Você está na página 1de 6

Analisando toda a trajetória da história da educação, as mudanças que ocorreram no mundo, olhando

para nosso tempo de infância, você diria que hoje é mais difícil educar os filhos?

Eu acredito que a tarefa mais difícil da vida seja a de educar, e ao mesmo tempo é uma tarefa
absolutamente fantástica . Tem que ser difícil, senão as pessoas podem achar que é fácil e fazer de qualquer
jeito não é verdade? Sem sombra de dúvidas, essa tarefa hoje em dia é muito mais complexa do que no
passado, algumas pessoas acreditam que a dificuldade na educação está nas próprias crianças, frases como
“na minha época pai falava estava falado, hoje essas crianças não tem respeito por ninguém. Nesse sentido,
as pessoas acabam colocando a culpa ou nas crianças ou nos pais estressados, sem tempo e sem capacidade
para impor limites. Em verdade, há mais coisas em jogo. O mundo muda rapidamente, e inovações trazem
tanto novos avanços quanto novos problemas. Hoje em dia, realmente o mundo está mais confuso, para
quem mora em cidades grandes, está mais perigoso e mesmo em cidades menores não é mais possível
brincar no meio da rua ou ir até o campo subir em árvores. Há muito mais estimulo do que nos “nossos
tempos”, escolas mais empolgantes, televisão, jogos eletrônicos, internet. Antigamente as coisas eram mais
lentas, as mudanças ocorriam com mais vagar. Os relacionamentos também mudaram; há distanciamento da
família, avós e tios não ficam mais tão próximos para nos ajudar, há muito mais divórcios e famílias
recompostas, e há diferentes modelos de famílias
O filósofo Mario Sergio Cortella, fantástico esse homem, ele faz um relato sobre as mudanças que
ocorreram dentro de nossas casas nos últimos anos uma casa a 35 anos atrás: sala: mesa com cadeiras: as
pessoas jantavam juntas, conversavam, brigavam, conviviam. Uma cristaleira: onde a mãe guardava os
presentes de casamento para usar em um dia especial, ... Famílias católicas tinham um “altarzinho” com
nossa senhora... As poltronas, eram umas de frente para as outras, os seres humanos gostavam de se olhar.
Outro humano era sempre bem-vindo. Quando vinha um vizinho, todos se reuniam para ouvir as novidades.
De repente, chegou um novo membro na família, a tv, que imediatamente vai para o lugar do altarzinho que
antes era da santa
Como era a casa de 30 anos atrás? Tinha sala, corredor e quartos: na sala tinha: tv, sofá, vitrola, ...
No quarto: cama, guarda-roupa, ... Ao chegar, passávamos pela sala, trocávamos de roupa e voltávamos para
a sala. A convivência acontecia na sala. Ao redor da tv, mas a convivência não era mais a mesma. As
poltronas passam a ser viradas todas para a tv. Ninguém mais se olha. Vizinhos já não são bem vindos, pois
a conversa atrapalha escutar o programa... As pessoas não gostam mais de se ver.

A casa de hoje: sala, e ao invés de quartos, tocas. Na sala: ninguém mais vai, só quando tem visita. E a sala
está sempre arrumada, parece que está sempre esperando alguém. Na toca (quarto): tv, dvd, computador,
cama, ... Hoje todos chegam e vão direto para a toca e ficam. Até a refeição pode ser feita na toca, no horário
que quiser.
Nossos filhos são nativos digitais, nossos filhos tem basicamente o mesmo acesso as informações do
que nós. Quando tínhamos dúvidas sobre alguns assuntos e perguntávamos aos nossos pais, eles diziam
“quando você tiver idade eu te falo”, vai dar essa resposta a uma criança hoje, ela vai no google e pesquisa e
é bem capaz de voltar 5 minutos depois e te explicar o tal assunto. O mundo hoje está em um ritmo
diferente, e obviamente, a educação precisa seguir outro ritmo. Hoje estar com os filhos, conversar com eles,
é muito mais importante do que no passado.

