Você está na página 1de 20

A ACTIVIDADE

CONSTITUCIONAL DO ESTADO
ACTOS LEGISLATIVOS
A Constituição:
1º identifica as FONTES DE DIREITO:
art.º 8 – direito internacional e direito comunitário
art.º 56/4 – convenções colectivas de trabalho
art.º 112/1 – actos normativos:
leis, decretos-lei e decretos legislativos regionais;
nº 6 e 7: regulamentos
nº 5 : poder exclusivo da Constituição
art.º 115 – Referendo
art.º 226 – Estatutos das regiões autónomas

2º estabelece os CRITÉRIOS DE VALIDADE E EFICÁCIA de cada uma:


art.º 112
nº 2= lei e decreto-lei têm igual valor
nº 3= algumas leis têm valor reforçado
nº 4 – as leis e decretos-lei prevalecem dobre os decretos
legislativos regionais
nº 8 – transposição de directivas comunitárias

3º determina a COMPETÊNCIA das entidades que emanam normas


jurídicas:
art.º 161, 164º e 165 – competência legislativa da AR
art.º 198º - competência legislativa do Governo
art.º 227 – competência legislativa das regiões autónomas
art.º 241 – competência legislativa das autarquias locais

PRINCIPIOS ESTRUTURANTES DOS ESQUEMAS RELACIONAIS DAS FONTES DE DIREITO

1. Principio da hierarquia
2. Principio da competência
3. Principio básico sobre produção jurídica
1º PRINCIPIO DA HIERARQUIA

a ideia básica deste principio é que os actos normativos


(leis, decretos-lei, decretos legislativos regionais e regulamentos),
são todos actos normativos, mas não têm todos a mesma
hierarquia, ou seja, existe uma pirâmide jurídica que a Constituição
ordena de acordo com os seguintes princípios:

a) pr. da preeminência ou superioridade dos actos legislativos (leis,


decretos-lei e decretos legislativos regionais) relativamente aos
actos normativos regulamentares – art.º 112/6/7;

b) pr. da tendencial paridade ou igualdade entre lei e decreto-lei –


art.º 112/2 – o que significa poderem as leis e os decretos-lei
interpretar-se, suspender-se ou revogar-se reciprocamente;

c) pr. da prevalência dos princípios fundamentais das leis gerais


da Republica sobre os actos legislativos regionais – art.º 112/4;

d) pr. da superioridade das normas de enquadramento e das leis de


bases sobre as normas complementares – art.º 112/2

e) pr. da aplicação preferente das normas comunitárias


relativamente às normas internas nacionais – art.º 112/8 + Tratado
da UE

f) pr. da inderrogabilidade de norma de grau superior por norma de


grau inferior

2º PRINCIPIO DA COMPETÊNCIA

este principio está associado ao facto de existir uma


pluralidade no ordenamento jurídico que não se reduz ao Estado,
pois existe também o ordenamento regional, o local e o institucional
(institutos públicos, empresas publicas, etc.). É também este
principio que justifica a regulação de certas matérias por
determinados órgãos, formando desse modo blocos de
competências em certas matérias. Este principio não afecta, nem
perturba o principio da hierarquia.
Delimita a competência legislativa dos órgãos com funções
legislativas a determinadas matérias em função da qualidade (AR,
Governo) ou em função do território (regiões autónomas e
autarquias locais):
* AR – art.º 161, 164º e 165º
* Governo – art.º 198
* Regiões autónomas – art.º 226 a 228º
* Autarquias locais – art.º 241

3º PRINCIPIO BÁSICO SOBRE PRODUÇÃO JURIDICA (112º/5)


1. Nenhuma fonte de direito pode atribuir a outra um valor do
qual ela própria não detem;
2. nenhuma fonte pode atribuir a outra um valor igual ao seu;
3. nenhuma fonte pode dispor do seu próprio valor jurídico, quer
acrescentando, quer diminuindo;
4. nenhuma fonte pode transpor para o Estado outros actos de real
valor.
NOTA: nenhuma fonte de direito pode criar outras fontes com
eficácia igual, ou superior à dela própria, apenas pode criar fontes
de eficácia inferior.

