da Corte IDH (sentenças e opiniões consultivas)

➢ A Justiciabilidade é importante, mas se trata apenas de um elemento da realização dos DESCA (políticas
públicas).

➢ Eventuais alertas ou riscos da justiciabilidade dos DESCA não devem ser considerados como obstáculos à
judicialização, mas sim como incentivo para se pensar na melhor proteção e nos melhores caminhos de
judicialização, à luz da justiça distributiva e igualdade.
TEMAS DE DIREITOS HUMANOS E O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE APLICADO
JURISPRUDÊNCIA INTERAMERICANA EM MATÉRIA DE DESCA

Muito Obrigado!

@cesar_h_kluge Cesar.h.kluge@gmail.com

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