Já que você falou sobre a introdução da tv na vida das famílias, nos fale um pouco sobre os efeitos
negativos das novas tecnologias que foram incorporadas as famílias, celular, ipads ente outros.

Existe um número enorme de crianças criadas em apartamentos, passando horas a fio jogando games,
acessando internet e vendo tv. Existem muitas famílias com filhos únicos, o que faz com que as crianças
tenham menos oportunidades de exercitar suas habilidades sociais em interações cotidianas, crescem no
meio de adultos e acabam tendo interesses de adultos muito cedo. Seus irmão são os celulares
A criança se sente ignorada emocionalmente. Celular, ipad, notebook, tv… os filhos precisam sentir
que há envolvimento dos pais, que eles sentem prazer em estar em sua companhia, que estão se divertindo
ao brincar com eles. O contato físico e o carinho representam estabilidade e segurança para que eles
aprendam o que é um relacionamento afetivo. A criança nasce completamente dependente da atenção dos
pais. À medida que vai crescendo, vai aprendendo a ter autonomia e tornando-se mais independente. Porém,
a atenção real dos pais é indispensável para o saudável desenvolvimento emocional dos filhos. Vários
estudos mostram que as consequências da ausência dos pais são graves.
Tem um texto da psicopedagoga Cassiana Tardivo
Antes perdíamos filhos nos rios, nos matos, nos mares, hoje temos perdido eles dentro do quarto! Quando
brincavam nos quintais ouvíamos suas vozes, escutávamos suas fantasias e ao ouvi-los, mesmo a distância,
sabíamos o que se passava em suas mentes. Quando entravam em casa não existia uma tv em cada quarto,
nem dispositivos eletrônicos em suas mãos. 
Hoje não escutamos suas vozes, não ouvimos seus pensamentos e fantasias, as crianças estão ali, dentro de
seus quartos, e por isso pensamos estarem em segurança. Quanta imaturidade a nossa. Agora ficam com seus
fones de ouvido, trancados em seus mundos, construindo seus saberes sem que saibamos o que é... Perdem
literalmente a vida, ainda vivos em corpos, mas mortos em seus relacionamentos com seus pais, fechados
num mundo global de tanta informação e estímulos, de modismos passageiros, que em nada contribuem para
formação de crianças seguras e fortes para tomarem decisões moralmente corretas e de acordo com seus
valores familiares.
Dentro de seus quartos perdemos os filhos pois não sabem nem mais quem são ou o que pensam suas
famílias, já estão mortos de sua identidade familiar... Se tornam uma mistura de tudo aquilo pelo qual eles
têm sido influenciados e pais nem sempre sabem o que seus filhos são

Como ser um bom pai e uma boa mãe? Como dar uma educação de qualidade para os filhos? Existe um
manual para criar filhos felizes e perfeitos?

Primeiramente é preciso dizer que a perfeição não existe, nem para filhos e nem para pais. Não existe um
único manual para comportamento geral de nada, pois cada ser humano é único, mas existem livros, estudos,
treinamentos, esse nosso bate papo mesmo, em grande parte ele está embasado nos estudos da doutora Lídia
Weber que dedicou e dedica até hoje, sua vida e pesquisar as relações parentais e tem nos deixado
contribuições maravilhosas. o comportamento da criança é multideterminado, ou seja, vários fatores
interferem nessa educação, escola, igreja, internet, mas a família é a maior influência para a determinação
do comportamento de uma criança, cada família tem seus próprios valores, seu comportamento moral e seu
modo de encarar o mundo. por isso , os estilos parentais, ou seja, o tipo de pai que você é, faz toda diferença
para o desenvolvimento e socialização do seu filho. A psicologia já pesquisa a interação de pais e filhos há
mais de 50 anos e, enquanto ciência preocupada com estratégias de prevenção, tem respostas bastante claras
sobre como educar uma criança. Atualmente sabe-se que família é fundamental, mas ela é realmente tão
importante para o desenvolvimento de crianças e adolescentes que pode ser tanto um fator de proteção,
quanto um fator de risco. Uma educação de qualidade faz com que s filhos crescem com uma boa
inteligência emocional e esta leva à felicidade em todos os aspectos – trabalho, carreira e relacionamentos.
Inteligência emocional é a capacidade de controlar as próprias emoções. É ter consciência de suas emoções e
habilidade para administrá-las mesmo em meio às situações mais estressantes. Desenvolver uma boa relação
com os pais tem inúmeros impactos positivos ao longo da nossa trajetória. “a atenção dos pais é de extrema
importância para o desenvolvimento psicológico. Os pais são quem oferece o cuidado, o carinho, o
aconchego, o acolhimento e a atenção às necessidades do bebê”,

