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PREFÁCIO

Essa é uma época difícil para os filhos, e também para os pais. Houve uma enorme mudança
na natureza da infância nesses últimos dez ou vinte anos. Essa mudança torna
mais difícil para a criança aprender as lições básicas do coração e exige mais dos pais que
costumavam transmitir essas noções a seus filhos queridos. Os pais precisam
ser mais espertos para ensinar aos filhos noções emocionais e sociais básicas. Neste guia da
paternidade competente, John Gottman mostra como.
Talvez essa necessidade jamais tenha sido tão premente. Vejam as estatísticas. Nas últimas
décadas, o número de homicídios entre adolescentes quadruplicou, o número
de suicídios triplicou, o de estupros dobrou. Por trás de estatísticas sensacionalistas como
essas há um mal-estar emocional mais generalizado. Uma amostragem nacional
feita com mais de duas mil crianças americanas, avaliadas por pais e professores- primeiro em
meados da década de 70, depois no final da década de80 -, verificou
que as habilidades emocionais e sociais básicas da criança vêm decaindo a longo prazo. Em
geral, as crianças estão mais nervosas e irritadiças, mais mal-humoradas,
mais deprimidas e solitárias, mais impulsivas e desobedientes - decaíram em mais de quarenta
itens.
Por trás dessa deterioração, há forças maiores. Antes de mais nada, a nova realidade
econômica significa que agora os pais precisam trabalhar mais do que nas gerações
passadas para sustentar a família- o que quer dizer que hoje a maioria dos pais tem menos
tempo livre para passar com os filhos do que seus pais tinham para passar
com eles. Cada vez mais famílias vivem longe dos parentes, muitas vezes em bairros em que
os pais têm medo até de deixar seus filhos pequenos brincarem na rua, quanto
mais de deixá-los ir à casa de um amigo. E as crianças estão passando cada vez mais tempo
diante de uma tela de vídeo - seja assistindo à tevê, seja olhando para
um monitor de computador - o que significa que elas não estão brincando com outras crianças.
Mas ao longo de toda a história da humanidade, foi com os pais, parentes e vizinhos e
brincando com outras crianças que a criança aprendeu técnicas emocionais e
sociais básicas.
As conseqüências para quem não aprende os fundamentos da inteligência emocional ficam
cada vez mais funestas. Indícios sugerem, por exemplo, que as meninas que não
aprendem a distinguir sentimentos como ansiedade e fome são mais propensas a distúrbios
alimentares, ao passo que as que têm dificuldade de controlar os impulsos
na primeira infância são mais propensas a engravidar no final da adolescência. Em meninos, a
impulsividade dos primeiros anos pode anunciar uma grande tendência
à delinqüência ou à violência. E, em todas as crianças, a inabilidade para lidar com a
ansiedade e a depressão é um fator que aumenta o risco de abuso de drogas
ou álcool no futuro.
Dada essa conjuntura, os pais precisam aproveitar ao máximo os preciosos momentos de
convivência com seus filhos para treiná-los no exercício de habilidades humanas
chaves como compreender pensamentos perturbadores e lidar com eles, autocontrole e
empatia. Em Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos, John Gottman
apresenta aos pais instruções de base científica mas eminentemente práticas para equipar os
filhos com os instrumentos essenciais para a vida.
Daniel Goleman
autor de Inteligência emocional

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