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INSTITUTO POLITÉCNICO DO CÁVADO E DO AVE

ESCOLA SUPERIOR DE GESTÃO


LICENCIATURA EM FISCALIDADE

7. TRIBUTAÇÃO DE NÃO RESIDENTES


TRIBUTAÇÃO DO RENDIMENTO DAS PESSOAS COLETIVAS (IRC)

Luís Esteves
Barcelos, 2022/2023

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Tributação de não residentes - IRC

1. Princípios da residência e da fonte


2. Sujeição a IRC de rendimentos obtidos por não residentes
3. Isenções previstas no Código
4. Formas de tributação de não residentes
5. Aplicação das Convenções sobre dupla Tributação CDT)

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Luís Filipe Esteves
1. Princípios da residência e da fonte

▪ Art.º 2.º, n.º 1, CIRC: Consideram-se sujeitos passivos, para além das
entidades com sede ou direção efetiva em Portugal (als. a) e b) – entidades
residentes), “c) As entidades, com ou sem personalidade jurídica, que não
tenham sede nem direcção efectiva em território português e cujos
rendimentos nele obtidos não estejam sujeitos a IRS.”

▪ Residentes: Sujeitos passivos por obrigação pessoal


▪ Não residentes: Sujeitos passivos por obrigação real

Art.º 2.º, n.º 3, CIRC: “(…) consideram-se residentes as pessoas coletivas e


outras entidades que tenham sede ou direção efetiva em território português.”
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1. Princípios da residência e da fonte

▪ Art.º 4.º, n.º 1, CIRC: “Relativamente às pessoas coletivas com sede ou


direção efetiva em território português, o IRC incide sobre a totalidade dos
seus rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território.”
▪ Art.º 4.º, n.º 2 do CIRC: “As pessoas coletivas e outras entidades que não
tenham sede nem direção efetiva em território português ficam sujeitas a
IRC apenas quanto aos rendimentos nele obtidos.”.
▪ Não residentes são tributados apenas quanto aos rendimentos cuja fonte
esteja situada em território nacional.
▪ Art.º 4.º, n.º 3, CIRC: Que rendimentos se devem considerar obtidos em
território português? Princípio da tipicidade… Elementos de conexão…
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1. Princípios da residência e da fonte

▪ Aplicação simultânea dos dois princípios em dois ou mais Estados → Dupla


tributação jurídica internacional.
▪ Concurso de normas: o mesmo facto tributário integra-se na hipótese de
incidência de duas normas tributárias distintas.
▪ Estado da residência deve, em princípio, eliminar a dupla tributação: normas
convencionais (art.º 23.º/24.º das CDT) e/ou normas de direito interno (art.º
91.º, CIRC).
▪ Princípio da residência e o regime de “participation exemption”…

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
Art.º 2.º, CIRC: “1 - São sujeitos passivos do IRC:
a) As sociedades comerciais (…) com sede ou direção efetiva em território
português;
b) As entidades desprovidas de personalidade jurídica, com sede ou direção
efetiva em território português (…);
c) As entidades, com ou sem personalidade jurídica, que não tenham sede
nem direção efetiva em território português e cujos rendimentos nele obtidos
não estejam sujeitos a IRS.

✓ Não residentes são sujeitos passivos por obrigação real…


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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
Art.º 3.º, CIRC: “1 – O IRC incide sobre: (…)
c) O lucro imputável a estabelecimento estável situado em território português
de entidades referidas na alínea c) do n.º 1 do artigo anterior;
Regras de apuramento do LT/MC e de pagamento idênticas às aplicáveis a
residentes… (art.º 55.º, n.º 1)
d) Os rendimentos das diversas categorias, consideradas para efeitos de IRS
e, bem assim, os incrementos patrimoniais obtidos a título gratuito por
entidades mencionadas na alínea c) do n.º 1 do artigo anterior que não
possuam estabelecimento estável ou que, possuindo-o, não lhe sejam
imputáveis.”

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
Art.º 8.º, CIRC: “9 – O facto gerador do imposto considera-se verificado no
último dia do período de tributação.
10 – Exceptuam-se do disposto no número anterior os seguintes rendimentos
obtidos por entidades não residentes, que não sejam imputáveis a EE situado
em território português:
a) Ganhos resultantes da transmissão onerosa de imóveis, em que o facto
gerador se considera verificado na data da transmissão;
b) Rendimentos objecto de retenção na fonte a título definitivo, em que o facto
gerador se considera verificado na data em que ocorra a obrigação de efectuar
aquela;
c) Incrementos patrimoniais referidos na alínea e) do n.º 3 do artigo 4º, em que
o facto gerador se considera verificado na data de aquisição.”
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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
▪ Art.º 4.º, n.º 2 do CIRC: Entidades não residentes ficam sujeitas a IRC
apenas quanto aos rendimentos nele obtidos (princípio da fonte).
▪ O Estado português tem legitimidade e competência para tributar os
rendimentos aqui obtidos pelos não residentes, devendo necessariamente
(incidência…) especificar-se quando é que se considera que os rendimentos
são obtidos em território português.
▪ Assim, estabelecem-se os elementos de conexão (pressupostos de
incidência territorial) relevantes para efeitos da tributação dos sujeitos
passivos não residentes.
▪ Art.º 4.º, n.º 3, CIRC…