Quais seriam esses fatores de risco que vc citou?

Existem alguns fatores de risco familiar que são situações presentes na família que podem prejudicar o
desenvolvimento social e emocional da criança, quanto mais esses fatores acontecerem, maior prejuízo para
a criança comunicação negativa (gritar, xingar, falar demais), clima conjugal negativo (quando há brigas
entre os pais), uso de punição corporal como castigo, ausência monitoria (não saber onde o filho está, ou
com quem, nem o que faz quando não está na escola), regras inconsistentes (quando uma regra depende do
humor dos pais e não de princípios estabelecidos) e hostilidade (uso de comportamentos coercitivos, como
punições, ameaças e abuso verbal). Ele traz a possibilidade de alguma coisa dar errado.
Os fatores de proteção são aqueles que ajudam a pessoa a tornar-se uma pessoa mais forte, mais resiliente.
Quanto mais a criança receber, melhor para a criança presença de afeto e envolvimento dos pais na vida nos
filhos, pais atentos e responsivos, uso sistemático e consistente de regras e monitoria, comunicação positiva,
apresentação de modelos morais para os filhos e clima conjugal positivo. Uma família que promove
frequentemente comportamentos que trazem “proteção”, seria como uma “vacina emocional”, com a qual a
criança, mais tarde o adolescente e, depois, o adulto, terá forças para enfrentar as adversidades da vida.

Você falou em estilos parentais. O que seriam esses estilos parentais?


Existem 4 tipos de estilos parentais, ou seja, 4 tipos de educação que os pais dão aos filhos eles estão
baseados na medida de exigência e de afeto que os pais dão aos filhos.
1-permissivo = pouco limite e muito afeto
2-negligente = pouco limite e pouco afeto (pais ausentes)
3-autoritário = muito limite e pouco afeto
4-participativo = muito limite e muito afeto
Existem estudos sobre as consequências da criação de cada um desses modelos de pais, mas isso é assunto
para um outro bate papo senão vai ficar muito extenso.

Alguns pais acreditam que a única forma de conseguir mostrar autoridade sobre o filho é usando de
punições. Qual a sua opinião sobre o uso de punições físicas e os castigos? É a forma mais eficiente de
conseguir que o filho obedeça?