Assim, serão inconstitucionais:


1- os regulamentos interpretativos das leis, se eles se
arrogarem o direito de fazer a interpretação autêntica da lei, mesmo
quando esta expressamente o autorize, pois a interpretação
autêntica da lei só pode ser feita por acto legislativo de igual valor.
2- os regulamentos derrogatórios das leis, mesmo que a
lei autorize a sua revogação por fonte regulamentar.
OS ACTOS NORMATIVOS

1. Leis Constitucionais
São obrigatoriamente publicadas no Diário da República, e
prescreve a forma de lei constitucional para certos actos jurídicos
(art.º 284 a 289º). A reserva de lei constitucional pertence apenas
ao poder constituinte e ao poder de revisão.

2. Leis Orgânicas
. Apesar da sua natureza de lei ordinária, a Constituição confere-
lhe a natureza de leis reforçadas (art.º 112/3, 280º/2 a) e
281º/1/b));
. As leis orgânicas estão vinculadas ao principio da tipicidade
(art.º 112/1/5), pois só a lei constitucional pode atribuir forma
especial, valor reforçado e reserva material a certos tipos de actos
legislativos;
. Sempre que a Constituição reservar por lei orgânica a disciplina
jurídica de uma certa matéria, então o legislador orgânico é
competente nessa matéria em termos exclusivos.
. É obrigatória a observância do principio da competência, o principio da hierarquia e da reserva de lei absoluta. Assim
a lei orgânica pode incluir normas sobre matérias de lei ordinária, mas não pode reenviar para uma lei não
orgânica algumas regulações normativas sobre matérias que a Constituição inclui no âmbito das leis orgânicas.
. A maior parte das leis orgânicas são obrigatoriamente votadas na especialidade do plenário da AR. Não são apenas
uma reserva do parlamento mas também uma reserva do plenário (art.º 168/4).
. Embora não sejam as únicas, as leis orgânicas exigem maioria qualificada de dois terços dos deputados presentes
(art.º 136/3).

3. Leis de Bases (ou de princípios)


São leis que consagram as bases gerais de um regime jurídico, deixando a cargo do executivo os desenvolvimentos
desses princípios.
O tipo de leis de bases encontra-se na Constituição (164º/d) e i)).
Com o principio da reserva legislativa de bases gerais pretende-se assegurar a intervenção legislativa primária da
Assembleia da República, e permitir ao Governo, mesmo sem autorização legislativa, legislar sobre essas matérias,
depois de fixadas essas bases gerais, através da lei do parlamento.
As leis de bases constituem directrizes e limites aos decretos-lei.
Embora as leis e os decretos-lei sejam actos legislativos com igual
dignidade hierárquica, as leis na modalidade de leis de base adquirem
uma primariedade material e hierárquica, com a correspondente
subordinação dos decretos-lei de desenvolvimento (art.º 112/2, 198º/1
c)).