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
▪ É disso que trata o art.º 4º, n.º 3, CIRC (enumeração taxativa), podendo o
mesmo sintetizar-se da seguinte forma:
▪ Fonte financeira (local da entidade pagadora): Rendimentos derivados de
royalties, juros, dividendos, comissões, prestações de serviços, etc.;
▪ Fonte física (local dos bens): Rendimentos de imóveis – rendas, mais-valias,
doações, etc.;
▪ Fonte económica (local da atividade): Rendimentos imputáveis a EE, artistas
e desportistas.

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
Art.º 4º, n.º 3, CIRC
Para efeitos do disposto no número anterior, consideram-se obtidos em
território português os rendimentos imputáveis a estabelecimento estável aí
situado e, bem assim, os que, não se encontrando nessas condições, a seguir
se indicam:
a) Rendimentos relativos a imóveis situados no território português, incluindo
os ganhos resultantes da sua transmissão onerosa;
b) Ganhos resultantes da transmissão onerosa de partes representativas do
capital de entidades com sede ou direção efetiva em território português,
incluindo (…)

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
c) Rendimentos a seguir mencionados cujo devedor tenha residência, sede ou
direção efetiva em território português ou cujo pagamento seja imputável a um
estabelecimento estável nele situado:
1) Rendimentos provenientes da propriedade intelectual ou industrial e bem
assim da prestação de informações respeitantes a uma experiência adquirida
no setor industrial, comercial ou científico;
2) Rendimentos derivados do uso ou da concessão do uso de equipamento
agrícola, industrial, comercial ou científico;
3) Outros rendimentos de aplicação de capitais;
4) Remunerações auferidas na qualidade de membros de órgãos estatutários
de pessoas coletivas e outras entidades;
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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
c) Rendimentos a seguir mencionados cujo devedor tenha residência (…) em
território português (…):
5) Prémios de jogo, lotarias, rifas, totoloto e apostas mútuas, (…) sorteios ou
concursos;
6) Rendimentos provenientes da intermediação na celebração de quaisquer
contratos;
7) Rendimentos derivados de outras prestações de serviços realizados ou
utilizados em território português, com exceção dos relativos a transportes,
comunicações e atividades financeiras; (desenvolvimento mais adiante…)
8) Rendimentos provenientes de operações relativas a instrumentos financeiros
derivados; Luís Filipe Esteves 13
2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
d) Rendimentos derivados do exercício em território português da atividade de
profissionais de espectáculos ou desportistas;”
e) Incrementos patrimoniais derivados de aquisições a título gratuito
respeitantes a:
1) Direitos reais sobre bens imóveis situados em território português;
2) Bens móveis registados ou sujeitos a registo em Portugal;
3) Partes representativas de capital e outros valores mobiliários cuja entidade
emitente tenha sede ou direção efetiva em território português; (…)
4) Direitos de propriedade industrial, direitos de autor e direitos conexos
registados ou sujeitos a registo em território português;

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
e) Incrementos patrimoniais derivados de aquisições a título gratuito
respeitantes a:
5) Direitos de crédito sobre entidades com residência, sede ou direção efetiva
em território português;
6) Partes representativas do capital de sociedades que não tenham sede ou
direção efetiva em território português e cujo ativo seja predominantemente
constituído por direitos reais sobre imóveis situados em território português;”

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
f) Ganhos resultantes da transmissão onerosa de partes de capital ou de
direitos similares em sociedades ou outras entidades, não abrangidas pela
alínea b), quando, em qualquer momento durante os 365 dias anteriores, o
valor dessas partes de capital ou direitos resulte, direta ou indiretamente, em
mais de 50 %, de bens imóveis ou direitos reais sobre bens imóveis situados
em território português, com exceção dos bens imóveis afetos a uma atividade
de natureza agrícola, industrial ou comercial que não consista na compra e
venda de bens imóveis.