Deixar a criança sem ver tv porque ela não estudou para a prova e tirou nota baixa é uma punição, é um
castigo. Há momentos em que eles podem ser usados. Em verdade, deve-se usar o que se chama de
“consequências lógicas” de uma regra: a criança ficou vendo tv demais e não estudou para a prova e,
portanto, tirou nota baixa; então, para recuperar a nota, ficará sem ver tv para estudar. Crianças um
pouquinho maiores recebem consequências sim: se sujou a parede com lápis, vai limpar; se quebrou o
brinquedo do irmão, vai economizar para comprar outro; se xingou deve pedir desculpas... Mas a palavra-
chave é consistência. Os pais devem prometer e cumprir, não fazer ameaças vazias (do tipo, “vou chamar o
homem do saco para levar você”, ou “mais uma dessas e você vai ficar seis meses sem ver tv”). Crianças
muito pequenas precisam mesmo de acolhimento, supervisão e brincadeiras; estão em uma fase de explorar
o mundo. Você pode dizer para uma criança de três anos, “aqui não pode” ... Mas é melhor guardar os seus
cristais na prateleira de cima do que ficar gritando “nãos” o dia todo, ou esperar que ela almoce sem
derrubar um único grão de arroz no chão. Entre dois e cinco anos a criança começa a desenvolver
comportamento moral, ou seja, perceber a diferença entre certo e errado em comportamentos, intenções e
pensamentos. A parte mais importante é o modelo moral apresentado pelos pais, é a forma que os pais
valorizam o comportamento desejado do filho e ensinam a lidar com emoções, o que se chama de
habilidades socioemocionais. A punição corporal – tapas, palmadas e surras – nunca deve ser usada. Nunca.
Nem um tapinha. Não precisa usar e não funciona. Antigamente, não se sabia que, mesmo palmadas, podiam
trazer consequências negativas; hoje se sabe que as palmadas e surras, no mínimo, não adiantam nada e, no
máximo, podem trazer sérios prejuízos para a criança; além disso, dessa maneira a primeira coisa que
ensinam para a criança é que a violência serve para solucionar problemas! Não existe “palmada educativa”!
99% das palmadas são dadas justamente com raiva. Disciplina não é sinônimo de punição, e sim de guiar o
discípulo, ensinar, educar, mostrar o modelo certo. Existem inúmeros argumentos, científicos, éticos e
morais, que mostram que surras e palmadas não devem ser utilizados como práticas educativas pelos pais.
Do ponto de vista da ciência, a punição corporal é ineficaz a longo prazo, além de trazer importantes danos
emocionais, psicológicos e sociais. Do ponto de vista da ética, a punição física é condenável, uma vez que
existem diversas sanções para pessoas que agridem o seu semelhante. Por que, então, na relação familiar,
permite-se, tolera-se e até, incentiva-se que os pais batam em seus filhos? Todos têm proteção menos as
crianças?

Educar, na prática, não é tarefa fácil, nos nossos dias então, creio ser muito mais difícil. Se a punição e o
castigo já foram comprovados que não funciona, o que fazer então?
Crianças são seres fantásticos. Família é sensacional. Família que acolhe, que tem o sentido de ser um porto
seguro, é algo maravilhoso. Aqueles que mais se envolvem com a família também se divertem mais.
Criar bem um filho é proporcionar oportunidades para que ele saiba enfrentar o mundo, saiba amar e ser
amado e procure a sua própria felicidade.
Tenha consciência das emoções do seu filho. Todas as emoções são uma oportunidade para o ensino e um
relacionamento mais próximo com ele.
Existe uma psicóloga, professora, pesquisadora, que gosto muito, Lidia Weber, ela escreveu um livro
“eduque com carinho, equilíbrio entre amor e limites” fantástico, se existe um manual para educação de
filhos, na minha opinião e vivencia, é este livro. Ela traz 12 princípios da educação positiva

Principio 1 - amor incondicional – a criança precisa ter certeza que os pais gostam dela. È necessário que a
criança entenda que o pai não gostou do comportamento da criança. “não gosto quando você faz isso, eu fico
doente quando você faz isso” na cabecinha da criança, os pais so gostam dela quando ela é boazinha. Amor
incondicional não é superproteção.

Principio 2 - conhecer os princípios do comportamento- é preciso entender o comportamento da criança,


nem tudo é genético, muitos comportamentos são aprendidos no meio que a criança vive, tem a influência da
cultura também.

Principio 3 - conhecer o desenvolvimento de uma criança – você conhece as fases de desenvolvimento


conforme cada idade? Às vezes você está exigindo da criança algo que está fora da idade dela, ela ainda não
está madura para alcançar tal comportamento.

Principio 4 – autoconhecimento – quem eu sou, por que ajo assim com meu filho, eu preciso me conhece
para ter uma consciência sobre as expectativas que tenho sobre meu filho.