4. Leis de autorização legislativa


Através destas leis a AR habilita ou autoriza o Governo a emanar
actos normativos com força de lei, que também se chamam de
delegação ou de autorização. Trata-se de leis emitidas com base na
expressa autorização de delegação de competências constante do art.º
165, em que a AR autoriza o Governo ou as Assembleias Legislativas
das Regiões Autónomas a legislar matérias da sua competência relativa
– art.º 198/b) + 227º/1 b).
_ Regime das Leis de autorização legislativa
Limites materiais = art.º 165/2 – definem o objecto, sentido e extensão da
autorização
= art.º 111/2 + 161º + 164º - não podem incidir sobre
matérias da competência exclusiva absoluta da Assembleia da Republica.
Limites temporais = art.º 165/2 + 165º/3 – indicam o prazo de duração da
autorização.
Cessação da autorização = quando é revogada pela AR, de forma expressa
(mediante Lei revogando a autorização) ou tácita (quando a AR aprova leis
durante o período de autorização regulando directamente as matérias
objecto da autorização);
= art.º 165/4 – sempre que ocorra:
* demissão do governo
* termo da legislatura
* dissolução da AR
Leis de autorização vs leis de bases
Semelhanças:
. Nenhuma delas esgota a regulamentação da matéria sobre que
versam carecendo de posterior intervenção legislativa;
. Ambas delimitam e condicionam a área de intervenção legislativa do
Governo e a sua liberdade de conformação.
Diferenças:
. A lei de bases altera directamente a ordem jurídica, estabelecendo
normas gerais que permanecem efectivas mesmo após a sua
regulamentação especifica; as leis de autorização não são
directamente eficazes no ordenamento jurídico requerendo a
intervenção do decreto autorizado que vigorará na ordem jurídica.
. A lei de bases fica apenas suspensa do desenvolvimento legislativo
por parte do Governo; a lei de autorização caduca se não for utilizada,
ou esgota-se nessa mesma utilização.
. A lei de autorização delega no Governo a competência para legislar
sobre aquele assunto apenas uma vez; perante uma lei de bases o
Governo pode livremente e sucessivamente modificar o
desenvolvimento que deu à Lei.
. Só pode haver leis de autorização em matérias pertencentes ao domínio
reservado da AR; as leis de bases podem surgir em qualquer domínio
legislativo.

5- Leis Estatutárias
São leis da AR que, aprovam os estatutos políticos, administrativos das
regiões autónomas (art.º 226); os estatutos ocupam uma posição
hierárquica privilegiada devendo considerar-se como leis reforçadas (art.º
226/2 e 280º/2b)).

6- Leis Reforçadas
art.º 112/3 “(…) as leis que carecem de aprovação por maioria de dois
terços, bem como aquelas que, por força da Constituição, sejam
pressuposto normativo necessário de outras leis ou que por outras devam
ser respeitadas.”
Exs.: leis orgânicas, leis de autorização, leis de bases e leis estatutárias.
7- Leis de Enquadramento
Ou leis-quadro: as leis de enquadramento não se confundem com
as leis de bases, pois com elas pretende-se estabelecer os
parâmetros estruturantes de um sector da vida económica, social e
cultural: é o que acontece com a lei de enquadramento do
orçamento do Estado, com a lei-quadro da criação, modificação e
extinção das autarquias e com a lei-quadro das reprivatizações.

8- Decreto-Lei
A actividade legislativa do Governo reconduz-se nos seguintes
princípios:
1. competência legislativa originária ou independente: fala-se
neste caso de matérias não reservadas à AR, podendo o Governo
em concorrência com esta emanar actos legislativos primários
reguladores dessa matéria, através de decretos-lei (art.º 198/1 a));
2. competência legislativa dependente ou derivada : decretos-lei
autorizados e decretos-lei de desenvolvimento (art.º 165/2/3/4/b) e
198º/1c));
3. competência exclusiva (reserva de decreto-lei – art.º 198/2): o
Governo tem competência legislativa exclusiva em relação às
matérias que digam respeito à sua organização e ao seu
funcionamento (art.º 161, 164º, 165º).
Todos os actos legislativos do Governo (decretos-lei), podem ser
submetidos à apreciação da AR (art.º 169/1), para efeito de
cessação de vigência ou de alteração.