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes

Art.º 4.º, n.º 3, al. c): Rendimentos a seguir mencionados cujo devedor tenha
residência (…) em território português (…):
7) Rendimentos derivados de outras prestações de serviços realizados ou
utilizados em território português, com exceção dos relativos a transportes,
comunicações e atividades financeiras;

✓ Prestação de serviços versus royalties…

✓ Local da realização!
✓ Local da utilização? Art.º 4.º, n.º 4, CIRC (…)

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes

Art.º 4.º, n.º 4: Não se consideram obtidos em território português os


rendimentos enumerados na alínea c) do número anterior quando os mesmos
constituam encargo de estabelecimento estável situado foradesse território
relativo à atividade exercida por seu intermédio e, bem assim, quando não se
verificarem essas condições, os rendimentos referidos no n.º 7 da mesma
alínea, quando os serviços de que derivam, sendo realizados integralmente
fora do território português, não respeitem a bens situados nesse território nem
estejam relacionados com estudos, projetos, apoio técnico ou à gestão,
serviços de contabilidade ou auditoria e serviços de consultoria, organização,
investigação e desenvolvimento em qualquer domínio.

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2. Sujeição a IRC de rendimentos de não residentes
OUTRAS PRESTAÇÕES DE SERVIÇOS

Os serviços foram NÃO Rendimentos obtidos em


prestados fora do território
Portugal
nacional?

SIM

Respeitam a bens situados no


SIM
território nacional?

NÃO

Estão relacionados com estudos, projectos, apoio Rendimentos não


técnico ou à gestão, contabilidade, auditoria, obtidos em Portugal
consultoria, organização, I&D?
NÃO
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3. Isenções previstas no Código

✓ Art.º 27.º, EBF (mais-valias de partes sociais)

▪ Art.º 14.º n.os 3 a 9, CIRC: Aplicação a lucros/dividendos distribuídos a


sociedades não residentes (dispensa de retenção na fonte). Diretiva “mães e
filhas”)
✓ Exemplos…

▪ Art.º 14.º, n.os 12 a 18, CIRC: Aplicação a juros e royalties pagos a


sociedades associadas não residentes (dispensa de retenção na fonte).
Diretiva “juros e royalties”)
✓ Exemplos…
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4. Formas de tributação de não residentes

▪ Art.º 55.º, CIRC: “1 – O lucro tributável imputável a EE de sociedades e


outras entidades não residentes é determinado aplicando, com as
necessárias adaptações, o disposto na secção II.”

▪ Art.º 56.º, CIRC: “1 – Os rendimentos não imputáveis a EE situado em


território português, obtidos por sociedades e outras entidades não
residentes, são determinados de acordo com as regras estabelecidas para
as categorias correspondentes para efeitos de IRS.”

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4. Formas de tributação de não residentes

▪ Estabelecimento Estável: Regime fiscal idêntico ao dos residentes.

▪ Art.º 120.º, n.º 4: Obrigação de apresentação da DR22 caso não haja


retenção na fonte a título definitivo (idem parte final do n.º 8, art.º 117.º).

✓ Com obrigação declarativa (art.º 120.º, n.º 5)

✓ Sem obrigação declarativa (art.º 94.º, n.º 1, n.º 3, alínea b), e n.º 5; art.º
87.º, n.º 4)

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4. Formas de tributação de não residentes

▪ Declaração modelo 22 – Quadro 08:

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4. Formas de tributação de não residentes

▪ IES - DAICF - Anexo E:

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4. Formas de tributação de não residentes

▪ IES - DAICF - Anexo E:

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4. Formas de tributação de não residentes

▪ IES - DAICF - Anexo E:

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4. Formas de tributação de não residentes

▪ IES - DAICF - Anexo E:

▪ Instruções de preenchimento:

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5. Aplicação das Convenções sobre Dupla Tributação

▪ Art.º 98º, CIRC: “1 – Não existe obrigação de efectuar a retenção na fonte


de IRC, no todo ou em parte, consoante os casos, relativamente aos
rendimentos referidos no n.º 1 do artigo 94.º do Código do IRC quando, por
força de uma convenção destinada a eliminar a dupla tributação ou de um
outro acordo de direito internacional que vincule o Estado Português ou de
legislação interna, a competência para a tributação dos rendimentos
auferidos por uma entidade que não tenha a sede nem direcção efectiva em
território português e aí não possua estabelecimento estável ao qual os
mesmos sejam imputáveis não seja atribuída ao Estado da fonte ou o seja
apenas de forma limitada.”

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5. Aplicação das Convenções sobre Dupla Tributação

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Casos práticos

1. Empresa ALFA pagou os seguintes rendimentos a não residentes:


- Juros de suprimentos a uma sociedade espanhola que participa no seu
capital em 20%, desde 2016;
- Dividendos à mesma sociedade espanhola;
- Serviços de consultoria a uma sociedade americana;
- Rendas de um armazém a uma sociedade francesa;
- Licença pela utilização de software (massificado) a uma empresa americana.

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5. Casos práticos

2. Uma empresa espanhola obteve os seguintes rendimentos em Portugal:


- Mais-valia com a venda de um imóvel em Lisboa;
- Mais-valia com a venda de ações de uma empresa cotada na bolsa de
Lisboa.
- Dividendos pagos uma sociedade portuguesa detida em 5% pela empresa
espanhola.

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