Principio 5 - comunicação positiva – as vezes quando vamos chamar atenção da criança, ficamos horas
falando um monte de coisa na cabeça da criança, e podem ter certeza, ela não processa nada.... Ajude seu
filho a encontrar maneiras de identificar as emoções que está sentindo. Às vezes ele pode gritar, bater ou
fazer birra. Isso normalmente é interpretado como raiva. No entanto, na maioria das vezes, esses
comportamentos são apenas expressões do que seu filho está́ sentindo. Em vez de se irritar e gritar com ele,
pergunte-lhe o que está acontecendo e apresente palavras que descrevam sentimentos, como triste, frustrado,
envergonhado, tímido ou chateado

Principio 6 – envolvimento - ouça seu filho com sinceridade. Os pais precisam aprender a ouvir os filhos e
compreender os sentimentos deles. Sua atitude em relação a seu filho é essencial para ajudá-lo a se tornar
um adulto inteligente e responsável emocionalmente. Certifique-se de usar um discurso livre de críticas,
julgamentos ou culpa se envolva na vida do seu filho

Principio 7 - usar consequências positivas: reforçar, elogiar, valorizar – elogie mais, temos a tendencia
de supervalorizar o errado e não valorizar o bem feito, as qualidades. Elogios não gastam, use e abuse.
Quando é para chamar a atenção, descrevemos detalhadamente o erro, mas o elogio, parabéns, apenas basta.

Principio 8 - apresentar regras e supervisionar o comportamento - imponha limites enquanto analisa


soluções para o problema em questão. As crianças precisam de pais que estabeleçam limites claros e
apropriados para a idade. Os filhos dependem dessa orientação tanto na infância quanto na adolescência. As
crianças começam a pedir independência desde muito cedo.
Principio 9 - ser consistente – se falou cumpra, a dinâmica da casa não deve ser movida pelo estado de
humor dos pais “ihh, hoje minha mãe esta daquele jeito, ela não vai me deixar fazer nada” hoje a mamãe
esta de boa, hoje ela deixa. Seja consistente, seu filho precisa de estabilidade

Principio 10 - não usar punição corporal, mas consequências logicas. Não é necessário o uso de
palmadas, no momento a criança parou, mas parou pq doeu e não pq ensinou

Principio 11 - ser um modelo moral – honestidade, compaixão, respeito, o melhor livro para seu filho
aprender valores e sua vida pai.
Principio 12 - educar para a autonomia – vocês estão criando filhos para a vida, para ela ser protagonista
da sua própria história.

Existe uma frase muito popular que diz “é melhor qualidade do que quantidade!” Trazendo para nosso
tema, como essa frase se aplicaria na educação das crianças?