9- Decreto legislativo regional


Decretos legislativos que dizem respeito às regiões autónomas. A
competência para a elaboração destes actos pertence à Assembleia
Legislativa regional que detém:
- poder legislativo primário (art.º 227/1 a))
- poder legislativo de desenvolvimento (art.º 227/1 c))
- poder legislativo autorizado (art.º 227/1 b))
N.B. as leis regionais são sempre leis de competência especial, sob
o ponto de vista espacial e sob o ponto de vista material.
As leis regionais são sempre leis materialmente condicionadas:
a) pelos prs. Fundamentais das leis gerais da Republica (227º/1 a))
b) pelas leis de autorização da AR
c) pelas leis de bases editadas pelos órgãos de soberania da
Republica
d) pelas competências próprias dos órgãos de soberania.

10- Regulamentos
São normas emanadas pela administração no exercício da
função administrativa, e regra geral com carácter executivo, e/ou
complementar de lei. É um acto normativo mas não é um acto com
valor legislativo.
Os regulamentos não constituem uma manifestação da vontade
da função legislativa, antes se revelam como expressão da função
administrativa (art.º 199/c) e g))
Relação entre as leis e regulamentos: há que ter em conta nesta
matéria os seguintes princípios:

1. Pr. da preferência ou primazia da lei: o regulamento não pode


contrariar um acto legislativo, pois a lei tem absoluta prioridade
sobre os regulamentos, estando expressamente proibidos os
regulamentos modificativos, suspensivos ou revogatórios das leis
(art.º 112/5);
2. Pr. da precedência da lei: art.º 112/7 – estabelece a precedência
da lei relativamente a toda a actividade regulamentar;
3. Pr. da complementaridade dos regulamentos;

NOTA: os regulamentos emanados pelo Governo assumem a forma


de decreto-regulamentar quando tal for a forma exigida pela Lei
(art.º 112/6).
11. Decretos
Pode assumir vários significados: actos solenes e definitivos de
um órgão representativo ou do poder executivo, ou ainda actos do
poder legislativo ainda não definitivos.
Exs.: Decretos do PR (art.º 119/1 d))
Decretos de dissolução da AR (art.º 172/2)
Decretos de nomeação dos membros do Governo (art.º
183/3).

A eficácia do decreto do PR sob o ponto de vista jurídico


depende da publicação no DR (art.º 119).
Decretos do Governo (art.º 134/b)).
Podemos distinguir entre decretos regulamentares, que precisam
de promulgação do PR e decretos simples que apenas exigem a
assinatura do PR.
12- Actos Normativos atípicos

a) regimentos das assembleias – 175º a) – que estabelecem as


normas necessárias à organização e funcionamento da AR;
b) resoluções – 119º/1 e) – resoluções da AR =162º c) e 169º/4;
resoluções do Conselho de Ministros = 131º/1 (normalmente são uma
forma desses órgãos manifestarem as suas intenções e tomares
decisões, sem que seja necessário adoptar um acto normativo. São
obrigatoriamente publicadas no DR.)
c) normas constitucionais consuetudinárias – costume, convenções
constitucionais, praxes constitucionais.
d) referendo – art.º 115

Direito comunitário na hierarquia das fontes de direito:


A tese hoje dominante é a de que o ordenamento nacional e o
ordenamento comunitário são autónomos, o que não significa que não
haja relação entre eles. A determinação dessas relações resulta
da atribuição de normas constitucionais com as normas
comunitárias, além dos tratados que instituíram a União Europeia
(U.E.).
Muitas normas de direito comunitário e em especial os
Regulamentos (da U.E.) constituem direito directamente aplicável
em todos os Estados membros, sem necessidade de qualquer acto
interno (lei ou decreto-lei) de transposição. Têm pois validade e
eficácia imediatas na ordem jurídica interna o que corresponde à
tese da primazia do direito comunitário.
As directivas comunitárias – são actos normativos que, vinculam os
Estados membros a uma resolução de resultado, devendo ser
transpostos para o direito interno por lei ou decreto-lei. Neste caso
há um prazo para a transposição e a partir do fim desse prazo pode
ser invocada a aplicabilidade dessa directiva comunitária.

Você também pode gostar