É preciso pensar de forma mais ampla. Os pais devem entender como prioritária essa tarefa tão complexa e
fundamental de educar filhos. Não precisam ficar o tempo todo achando erros, questionando, colocando
regras absurdas, as quais a criança nem está pronta para entender. É preciso escolher as batalhas certas.
Repensar por que você está colocando essa ou aquela regra? Quais valores você gostaria que seu filho
aprendesse? Como você espera que ele se vire no mundo e de que forma ele vai tratar as pessoas e a vida?
Educar é equilibrar o amor e o afeto de um lado, e as regras e os valores morais de outro. Este é o melhor
modelo para o desenvolvimento saudável de uma criança, que aprende a amar e a ser amada, a ter um porto
seguro em seu lar e com seus pais, e também aprende as dificuldades da vida, a lidar com limites e com
frustrações, a fazer o seu próprio esforço para conseguir o que deseja e lutar por isso. Os pais também
devem educar para a autonomia, pois a criança é do mundo e eles não poderão e nem deverão fazer tudo por
ela e superprotegê-la de tudo. Há algum tempo se fala que é melhor passar pouco tempo com qualidade do
que muito sem qualidade. Em tese isso é verdadeiro, mas devemos lembrar que ter um tempo de qualidade e
15 minutos por dia não é suficiente para educar com qualidade. Na prática, isso se traduz, em primeiro lugar,
na reflexão dos pais sobre as prioridades de sua vida. Todos precisamos trabalhar, sempre é bom ter mais
dinheiro, ou poder, ou sucesso, mas educar uma criança é um trabalho gigantesco e extremamente
importante. Ninguém nunca viu alguém no final da vida, falando que deveria ter passado mais tempo em seu
escritório, mas frequentemente ouvimos as pessoas dizendo, e nem precisa ser no final da vida, que
deveriam passar mais tempo com seus filhos. Tempo de qualidade é estar envolvido na vida do seu filho, é
ter real interesse pelo que ele faz e pensa, é também aprender com ele a jogar um videogame, é buscá-lo na
festa de madrugada, é perguntar sua opinião para as decisões da família. Tempo de qualidade é pedir licença
no seu trabalho porque hoje seu filho tem uma competição de basquete, ou porque há uma festa no dia das
mães na escola do seu filho. Tempo de qualidade é chegar cansado em casa e sentar com seu filho para
ajudá-lo com a tarefa da escola ou ler uma história porque seu filho está muito triste porque brigou com um
colega na escola; colocar sua novela para gravar e sentar e brincar de verdade junto com seu filho, ou assistir
ao filme duvidoso que seu adolescente quer ver junto com ele. Eu sempre digo para os pais que a infância (e
a adolescência) passa muito rápido. Aproveitem seus filhos ao máximo. É primordial entender que amor de
mãe e de pai não é instintivo e nem é possível adquiri-lo: é um sentimento que se constrói. Logo, para amar
de fato um filho, é preciso semear, cuidar e até fazer sacrifícios; é o que se denomina de “investimento
parental”. Para ser uma boa mãe e um bom pai e manter o “poder/dever familiar”, deve-se amar o filho, sem
dúvida, mas é preciso algo mais: transformar esse amor em ação.
A maioria das pessoas, inclusive mães, está ocupada, trabalhando, e parece não ter tempo para nada. Mas,
quero mostrar para você que a tarefa de ser pai e mãe requer tempo. Em verdade, se você não tem tempo e
quer realmente educar os seus filhos, terá que reorganizar suas prioridades. A infância passa muito
rapidamente. Em um dia você está trocando fraldas, no outro dia o seu filho está indo para a escola, mais
algum tempo c ele estará dormindo na casa dos amiguinhos e, quando menos você espera, ele está trazendo a
namorada para você conhecer. E aí você ficará pensando que deveria ter contado mais histórias na hora de
dormir, ter ido mais a parques com ele c construído mais barracas de cobertores na sala de jantar. Agora esse
tempo já passou, e o que eles aprenderam com você levarão até o fim da vida. É preciso estar presente e
participar se você quiser realmente educá-lo. Esse comportamento dos pais chama-se investimento parental.
É ter tempo c disposição para ser pai e ser mãe.

Qual seria seu último conselho para os pais essa noite?

Gostaria de fechar parafraseando minha querida Lidia Weber , a melhor forma de educar o filho, é educando
com carinho, educando com amor incondicional. “o que é amar incondicionalmente? Aceitar todos os erros?
Não perceber os defeitos? Não ter crítica? Não. 0 amor incondicional, esse amor dos pais, é o amor que se
sente simplesmente porque a outra pessoa é seu filho, porque veio de dentro de você ou veio pela adoção,
porque você tem a responsabilidade e a tarefa de educá-la, de zelar por ela e de ensinar-lhe sobre o mundo.
O amor incondicional não depende do que o seu filho faz de bom ou de ruim. Você o ama porque ele é o seu
filho, c isso tem de ficar claro para ele. Amar incondicionalmente não é só elogiar, dizer coisas boas,
presentear, mas é aceitar o seu filho, é valorizar as atividades e as escolhas que seu filho está fazendo.
Parece simples, mas não é. Os pais podem achar que amar demais leva uma criança a ser mimada. Amar
demais não existe. Existe superproteger, ser permissivo ou ser intrusivo (sufocar), mas isso não é amar
demais. Amor incondicional é amar porque a criança é sua filha, sem outras contingências, como ser
obediente ou ser boazinha.

Você também pode gostar